… 04/06/2002 – Coreia do Sul 2 x 0 Polônia

Três pontos sobre…
… 04/06/2002 – Coreia do Sul 2 x 0 Polônia


Sul-coreanos comemoram gol em frente à barulhenta torcida (Imagem: NBC Sports)

● Nem parece que já se passaram 15 anos! Tudo que se via era uma multidão em vermelho. Tudo que se ouvia era um grito ensurdecedor: “Dae-han-min-guk” (Daehan Minguk significa República da Coreia no idioma local).

A Coreia do Sul era um dos dois países sede (juntamente com o Japão). Tinha sua tradição no continente, mas estava em sua sexta Copa do Mundo (a 5ª consecutiva) e nunca havia vencido um jogo na competição. Eram 14 partidas anteriores, com 4 empates e 10 derrotas, algumas humilhantes, como para a Hungria em 1954 (9 a 0).

Temia-se que os sul-coreanos fossem os primeiros anfitriões a não passar de fase na história das Copas (esse “feito” ficou com a África do Sul em 2010). Mas, liderado pelo excelente técnico holandês Guus Hiddink e pela torcida, o time não decepcionou.

A Coreia do Sul era organizada no 3-5-2, que se transformava em 5-3-2 quando se defendia e em um 3-4-3 quando atacava (com Park Ji-sung avançando pela direita).

Já a Polônia atuava em um 4-4-2 engessado, que dependia muito dos avanços dos meias laterais Jacek Krzynówek e Marek Koźmiński.

● Na estreia, o ritmo e o entusiasmo dos asiáticos eram demais para uma Polônia pouco criativa e lenta, que dependia bastante de Emmanuel Olisadebe, atacante nigeriano naturalizado (que nem era tão bom assim…).

Nos minutos iniciais, a Polônia começou a pressionar e perdeu duas chances, com Jacek Krzynówek e Marek Koźmiński.

Aos 9 minutos foi a vez dos locais desperdiçarem sua chance, com Seol Ki-hyeon, livre, desviando um escanteio nas mãos do goleiro Jerzy Dudek.

Depois, Choi Jin-cheul travou um chute perigosíssimo de Olisadebe, evitando o gol polaco.

Aos 19 minutos, quase o primeiro gol, quando Yoo Sang-chul chutou forte, de longe, e a bola passou perto da baliza.

Aos 26 minutos, enfim a multidão explodiu em êxtase. Lee Eul-yong rola a bola para a área e o veterano Hwang Sun-hong, sem marcação, coloca no canto direito, de primeira, marcando seu 50º gol pela seleção.

Se o gol empolgou a Coreia, liquidou de vez a Polônia, que parecia sem esperanças quando o primeiro tempo chegou ao fim.

No intervalo, o técnico Jerzy Engel mexeu no time. Mas na volta, os coreanos continuaram acesos. Park Ji-sung quase marcou depois de um escanteio. A pesada defesa polonesa sofria com a correria asiática.

Aos 8 minutos do segundo tempo, Tomasz Hajto perdeu a bola. Ahn Jung-hwan passa para Yoo Sang-chul, que bate de fora da área, de novo, mas dessa vez acerta. Dudek foi na bola com a mão mole e não evitou o gol.

Em um raro ataque promissor da Polônia, o capitão Hong Myung-bo fez uma leitura de jogo perfeita e cortou um cruzamento de Krzynówek, tirando uma oportunidade clara de Marcin Żewłakow, que fechava no segundo pau.

No fim, as tentativas da Polônia de tentar anotar o tento de honra eram apenas desespero. A equipe polaca ainda precisou de uma defesa de Dudek em uma finalização de Ahn Jung-hwan para evitar o terceiro gol.

Após o tempo regulamentar, o coreano Cha Du-ri conseguiu um recorde pitoresco: tomou um cartão amarelo vinte segundos depois de entrar no gramado, por uma falta cometida.


Hwang Sun-hong comemora o primeiro gol da partida (Imagem: Dailly Mail)

● Festa coreana. Os asiáticos foram mesmo ao delírio. Mostrando um futebol ofensivo, com muita velocidade, a Coreia do Sul aproveitou as inúmeras falhas de marcação do adversário e conquistou sua primeira vitória em uma Copa do Mundo.

Na sequência, a Polônia foi goleada por Portugal por 4 a 0 e venceu os Estados Unidos por 3 a 1. Não adiantou e caiu como lanterna do grupo.

A Coreia do Sul seguiu surpreendendo. Empatou com os Estados Unidos (1 x 1) e venceu Portugal por 1 a 0, eliminando os Tugas. Mas o melhor estaria por vir. Mesmo com arbitragens polêmicas e tendenciosas, venceu a Itália na prorrogação das oitavas de final por 2 x 1 e bateu a Espanha nos pênaltis (5 x 3) após um placar sem gols. Na semifinal, mesmo fazendo um bom jogo contra a Alemanha, perdeu com um gol de Michael Ballack. Na decisão do 3º lugar, perdeu para a forte Turquia por 3 x 2. Para os sul-coreanos, foi um resultado histórico, que dificilmente será repetido nos próximos anos.

FICHA TÉCNICA:

 

COREIA DO SUL 2 x 0 POLÔNIA

 

Data: 04/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Busan Asiad Main Stadium

Público: 48.760

Cidade: Busan (Coreia do Sul)

Árbitro: Óscar Ruiz (Colômbia)

 

COREIA DO SUL (3-5-2):

POLÔNIA (4-4-2):

1  Lee Woon-jae (G)

1  Jerzy Dudek (G)

4  Choi Jin-cheul

6  Tomasz Hajto

20 Hong Myung-bo (C)

20 Jacek Bąk

7  Kim Tae-young

15 Tomasz Wałdoch (C)

22 Song Chong-gug

4  Michał Żewłakow

6  Yoo Sang-chul

21 Marek Koźmiński

5  Kim Nam-il

10 Radosław Kałużny

13 Lee Eul-yong

7  Piotr Świerczewski

21 Park Ji-sung

18 Jacek Krzynówek

18 Hwang Sun-hong

19 Maciej Żurawski

9  Seol Ki-hyeon

11 Emmanuel Olisadebe

 

Técnico: Guus Hiddink

Técnico: Jerzy Engel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Kim Byung-ji (G)

12 Radosław Majdan (G)

23 Choi Eun-sung (G)

22 Adam Matysek (G)

15 Lee Min-sung

2  Tomasz Kłos

8  Choi Tae-uk

3  Jacek Zieliński

10 Lee Young-pyo

13 Arkadiusz Głowacki

3  Choi Sung-yong

16 Maciej Murawski

2  Hyun Young-min

5  Tomasz Rząsa

17 Yoon Jong-hwan

23 Paweł Sibik

14 Lee Chun-soo

17 Arkadiusz Bąk

16 Cha Du-ri

8  Cezary Kucharski

11 Choi Yong-soo

14 Marcin Żewłakow

19 Ahn Jung-hwan

9  Paweł Kryszałowicz

 

GOLS:

26′ Hwang Sun-hong (COR)

53′ Yoo Sang-chul (COR)

 

CARTÕES AMARELOS:

31′ Jacek Krzynówek (POL)

70′ Park Ji-sung (COR)

79′ Tomasz Hajto (POL)

84′ Piotr Świerczewski (POL)

90′ Cha Du-ri (COR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Maciej Żurawski (POL) ↓

Paweł Kryszałowicz (POL) ↑

 

50′ Jacek Bąk (POL) ↓

Tomasz Kłos (POL) ↑

 

50′ Hwang Sun-hong (COR) ↓

Ahn Jung-hwan (COR) ↑

 

61′ Yoo Sang-chul (COR) ↓

Lee Chun-soo (COR) ↑

 

64′ Radosław Kałużny (POL) ↓

Marcin Żewłakow (POL) ↑

 

89′ Seol Ki-hyeon (COR) ↓

Cha Du-ri (COR) ↑

Melhores momentos da partida:

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: Multi Ciência)

● Como quase sempre, o Brasil chegou ao México sob grande desconfiança geral, trocando de treinador a três meses da competição – saiu o jornalista João Saldanha e entrou o inexperiente Zagallo. Com isso, várias “feras” ficaram de fora da convocação, como, por exemplo, Djalma Dias, Zé Carlos e Dirceu Lopes. O ponta-direita Rogério, do Botafogo, titular absoluto de Zagallo, teve que ser cortado por lesão (mas continuou na delegação com o cargo de “olheiro”, observando e analisando jogos dos adversários).

