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… 20/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Chile

Três pontos sobre…
… 20/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Chile


(Imagem: Getty Images / PA Images)

● O Chile se classificou para a Copa do Mundo de 1966 através do Grupo 12 das eliminatórias. Teoricamente seria uma chave fácil, com os fragilizados Colômbia e Equador.

Os colombianos até haviam disputado o Mundial anterior, mas houve uma cisão no futebol do país na época. Os clubes mais fortes e ricos formaram uma liga à parte, considerada “pirata”, pois não era filiada à federação nacional e tampouco à FIFA. Por isso, apenas um jogador da liga pirata atuou pela seleção – o atacante Antonio Rada.

Algo semelhante aconteceu com o Equador: houve um conflito entre as ligas de Guayaquil e Quito, com os times da capital se recusando a fornecer jogadores para a seleção equatoriana.

A seleção chilena era forte e contava com nove jogadores que tinham alcançado o 3º lugar na Copa de 1962: o goleiro Adán Godoy, os defensores Luis Eyzaguirre e Humberto Cruz, o meia Alberto Fouillioux e os atacantes Jaime Ramírez, Armando Tobar, Carlos Campos, Honorino Landa e Leonel Sánchez.

E o Chile começou bem, goleando a Colômbia por 7 x 2 em casa. Depois, perdeu fora para os mesmos colombianos por 2 x 0 (dois gols de Rada). Os dois jogos contra o Equador resultaram em um empate fora (2 x 2) e uma vitória em casa (3 x 1).

Com chilenos e equatorianos empatados em número de pontos, a vaga foi decidida em uma partida desempate, em Lima, no Peru. Leonel Sánchez e Rubén Marcos marcaram para o Chile e Romulo Gómez descontou para o Equador. Com esse resultado, o Chile estava de volta à disputa de uma Copa do Mundo.


(Imagem: Alamy)

● Por sua vez, a União Soviética conseguiu a sua vaga facilmente no Grupo 7 do qualificatório. Em seis partidas, foram cinco vitórias (3 x 1 e 4 x 1 na Grécia; 6 x 0 e 3 x 1 na Dinamarca; e 2 x 1 sobre o País de Gales) e apenas uma derrota (1 x 2 para os galeses, em Cardiff).

O lendário treinador Gavriil Kachalin, campeão olímpico em 1956 e europeu em 1960, deu lugar a Nikolai Petrovich Morozov, do Torpedo Moscou. Ele deixou de lado o famoso “futebol científico” – liderado pelo meia Igor Netto e pelo atacante Valentin Ivanov – e simplificou o estilo de jogo. E fez testes, utilizando 24 jogadores diferentes nos seis jogos das eliminatórias.

Mas a base do time ainda era a mesma, com o histórico goleiro Lev Yashin, os defensores Albert Shesternyov e Leonīds Ostrovskis, os meias Valery Voronin, Viktor Serebryanikov e Yozhef Sabo, além dos atacantes Slava Metreveli, Igor Chislenko e Galimzyan Khusainov.


As duas seleções jogavam no sistema 4-2-4.

● Nas duas primeiras rodadas da Copa, pelo Grupo 4, o Chile perdeu para a Itália por 2 x 0 e empatou com a Coreia do Norte por 1 x 1. Na defesa da seleção chilena já se destacava um garoto de 19 anos que viria a fazer história no futebol: Elías Figueroa.

Por sua vez, a URSS já estava classificada com quatro pontos, com vitórias por 3 x 0 sobre a Coreia do Norte e 1 x 0 em cima da Itália.

No dia anterior, a Coreia do Norte tinha vencido a Itália por 2 x 1, em uma das maiores zebras da história das Copas. Os chilenos tinham 01 ponto, contra 03 dos norte-coreanos. Com esse resultado, bastava uma vitória de 1 x 0 sobre a URSS para o Chile se classificar pelo critério do goal average. Isso já havia acontecido nas quartas de final do Mundial anterior (vitória chilena por 2 x 1).

O técnico soviético até deu uma certa ajuda para que isso acontecesse, escalando um time bem alternativo, poupando vários titulares. Mas o time reserva da URSS tinha bons jogadores, que queriam provar que poderiam seguir no time principal e jogaram como se fosse uma decisão.

O Chile pressionou o jogo inteiro. Mas foi a URSS que abriu o placar aos 28′ em um contra-ataque. Valery Voronin chutou, a bola bateu no peito de Aldo Valentini e sobrou para Valeriy Porkujan mandar no ângulo esquerdo do goleiro Juan Olivares.

O Chile empatou quatro minutos depois. O capitão Leonel Sánchez bateu falta, Anzor Kavazashvili deu rebote e Valentini cabeceou na trave. A bola voltou e Guillermo Yávar chutou. Rubén Marcos apareceu na pequena área, se antecipou ao goleiro e mandou para o gol.

Os sul-americanos continuavam em busca do gol que lhes dariam a classificação. Chegaram a ter um gol anulado pelo árbitro norte-irlandês John Adair, em lance que Honorino Landa fez falta no goleiro antes de marcar de cabeça.

O golpe final veio a cinco minutos do fim. Kavazashvili despachou a bola para a frente. Ela quicou, enganou a defesa e chegou até Porkujan, que tocou por cobertura e fechou o placar em 2 x 1 a favor dos soviéticos.


(Imagem: Alamy)

● Com esse resultado, o Chile estava eliminado na primeira fase. A Coreia do Norte ficou com a outra vaga do grupo.

A União Soviética venceu a Hungria por 2 x 1 nas quartas de final, mas perdeu pelo mesmo placar para a Alemanha Ocidental na semifinal. Na decisão do 3º lugar, perdeu para Portugal de Eusébio também por 2 x 1. De qualquer forma, o 4º lugar foi a melhor classificação da URSS em todas as sete Copas disputadas.

