Três pontos sobre… … A estreia profissional mais precoce da história do futebol
Julio César e Mauricio Baldivieso, protagonistas desse feito histórico (Imagem localizada no Google)
● Julio César Baldivieso é um dos mais importantes jogadores da história do futebol boliviano. Ele era destaque no elenco que classificou seu país à Copa do Mundo de 1994, quebrando um jejum de 44 anos, já que a Bolívia não disputava um Mundial desde 1950. Após se aposentar no Club Aurora, em 2008, Julio César logo se tornou o técnico do clube.
Nas categorias de base do time, havia um garoto de 10 anos, que incrivelmente já havia disputado algumas partidas nas categorias inferiores. Esse menino se diferenciava pelo porte físico e talento. Mas seu maior destaque era seu sobrenome, que soa tão familiar: Baldivieso! Era Mauricio Baldivieso, filho do técnico Julio César Baldivieso.
Após seu pai se tornar treinador, Mauricio começou a treinar esporadicamente com a equipe titular, até que a “comissão técnica” (provavelmente por questões subjetivas, como os laços familiares…) achou por bem convocá-lo para uma partida oficial.
Vídeo especial sobre a estreia de Mauricio no futebol, com menos de 13 anos de idade.
● O grande dia foi 19/07/2009. Exatos três dias antes do rebento completar 13 anos de vida (nasceu em Cochabamba, no dia 22/07/1996). Naquela partida, se enfrentavam Aurora e La Paz. Mauricio começou no banco, mas seu pai lhe deu a camisa 10 que até a pouco tempo era dele.
A criança entrou em campo aos 36 minutos do segundo tempo e participou dos dez minutos finais. Não foi a estreia dos sonhos. Além do Aurora ter perdido por 1 a 0 no campo rival, Mauricio foi atingido cruelmente pelo adversário Henry Alaca, já que todos os jogadores do La Paz acharam um abuso colocarem um imberbe para jogar entre eles. Mesmo chorando muito, Mauricio continuou até o apito final.
Os problemas começaram pouco depois da partida. Foram incontáveis as críticas feitas ao treinador. Além da irresponsabilidade de colocar uma criança em campo, foi acusado de tratar favoravelmente seu filho. A pressão foi tão grande, que a diretoria do clube proibiu a participação do jovem no torneio, provocando a demissão de Julio César e, consequentemente, também a saída de Mauricio do clube.
Mauricio: uma criança entre adultos (Imagem localizada no Google)
● Apesar disso, três anos depois, ambos retornaram ao clube e Mauricio teve a oportunidade de jogar mais vezes, mesmo ainda sendo um adolescente em formação. Inclusive, aos 16 anos, se tornou também o jogador mais jovem a disputar uma partida internacional, na Copa Sul-Americana, jogando pelo mesmo Aurora, contra o Cerro Largo, do Uruguai.
Nos anos seguintes, em todos os clubes que o pai treinou, ele levou o filho para ser seu jogador (Aurora, Real Potosí, Nacional Potosí e Universitario de Sucre). Até que em 2016, enquanto Julio era o técnico da seleção boliviana, Mauricio caminhava com as próprias pernas no Jorge Wilstermann, fazendo parte do elenco que conquistou o Torneio Clausura da temporada 2015/16.
Mesmo com todo o furor causado, Mauricio tem histórico quase nulo pela seleção boliviana. Foi convocado para o Campeonato Sul-Americano Sub-20 de 2015, no Uruguai, mas só jogou uma partida no torneio.
Apesar de já ter sido especulado em clubes estrangeiros (como Newell’s Old Boys-ARG e Vitória-BA), sempre permaneceu em seu país. Atualmente, Mauricio tem 22 anos e está sem clube desde janeiro de 2018.
Três pontos sobre… … Atlético de Madrid 4 x 2 Real Madrid
(Imagem: Getty Images / UEFA)
● Mesmo em apenas uma partida, a Supercopa da Europa é um título continental. E foi isso que o Atlético de Madrid foi disputar. O Real não. Entrou achando que ainda era um torneio amistoso, daqueles caça-niqueis, que acontecem nos Estados Unidos durante a pré-temporada.
O Real ainda estava na cerimônia de abertura, enquanto Diego Costa abria o placar aos 49 segundos. Foi o gol mais rápido da história das finais europeias. O agora capitão Diego Godín fez um lançamento despretensioso. Diego Costa ganhou no alto de Sergio Ramos, passou fácil por Varane e, mesmo sem ângulo, encheu o pé. Keylor Navas se ajoelhou e mostrou o por quê Thibaut Courtois precisou ser contratado. A bola passou entre o goleiro costarriquenho e a trave.
Depois, o Atlético foi mais do mesmo, ao se fechar e esperar os contra-ataques que não vieram. O Real se criava pelo lado esquerdo, com Marcelo, Asensio e Isco. Até que em um lance isolado, aos 27′, Gareth Bale arrancou na ponta direita e cruzou. Karim Benzema apareceu nas costas de Savić, cabeceou bem e tirou do goleiro Oblak.
A virada merengue veio em um pênalti gratuito, aos 18′ do segundo tempo. Em uma cobrança de escanteio, Juanfran meteu a mão na bola. Sergio Ramos bateu bem e converteu a penalidade.
A vitória do Real seria questão de tempo. Mas a grande bobeada de Marcelo trouxe os colchoneros para o jogo. Aos 33′, a bola iria saindo pela lateral, mas Marcelo tentou trazê-la novamente para o jogo com um chapéu sobre Juanfran. O lateral espanhol ganhou a jogada e passou para Ángel Correa. Já dentro da área, o camisa 10 foi até a linha de fundo e tocou para trás. Navas estava (de novo) mal posicionado e Diego Costa completou para o gol. O Real perdeu ali.
Marcelo ainda teve chances de completar um belo contra-ataque no último lance do tempo regulamentar, mas passou vergonha ao errar o voleio e acertar a si próprio.
Na prorrogação, só um time jogou. O Atlético virou o jogo novamente em mais uma bobeira da defesa adversária aos 7′ do primeiro tempo complementar. Sergio Ramos, ao invés de chutar uma bola vadia para frente, tocou na fogueira para Varane dentro da área. O beque francês estava marcado e perdeu a bola para Thomas Partey, que cruzou da esquerda para Saúl encher o pé da entrada da área. Um golaço.
O Real ficou desnorteado e o Atleti matou o jogo. No último minuto antes do intervalo do tempo extra, Diego Costa roubou a bola no campo de ataque e Vitolo encontrou Correa livre, de frente para o gol. O argentino emendou bonito e fez o quarto gol.
O Real não jogou mais e o Atlético venceu o rival pela primeira vez em uma partida decisiva por torneios continentais.
(Imagem: Lukas Schulze / Getty Images / UEFA)
● Para o Real, seria um título a mais, que pouco valeria. Para o Atleti, foi uma prova de seu novo status. O time cresceu. Hoje, está mais pronto que o rival.
Contratações pontuais tornaram os colchoneros mais fortes. Thomas Lemar custou 70 milhões de euros. Rodri custou 20. Gélson Martins veio de graça. Nikola Kalinić, Santiago Arias e Adán custaram pouco nesse mercado maluco. E elevam muito o nível do elenco.
O Real Madrid, sem comando após a saída de Zidane, ainda está no início do trabalho de Julen Lopetegui (que nem deveria ter sido contratado, pois é muito ruim). O elenco é praticamente o mesmo, mas sentiu a falta de seu melhor jogador nos últimos anos. Cristiano Ronaldo nunca foi qualquer um. E fez muita falta ao Real hoje.
Raphaël Varane fez uma partida desastrosa. Casemiro e Marcelo atuaram muito abaixo do que podem. Mas faltou criação e poder de fogo. O clube precisa urgentemente de um bom volante para fazer sombra a Casemiro. E precisa de um centroavante de classe mundial. Quem? Romelu Lukaku, Harry Keane, Edinson Cavani, Robert Lewandowski, Sergio Agüero… Emergencialmente, até Falcao García e Mario Mandžukić servem.
Foi apenas a primeira partida, mas já começa preocupando seus torcedores. Para o Real, o Campeonato Espanhol será o mais difícil dos últimos tempos. Além das grandes contratações do Atlético, o Barcelona está ainda melhor com Arturo Vidal, Malcolm, Arthur e Clément Lenglet. Até o Valencia evoluiu com Michy Batshuayi e Kevin Gameiro. La Liga ainda tem os bons times de Sevilla, Real Bétis, Real Sociedad e outras eventuais surpresas.
Em nível continental, hoje o Real parece um pouco atrás de Barcelona, Juventus, Bayern de Munique, Paris Saint-Germain e Manchester City. Talvez no mesmo nível de Liverpool, Tottenham, Roma e Manchester United. Mas com um centroavante “World Class”, tudo muda e passa a ter chances de conquistar a quarta Champions consecutiva.