O comando da CBD entendeu que parte do fracasso de 1966 foi por falta de uma preparação física adequada. Por isso, dessa vez, os atletas sofreram bastante nas mãos do preparador físico Admildo Chirol e de seus auxiliares, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que colocaram em prática um plano elaborado em conjunto com a Escola de Educação Física do Exército. Foi feito também um cuidadoso programa de treinamento para enfrentar a altitude mexicana. A equipe se concentrou inicialmente em Guanajuato (2.050 metros acima do nível do mar). O Brasil foi o primeiro time a chegar ao México, quase um mês antes do início do torneio. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, dizia Zagallo. Com toda essa preparação, era visível o crescimento do Brasil no segundo tempo de cada jogo.

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A expressão “grupo de morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao grupo formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).

A Copa de 70 foi a primeira com transmissão ao vivo pela televisão, ainda em preto e branco. Nesse jogo (estreia brasileira no Mundial), às 19h00 do dia 3 de junho de 1970, foi registrado o recorde de audiência de um evento esportivo no Brasil. Todos os canais transmitiam a mesma imagem do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia. Seria o equivalente hoje a 100 pontos no Ibope.

Duas revoluções nesse Mundial: além da estreia dos cartões amarelos e vermelhos, foi também a primeira Copa em que foram permitidas até duas substituições durante a partida.

 O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.

Tchecoslováquia jogava entre o 4-3-3 e o 4-2-4.

● Foi um jogo bonito, sem violência, com demonstração de habilidade dos dois lados, dribles, chances criadas (o time tcheco perdeu várias oportunidades) e gols.

Pelé era tido como um mito “velho e acabado” pelos mexicanos. E deu razão a eles quando perdeu um gol feito no começo do jogo: em cruzamento de Rivellino, o Rei chutou para fora, sozinho e sem goleiro. A situação ficaria pior logo depois. Aos 11 minutos de jogo, Brito bateu um impedimento para Clodoaldo, que estava de costas e perdeu a bola. Ladislav Petráš dominou, avançou em velocidade entre Carlos Alberto e Brito, tocando na saída do goleiro Félix. Petráš ajoelhou-se e fez o sinal-da-cruz para agradecer o gol aos céus. Foi um ato político contra o governo comunista (e ateu) de seu país, mas foi também um dos gestos mais lindos da Copa – que depois seria copiado por Jairzinho.

O empate chegou aos 24 minutos. Pelé foi derrubado por Migas na meia-lua. A barreira foi formada por sete tchecos e Jairzinho. Rivelino chutou no rumo de Jairzinho, que saiu da frente e a bola passou no espaço vazio, justo onde ele estaria. Com esse gol, Rivellino ganhou o apelido de “Patada Atômica” da imprensa mexicana.

Aos 15 minutos do segundo tempo, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, faz um lançamento de 40 metros para Pelé, que amacia a bola no peito, escolhe o canto e chuta para o fundo do gol. A Tchecoslováquia partiu com tudo para cima e ofereceu todo o espaço para o Brasil contra-atacar.

Três minutos depois, de novo Gérson de 40 metros, lança Jairzinho, o “Furacão da Copa”, que, sozinho, dá um chapéu no goleiro Viktor, deixa a bola bater no peito e estufa as redes. Foi o gol mais bonito dessa Copa.

Aos 25, Gérson teve uma forte distensão e teve que ser substituído por Paulo Cézar Caju. Sem saber se adiantava o time ou se protegia de tomar mais gols, os tchecos ficaram perdidos em campo.

No fim da partida, aos 38 minutos, configurou-se a goleada. Jairzinho domina na intermediária, dribla Hagara e Horváth, de novo Hagara e chuta cruzado, no canto.

 Jair encobre Viktor, no terceiro gol brasileiro (Imagem: El Universal)

● Apesar do placar elástico, o lance mais marcante da partida foi um “quase gol”. Aos 42 minutos da etapa inicial, percebendo o goleiro adversário adiantado, Pelé arriscou um chute de seu próprio campo, a bola encobriu o goleiro e acabou raspando o travessão, naquele que foi um lance surpreendente, demonstrando toda a genialidade do Rei. Além do mais, não foi contra qualquer goleiro. Ivo Viktor foi o 3º colocado na premiação da Bola de Ouro da Revista France Football em 1976 (a terceira melhor posição de um goleiro no prêmio – Lev Yashin foi o 1º em 1963 e Buffon o 2º em 2006). A transmissão da TV mostrou o desespero de Viktor tentando voltar, enquanto a bola passava a 40 centímetros da trave, em um lance até então inédito em Copas.

A Seleção Brasileira fazia sua estreia de forma arrasadora, dando mostras iniciais da altíssima qualidade de seu futebol naquela Copa.

Mesmo com uma equipe forte, a Tchecoslováquia caiu na fase de grupos, perdendo também os outros dois jogos (2 a 1 para a Romênia e 1 a 0 para a Inglaterra).

 Trio de ataque comemora um dos gols (Imagem: Alchetron)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 03/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 52.897

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ramón Barreto (Uruguai)

 

BRASIL (4-3-3):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Ivo Viktor (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Karol Dobiaš

2  Brito

3  Václav Migas

3  Wilson Piazza

5  Alexander Horváth (C)

16 Everaldo

4  Vladimír Hagara

5  Clodoaldo

16 Ivan Hrdlička

8  Gérson

9  Ladislav Kuna

7  Jairzinho

18 František Veselý

9  Tostão

8  Ladislav Petráš

10 Pelé

10 Jozef Adamec

11 Rivellino

11 Karol Jokl

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Jozef Marko

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

13 Anton Flešár (G)

22 Leão (G)

22 Alexander Vencel (G)

21 Zé Maria

12 Ján Pivarník

15 Fontana

14 Vladimír Hrivnák

14 Baldocchi

15 Ján Zlocha

17 Joel Camargo

7  Bohumil Veselý

6  Marco Antônio

17 Jaroslav Pollák

18 Paulo Cézar Caju

6  Andrej Kvašňák

13 Roberto

19 Josef Jurkanin

20 Dadá Maravilha

20 Milan Albrecht

19 Edu

21 Ján Čapkovič

 

GOLS:

11′ Ladislav Petráš (TCH)

24′ Rivellino (BRA)

59′ Pelé (BRA)

61′ Jairzinho (BRA)

83′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Tostão (BRA)

Gérson (BRA)

Alexander Horváth (TCH)

 

SUBSTITUIÇÕES:

46′ Ivan Hrdlička (TCH) ↓

Andrej Kvašňák (TCH) ↑

 

62′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

75′ František Veselý (TCH) ↓

Bohumil Veselý (TCH) ↑

Melhores momentos da partida:

… 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália

Três pontos sobre…
… 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália

A “Batalha de Santiago”

(Imagem: BBC)

● O Chile foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 1962, apesar de todas as deficiências na infraestrutura, acentuadas por um terremoto no sul do país, que atingiu 9,5 graus na escala Richter a dois anos da competição. Liderado pelo dirigente Carlos Dittborn, o lema do país era: “Porque não temos nada, daremos tudo”.

Os anfitriões não tinham um bom histórico em Copas e foram sorteados para um grupo difícil na primeira fase, com Itália, Alemanha Ocidental e Suíça. Na primeira partida, os chilenos venceram a Suíça por 3 x 1, enquanto alemães e italianos empataram sem gols. Assim, na partida seguinte a Itália deveria vencer os anfitriões, senão correria sérios riscos de uma eliminação precoce.