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 2 x 1 CHILE

 

Data: 20/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Roker Park

Público: 16.027

Cidade: Sunderland (Inglaterra)

Árbitro: John Adair (Irlanda do Norte)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4):

CHILE (4-2-4):

21 Anzor Kavazashvili (G)

13 Juan Olivares (G)

9  Viktor Getmanov

20 Aldo Valentini

6  Albert Shesternyov (C)

4  Humberto Cruz

13 Alexey Korneyev

7  Elías Figueroa

3  Leonīds Ostrovskis

21 Hugo Villanueva

5  Valentin Afonin

14 Ignacio Prieto

12 Valery Voronin

12 Rubén Marcos

16 Slava Metreveli

1  Pedro Araya

2  Viktor Serebryanikov

22 Guillermo Yávar

20 Eduard Markarov

11 Honorino Landa

17 Valeriy Porkujan

17 Leonel Sánchez (C)

 

Técnico: Nikolai Petrovich Morozov

Técnico: Luis Álamos

 

SUPLENTES:

 

 

1  Lev Yashin (G)

9  Adán Godoy (G)

22 Viktor Bannikov (G)

6  Luis Eyzaguirre

4  Vladimir Ponomaryov

2  Hugo Berly

7  Murtaz Khurtsilava

3  Carlos Campos

10 Vasiliy Danilov

5  Humberto Donoso

8  Yozhef Sabo

10 Roberto Hodge

14 Giorgi Sichinava

19 Francisco Valdés

15 Galimzyan Khusainov

8  Alberto Fouilloux

11 Igor Chislenko

15 Jaime Ramírez

18 Anatoliy Banishevskiy

16 Orlando Ramírez

19 Eduard Malofeyev

18 Armando Tobar

 

GOLS:

28′ Valeriy Porkujan (URSS)

32′ Rubén Marcos (CHI)

85′ Valeriy Porkujan (URSS)

Gols da partida:

… 19/07/1930 – Chile 1 x 0 França

Três pontos sobre…
… 19/07/1930 – Chile 1 x 0 França


(Imagem: commons.wikimedia.org)

● A primeira Copa do Mundo foi realizada no Uruguai. Eram dois os principais motivos das ausências das principais seleções da Europa. Um deles foi a distância e as dificuldades para atravessar o Atlântico. O outro era a grave crise econômica que ainda afetava toda a Europa. Por isso, apenas dois dos sete países fundadores da FIFA participaram do Mundial: França e Bélgica.

O Chile tinha certa experiência internacional por ter participado das primeiras edições da Copa América. As maiores esperanças eram os meias-atacantes Guillermo Subiabre e Carlos Vidal.

O forte da França era a defesa, com destaque para o goleiro Alexis Thépot e o zagueiro Étienne Mattler. O desfalque era o atacante Manuel Anatol – um basco/espanhol naturalizado francês, que jogou por Athletic Bilbao, Atlético de Madrid, Real Madrid e, na época, atuava no Racing Paris.

Ambos estavam no Grupo A da Copa. No jogo inaugural, a França venceu o México por 4 a 1. Depois, perdeu para a Argentina por 1 a 0, em um jogo duríssimo, que só foi resolvido a nove minutos do fim.

Na primeira rodada, o Chile havia vencido o México por 3 x 0. Em seu segundo jogo, precisava vencer a França para ter esperanças de passar para a fase seguinte.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Oficialmente o público foi de 2.000 pessoas, mas a quantidade real de expectadores foi muito maior. Não foi pelo prestígio de Chile ou França, mas porque eles fizeram a preliminar da partida entre Argentina x México. Os portenhos atravessaram em massa o Rio da Prata e invadiram Montevidéu para prestigiar sua seleção.

A França era favorita, mas não conseguiu provar isso em campo.

O primeiro pênalti da história das Copas foi anotado pelo árbitro uruguaio Anibal Tejada, aos 35 minutos do primeiro tempo. E esse também foi o primeiro pênalti perdido. O chileno Carlos “Zorro” Vidal bateu para fora.

Aos 19′ da segunda etapa, o capitão Carlos Schneeberger tocou para Vidal, que chutou de esquerda, de fora da área. O goleiro Thépot espalmou e Subiabre marcou de cabeça o gol que eliminou a França e colocou o Chile de vez na briga pela vaga nas semifinais.


(Imagem: Moviolagol / deviantart.com)

● Na sequência, o Chile perdeu para a Argentina por 3 x 1 e também estava eliminado. Terminou em um honroso 5º lugar.

O capitão francês no Mundial foi Alexandre Villaplane. O talentoso centromédio disputou as três partidas de sua seleção. Mas ele teria um fim trágico. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele cooperou com o nazismo, sendo um dos líderes da Brigada do Norte Africano – uma organização criminosa composta por imigrantes do norte da África (Villaplane era nascido em Argel), que colaborou com os nazistas através de atividades de anti-resistência. Ele foi condenado a morte em 01/12/1944 por participação direta em pelo menos dez assassinatos. Foi fuzilado 26 dias depois.


(Imagem: historiasdelfutbol.com)

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 1 x 0 FRANÇA

 

Data: 19/07/1930

Horário: 12h50 locais

Estádio: Centenário

Público: 2.000

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Anibal Tejada (Uruguai)

 

CHILE (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Roberto Cortés (G)

Alexis Thépot (G)

Ernesto Chaparro

Étienne Mattler

Guillermo Riveros

Marcel Capelle

Arturo Torres

Alexandre Villaplane (C)

Guillermo Saavedra

Marcel Pinel

Casimiro Torres

Augustin Chantrel

Tomás Ojeda

Ernest Libérati

Guillermo Subiabre

Edmond Delfour

Eberardo Villalobos

Célestin Delmer

Carlos Vidal

Émile Veinante

Carlos Schneeberger (C)

Marcel Langiller

 

Técnico: György Orth

Técnicos: Raoul Caudron / Gaston Barreau

 

SUPLENTES:

 

 

César Espinoza (G)

André Tassin (G)

Ulises Poirier

Numa Andoire

Víctor Morales

Jean Laurent

Arturo Coddou

André Maschinot

Humberto Elgueta

Lucien Laurent

Horacio Muñoz

 

Guillermo Arellano

 

Juan Aguilera

 

 

GOL: 64′ Guillermo Subiabre (CHI)

Imagens da partida:

… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile

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… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile


(Imagem: Lance!)

● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).

Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.


(Imagem: AFP / Globo Esporte)

● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.

Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.

Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).

O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.

A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.

Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.

Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.

Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.


(Imagem: Partidos de la Roja)

O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.

O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.

Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.

Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.

Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.

Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.

Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.

Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.


(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)

● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.