Essa derrota “humilhante” para o rival “menor”, o Atlético, trouxe ao Real Madrid um choque de realidade. Agora não há mais Cristiano Ronaldo para tirar seus coelhos da cartola e “achar” os gols. É preciso que Florentino Pérez abra a carteira e fortaleça seu ataque. Caso contrário, seu time será coadjuvante esse ano.
Três pontos sobre… … Hasan Şaş: o “carequinha” turco
(Imagem: Adwhit.com)
● Toda estreia em Copas do Mundo se torna um jogo complicado emocionalmente. Mas em 03/06/2002, a Seleção Brasileira era franca favorita contra a Turquia. Era uma partida equilibrada e o Brasil jogava ligeiramente melhor. Até que, aos 46 minutos do primeiro tempo, Yıldıray Baştürk fez um lançamento primoroso na esquerda. Mesmo sem muito ângulo, onúmero11, umcarequinha, encheu o pé e estufou as redes de Marcos. No segundo tempo, o Brasil viraria o jogo com Ronaldo e Rivaldo, iniciando com pé direito a caminhada rumo ao pentacampeonato mundial.
E essecareca que fez o gol turco? Quem era ele?
Hasan Şaş tinha suas qualidades, mas aquele foi um verão realmente inesquecível para o turco. Ele estava no ápice, no máximo de seu potencial. Jogava nas laterais do campo como meia ou como ponta, especialmente pelo lado esquerdo. Tinha uma rara velocidade com e sem a bola, boa técnica e um chute preciso de média distância.
(Imagem: Nextews.com)
● Hasan Gökhan Şaş nasceu no dia 01/08/1976, na cidade de Karataş, no sul da Turquia, na costa do Mar Mediterrêneo. Como vários de nós, fugia da escola para jogar bola. Começou como amador no juvenil do Akdeniz Karataşspor’. Se profissionalizou em 1993 no Adana Demirspor, clube da capital da província onde nasceu. Após ter pouquíssimas oportunidades, se transferiu ao Ankaragücü em 1995, onde se destacou. Os grandes clubes do país já estavam de olho no atleta, mas o Galatasaray foi mais competente e o contratou em 1998.
Em fevereiro de 1999, seu exame antidoping testou positivo para o uso de efedrina. Descobriu-se que Şaş tomou o medicamento A-Ferin para combater uma gripe. Com isso, ele recebeu da Federação Turca uma suspensão de seis meses sem jogar. Mas nada que o atrapalhasse em sua crescente carreira.
Fez parte do elenco quando Galatasaray conseguiu suas maiores glórias esportivas, especialmente ao conquistar a Copa da UEFA 1999/2000 e a Supercopa da Europa em 2000, ao vencer o poderoso Real Madrid. Atuou ao lado de ídolos do Gala como Taffarel, Gheorghe Popescu, Bülent Korkmaz, Okan Buruk, Emre Belözoğlu, Ümit Davala, Gheorghe Hagi, Mário Jardel e Hakan Şükür.
Após o Mundial de 2002, Hasan Şaş recebeu várias ofertas do exterior (especialmente de Milan e Arsenal), mas rejeitou todas e reiterou seu compromisso com o Galatasaray. Ele jogaria nos “Aslanlar” (“Os Leões”, em turco) até o fim de sua carreira. É um dos jogadores mais simbólicos na história do clube.
Şaş teve uma grave lesão e atuou poucas vezes em 2008/09. Ao fim da temporada, a diretoria do Galatasaray resolveu não renovar o vínculo do jogador e ele optou por findar sua carreira profissional, mesmo tendo boas propostas do futebol do Qatar e da Arábia Saudita.
(Imagem: Getty Images)
● Fez parte da seleção Sub-21 da Turquia entre 1996 e 1997. Estreou pela seleção principal em 02/04/1997, em uma vitória por 1 x 0 sobre a Holanda, em partida válida pelas eliminatórias da Copa de 1998. Encerrou sua trajetória representando seu país em 07/09/2005, quando venceu a Ucrânia por 1 x 0.
Hasan Şaş anotou dois gols em 40 partidas com a camisa da seleção de seu país. Um deles foi o já citado, contra o Brasil. O outro foi na vitória de 3 x 0 sobre a China, também no Mundial de 2002.
Şaş foi um dos grandes destaques (senão o maior) da grande Turquia que conquistou o 3º lugar naquela Copa. Ele dividia o ataque com seu ex-parceiro de clube Hakan Şükür, mas acabou eclipsando o colega no torneio. Além dos gols, deu duas assistências contra a China e participou do gol contra a Costa Rica.
Ele se destacou bastante, jogando em alto nível. Tanto, que foi eleito para a seleção dos melhores da Copa, compondo o ataque com o brasileiro Ronaldo, o alemão Miroslav Klose e o senegalês El Hadji Diouf.
Após se aposentar, trabalhou como comentarista para a CNN da Turquia e foi auxiliar técnico de Fatih Terim (juntamente com Ümit Davala) no Galatasaray, entre 2011 e 2013. Voltou ao cargo em 2018.
Como homenagem, existe uma rua com seu nome na sua cidade natal, Karataş.
Curiosamente, o gol de Hasan Şaş sobre o Brasil em 2002 apareceu no início do clipe da música “Waka Waka (This Time for Africa)”, interpretada por Shakira para ser tema da Copa do Mundo de 2010.
● Feitos e premiações de Hasan Şaş:
Pela seleção da Turquia:
– 3º lugar na Copa do Mundo de 2002.
Pelo Galatasaray:
– Campeão da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) em 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Europa em 2000.
– Campeão do Campeonato Turco (Süper Lig) em 1998/99, 1999/2000, 2001/02, 2005/06 e 2007/08.
– Campeão da Copa da Turquia (Türkiye Kupası) em 1998/99, 1999/2000 e 2004/05.
– Bicampeão da TSYD Kupası (campeonato de pré-temporada) em 1998/99 e 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Turquia (Turkcell Süper Kupa) em 2009.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito pela FIFA para a seleção da Copa do Mundo de 2002.
– Eleito pela FIFA o 6º melhor jogador da Copa do Mundo de 2002.
– 11º lugar na premiação Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 2002 com 10 pontos.
Três pontos sobre… … 30/07/1966 – Inglaterra 4 x 2 Alemanha Ocidental
(Imagem: FIFA.com)
● Inglaterra e Alemanha Ocidental chegaram à decisão com campanhas similares: duas vitórias e um empate na primeira fase, triunfos contestados sobre sul-americanos nas quartas de final e vitórias de 2 a 1 nas semifinais. Até então, os ingleses possuíam a melhor defesa (apenas um gol sofrido) e os alemães tinham o segundo melhor ataque (13 gols, atrás apenas de Portugal, com 17).
O equilíbrio era reflexo também do estilo de jogo das duas seleções, adeptas do chamado “futebol força”. Como diferencial, os ingleses jogavam em casa, com o estádio Wembley lotado. Os “inventores do futebol” nunca tinham passado das quartas de final em uma Copa do Mundo. Desta vez, jogando em casa, queriam aproveitar a vantagem do mando de campo. Os donos da casa não ganhavam um Mundial desde a Itália, em 1934. Era o momento de o tabu ser quebrado.
A Rainha Elizabeth II e a Duquesa de Kent eram as convidadas de honra no magnífico estádio Wembley, onde 96.924 torcedores foram assistir ao maior jogo da história do futebol inglês. Estava presente também o então primeiro ministro britânico, Harold Wilson.
Era o jogo de nº 200 da história das Copas. A Inglaterra era a favorita. O retrospecto do confronto entre as seleções até então era composto de sete partidas, com seis vitórias inglesas e um empate. A base do time era o West Ham, campeão da Copa da Inglaterra em 1963/64 e da Recopa Europeia em 1964/65, com o zagueiro Bobby Moore, o lateral Ray Wilson, o ponta Martin Peters e o atacante Geoff Hurst. A tabela deu um dia a menos de descanso para os ingleses antes da final. Os alemães jogaram dia 25 e os ingleses, dia 26.
Na primeira fase, a Inglaterra foi líder do Grupo 1 com cinco pontos. Empatou sem gols com o Uruguai e venceu México e França, ambos por 2 a 0. Nas quartas de final, um embate duríssimo e controverso contra os argentinos e vitória por 1 a 0. Depois, bateu com autoridade a grande seleção de Portugal, de Eusébio e Cia., por 2 a 1. Os “inventores do futebol” estavam a 90 minutos da consagração com o inédito título.
Os alemães foram líderes do Grupo 2, goleando a Suíça (5 x 0), empatando com a Argentina (0 x 0) e batendo a Espanha (2 x 1). Na fase seguinte, venceram o Uruguai por 4 x 0. Nas semifinais, acabaram com o sonho soviético ao vencer por 2 a 1. Agora, tentava conquistar de novo a Taça Jules Rimet, que já tinha conseguido em 1954.
O alemão Helmut Schön armou o time visitante em um misto de 4-2-4, mas que defensivamente se assemelhava ao 4-4-2 inglês, com Emmerich voltando mais que de costume e o ótimo Uwe Seeler recuando para armar o jogo, enquanto Haller e Held faziam os lances pelos lados de campo e Overath organizava o jogo pelo meio. O técnico apostou na marcação individual sobre Bobby Charlton. O responsável por isso seria o jovem Franz Beckenbauer, de apenas 20 anos.
