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… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria


(Imagem: AFP)

● A seleção francesa mantinha o mesmo time base de 1978 e 1982, mas estava ainda mais forte. O “quadrado mágico” do meio de campo ganhou mais qualidade com Luis Fernández fazendo companhia a Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini.

Platini era, ao mesmo tempo, o arco e a flecha. Era o armador das melhores jogadas e o principal finalizado também. Com extraordinária habilidade, era o maestro de uma grande orquestra. Ele vivia o auge de sua forma técnica, sendo eleito o Bola de Ouro da revista France Football por três anos consecutivos – 1983, 1984 e 1985. Com nove gols em cinco jogos, foi também o craque do título da Eurocopa de 1984 – primeiro título relevante da história da seleção francesa. Além disso, foi também o jogador mais importante do primeiro título da Juventus na Copa dos Campeões da Europa, na temporada 1984/85.

O técnico era Henri Michel, ex-meio campista da seleção francesa. Ele foi o treinador da equipe que conquistou a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Michel levou para a seleção principal alguns dos campeões olímpicos, como o goleiro Albert Rust, o zagueiro Michel Bibard, o lateral Ayache (que logo se tornou titular), e os pontas Daniel Xuereb e José Touré. Mas Touré precisou ser cortado por ter os ligamentos do joelho rompidos em uma partida do Nantes na antiga Copa da UEFA. Para seu lugar foi convocado Jean-Pierre Papin, do Club Brugge, da Bélgica.

Por tudo isso, uma euforia sem precedentes tomou conta dos torcedores franceses. Eles se consideravam prontos para entrar para a história com o título mundial.


(Imagem: Agence France Presse)

● Em um grupo com franceses e soviéticos, a Hungria corria por fora. O histórico credenciava os magiares, com melhor retrospecto: dois vice-campeonatos mundiais (1938 e 1954) e três títulos olímpicos (1952, 1964 e 1968).

Além dos números, contava a seu favor o respeito ao futebol técnico, vistoso e bem jogado – algumas vezes até taxado de não ser competitivo por priorizar o jogo vistoso, muitas vezes de forma irresponsável.

Os destaques da seleção húngara eram o goleiro Péter Disztl, o lateral direito baixinho Sándor Sallai e o veloz Márton Esterházy. Mas o craque do time era o ponta de lança Lajos Détári, dono de ótima visão de jogo, rápido, inteligente, habilidoso e artiheiro. O desfalque foi o experiente meia Tibor Nyilasi, machucado.

Era considerada a melhor seleção húngara desde 1966.


Treinada por Henri Michel, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● A vitória sobre o Canadá (1 x 0) e o empate com a União Soviética (1 x 1) deixou a França em boa situação no Grupo C. Bastaria um empate com a Hungria na última rodada para garantir a classificação.

A Hungria havia sido goleada na estreia pela URSS por 6 x 0. Se recuperou na segunda partida ao vencer o Canadá por 2 x 0. Contra os franceses, era tudo ou nada para os húngaros.

O primeiro tempo foi equilibrado, com um futebol vistoso e leve predomínio da França.

O placar foi aberto após 29 minutos jogados. Ayache recebeu lançamento e cruzou da direita. Yannick Stopyra apareceu sem marcação na segunda trave e cabeceou firme no ângulo do goleiro Péter Disztl.

Aos poucos o time do técnico Henri Michel começava a encontrar a sua melhor forma técnica. Principalmente após a saída do inoperante Papin para a entrada do experiente e participativo Dominique Rocheteau.

Aos 17′ do segundo tempo, Tigana avançou em velocidade desde seu próprio campo. Passou para Rocheteau, que antes da entrada da área, girou em cima de um marcador e devolveu. Tigana recebeu livre e ajeitou o corpo para bater firme de esquerda, no canto direito do goleiro. O segundo gol praticamente garantiu a vitória.

A Hungria chegou a mandar uma bola na trave no segundo tempo. Mas isso foi o máximo que conseguiu fazer diante de uma França imponente.

O terceiro gol dos gauleses saiu a seis minutos do apito final. Joël Bats repôs a bola em jogo com um chutão para frente. Platini deixou ela quicar e e dominou pelo lado esquerdo da grande área. Com uma visão de jogo incrível – que só os gênios têm –, ele viu a chegada de Rocheteau na segunda trave e cruzou de pé trocado. Rocheteau apareceu nas costas de um zagueiro e só teve o trabalho de dar um toquinho por cima do goleiro.


(Imagem: Eurosport)

● Com esses resultados, a França terminou em segundo lugar da chave, atrás da União Soviética no saldo de gols. Esse mesmo critério (saldo de gols de -7) foi o que impediu a Hungria de se classificar como um dos melhores terceiros.

Na sequência, a França eliminou a atual campeã Itália nas oitavas de final, com uma vitória por 2 a 0.

Nas quartas, outro duelo gigante, com a Seleção Brasileira, de Sócrates, Júnior, Zico, Müller, Careca, Edinho, Branco e outros grandes jogadores. Empate em 1 x 1 no tempo normal (com direito a pênalti perdido de Zico). Na decisão por penalidades, “Les Bleus” tiveram mais sorte e venceram por 4 a 3.

Na semifinal, a França enfrentou sua “asa negra”, a Alemanha Ocidental. Perdeu por 2 x 0, naquele que foi o “canto do cisne” daquela geração.

Encerrou a Copa conquistando o 3º lugar ao vencer a surpreendente Bélgica por 4 x 2. Essa campanha igualou a melhor classificação final da história francesa até então – já havia chegado em 3º em 1958.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 x 0 HUNGRIA

 

Data: 09/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Nou Camp

Público: 31.420

Cidade: León (México)

Árbitro: Carlos Silva Valente (Portugal)

 

FRANÇA (4-4-2):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Joël Bats (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Manuel Amoros

2  Sándor Sallai

4  Patrick Battiston

3  Antal Róth

6  Maxime Bossis

6 Imre Garaba (C)

3  William Ayache

4  József Varga

9  Luis Fernández

5  József Kardos

14 Jean Tigana

9  László Dajka

12 Alain Giresse

15 Péter Hannich

10 Michel Platini (C)

10 Lajos Détári

17 Jean-Pierre Papin

20 Kálmán Kovács

19 Yannick Stopyra

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Henri Michel

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

22 Albert Rust (G)

18 József Szendrei (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

22 József Andrusch (G)

5  Michel Bibard

14 Zoltán Péter

7  Yvon Le Roux

12 József Csuhay

8  Thierry Tusseau

13 László Disztl

15 Philippe Vercruysse

8  Antal Nagy

13 Bernard Genghini

16 József Nagy

11 Jean-Marc Ferreri

17 Győző Burcsa

16 Bruno Bellone

21 Gyula Hajszán

20 Daniel Xuereb

19 György Bognár

18 Dominique Rocheteau

7  József Kiprich

 

GOLS:

29′ Yannick Stopyra (FRA)

62′ Jean Tigana (FRA)

84′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

CARTÕES
AMARELOS:

41′ William Ayache (FRA)

69′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Péter Hannich (HUN) ↓

Antal Nagy (HUN) ↑

 

61′ Jean-Pierre Papin (FRA) ↓

Dominique Rocheteau (FRA) ↑

 

65′ Kálmán Kovács (HUN) ↓

György Bognár (HUN) ↑

 

71′ Yannick Stopyra (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

Gols da partida:

… Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”

Três pontos sobre…
… Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”


(Imagem: DFB)

Mesmo tendo pendurado as chuteiras há mais de vinte anos, ele ainda detém alguns dos recordes no futebol.

É o jogador que disputou mais partidas em Copas do Mundo (25).
É um dos poucos a disputarem cinco edições do Mundial (juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez e o italiano Gianluigi Buffon).
É o alemão que mais disputou partidas pela sua seleção (150 partidas, entre 1980 e 2000).
Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA na primeira edição do prêmio, em 1991.
Também eleito Bola de Ouro pela revista France Football em 1990.
Eleito em 2020 para o Dream Team da Bola de Ouro como um dos melhores meio-campistas defensivo da história.
Foi o capitão e líder da seleção alemã que levantou a taça da Copa de 1990.
Venceu quase todos os títulos possíveis. Só a UEFA Champions League lhe escapou (já nos acréscimos, em 1998/99).

Às vezes ele é subvalorizado pela mídia e pelos torcedores atuais, que pouco o viram jogar. Mas Matthäus era o jogador completo, vanguardeiro, um dos primeiros “box to box”, que liderava a marcação e o sistema defensivo, mas também aparecia no ataque para fazer seus vários gols – especialmente em chutes potentes e certeiros de fora da área.

Era um dos nomes mais impactantes de sua época. Tanto que é notável a quantidade exponencial de “Matheus” com menos de 35 anos. Homenagem mais do que justa.

Hoje esse craque completa 60 anos. Parabéns, capitão.


(Imagem: Twitter @BarcaUniversal)

… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França


(Imagem: Trivela)

● Das quatro partidas das quartas de final, essa era a mais aguardada. Havia Argentina vs. Inglaterra, envolvidas recentemente em uma guerra. Mas, em âmbito esportivo, Brasil e França tinham uma qualidade técnica conjunta muito maior. Para muitos, era o encontro entre os dois melhores times da Copa de 1982. Mas agora, estavam envelhecidos quatro anos e com os elencos parcialmente renovados.

O futebol francês vivia o melhor momento até então, causando uma euforia sem precedentes. Tinha um estilo de jogo moderno para a época e havia amadurecido com as derrotas de 1978 e 1982. Michel Platini, Dominique Rocheteau e Maxime Bossis eram os remanescentes das duas Copas anteriores.

O técnico era Henri Michel, titular do meio campo francês em 1978. Ele foi o comandante do time que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984 – curiosamente, sobre o Brasil na final. Fiel seguidor de seu antecessor Michel Hidalgo, ele pouco modificou o sistema tático usado nas Copas anteriores.

Tinha um time muito forte, semifinalista da Copa de 1982 e campeã da Eurocopa de 1984. O maestro Michel Platini vivia o auge da forma. Craque de bola, ele era ao mesmo tempo um armador e um finalizador. Era o arco e a flecha. Foi eleito o Bola de Ouro nos três anos anteriores (1983, 1984 e 1985) pela revista France Football, como melhor jogador da Europa.

Na estreia, a França venceu o Canadá por 1 x 0. Depois, empatou com a União Soviética por 1 x 1 e bateu a Hungria por 3 x 0. Se classificou em 2º lugar no Grupo C, atrás da URSS no saldo de gols (+4, contra +8 dos soviéticos). Nas oitavas de final, venceu a Itália, então campeã do mundo, derrubando uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses.

O Brasil tinha um bom time. Mas o futebol que encantou o mundo em 1982, apareceu apenas em lampejos quatro anos depois. Era o fim de uma geração talentosa, mas já próxima de seu fim. Sócrates começava seu declínio, enquanto Zico estava há um ano sem jogar e Falcão era reserva e já estava nos últimos dias de sua carreira. Na primeira fase, venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A França também jogava no 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.