(Imagem: CONMEBOL)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 CHILE

 

Data: 27/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Parc de Princes

Público: 45.500

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Marc Batta (França)

 

BRASIL (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

1  Taffarel (G)

1  Nelson Tapia (G)

2  Cafu

6  Pedro Reyes

4  Júnior Baiano

3  Ronald Fuentes

3  Aldair

5  Javier Margas

Roberto Carlos

19 Fernando Cornejo

5  César Sampaio

16 Mauricio Aros

8  Dunga (C)

8  Clarence Acuña

18 Leonardo

14 Miguel Ramírez

10 Rivaldo

10 José Luis Sierra

20 Bebeto

11 Marcelo Salas

9  Ronaldo

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Nelson Acosta

 

 

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Dida (G)

22 Carlos Tejas (G)

13 Zé Carlos

2  Cristián Castañeda

14 Gonçalves

18 Luis Musrri

15 André Cruz

15 Moisés Villarroel

16 Zé Roberto

4  Francisco Rojas

17 Doriva

7  Nelson Parraguez

11 Emerson

17 Marcelo Veja

7  Giovanni

20 Fabián Estay

19 Denílson

21 Rodrigo Barrera

21 Edmundo

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ César Sampaio (BRA)

26′ César Sampaio (BRA)

45+3′ Ronaldo (BRA) (pen)

70′ Marcelo Salas (CHI)

72′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Ronald Fuentes (CHI)

45′ Nelson Tapia (CHI)

45′ Leonardo (BRA)

90+1′ Cafu (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO José Luis Sierra (CHI) ↓

Fabián Estay (CHI) ↑

 

INTERVALO Miguel Ramírez (CHI) ↓

Marcelo Vega (CHI) ↑

 

65′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Aldair (BRA) ↓

Gonçalves (BRA) ↑

 

80′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Luis Musrri (CHI) ↑

Melhores momentos da partida:

… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile

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… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile


(Imagem: FIFA)

Três dias antes, Garrincha havia descido do céu como um “extra-terrestre” e tinha acabado com a Inglaterra na vitória por 3 a 1, que classificou a Seleção Brasileira para a semifinal. O adversário seria o pior de todos – não pelo futebol, mas por ser o dono da casa.

O Chile estava fazendo uma campanha digna, de certa forma até surpreendente. Estreou vencendo a Suíça por 3 x 1 de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 x 0. A derrota por 2 x 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1 e estava entre os quatro melhores do mundo pela primeira (e até hoje única) vez em sua história.

Animados com a campanha, os torcedores comemoraram tanto a classificação, como se tivessem vencido a final. A capital Santiago foi tomada pela febre do futebol, que contagiou a todos – até mesmo os que nunca assistiram a uma partida na vida. Até nas casas noturnas e teatros, o tema era a bola. O Chile era a capital da bola.

A empolgação da torcida local passava do ponto, chegando a encher a capital Santiago de frases cômicas e ameaçadoras, como, por exemplo: “Com Pelé ou sem Pelé, haveremos de tomar café” ou “Com Didi ou sem Didi, haveremos de fazer xixi”.

Por isso, naquela manhã de quarta-feira, a comissão técnica brasileira decidiu providenciar ela mesma a refeição dos jogadores e comprou salame, mortadela, queijo e pão. Os atletas almoçaram apenas sanduíches. Os dirigentes brasileiros tinham receio de que algo pudesse ser colocado na comida do hotel.


(Imagem: FIFA / Getty Images)

● Se fosse seguida a tabela original da Copa, a semifinal entre Brasil e Chile deveria ser disputada em Viña del Mar, enquanto Tchecoslováquia e Iugoslávia se enfrentariam em Santiago. Mas o comitê organizador, inverteu as sedes com o objetivo de ter uma renda maior.

Assim, ao mesmo tempo em que tchecos e iugoslavos duelavam no estádio Sousalito para 5.890 pessoas, brasileiros e chilenos jogavam para 76.594 expectadores. O “detalhe” é que o estádio Nacional tinha capacidade para 70 mil. Ou seja, o público presente extrapolou em mais de seis mil a lotação máxima. Foi o maior público e a maior renda da Copa.

Muitos jogos tiveram poucos expectadores no Chile. Cabe ressaltar o motivo não foi a falta de entusiasmo que afastou o público dos estádios, mas sim a falta de dinheiro. E não era possível adquirir o ingresso para um jogo só. Eles eram vendidos em pacotes e eram muito caros. O jeito era assistir de graça pelas televisões nas ruas. Onde houvesse uma TV ligada, havia uma multidão de chilenos com os olhos grudados na tela.

Recém saindo de um terremoto arrasador, o país vivia problemas econômicos, financeiros e até estruturais, inclusive com racionamento de energia elétrica. O fornecimento era interrompido em todas as tardes. A única exceção naqueles dias foi em 13/06, justamente no dia da semifinal entre Brasil e Chile. A direção geral da companhia energética recebeu milhares de cartas e telefonemas de pessoas que não tinham ingressos para o jogo, mas que não queriam perder a transmissão pelo rádio ou pela TV. Curiosamente, um dos bairros que deveria sofrer o corte naquele dia era justamente o do estádio Nacional, palco da disputa. Em caráter de exceção, o pedido foi prontamente atendido.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.


O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.

● Os jogadores pareciam nervosos nos minutos iniciais, mas o Brasil dominou o jogo desde os primeiros momentos.

Didi cobrou falta com perigo, mas a bola foi por cima.

Após bola na área brasileira, Mauro escorou de cabeça e Djalma Santos cortou mal, para o meio da área. Leonel Sánchez chutou de esquerda e a bola bateu na trave direita de Gylmar. No rebote, Landa cabeceou por cima.

E os locais se decepcionaram logo aos nove minutos de bola rolando. Da esquerda, Zagallo ergueu a bola na área. Amarildo furou na tentativa de bicicleta e Vavá deixou para Garrincha. De fora da área, o ponta dominou e mandou uma bomba de perna esquerda no ângulo esquerdo do goleiro Misael Escuti, sem chance alguma de defesa.

Garrincha continuava a brilhar, aparecendo em todos os lados do ataque. Pouco depois, ele avançou pela direita e chutou cruzado para dentro da pequena área. A bola passou por todo mundo, até pelo goleiro chileno, mas a zaga recuperou e afastou o perigo. Claramente a marcação sobre Garrincha não estava funcionando. Para tentar parar o ponta direita, o técnico Fernando Riera havia escalado Manuel Rodríguez (mais forte e melhor na marcação individual) na lateral esquerda, ao invés de Sergio Navarro – que havia sido titular nas partidas anteriores.

Aos 21′, Vavá marcou o segundo, mas o árbitro Arturo Yamasaki anulou alegando impedimento. Foi a primeira de algumas decisões controversas do juiz peruano.

Mas nem fez muita diferença. Dez minutos depois, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha subiu mais que Rodríguez e, do bico da pequena área, cabeceou forte para dentro. Foi um lance muito semelhante ao gol de cabeça que o mesmo Mané havia marcado contra a Inglaterra três dias antes. Desde o princípio, o Chile já havia se mostrado vulnerável na bola aérea defensiva.