Para a decisão, o astro Jimmy Greaves já estava recuperado e sua escalação era pedida pela imprensa local. Mas o técnico Alf Ramsey decidiu pela manutenção do time, com Geoff Hurst no ataque, apostando na força do jogo aéreo e maior presença de área do seu camisa 10. Ball e Peters, como sempre, armavam pelo lado e combatiam o meio campo rival.
O técnico Alf Ramsey até tentou utilizar o sistema 4-3-3, mas, com a lesão de Jimmy Greaves e as más partidas dos pontas na primeira fase, acabou optando pelo 4-4-2. Os grandes destaques eram os meias Martin Peters pela esquerda e o caçula Alan Ball na direita. Eles faziam um bom balanço defensivo e atacavam quando tinham a bola. Foi uma sacada genial de Ramsey, que antecipou uma tendência ao que se vê em muitas equipes em pleno século XXI.
O técnico Helmut Schön escalou a Alemanha Ocidental no sistema 4-2-4, o mais utilizado na época.
● Os primeiros minutos são tensos, com ambas seleções ainda estudando os movimentos do rival. Ninguém facilita o jogo e não há abertura para ataques mais incisivos. Apenas a chamada “trocação”.
A primeira chance de gol é alemã. Uwe Seeler chuta da entrada da área, mas Gordon Banks salta em ponte e faz uma defesa segura.
Instantes depois, Nobby Stiles cruza, Tilkowski corta e Hurst atinge o goleiro e o deixa no chão.
Tilkowski salvou o primeiro gol inglês ao espalmar para escanteio um chute cruzado de Peters.
Dessa vez, Nobby Stiles não marcava individualmente, mas conseguia travar o avanço de Overath. Enquanto Roger Hunt era “engolido” pela marcação de Weber, Höttges apenas tentava acompanhar Hurst e Schulz ficava na sobra. No meio, os gênios Beckenbauer e Bobby Charlton se anulavam em um embate altamente técnico e tático.
Aos doze minutos de jogo, surge o primeiro erro fatal. Held cruza e o lateral Ray Wilson cabeceia, mas corta mal. Helmut Haller recupera a bola e bate cruzado, rasteiro, sem chances para Gordon Banks. Foi o sexto gol de Haller no torneio. A pequena torcida alemã em Wembley comemora. Pela primeira vez na Copa, a Inglaterra está em desvantagem no marcador. É o segundo gol sofrido pelos Three Lions em toda Copa. O técnico Alf Ramsey demonstra tranquilidade. Seus jogadores também estão calmos. Eles sabem o que devem fazer.
Aos 18′, Bobby Charlton escapa de Beckenbauer e toca para Bobby Moore, que é derrubado por Overath. Moore cobra rápido, pegando a defesa alemã desprevenida. Geoff Hurst sobe sozinho e cabeceia para baixo, no canto direito do goleiro. Tilkowski reclama muito de sua defesa, principalmente com a desatenção de Höttges. A seleção anfitriã chegou rapidamente ao empate. Alegria para a torcida inglesa e para Sua Majestade.
(Imagem: FIFA.com)
Ball cruza da esquerda, Bobby Charlton domina e bate de canhota, para uma segura defesa do goleiro alemão.
Bobby Charlton, sempre ele, abre na direita para George Cohen. O lateral cruza da intermediária e Hurst cabeceia no chão, no canto esquerdo. Tilkowski não segura. Ball cruza para o meio da área e Overath chega tirando de lá.
Após um escanteio, Overath chuta, Banks defende, mas dá rebote. Na sobra, Lothar Emmerich chuta para grande defesa de Banks, que sai em seus pés e segura a bola.
No intervalo de jogo, o placar está igual: 1 a 1. O fato de ter saído dois gols antes dos 20 minutos foi uma surpresa, já que todos esperavam uma partida defensiva. Mas os times buscaram o ataque o tempo todo.
Mais tensão ainda no segundo tempo, com oportunidades de gols para os dois lados.
Aos 33 minutos da segunda etapa, escanteio para a Inglaterra. A cobrança é feita e Hurst domina e chuta. Höttges tenta cortar. A bola sobe e cai limpa para Martin Peters emendar de primeira, da risca da pequena área. Foi o primeiro gol do falso ponta esquerda no Mundial. Impossível pensar em uma ocasião melhor. Poderia ser o gol do título. Novamente Wembley vai à loucura. O English Team está a doze minutos do título mundial. Tilkowski novamente fica inconformado pelos espaços dados por sua defesa.
Aos 41′, Emmerich escapa em contra-ataque perigoso, mas Bobby Moore dá um carrinho limpo e preciso, impedindo o gol do ponta esquerda alemão.
A Inglaterra ainda teve a chance de matar o jogo. Em um rápido contra-ataque, Roger Hunt acha Bobby Charlton na entrada da área. O craque vinha na corrida e chutou mascado, para fora. O jogo ainda não tinha acabado. E contra a Alemanha não se pode perder um gol desses. Os alemães são sempre os alemães e eles nunca se entregam.
(Imagem: FIFA.com)
A prova disso viria aos dramáticos 44 minutos do segundo tempo. Jack Charlton faz uma falta desnecessária em Held na intermediária. Os jogadores ingleses tentam gastar tempo reclamando, mas a cobrança é rápida. Emmerich cobra forte e Cohen desvia para cima, no meio da área. Na sobra, Held chuta nas costas do companheiro Schnellinger, a bola passa por Uwe Seeler e Wolfgang Weber chega de carrinho antes de Wilson e Banks para mandar para o gol.
Incrível! A Alemanha Ocidental conseguiu empatar praticamente no último lance do tempo regulamentar. Bobby Charton parece não acreditar. Ele pede toque de mão de Schnellinger no lance, mas a jogada foi legal. Logo depois do novo pontapé inicial, o juiz encerra a partida. Jack Charlton não esconde a irritação. O técnico Alf Ramsey, mais uma vez, se mostra o mais calmo de todos.
● Assim, temos a primeira prorrogação em decisões desde 1934, em Roma.
A torcida inglesa não para um segundo. Além dos cânticos tradicionais, grita o tempo todo: “England! England!”
Seria um duro teste de resistência nos próximos trinta minutos, especialmente para os ingleses, com o moral abalado. Mas antes do início do tempo extra, Alf Ramsey ordenou que todos seus atletas permanecessem em pé antes de a bola voltar a rolar e disse apenas uma coisa ao seu time: “Vocês já venceram uma vez. Agora é só voltar a campo e vencer novamente. Vejam só os alemães. Eles estão liquidados”. De fato, ele estava certo. Beckenbauer diria depois: “Eu estava tão morto na prorrogação que não fiquei triste com a derrota. Estava feliz por acabar com aquele suplício”.
Na dramática prorrogação, a Inglaterra realmente mostra muito mais disposição. Os alemães estão esgotados e parecem não ter mais forças.
Ball arranca pelo meio e chuta da entrada da área. Tilkowski espalma para cima. O goleiro do Borussia Dortmund era bom, mas sempre espalmava e nunca segurava a bola de primeira.
Após a cobrança de escanteio, Bobby Charlton chuta da entrada da área e a bola bate caprichosamente na trave esquerda do arqueiro alemão.
(Imagem: FIFA.com)
Mas ninguém segurava o motorzinho Alan Ball, que passava facilmente pela marcação do ótimo Schnellinger. Aos 11 minutos do primeiro tempo da prorrogação, lançamento bonito de Stiles para o camisa 7, que escapa novamente pela direita e cruza rasteiro. De costas para o gol, Hurst domina, gira em cima de Schnellinger e dispara um tiro seco. A bola bate no travessão e quica sobre a linha antes de ser jogada para escanteio por Weber. Por não terem chances de brigar pelo rebote, Hunt e Hurst preferiram levantar os braços e comemorarem timidamente, tentando induzir a arbitragem a tomar alguma decisão a favor dos ingleses. O árbitro suíço Gottfried Dienst fica na dúvida, mas o bandeirinha soviético Tofik Bakhramov confirma o gol. Foi um lance rápido e dificílimo, que demorou 13 segundos (uma eternidade) para ter ser decidido. Os alemães protestam bastante, mas logo o capitão Uwe Seeler os dispersam para que o jogo recomece logo.
A Inglaterra estava na frente de novo. Até hoje ninguém conseguiu provar se a bola entrou ou não. Mas o resultado faz justiça à Inglaterra, que vinha jogando mais na final e era discutivelmente a melhor seleção de todo o Mundial e merecedora de um lugar na história.