● O Brasil já começou perdendo no sorteio para escolher campo ou bola e começou atacando para a esquerda das cabines de televisão – ao contrário das quatro partidas anteriores no estádio Jalisco, em Guadalajara, quando começava atacando para a direita. Mas a superstição não entrava em campo.

O primeiro tempo foi de altíssimo nível. A França atacou primeiro. Luis Fernández cruzou e a zaga brasileira rebateu. Platini recolheu, tabelou com Alain Giresse e chutou. A bola foi desviada e sobrou para Manuel Amoros encher o pé de esquerda. Passou bem perto da meta de Carlos.

O Brasil logo reagiu. Müller tocou para Careca no meio e ele deixou Sócrates em condição de finalizar. Cara a cara com o goleiro Bats, o Doutor chutou forte de esquerda, mas o arqueiro francês fechou bem o ângulo. Sócrates apanhou o rebote e lançou Branco na área, mas Jöel Bats dividiu e segurou firme.

Aos 17′, o goleiro Bats chutou a bola para a frente, Josimar recuperou a bola e deixou com Sócrates, que tocou para Elzo. O volante abriu na direita com Josimar. Vários jogadores participam da jogada, com dez trocas de passes precisas, abrindo espaço na defesa francesa, até culminar em uma envolvente tabela entre Müller e Júnior, que passou na medida para Careca sozinho na meia-lua. Ele bateu de primeira e colocou a bola no ângulo esquerdo de Bats.

Era o quinto gol de Careca no Mundial. Ele chegava com tudo para brigar pela artilharia com o inglês Gary Lineker.


(Imagem: Hipólito Pereira / O Globo)

O placar fazia justiça ao futebol apresentado pelo Brasil, que continuou no ataque. Houve um certo domínio e a impressão que venceria com facilidade. Aos 32 minutos, Sócrates lançou para Careca na ponta esquerda. Ele passou por Bossis e, da linha de fundo, cruzou para Müller. O chute do atacante sãopaulino explodiu na trave de Bats. Müller tinha vinte anos e havia sido a revelação do Campeonato Paulista de 1985. Tomou a vaga de Casagrande no time titular a partir da terceira partida, a vitória sobre a Irlanda do Norte por 3 x 0.

A França escapou do nocaute e acabou levando o Brasil para as cordas. Aos poucos, Les Bleus começaram a se arriscar mais no ataque. Não era uma equipe de intensidade física, mas trocava passes com muita inteligência.

Aos 40′, Manuel Amoros avançou e tocou para o meio. Alain Giresse abriu na ponta direita com Dominique Rocheteau, que cruzou rasteiro para a área. A bola desviou em Edinho e passou entre Carlos e Yannick Stopyra, sobrando mansinha para Platini, que só teve o trabalho de completar para o gol vazio, antes da chegada de Josimar. Platini completava 31 anos naquele dia. Foi o primeiro e seria o único gol sofrido por Carlos na Copa.

O equilíbrio e o nível técnico do jogo aumentaram ainda mais no segundo tempo, quando as duas equipes tiveram boas oportunidades para desempatar.

Aos 19′, Tigana tabelou com Rocheteau, invadiu a área e tentou encobrir Carlos, mas o goleiro brasileiro impediu o gol.

Na sequência desse lance houve o contragolpe brasileiro. E Sócrates avançou e entregou para Júnior, que encheu o pé da entrada da área, mas Bats fez a defesa espalmando para frente do jeito que deu.

O calor e a agilidade do jogo começam a cansar os franceses.

Aos 25′, Josimar fez um cruzamento perfeito e Careca cabeceou forte no travessão. Pela segunda fez, a França era salva pela trave.

Com o jogo cada vez mais acelerado, Telê Santana decide usar a carta que tinha na manga e coloca Zico em campo aos 26′. Depois de um ano se recuperando de uma lesão no joelho, o craque do Flamengo voltou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Dois minutos depois de entrar, ele fez um lançamento preciso e precioso para Branco invadir a grande área e ser derrubado por Bats.

Pênalti para o Brasil. Zico não esperava bater. O cobrador oficial era Sócrates, que, na euforia, deixou a incumbência para o Galinho, que ainda estava frio e totalmente sem ritmo de jogo. Aos 33 anos, Zico sabia que aquela seria a sua última chance de conquistar uma Copa e ele não queria desperdiçá-la. E pegou a bola sem tanta confiança. Mas, ao contrário de dezenas de pênaltis que converteu em sua bela carreira, dessa vez ele bateu mal, à meia altura e entre o meio do gol e a trave esquerda: o local mais propício para defesa do goleiro e foi o que aconteceu. Bats saltou e defendeu. Um erro incomum na carreira do Galinho. Certamente foi o pênalti mais dolorido que Zico perdeu na vida. Platini consolou o colega da camisa 10 brasileira.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Mas Zico ainda teve outra oportunidade de ouro para matar o jogo aos 43′. Josimar fez mais um cruzamento perfeito da direita e Zico, livre, cabeceou nas mãos de Bats.

O goleiro Bats vivia seu dia de glória. Quatro anos antes, ele lutou e venceu um câncer nos testículos. A poesia foi o refúgio no qual ele encontrou forças para suportar e tratar a doença.

No último minuto, mais uma chance para o Brasil, mas o chute de Josimar passou por cima.

A decisão foi mesmo para a prorrogação. Seriam necessários mais trinta minutos debaixo de um sol escaldante.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

● E o jogo recomeçou com a França no ataque. Aos 7, Rocheteau arrancou em disparada desde o círculo central, passou por três brasileiros e foi travado por Júlio César. Stopyra pegou a sobra, mas também chutou em cima da defesa. Uma bela jogada de Rocheteau, em sua terceira Copa do Mundo.

O ritmo foi ficando mais lento, favorecendo a troca de passes dos Bleus. Platini passou a aparecer mais no jogo e de seus pés saíam as melhores jogadas francesas.

Aos 11′ do segundo tempo da prorrogação, ele fez um lançamento genial para Bruno Bellone arrancar sozinho e em posição legal. Mas, no desespero, Carlos saiu da área e segurou o atacante francês, que ainda tentou seguir na bola, mas se desequilibrou. Júlio César apareceu e afastou o perigo. O juiz deveria ter expulsado Carlos, mas sequer marcou a falta (que ocorreu fora da área), indicando que havia concedido uma duvidosa lei da vantagem – que acabou não ocorrendo, claro.

Um minuto depois, Careca cruzou rasteiro da ponta direita e a bola passou por Sócrates, dentro da pequena área e com o gol vazio à sua frente. O Doutor perdeu um gol feito. Foi a última oportunidade de um jogo repleto delas.

Mas o destino de Brasil e França seria decido nos tiros livres da marca do pênalti.


(Image: Hipólito Pereira / O Globo)

● O Brasil ganhou o sorteio e começou batendo. Completamente esgotado, Sócrates bateu de forma quase displicente, tomando pouca distância e ensaiando uma paradinha. Mas Bats não se moveu e Sócrates cobrou mal, à meia altura no canto direito, facilitando o trabalho do goleiro francês.

Os cobradores seguintes foram impecáveis. Stopyra bateu alto, no meio do gol e converteu para a França. Alemão bateu no canto esquerdo e fez para o Brasil. Amoros também chutou no canto esquerdo e anotou para a França. Zico se redimiu e marcou o seu: contrariando seu estilo clássico, chutou com raiva, forte, quase no meio do gol – 2 a 2 no placar.

Bruno Bellone contou com a sorte. Sua cobrança bateu no pé da trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos foi para o gol. Se Carlos tivesse ficado parado, a França teria desperdiçado a cobrança. Mas o goleiro brasileiro acertou o canto. E a bola, ao voltar da trave, bateu em seu ombro e tomou o rumo do gol.

Os brasileiros discutiram a validade do gol, achando que não valia. Mas foi válido. A FIFA explicaria depois: o cobrador tem direito a um único toque na bola e a cobrança termina quando a bola entra ou não no gol, sendo ou não tocada pelo goleiro – a trave era neutra.

Branco encheu o pé esquerdo e estufou as redes, batendo do meio para direita de Bats.

Platini beijou a bola. Em sua carreira, ele já havia convertido muitos penais em situações decisivas. Mas dessa vez ele errou, mandando a bola por cima. Tudo igual de novo.

O ótimo zagueiro Júlio César (eleito para a Seleção do Mundial, junto com o lateral Josimar) tinha a chance de colocar o Brasil à frente. Ele disparou um canhão, com toda força contida em seu pé direito, mas a bola explodiu na trave.

Luis Fernandéz teve a maior responsabilidade de sua carreira. E ele converteu com enorme categoria, no cantinho direito de Carlos, decretando a eliminação brasileira.

O Brasil, que sofreu apenas um gol em cinco partidas, terminava a Copa invicto e eliminado. Pela segunda vez consecutiva, a França estava nas semifinais.


(Imagem: Trivela)

● Certamente essa foi a melhor partida da Copa de 1986, cumprindo as expectativas. As duas equipes mostraram um futebol refinado, técnico e leal – tanto, que o árbitro não precisou apresentar nenhum cartão nos 120 minutos de bola rolando. “Os dois mereciam ganhar”, afirmou o jornal ABC de Madri.

Assim como em 1978, a Seleção foi eliminada mesmo terminando a competição invicta. No cômputo geral, ficou na 5ª posição.

Carlos ficou com fama de azarado pelo pênalti, mas foi o goleiro menos vazado da competição.

Essa foi a única partida que a Seleção não venceu em Copas disputadas no México. Somando 1970 e 1986, foram 11 jogos, com 10 vitórias e um empate com sabor de derrota.

“Escolhi o Júlio César porque era o melhor nos treinos. E Careca bate mal.” ― Telê Santana, explicando a opção pelo zagueiro nas cobranças de pênaltis.

“Em 1982, eu acertei, mas a França perdeu. Hoje, eu errei, mas nos classificamos. Prefiro assim.” ― Michel Platini.

“Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” ― Michel Platini

Após passar pelo Brasil nas quartas de final, a França perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 0 nas semifinais. Na decisão do 3º lugar, venceu a Bélgica por 4 x 2.