Mas a animada e esperançosa torcida local não se cansava de incentivar o seu time. E empurrado pela fanática torcida, o Chile não se dava por vencido. Jorge Toro recebeu na intermediária ofensiva e sofreu falta de Zito. O próprio Toro cobrou com perfeição e mandou no ângulo direito de Gylmar.

Os donos da casa foram para o segundo tempo na esperança de conseguir o empate, mas foram frustrados logo aos três minutos. Garrincha cobrou escanteio da direita. Vavá escapou da marcação, subiu nas costas de Raúl Sánchez e cabeceou para baixo. A bola quicou no chão e tomou o rumo do gol, sem chances para o goleiro (que foi com a mão mole na bola).


(Imagem: Barão Lhkz)

Mas a vantagem de dois gols não deixou o jogo mais fácil para o Brasil. O Chile passava a ter mais posse de bola.

No esforço de agradar ao time da casa, Yamasaki tomou outra de suas decisões discutíveis ao marcar um pênalti para o Chile aos 16′. Os brasileiros reclamaram muito, alegando que a bola teria batido na mão de Zózimo de forma involuntária. Nada adiantou. Leonel Sánchez cobrou rasteiro, no canto esquerdo e diminuiu para os chilenos. Gylmar nem pulou.

Mas Garrincha continuava a mandar no jogo. Em outra arrancada, Mané finalizou, mas o chute saiu fraco para uma defesa fácil do goleiro Escuti.

Somente aos 33′ o escrete canarinho respiraria aliviado. Em cobrança de falta da esquerda, Zagallo ergueu a bola na pequena área. Vavá, forte e sempre bem posicionado, apareceu entre Sánchez e Rodríguez e cabeceou para o gol. Curiosamente, Vavá se desgastou tanto nessa partida, que perdeu 3,5 kg.

E depois o jogo descambou para a violência. Aos 35′, Honorino Landa fez falta dura em Zito e acabou expulso.

Na tentativa de fazer o impossível e tentar parar Garrincha, Eladio Rojas utilizou todas suas “ferramentas”: pontapés, cotoveladas e dedos nos olhos. E o juiz foi complacente com tudo isso. E aos 39 minutos do segundo tempo, com o placar já definido, Garrincha levou outro pontapé de Rojas. Caiu e se levantou. De forma cômica, com todo o “estilo Garrincha de ser”, o Mané deu um peteleco de joelho na bunda de Rojas. O chileno se atirou ao chão, como se houvesse sido agredido brutalmente. Os chilenos acusaram o lance e cercaram o árbitro. Depois de consulta ao bandeirinha uruguaio Esteban Marino (que estava a um metro do lance), o juiz expulsou o brasileiro – que havia apanhado calado o jogo todo. Após sair de campo e enquanto caminhava junto à linha lateral, Garrincha foi atingido na cabeça por uma pedra atirada pela torcida (algumas fontes indicam que foi uma garrafa). Abriu-se um corte que precisou de pontos e o craque passou a noite com a cabeça enfaixada.

Mesmo com tudo isso, após o apito final, os craques brasileiros homenagearam a torcida chilena, para que ela ficasse ao seu favor na decisão. O Brasil estava em sua segunda final de Copa do Mundo consecutiva.

Com o resultado definido, a preocupação era outra. Garrincha seria punido e suspenso da final pela FIFA?

“Foi um pontapezinho de amizade” — afirmou o ingênuo Garrincha.


(Imagem: FIFA)

● Embora o regulamento da época não previsse a suspensão automática em caso de expulsão, a pressão dos chilenos era enorme para que isso acontecesse. A imprensa transformou a atitude pueril de Garrincha em uma agressão criminosa. A comissão disciplinar da FIFA se reuniu no dia seguinte para julgar o caso.

Foi feita uma força-tarefa na tentativa de absolver Garrincha. Representantes da CBD fizeram um amplo dossiê, baseando sua defesa no fato dele nunca ter sido expulso de campo. Tancredo Neves, primeiro-ministro brasileiro, passou um telegrama à comissão “em nome do povo brasileiro” pedindo perdão para o jogador. Até o presidente do Peru pediu ao árbitro para que não prejudicasse o craque brasileiro.

Mas o maior feito foi o “sumiço” do bandeirinha uruguaio Esteban Marino. O presidente da CBD, João Havelange, por intermédio do árbitro brasileiro João Etzel Filho, deu de presente a Marino um passeio de Santiago a Paris, saindo logo de manhã. Coincidentemente, antes do julgamento ocorrer.

E tudo ficou mais fácil quando a comissão disciplinar leu a súmula. O árbitro escreveu que “não viu a infração de Garrincha” e que seu auxiliar “tivera de viajar”, mas que lhe deixou um bilhete descrevendo a suposta agressão como um “revide típico de lance de jogo”. Assim, a agressão estava descaracterizada e Garrincha foi absolvido por 5 votos a 2, recebendo apenas uma advertência simbólica.

Cabe ressaltar que o mesmo Marino tinha sido bandeirinha na vitória do Brasil sobre a Espanha, quando o escrete canarinho foi beneficiado pela não marcação de um pênalti e por um gol sofrido incorretamente anulado, quando perdia por 1 a 0. “Coincidentemente”, um mês depois, Marino foi contratado como árbitro pela Federação Paulista de Futebol.

Mas possivelmente nem seria necessária toda essa proeza. Ninguém tinha interesse que um país comunista (Tchecoslováquia) vencesse a Copa. Além disso, a FIFA era grata ao Brasil por ter sediado a Copa de 1950, logo no pós-Guerra. Por isso e muito mais, a FIFA é historicamente “simpática” ao Brasil.

E se Garrincha foi absolvido, o chileno Landa foi suspenso para a decisão do bronze entre Chile e Iugoslávia. Mas, mesmo sem ele, o Chile venceu por 1 a 0. A festa pelo terceiro lugar tomou as ruas de Santiago e só parou no dia seguinte, poucas horas antes da final entre Brasil e Tchecoslováquia.


(Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 CHILE

 

Data: 13/06/1962

Horário: 14h30 locais

Estádio: Nacional

Público: 76.594

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

BRASIL (4-2-4):

CHILE (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Misael Escuti (G)

2  Djalma Santos

2  Luis Eyzaguirre

3  Mauro (C)

3  Raúl Sánchez

5  Zózimo

15 Manuel Rodríguez

6  Nilton Santos

5  Carlos Contreras

4  Zito

6  Eladio Rojas

8  Didi

7  Jaime Ramírez

7  Garrincha

8  Jorge Toro (C)

19 Vavá

9  Honorino Landa

20 Amarildo

21 Armando Tobar

21 Zagallo

11 Leonel Sánchez

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Fernando Riera

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Adán Godoy (G)

12 Jair Marinho

22 Manuel Astorga (G)

13 Bellini

13 Sergio Valdés

14 Jurandir

14 Hugo Lepe

15 Altair

4  Sergio Navarro

16 Zequinha

16 Humberto Cruz

17 Mengálvio

17 Mario Ortiz

18 Jair da Costa

18 Mario Moreno

9  Coutinho

19 Braulio Musso

10 Pelé

20 Carlos Campos Silva

11 Pepe

10 Alberto Fouilloux

 

GOLS:

9′ Garrincha (BRA)

32′ Garrincha (BRA)

42′ Jorge Toro (CHI)

47′ Vavá (BRA)

61′ Leonel Sánchez (CHI) (pen)

78′ Vavá (BRA)

 

EXPULSÕES:

80′ Honorino Landa (CHI)

83′ Garrincha (BRA)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile

Três pontos sobre…
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


Marcelo Salas ganha no alto de Fabio Cannavaro e vira o jogo para o Chile (Imagem: Pinterest)

● Na Copa do Mundo de 1998, uma das maiores ameaças às potências consagradas era o Chile. Subestimado pela mídia estrangeira, o país se vangloriava de sua dupla de ataque: Iván “Bam-Bam” Zamorano e Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile voltava a disputar um Mundial depois de 16 anos. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro sãopaulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

A Itália vinha do vice-campeonato na Copa do Mundo de 1994, quando perdeu nos pênaltis para o Brasil por 3 x 2, após o empate por 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação.

Para sua estreia em 1998, o técnico italiano Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini) não contava com Alessandro Del Piero, craque da Juventus, lesionado. Roberto Baggio, veterano de duas Copas, foi convocado de última hora para levar seu talento e sua criatividade à Squadra Azzurra. O camisa 18 seria titular e o grande nome dessa partida inaugural.


Cesare Maldini escalou sua Itáliano sistema 4-4-2, com duas linhas de 4. Roberto Baggio tinha liberdade para desfilar seu talento no ataque.


Nelson Acosta armou seu time no 3-5-2. Fabián Estay era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Quase 32 mil pessoas foram ao Parc Lescure para ver o confronto entre Itália e Chile, que se enfrentavam na abertura do Grupo B, em Bordeaux.

A Itália abriu o placar aos 10 minutos de jogo. Paolo Maldini, de seu próprio campo, lança a bola para a intermediária chilena. Com um só toque, Roberto Baggio deixa Christian Vieri livre, na cara do gol. O atacante da Lazio bate de primeira, rasteiro, no canto direito do goleiro Nelson Tapia. Foi uma finalização perfeita, assim como a assistência de Baggio.

A Squadra Azzurra passava sufoco diante do Chile. Os atacantes Salas (1,73 m) e Zamorano (1,78 m), mesmo mais baixos que a zaga italiana, ganhavam quase todas as bolas pelo alto. E foi dessa forma que o Chile viraria o marcador.

No último minuto do primeiro tempo, Fabián Estay cobra escanteio e Zamorano tenta de cabeça. A bola bate em Reyes e sobra para Salas, que balança as redes.

Logo no início da etapa final, aos 4′, Fuentes ergue a bola na área. Salas ganha no alto de Cannavaro e cabeceia no canto direito de Pagliuca.

Mas a seleção chilena acabou castigada pela falta de experiência e cedeu o empate.

A cinco minutos do fim, Roberto Baggio rouba a bola pela direita, perto da linha da grande área, e a chuta de forma proposital na mão de Francisco Rojas, que estava dentro da área. O árbitro nigerino Lucien Bouchardeau marcou pênalti.

O próprio Baggio partiu para a cobrança. Ele resolveu encarar de frente suas amargas lembranças que o assombravam desde o erro no pênalti decisivo na final da Copa do Mundo de 1994. Ele ignora as provocações dos chilenos e converte com serenidade budista, exorcizando seus demônios. Ele bateu forte, no canto direito. Tapia foi na bola, mas ela entrou.

O empate por 2 x 2 premiou os esforços das duas equipes e, principalmente, a torcida, que viu um grande espetáculo.


Roberto Baggio não estava mais em seu auge, seu talento ainda era imprescindível para a Azzurra (Imagem: Popperfoto / Getty Images)

● O Chile não vencia uma partida em Copas do Mundo desde 1962, quando sediou o torneio e terminou em 3º lugar. E esse tabu não seria quebrado em 1998, quando empatou os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Nas oitavas de final, perdeu para o Brasil por 4 a 1, com dois gols de Ronaldo e dois de César Sampaio, com Salas descontando para o Chile.

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

A Itália, após empatar com o Chile (2 x 2), venceu Camarões (3 x 0) e Áustria (2 x 1). Nas oitavas, passou pela Noruega com uma vitória por 1 a 0. Nas quartas, amargou a terceira eliminação seguida nos pênaltis ao perder para a França por 4 a 3, depois de um empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação. A Azzurra já havia sido eliminada dessa forma em 1990, na semifinal contra a Argentina, e em 1994, na decisão contra o Brasil.


A dupla “Sa-Za” era mesmo infernal para as defesas adversárias (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 2 CHILE

 

Data: 11/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Parc Lescure (atual Stade Chaban-Delmas)

Público: 31.800

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: Lucien Bouchardeau (Níger)

 

ITÁLIA (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

12 Gianluca Pagliuca (G)

1  Nelson Tapia (G)

5  Alessandro Costacurta

6  Pedro Reyes

6  Alessandro Nesta

3  Ronald Fuentes

4  Fabio Cannavaro

5  Javier Margas

3  Paolo Maldini (C)

15 Moisés Villarroel

15 Angelo Di Livio

4  Francisco Rojas

9  Demetrio Albertini

8  Clarence Acuña

11 Dino Baggio

7  Nelson Parraguez

16 Roberto Di Matteo

20 Fabián Estay

18 Roberto Baggio

11 Marcelo Salas

21 Christian Vieri

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Cesare Maldini

Técnico: Nelson Acosta

 

SUPLENTES:

 

 

1  Francesco Toldo (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Gianluigi Buffon (G)

22 Carlos Tejas (G)

2  Giuseppe Bergomi

2  Cristián Castañeda

8  Moreno Torricelli

8 Luis Musrri

7  Gianluca Pessotto

16 Mauricio Aros

13 Sandro Cois

14 Miguel Ramírez

14 Luigi Di Biagio

19 Fernando Cornejo

17 Francesco Moriero

17 Marcelo Veja

10 Alessandro Del Piero

10 José Luis Sierra

20 Enrico Chiesa

21 Rodrigo Barrera

19 Filippo Inzaghi

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ Christian Vieri (ITA)