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Durante a candidatura do Chile para sediar o torneio, os jornalistas italianos Antonio Ghirelli e Corrado Pizzinelli escreveram sobre a situação precária de Santiago. Essa matéria provocou indignação em toda a imprensa chilena e foi reproduzida no jornal El Mercurio dias antes da partida entre as duas seleções, deixando ainda mais pesado o clima.

Cientes que a partida seria duríssima, os jogadores italianos entraram em campo jogando flores brancas para a torcida local, com a intenção de amenizar um pouco os ânimos. Porém, como repúdio, a torcida atirou de volta as flores em cima dos italianos. Diz a lenda que Omar Sívori se negou a jogar essa partida já prevendo o clima de guerra.

A Itália (como quase sempre) contava com uma força estrangeira: além dos bons argentinos Sívori e Maschio (que inclusive disputaram a Copa América de 1957 pelo seu país natal), foi reforçada pelos brasileiros Sormani e Altafini, o “nosso” Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 1958.

  Tanto Chile quanto Itália jogavam no sistema 4-2-4, mas com estrutura diferente, como podemos observar nos esquemáticos

● Assim que a partida começou, rapidamente ficou claro o estilo de jogo das duas equipes: forte e violenta marcação. A primeira falta foi aos 12 segundos de jogo e desde o início os chilenos saíam em bloco para cercar o juiz, reclamando de tudo. Ainda aos 7 minutos, Toro deu um chute em Mora e levou o troco de Ferrini, mas apenas Ferrini foi expulso. Ele se negou a abandonar o gramado e teve que ser retirado pela polícia.

Pouco depois, foi Landa que cometeu uma falta forte, mas não foi advertido pelo árbitro. O jogo passou a ficar travado a medida que a cada falta os jogadores se embolavam, discutindo e se agredindo.

Aos 38 minutos houve a jogada mais marcante. Leonel Sánchez dribla rumo à ponta esquerda, quando é derrubado por David, que o chuta repetidamente no chão. Sánchez levanta e lhe dá um soco, quebrando o nariz do italiano, mas a arbitragem foi condescendente com ambos. Minutos depois, David se vingou, dando uma voadora no pescoço de Sánchez e foi imediatamente expulso pelo juiz.

Com tudo isso, o primeiro tempo durou 72 minutos.

No segundo tempo e com dois jogadores a mais, o Chile foi superior. Mas só abriu o placar aos 28 minutos, quando Rojas cobriu uma falta da intermediária, o goleiro rebateu e Ramírez encobriu dois defensores com uma cabeçada. Um minuto depois, Landa teve um gol anulado por impedimento.

Mas a três minutos do fim, Toro recebe na intermediária e chuta forte no canto esquerdo do goleiro, ampliando o marcador.


(Imagem: Dailly Mirror)

● Com a vitória, o Chile estava classificado e a Itália precisava de um milagre. Mas a Itália seria eliminada mesmo vencendo a Suíça por 3 x 0, já que os alemães venceram os chilenos por 2 x 0.

Na sequência, o Chile ainda venceria a União Soviética (2 x 1) nas quartas de final. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil, liderado por um endiabrado Garrincha e perdeu por 4 x 2. Na decisão do 3º lugar, o chile “deu tudo de si” e venceu a Iugoslávia por 1 a 0.

O árbitro inglês Kenneth “Ken” Aston foi mundialmente criticado por favorecer os chilenos. Aston reconheceu depois que teve uma má atuação, mas se justificou: “Eu não estava apitando uma partida de futebol; estava atuando com um juiz em um conflito militar”. Ele ainda afirmou que pensou em suspender a partida, mas temeu a reação do público. Depois dessa partida, ele encerrou a carreira. Não por causa do jogo, e sim por uma lesão muscular. Posteriormente, ele foi nomeado diretor de arbitragem da FIFA e acabou responsável pela escala de árbitros da Copa de 1966. Em 1967, para melhorar a comunicação entre árbitros e jogadores, ele criou os cartões amarelo e vermelho, hoje indispensáveis no futebol.

Com certeza foi a partida mais violenta da história das Copas. Ficou conhecida como a “Batalha de Santiago”.

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 2 x 0 ITÁLIA

 

Data: 02/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Nacional

Público: 66.057

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Ken Aston (Inglaterra)

 

CHILE (4-2-4):

ITÁLIA (4-2-4):

1 Misael Escuti (G)

12 Carlo Mattrel (G)

2  Luis Eyzaguirre

19 Francesco Janich

3  Raúl Sánchez

18 Mario David

4 Sergio Navarro (C)

16 Enzo Robotti

5 Carlos Contreras

20 Paride Tumburus

6  Eladio Rojas

4 Sandro Salvadore

7  Jaime Ramírez

21 Giorgio Ferrini

8  Jorge Toro

8 Humberto Maschio

9  Honorino Landa

9  José Altafini

10 Alberto Fouilloux

7  Bruno Mora (C)

11 Leonel Sánchez

11 Giampaolo Menichelli

 

Técnico: Fernando Riera

Técnicos: Paolo Mazza / Giovanni Ferrari

 

SUPLENTES:

 

 

12 Adán Godoy (G)

1  Lorenzo Buffon (G)

22 Manuel Astorga (G)

13 Enrico Albertosi (G)

13 Sergio Valdés

2  Giacomo Losi

14 Hugo Lepe

5  Cesare Maldini

15 Manuel Rodríguez

6  Giovanni Trapattoni

16 Humberto Cruz

3  Luigi Radice

17 Mario Ortiz

22 Giacomo Bulgarelli

18 Mario Moreno

14 Gianni Rivera

19 Braulio Musso

10 Omar Sívori

20 Carlos Campos Silva

15 Angelo Sormani

21 Armando Tobar

17 Ezio Pascutti

 

GOLS:

73′ Jaime Ramírez (CHI)

87′ Jorge Toro (CHI)

 

EXPULSÕES:

8′ Giorgio Ferrini (ITA)

41′ Mario David (ITA)

Melhores momentos da partida, a partir de 0:56:

Jogo completo:

… 01/06/2002 – Alemanha 8 x 0 Arábia Saudita

Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Alemanha 8 x 0 Arábia Saudita


Miroslav Klose, comemorando um dos seus três gols (Imagem: Kicker)

● Treinada pelo ex-centroavante Rudi Völler, a Alemanha chegou desacreditada no Mundial. Primeiro pelos vários desfalques, especialmente Mehmet Scholl e Sebastian Deisler. Além do mais, era um período de entressafra, pois a geração anterior, vencedora da Copa do Mundo de 1990 e da Eurocopa de 1996 já estava aposentada (Matthäus, Möller, Häßler, Klinsmann, dentre outros). Depois, pelos resultados ruins dos últimos anos (queda nas quartas de final da Copa de 1998 e na primeira fase da Euro 2000), inclusive nas eliminatórias, quando foi goleada pela Inglaterra por 5 a 1 em casa e precisou disputar a repescagem.

A Alemanha jogou o primeiro tempo em um 3-5-2 e o segundo em um 4-4-2, com a entrada de Jeremies no lugar de Ramelow.

Arábia Saudita se apresentou em um 4-4-2, mas a verdade é que a desorganização imperou no time.

● Difícil falar que um jogo de Copa é uma baba, mas era impossível um adversário melhor na estreia do que a Arábia Saudita. A equipe era frágil tecnicamente e fraca no jogo aéreo (ponto forte dos alemães). Cada bola que os alemães erguiam na área saudita era um pesadelo. Enquanto a marcação não encaixava e a zaga batia cabeça, a Alemanha foi empilhando gols no goleiro Al-Deayea.

Apesar de o primeiro gol ter saído apenas aos 20 minutos, foi bem assim mesmo: “quatro, vira; mais quatro, acaba”.

Dos oito gols, cinco foram de cabeça, sendo três marcados pelo coadjuvante Miroslav Klose (que seria vice artilheiro da competição com 5 gols, empatado com Rivaldo). Ballack, Jancker, Linke, Bierhoff (com um carrinho de fora da área) e Schneider completaram o placar.