(Imagem: Pedro Martinelli / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 21/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 65.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

 

BRASIL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Carlos (G)

1  Joël Bats (G)

13 Josimar

2  Manuel Amoros

14 Júlio César

4  Patrick Battiston

4  Edinho (C)

6  Maxime Bossis

17 Branco

8  Thierry Tusseau

19 Elzo

9  Luis Fernández

15 Alemão

14 Jean Tigana

6  Júnior

12 Alain Giresse

18  Sócrates

10 Michel Platini (C)

7  Müller

18 Dominique Rocheteau

9  Careca

19 Yannick Stopyra

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

22 Albert Rust (G)

22 Leão (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

2  Édson Boaro

5  Michel Bibard

3  Oscar

7  Yvon Le Roux

16 Mauro Galvão

3  William Ayache

5  Falcão

15 Philippe Vercruysse

20 Silas

13 Bernard Genghini

21 Valdo

11 Jean-Marc Ferreri

10 Zico

16 Bruno Bellone

11 Edivaldo

20 Daniel Xuereb

8  Casagrande

17 Jean-Pierre Papin

 

GOLS:

17′ Careca (BRA)

40′ Michel Platini (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

71′ Müller (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

84′ Alain Giresse (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Júnior (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

99′ Dominique Rocheteau (FRA) ↓

Bruno Bellone (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

FRANÇA 4

Sócrates (perdeu, à direita, defendido por Joël Bats)

Yannick Stopyra (gol, no alto, no meio do gol)

Alemão (gol, no canto esquerdo)

Manuel Amoros (gol, no canto esquerdo)

Zico (gol, forte, no meio do gol)

Bruno Bellone (gol, na trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol)

Branco (gol, forte, no meio do gol, um pouco à direita de Bats)

Michel Platini (perdeu, por cima do ângulo esquerdo)

Júlio César (perdeu, na trave direita)

Luis Fernández (gol, no canto direito)


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 18/06/1986 – Espanha 5 x 1 Dinamarca

Três pontos sobre…
… 18/06/1986 – Espanha 5 x 1 Dinamarca


(Imagem: FourFourTwo)

● A “Dinamáquina” era a favorita de todos os expectadores e uma das grandes favoritas ao título. E sua força de confirmava, a cada vitória no “grupo da morte”: 1 x 0 sobre a Escócia treinada pelo ainda jovem Alex Ferguson, 6 x 1 sobre o Uruguai de Enzo Francescoli e 2 x 0 na Alemanha Ocidental, vice-campeã da Copa anterior. Foi a dona da melhor campanha da primeira fase.

A Espanha chegou no Mundial invicta desde abril de 1985. Perdeu para o Brasil por 1 x 0 na estreia. Na segunda partida, venceu a Irlanda do Norte por 2 x 1. Bateu a Argélia por 3 x 0 na terceira rodada. Se classificou em segundo lugar do Grupo D.

Essas duas seleções haviam se enfrentado dois anos antes, na semifinal da Eurocopa de 1984. Na época, a Dinamarca já encantava. Mas a Espanha venceu nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1. Mas agora havia um diferencial que não deixaria a partida ficar empatada: “El Buitre”.

Jogando em casa, a Espanha não fez uma boa Copa em 1982. Mas, quatro anos depois, renovou grande parte do elenco, chegando no México com um time mais jovem e forte. O técnico Miguel Muñoz, multicampeão com o Real Madrid nas décadas de 1960 e 1970, renovou grande parte do elenco que não fez uma boa Copa em 1982, mesmo jogando em casa. Mas com um time mais jovem e forte, foi vice-campeã da Eurocopa de 1984 e chegou bem mais cotada para o Mundial de 1986. No gol, começava a se firmar o jovem Andoni Zubizarreta. Os laterais Tomás e José Antonio Camacho não costumavam apioar, mas eram firmes na marcação. No miolo da zaga, Ricardo Gallego substituiu Antonio Maceda – lesionado e fora da competição. Seu parceiro era o violento Andoni Goikoetxea, o “Açougueiro de Bilbao”, famoso por quebrar Diego Maradona e Bernd Schuster. No meio, Victor era o marcador e Ramón Calderé o organizador. Julio Alberto fechada o lado esquerdo da segunda linha e o meia direita Míchel era o criador, além de chutar bem de longa distância. A dupla de ataque era formada pelo basco Julio Salinas, caindo mais pelo lado direito, e por Emilio Butragueño – “El Buitre” (“O Abutre”).

Butragueño tinha apenas 22 anos, mas já era adorado pela torcida do Real Madrid, liderando a famosa “Quinta del Buitre”, uma geração de jogadores formados na base merengue (Butragueño, Manolo Sanchís, Míchel, Martín Vázquez e Miguel Pardeza) que conquistou vários títulos na metade dos anos 1980. Ele se tornaria mundialmente conhecido a partir daquele 18 de junho de 1986.


Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de quatro. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Henrik Andersen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.
O bom ala Frank Arnesen foi uma ausência muito sentida contra a Espanha. Ele havia sido expulso na partida anterior, a vitória sobre a Alemanha Ocidental por 2 x 0, em um desentendimento com Lothar Matthäus.

● Logicamente, a Dinamarca entrou em campo como favorita. A Espanha começou a partida conseguindo impedir a criação das jogadas dinamarquesas. Com uma forte marcação individual, pressionava e não dava tempo para que os nórdicos carregassem a bola ou criassem espaços. Mas logo a pressão se afrouxaria e as trocas de passes da “Dinamáquina” começaram a aparecer.

Aos 33 minutos, Gallego derrubou Søren Lerby na grande área. Jesper Olsen cobrou de esquerda com categoria. A bola foi no canto direito, deslocando Zubizarreta, que caiu para o esquerdo.

A Dinamarca teve domínio absoluto do jogo nos minutos seguintes e a goleada parecia ser apenas questão de tempo. Mas esse domínio durou apenas dez minutos.

Pouco antes do intervalo, Lars Høgh bateu o tiro de meta curto para Jesper Olsen, que driblou Julio Salinas e fez um passe sem olhar para o meio da grande área, na tentativa de recuar para seu goleiro. Butragueño chegou antes e empatou o jogo. O empate foi um presente do céu para a Fúria.

Os dinamarqueses voltaram nervosos para o segundo tempo e não conseguiram criar. E a Espanha sabia jogar e foi construindo o placar.


(Imagem: Mais Futebol)

O “abutre” foi mortal ao demonstrar bom senso de posicionamento. Aos 11′, após cobrança de escanteio, o capitão Camacho desviou de cabeça e Butragueño testou para o fundo do gol.

Aos 23, Bertelsen fez pênalti em Butragueño. Goikoetxea bateu forte, com raiva, no canto esquerdo de Høgh.

No minuto 35′, Míchel abriu na direita para Eloy cruzar na medida para Butragueño finalizar no contrapé do goleiro.

Os dinamarqueses se entregaram e, a dois minutos do fim, Morten Olsen cometeu pênalti em Butragueño. O atacante merengue não havia feito nenhum gol até então. Depois de ter anotado a tripleta, já estava de olho na artilharia da Copa. E cobrou a penalidade no canto direito, deslocando o goleiro. “El Buitre” completou o “poker” (quatro gols em uma só partida), destruindo completamente os prognósticos favoráveis aos dinamarqueses.

Era o fim do sonho dos nórdicos. Butragueño havia emperrado as engrenagens da “Dinamáquina”.


(Imagem: Mais Futebol)

● Desnorteados, os nórdicos tentaram arranjar explicações para a goleada sofrida: “Butragueño só apareceu quando demos espaço a ele”, disse o meia Frank Arnesen. “El Buitre” foi tímido: “Nunca pensei em ser estrela. Aqui no México, há muitos jogadores melhores do que eu”.

A revista Placar da época já adiantava sobre o que poderia acontecer aos dinamarqueses: “Muito badalada, está cotada como uma das favoritas, mas pode decepcionar”.

Com certeza o problema dos nórdicos não foi falta de experiência, já que os atletas atuavam em grandes clubes europeus (apenas o goleiro Høgh jogava no país). Não foi a juventude, já que a média de idade era de 28 anos (a dos espanhóis era 26). Talvez o clima quente mexicano tenha prejudicado a velocidade e intensa troca de posições dos “vikings”. Talvez o que tenha impedido a Dinamarca de ir mais longe seja o sentimento de “missão cumprida” ao fazer mais do que já tinha feito em quase cem anos de futebol no país. Talvez tenha faltado ambição e tenha sobrado autoconfiança. Foi apenas o dia de “El Buitre”.

O pênalti convertido por Butragueño foi o 100º assinalado na história das Copas. Desses, 82 haviam sido aproveitados e 18 desperdiçados.

Ninguém marcava quatro gols em uma partida de Copa do Mundo desde Eusébio, na virada inesquecível de Portugal sobre a Coreia do Norte por 5 x 3, nas quartas de final em 1966. Curiosamente, Butragueño havia completado três anos um dia antes desse jogo.

Antes de Butragueño e Eusébio, apenas outros quatro jogadores marcaram quatro gols em um único jogo, em toda a história das Copas: o polonês Ernest Wilimowski (contra o Brasil, em 1938), o brasileiro Ademir de Menezes (contra a Suécia, em 1950), o húngaro Sándor Kocsis (contra a Alemanha Ocidental em 1954) e o francês Just Fontaine (contra a Alemanha Ocidental em 1958). Depois deles, apenas Oleg Salenko alcançou a marca, com cinco gols marcados sobre Camarões em 1994.

Após vencer os dinamarqueses, os espanhóis comemoraram em seu hotel até a madrugada. Certamente isso foi ainda mais doloroso para os dinamarqueses, que estavam hospedados bem no mesmo hotel. Mas o mundo dá voltas e a Espanha foi eliminada pela Bélgica nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1 no tempo normal. Curiosamente, ambas as delegações também estavam no mesmo hotel e agora foi a vez dos espanhóis ouvirem até tarde a festa dos belgas.


(Imagem: Planet World Cup)

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 5 x 1 DINAMARCA

 

Data: 18/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 38.500

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Jan Keizer (Holanda)

 

ESPANHA (4-4-2):

DINAMARCA (3-5-2):

1  Andoni Zubizarreta (G)

22 Lars Høgh (G)

2  Tomás

3  Søren Busk

14 Ricardo Gallego

4  Morten Olsen (C)

8  Andoni Goikoetxea

5  Ivan Nielsen

3  José Antonio Camacho (C)

21 Henrik Andersen

5  Víctor Muñoz

9  Klaus Berggreen

18 Ramón María Calderé

12 Jens Jørn Bertelsen

21 Míchel

6  Søren Lerby

11 Julio Alberto

8  Jesper Olsen

19 Julio Salinas

11 Michael Laudrup

9  Emilio Butragueño

10 Preben Elkjær Larsen

 

Técnico: Miguel Muñoz

Técnico: Sepp Piontek

 

SUPLENTES:

 

 

13 Javier Urruticoechea (G)

1  Troels Rasmussen (G)

22 Juan Carlos Ablanedo (G)

16 Ole Qvist (G)

15 Chendo

2  John Sivebæk

6  Rafael Gordillo

17 Kent Nielsen

7  Juan Antonio Señor

7  Jan Mølby

4  Antonio Maceda

13 Per Frimann

17 Francisco

20 Jan Bartram

12 Quique Setién

15 Frank Arnesen

10 Francisco José Carrasco

14 Allan Simonsen

16 Hipólito Rincón

18 Flemming Christensen

20 Eloy

19 John Eriksen

 

GOLS:

33′ Jesper Olsen (DIN) (pen)

43′ Emilio Butragueño (ESP)

56′ Emilio Butragueño (ESP)

68′ Andoni Goikoetxea (ESP) (pen)

80′ Emilio Butragueño (ESP)

88′ Emilio Butragueño (ESP) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

26′ Henrik Andersen (DIN)

27′ Andoni Goikoetxea (ESP)

32′ José Antonio Camacho (ESP)

60′ Míchel (ESP)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Julio Salinas (ESP) ↓

Eloy (ESP) ↑

 

60′ Henrik Andersen (DIN) ↓

John Eriksen (DIN) ↑

 

71′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

 

83′ Míchel (ESP) ↓

Francisco (ESP) ↑

Gols da partida:

… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental


(Imagem: DPA / Corbis / Impromptuinc)

● A imprensa esportiva da época já avisava: a “Dinamite Dinamarca” poderia explodir na Copa do Mundo de 1986. Durante o torneio, acabaria se tornando a “Dinamáquina”: a máquina de toques envolventes, aproximação, jogo rápido e marcação sob pressão, capaz de massacrar até os mais tradicionais adversários.