45+3′ Marcelo Salas (CHI)

48′ Marcelo Salas (CHI)

84′ Roberto Baggio (ITA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

8′ Angelo Di Livio (ITA)

31′ Fabio Cannavaro (ITA)

45′ Nelson Parraguez (CHI)

53′ Clarence Acuña (CHI)

66′ Francisco Rojas (CHI)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Roberto Di Matteo (ITA) ↓

Luigi Di Biagio (ITA) ↑

 

61′ Angelo Di Livio (ITA) ↓

Enrico Chiesa (ITA) ↑

 

63′ Javier Margas (CHI) ↓

Miguel Ramírez (CHI) ↑

 

71′ Christian Vieri (ITA) ↓

Filippo Inzaghi (ITA) ↑

 

81′ Fabián Estay (CHI) ↓

José Luis Sierra (CHI) ↑

 

82′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Fernando Cornejo (CHI) ↑

Gols da partida (em inglês):

Gols da partida (Rede Globo):

… 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça


O zagueiro chileno Raúl Sánchez pula para bloquear um chute de Charles “Kiki” Antenen, capitão da Suíça (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Depois de organizar duas Copas do Mundo seguidas na Europa, a FIFA não poderia escolher outro país europeu para sediar o evento. Por isso o torneio voltaria para a América do Sul, continente do novo campeão do mundo. Chile e Argentina disputaram o direito de sediar o Mundial. A escolha da FIFA acabou sendo o Chile.

Todos os jogos da Copa do Mundo de 1962 ocorreram às 15 horas, no horário local. Nessa quarta-feira, as ruas de Santiago estavam caóticas, com trânsito intenso.

Apesar de ter sido disputado simultaneamente com outras três partidas, este foi considerado o jogo de abertura do Mundial. Depois da marcha e desfile da banda da polícia militar, foram os políticos que roubaram a cena. Discursaram Jorge Alessandri, presidente do Chile, Juan Goñi, substituto do recém falecido Carlos Dittborn no comitê organizador, e Stanley Rous, presidente da FIFA. Só depois a bola rolou.


O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.


A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930. Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupava todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.

● Os jogadores chilenos treinaram juntos por três meses, com o objetivo de ter sucesso em sua terceira Copa do Mundo.

Mas, surpreendentemente, a foi a Suíça que abriu o placar aos sete minutos de jogo. Rolf Wüthrich recebeu fora da área, driblou um adversário e chutou no ângulo. Um verdadeiro golaço. Surpresa no estádio Nacional.

Depois, como já era esperado, os suíços se trancaram na defesa. Apesar do grande domínio, os chilenos ainda demoraram um tempo para se recuperarem do baque. A Suíça teve outras chances, mas não as aproveitou.

Um minuto antes do intervalo, após cruzamento da direita, Jorge Toro escorou de cabeça e Leonel Sánchez finalizou de dentro da pequena área. A bola ainda desviou em um adversário e morreu dentro do gol. Agora, o placar estava igual, com um tento para cada.

Os mais de 65 mil presentes empurravam a seleção anfitriã, com os sempre tradicionais gritos de “CHI-LE, CHI-LE, CHI-LE! CHI-CHI-CHI, LE-LE-LE, VIVA CHILE!”

Aos 7′ da etapa final, Jaime Ramírez avançou pela esquerda, entrou na área e chutou forte. O goleiro Karl Elsener espalmou para frente. Ramírez ficou com o rebote e tocou mansamente no canto direito. Era a virada.

Quatro minutos depois, o placar foi alterado pela última vez. Honorino Landa tabelou com Alberto Fouilloux e cruzou rasteiro. Na pequena área, Leonel Sánchez pegou o rebote da trave e escorou para as redes, dando ponto final ao placar de 3 a 1 para os locais.


(Imagem: Foto-net / FIFA)

● O austríaco Karl Rappan era o técnico da Suíça desde 1938 – exceto breves intervalos. Ele foi o criador do forte sistema tático, ultra-defensivo, que ficou conhecido como “Ferrolho Suíço”. Mas nessa Copa, o esquema não funcionou. A Suíça já não tinha mais a eficiência e o caráter de surpreender com seu ferrolho. Depois da derrota para o Chile na estreia, perdeu por 2 a 1 para a Alemanha Ocidental e por 3 a 0 para a Itália. A retranca levou oito gols, marcou apenas dois e terminou em último lugar no Mundial.

O Chile começou nervoso, mas estreou em “sua” Copa com essa vitória de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 a 0. A derrota por 2 a 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1. Na semifinal, parou no Brasil, de Garrincha, mesmo fazendo um jogo duro (derrota por 4 a 2). Ainda venceu a Iugoslávia (1 x 0) e terminou com um honroso 3º lugar, conquistado em casa.


(Imagem: Soccer Nostalgia)

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 2 x 0 ITÁLIA

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Nacional

Público: 65.006

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Ken Aston (Inglaterra)

 

CHILE (4-2-4):

SUÍÇA (FERROLHO SUÍÇO):

1  Misael Escuti (G)

1  Karl Elsener (G)

2  Luis Eyzaguirre

7  Heinz Schneiter

3  Raúl Sánchez

9  André Grobéty

4  Sergio Navarro (C)

5  Fritz Morf

5  Carlos Contreras

13 Hans Weber

6  Eladio Rojas

8  Ely Tacchella

7  Jaime Ramírez

17 Norbert Eschmann

8  Jorge Toro

14 Anton Allemann

9  Honorino Landa

21 Rolf Wüthrich

10 Alberto Fouilloux

18 Philippe Pottier

11 Leonel Sánchez

15 Charles Antenen (C)

 

Técnico: Fernando Riera

Técnico: Karl Rappan

 

SUPLENTES:

 

 

12 Adán Godoy (G)

2  Antonio Permunian (G)

22 Manuel Astorga (G)

3  Kurt Stettler (G)

13 Sergio Valdés

4  Willy Kernen

14 Hugo Lepe

6  Peter Rösch

15 Manuel Rodríguez

10 Fritz Kehl

16 Humberto Cruz

16 Richard Dürr

17 Mario Ortiz

11 Eugen Meier

18 Mario Moreno

12 Marcel Vonlanthen

19 Braulio Musso

19 Gilbert Rey

20 Carlos Campos Silva

22 Roberto Frigerio

21 Armando Tobar

20 Roger Vonlanthen

 

GOLS:

6′ Rolf Wüthrich (SUI)

44′ Leonel Sánchez (CHI)

51′ Jaime Ramírez (CHI)

55′ Leonel Sánchez (CHI)

Melhores momentos da partida:

… 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália

Três pontos sobre…
… 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália

A “Batalha de Santiago”

(Imagem: BBC)

● O Chile foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 1962, apesar de todas as deficiências na infraestrutura, acentuadas por um terremoto no sul do país, que atingiu 9,5 graus na escala Richter a dois anos da competição. Liderado pelo dirigente Carlos Dittborn, o lema do país era: “Porque não temos nada, daremos tudo”.