Foi o único gol do veterano Thomas Linke pela seleção, em 43 partidas. Nada como um jogo fácil para toda a equipe ganhar moral.

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● Essa é a quarta maior goleada da história das Copas, sendo a maior da Alemanha.

A Arábia Saudita perderia os dois jogos seguintes, para Camarões (1 x 0) e Irlanda (3 x 0), terminando como a pior seleção da Copa.

A Alemanha empataria com a Irlanda (1 x 1) e venceria Camarões (2 x 0), se classificando em primeiro do grupo. Passaria ainda pelo Paraguai (1 x 0, nas oitavas de final) e Estados Unidos (1 x 0, nas quartas). Na semifinal, venceu a co-anfitriã (e surpresa) Coreia do Sul também por 1 a 0 e chegou à final contra o Brasil (que veremos no próximo dia 30/06).

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 8 x 0 ARÁBIA SAUDITA

 

Data: 01/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Sapporo Dome

Público: 32.218

Cidade: Sapporo (Japão)

Árbitro: Ubaldo Aquino (Paraguai)

 

ALEMANHA (3-5-2):

ARÁBIA SAUDITA (4-4-2):

1 Oliver Kahn (G)(C)

1 Mohammed Al-Deayea (G)

2 Thomas Linke

12 Ahmed Dukhi Al-Dosari

5  Carsten Ramelow

3  Redha Tukar

21 Christoph Metzelder

4  Abdullah Zubromawi

22 Torsten Frings

13 Hussein Sulimani

19 Bernd Schneider

8  Mohammed Noor

8  Dietmar Hamann

16 Khamis Al-Dosari

13 Michael Ballack

17 Abdullah Al-Waked

6  Christian Ziege

18 Nawaf Al-Temyat

9 Carsten Jancker

20 Al Hasan Al-Yami

11 Miroslav Klose

9  Sami Al-Jaber (C)

 

Técnico: Rudi Völler

Técnico: Nasser Al-Johar

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jens Lehmann (G)

21 Mabrouk Zaid (G)

23 Hans-Jörg Butt (G)

22 Mohammed Babkr Al-Khojali (G)

3  Marko Rehmer

2 Mohammed Al-Jahani

4  Frank Baumann

6  Fouzi Al-Shehri

15 Sebastian Kehl

5  Mohsin Harthi

16 Jens Jeremies

23 Mansour Al-Thagafi

17 Marco Bode

19 Omar Al-Ghamdi

18 Jörg Böhme

14 Abdulaziz Khathran

10 Lars Ricken

7 Ibrahim Al-Shahrani

14 Gerald Asamoah

10 Mohammad Al-Shalhoub

7 Oliver Neuville

15 Abdullah Jumaan Al-Dosari

20 Oliver Bierhoff

11 Obeid Al-Dosari

 

GOLS:

20′ Miroslav Klose (ALE)

25′ Miroslav Klose (ALE)

40′ Michael Ballack (ALE)

45+1′ Carsten Jancker (ALE)

70′ Miroslav Klose (ALE)

73′ Thomas Linke (ALE)

84′ Oliver Bierhoff (ALE)

90+1′ Bernd Schneider (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

43′ Christian Ziege (ALE)

83′ Dietmar Hamann (ALE)

90+1′ Mohammed Noor (ARA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Carsten Ramelow (ALE) ↓

Jens Jeremies (ALE) ↑

 

INTERVALO Khamis Al-Dosari (ARA) ↓

Ibrahim Al-Shahrani (ARA) ↑

 

INTERVALO Nawaf Al-Temyat (ARA) ↓

Abdulaziz Khathran (ARA) ↑

 

67′ Carsten Jancker (ALE) ↓

Oliver Bierhoff (ALE) ↑

 

76′ Miroslav Klose (ALE) ↓

Oliver Neuville (ALE) ↑

 

77′ Al Hasan Al-Yami (ARA) ↓

Abdullah Jumaan Al-Dosari (ARA) ↑

 Veja os gols do massacre:

… 31/05/2002 – França 0 x 1 Senegal

Três pontos sobre…
… 31/05/2002 – França 0 x 1 Senegal

Gol de Senegal (Imagem: FIFA)

● Foi a abertura da primeira Copa do Mundo sediada em dois países: Coreia do Sul e Japão.

A França era a então campeã mundial e a maior favorita ao título, junto com a Argentina. Os franceses estavam ainda mais fortes do que em 1998, com a evolução de alguns jogadores como Thierry Henry, David Trezeguet e Patrick Vieira. O astro principal ainda era Zinedine Zidane, recém campeão da UEFA Champions League pelo Real Madrid, inclusive fazendo um gol histórico na final. Porém, como uma peça pregada pelo destino, Zizou se contundiu em um amistoso contra a Coreia do Sul, a quatro dias da estreia na Copa.

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… 11/06/2002 – Senegal 3 x 3 Uruguai
… 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França

Enquanto todos admiravam os Bleus, poucos conheciam a equipe senegalesa, exceto pelo surpreendente vice-campeonato na Copa Africana das Nações no início do ano. Os franceses deveriam conhecer bem seus primeiros adversários, pois, dos 23 jogadores senegaleses, 21 atuavam na França (apenas os dois goleiros reservas jogavam em clubes africanos), dois jogadores nasceram na França (Habib Beye e Sylvain N’Diaye), além do próprio técnico, Bruno Metsu, também francês.

A França jogava em um 4-5-1 bem compacto, com liberdade total para os ponteiros.

Senegal era quase um “futebol total”, em que os jogadores largavam suas posições em busca do contra-ataque. No papel, era um 4-5-1.

● Mas o desnível da tradição entre os dois era absurdo, dando à França um favoritismo cego. Se os astros não goleassem os “ingênuos debutantes”, seria uma zebra enorme.

A França mostrou 90 minutos de um jogo pesado, com pouca criatividade, sentindo falta de Zidane. No início do jogo, Trezeguet finalizou na trave. Depois, Senegal começou a encantar o mundo, com habilidade, velocidade e passes rápidos.

Dessa forma, a zebra africana começou a passear. Aos 30 minutos do primeiro tempo, El Hadji Diouf fez fila entre os marcadores na ponta esquerda, junto à linha de fundo, e cruzou rasteiro. Papa Bouba Diop finaliza em cima do goleiro Barthez, mas aproveitou o rebote, mandando para o fundo da rede. E houve a comemoração que rodou o planeta, com uma dança típica dos africanos, junto à bandeirinha de escanteio.

A França tentou pressionou em busca do empate, criou inúmeras chances, mas o goleiro Sylva fechou o gol. Henry chegou a acertar a trave, mas não conseguiu marcar. Senegal continuava ameaçando em diversos contra-ataques. Em um deles, Fadiga acertou o travessão.

● Na sequência do Grupo A, a França empataria em 0 a 0 com o Uruguai e perderia para a Dinamarca por 2 a 0. Zidane jogou apenas o último jogo de sua seleção, mas não impediu a derrota para os dinamarqueses.

Assim, a França protagonizou o maior vexame de um campeão na Copa seguinte à da conquista do título. Foi a primeira e única vez que uma seleção que defendia o título foi eliminada sem marcar gols na competição.