Historicamente, o país era um grande exportador de “pé de obra” para os maiores centros do futebol europeu. Um dos incentivos para isso era o amadorismo que perdurou no país até 1985. Mas muita coisa mudou com o advento do profissionalismo e a contratação do técnico alemão Sepp Piontek na virada da década. O treinador precisou fazer um trabalho diferente para a época, garimpando jogadores de todos os cantos do continente, o que não era usual para a época. Eles se reuniam 48 horas antes dos jogos e mal tinham tempo para treinar. Mesmo assim, deu certo. O resultado foi imediato, com o 3º lugar na Eurocopa de 1984 e a classificação para o Mundial de 1986 – foi líder do Grupo 6 das eliminatórias europeias, apenas um ponto na frente da União Soviética.

O atacante Preben Elkjær Larsen, fumante inveterado, campeão italiano com o Verona na temporada 1984/85, foi o maior artilheiro das eliminatórias em todos os continentes, com oito gols. Michael Laudrup, já na Juventus, era considerado como uma das maiores revelações da Europa. Outro destaque era a animada, beberrona e pacífica torcida.

Era endeusada pela crítica internacional como uma das maiores forças do futebol europeu de então. Tinha um time muito entrosado. E o 3-5-2 era um sistema tático diferente, que confundia a marcação adversária (como detalhamos nesse outro texto).


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. John Sivebæk e Søren Busk eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jan Mølby fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Jesper Olsen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Henrik Andersen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


O 3-5-2 já não era mais exclusividade da Dinamarca. Outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Matthias Herget fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Rolff armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.

● As duas seleções entraram em campo já classificadas. Na pior das hipóteses, os alemães se classificariam em terceiro no grupo – mas isso se o Uruguai tirasse uma diferença de seis gols de saldo contra a Escócia (a partida ocorreu simultaneamente a essa e terminou sem gols).

Apesar da postura mais defensiva, os comandados de Franz Beckenbauer começaram mais perigosos e Andreas Brehme mandou uma bola no travessão.

Mas, mesmo sem fazer força alguma, o time do técnico Sepp Piontek conseguiu traduzir sua superioridade em gols.

Aos 43 minutos do primeiro tempo, o líbero Morten Olsen arrancou e foi derrubado dentro da área por Wolfgang Rolff. O árbitro belga Alexis Ponnet assinalou o pênalti. Jesper Olsen cobrou de esquerda com enorme categoria. A bola foi no canto direito, deslocando o goleiro Harald Schumacher, que caiu para o esquerdo.

A partida foi resolvida aos 17′ da etapa complementar. Morten Olsen partiu com a bola dominada e tocou para Michael Laudrup, que lançou Frank Arnesen na direita, que cruzou rasteiro. Schumacher saiu de carrinho e não cortou. John Eriksen só tocou para dentro. Eriksen tinha entrado no intervalo no lugar de Preben Elkjær Larsen, que foi poupado do segundo tempo.

Curiosamente, essa foi a única partida do craque Allan Simonsen na história das Copas. Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador da Europa em 1977, o “pequeno gigante” já estava no fim de carreira, bastante prejudicado por problemas físicos. Ele entrou no lugar de Jesper Olsen na metade do segundo tempo.

Os dinamarqueses ficaram em primeiro lugar do Grupo E e enfrentaria a Espanha, segunda do Grupo D. Os alemães se deram bem por terem ficado em segundo, pois enfrentaram o Marrocos (líder do Grupo F) nas oitavas de final – teoricamente, um adversário mais fácil. O Uruguai foi terceiro da chave e pegou a Argentina (primeira do Grupo A). O resultado foi bom para todos.


Karlheinz Förster e Preben Elkjær Larsen disputam a jogada (Imagem: Team Group / Impromptuinc)

● Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram Escócia (1 x 0), Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final. E, como diria aquele velho ditado: “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Haveria uma bastante amarga para os dinamarqueses. É o que veremos no próximo dia 18.


Rudi Völler tenta passar por Morten Olsen (Imagem: Norbert Schmidt / Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 0 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 13/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 36.000

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Alexis Ponnet (Bélgica)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ALEMANHA
OCIDENTAL (4-4-2):

22 Lars Høgh (G)

1  Harald Schumacher (G)(C)

2  John Sivebæk

14 Thomas Berthold

3  Søren Busk

4  Karlheinz Förster

4  Morten Olsen (C)

17 Ditmar Jakobs

21 Henrik Andersen

5  Matthias Herget

7  Jan Mølby

6  Norbert Eder

6  Søren Lerby

8  Lothar Matthäus

15 Frank Arnesen

3  Andreas Brehme

8  Jesper Olsen

21 Wolfgang Rolff

11 Michael Laudrup

19 Klaus Allofs

10 Preben Elkjær Larsen

9  Rudi Völler

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: Franz Beckenbauer

 

SUPLENTES:

 

 

1  Troels Rasmussen (G)

12 Uli Stein (G)

16 Ole Qvist (G)

22 Eike Immel (G)

5  Ivan Nielsen

15 Klaus Augenthaler

17 Kent Nielsen

2  Hans-Peter Briegel

9  Klaus Berggreen

16 Olaf Thon

13 Per Frimann

13 Karl Allgöwer

20 Jan Bartram

10 Felix Magath

12 Jens Jørn Bertelsen

18 Uwe Rahn

14 Allan Simonsen

7  Pierre Littbarski

18 Flemming Christensen

20 Dieter Hoeneß

19 John Eriksen

11 Karl-Heinz Rummenigge

 

GOLS:

43′ Jesper Olsen (DIN) (pen)

62′ John Eriksen (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

36′ Frank Arnesen (DIN)

48′ Norbert Eder (ALE)

51′ Ditmar Jakobs (ALE)

 

CARTÃO VERMELHO: 88′ Frank Arnesen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Preben Elkjær Larsen (DIN) ↓

John Eriksen (DIN) ↑

 

INTERVALO Wolfgang Rolff (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

71′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Allan Simonsen (DIN) ↑

 

71′ Karlheinz Förster (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

Gols da partida:

Jogo completo:

… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte

Três pontos sobre…
… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte


(Imagem: Pinterest)

● Era a melhor geração da história da Irlanda do Norte, responsável por classificar os norte-irlandeses para dois Mundiais consecutivos. Tinha feito uma ótima Copa de 1982 para seus padrões, ao ser líder do Grupo E e só ser eliminada na última rodada da segunda fase pela França de Michel Platini. Jogava bem ao estilo típico da escola britânica: defesa fechada e bola aérea no ataque. Dificilmente vencia uma partida, mas também era muito difícil de ser batida.

Desde 1980 como técnico da Norn Iron, Billy Bingham foi ponta direita na Copa de 1958. Curiosamente, ele encerrou sua carreira na seleção no dia 15/04/1964, justamente quando o goleiro Pat Jennings vestia a camisa de seu país pela primeira das 119 vezes.

Pat Jennings completava 41 anos exatamente naquele dia e se tornava o jogador mais velho a disputar uma Copa do Mundo até então. Norman Whiteside já era o jogador mais jovem da história do torneio, ao entrar em campo contra a Iugoslávia em 1982, com 17 anos e 41 dias. Os extremos – e os únicos destaques individuais da equipe.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A Irlanda do Norte se fechou no 4-5-1.

● O técnico Telê Santana fez algumas alterações importantes para esse confronto. Alemão voltou ao meio campo, após ter sido deslocado para a lateral direita por causa da lesão de Édson Abobrão, no início do jogo contra a Argélia. O desconhecido Josimar entrou na lateral. No ataque, Müller se tornou titular ao lado de Careca, repetindo a dupla que fazia sucesso no São Paulo. Casagrande, mal nos dois primeiros jogos, perdeu a posição.

Nas duas primeiras rodadas, a Irlanda do Norte conquistou um ponto ao empatar com a Argélia e perder para a Espanha. Para seguir com o sonho de passar de fase, precisava pontuar contra o Brasil. Por isso, o treinador Billy Bingham fechou mais o time no sistema 4-5-1, recuando Whiteside de vez.

Porém, ao se fechar, os britânicos ficaram muito presos em seu próprio campo, sem conseguir avançar. Parte do mérito disso foi a imposição técnica da Seleção Brasileira.

Durante todos os 90 minutos, os britânicos criaram apenas três chances: uma cabeçada de Whiteside, um chute do lateral esquerdo Mal Donaghy que desviou no zagueiro Júlio César e um chute do capitão Sammy McIlroy da entrada da área.

Mas o fato é que o Brasil dominou do início ao fim.

A jogada do primeiro gol foi da dupla de ataque do SPFC. Logo aos 15 minutos jogados, Müller, cercado por dois adversários, cruzou da direita. Careca se antecipou à marcação e chutou no canto.

Pat Jennings era o responsável por evitar um massacre no placar, com pelo menos sete ótimas defesas: no primeiro tempo, ele pegou um chute de Müller, outro de Branco, um cara a cara de Júnior; na segunda etapa, defendeu um voleio de Careca, uma finalização rasteira e outra pelo alto de Casagrande em dois lances seguidos, além de outra defesa cara a cara com Branco.

Mas foi mais que impossível segurar o “pombo sem asas” de Josimar. Aos 42 minutos de jogo, Josimar dominou na intermediária, avançou dois passos e chutou de bico. A bola pegou um efeito monstro, encobriu o goleiro e morreu no ângulo. Um gol sensacional.

Era a estreia do jogador do Botafogo com a camisa da Seleção Brasileira. Ele só foi chamado por causa da conturbada saída de Leandro (como já contamos aqui) e só jogou por causa da lesão de Édson.


(Imagem: Pinterest)

Na metade do segundo tempo, Telê promoveu o retorno de Zico, que ainda tratava uma lesão no joelho. O craque voltou bem, quase marcando por duas vezes.

A três minutos do fim, Careca recebeu a bola perto do bico da área e tabelou com Zico, que devolveu de calcanhar. Careca dominou, ficou de frente para o gol e finalizou no canto esquerdo.

O resultado classificou o Brasil com 100% de aproveitamento e eliminou os norte-irlandeses.

Essa foi a última partida da Irlanda do Norte em Copas do Mundo até o momento.

E é também a única vez que as duas seleções se enfrentaram, incluindo jogos não oficiais.


(Imagem: ESPN)

Na partida seguinte, Josimar marcou outro golaço contra a Polônia e garantiu de vez seu nome na história. Em sua homenagem, a revista de futebol mais popular da Noruega se chama “Josimar”. A emissora britânica BBC elegeu o gol de Josimar contra a Irlanda do Norte como o 8º mais bonito da história das Copas.