Os anfitriões não tinham um bom histórico em Copas e foram sorteados para um grupo difícil na primeira fase, com Itália, Alemanha Ocidental e Suíça. Na primeira partida, os chilenos venceram a Suíça por 3 x 1, enquanto alemães e italianos empataram sem gols. Assim, na partida seguinte a Itália deveria vencer os anfitriões, senão correria sérios riscos de uma eliminação precoce.

Leia mais:
… 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça
… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile

Durante a candidatura do Chile para sediar o torneio, os jornalistas italianos Antonio Ghirelli e Corrado Pizzinelli escreveram sobre a situação precária de Santiago. Essa matéria provocou indignação em toda a imprensa chilena e foi reproduzida no jornal El Mercurio dias antes da partida entre as duas seleções, deixando ainda mais pesado o clima.

Cientes que a partida seria duríssima, os jogadores italianos entraram em campo jogando flores brancas para a torcida local, com a intenção de amenizar um pouco os ânimos. Porém, como repúdio, a torcida atirou de volta as flores em cima dos italianos. Diz a lenda que Omar Sívori se negou a jogar essa partida já prevendo o clima de guerra.

A Itália (como quase sempre) contava com uma força estrangeira: além dos bons argentinos Sívori e Maschio (que inclusive disputaram a Copa América de 1957 pelo seu país natal), foi reforçada pelos brasileiros Sormani e Altafini, o “nosso” Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 1958.

  Tanto Chile quanto Itália jogavam no sistema 4-2-4, mas com estrutura diferente, como podemos observar nos esquemáticos

● Assim que a partida começou, rapidamente ficou claro o estilo de jogo das duas equipes: forte e violenta marcação. A primeira falta foi aos 12 segundos de jogo e desde o início os chilenos saíam em bloco para cercar o juiz, reclamando de tudo. Ainda aos 7 minutos, Toro deu um chute em Mora e levou o troco de Ferrini, mas apenas Ferrini foi expulso. Ele se negou a abandonar o gramado e teve que ser retirado pela polícia.

Pouco depois, foi Landa que cometeu uma falta forte, mas não foi advertido pelo árbitro. O jogo passou a ficar travado a medida que a cada falta os jogadores se embolavam, discutindo e se agredindo.

Aos 38 minutos houve a jogada mais marcante. Leonel Sánchez dribla rumo à ponta esquerda, quando é derrubado por David, que o chuta repetidamente no chão. Sánchez levanta e lhe dá um soco, quebrando o nariz do italiano, mas a arbitragem foi condescendente com ambos. Minutos depois, David se vingou, dando uma voadora no pescoço de Sánchez e foi imediatamente expulso pelo juiz.

Com tudo isso, o primeiro tempo durou 72 minutos.

No segundo tempo e com dois jogadores a mais, o Chile foi superior. Mas só abriu o placar aos 28 minutos, quando Rojas cobriu uma falta da intermediária, o goleiro rebateu e Ramírez encobriu dois defensores com uma cabeçada. Um minuto depois, Landa teve um gol anulado por impedimento.

Mas a três minutos do fim, Toro recebe na intermediária e chuta forte no canto esquerdo do goleiro, ampliando o marcador.


(Imagem: Dailly Mirror)

● Com a vitória, o Chile estava classificado e a Itália precisava de um milagre. Mas a Itália seria eliminada mesmo vencendo a Suíça por 3 x 0, já que os alemães venceram os chilenos por 2 x 0.

Na sequência, o Chile ainda venceria a União Soviética (2 x 1) nas quartas de final. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil, liderado por um endiabrado Garrincha e perdeu por 4 x 2. Na decisão do 3º lugar, o chile “deu tudo de si” e venceu a Iugoslávia por 1 a 0.

O árbitro inglês Kenneth “Ken” Aston foi mundialmente criticado por favorecer os chilenos. Aston reconheceu depois que teve uma má atuação, mas se justificou: “Eu não estava apitando uma partida de futebol; estava atuando com um juiz em um conflito militar”. Ele ainda afirmou que pensou em suspender a partida, mas temeu a reação do público. Depois dessa partida, ele encerrou a carreira. Não por causa do jogo, e sim por uma lesão muscular. Posteriormente, ele foi nomeado diretor de arbitragem da FIFA e acabou responsável pela escala de árbitros da Copa de 1966. Em 1967, para melhorar a comunicação entre árbitros e jogadores, ele criou os cartões amarelo e vermelho, hoje indispensáveis no futebol.

Com certeza foi a partida mais violenta da história das Copas. Ficou conhecida como a “Batalha de Santiago”.

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 2 x 0 ITÁLIA

 

Data: 02/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Nacional

Público: 66.057

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Ken Aston (Inglaterra)

 

CHILE (4-2-4):

ITÁLIA (4-2-4):

1 Misael Escuti (G)

12 Carlo Mattrel (G)

2  Luis Eyzaguirre

19 Francesco Janich

3  Raúl Sánchez

18 Mario David

4 Sergio Navarro (C)

16 Enzo Robotti

5 Carlos Contreras

20 Paride Tumburus

6  Eladio Rojas

4 Sandro Salvadore

7  Jaime Ramírez

21 Giorgio Ferrini

8  Jorge Toro

8 Humberto Maschio

9  Honorino Landa

9  José Altafini

10 Alberto Fouilloux

7  Bruno Mora (C)

11 Leonel Sánchez

11 Giampaolo Menichelli

 

Técnico: Fernando Riera

Técnicos: Paolo Mazza / Giovanni Ferrari

 

SUPLENTES:

 

 

12 Adán Godoy (G)

1  Lorenzo Buffon (G)

22 Manuel Astorga (G)

13 Enrico Albertosi (G)

13 Sergio Valdés

2  Giacomo Losi

14 Hugo Lepe

5  Cesare Maldini

15 Manuel Rodríguez

6  Giovanni Trapattoni

16 Humberto Cruz

3  Luigi Radice

17 Mario Ortiz

22 Giacomo Bulgarelli

18 Mario Moreno

14 Gianni Rivera

19 Braulio Musso

10 Omar Sívori

20 Carlos Campos Silva

15 Angelo Sormani

21 Armando Tobar

17 Ezio Pascutti

 