El Hadji Diouf, o craque do time (Imagem: Footy Fair)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 0 x 1 SENEGAL

 

Data: 31/05/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Seoul World Cup Stadium (Sangam Stadium)

Público: 62.561

Cidade: Seul (Coreia do Sul)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

SENEGAL (4-1-4-1):

16 Fabien Barthez (G)

1  Tony Sylva (G)

15 Lilian Thuram

17 Ferdinand Coly

18 Frank Leboeuf

13 Lamine Diatta

8 Marcel Desailly (C)

4  Pape Malick Diop

3  Bixente Lizarazu

2  Omar Daf

4  Patrick Vieira

6  Aliou Cissé (C)

17 Emmanuel Petit

14 Moussa N’Diaye

11 Sylvain Wiltord

15 Salif Diao

6  Youri Djorkaeff

19 Papa Bouba Diop

12 Thierry Henry

10 Khalilou Fadiga

20 David Trezeguet

11 El Hadji Diouf

 

Técnico: Roger Lemerre

Técnico: Bruno Metsu

 

SUPLENTES:

 

 

23 Grégory Coupet (G)

16 Omar Diallo (G)

1  Ulrich Ramé (G)

22 Kalidou Cissokho (G)

19 Willy Sagnol

21 Habib Beye

5  Philippe Christanval

5  Alassane N’Dour

13 Mikaël Silvestre

3  Pape Sarr

2  Vincent Candela

20 Sylvain N’Diaye

7  Claude Makélélé

12 Amdy Faye

14 Alain Boghossian

23 Makhtar N’Diaye

22 Johan Micoud

7  Henri Camara

10 Zinedine Zidane

18 Pape Thiaw

21 Christophe Dugarry

8  Amara Traoré

9  Djibril Cissé

9  Souleymane Camara

 

GOL: 30′ Papa Bouba Diop (SEN)

 

CARTÕES AMARELOS:

45+2′ Emmanuel Petit (FRA)

51′ Aliou Cissé (SEN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

81′ Sylvain Wiltord (FRA) ↓

Djibril Cissé (FRA) ↑

Melhores momentos da partida:

 Duas curiosidades sobre Khalilou Fadiga:

1- Quatro dias antes do início da Copa, ele foi acusado de roubar um colar de ouro de uma joalheria em Daegu (Coreia do Sul), foi detido pela polícia e liberado logo em seguida, após reconhecer o erro e ter dito que “fez aquilo somente por curiosidade”. Ao final, foram retiradas as acusações contra o jogador e o dono da loja furtada chegou a enviar a ele um pingente e uma carta desejando boa sorte no Mundial.

2- No início da temporada 2003/04, foi contratado pela Internazionale, mas os exames cardíacos diagnosticaram uma anomalia, impedindo o senegalês de atuar pelo clube de Milão. Dispensado um ano depois, ele deu sequência à carreira, mesmo sofrendo uma parada cardíaca em 2004, enquanto atuava pelo Bolton Wanderers.


Khalilou Fadiga, líder técnico da equipe (Imagem: Daily Mail)

… 30/05/1962 – Brasil 2 x 0 México

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Brasil 2 x 0 México

Cumprimentos iniciais dos capitães e arbitragem (Imagem: FIFA)

● A Seleção Brasileira era a então campeã do mundo e, por isso, não precisou disputar as eliminatórias, já tendo vaga assegurada na Copa.

A superstição era tão grande que o presidente da CBD, João Havelange, resolveu repetir tudo que havia funcionado quatro anos antes, inclusive o fato de ele próprio não viajar com a equipe. Escolheu novamente como chefe da delegação o “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho (fundador da Rede Record de Televisão). O próprio Doutor Paulo partilhava dessas ideias e usou o mesmo terno marrom que lhe serviu de amuleto na Suécia. Convidou o mesmo comandante Guilherme Bungner para pilotar a mesma aeronave DC-8 da Panair. Superstição levada ao extremo, tanto que Bungner deixou o cavanhaque crescer para ficar com a mesma cara de 1958.

A imprensa não ficou de fora: depois da vitória contra o México na estreia, a CBD obrigou todos os jornalistas a trabalharem sempre com a roupa daquele primeiro jogo; quem mudasse qualquer peça, era impedido de entrar na tribuna da imprensa.

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… 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
… 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha
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… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile

Na comissão técnica, duas alterações: a extinção do cargo de psicólogo, já que o Brasil tinha superado o “complexo de vira-lata”. Outra (e mais importante) foi o técnico. Vicente Feola estava enfermo, com problemas cardíacos crônicos, e recebeu um cargo apenas simbólico de supervisor. O treinador escolhido foi Aymoré Moreira, primeiro ex-jogador da Seleção Brasileira a dirigir o país em uma Copa (Aymoré foi goleiro e jogou três partidas pela Seleção na década de 1930).

Foram mantidos 14 jogadores campeões de 1958. A equipe titular tinha a mesma base, com alterações apenas na defesa: Djalma Santos, Mauro e Zózimo entraram no lugar de De Sordi, Bellini e Orlando. Mauro, inclusive, se tornou o capitão, sucedendo Bellini. Se alguns jogadores estavam mais velhos, não menos verdade, se tornaram mais experientes. Novos valores estavam despontando e outros se firmando no cenário mundial, caso específico do Rei Pelé, que estava em seu auge.

 O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo

 O México atuava como quase todos, em um 4-2-4, com seus meias recuando bastante para marcar

● A estreia era aguardada com imensa expectativa. O povo brasileiro esperava uma goleada sobre os mexicanos, como as estreias de 1950 e 1954. Mas não contavam com uma atuação inspiradíssima do goleiro Carbajal, em sua quarta Copa do Mundo (disputaria cinco: 1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Ele fechou a meta no primeiro tempo e o placar zerado foi comemorado por sua equipe no intervalo. Foi uma decepção para os expectadores.

O poderoso ataque com Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo só conseguiu funcionar no segundo tempo, graças a duas jogadas do Rei Pelé. Aos 11 minutos, ele cruza da direita a meia altura e Zagallo mergulha e cabeceia rente ao chão, abrindo o placar. Esperava-se que os mexicanos se lançassem ao ataque em busca do empate, mas eles preferiram continuar jogando na defesa. Assim, somente aos 28 minutos saiu o segundo gol. Pelé domina na direita, passa por dois marcadores com um só toque, ganha dividida contra outro adversário, dribla Cárdenas ao entrar na área e chuta de pé esquerdo, no canto direito do goleiro.

Garrincha dribla, sob olhar atento de Pelé (Imagem: Remezcla)

● Curiosamente, o treino do Brasil antes da primeira partida na Copa teve mais público do que a própria estreia. Como a entrada para os treinamentos era gratuita, cerca de 11 mil pessoas foram ao estádio. Já na vitória por 2 a 0 sobre o México, 10.484 torcedores assistiram ao jogo.

Esse seria o único gol de Pelé na Copa de 1962, pois se lesionou no jogo seguinte, um empate sem gols com a Tchecoslováquia, e sem condições físicas, não voltou a atuar na competição.

Apesar do placar sem sobressaltos, o desempenho gerou dúvidas quanto à possibilidade do bicampeonato.

O Brasil acompanhou esta partida, assim como todas as outras, pelas ondas do rádio. As imagens de televisão só seriam exibidas dois ou três dias depois, em videoteipe, gravados graças aos esforços da Televisa, maior TV do México.

Por fim, o México seria eliminado ainda na fase de grupos, mas com resultados honrosos: derrota para a Espanha por 1 x 0 e vitória contra a futura vice-campeã Tchecoslováquia por 3 x 1. Foi a primeira vitória do México em Copas do Mundo, em 13 jogos (12 derrotas e um empate).

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 MÉXICO

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 10.484

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

BRASIL (4-2-4):

MÉXICO (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1 Antonio Carbajal (G)(C)

2  Djalma Santos

2  Jesús del Muro

3  Mauro (C)

5  Raúl Cárdenas

5  Zózimo

3 Guillermo Sepúlveda

6  Nilton Santos

4  José Villegas

4  Zito

6  Pedro Nájera

8  Didi

8 Salvador Reyes

7  Garrincha

7 Alfredo del Águila

19 Vavá

9  Héctor Hernández

10 Pelé

19 Antonio Jasso

21 Zagallo

11 Isidoro Díaz

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Ignacio Trelles

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Jaime Gómez (G)

12 Jair Marinho

22 Antonio Mota (G)

13 Bellini

13 Arturo Chaires

14 Jurandir

15 Ignacio Jáuregui

15 Altair

14 Pedro Romero

16 Zequinha

16 Salvador Farfán

17 Mengálvio

18 Alfredo Hernández

18 Jair da Costa

20 Mario Velarde

9  Coutinho

10 Guillermo Ortiz

20 Amarildo

17 Felipe Ruvalcaba

11 Pepe

21 Alberto Baeza

 

GOLS:

56′ Zagallo (BRA)

73′ Pelé (BRA)

 Reportagem sobre o jogo Brasil x México:

Jogo completo:

… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil


Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: UOL)

● Como veremos no próximo dia 14/07, os cartolas brasileiros não aprenderam a lição. Se em 1930 a discórdia era entre cariocas e paulistas, para a Copa de 1934 a briga foi entre amadores e profissionais. O profissionalismo no futebol nacional foi regulamentado em 1933 e a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) era adepta ao amadorismo (atrasada desde sempre…).

Com apenas 17 atletas, o fato é que a Seleção Brasileira foi montada com um “catado” de nove jogadores do Botafogo (único time forte que ainda era filiado a uma liga amadora), reforçado por um ou outro jogador profissional, como Luisinho, Patesko e o jovem Leônidas da Silva. Se o técnico oficial era Luiz Vinhais, quem fez a “convocação”, escalou e mandou em tudo era mesmo o cartola botafoguense Carlito Rocha.

Foram doze dias de viagem no navio Conte de Biancamano, onde os jogadores treinavam no convés do jeito que dava. Ao desembarcar na Itália, os brasileiros não sabiam que enfrentariam uma das melhores seleções do mundo na época. Os espanhóis tinham uma das defesas mais entrosadas da história, com Zamora, Ciriaco e Quincoces, todos do Real Madrid há mais de três anos.

Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Com os jogadores fora de forma e sem inspiração, o Brasil começou mal. Logo nos primeiros minutos, era claro que a Espanha estava melhor no jogo, enquanto os brasileiros dependiam do talento individual de Leônidas e Waldemar de Brito. Porém, a Fúria abriu 3 a 0 antes da primeira meia hora de jogo, com dois gols de Iraragorri e um de Langara, mas acabou sendo beneficiada por um grave erro de arbitragem: Quincoces evitou um gol com o braço em cima da linha quando o Brasil perdia por 1 a 0. Poderia ser o gol de empate, mas a arbitragem não viu.

No segundo tempo, a Espanha tentou segurar e o Brasil foi para cima, diminuindo o prejuízo com Leônidas, aos 11 minutos. Aos 15, Luisinho marcou o segundo, mas o árbitro anulou por impedimento, gerando grande reclamação dos sul-americanos. Dois minutos depois, Waldemar de Brito trombou com Ciriaco na área e o árbitro assinalou pênalti. O próprio Waldemar bateu e Zamora defendeu no canto esquerdo, enterrando de vez as esperanças brasileiras.

Veja mais:
… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

● Ricardo Zamora estava com 33 anos e já era um mito em seu país. Por lá, ele é considerado o maior goleiro do mundo em todos os tempos. Tanto, que o troféu do goleiro menos vazado do Campeonato Espanhol leva seu nome. Reza a lenda que ele tinha um olhar hipnótico, que desconcentrava os batedores de pênaltis. Dizem também que em 1930, o Real Madrid o contratou junto ao Espanyol por uma quantia suficiente para comprar cinco times inteiros.

Ricardo Zamora (Imagem: Alchetron)

Waldemar de Brito ficou marcado como o primeiro jogador a perder um pênalti pela Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Ele entraria na história também alguns anos depois, quando era técnico do Bauru Atlético Clube (o Baquinho) em 1954 e descobriu um garoto de 14 anos. Dois anos depois, resolveu levá-lo para o Santos. O garoto era simplesmente Pelé.

Apesar do preço elevado dos ingressos, o público da partida foi considerado excelente. Além disso, as colinas e os telhados das casas nas imediações do Estádio Comunale Marassi também estavam repletos de pessoas.

A Copa de 1934 (assim como a de 1938) foi no formato eliminatório, começando direto nas oitavas de final. Ou seja, com a derrota, o Brasil foi eliminado logo na primeira partida, terminando em 14º lugar entre 16 seleções.

A Espanha foi eliminada na fase seguinte para a anfitriã (e futura campeã) Itália em uma batalha sangrenta de 210 minutos (um jogo com prorrogação e um jogo desempate), com um gol decisivo do mítico Giuseppe Meazza.

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 3 X 1 BRASIL

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Comunale Marassi (atual Luigi Ferraris)

Público: 21.000

Cidade: Gênova (Itália)

Árbitro: Alfred Birlem (Alemanha)

 

ESPANHA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Ricardo Zamora (G)(C)

Roberto Gomes Pedrosa (G)

Ciriaco Errasti

Sylvio Hoffmann

Jacinto Quincoces

Luís Luz

Leonardo Cilaurren

Tinoco

José Muguerza

Martim
Silveira (C)

Martín Marculeta

Canalli

Ramón de Lafuente

Luisinho Mesquita de Oliveira

José “Chato” Iraragorri

Waldemar de Brito

Isidro Lángara

Leônidas da Silva

Simón Lecue

Armandinho

Guillermo Gorostiza

Patesko

 

Técnico: Amadeo García Salazar

Técnico: Luiz Augusto Vinhais

 

SUPLENTES:

 

 

Juan José Nogués (G)

Germano (G)

Ramón Zabalo

Octacílio

Hilario

Ariel

Pedro Solé

Waldyr

Luis Regueiro

Áttila

Luis Martín

Carvalho Leite

Fede

 

Chacho

 

Campanal

 

Crisanto Bosch

 

Martí Ventolrà

 

 

GOLS:

18′ José Iraragorri (ESP) (pen)

25′ José Iraragorri (ESP)

29′ Isidro Lángara (ESP)

54′ Leônidas da Silva (BRA)

Reportagem da TV Cultura sobre a participação brasileira na Copa de 1934: 

… Remo x Paysandu: maior clássico do mundo

Três ponto sobre…
… Remo x Paysandu

● O Re-Pa é o maior clássico do país. Pelo menos no número de partidas disputadas, provavelmente é o maior clássico do mundo. Até agora foram 739 partidas disputadas, com o seguinte retrospecto: 257 vitórias para o Remo com 940 gols marcados, contra 231 vitórias do Paysandu, que marcou 938 gols, além de 251 empates.

22
(Imagem: Portal do Parazão)

O confronto entre os times da cidade de Belém-PA também é conhecido como “Clássico Rei da Amazônia”, pois é disputado pelas duas maiores forças do futebol de toda a Região Norte do Brasil. Ambos possuem as maiores e mais apaixonadas torcidas da região, demonstrando o fanatismo do torcedor paraense pelo futebol. No dia 04/05/2016, o clássico foi declarado patrimônio cultural imaterial do estado do Pará.

O Clube do Remo foi fundado em 05/02/1905, enquanto a data de fundação do Paysandu Sport Club é 02/02/1914. A primeira partida ocorreu em 14/06/1914 pelo Campeonato Paraense, quando um público de duas mil pessoas assistiram ao Remo vencer por 2 a 1 no Estádio da firma Ferreira & Comandita (atual Curuzu). Os gols foram de Rubilar (o primeiro da história do Re-Pa) e Bayma (contra), com Mateus marcando para os bicolores.

Já o confronto mais recente foi um empate por 1 a 1 no Estádio Mangueirão, pela 9ª rodada da primeira fase do Parazão, quando Bergson abriu o placar para o Paysandu e Eduardo Ramos empatou nos minutos finais da partida.


(Imagem: paysandu.com.br)

● A maior goleada pertence ao Papão, que goleou o Leão em pleno Estádio Baenão por 7 a 0 pelo 1º turno do campeonato estadual, em 22/07/1945. A maior vitória do Remo foi por 7 a 2, em 05/03/1939, quando Jango marcou 5 gols, sendo até hoje o maior artilheiro em uma única partida do clássico. (Em 16/01/1927, o time azulino venceu o bicolor por 7 a 0, mas em partida envolvendo os times reservas, o que não conta para as estatísticas).

O Remo se orgulha do maior período de invencibilidade, com 33 jogos entre 31/01/1993 a 07/05/1997, sendo 21 vitórias e 12 empates. Por sua vez, o Paysandu ficou 13 jogos sem perder para o rival (6v e 7e), de 29/01/1970 a 09/12/1970.

Os maiores artilheiros do Re-Pa são: Hélio (Paysandu) com 47 gols; Itaguary (Remo/Paysandu), com 30 gols; Quarenta (Paysandu) e Cacetão (Paysandu), com 28 gols; Bené (Paysandu), com 26 gols; e Quiba (Remo), com 24 gols.

O jogador que mais atuou foi Quarentinha, que disputou 135 clássicos pelo Papão entre 1955 e 1973.

O maior público foi em uma vitória do Remo por 1 x 0, no Mangueirão, em 11/07/1999, jogo que valeu o título estadual aos azulinos e o 38º título, tornando o clube o “Campeão Paraense do Século XX”.

Em número de títulos paraenses conquistados, com a conquista de 2016, o Papão abriu vantagem, com 46 conquistas contra 44 do rival.

Falando de títulos consecutivos, vantagem para o Remo, heptacampeão entre 1913 e 1919. O Paysandu foi pentacampeão de 1942 a 1947, como também foi o Remo, de 1993 a 1997.

O clássico geralmente decide o Paraense, e entre essas muitas finais o Remo saiu de campo campeão em 18 oportunidades: 1925, 1930, 1954, 1960, 1968, 1977, 1978, 1979, 1989, 1990, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1999, 2004 e 2014. O Paysandu faturou 16 decisões contra o adversário, em 1956, 1957, 1959, 1961, 1963, 1966, 1967, 1969, 1971, 1972, 1982, 1985, 1987, 1992, 1998 e 2001. A última vez que decidiram o torneio, o Leão se sagrou campeão, em 2014.


(Imagem: Globo Esporte)

● Entre tantas decisões, a mais emocionante foi a de 1967. Naquele ano, realizaram-se nada menos que seis partidas, durante quase um mês, entre 12 de novembro e 10 de dezembro, até que o Paysandu, enfim, ficasse com a taça. Tudo começou quando o Remo ganhou por 2 x 1, igualando o rival em pontos e forçando mais um jogo para decidir o segundo turno. Como houve empate (1 x 1), realizou-se uma partida extra, vencida pelo Remo por 1 x 0. Então, Paysandu, campeão do primeiro turno, e Remo, vencedor do segundo, partiram para a decisão do campeonato. Depois de dois empates em 0 x 0, o Paysandu finalmente ficou com o título, ao derrotar o rival por 2 x 0, gols de Alemão (contra) e Robilota.

Em 04/04/04 o Remo fez história, ao vencer o rival por 2 a 0 (gols de Gian e Rodrigo), se sagrando campeão estadual com 100% de aproveitamento, o único a conseguir esse feito na história do profissionalismo do futebol paraense (pós-1945).

(Imagem: Mantos do Futebol)

As cidades que tiveram sorte de sediar o Clássico Rei da Amazônia foram: Belém, com 724 jogos; Paramaribo (Suriname), com 3 partidas; Santarém, Macapá (AP) e São Luís (MA), 2 confrontos; e Cametá, Bragança, Soure, Barcarena e Castanhal, com um jogo.

O mais longe que o Re-Pa já chegou foi a decisão do 3º lugar do Módulo Amarelo da Copa João Havelange de 2000, que dava direito ao vencedor de disputar o Módulo Azul (Primeira Divisão). Na primeira partida, em 12/11/2000, o Remo venceu por 3 x 2. No jogo de volta, dia 19/11, não passaram de um empate em 1 a 1. O resultado beneficiou o Clube do Remo que integrou o Módulo Azul, mas foi eliminado logo nas oitavas de final para o Sport Recife, após duas derrotas (2 x 1 e 1 x 0).

Em relação a títulos de maior expressão, o Paysandu leva vantagem, pois venceu a Copa dos Campeões de 2002 (que propiciou até uma digna campanha na Copa Libertadores de 2003), o Campeonato Brasileiro da Série B de 1991 e 2001, a Copa Verde de 2016 e a Copa Norte de 2002. O Remo se sagrou vencedor do Campeonato Brasileiro da Série C em 2005, do Campeonato Norte-Nordeste de 1971 e do Torneio do Norte em 1968, 1969 e 1971.

… Luciano do Valle

Três pontos sobre…
… Luciano do Valle

(Imagem localizada no Google)

● Luciano do Valle Queiroz nasceu em 04/07/1947, na cidade de Campinas. Era filho do comerciante Rubens do Valle e da professora Tereza de Jesus Leme do Valle.

Começou a carreira precocemente, aos 16 anos, na Rádio Educadora AM de Campinas (atual Rádio Bandeirantes Campinas). Rapidamente passou para a Rádio Brasil AM, da mesma cidade, onde já narrava futebol. Quatro anos depois foi se aventurar em São Paulo, na Rádio Gazeta, a convite do narrador Pedro Luiz Paoliello. Em 1968, mudou-se para a Rádio Nacional de São Paulo (atual Rádio Globo), onde narrava diversas modalidades, como vôlei, basquete e até o tricampeonato da Copa do Mundo de 1970.

Chegou à TV no mesmo ano de 1970, na própria Globo. Sua primeira participação foi na transmissão do Troféu Governador do Estado de São Paulo de basquete masculino. Também nessa época, substituiu por um breve período na apresentação do programa “Dois minutos com João Saldanha”, no lugar do próprio Saldanha. Após a Copa de 1974, substituiu como titular da narração o lendário José Geraldo de Almeida, na fase pré-Galvão Bueno. Ainda em 1974, narrou várias provas de Fórmula 1 e o segundo título de Emerson Fittipaldi na categoria.

Como a emissora carioca detinha a exclusividade de transmissão da Copa do Mundo de 1982, teve uma das maiores audiências da história da TV nacional. Foi a partir da inigualável voz de Luciano que o país inteiro sofreu com os gols de Paolo Rossi na “Tragédia do Sarriá”, que eliminou a Seleção Brasileira do torneio. Na Globo foram três Copas (1974, 1978 e 1982) e três Olimpíadas (1972, 1976 e 1980). Foi o narrador titular até sair da emissora, em 1982.

Depois, teve uma rápida passagem pela TV Record, mas o suficiente para fazer história. A partir dessa época, passou a desenvolver paralelamente uma carreira de empresário e promotor esportivo, criando as empresas “Promoação” e “Luqui”. Com a ajuda da emissora, Luciano organizou o jogo amistoso de vôlei entre Brasil e União Soviética, no dia 26/07/1983, em em pleno Maracanã lotado. Com transmissão ao vivo da Record, essa partida se tornou um divisor de águas no esporte brasileiro. Com 95.887 pagantes, até hoje é o recorde mundial de público em um jogo de vôlei. Teve uma nova passagem pela Record entre 2003 e 2006.

● Em 1983, Luciano chegou à Bandeirantes, iniciando uma grande reformulação na história da TV brasileira. Como a emissora não tinha os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na época, foi dada a Luciano toda a liberdade para utilizar sua criatividade e recebeu carta branca da direção para inovar e revolucionar. O marco para isso foi a criação do “Show do Esporte“, com dez horas de programação nos domingos, com grande cobertura no geral e visibilidade inédita para várias modalidades e atletas. Assim, Luciano transformou a Bandeirantes no “Canal do Esporte”.

Foi assim que ele se tornou precursor nas transmissões da Fórmula Indy, a partir de 1985, narrando especialmente o título de Fittipaldi em 1989. Foi a sua voz que levou ao Brasil a rivalidade entre as equipes da Rainha Hortência e Magic Paula que, juntas, venceram o Pan-Americano de Havana em 1991 e o título mundial de 1994, logicamente também narradas por Luciano.

Foi uma espécie de promotor de Maguila, principal peso pesado brasileiro da história do boxe.

Em um período em que as grandes estrelas do futebol brasileiro das décadas de 1960 e 1970 já estavam aposentados e caindo no ostracismo, Luciano do Valle criou a Seleção Brasileira de Masters. Com o apoio de empresários, criou a Copa Pelé – Mundial de Masters, da qual participaram cinco seleções campeãs do mundo e estrelas do quilate de: Uwe Seeler, Paul Breitner, Gerd Müller, Giacinto Facchetti e Roberto Boninsegna. O próprio Luciano foi o técnico da Seleção Brasileira, treinando feras como Pelé, Rivellino, Gérson, Jairzinho, Paulo César Carpegiani, Djalma Dias, Edu e Dadá Maravilha.


Seleção Brasileira de Masters em amistoso de 1988. Em pé (da esquerda para direita): Zico, o técnico Luciano do Valle, Eurico, Rocha, Amaral, Paulo Vítor, Luís Pereira e Vladimir. Agachados: Cafuringa, Lola, Claudio Adão, Rivelino e Eduardo.
(Imagem: Acervo/Gazeta Press)

O locutor fez diversas apostas, acertando a maioria. Bancou a transmissão do Campeonato Paulista de Aspirantes e de diversas competições de futebol feminino, popularizando nomes como Sissi, Kátia Cilene e Formiga. Tinha espaço até para jogos de sinuca, tornando Rui Chapéu famoso nacionalmente.

Acertou demais quando passou a transmitir a NBA no país, em 1987, pegando a época áurea do Chicago Bulls de Michael Jordan e parte da disputa ferrenha entre o Los Angeles Lakers, de Magic Johnson, e o Boston Celtics, de Larry Bird. Feras que o povo brasileiro começou a conhecer antes mesmo de formarem o “Dream Team” nos Jogos Olímpicos de 1992.

Sempre com apoio de toda equipe da Band, abriu espaço até para o futebol americano.

Luciano também criou modelos bem sucedidos para a TV. Um foi o Verão Vivo, transmitido de postos da Band no litoral brasileiro, misturando competições esportivas e eventos culturais. Outro foi o Apito Final, programa de debate esportivo após a rodada do futebol, reunindo diversas personalidades. É a base do modelo de mesa redonda que faz muito sucesso desde os anos 1990.

Em 1999, quando morava em Porto de Galinhas, apostou na compra dos direitos de transmissão do Campeonato Pernambucano, que se revelou um sucesso de audiência, obrigando a Rede Globo Nordeste a abrir o bolso em 2000, para readquirir o pacote completo para TV aberta e fechada por R$ 1,92 mi.

A lista de feitos de Luciano do Valle é enorme. Apresentou programa de variedades (Valle Tudo), programa matinal (Tudo em Dia, ao lado da esposa Flávia do Valle, para a Band RS) e até o Carnaval.

● Em janeiro de 2012, sofreu um AVC que prejudicou sua voz e o obrigou a passar por sessões de fonoaudiologia. Tentou voltar rapidamente às transmissões e, durante um Santos x Palmeiras, errou quase tudo, virando motivo de chacota nas implacáveis redes sociais. Mas manteve tudo em segredo e só revelou o AVC após passado mais de um ano.

Mesmo com a saúde debilitada, o locutor não se afastou das transmissões, transmitindo sempre a principal partida do fim de semana na Band. Ainda em 2012, ficou um tempo fora do ar por conta de uma operação na bexiga, que o tirou da cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres, pelo BandSports.

Seu último trabalho foi no título do Ituano no Campeonato Paulista de 2014, em vitória nos pênaltis sobre o Santos.

Faleceu aos 66 anos, em 19/04/2014, em Uberlândia, Triângulo Mineiro, onde narraria a partida entre Atlético Mineiro e Corinthians, pela primeira rodada do Brasileirão 2014. A causa da morte foi uma parada cardíaca ainda durante o vôo, resultado de um infarto agudo do miocárdio. Chegou a ser levado para a UTI do Hospital Santa Genoveva, mas não sobreviveu. Foi velado na Câmara Municipal de Campinas e enterrado no cemitério Parque Flamboyant, da mesma cidade.

Coincidentemente e de forma triste, Luciano se foi a poucos meses da Copa do Mundo no Brasil. Faltou realizar seu grande sonho: transmitir os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

Luciano do Valle: locutor, jornalista esportivo, torcedor da Ponte Preta, empreendedor, promotor de eventos, pioneiro, técnico e a voz mais marcante de seu tempo. Com 50 anos de carreira e um estilo singular, colocava a paixão evidente na sua bela e vibrante voz, com um estilo inconfundível de transformar o gol (cesta, ponto, etc.) em um momento mágico. Mas ele transcendeu a figura de narrador esportivo brilhante que foi e virou um patrimônio da televisão e do esporte brasileiro. É preciso agradecer para sempre o legado que Luciano deixou aos fãs do esporte.

… Casagrande e Sócrates: amor fraterno, além da vida

Três pontos sobre…
… Casagrande e Sócrates: amor fraterno, além da vida


(Imagem: Rádio Poliesportiva)

Confesso que te amei ¹*
(Por Walter Casagrande Júnior)

” Claro que fiquei muito triste com a morte do Sócrates, mas, de forma até egoísta, o sentimento predominante é de alívio. Isso porque tive a chance de falar para o cara, olhando bem nos seus olhos, o quanto gosto dele. Precisava me sentar à mesa com o Magrão, reconhecer a importância que ele teve na minha história e recordar momentos especiais que vivemos juntos. Para mim, era algo fundamental.

Nós passamos muitos anos sem nos falar. Nunca brigamos, mas havíamos nos separado em decorrência da vida. Ficaram uma distância e alguns ruídos na relação, por conta de visões diferentes sobre algumas questões. Mas nunca deixei de amá-lo e precisava lhe falar isso antes de sua partida. Felizmente, essa oportunidade surgiu por conta das internações anteriores. Se não tivesse acontecido, agora estaria carregando um peso insuportável.

Sem dúvida, foi meu maior parceiro no futebol. Quando eu era juvenil no Corinthians, eu o tinha como ídolo e costumava ficar ao lado do campo para vê-lo nos treinamentos do time profissional. Depois, em 1981, fui jogar na Caldense e houve um amistoso lá contra a Seleção Brasileira. Fiquei ansioso, não sabia se ele me reconheceria. Mas o Magrão se lembrou de mim e até tiramos foto no campo.

No ano seguinte, voltei para o Corinthians e fiz minha estreia contra o Guará sem a presença do Sócrates. No segundo jogo, ele também não estava. Só fomos jogar juntos no terceiro, na vitória sobre o Fortaleza, com três gols do Zenon e um do Sócrates. Eu participei de todos os gols e percebi que daria liga.

A partir dali, formamos uma dupla memorável, com tabelinhas e troca de passes em que antecipávamos o pensamento do outro. As minhas características combinavam com as dele, nós nos completávamos. Podíamos até perder, o que faz parte do jogo, mas poucas vezes não rendemos bem juntos.

Nós também nos identificamos no aspecto político. Foi sensacional ter vivido a Democracia Corintiana a seu lado, lutado por eleições diretas para presidente e participado da fundação do PT. Como jogadores, aproveitamos a popularidade para passar mensagens contra a ditadura militar.

Compartilhávamos também da dependência química: tive problemas com drogas e ele, com álcool. Pagamos caro por isso. Sócrates não sobreviveu, mas parte em paz. Você deixou uma história fantástica, parceiro, e ajudou a tornar o mundo um pouco melhor. Tínhamos uma estreita aliança… Vou jogar meu anel fora. Fazer o que com um anel pela metade?  

¹* Trecho publicado originalmente no jornal “Diário de São Paulo”, no dia da morte do Dr. Sócrates e extraído do livro “Casagrande e seus demônios” ²*.

²* Bibliografia:
CASAGRANDE JÚNIOR, Walter; RIBEIRO, Gilvan. Casagrande e seus demônios. São Paulo: Globo, 2013. p. 145-146.

(Imagem: Editora Globo)