O Brasil venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini, como veremos no próximo dia 21.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)font>

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 0 IRLANDA DO NORTE

 

Data: 12/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Siegfried Kirschen (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-4-2):

IRLANDA DO NORTE (4-5-1):

1  Carlos (G)

1  Pat Jennings (G)

13 Josimar

2  Jimmy Nicholl

14 Júlio César

5  Alan McDonald

4  Edinho (C)

4  John O’Neill

17 Branco

3  Mal Donaghy

19 Elzo

6  David McCreery

15 Alemão

8  Sammy McIlroy (C)

6  Júnior

10 Norman Whiteside

18  Sócrates

21 David Campbell

7  Müller

11 Ian Stewart

9  Careca

17 Colin Clarke

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Billy Bingham

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

12 Jim Platt (G)

22 Leão (G)

13 Phil Hughes (G)

2  Édson Boaro

18 John McClelland

3  Oscar

15 Nigel Worthington

16 Mauro Galvão

16 Paul Ramsey

5  Falcão

20 Bernard McNally

20 Silas

22 Mark Caughey

21 Valdo

7  Steve Penney

10 Zico

9  Jimmy Quinn

11 Edivaldo

19 Billy Hamilton

8  Casagrande

14 Gerry Armstrong

 

GOLS:

15′ Careca (BRA)

42′ Josimar (BRA)

87′ Careca (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: 12′ Mal Donaghy (IRN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

27′ Müller (BRA) ↓

Casagrande (BRA) ↑

 

67′ Norman Whiteside (IRN) ↓

Billy Hamilton (IRN) ↑

 

68′ Sócrates (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

71′ David Campbell (IRN) ↓

Gerry Armstrong (IRN) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo (em português):

… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai


(Imagem: Impromptuinc)

● O Grupo E era o mais equilibrado da Copa do Mundo de 1986. Alemanha Ocidental, Uruguai, Dinamarca a Escócia faziam o “grupo da morte”.

Na estreia, duas camisas pesadas se enfrentaram. Dois pesos pesados do futebol, Alemanha Ocidental e Uruguai haviam duelado quatro vezes até aquele confronto em Querétaro. Haviam sido quatro vitórias alemãs, sendo dois amistosos (3 x 0 em 1962 e 2 x 0 em 1977) e dois confrontos válidos por Copas do Mundo (4 x 0 em 1966 e 1 x 0 em 1970).

Ausente desde 1974, a Celeste Olímpica se garantiu no Mundial ao vencer o Grupo 2 das eliminatórias sul-americanas. Nesses doze anos sem estar entre os protagonistas, muitos diziam que os charruas estavam em decadência. Mas a renovação foi bem feita e o time conquistou a Copa América de 1983.

O maior problema estava dentro do próprio elenco, dividido em “panelinhas”. Muitos atletas tinham uma relação ruim e o treinador Omar Borrás não era muito afeito ao diálogo. O ambiente interno era péssimo. O técnico, cabeça dura, prescindia da experiência e talento dos jogadores que atuavam no futebol brasileiro.

Um dos melhores do mundo em sua posição, o goleiro Rodolfo Rodríguez (do Santos) vivia o auge de sua forma, mas perdeu a titularidade e a braçadeira de capitão. “Não fui escalado porque falta ao técnico o que eu tenho de sobra: coragem”, cutucou o arqueiro.

O zagueiro Hugo de León, eterno capitão do Grêmio e que estava no atuando no Corinthians, foi sumariamente ignorado e nem foi convocado por Borrás. Don Darío Pereyra, ídolo do São Paulo, se recuperava de problemas físicos. Rubén Paz, meia do Inter, nunca justificou seu talento na seleção de seu país. Os quatro eram craques e incontestáveis no futebol tupiniquim. O único dos “brasileiros” titulares era o lateral direito Víctor Diogo, do Palmeiras.

Mas havia em campo um craque capaz de mudar o curso de uma partida. Enzo Francescoli era o camisa 10 e o líder técnico dentro de campo. No entanto, a maior força uruguaia era a mística, a velha valentia, a pesada camisa celeste – sempre capaz de grandes façanhas.


Alzamendi dribla Schumacher e abre o placar (Imagem: Impromptuinc)

● Na prática, duas coisas mantiveram a Alemanha Ocidental na briga por títulos na década de 1980: tradição e Rummenigge.

No Grupo 2 da qualificatória europeia, se classificou como líder, com Portugal em segundo e deixando Suécia e Tchecoslováquia fora do Mundial.

A Nationalelf viajou para o México sem a confiança de sua torcida. Em pesquisa feita pela antiga revista Quick, apenas 12% dos conterrâneos acreditavam no título mundial. A falta de confiança é mais pelo modo crítico dos alemães de verem as coisas do que propriamente pelos últimos resultados.

Treinada por Franz Beckenbauer, os alemães sempre entram em qualquer disputa para vencer. Vencedor dentro de campo, o Kaiser queria se provar também fora dele. E havia material humano para isso.

Embora às vezes violento e temperamental, o goleiro “Toni” Schumacher estava entre os melhores da Europa. A defesa era consistente, com destaque para o polivalente panzer Briegel, que podia jogar na defesa, na lateral e no meio campo. No meio, Matthäus dava consistência e Magath o tom de criatividade. No ataque, Völler se recuperou totalmente de uma grave distensão muscular que sofreu em novembro passado. Mas o grande fator de desequilíbrio continuava sendo o velho Karl-Heinz Rummenigge, que vinha de seguidas contusões.


Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Briegel fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.


O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época). Francescoli tinha liberdade para circular e criar para os rápidos atacantes Alzamendi e Da Silva.

● Ao meio-dia a bola rolou no estádio La Corregidora, em Querétaro. Mais de 30 pessoas viram duas falhas defensivas resolverem a partida.

O Uruguai abriu o placar rapidamente, graças a uma falha grotesca. Logo aos quatro minutos de jogo, a Alemanha trocava passes na intermediária até que Norbert Eder tentou recuar para o goleiro. Uma tremenda burrice! A bola caiu no pé de Antonio Alzamendi, que entrou em velocidade, deixou Klaus Augenthaler no chão, invadiu a área, driblou Schumacher e chutou. A bola tocou no travessão e caiu após a linha do gol, antes de Briegel afastar de bicicleta. A bola entrou. Gol legal, confirmado pelo árbitro tchecoslovaco Vojtěch Christov.

Die Mannschaft acordou e começou a atacar. Pouco depois de sofrer o gol, Matthäus chutou forte do lado direito e Fernando Álvez teve dificuldades para jogar para escanteio.

Na sequência, Augenthaler fez um ótimo lançamento para Rudi Völler, que ganhou da marcação e chutou para boa defesa do arqueiro celeste.

Depois, os sul-americanos se fecharam começaram a puxar contra-ataques perigosos. Aos 16′, Francescoli criou a jogada e Alzamendi abriu para Da Silva chutar por cima.

Três minutos depois, Alzamendi puxou o contragolpe e correu o campo todo, mas foi travado por Augenthaler na hora H.

No início do segundo tempo, Francescoli ia fazendo fila na defesa germânica, mas Augenthaler (sempre ele), fez falta na risca da grande área, impedindo um golaço.

Aos 35′, Francescoli chegou a driblar Schumacher e chutar para fora. O Uruguai ia desperdiçando chances preciosas.

No lance seguinte, Rummenigge (que entrou no segundo tempo) cruzou da esquerda para cabeçada forte de Thomas Berthold, mas Álvez fez uma ótima defesa.

Aos 39′ do segundo tempo, após cobrança de escanteio dos alemães, a bola viajou no alto de uma intermediária a outra por duas vezes até que Augenthaler cortou de cabeça do meio campo. A bola viajou até a área uruguaia e a zaga não cortou. Klaus Allofs foi oportunista e chutou de esquerda, rasteiro e cruzado, no cantinho de Álvez, empatando a partida.


Allofs faz o gol de empate (Imagem: Impromptuinc)

● Após o empate com os alemães, o Uruguai foi massacrado pela “Dinamáquina” por 6 x 1 e empatou sem gols com a Escócia. Mesmo sem nenhuma vitória, passou de fase como um dos melhores terceiros colocados e enfrentou a Argentina nas oitavas de final. No clássico sul-americano, não conseguiu parar o imparável Maradona e foi eliminada após derrota por 1 x 0.

Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

O Uruguai continuou freguês da Alemanha. Em dez duelos, nunca venceu uma partida (oito derrotas e dois empates). A única vitória ocorreu no primeiro duelo: 4 x 1 na primeira fase dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, com o time base que se tornaria o primeiro campeão do mundo dois anos depois.


(Imagem: impromptuinc.wordpress.com)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 1 URUGUAI

 

Data: 04/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 30.500

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Vojtěch Christov (Tchecoslováquia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):

URUGUAI (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)(C)

12 Fernando Álvez (G)

14 Thomas Berthold

4  Víctor Diogo

4  Karlheinz Förster

2  Nelson Gutiérrez

15 Klaus Augenthaler

3  Eduardo Mario Acevedo

2  Hans-Peter Briegel

6  José Batista

6  Norbert Eder

5  Miguel Bossio

8  Lothar Matthäus

8  Jorge Barrios (C)

3  Andreas Brehme

11 Sergio Santín

10 Felix Magath

10 Enzo Francescoli

19 Klaus Allofs

9  Jorge Orosmán da Silva

9  Rudi Völler

7  Antonio Alzamendi

 

Técnico: Franz Beckenbauer

Técnico: Omar Borrás

 

SUPLENTES:

 

 

12 Uli Stein (G)

1  Rodolfo Rodríguez (G)

22 Eike Immel (G)

22 Celso Otero (G)

17 Ditmar Jakobs

13 César Veja

5  Matthias Herget

14 Darío Pereyra

16 Olaf Thon

15 Eliseo Rivero

13 Karl Allgöwer

16 Mario Saralegui

21 Wolfgang Rolff

17 José Zalazar

18 Uwe Rahn

18 Rubén Paz

7  Pierre Littbarski

19 Venancio Ramos

20 Dieter Hoeneß

20 Carlos Aguilera

11 Karl-Heinz Rummenigge

21 Wilmar Cabrera

 

GOLS:

4′ Antonio Alzamendi (URU)

84′ Klaus Allofs (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Víctor Diogo (URU)

62′ Mario Saralegui (URU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Andreas Brehme (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

56′ Jorge Barrios (URU) ↓

Mario Saralegui (URU) ↑

 

75′ Lothar Matthäus (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

 

80′ Antonio Alzamendi (URU) ↓

Venancio Ramos (URU) ↑

 

Melhores momentos da partida (em espanhol):

Gols do jogo (em inglês):

Partida completa (em inglês):

… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária

Três pontos sobre…
… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária


Nasko Sirakov empatou para a Bulgária a cinco minutos do fim (Imagem: Pinterest)

● No dia 11/04/1974, a Colômbia foi escolhida como país sede da 13ª edição da Copa do Mundo de futebol. Porém, já em 1982, os cafeteros renunciaram alegando “insuperáveis dificuldades” econômicas e sociais. Um dos argumentos foi o aumento de 16 para 24 seleções, o que exigiria pelo menos dez estádios – que o país não possuía prontos e nem tinha condições de construir.