GOLS:

73′ Jaime Ramírez (CHI)

87′ Jorge Toro (CHI)

 

EXPULSÕES:

8′ Giorgio Ferrini (ITA)

41′ Mario David (ITA)

Melhores momentos da partida, a partir de 0:56:

Jogo completo:

… Marcelo Salas, “El Matador”

Três pontos sobre…
… Marcelo Salas, “El Matador”


(Imagem: Alchetron)

● José Marcelo Salas Melinao nasceu em 24/12/1974 na cidade de Temuco. Ainda criança, começou nas divisões de base do Temuco Santos FC e aos 17 anos foi mostrar seu talento na Universidad de Chile. Estreou pelo time principal em 10/04/1993, contra o Colchagua pela Copa do Chile. Em 1994, marcano 18 gols em 25 jogos da liga chilena. Jogou no clube até 1996 com um total de 50 gols em 77 partidas, se sagrando bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995. Nas semifinais da Copa Libertadores da América de 1996, não bastasse “La U” ter sido eliminada pelo River Plate, os “Millonarios” também levaram Salas, por 3,5 milhões de dólares. “El Matador” chegou após o River ter conquistado a Libertadores, para substituir Hernán Crespo. Apesar de ser uma tarefa muy difícil, mesmo com críticas no início (já que nunca um jogador chileno tinha se destacado na Argentina), Salas conquistou três campeonatos argentinos e a Supercopa da Libertadores em 1997, além de ter sido eleito o melhor jogador da América do Sul no mesmo ano. Em 53 jogos, foram 24 tentos anotados.

Após a Copa do Mundo de 1998, onde se destacou, foi ser destaque também no continente europeu. Em 13/09/1998, fez sua estreia na Lazio pela Serie A, no empate em 1 x 1 com a Piacenza. Foram três anos de intenso brilho na melhor Lazio de todos os tempos, com um Scudetto, uma Coppa Italia, duas Supercopas italianas, uma Recopa Europeia e fazendo o gol do título da Supercopa Europeia. É considerado um dos maiores ídolos do time, tendo anotado 34 gols nas 79 partidas disputadas. Em 17/08/2001 foi comprado pela poderosa Juventus. Mas em 20/10, em Bolonha, sofreu a primeira de uma série de lesões que atrapalhou sua passagem pela “Vecchia Signora”. Com uma entorse no joelho direito e lesão do ligamento cruzado anterior, ficou fora do restante da temporada, em que sua equipe se sagrou campeã italiana. Voltou a campo no ano seguinte e conquistou outro Scudetto e a Supercopa da Itália. Encerrou sua passagem na Juve com apenas dois gols em 18 jogos.

Para 2003/04, voltou por empréstimo ao River Plate, onde jogou por dois anos, fazendo apenas 32 jogos e 10 gols. Conquistou o Clausura de 2004 e chegou nas semifinais da Copa Libertadores de 2005, mas sem sucesso. No meio do ano de 2005, acertou seu retorno à Universidad de Chile. Nessa nova passagem, entre idas e vindas, incluindo seis meses parado, fez 35 gols em 74 partidas. Encerrou a carreira de vez em 25/11/2008.

● Estreou na seleção principal do Chile em 18/05/1994, no Estádio Nacional do Chile, contra a Argentina de Diego Armando Maradona, entrando no segundo tempo e marcando um gol no empate por 3 a 3.

A partir de então, formou a implacável dupla “Sa-Za”, entre ele, Salas, e Iván “Bam-Bam” Zamorano, que liderou o Chile nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Antes da Copa, em 11/02/1998, fez os gols da vitória por 2 x 0 em um amistoso com a Inglaterra, em um Wembley com 65.000 pessoas.

Salas disputou uma única Copa, a de 1998, mas não fez feio e foi o 3º maior artilheiro do torneio, com quatro gols anotados (dois na Itália, um na Áustria e um contra o Brasil).

Após um longo período de ausência da seleção e algumas partidas intermitentes, é convocado novamente pelo técnico Marcelo “El Loco” Bielsa, inclusive para as eliminatórias para a Copa de 2010, quando marcou dois gols em um empate por 2 a 2 contra o Uruguai. Não disputou a Copa porque encerrou a carreira dois anos antes. É o recordista de gols pela seleção do Chile, com 37 marcados em 70 partidas disputadas.

Marcelo Salas foi campeão por todas as equipes pelas quais passou, seja no Chile, na Argentina ou na Itália. Em 509 jogos oficiais, fez 245 gols (média de 0,48). Após pendurar as chuteiras, “El Matador” se tornou patrono, diretor esportivo e presidente do Club de Deportes Temuco, que disputa atualmente a primeira divisão do futebol chileno.

(Imagem: Calciopédia)

Feitos e premiações de Marcelo Salas:

Pela Seleção do Chile:
– Campeão da Copa Canadá em 1995.

Pela Universidad de Chile:
– Bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995.

Pelo River Plate (Argentina):
– Campeão da Supercopa da Libertadores em 1997.
– Campeão do Campeonato Argentino em 1996 (Apertura) 1997 (Apertura e Clausura) e 2004 (Clausura)

Pela Lazio:
– Campeão da Supercopa Europeia em 1999.
– Campeão da Recopa Europeia em 1998/99.
– Campeão do Campeonato Italiano em 1999/2000.
– Campeão da Coppa Italia em 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Itália em 1998 e 2000.
– Campeão da Taça de Amsterdã em 1999.

Pela Juventus:
– Bicampeão do Campeonato Italiano em 2001/02 e 2002/03.
– Bicampeão da Supercopa da Itália em 2001/02 e 2002/03.

Distinções e premiações individuais:
– Maior artilheiro da história da seleção do Chile, com 37 gols.
– Artilheiro da Copa do Chile em 1994 (12 gols).
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1996.
– Eleito o melhor jogador do futebol argentino pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito o melhor jogador do futebol sul-americano pelo jornal El País em 1997.
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1997.
– Eleito melhor esportista do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1998.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1998.
– Artilheiro da Lazio na temporada 1998/99 com 11 gols.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1999.
– Eleito o 32º melhor jogador sul-americano do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 2º melhor jogador chileno do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 7º melhor jogador sul-americano canhoto da história pela revista Bleacher Report em 2013.
– Laureado com o prêmio “Filho Ilustre de Temuco” em 2008.

… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”

Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”


(Imagem: paixaocanarinha.com.br)

● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)

● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.

● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.

– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.

– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.

– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.

– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.

– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.

P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.