A poucos segundos do fim, quando o árbitro já estava com o apito à boca e alguns torcedores já tinham invadido o campo para comemorar. Bobby Moore, com a maior calma do mundo, chuta para frente, afastando o perigo da defesa. A bola cai com Geoff Hurst, que carrega a bola até a grande área alemã, enquanto o locutor inglês Kenneth Wolstenholme, o mais famoso do país na época, deixou uma célebre frase para a história: “Some people are on the pitch…they think it’s all over….it is now!” (“Algumas pessoas estão no campo … elas pensam que está tudo acabado… agora está!”) Posteriormente o camisa 10 da Inglaterra confessou que sua intenção era chutar essa bola para fora do estádio, a fim de ganhar tempo. Ele errou e a bola foi morrer no ângulo direito, “deixando tudo acabado”, conforme finalizou Wolstenholme. Geoff Hurst é o primeiro (e até hoje o único) jogador a marcar três gols em uma final de Copa do Mundo.
(Imagem: FIFA.com)
● Independente da ajuda da arbitragem nos dois gols decisivos, a Inglaterra era merecidamente campeã mundial de futebol. Os próprios protagonistas afirmam isso:
“Toda vez que algum alemão me pergunta se a bola entrou, respondo apenas que, ainda assim, não iríamos perder aquele jogo.” — Bobby Charlton
“Ainda assim, os ingleses mereceram vencer.” — Wolfgang Weber
“Eles tinham um time excepcional, melhor que o nosso.” — Uwe Seeler
“Apesar da arbitragem, a Inglaterra tinha uma senhora equipe. Foram grandes campeões.” — Wolfgang Overath
O time foi muito bem armado e treinado por Alf Ramsey. Ele, que fez parte do fiasco do English Team na Copa de 1950 como zagueiro, tinha se tornado um grande técnico, capaz de feitos únicos pelo modesto time do Ipswich Town. Ele levou o time à conquista da segunda divisão em 1960/61 e do campeonato da primeira divisão inglesa logo na sequência, em 1961/62. Ele assumiu a seleção em 1963, pensando em mudar tudo que vira até então: em vez do colegiado definir os rumos do futebol no país, como pensava seu antecessor Walter Winterbottom, a direção de tudo caberia ao próprio Ramsey. Também era adepto de rígidos métodos de treinamento físico, que ele imaginava que pudesse fazer a diferença no Mundial. Ao assumir o cargo, o técnico declarou: “A Inglaterra vencerá”. E ele cumpriu o prometido.
Alf Ramsey não entrou no gramado para celebrar e nem para tirar seus atletas, como fizera contra os argentinos. Dizem que ele voltaria ao gramado a noite para dar uma volta de honra no estádio vazio. Ele esperou seus comandados passarem perto do banco de reservas para abraçá-los, um a um.
(Imagem: The Telegraph)
Depois, os atletas subiram até as tribunas, onde Bobby Moore limpou as mãos sujas no calção, estendeu-as à Rainha Elizabeth II e recebeu a Taça Jules Rimet com a humildade do dever cumprido, coroando duas horas e meia de muita emoção, em uma das partidas mais memoráveis da história do futebol. Mas por pouco o capitão não ficou de fora da Copa. A FIFA determinava que apenas jogadores com contratos vigentes poderiam disputar o Mundial. Moore vivia na época um litígio com o West Ham. Felizmente, ele renovou o contrato na véspera da partida de abertura e pôde disputar o torneio normalmente, para o bem do English Team.
Apenas os onze titulares deram a volta olímpica e ganharam medalhas. A injustiça foi reparada no dia 10/06/2009, quando a federação inglesa conseguiu com a FIFA as medalhas para os onze reservas, o treinador, o médico, o preparador físico e o massagista. Todos os sobreviventes e familiares dos falecidos se reuniram na sede do parlamento britânico para receberem o prêmio com 43 anos de atraso.
Ramsey, Bobby Charlton e Geoff Hurst receberiam o título de “Sir”, como “Cavaleiros do Império Britânico” por serem protagonistas na maior conquista da história do futebol inglês.
No final do ano, Charlton seria eleito o melhor jogador do mundo, conquistando a Bola de Ouro da revista France Football. Ele já era a história viva. Em 1958, ainda jovem, tinha sido um dos sobreviventes da “Tragédia de Munique”, um acidente com o avião do Manchester United, que causou a morte de 23 pessoas, incluindo oito jogadores. O craque, que foi reserva na Copa de 1958 e titular em 1962, estava no auge da forma e é considerado até hoje o melhor jogador inglês de todos os tempos.
Curiosamente, a Copa do Mundo de 1966 foi a primeira a ter um mascote. O leão “Willie” representava a força dos ingleses. O mascote fez tanto sucesso que se tornou uma tradição nos Mundiais seguintes.
Em “homenagem” a Tofik Bakhramov, a expressão “Russian Linesman” (bandeirinha russo) é usada até hoje nas arquibancadas do futebol inglês para se referir a um “árbitro amigo”. O auxiliar dá nome ao estádio nacional do Azerbaijão, em Baku, cidade onde nasceu e morreu.
Três pontos sobre… … 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Para chegar na semifinal, a Argentina terminou com 100% de aproveitamento no Grupo A (única chave com quatro seleções, já que os demais só possuíam três equipes), vencendo a França (1 x 0), México (6 x 3) e Chile (3 x 1).
Os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar no grupo D, vencendo a Bélgica e o Paraguai pelo mesmo placar de 3 a 0. O principal trunfo dos norte-americanos era contar com cinco jogadores que haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América.
Na quarta-feira, dia 23 de julho, a FIFA promoveu um sorteio para definir os adversários das semifinais. Havia 33% de chances de a sonhada decisão entre Uruguai e Argentina ocorrer nas semifinais. Era um risco enorme.
As bolinhas foram numeradas da seguinte forma: 1 para a Argentina; 2 para os Estados Unidos; 3 para o Uruguai; 4 para a Iugoslávia. Jules Rimet, que presidia a cerimônia, convidou um jornalista presente para sortear a primeira bolinha, que foi a número 1, da Argentina.
A tensão era enorme. Sob intensa expectativa, outro jornalista tirou a bolinha número 2, dos Estados Unidos. Ufa! Todos respiraram aliviados.
Esse sorteio também definiu a ordem dos jogos: Argentina x Estados Unidos seria no sábado e Uruguai x Iugoslávia, no domingo. Em caso de empate, haveria uma prorrogação de 15 minutos, dividida em dois tempos de sete minutos e meio. Se o empate persistisse, haveria uma segunda prorrogação, nos mesmos moldes. Se mesmo assim não houvesse um vencedor, haveria um jogo extra. Se esse jogo também terminasse empatado, no tempo normal e nas prorrogações, o vencedor sairia por meio de sorteio.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Os norte-americanos suportaram razoavelmente bem a pressão argentina no primeiro tempo, mas o centromédio Ralph Tracey fraturou a perna ainda aos 19 minutos de jogo e não conseguiu retornar após o intervalo.
Luisito Monti abriu o placar logo no minuto seguinte, aproveitando que não tinha mais a marcação de Tracey.
Antes dos 15 minutos do segundo tempo, foi a vez de o goleiro Jimmy Douglas se lesionar, deslocando o ombro.
Daí para frente, praticamente com dois homens a mais e com o adversário sem um goleiro em plena forma, a Argentina não teve dificuldades para atropelar e anotar mais cinco gols em sequência.
Quando os americanos perdiam por 3 a 0, o médio esquerdo Andy Auld sofreu um profundo corte no lábio inferior. O técnico Robert Millar, que também fazia as vezes de médico, pegou a maleta de medicamentos e correu para o campo. Na pressa, a maleta se abriu e vários frascos de remédio se quebraram, inclusive a garrafa de clorofórmio, que vazou no gramado. Ao inalar o líquido entorpecente, Millar acabou desmaiando e teve que ser carregado para fora do gramado por seus jogadores. O atleta americano que tinha se contundido acabou se recuperando sozinho, sem qualquer atendimento.
Nada daria certo para os americanos naquele dia.
De forma incontestável, a Argentina garantia sua vaga para a final.
Para os EUA, ter chegado tão longe já era motivo de orgulho. É até hoje a melhor classificação dos ianques na história das Copas.
A tabela original não previa a disputa do terceiro lugar, mas o Comitê Organizador sugeriu a ideia.
Porém, ainda irritados com a arbitragem considerada “excessivamente parcial” do brasileiro Gilberto de Almeida Rego, os iugoslavos se recusaram a enfrentar os Estados Unidos.
Assim, como não houve decisão do 3º lugar, a Iugoslávia dividiu essa colocação na classificação com os Estados Unidos. Na verdade, os dois países que caíram nas semifinais ficaram rigorosamente empatados em tudo, exceto que a Iugoslávia sofreu um gol a mais no geral.
Em muitas publicações esportivas, os americanos aparecem sozinhos em terceiro lugar, com base no critério não oficial de saldo de gols.
Algumas fontes, como um boletim da FIFA de 1984, afirmam que houve, sim, uma partida pelo 3º lugar, vencida por 3 x 1 pela Iugoslávia. Essa informação nunca foi oficialmente confirmada.
Três pontos sobre… … 23/07/1966 – Portugal 5 x 3 Coreia do Norte
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Ambas seleções estreavam em Copas do Mundo.
Portugal não era uma surpresa. Era uma seleção em afirmação no cenário mundial. Tinha terminado o Grupo 3 com 100% de aproveitamento, vencendo Hungria (3 x 1) e Bulgária (3 x 0), além de eliminar diretamente o bicampeão Brasil na última rodada (vitória lusa por 3 x 1). Os patrícios tinham uma equipe coesa, que superava seus problemas defensivos com uma fortíssima (e violenta) marcação. Além disso, possuía o melhor jogador do mundo na época, o moçambicano Eusébio, eleito Bola de Ouro de 1965 pela revista France Football.
Ninguém conhecia a seleção da Coreia do Norte, principalmente por causa de seu fechado sistema político que perdura até os dias atuais. A Coreia já tinha causado surpresa na primeira fase. Começou perdendo para a União Soviética por 3 a 0 e empatando com o Chile por 1 a 1. Mas, na última rodada, fez o mundo inteiro ficar de queixo caído ao vencer a toda-poderosa Itália por 1 a 0. Se classificou em segundo lugar do Grupo 4, atrás apenas dos soviéticos.
De qualquer forma, mesmo em igualdade de condições a partir do mata-mata, os asiáticos eram considerados azarões.
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
A Coreia do Norte jogava no 4-2-4, com muita correria e velocidade.
● Os norte-coreanos começaram o jogo com muita personalidade. Com poucos segundos jogados, o meio campo rouba a bola e em apenas dois passes cria a primeira chance de gol. Han Bong-zin avança pela ponta direita e rola para a entrada da área. Pak Seung-zin chuta de primeira. A bola bate no travessão e entra. O goleiro português nem se mexe. Surpresa geral. O começo letal e em alta velocidade deixou todos boquiabertos em Liverpool.
Portugal pressionava. Mas aos 22 minutos, um novo contra-ataque rápido da Coreia resulta no segundo gol. Yang Seung-kook evita a saída da bola pela linha de fundo e cruza da esquerda. Na pequena área, o goleiro José Pereira afasta mal e Li Dong-woon emenda de primeira para as redes.
Era difícil de acreditar. A maioria da torcida presente no estádio era pela seleção asiática. E essa torcida começou a gritar: “We want three!” (“Nós queremos três!”) Foi atendida três minutos depois. Yang Seung-kook avançou pelo meio, entrou na área, trombou com a marcação e chutou no canto direito.
Os portugueses estavam perplexos. A defesa que tinha sofrido apenas dois gols na primeira fase, tinha acabado de tomar o terceiro em apenas 25 minutos. Eusébio diria, a respeito desse jogo: “No primeiro gol, pensei na derrota da Itália. No segundo gol, achei que a coisa estava ficando perigosa. No terceiro gol, pensei: ‘a Itália não conseguiu fazer nenhum gol neles… complicou!'”
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Foi só a partir desse momento que Portugal colocou a bola no chão, respirou e correu atrás do prejuízo. O craque Eusébio chamou a responsabilidade para si e acabaria se tornando o herói da partida. Ele jogou a Copa com a camisa nº 13 a contragosto, mas o número parece ter dado sorte a ele. Dois minutos depois do terceiro gol coreano, ele diminuiu a diferença. José Augusto rolou a bola para a área e Eusébio apareceu antes de dois zagueiros e do goleiro, mandando no alto do gol.
Aos 43 minutos, passe de Eusébio para Torres. O centroavante grandalhão foi derrubado na área por Shin Yung-kyoo. O árbitro israelense Menachem Ashkenazi apontou para a marca penal. Eusébio cobrou no alto, no canto direito e voltou a dar esperança de classificação a seu país. Com apenas um gol de diferença contra, os europeus voltaram para o jogo.
O goleiro Lee Chang-myung fez grandes defesas e evitou a virada dos ibéricos ainda na primeira etapa. Mas, com Eusébio naquela forma esplendorosa, seria inevitável.
Sem experiência, o time asiático não conseguiu sustentar sua enorme vantagem no segundo tempo e continuou jogando no ataque. Mas nenhuma equipe do mundo conseguiria manter esse ritmo de correria alucinante. Os coreanos, que haviam corrido muito até então em todo o Mundial, começaram a sentir mais ainda o desgaste físico.
Por sua vez, Portugal tocava a bola, se aproveitando da técnica mais apurada. Enquanto Eusébio brilhava individualmente, seu conterrâneo, o também moçambicano Mário Coluna, o capitão e camisa 10, marcava, organizava, lançava, criava e finalizava. Outra grande estrela daquela seleção lusa.
Aos 11 minutos da etapa complementar, Simões lançou Eusébio pela direita. Do bico da pequena área, o camisa 13 disparou e tocou por cobertura. Um golaço! Era o empate! Incrível!
A virada veio apenas três minutos depois. Eusébio arrancou em velocidade pela esquerda e enfileirou dois marcadores. Ao invadir a área, foi derrubado infantilmente por Lim Zoong-sun. Pênaltis eram uma das especialidades de Eusébio. Ele cobrou com força, no alto, à direita, e colocou Portugal em vantagem pela primeira vez na partida. Era o quarto gol de Eusébio, igualando o recorde de gols marcados em uma partida de Copa do Mundo.
Mas “Os Magriços” só descansaram mesmo ao anotarem o quinto gol, a dez minutos do fim. Coluna cobrou escanteio para a área, Torres escorou de cabeça e José Augusto, sozinho na pequena área, cabeceia para o gol e põe fim às movimentações no placar. Fim de jogo: Portugal 5 x 3 Coreia do Norte.
(Imagem: AP / PA Archive / Press Association Images)
● Certamente esse foi um dos jogos mais emocionantes e dramáticos da história dos Mundiais. É a segunda maior virada da história das Copas, atrás apenas de Suíça 5 x 7 Áustria, em 1954.
Nessa partida, Eusébio, o “Pantera Negra” se tornou o quinto jogador a marcar quatro gols em uma partida de Copa do Mundo. Os outros foram o polonês Ernest Wilimowski (Polônia 5 x 6 Brasil, em 1938), o brasileiro Ademir de Menezes (Brasil 7 x 1 Suécia, em 1950), o húngaro Sándor Kocsis (Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental, em 1954) e o francês Just Fontaine (França 6 x 3 Alemanha Ocidental, em 1958). Em diversas localidades, esse feito é chamado de “Pôquer” ou “Quatrilho”.
Após a eliminação do Brasil, a Coreia do Norte herdou o ônibus que transportava a Seleção, ainda com a expressão “Brazilian Football Team” pintada na lateral. Não deu muita sorte. Assim como os brasileiros, os coreanos também foram eliminados pelos portugueses jogando em Liverpool.
Curiosamente, o comitê organizador do Mundial decidiu não executar nenhum hino nacional antes das partidas, como sempre foi o protocolo. O Reino Unido não tinha relações diplomáticas com a Coreia do Norte e não tocaria o hino do país em seu território. Assim, decidiram não tocar nenhum. Os hinos só começaram a ser executados após a eliminação dos norte-coreanos.
Em sua primeira Copa do Mundo, Portugal estava merecidamente entre os quatro melhores e enfrentaria a anfitriã Inglaterra nas semifinais.
Mas, curiosamente, quando o árbitro apitou o final da partida, a seleção da Coreia do Norte que foi aplaudida de pé pelos 40.248 presentes no estádio Goodson Park. O conto de fadas norte-coreano chegava ao fim. Eles exibiram um belo e envolvente futebol. Chegaram entre os oito melhores do Mundial, feito que só seria superado pela co-irmã Coreia do Sul em 2002.
Três pontos sobre… … 20/07/1966 – Inglaterra 2 x 0 França
(Imagem: Getty Images)
● A Inglaterra estreou com um horrível empate sem gols com o Uruguai. Depois, bateu o México por 2 a 0 em uma partida fraca, com um futebol previsível e pouca inspiração ofensiva. Um empate contra os franceses garantiria o primeiro lugar do Grupo A.
Por sua vez, a França estreou empatando com o México por 1 a 1, na primeira vez que os mexicanos não estrearam perdendo em uma Copa do Mundo. Na sequência, os franceses perderam para o Uruguai por 2 a 1, de virada. Agora, precisariam vencer os donos da casa para ter chances de avançar.
Para os ingleses, não bastava organizar a Copa do Mundo. Era preciso conquistá-la para reafirmar sua “supremacia”. Os “inventores do futebol” ainda procuravam a melhor formação de seu ataque. Martin Peters já havia conquistado sua vaga na ponta esquerda, no lugar de John Connelly. Mas na ponta direita, o técnico Alf Ramsey estava na terceira tentativa, dessa vez sacando Terry Paine e colocando Ian Callaghan (ainda hoje quem mais vestiu a camisa do Liverpool, com 857 jogos em 18 anos).
Mas aquela linha de frente só duraria essa partida. Mais ofensivo que Paine, Callaghan fez tudo que um ponta deveria fazer à época: avançar, driblar, ir à linha de fundo e cruzar. Mas era pouco para o técnico Alf Ramsey. Ele queria pontas que fizessem a recomposição no meio de campo, quando o time não tivesse a posse de bola. Por mais que a França não ameaçaria em momento algum, a partida foi usada para observações. Quis o destino que esse fosse o jogo certo para o English Team definir de uma vez seus onze titulares.
O técnico Alf Ramsey ainda insistia em utilizar o sistema 4-3-3, em sua terceira tentativa. Dessa vez, Ian Callaghan foi escalado na ponta direita, mas não fez uma boa partida.
Henri Guérin escalou a França no sistema 4-2-4.
● Como diria Mauro Beting no livro “As Melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”, assim como o confronto bélico entre ingleses e franceses que ocorreu entre 1337 e 1453, essa partida “lembrou a Guerra dos Cem Anos: muita luta e desinteligência (mas sem deslealdade). E pareceu levar um longo tempo para acabar…”
A seleção francesa era fraca tecnicamente. Talvez uma das piores de sua história. Precisava da vitória para tentar a classificação, mas entrou em campo sem Néstor Combin, ainda machucado. Para piorar, o meia Robert Herbin se lesionou logo nos primeiros minutos e foi fazer número no ataque, já que não eram permitidas substituições à época. Les Bleus teriam que segurar os ingleses em Wembley com um jogador a menos.
A Inglaterra era muito melhor, mas confundia velocidade com afobação.
Aos 28 minutos de jogo, Jimmy Greaves chegou a mandar a bola para as redes, mas o assistente tcheco Karol Galba anulou o gol.
Esse mesmo bandeirinha seria fundamental para que o placar fosse aberto em Wembley. Aos 38 do primeiro tempo, Nobby Stiles disputa a bola na área. A zaga afasta nos pés de Jimmy Greaves, que cruza de primeira. Jack Charlton cabeceia livre no segundo pau, a bola bate na trave e sobra para Roger Hunt mandar para as redes. Os zagueiros Marcel Artelesa e Robert Budzynski reclamam veementemente de impedimento, mas o árbitro peruano confirmou o gol.
Curiosamente, Jack, o irmão mais velho do craque Bobby Charlton só chegou à seleção inglesa aos 30 anos, um ano antes dessa Copa. Jogou por 21 anos no Leeds United. Era veloz, ofensivo e aproveitava muito bem seu 1,91 m de altura. Do irmão mais novo, só tinha a fisionomia e a falta de cabelo. Com a bola nos pés, eram completamente desiguais. Não se combinavam fora de campo. Mas os dois foram fundamentais para a caminhada dos Three Lions no Mundial em casa.
Aos 16′ do segundo tempo, outro gol inglês anulado. Em jogada muito bem treinada, a bola alta na segunda trave encontrou Hunt, que ajeitou de cabeça para Bobby Charlton vir de trás e finalizar. Dessa vez, um impedimento absurdo, anotado pelo assistente búlgaro Dimitar Rumenchev.
Os ingleses ampliaram o marcador naturalmente, aos 30 minutos da etapa final. Bobby Charlton (mais uma vez o melhor em campo), desarmou o lateral rival e cruzou para a área. A defesa francesa bateu cabeça e Callaghan cruzou para Roger Hunt cabecear sozinho na pequena área. A cabeçada foi em cima do goleiro Marcel Aubour, que não conseguiu segurar. Dois gols de Roger Hunt, ainda hoje o segundo maior goleador da história do Liverpool, com 286 gols.
Os franceses contestaram também esse segundo gol, pois pediam que o jogo fosse paralisado para atendimento médico a Jacques Simon, duramente atingido por Nobby Stiles. Foi realmente uma entrada criminosa. Tanto, que a FIFA lhe deu uma advertência e o técnico Ramsey recebeu uma mensagem de sua federação questionando se “era mesmo necessário continar escalando Stiles”. Por uma questão de princípios, evitando interferência externa, e também porque sabia da importância do volante do Manchester United, o treinador ameaçou se demitir no meio do Mundial. Stiles era fundamental e continuaria sendo.
É completamente injusta a história de que a Copa estava “arranjada” para que a Inglaterra a conquistasse. Por diversas vezes naquele Mundial (principalmente na primeira fase), os ingleses foram duramente prejudicados por decisões equivocadas dos árbitros. Assim, chegamos à conclusão de que não era a intenção de beneficiar a seleção local: a arbitragem era realmente péssima, errando para todos os lados. Nessa partida mesmo, foram validados dois gols duvidosos e anulados dois gols legítimos.
Nos 90 minutos, a Inglaterra mandou no jogo. Criou nove chances de gol e a França apenas quatro. O placar só ficou em 2 a 0 porque a Inglaterra era um time que tinha pressa, mas não pensava.
(Imagem: Scoopnest)
● A França terminou em último lugar do grupo, com um empate e duas derrotas.
A vitória classificou o English Team como primeiros colocados do Grupo A. Enfrentariam a boa seleção da Argentina, que também estava invicta e tinha sido segunda colocada no Grupo B, atrás da Alemanha Ocidental apenas nos critérios de desempate.
Mas Alf Ramsey queria que o time rendesse mais. A equipe estava jogando pouco e se achando muito. Para se consolidar como favorita, precisava jogar mais bola.
Com a recuperação do lesionado Alan Ball e a manutenção de Martin Peters como titular, Ramsey teria pontas que fazem a recomposição, como ele tanto queria. Assim, contra a Argentina nas quartas de final, o técnico teria seu “4-4-2 ideal”. Mas, como uma providência divina, o astro Jimmy Greaves se machucou. Ele era o queridinho da imprensa e torcida. Era talentoso, mas não ajudava taticamente a equipe. Seu substituto seria Geoff Hurst, que até então só tinha cinco jogos pelos Three Lions. Era menos espetacular que Greaves, mas era mais forte fisicamente e mais capacitado para ganhar as disputas pelo alto, segurar a bola e fazer o papel de pivô. Como veremos no próximo dia 30/07, essa simples mudança alterou os rumos da história do futebol mundial.
Três pontos sobre… … 19/07/1966 – Portugal 3 x 1 Brasil
(Imagem: Fernando Amaral FC)
● Era o encontro mais aguardado da primeira fase. Na cidade de Liverpool, no estádio Goodison Park, do Everton, 58.479 pessoas iriam assistir ao encontro de duas das melhores equipes da década. O Brasil do Rei Pelé enfrentaria Portugal, do “príncipe” Eusébio, o “Pantera Negra”.
No Brasil, o otimismo era intenso e inveterado, contaminando torcida, imprensa e jogadores. Ninguém seguraria a Seleção, com Pelé e Garrincha ainda mais experientes que nas duas Copas anteriores. A revista Realidade chegou a publicar uma reportagem de capa prevendo como o Brasil conquistaria o tri.
A preparação brasileira foi uma enorme festa. O técnico Vicente Feola montou um grupo deveras inchado, com 47 jogadores, que se exibiu em cinco cidades brasileiras antes de embarcar para a Inglaterra. Além disso, a preparação física feita por Rudolf Hermanny, especialista em judô, se mostraria um enorme fiasco.
Dessa forma, o Brasil se tornou uma mescla mal feita entre alguns craques bicampeões nas duas Copas anteriores, com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito, Garrincha e Pelé, além de jogadores que viriam a encantar o mundo em 1970, como Brito, Gérson, Tostão e Jairzinho. Várias unanimidades ficaram fora da lista final, como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Servílio e outros.
Em compensação, Portugal chegou voando ao Mundial, tendo como base a equipe do Benfica, bicampeã da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) no início da década. Treinada pelo brasileiro Otto Glória, Portugal tinha uma ótima equipe a partir do meio campo. Todos os jogadores da linha de frente vestiam a gloriosa camisa encarnada: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões. O “calcanhar de Aquiles” era o fraco sistema defensivo, que compensava com virilidade e violência.
Estreante em Copas do Mundo, “Os Magriços”*¹ começaram a competição com tudo, ao vencer a forte Hungria por 3 a 1. Na segunda rodada, inapelavelmente bateu a Bulgária por (baratos) 3 a 0. Assim, estava praticamente assegurado na fase seguinte, faltando apenas a confirmação matemática.
O Brasil começou bem, vencendo uma frágil Bulgária por 2 a 0, na última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção. Eles nunca perderam atuando juntos. Foram 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Curiosamente os dois gols contra os búlgaros foram em cobranças de falta diretas, um anotado pelo Rei e outro por Mané.
A Seleção estava invicta em Copas do Mundo havia 13 partidas, desde a derrota para a Hungria em 1954. Mas todas as fragilidades ficaram claras com a quebra de invencibilidade na segunda rodada, uma derrota por 3 a 1 para a mesma Hungria. (Curiosamente, Djalma Santos participou dessas duas partidas.) Com uma equipe lenta, especialmente no sistema defensivo, a Seleção foi presa fácil para a ótima geração húngara, que tinha Flórián Albert e Ferenc Bene como destaques. Pelé não jogou, lesionado. Essa foi a despedida de Garrincha com o escrete canarinho e sua única derrota em um total de 60 partidas.
Assim, para conseguir a vaga na próxima fase sem depender do resultado do jogo entre Hungria e Bulgária, o Brasil precisaria bater os portugueses por três gols de diferença, por causa do critério de desempate “goal average” (número de gols marcados divididos entre o número de gols sofridos).
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
Vicente Feola escalou o Brasil no sistema 4-2-4.
● Pela necessidade de mudança de postura e de resultados, o técnico Vicente Feola simplesmente “surtou” e promoveu nada menos que nove mudanças em relação à partida anterior. Só Jairzinho e Lima foram mantidos como titulares. O capitão Bellini foi barrado, com a justificativa de que não tinha mais o mesmo vigor. Mas, como veremos, nem Brito e tampouco Orlando seriam capazes de parar Eusébio no auge da forma. Ele estava voando. Ele despontou para o futebol ainda garoto, jogando em Moçambique (seu país natal) e foi indicado ao Benfica pelo brasileiro Bauer, vice-campeão do mundo em 1950.
A reformulada e desentrosada defesa brasileira errou bastante, permitindo várias chances para o adversário. Rildo chegou a tocar a bola com o braço dentro da própria área, mas o árbitro inglês não marcou a penalidade máxima. O grande goleiro Manga falhou feio duas vezes, permitindo dois gols lusos.
A boa notícia era o retorno de Pelé, que não estava no melhor de sua forma física depois de ser alvo da violência dos búlgaros e ficar fora contra os húngaros. Desde o início, a defesa lusa fazia de tudo para pará-lo, de qualquer forma – especialmente com faltas repetidamente violentas, cometidas principalmente pelos zagueiros Morais e Vicente. O árbitro George McCabe ignorava as sucessivas agressões ao Rei.
Mas a Seleção não deixou por menos. Após uma cobrança de falta de Pelé, o goleiro José Pereira faz uma defesa segura e o atacante brasileiro Silva Batuta entrou feio, empurrando o goleiro português para dentro do gol. O tempo fechou e os patrícios reclamaram muito com a arbitragem.
Melhor em campo desde o início, Portugal inaugurou o marcador aos 15 minutos de partida. Eusébio escapou pela ponta esquerda e cruzou para a área. Manga, nervoso, espalmou feio para cima e o baixinho Simões cabeceou para o gol.
Aos 27, Coluna cobrou falta, o gigante Torres (1,91 m) ganha da zaga pelo alto e escora para Eusébio. Mesmo marcado por Orlando, o “Pantera” consegue cabecear para o gol. A bola vai em cima de Manga, que não consegue fazer a defesa. Era o segundo gol luso.
Dois minutos depois, Pelé recebeu duas entradas criminosas no mesmo lance. A segunda foi do zagueiro Morais, que tirou o Rei da partida. Ele voltou para o jogo no segundo tempo, mas apenas mancava em campo, fazendo número na ponta esquerda enquanto conseguiu, já que não eram permitidas substituições à época. Com um jogador a menos e Eusébio jogando o fino da bola, ninguém acreditava mais em um resultado diferente. Muito menos os brasileiros.
O Brasil só descontaria aos 25 minutos do segundo tempo, em um de seus raros ataques. Rildo invade a área e chuta cruzado e rasteiro, no canto esquerdo do goleiro José Pereira. Naquela altura, o Brasil precisaria de mais quatro gols, pois a Hungria estava vencendo a Bulgária por 3 a 1 (placar que se manteria até o fim).
No final da partida, Eusébio cobrou uma falta com um chute fortíssimo e Manga foi no ângulo desviar para escanteio. Depois, o mesmo Eusébio foi até a linha de fundo e chutou sem ângulo, para outra bela e difícil defesa de Manga.
No escanteio oriundo dessa jogada, a cinco minutos do fim, a esquadra lusa jogou a última pá de cal sobre o Brasil. Coluna cobrou escanteio, Torres ganhou de Brito pelo alto e escorou de cabeça para Eusébio chegar como uma flecha e emendar de primeira, do bico da pequena área. E o placar de 3 a 1 se manteve até o apito final.
Portugal venceu e convenceu contra o Brasil. A impressão que se tinha era da “troca de reis”: o fim de Pelé e o início do reinado de Eusébio.
Após a partida, todos os portugueses queriam cumprimentar e consolar Pelé. Mas não tiveram pena nenhuma do camisa 10 durante os 90 minutos.
(Imagem: PA Photos / Otherimages / Época / Globo)
● Com essa derrota, o super Brasil, bicampeão em 1958 e 1962, estava vergonhosamente eliminado ainda na fase de grupos. O que parecia um grupo fácil, se enfrentado com seriedade, se tornou um dos maiores vexames da Seleção em Copas do Mundo. Era a terceira (e, por enquanto, última) vez que o Brasil caía na primeira fase de um Mundial. Foi assim também em 1930 e 1934.
Assim, terminava de forma incontestável a esperança do tricampeonato, que seria adiado por mais quatro anos.
Foi o fim da carreira do treinador Vicente Feola. Ele não conseguiu montar um time-base nem mesmo durante a disputa da Copa. Dos 22 convocados, 20 foram utilizados nas três partidas, sendo que ainda não eram permitidas substituições na época.
Desgostoso com o excesso de violência e com o fiasco brasileiro no Mundial, Pelé disse que nunca mais disputaria uma Copa do Mundo. Por sorte do universo do futebol, ele mudou logo de ideia.
Portugal terminou o Grupo 3 com 100% de aproveitamento. Nas quartas de final, teria uma partida teoricamente fácil contra a surpreendente Coreia do Norte.
(Imagem: Footy Fair)
● FICHA TÉCNICA:
PORTUGAL 3 x 1 BRASIL
Data: 19/07/1966
Horário: 19h30 locais
Estádio: Goodison Park
Público: 58.479
Cidade: Liverpool (Inglaterra)
Árbitro: George McCabe (Inglaterra)
PORTUGAL (4-2-4):
BRASIL (4-2-4):
3José Pereira (G)
12 Manga (G)
17 João Morais
3 Fidélis
20 Alexandre Baptista
5Brito
4Vicente
7 Orlando (C)
9 Hilário
9Rildo
16 Jaime Graça
13 Denílson
10 Mário Coluna (C)
14 Lima
12 José Augusto
17 Jairzinho
13 Eusébio
19 Silva Batuta
18 José Torres
10 Pelé
11 António Simões
21 Paraná
Técnico: Otto Glória
Técnico: Vicente Feola
SUPLENTES:
1Américo (G)
1Gylmar (G)
2Joaquim Carvalho (G)
2Djalma Santos
22 Alberto Festa
4Bellini
21 José Carlos
6Altair
5Germano
8Paulo Henrique
14 Fernando Cruz
15 Zito
19 Custódio Pinto
11 Gérson
6Fernando Peres
16 Garrincha
7Ernesto Figueiredo
18 Alcindo Bugre
8João Lourenço
20 Tostão
15 Manuel Duarte
22 Edu
GOLS:
15′ António Simões (POR)
27′ Eusébio (POR)
70′ Rildo (BRA)
85′ Eusébio (POR)
*¹ “Os Magriços”
Era o apelido da seleção de Portugal que terminou a Copa do Mundo de 1966 em 3º lugar.
O apelido é baseado em Álvaro Gonçalves Coutinho, que era apelidado de “O Magriço”.
Álvaro era um cavaleiro português do século XIV que, juntamente com outros onze colegas, viajou para a Inglaterra para participar de um torneio para defender a honra de doze damas inglesas ofendidas por doze nobres, também ingleses.
Como essas damas não conseguiam encontrar cavaleiros na Inglaterra dispostos a lutar por suas respectivas honras, doze cavaleiros lusitanos partiram para essa luta, já que o povo português era conhecido em toda a Europa por serem defensores a honra.
A história é famosa e contada por Luís de Camões no canto VI de seu livro “Os Lusíadas”, mas é de veracidade duvidosa.
Antes da partida, a Bolívia tentou ganhar a simpatia e o apoio da torcida uruguaia. Cada jogador trazia uma letra gigante costurada na camisa e quando fizessem a formação do time para a clássica foto antes do jogo, seria escrita a frase “Viva Uruguay”. A ideia era que os quatro atletas agachados formassem a palavra “VIVA” e os sete dispostos em pé formassem “URUGUAY”.
Todavia, no momento de entrar em campo, um dos três que portavam a letra “U” teve uma indisposição gástrica e ficou um tempo a mais no vestiário.
Mesmo assim a foto foi tirada, mostrando seis bolivianos em pé e a palavra “URUGAY“. Na época, foi um fato pitoresco. Se fosse atualmente, talvez aquele “gay” resultasse em um incidente diplomático.
Pouco depois foi feita a fotografia com a formação completa.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Apesar da gafe, a Bolívia começou bem a partida, resistindo à qualidade do ataque da Iugoslávia. Mas, no final do primeiro tempo, com a partida ainda empatada sem gols, o ponta direita Gumersindo Gómez, o melhor do time, fraturou a perna direita.
Jogando toda a segunda etapa com dez, os sul-americanos foram massacrados. Além de sofrerem quatro gols, ainda viram a bola bater quatro vezes em suas traves.
Aos 15 minutos, Ivan Bek fez o primeiro. Aos 20′, Blagoje Marjanović ampliou. Dois minutos depois, Bek fez seu segundo no jogo e o terceiro dos europeus. O placar foi fechado a cinco minutos do fim, com gol de Đorđe Vujadinović.
Curiosamente, o técnico da seleção boliviana, Ulises Saucedo (que era treinador na Inglaterra) também trabalhou árbitro na Copa. Ele apitou Argentina 6 x 3 México. Outro técnico, Constantin “Costel”, da Romênia, foi bandeirinha na mesma partida e também no jogo entre Argentina 1 x 0 França.
Três pontos sobre… … 16/07/1994 – Suécia 4 x 0 Bulgária
(Imagem: Getty Images)
● Na véspera da final da Copa do Mundo, três dias depois de perder nas semifinais, a Suécia retornou ao estádio Rose Bowl, em Pasadena, para enfrentar a Bulgária pela disputa do terceiro lugar. As duas seleções tinham se classificado para a Copa no mesmo grupo das Eliminatórias europeias, deixando a França de fora.
A Suécia empatou com Camarões na estreia por 2 a 2. Depois, venceu a Rússia por 3 a 1. Segurou o Brasil e empatou por 1 a 1. Nas oitavas de final, bateu a surpreendente Arábia Saudita por 3 a 1. Nas quartas de final, fez um jogo proibido para cardíacos, com muito equilíbrio, contra a Romênia, empatando por 1 a 1 no tempo normal, outro 1 a 1 na prorrogação, e vencendo por 5 a 4 nas penalidades máximas. Nas semifinais, parou no futuro campeão Brasil, caindo com um magro e digno 1 a 0.
A Bulgária estreou perdendo por 3 a 0 para a Nigéria. Depois, goleou a Grécia por 4 a 0 e surpreendeu vencendo a Argentina por 2 a 0. Nas oitavas, precisou dos pênaltis (3 x 1) para passar pelo México após o empate por 1 a 1. Nas quartas, eliminou a então campeã mundial, Alemanha, vencendo de virada por 2 a 1. Nas semi, vendeu caro a derrota por 2 a 1 para Itália de Roberto Baggio.
Apesar da igualdade de condições, suecos e búlgaros apresentavam ânimos diferentes para o confronto. Enquanto os nórdicos passavam a sensação de aceitação por terem perdido para a melhor equipe do torneio (Brasil), o selecionado do leste europeu parecia remoer o erro de arbitragem que resultou em sua desclassificação.
Na semifinal, quando a Itália já vencia a Bulgária por 2 a 1 e Roberto Baggio tinha sido substituído por lesão, Kostadinov pediu pênalti por um toque de mão do zagueiro Alessandro Costacurta na linha lateral da grande área. Porém, o trio de arbitragem mandou o jogo seguir. Foi um pênalti claro, que poderia ter mudado o rumo do jogo e até a história da competição. “Deus é búlgaro, mas o juiz é francês (Joël Quiniou). Estamos entre os quatro melhores do mundo, mas deixamos de jogar a final entre os dois melhores por causa do juiz”, disse Stoichkov, numa alusão à desclassificação da França diante da Bulgária nas Eliminatórias.
A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.
A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).
● Quem esperava um duelo equilibrado viu uma Bulgária apática e desmotivada.
Nesse cenário de terra devastada, a seleção do leste europeu não ofereceu nenhuma resistência e a Suécia abriu o placar aos oito minutos. Ingesson foi à linha de fundo e cruzou. Mikhailov e a defesa búlgara ficaram no meio do caminho e Tomas Brolin cabeceou para o gol aberto.
A seleção escandinava aproveitou a catarse búlgara e, vendo que os adversários não ofereciam resistência, começou a empilhar gols.
Com meia hora de jogo, Brolin sofreu falta. Ele cobrou rápido e tocou para Mild, que pegou a defesa desprevenida e tocou por cima do goleiro.
Sete minutos depois, Brolin, o melhor em campo, lançou nas costas da defesa. O rastafári Henrik Larsson ganhou de Ivanov na corrida, entrou na área, driblou o goleiro, parou a jogada deixando Ivanov no chão, e tocou para o gol vazio. Larsson teve sangue frio. Um belo gol.
Aos 40′, Schwarz ergueu a bola para a área da intermediária. Antes da marca do pênalti, o gigante Kennet Andersson ganhou no alto de Mikhailov, que saiu mal do gol. Era o quarto da Suécia, que transformava a apatia do oponente em goleada. A Bulgária já estava cansada depois de tantas batalhas.
Cada bola que os suecos lançavam para a área era sinônimo de tormento para o técnico búlgaro Dimitar Penev. Ele se irritou profundamente e queimou logo todas as substituições ainda antes do pontapé inicial do segundo tempo.
Trocou inclusive seu goleiro, tirando o capitão Borislav Mikhailov e colocando em campo o reserva Plamen Nikolov. Era a terceira vez na história das Copas que um goleiro foi substituído sem estar lesionado. A primeira foi Mwamba Kazadi, do Zaire, em 1974. No jogo contra a Iugoslávia, ele saiu aos 22 minutos, quando seu time perdia por 3 a 0. A partida terminou 9 a 0. A segunda vez foi em 1994 mesmo. O sul-coreano Choi In-young pediu pra ir embora no intervalo do confronto diante da Alemanha, quando sua equipe perdia por 3 a 0. No segundo tempo, com Lee Woon-jae no gol, os asiáticos reagiram e diminuíram para 3 a 2.
Um dos substituídos naquela partida, Trifon Ivanov, falou mais sobre isso: “Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não queria. Eu nunca vou me esquecer do gol de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.
Os suecos, que abriram 4 a 0 em 45 minutos, sabiam que a medalha de bronze dificilmente escaparia, e deixaram passar o segundo tempo. Mas continuou criando chances. Kennet Andersson fez um lançamento de 40 metros, Larsson avançou sozinho (de novo), mas dessa vez Nikolov defendeu com os pés, impedindo um placar ainda mais elástico.
A Bulgária, sem forças, só tinha um objetivo: fazer de Hristo Stoichkov o artilheiro isolado da Copa, já que até então ele tinha os mesmos seis gols do russo Oleg Salenko. Assim, todas as jogadas eram preparadas para ele finalizar. Nenhuma deu resultado efetivo. Na chance mais clara, parou em boa defesa de Ravelli.
Além disso, Balakov ainda perdeu dois gols feitos, na pequena área. Em uma delas, Ravelli não conseguiu segurar um chute de longe e soltou a bola nos pés do camisa 20 que, incrivelmente, conseguiu acertar a trave de dentro da pequena área. Foi a melhor chance búlgara no jogo.
Sem contar que o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, ainda anulou um gol de Emil Kostadinov por impedimento.
Faltando poucos minutos para o fim da partida, o goleiro sueco Thomas Ravelli fazia piruetas em campo. Enquanto sua seleção prendia a bola no campo de ataque, o arqueiro divertia a multidão com acrobacias.
(Imagem: Stephen Dunn / All Sports / Getty Images)
● Na entrevista, o técnico búlgaro Dimitar Penev resmungou: “Este jogo não deveria existir”, se referindo às decisões do terceiro e quarto lugar em uma Copa do Mundo.
Mas a Bulgária já estava no lucro por ter chegado tão longe, que nem parecia incomodada com a goleada sofrida. Estar entre os quatro melhores era muito mais do que poderiam sonhar. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Mas restou o consolo de ter realizado sua melhor campanha em um Mundial. Além disso, emplacou Krasimir Balakov e Hristo Stoichkov na seleção do torneio. Pelo lado sueco, Tomas Brolin, o “Boneco Assassino”, também esteve entre os melhores da Copa.
Foi a melhor classificação sueca na história das Copas, depois do vice-campeonato de 1958, quando foram anfitriões. A goleada, além de render o terceiro lugar, deixou os Vikings com o melhor ataque de toda a Copa, com 15 gols marcados em sete jogos (média de 2,14 por partida), mais que os finalistas Brasil (11) e Itália (8).
Mesmo perdendo feio no último jogo, os integrantes da delegação búlgara foram recebidos como heróis na volta à pátria.
Um dos destaques da seleção escandinava, Martin Dahlin anotou quatro gols na Copa, mas não foi escalado na decisão do terceiro lugar. Além dos gols e do talento, o camisa 10 se destacava também por ser o único negro em uma equipe toda composta por loiros branquíssimos. Dan Martin Nathaniel Dahlin é filho de uma sueca e de um venezuelano.
O goleiro búlgaro Mikhailov foi notícia por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele tinha prometido que, se a Bulgária superasse a Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas a Itália venceu.
Dos 22 jogadores convocados pela Bulgária, apenas seis tinham nomes que não terminavam em “ov”: Kremenliev, Houbchev, Genchev, Iliev, Georgiev e Mikhtarski.