Com isso, se candidataram inicialmente: Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, Peru, Inglaterra, Alemanha Ocidental e Holanda-Bélgica (em conjunto). Devido ao sistema de rodízio entre os continentes, os europeus foram rapidamente descartados, pois essa era a vez das Américas. Logo o Brasil desistiu (um veto do General Figueiredo, então presidente da República, devido ao momento econômico conturbado que o país passava). Depois foi a vez de norte-americanos, canadenses e peruanos. Por fim, em julho de 1983, a FIFA decidiu de forma polêmica a favor dos mexicanos. Com isso, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio, sendo a segunda apenas 16 anos depois da primeira.

Porém, nos dias 19 e 20 de setembro de 1985, menos de um ano antes do início do Mundial, dois terremotos atingiram o México. O primeiro foi mais violento. Às 07h30 do dia 19, em menos de dois minutos, um forte tremor devastou a Cidade do México (maior cidade do mundo na época). Milhares de pessoas perderam a vida. As fontes oficiais citam 9.500 mortos, outras afirmam que chegaram a 35 mil; além de 30 mil feridos e mais de 100 mil desabrigados. Foram 412 prédios totalmente destruídos e 3.124 parcialmente danificados. Mas o estádio Azteca e os principais hotéis da cidade ficaram incólumes e a Copa pôde ser realizada sem nenhum problema. Em oito meses, o batalhador povo mexicano se reergueu e, com muito entusiasmo, o país novamente foi palco da maior festa do futebol mundial.

O Brasil era o principal candidato ao título, pela tradição e por manter os craques que encantaram o mundo em 1982. Mas qualquer aposta séria sempre incluíam Itália, Alemanha Ocidental e Inglaterra. A Argentina vinha mais fraca que antes, mas Diego Armando Maradona estava melhor que nunca. A França venceu a Eurocopa, os Jogos Olímpicos e contava com Michel Platini em pleno esplendor. O Uruguai voltava ao torneio após duas ausências e tinha Enzo Francescoli. Até a Hungria possuía um jogador diferenciado, como Lajos Détári. A Bélgica tinha um bom time, com o goleiro Jean-Marie Pfaff e o capitão Jan Ceulemans. A União Soviética tinha o paredão Rinat Dasayev no gol e Igor Belanov (que viria a ser eleito Bola de Ouro no fim do ano) no ataque. A Fúria espanhola era liderada por Emilio Butragueño, “El Buitre”. O México tinha a força da torcida e Hugo Sánchez no ataque. O Paraguai tinha Romerito, ídolo do Fluminense campeão brasileiro de 1984. A Argélia mantinha Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi como seus destaques. A Irlanda do Norte contava com o veterano arqueiro Pat Jennings e com o jovem Norman Whiteside. A Escócia tinha um time experiente em nível europeu e era treinada por Sir Alex Ferguson. A Polônia ainda contava com Zbigniew Boniek e Wladyslaw Zmuda. Portugal sonhava em reviver os bons momentos de vinte anos antes. Marrocos tentava ser a primeira seleção africana a passar de fase em Mundiais. E a Dinamarca desfilava a novidade do 3-5-2, além de figuras importantes como o líbero Morten Olsen e a dupla de ataque Michael Laudrup e Preben Elkjær Larsen. Apenas Coreia do Sul, Iraque e Canadá eram cartas fora do baralho.


Salvatore Bagni luta pela bola com Bozhidar Iskrenov (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● A tradicional Squadra Azzurra chegava no México para disputar com o Brasil a honra de ser o primeiro tetracampeão do mundo. A camisa italiana sempre teve força própria. O azul da Casa di Savoia é uma das mais tradicionais e pesadas do mundo.

Desde que levantou a taça em 1982, os italianos sonhavam e trabalhavam para conquistar a Copa seguinte, assim como foi em 1934 e 1938. A Federazione Italiana Giuoco Calcio definiu Puebla como local da concentração dois anos antes. E, assim como o Brasil de 1958/1962, a superstição era grande e os dirigentes da Federação exigiram a mesma tripulação da Alitalia que havia levado a delegação à Espanha quatro anos antes.

Acompanhado de seu fiel cachimbo, o técnico Enzo Bearzot completava dez anos no cargo. Ele era uma verdadeira raposa, um ás das estratégias e adepto da marcação mista: individual no maior destaque adversário e por zona nas demais partes do campo. Ao desembarcar no México, ele foi político ao afirmar que a Copa de 1986 seria vencida por sul-americanos. Claramente não estava sendo sincero, mas apenas tirando o peso de sua equipe e jogando a responsabilidade para os adversários.

No gol, na posição que foi do mítico Dino Zoff, estava Giovanni Galli, prestes a trocar a Fiorentina pelo Milan. O velho líbero Gaetano Scirea agora era o capitão do time, dando segurança para os avanços do ala esquerdo Cabrini. O meio campo não contava mais com Giancarlo Antognoni; Marco Tardelli e Carlo Ancelotti eram reservas. Com isso, faltava criatividade e as transições entre defesa e ataque eram rápidas, com a bola passando pouco pelo meio campo. O ataque contava com diversas opções de estilo: Aldo Serena, Giuseppe Galderisi, Alessandro Altobelli, Gianluca Vialli, o talismã Paolo Rossi e Bruno Conti. (Curiosamente, Conti praticava beisebol em sua juventude; se destacou tanto, que quase foi jogar profissionalmente nos Estados Unidos.)


Os “Demônios da Europa” (apelido da seleção búlgara) no Mundial de 1986 (Imagem: Pinterest)

● Nas eliminatórias, a Bulgária surpreendeu ao terminar em primeiro lugar, empatada com a França e perdendo apenas no saldo de gols. O principal responsável pela evolução nos últimos tempos foi o técnico Ivan Voutsov, ex-meio campista da seleção na Copa de 1970. Ele fez o time praticar um futebol simples, solidário e objetivo – bem diferente do velho sistema baseado no vigor físico das equipes da Europa Oriental. Estava mais “ocidentalizada”. A força foi dando lugar a um estilo moderno, de mais mobilidade, com defesa sólida, meio campo atuante e ataque com muita velocidade.

Apesar da falta de tradição, vários jogadores tinham um nível técnico acima da média, como o goleiro Borislav Mikhailov, o líbero e capitão Georgi Dimitrov, o meia-atacante Nasko Sirakov e o armador Plamen Getov – melhor jogador do time, habilidoso e com um chute potente. Mikhailov e Sirakov haviam sido punidos por sua federação por terem participado de uma luta campal na final da Copa da Bulgária no ano anterior, mas acabaram absolvidos devido à importância de ambos e um pedido especial do técnico. Um jovem chamado Hristo Stoichkov não obteve o mesmo perdão e não foi convocado para a Copa. Oito anos depois, os três viriam a ser destaques da equipe búlgara no Mundial dos Estados Unidos.

A Bulgária carregava a sina de ter disputado quatro Copas do Mundo (1962, 1966, 1970 e 1974), sem nunca ter vencido uma partida. Sempre fazia boas campanhas nas eliminatórias, mas sucumbia nos Mundiais. Lutava pela honra de representar seu país. Qualquer coisa diferente de três derrotas, já seria um avanço.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1. Na prática, com o “afunilamento” de Bruno Conti, era 4-4-2.


A Bulgária atuava no 4-4-2 clássico, com os meias laterais se apresentando bastante no meio e no ataque.

● Via de regra, a partida de abertura do mundial costuma ser dura, nervosa e nenhuma das equipes conseguem se soltar e praticar um bom futebol.

E foi bem isso que ocorreu no dia 31 de maio no estádio Azteca. Mais de 96 mil expectadores foram assistir a toda poderosa Itália, campeã do mundo, massacrar os pobres búlgaros. Não viram. Na teoria, a prática foi outra. A Squadra Azzurra já não era mais o mesmo time consistente e sagaz de quatro anos antes, quando bateu os favoritos Brasil e Argentina para se embalar rumo ao tricampeonato. Paolo Rossi estava em má forma e era reserva de Altobelli.

O péssimo retrospecto não jogava a favor dos búlgaros, que sonhavam em surpreender desde a festa de abertura.

E o marcador só foi inaugurado no fim do primeiro tempo. Aos 43′, Di Gennaro cobrou falta da intermediária esquerda, a defesa búlgara ficou parada e Altobelli escorou para as redes.

Estava tudo preparado para ser uma festa, com vitória fácil dos italianos, mas eles se deram ao luxo de perder alguns gols na etapa final. E, como diria o ditado: quem não faz…

No fim da partida, quando tudo indicava uma vitória sofrível da Azzurra, ficou ainda pior. Aos 40 minutos do segundo tempo, Zdravkov ergueu a bola na área italiana. Sirakov apareceu entre dois marcadores e cabeceou de forma esquisita, mas o suficiente para colocar a bola no canto do goleiro Galli.

Essa partida foi uma luta permanente pelo domínio no meio campo, na qual o 4-4-2 em voga praticamente eliminou a figura do ponta. Bruno Conti, ponta de origem, afunilava muito o jogo e não teve uma tarde boa.

No fim, o empate foi o placar mais justo pelo que apresentaram ambas as equipes.

Mesmo sendo um jogo deveras tenso e amarrado, pelo menos essa partida teve dois gols – o que não ocorria numa partida de abertura desde 1962.


Alessandro Altobelli, agora titular no ataque na função de Paolo Rossi, foi oportunista e inaugurou o marcador (Imagem: Pinterest)

● Na segunda rodada, a Itália repetiu o placar e empatou por 1 x 1 com a futura campeã Argentina, de Maradona. Na última partida, bateu a Coreia do Sul por 3 x 2 e se classificou como vice-líder do Grupo A. Nas oitavas de final, perdeu para a França de Platini, Giresse e Tigana por 2 x 0 (caindo uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses).

Por sua vez, a Bulgária também repetiu o empate em 1 a 1 contra a Coreia do Sul e perdeu para a Argentina por 2 a 0. Mesmo sem nenhuma vitória, os búlgaros conquistaram dois pontos e se classificaram para a segunda fase pela primeira vez em sua história. Nas oitavas, caiu para o México, dono da casa, por 2 a 0.


Altobelli foi um dos melhores em campo. Nessa foto, em disputa de bola com o bom lateral Radoslav Zdravkov (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 1 BULGÁRIA

 

Data: 31/05/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 96.000

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Erik Fredriksson (Suécia)

 

ITÁLIA (4-4-2):

BULGÁRIA (4-4-2):

1  Giovanni Galli (G)

1  Borislav Mikhailov (G)

2  Giuseppe Bergomi

12 Radoslav Zdravkov

6  Gaetano Scirea (C)

5  Georgi Dimitrov (C)

8  Pietro Vierchowod

3  Nikolay Arabov

3  Antonio Cabrini

13 Aleksandar Markov

10  Salvatore Bagni

8  Ayan Sadakov

13  Fernando De Napoli

10 Zhivko Gospodinov

14 Antonio Di Gennaro

2 Nasko Sirakov

16  Bruno Conti

11 Plamen Getov

18 Alessandro Altobelli

7  Bozhidar Iskrenov

19 Giuseppe Galderisi

9  Stoycho Mladenov

 

Técnico: Enzo Bearzot

Técnico: Ivan Vutsov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Franco Tancredi (G)

22 Iliya Valov (G)

22 Walter Zenga (G)

21 Iliya Dyakov

4  Fulvio Collovati

4 Petar Petrov

5  Sebastiano Nela

14 Plamen Markov

7  Roberto Tricella

15 Georgi Yordanov

11 Giuseppe Baresi

17 Hristo Kolev

15 Marco Tardelli

6  Andrey Zhelyazkov

9  Carlo Ancelotti

16 Vasil Dragolov

21 Aldo Serena

18 Boycho Velichkov

17 Gianluca Vialli

19 Atanas Pashev

20 Paolo Rossi

20 Kostadin Kostadinov

 

GOLS:

44′ Alessandro Altobelli (ITA)

85′ Nasko Sirakov (BUL)

 

CARTÕES AMARELOS:

48′ Giuseppe Bergomi (ITA)

51′ Aleksandar Markov (BUL)

64′ Antonio Cabrini (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

65′ Bruno Conti (ITA) ↓

Gianluca Vialli (ITA) ↑

 

65′ Bozhidar Iskrenov (BUL) ↓

Kostadin Kostadinov (BUL) ↑

 

74′ Zhivko Gospodinov (BUL) ↓

Andrey Zhelyazkov (BUL) ↑

Alguns lances do jogo, em reportagem da TV Globo:

… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia

Três pontos sobre…
… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia


(Imagem: Pinterest)

● Envolta de nostalgia e superstição, a Seleção Brasileira voltava à disputar uma Copa do Mundo no México dezesseis anos depois e esperava reencontrar o espírito vencedor de 1970. Mas, em campo, os espíritos astecas não ajudaram tanto a Seleção de Telê Santana e Cia.

O Brasil estreou no dia 01/06 diante da Espanha. Precisou contar com o travessão e o auxílio da arbitragem para vencer a Fúria pelo placar mínimo. Dois dias depois, pelo mesmo Grupo D, Argélia e Irlanda do Norte empataram por 1 x 1.

A Argélia esteve muito perto de passar de fase em 1982. Venceu poderosa Alemanha Ocidental (2 x 1) e o Chile (3 x 2), mas perdeu para a Áustria (2 x 0). Na última rodada do equilibrado Grupo B, Alemanha Ocidental e Áustria fizeram um “jogo de compadres”, com vitória simples dos alemães – um dos poucos resultados que classificaria as duas seleções europeias e eliminaria os africanos.

Para 1986, as “Raposas do Deserto” mantiveram suas principais peças de quatro anos antes. Destaque para o meia Lakhdar Belloumi e os atacantes Rabah Madjer (ídolo do FC Porto) e Salah Assad.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


O técnico argelino Rabah Saâdane escalou sua seleção no sistema 4-3-3.

● Depois da vitória sobre o adversário mais difícil da chave, todos esperavam que jogo contra a Argélia fosse mais fácil.

Tudo começou mal, quando o lateral direito Édson Abobrão precisou deixar o campo logo aos 11 minutos e o técnico Telê Santana foi deveras infeliz na substituição. Alemão foi deslocado para a lateral e Falcão entrou no meio campo. O time ficou desorganizado.

Sem o ímpeto de Alemão no meio, Elzo teve que correr em dobro. Falcão estava em má forma física – tanto, que encerraria a carreira naquela temporada, com apenas 33 anos.

Mas o Brasil começou assustando. Em uma cobrança de falta ensaiada, Júnior chutou forte. O goleiro Nacerdine Drid espalmou e Careca chutou o rebote para fora.

Depois, Júnior cobrou falta para a área. A zaga rebateu e Edinho rolou para Falcão chutar de esquerda, mas a bola desviou e saiu fraca.

Ainda na etapa inicial, Careca cruzou da direita, Casagrande cabeceou bem e Drid pulou no cantinho. Na sobra, “Casão” dividiu com o goleiro e a bola sobrou para Sócrates chutar para o gol. O árbitro guatemalteco Rómulo Méndez Molina anulou o tento brasileiro, por entender que Casão fez falta em Drid na disputa de bola.

O lance mais perigoso foi uma falta da intermediária cobrada por Júlio César, que fez a bola explodir no travessão.

No início do segundo tempo, o Brasil diminuiu o ritmo e a torcida vaiou. A Argélia perdeu o medo e chegou a assustar. Assad cruzou na pequena área e Belloumi chegou de carrinho, mas Carlos fez uma grande defesa com o pé.

Mas logo a Seleção voltou a pressionar. Branco tabelou com Sócrates pela esquerda, invadiu a área e chutou forte. O goleiro desviou e a bola ainda bateu na trave.

No segundo tempo, o time cresceu com a entrada de Müller no ataque. E foi dele a assistência para o gol.

Aos 22 minutos do segundo tempo, Branco virou o jogo para Alemão na direita, que abriu com Müller na ponta. O atacante são-paulino cruzou para a pequena área. A bola desviou no meio do caminho e ficou entre o zagueiro e o goleiro, que vacilaram. Em uma fração de segundo, Careca se aproveitou da indecisão adversária e apareceu como uma flecha para tocar a bola para dentro do gol.

Careca queria mais. Ele chutou de longe e a bola passou perto do gol, à direita do goleiro.

Sócrates avançou pela direita e bateu forte e Drid espalmou. Na sobra, Careca perdeu a disputa pelo alto e o zagueiro impediu o segundo tento brasileiro.

O camisa 9 teve ainda uma última chance, quando chutou da entrada da área, mas o goleiro pegou.


Careca foi esperto ao aproveitar a bobeira da zaga argelina e chutar para o gol (Imagem: saopaulofc.net)

● É impossível falar dessa partida sem o enfoque em Careca. Mesmo nas piores fases, atacante tinha total confiança do técnico Telê Santana. O que mais unia os dois, é que ambos carregavam o mesmo estigma: não conseguir render na seleção o mesmo que em clubes. Com isso, viviam sempre sob suspeita.

“Ele é centroavante com melhor toque de bola no país.” – Telê afirmava. A torcida e a crítica especializada não acreditavam. Chamavam o camisa 9 de egoísta e preciosista nas conclusões, capaz de perder o gol para requintar o lance.

Na estreia contra os espanhóis, ele não marcou gol, mas foi fundamental no ataque. Mal comparando, foi como Tostão no Mundial de 1970 (também no México): segurava a atenção da marcação para abrir espaços para os companheiros que se infiltravam.

Mas Careca não queria mais ser “boi de piranha”. Estava determinado não só a fazer gols, mas também queria provar ao Brasil que poderia ser o mesmo craque do São Paulo e do Guarani (protagonizou o título do Campeonato Brasileiro de 1978 aos 18 anos).

De amarela, basta a camisa e ele não amarelou. Foi a principal arma brasileira, mostrando talento e oportunismo. Seu gol tirou o Brasil do sufoco contra os africanos e garantiu a vitória da seleção tricampeã do mundo.


Walter Casagrande Júnior não fez uma boa Copa. Na partida seguinte, perderia a titularidade para Müller (Imagem: Pinterest)

● Foi outra atuação nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela superação de Careca, pela vitória e pela classificação antecipada para a próxima fase.

No jogo seguinte, houve uma ingênua impressão de evolução quando a Seleção Brasileira venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini.

Na terceira rodada do Grupo D, a Argélia perdeu para a Espanha por 3 a 0 e terminou no último lugar da chave. As “Raposas do Deserto” terminaram rigorosamente empatadas com a Irlanda do Norte: um ponto e saldo de -4 gols para cada; porém, os irlandeses marcaram dois gols e os argelinos apenas um.

Mais de 25 anos depois, o ex-atacante Djamel Menad revelou que ele e pelo menos cinco companheiros da seleção argelina teriam recebido drogas durante a preparação para o Mundial de 1990. Segundo ele, um médico russo deu medicamentos aos atletas às vésperas e durante o torneio, informando ser apenas “vitaminas”. O ex-jogador afirmou ainda que cinco de seus filhos (todos nascidos após 1986) tem algum problema de saúde. Pouco depois, outros atletas revelaram que o procedimento aconteceu também durante a Copa de 1982.


Paulo Roberto Falcão sofria com problemas físicos e não foi bem (Imagem: Think Marketing)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 ARGÉLIA

 

Data: 06/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 48.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Rómulo Méndez Molina (Guatemala)

 

BRASIL (4-4-2):

ARGÉLIA (4-3-3):

1  Carlos (G)

1  Nacerdine Drid (G)

2  Édson Boaro

5  Abdellah Liegeon

14 Júlio César

20 Fodil Megharia

4  Edinho (C)

2  Mahmoud Guendouz (C)

17 Branco

16 Faouzi Mansouri

19 Elzo

6  Mohamed Kaci-Saïd

15 Alemão

18 Halim Benmabrouk

6  Júnior

10 Lakhdar Belloumi

18  Sócrates

7  Salah Assad

8  Casagrande

9  Djamel Menad

9  Careca

11 Rabah Madjer

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Rabah Saâdane

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

21 Larbi El Hadi (G)

22 Leão (G)

22 Mourad Amara (G)

13 Josimar

4  Noureddine Kourichi

3  Oscar

15 Abdelhamid Sadmi

16 Mauro Galvão

19 Mohamed Chaïb

5  Falcão

3  Fathi Chebal

20 Silas

8  Karim Maroc

21 Valdo

17 Fawzi Benkhalidi

10 Zico

14 Djamel Zidane

11 Edivaldo

13 Rachid Harkouk

7  Müller

12 Tedj Bensaoula

 

GOL: 66′ Careca (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

10′ Édson Boaro (BRA) ↓

Falcão (BRA) ↑

 

59′ Casagrande (BRA) ↓

Müller (BRA) ↑

 

68′ Salah Assad (ALG) ↓

Tedj Bensaoula (ALG) ↑

 

80′ Lakhdar Belloumi (ALG) ↓

Djamel Zidane (ALG) ↑

Melhores momentos da partida:

Partida completa (narração de Galvão Bueno):

… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia


(Imagem: David Cannon / All Sport / Getty Images)

● A Dinamarca foi uma das pioneiras na prática do futebol. Conquistou as medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de 1908 e 1912, o bronze em 1948 e novamente a prata em 1960. Em uma fase eliminatória altamente favorável (Malta, Albânia e Luxemburgo), alcançou a semifinal da Eurocopa de 1964. Mas o futebol local só começou a crescer de fato após a regulamentação do profissionalismo no país, a partir de 1978. O patrocínio da cervejaria Calsberg possibilitou a contratação do alemão Sepp Piontek como técnico da seleção nacional a partir de 1979.

A cultura do amadorismo levavam os atletas a serem naturalmente indisciplinados. Eram jogadores que gostavam e estar juntos e se divertirem. Era um conjunto de mulherengos, bêbados e fumantes inveterados. Destaque do time, Preben Elkjær Larsen chegava a consumir de 20 a 30 cigarros por dia, muitas vezes escondido do treinador no vestiário.

A primeira medida adotada pelo técnico foi o afastamento do goleiro titular, Birger Jensen. Foi quase um sacrifício simbólico, de forma a deixar claro que a partir de então, os atletas deveriam respeitar regras – e os dinamarqueses não costumavam respeitar nenhuma, por mais que elas nem fossem tão rígidas.


(Imagem: FourFourTwo)

● O principal motivo de sucesso dos dinamarqueses naquela década foi justamente a falta de expectativas. Como era a primeira boa seleção formada no país, não haviam críticos resmungando sobre as “glórias do passado”. Não existia pressão alguma. Havia mais uma certa incredulidade sobre até onde poderiam chegar. E é aí que começa a semelhança com a seleção holandesa da década de 1970.

De certa forma, foi a Dinamarca de 1986 quem chegou mais perto de emular o futebol total da Laranja Mecânica de 1974: linha de impedimento alta, marcação pressão, ocupação de espaço, movimentação constante, criatividade no passe e velocidade com a bola. E a Holanda tinha que ser mesmo a inspiração para o estilo de jogo dinamarquês: Frank Arnesen, Søren Lerby, Jesper Olsen e Jan Mølby jogaram no Ajax entre 1975 e 1982 e, consequentemente, sofreram a influência do “Carrossel” de Johan Cruijff e companhia (i)limitada.

Mas, à medida que amadurecia, a Dinamarca foi assumindo um caráter próprio. E a principal diferença entre os modelos de jogo estava no estilo. Enquanto a Holanda tinha o enfoque na trocação, com passes rápidos e constantes, a Dinamarca era um time que carregava muito bem a bola em velocidade, especialmente com Arnesen, Michael Laudrup, Elkjær e os dois Olsens (Jesper e Morten).

O 3-5-2 da “Dinamáquina” é derivado do “1-3-3-3” do “Futebol Total”. Mas foi a excepcional noção de posicionamento do experiente líbero e capitão Morten Olsen que permitiu o radicalismo tático. Para Piontek, seu time foi o primeiro na Europa a adotar o sistema 3-5-2. “O motivo foi que eu tinha ótimos jogadores de meio de campo. Eram sete ou oito. Mas eu não tinha muitos defensores bons. Naquela época, os adversários jogavam com dois ou apenas um homem no ataque, então por que eu deveria manter quatro atletas na defesa? E, se eles fossem ofensivos, acabariam tendo de correr oitenta metros para a frente e oitenta metros para trás, o que é bem cansativo. Onde se trabalha mais em uma partida de futebol? No meio de campo, que está envolvido no ataque e na defesa. Eu jogava com dois marcadores [Nielsen e Busk] muito fortes, bons pelo ar, e Morten [Olsen] era o terceiro, atrás. Às vezes, ele saía com a bola e, se fosse necessário, alguém do meio de campo recuava. Era um sistema muito bom, e a Alemanha foi campeã mundial usando esse sistema em 1990. Era econômico também. Sempre era possível mudar quem ia para o ataque. Um descansava enquanto o outro descia.”


(Imagem: FourFourTwo)

● Na Eurocopa de 1984, a Dinamarca estreou perdendo para os franceses, donos da casa, por 1 a 0. Em seguida, goleou de forma empolgante a Iugoslávia por 5 a 0 e venceu a Bélgica de virada por 3 a 2. Na semifinal, empatou com a Espanha por 1 a 1 e só perdeu nos pênaltis por 5 a 4.

Poucos acreditavam que o sucesso seria sustentável, especialmente sem Allan Simonsen. Mesmo em seu ocaso, ele era o nome mais famoso, eleito melhor jogador da Europa em 1977 e vencedor de duas Copas da UEFA pelo Borussia Mönchengladbach e de uma Recopa Europeia pelo Barcelona. Simonsen praticamente deixou de jogar em alto nível quando quebrou a perna na primeira partida da Euro 1984.

Mas o time conseguiu ficar ainda melhor. Com apenas 22 anos, o jovem Michael Laudrup já vestia a camisa da Juventus. Mas o principal destaque era Preben Elkjær Larsen, que havia liderado o surpreendente Verona campeão italiano da temporada 1984/85.

Tecnicamente brilhante, a consistência nunca foi o forte da Dinamarca, principalmente pela vulnerabilidade de sua maneira de jogar. Era um risco assumido. Era um time capaz de impor goleadas (5 a 1 na Noruega e 4 a 1 na Irlanda, pelas rodadas finais das eliminatórias para a Copa de 1986) e sofrer outras (6 a 0 para a Holanda e 4 a 0 para a Alemanha Oriental, ambas em amistosos). Na Copa, Piontek não estava disposto a mudar. “No México, devemos atacar, como sempre fizemos”, prometeu e cumpriu.


Sir Alex Ferguson, ao lado do seu auxiliar técnico Walter Smith)

● A Escócia ainda estava de luto pela perda do maior treinador da história do país até então. Jock Stein liderou o Celtic no mítico título da Taça dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) de 1966/67 e ao vice-campeonato de 1969/70. Foi o primeiro time britânico a conquistar o torneio (antes de qualquer clube inglês). Já havia dirigido a seleção escocesa no Mundial de 1982, quando foi eliminado na primeira fase no critério de saldo de gols após perder para o Brasil (4 x 1), empatar com a União Soviética (2 x 2) e vencer a Nova Zelândia (5 x 2). Foi o mais próximo que a “Tartan Army” chegou de passar de fase em uma Copa do Mundo.

Em 10/09/1985, a seleção escocesa jogou contra o País de Gales na casa do adversário, valendo uma vaga na repescagem para a Copa do ano seguinte. Essa partida foi um verdadeiro “teste para cardíacos”. E o coração de Jock Stein foi reprovado nesse teste. Ele teve um infarto fulminante ainda dentro de campo e caiu morto após a partida, aos 62 anos de idade. Com melhor saldo de gols, o empate em 1 a 1 foi suficiente para a Escócia seguir à repescagem – onde eliminou a Austrália.

Depois da morte de Stein, a Escócia passou a ser treinada pelo então auxiliar técnico Alex Ferguson (que se tornaria um dos maiores gênios do banco que o futebol conheceu). Cinco meses e dois dias depois, Ferguson assumiria o comando do Manchester United, onde reinaria por 26 anos ininterruptos.

Mas aquele elenco escocês carecia de talento. Os principais destaques era o experiente trio de meio-campistas: Graeme Souness (líder e capitão), Gordon Strachan e Steve Nicol, além do atacante Steve Archibald (que atuava no Barcelona). O time sentiu muita falta de sua estrela e maior ídolo, Kenny Dalglish, que havia lesionado o joelho antes do torneio.


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


A Escócia atuava no esquema tático 4-4-2 britânico clássico. Na ausência de Kenny Dalglish, Graeme Souness liderava o time.

● O sorteio foi cruel e colocou os vikings realmente à prova. O Grupo C era o “da morte”, com Alemanha Ocidental, Uruguai e Escócia. Os holofotes estavam na força dos alemães e na tradição dos uruguaios. Mas ninguém ousava duvidar do potencial dos vikings.

Sepp Piontek exigia seriedade e concentração dos seus atletas, com preleções táticas de três horas. Já no México, a preparação incluía treinos na altitude com o uso se máscaras de oxigênio, em sessões que chegavam a durar das oito horas da manhã às onze e meia da noite.

Na estreia, frente aos escoceses, a Dinamarca mostrou amplo domínio territorial durante todos os noventa minutos. Porém, faltou tranquilidade e sobrou preciosismo no momento de definir a maioria dos lances.

Michael Laudrup carregou pelo meio, passou por dois marcadores e chutou por cima.

A Escócia respondeu. Após cobrança de escanteio, Richard Gough cabeceou por cima.

Gordon Strachan percebeu a penetração de Gough pelo meio e deixou o lateral na cara do gol. Ele dribla o goleiro Troels Rasmussen, finaliza de esquerda por cima. A Dinamarca deixava brechas defensivas.

Laudrup lançou para Eljkjær na área. O camisa 10 tirou de Leighton, mas perdeu o ângulo na hora do chute, mandando a bola na rede pelo lado de fora.

Charlie Nicholas fez ótima jogada pela esquerda e rolou na meia-lua para Graeme Souness, que chutou rasteiro para fora.

Elkjær recebeu, dominou e finalizou por cima.

Laudrup deixou com Elkjær, que chutou de primeira, à esquerda de Leighton.

E uma partida fácil se tornou tensa.

O solitário gol da vitória dos nórdicos saiu apenas aos doze minutos do segundo tempo. Após uma bela troca de passes simples pelo meio do campo, Frank Arnesen deixou com Elkjær perto da área. Ele driblou um marcador, invadiu a área e finalizou antes da chegada do goleiro Jim Leighton, que saía para fechar o ângulo. A bola tocou na trave antes de tomar o caminho do gol.


(Imagem: Lance!)

● Na sequência, os escoceses perderam para a Alemanha Ocidental (2 a 1) e empataram sem gols com o Uruguai. Foram os últimos colocados do Grupo E, com apenas um ponto. Curiosamente, em oito Copas do Mundo disputadas, a Escócia nunca passou da primeira fase.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram ainda Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final no dia 18 de junho.


(Imagem: Seen Sport Images)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 1 x 0 ESCÓCIA

 

Data: 04/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: Neza 86

Público: 18.000

Cidade: Nezahualcóyotl (México)

Árbitro: Lajos Németh (Hungria)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ESCÓCIA (4-4-2):

1  Troels Rasmussen (G)

1  Jim Leighton (G)

3  Søren Busk

2  Richard Gough

4  Morten Olsen (C)

5  Alex McLeish

5  Ivan Nielsen

6  Willie Miller

15 Frank Arnesen

3  Maurice Malpas

9  Klaus Berggreen

7  Gordon Strachan

12 Jens Jørn Bertelsen

8  Roy Aitken

6  Søren Lerby

4  Graeme Souness (C)

8  Jesper Olsen

13 Steve Nicol

11 Michael Laudrup

19 Charlie Nicholas

10 Preben Elkjær Larsen

20 Paul Sturrock

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: “Sir” Alex Ferguson

 

SUPLENTES:

 

 

16 Ole Qvist (G)

12 Andy Goram (G)

22 Lars Høgh (G)

22 Alan Rough (G)

2  John Sivebæk

14 David Narey

17 Kent Nielsen

15 Arthur Albiston

7  Jan Mølby

10 Jim Bett

13 Per Frimann

11 Paul McStay

20 Jan Bartram

16 Frank McAvennie

21 Henrik Andersen

21 Davie Cooper

14 Allan Simonsen

9  Eamonn Bannon

18 Flemming Christensen

18 Graeme Sharp

19 John Eriksen

17 Steve Archibald

 

GOL: 57′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

 

CARTÃO AMARELO: 84′ Klaus Berggreen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Paul Sturrock (ESC) ↓

Frank McAvennie (ESC) ↑

 

74′ Gordon Strachan (ESC) ↓

Eamonn Bannon (ESC) ↑

 

74′ Frank Arnesen (DIN) ↓

John Sivebæk (DIN) ↑

 

80′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

(Imagem: FourFourTwo)

Melhores momentos da partida (Rede Globo):

Veja o gol da partida desde o início da jogada: