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… 16/07/1966 – Portugal 3 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 16/07/1966 – Portugal 3 x 0 Bulgária


(Imagem: Lance!)

● Havia muita expectativa para a estreia de Portugal em Copas do Mundo. A base do time era o Benfica, bicampeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) em 1960/61 e 1961/62. Toda a linha de frente da seleção lusa era benfiquista: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões.

Nas eliminatórias europeias, Portugal passou apertado em um grupo muito equilibrado e precisou superar seleções mais tradicionais como Tchecoslováquia, Romênia e Turquia. Mas a campanha de quatro vitórias, um empate e uma derrota qualificou os Tugas para a primeira Copa do Mundo de sua história.

Por sua vez, a Bulgária teve maior dificuldade para se qualificar para o Mundial. Terminou empatada com a Bélgica na liderança do Grupo 1 e precisou disputar um jogo-extra. Em Florença, na Itália, Georgi Asparuhov marcou os dois gols em vitória por 2 x 1 que garantiram Os demônios da Europa no Mundial de 1966.

Em um grupo fortíssimo, os búlgaros eram meros azarões. Era a segunda Copa do Mundo que o país disputava, a segunda seguida. Em 1962, caiu na primeira fase, com um empate e duas derrotas.


Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.


A Bulgária jogava no sistema 4-2-4 convencional.

● Em sua estreia em Copas do Mundo, Portugal venceu a Hungria por 3 x 1. A Bulgária havia perdido para o Brasil por 2 x 0 em sua primeira partida.

Os búlgaros precisavam da vitória para continuarem com chance de classificação. Por isso, o técnico austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil (o mesmo que levou a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962) escalou um time mais ofensivo. Mas Portugal fez um gol logo no início e atrapalhou todos os seus planos.

Aos sete minutos de partida, Jaime Graça abriu na esquerda para o grandalhão José Torres. Ele cortou a marcação de Dimitar Penev e cruzou da linha de fundo. Ivan Vutsov não percebeu que não havia nenhum português por perto, se apavorou e mergulhou, desviando de cabeça contra as próprias redes.

Dobromir Zhechev, que havia enchido Pelé de porrada no primeiro jogo, agora era incumbido de fazer o mesmo com Eusébio. Mas enquanto o brasileiro tentou resolver tudo sozinho e levava mais pancadas, Eusébio foi inteligente e passou a cair pelas pontas, arrastando Zhechev e abrindo espaços para a infiltração de José Augusto pelo meio.

Aos 17′, uma cabeçada de Torres acertou o travessão.

Aos 23′, no melhor momento da Bulgária no jogo, Asparukhov carimbou a trave direita do goleiro José Pereira.

Mas Portugal jogava melhor e tinha um time muito melhor.

O segundo gol saiu aos 38′. António Simões carregou a bola pelo meio e fez o passe na medida para Eusébio virar e bater rasteiro. A bola foi no canto direito do goleiro Georgi Naydenov, que chegou a tocar, mas não conseguiu evitar o gol. Foi o primeiro dos nove gols que tornaria Eusébio o artilheiro do Mundial.

No segundo tempo, a Bulgária não conseguia ficar com a posse de bola e muito menos atacar. O técnico Vytlačil compreendeu que não teria muitas chances e posicionou seu time mais na defensiva.

Portugal finalizou oito vezes e a Bulgária só uma, em um chute de Asparukhov que passou muito perto. O camisa 9 batalhava sozinho no ataque búlgaro, mas não tinha sucesso.

Aos 36′ do segundo tempo, Hilário deu um chutão para a frente e a defesa búlgara falhou. Vutsov desistiu da jogada e Torres correu atrás da bola. Boris Gaganelov tentou recuar para o goleiro, mas Torres chegou antes e completou para o gol.


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● No dia anterior, a Seleção Brasileira tinha sido derrotada pela Hungria por 3 x 1. A vitória sobre os búlgaros deixou os portugueses em ótima situação, a ponto de poder até perder para o Brasil na última rodada que, ainda assim, se classificaria. A segunda vaga ficaria entre Brasil e Hungria, sendo que o Brasil precisaria vencer Portugal por uma boa diferença de gols se quisesse continuar sonhando com o tricampeonato e os húngaros entrariam em campo um dia depois dos brasileiros, já sabendo do resultado que iria precisar ao enfrentar a eliminada Bulgária.

Na última rodada, a Bulgária foi derrotada pela Hungria por 3 x 1 e ficou na lanterna do Grupo 3. Os magiares ficaram com a segunda colocação no grupo e enfrentariam a União Soviética nas quartas de final.

A seleção portuguesa continuou sua história no Mundial de 1966 vencendo a Seleção Brasileira por 3 x 1 e eliminando os bicampeões mundiais. Com a liderança da chave, os lusos enfrentaram a Coreia do Norte nas quartas de final e venceram espetacularmente de virada por 5 x 3, depois de estarem perdendo por 3 x 0 após 25 minutos de partida. Nas semifinais, vendeu caro a derrota para a Inglaterra, dona da casa, por 2 x 1. Conquistou o histórico 3º lugar ao vencer a União Soviética por 2 x 1.

O treinador de campo era o brasileiro Otto Glória, mas a seleção portuguesa era escolhida por Manuel da Luz Afonso, ex-dirigente do Benfica. Ele foi o selecionador nacional de 1964 a 1967. Para o Mundial de 1966 ele convocou oito atletas do Sporting (campeão português da temporada 1965/66), sete do Benfica, três do Porto, dois do Belenenses, um do Leixões e um do Vitória de Setúbal. Inclusive, foi Afonso quem escolheu Otto Glória, do Sporting, como treinador.

Curiosamente, quatro dos titulares da seleção das Quinas eram nascidos em Moçambique: Vicente, Hilário, Coluna e Eusébio.


(Imagem: Alamy Stock Photo)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 3 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 16/07/1966

Horário: 15h00 locais

Estádio: Old Trafford

Público: 25.438

Cidade: Manchester (Inglaterra)

Árbitro: José María Codesal (Uruguai)

 

PORTUGAL (4-2-4):

BULGÁRIA (4-2-4):

3  José Pereira (G)

1  Georgi Naydenov (G)

22 Alberto Festa

2  Aleksandar Shalamanov

5  Germano

5  Dimitar Penev

4  Vicente

3  Ivan Vutsov

9  Hilário

4  Boris Gaganelov (C)

16 Jaime Graça

6 Dobromir Zhechev

10 Mário Coluna (C)

13 Dimitar Yakimov

12 José Augusto

7  Dinko Dermendzhiev

13 Eusébio

9  Georgi Asparuhov

18 José Torres

10  Petar Zhekov

11 António Simões

16 Aleksandar Kostov

 

Técnico: Otto Glória

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

1  Américo (G)

21 Simeon Simeonov (G)

2  Joaquim Carvalho (G)

22 Ivan Deyanov (G)

17 João Morais

18 Evgeni Yanchovski

20 Alexandre Baptista

19 Vidin Apostolov

21 José Carlos

20 Ivan Davidov

14 Fernando Cruz

12 Vasil Metodiev

19 Custódio Pinto

8  Stoyan Kitov

6  Fernando Peres

15 Dimitar Largov

7  Ernesto Figueiredo

17 Stefan Abadzhiev

8  João Lourenço

14 Nikola Kotkov

15 Manuel Duarte

11 Ivan Kolev

 

GOLS:

7′ Ivan Vutsov (POR) (gol contra)

38′ Eusébio (POR)

81′ José Torres (POR)

 

ADVERTÊNCIAS:

70′ Eusébio (POR)

70′ Dinko Dermendzhiev (BUL)

Melhores momentos da partida:

… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária


(Imagem: Pinterest)

● No país do futebol, a desordem imperava. Os cartolas estavam convencidos de que o futebol que o Brasil jogava era imbatível. João Havelange, presidente da CBD, foi também o chefe da delegação brasileira na Inglaterra. Ele depôs o antigo dono da função, o Dr. Paulo Machado de Carvalho, por divergências sobre a escolha do técnico da Seleção. Enquanto o Dr. Paulo queria manter Aymoré Moreira, técnico de 1962, Havelange bateu o pé que deveria ser Vicente Feola, treinador em 1958. E Havelange resolveu sozinho.

Feola era mais influenciável e, sem o escudo do Dr. Paulo, o técnico perdeu a autoridade e sofreu pressão para agradar ao máximo os dirigentes dos times brasileiros, com a política de apadrinhamento dos jogadores. Ao todo, foram 47 convocados de quinze clubes diferentes para os treinos preparatórios. Isso mesmo: mais de quatro times completos! Havia tantos jogadores que o Brasil chegou a realizar dois amistosos no mesmo dia, em 08 de junho (vitórias por 3 x 1 sobre Peru e 2 x 1 sobre a Polônia).

Essa convocação foi tão ridícula, que, em certo momento, um dirigente da CBD ponderou que havia pouca gente do Corinthians. Então outro cartola sugeriu o nome do zagueiro Ditão. Mas na hora de datilografar a lista oficial, era necessário o nome completo do jogador e ninguém sabia. Perguntaram a um jornalista que, sem saber o que estava se passando, forneceu o nome de Ditão do Flamengo, que também era zagueiro e era irmão do corintiano. Sem saber o que fazer e para não piorar mais as coisas, a comissão técnica preferiu manter o Ditão do Flamengo mesmo.

A convocação inicial anunciada pela CBD em 10 de maio tinha 45 jogadores: os goleiros Gylmar (Santos), Manga (Botafogo), Valdir de Moraes (Palmeiras), Ubirajara (Bangu) e Fábio (São Paulo); os laterais Djalma Santos (Palmeiras), Fidélis (Bangu), Carlos Alberto Torres (Santos), Murilo (Flamengo), Paulo Henrique (Flamengo), Rildo (Botafogo) e Edson Cegonha (Corinthians); os zagueiros Bellini (São Paulo), Orlando Peçanha (Santos), Altair (Fluminense), Brito (Vasco), Djalma Dias (Palmeiras), Roberto Dias (São Paulo), Fontana (Vasco), Leônidas (América-RJ) e Ditão (Flamengo); os meio-campistas Denílson (Fluminense), Lima (Santos), Gérson (Botafogo), Zito (Santos), Dino Sani (Corinthians), Dudu (Palmeiras), Fefeu (São Paulo) e Oldair (Vasco); e os atacantes Garrincha (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Alcindo (Grêmio), Silva Batuta (Flamengo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Edu (Santos), Paraná (São Paulo), Servílio (Palmeiras), Flávio Minuano (Corinthians), Ivair (Portuguesa), Paulo Borges (Bangu), Nado (Náutico), Célio (Vasco), Parada (Botafogo) e Rinaldo (Palmeiras).

Posteriormente, esse número inchou ainda mais com dois outros nomes. Pela primeira vez foram convocados jogadores que atuavam no exterior: o ponta direita Jair da Costa, da Inter de Milão, e o ponta de lança Amarildo, do Milan. Ambos estavam no elenco campeão mundial em 1962.

Os atletas foram divididos em quatro times: branco, azul, verde e grená. Mas não havia nenhuma regra. Eles treinavam juntos, mas nos amistosos eram todos misturados. Devido à pouca transparência da comissão técnica, havia uma alta carga de tensão entre os jogadores nos treinos coletivos, pois mais da metade deles seriam cortados às vésperas do Mundial.

A primeira lista de dispensa saiu dia 16 de junho, com 19 nomes. O corte mais criticado foi o do lateral direito Carlos Alberto Torres. Para sua posição, acabaram viajando o veterano Djalma Santos e Fidélis – jogador muito limitado, mas que jogava no Bangu, time do supervisor Carlos Nascimento.

Já na Europa, os últimos cinco cortes aconteceram onze dias antes da estreia: o goleiro Valdir, o zagueiro Fontana, o volante Dino Sani e os atacantes Amarildo e Servílio – sendo que Servílio vinha se mostrando a melhor opção para fazer dupla com Pelé. Zito viajou mesmo lesionado e praticamente sem chances de entrar em campo. “Carlos Alberto e Djalma Dias colocariam no bolso três ou quatro dos preferidos para a inscrição na FIFA”, disse Dino Sani.


(Imagem: Pinterest)

Mas a ordem era clara: a CBD planejava fazer o maior número possível de tricampeões. Gylmar (prestes a completar 36 anos), Djalma Santos (37), Bellini (36), Orlando (31), Zito (quase 34) e Garrincha (quase 33). Aquela geração de craques estava no ocaso de suas carreiras e era preciso renovar. Não foi feito um planejamento para essa transição. Dos bicampeões, só Pelé era mais jovem, com 25 anos. Em compensação, craques inexperientes faziam o contrapeso aos mais idosos. Tostão tinha 19 anos e Edu, ponta esquerda do Santos, tinha 16 – ele é até hoje o mais jovem a ser convocado pela Seleção Brasileira para uma Copa do Mundo, mas não chegou a entrar em campo na Inglaterra.

Se a preparação para 1958 e 1962 foi pautada pelo sossego de cidades aconchegantes, em 1966 foi completamente ao contrário. A Seleção que seria tricampeã precisava ser exibida e treinou em oito cidades diferentes: Lambari, Caxambu, Três Rios, Teresópolis, Niterói, Amparo, Campinas e Serra Negra. Depois disso, ainda fez amistosos em um tour de duas semanas na Europa.

Outra das principais críticas se devia à preparação física. Rudolf Hermanny era responsável, mas não tinha nenhuma experiência no futebol. Seu foco e conhecimento era o condicionamento de atletas de judô, o que acabou comprometendo a equipe brasileira. Com a metodologia de Hermanny, os jogadores ficavam desgastados mais rapidamente e sem fôlego ainda no primeiro tempo.

Soberba, a imprensa brasileira ignorava os problemas. Até que no dia 07 de julho, o jornal gaúcho Correio do Povo publicou reportagens bastante pessimistas sobre o destino da Seleção na Copa, alertando para a presença de jogadores sem preparo físico ou psicológico para a disputa de um Mundial. “Se os brasileiros encararem a realidade, vão perceber que o tricampeonato só virá por milagre”, disse Ernesto Santos, um dos grandes estudiosos de futebol da história do país e olheiro da Seleção.

Antes da Copa, um jornalista disse a Pelé que os Beatles adoravam futebol e queriam fazer um show exclusivo para os jogadores brasileiros. Pelé foi conversar com Feola e Nascimento, mas o supervisor técnico foi logo negando: “O que, aqueles garotos cabeludos? Olha, vocês, rapazes, estão aqui para jogar futebol, não para ouvir rock n’roll. Não vou permitir”.


Ambas as equipes jogavam no sistema 4-2-4.

● Os onze jogadores que entraram em campo naquele dia, no estádio Goodson Park, nunca haviam jogado juntos. Jairzinho nunca tinha jogado na ponta esquerda e ocupava essa posição, para Garrincha se manter na ponta direita. A faixa de capitão foi devolvida a Bellini. Mas a principal mudança era tática. Nas duas Copas anteriores, a Seleção se acostumou com o recuo voluntário do ponta esquerda Zagallo para auxiliar na marcação. Mas agora, o Brasil jogava com quatro atacantes de ofício, sobrecarregando o trabalho de Denílson, único volante marcador. O coringa Lima era coadjuvante no grande time do Santos, mas não tinha características de ser o cérebro do time, como foi escalado para ser diante da Bulgária.

Garrincha estava em um declínio físico acentuado e era titular apenas pelo nome. Para a comissão técnica brasileira, os adversários seriam levados a acreditar que precisariam de dois ou três para marcá-lo, abrindo espaço para os demais atacantes.

Depois da contusão que o tirou da maior parte da Copa de 1962, Pelé estava disposto a mostrar que ainda era o “Rei do Futebol”.

O técnico da Bulgária era o austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil, que havia conduzido a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962. Ele sabia que não poderia das espaços para o Brasil. Por isso, ele entrou com um time mais defensivo e agressivo na marcação – no pior sentido da palavra. Desde o primeiro minuto ele deixou claro que seu time faria de tudo para afastar Pelé da área.

Aos 14′, Jairzinho dominou na ponta esquerda e tocou para o Rei, que foi derrubado por Dimitar Yakimov na meia-lua. Essa era a quarta falta dos búlgaros, sendo a terceira em Pelé. Ele mesmo ajeitou a bola e aproveitou uma barreira mal formada, com apenas quatro homens, e bateu a falta com força, rasteiro e no canto direito. O goleiro Georgi Naydenov tocou na bola, mas não conseguiu impedir o gol.

Com esse tento, Pelé se tornou o primeiro jogador a marcar gols em três edições de Copa. Oito dias depois, esse feito seria igualado pelo alemão Uwe Seeler.

Foi o primeiro gol da Copa, já que o jogo de abertura entre Inglaterra e Uruguai havia terminado 0 x 0.

O lance deu a falsa impressão de que o Brasil ganharia com facilidade, mas não foi o que aconteceu. O Brasil até criou algumas oportunidades, mas nenhuma tão clara o suficiente para passar algum susto em Naydenov.

Pelé fez ótima jogada pela ponta esquerda, passou como quis por dois marcadores, mas cruzou em cima do arqueiro búlgaro.

Djalma Santos fez o lançamento para o meio, Lima escorou de cabeça e Alcindo, já dentro da área, dominou errado e não conseguiu finalizar.

Logo depois, uma bela tabela entre Dimitar Yakimov e Ivan Kolev é interrompida por um desarme primordial de Denílson.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

Pelé cansou de tanto apanhar e entrou com as travas da chuteira sobre Ivan Vutsov. Era lance para expulsão, mas o árbitro alemão Kurt Tschenscher era mesmo um bananão.

Jairzinho tabelou com Pelé, se infiltrou pelo meio da área e bateu cruzado, mas Naydenov defendeu bem.

Mas, no segundo tempo, Dobromir Zhechev deu uma entrada criminosa em Pelé, que o fez ficar fora da partida seguinte, diante da Hungria.

Lima tocou para Alcindo no meio. O Bugre tabelou com Pelé, que devolveu por cima da defesa. O centroavante recebeu batendo, mas Naydenov fez a defesa.

O goleiro Gylmar não precisou fazer nenhuma defesa durante os noventa minutos.

A única chance búlgara foi uma bola recuada de cabeça por Bellini, que escapou das mãos do goleiro brasileiro. Mas o perigoso Georgi Asparuhov não teve paciência para encontrar o melhor ângulo para o chute e finalizou para fora.

Mesmo marcado por três jogadores, Pelé fez boa jogada próximo à meia-lua e a bola sobrou para Alcindo chutar para fora.

O segundo gol do Brasil também saiu de uma bola parada, mostrando que o time não estava tão bem.

Garrincha foi derrubado por trás perto da área, naquela que foi a 17ª falta cometida pelos búlgaros até então. Ele mesmo bateu de trivela e acertou uma bomba, com curva, no ângulo esquerdo do goleiro búlgaro. Seria seu último gol com a camisa canarinho.

Garrincha ainda tinha seus pequenos lances de brilho, mas claramente já não era nem sombra do jogador de quatro anos antes, no Chile. Seus problemáticos joelhos já não permitiam a tradicional arrancada rumo à linha de fundo. Ele acabou por fazer pouco, além do gol.

Próximo ao fim da partida, Pelé recebeu lançamento na intermediária, ele avançou em velocidade, se livrou da marcação e bateu firme, mas Naydenov fez uma defesa sensacional.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

● Ninguém poderia prever, mas essa foi a última vez em que Pelé e Garrincha jogariam juntos pela Seleção Brasileira. Coincidentemente, a primeira vez em que eles atuaram junto também foi diante da Bulgária, com vitória por 3 x 0 no estádio Pacaembu, no dia 18/05/1958, em amistoso preparatório para a Copa do Mundo de 1958.

Em 40 partidas, a Seleção Brasileira nunca perdeu com Pelé e Garrincha jogando juntos. Foram 40 jogos, com 36 vitórias e quatro empates. Juntos, eles marcaram 55 gols: 44 de Pelé e 11 de Garrincha. E, mesmo sem Pelé, Garrincha só perderia aquele que seria seu último jogo oficial pela Seleção: a partida seguinte, a derrota por 3 x 1 para a Hungria. Foram 60 jogos de Mané pelo escrete canarinho, com 52 vitórias, sete empates e só essa derrota.

O Brasil se preocupou mais com seu passado do que com a competição que estava por vir. Convocou vários ex-campeões, mas, ao invés de estarem respeitando a história desses craques, os expunham a condições que seus físicos já não mais suportavam. Faltou a humildade e o planejamento que sobrou nas duas Copas anteriores.

As partidas seguintes eram as mais difíceis do grupo e iriam mostrar as deficiências do time de Vicente Ítalo Feola. Foram duas derrotas por 3 x 1, para Hungria e Portugal, respectivamente.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 12/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 47.308

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental)

 

BRASIL (4-2-4):

BULGÁRIA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Georgi Naydenov (G)

2  Djalma Santos

2  Aleksandar Shalamanov

4  Bellini (C)

5  Dimitar Penev

6  Altair

3  Ivan Vutsov

8  Paulo Henrique

4  Boris Gaganelov

13 Denílson

6 Dobromir Zhechev

14 Lima

8  Stoyan Kitov

16  Garrincha

7  Dinko Dermendzhiev

18 Alcindo Bugre

9  Georgi Asparuhov

10 Pelé

13 Dimitar Yakimov

17 Jairzinho

11 Ivan Kolev

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Manga (G)

21 Simeon Simeonov (G)

3  Fidélis

22 Ivan Deyanov (G)

5  Brito

18 Evgeni Yanchovski

7  Orlando

19 Vidin Apostolov

9  Rildo

20 Ivan Davidov

15 Zito

12 Vasil Metodiev

11 Gérson

15 Dimitar Largov

22 Edu

17 Stefan Abadzhiev

19 Silva Batuta

10  Petar Zhekov

20 Tostão

14 Nikola Kotkov

21 Paraná

16 Aleksandar Kostov

 

GOLS:

15′ Pelé (BRA)

63′ Garrincha (BRA)

 

ADVERTÊNCIAS:

Dobromir Zhechev (BUL)

Ivan Kolev (BUL)

Denílson (BRA)

Gols e alguns lances da partida:

Lances da partida e comentários do ex-jogador Lima:

… 10/07/1994 – Bulgária 2 x 1 Alemanha

Três pontos sobre…
… 10/07/1994 – Bulgária 2 x 1 Alemanha


(Imagem: Getty Images)

● Recém unificada, a Alemanha vinha de três finais de Copa do Mundo consecutivas (1982, 1986 e 1990) e chegou ao Mundial de 1994 com um time ainda melhor do que o campeão quatro anos antes. O técnico era Berti Vogts, que havia sido auxiliar de Franz Beckenbauer entre 1986 e 1990. O time base era praticamente o mesmo, reforçado com atletas que vinham da antiga Alemanha Oriental, como o meio campo Matthias Sammer e o centroavante Ulf Kirsten. Com isso, os alemães eram os maiores favoritos à conquista da Copa, ao lado de Brasil e Argentina.

O bom goleiro Bodo Illgner era garantia de segurança na meta. A defesa tinha Jürgen Kohler, com o craque Lothar Matthäus jogando como líbero. Thomas Helmer e Guido Buchwald se revezavam nas posições de zagueiro e volante. O interminável Thomas Berthold jogava pela direita e Martin Wagner era o ala pela esquerda. O rápido e criativo Thomas Häßler era o armador pela direita e o habilidoso Andreas Möller era o meia pela esquerda – diante dos búlgaros, eles inverteram a posição. O ataque era o mesmo de 1990: o oportunista Jürgen Klinsmann e o matador Rudi Völler. No banco, destaques para o jovem goleiro Oliver Kahn, veterano Andreas Brehme e o artilheiro Karl-Heinz Riedle.

Na estreia, uma frustrante vitória por um magro 1 x 0 sobre a frágil Bolívia começou a levantar suspeitas sobre a capacidade dos alemães. E tudo ficou ainda pior depois do empate em 1 x 1 com a mediana seleção da Espanha. Na terceira partida, a Mannschaft estava vencendo a Coreia do Sul por 3 x 0 e deixou os asiáticos diminuírem para 3 x 2. Nesse jogo, os germânicos suaram frio para manter a vitória, apesar dos 46º C – a maior temperatura já registrada em um jogo de Copa. Aos 30′ do segundo tempo dessa partida, o meia Stefan Effenberg foi substituído e mostrou o “dedo médio” para os torcedores que o cobriam de vaias. No dia seguinte, Vogts expulsou o meia da delegação. Nas oitavas de final, venceu a Bélgica por 3 x 2, com a dupla de ataque sendo decisiva, com dois gols de Völler e um de Klinsmann. O favoritismo era enorme diante dos búlgaros.


(Imagem: Getty Images)

● Na época, a Bulgária ocupava a obscura 31º colocação no ranking da FIFA. Se qualificou em segundo lugar no grupo 6 das eliminatórias europeias, um ponto atrás da Suécia. A classificação veio em uma vitória de virada sobre a França em pleno estádio Parc des Princes. Eric Cantona abriu o placar, mas Emil Kostadinov marcou dois gols, sendo o segundo no último lance da partida. O milagre búlgaro começava em Paris.

Os Demônios da Europa (apelido da seleção búlgara) viajaram aos Estados Unidos com o melhor elenco de sua história. O goleiro era o experiente capitão Borislav Mikhailov. No miolo de zaga, Petar Hubchev era o escudeiro do lendário Trifon Ivanov, o “Lobo Búlgaro”. Na lateral direita, Iliyan Kiryakov ganhou a vaga do ex-titular Emil Kremenliev. Tsanko Tsvetanov era o lateral esquerdo. Zlatko Yankov era o único volante do time. A criatividade ficava por conta dos meias Yordan Letchkov e Krasimir Balakov. O ataque tinha Nasko Sirakov pelo centro, sempre se movimentando para abrir espaços para Emil Kostadinov pela direita e para o genial Hristo Stoichkov pela esquerda. No banco, destaque para os meias Daniel Borimirov e Ivaylo Yordanov. A ausência sentida era do atacante Lyuboslav Penev, que havia marcado três gols nas eliminatórias, mas precisou se afastar do futebol no início de 1994 após descobrir um câncer no testículo (ele retomaria a carreira com sucesso meses depois).

Mesmo com uma boa equipe, os búlgaros chegavam ao Mundial com um retrospecto desolador. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, a Bulgária nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Nada dizia que seria diferente em 1994, ao ser goleada logo na estreia pela Nigéria por 3 a 0. Mas a partir do segundo jogo, tudo mudou. Vitórias sobre a Grécia por 4 x 0 e Argentina (já sem Maradona) por 2 x 0 garantiram os balcânicos na segunda colocação do Grupo D. Nas oitavas de final, empatou com o México no tempo normal por 1 x 1 e venceu por 3 x 1 na decisão por pênaltis, quando o goleiro Mikhailov defendeu duas cobranças para dar a vaga nas quartas de final ao seu país, onde enfrentaria a favoritíssima Alemanha.


(Imagem: Twitter @FIFAWorldCup)

● Mas, pelo que ambos vinham jogando, uma vitória búlgara não seria a maior zebra do mundo. A seleção treinada pelo ex-zagueiro Dimitar Penev estava em evolução. E o favoritismo dos alemães era apenas pelo histórico, pelos jogadores mais renomados e pela “Mentalität” – a mentalidade vencedora natural e própria dos alemães, um conceito da pseudociência protonazista da superioridade do estado mental alemão, que foi amplamente utilizado pelos técnicos do futebol do país para conseguirem fazer seu time se sobressair nas maiores vitórias de sua história, especialmente por Sepp Herberger diante da Hungria em 1954 e por Helmut Schön diante da Holanda em 1974.

Mas a Alemanha chegava cheia de problemas para a partida, principalmente no meio de campo. Effenberg já não estava mais no elenco. Mário Basler havia pedido dispensa para cuidar da esposa que vivia complicações na gravidez. Matthias Sammer estava sofrendo com lesões (como quase sempre). Assim, Berti Vogts precisou apostar na recuperação física de Lothar Matthäus e pelo fim do imbróglio contratual de Thomas Häßler com a Roma.

Pelo lado búlgaro, o elenco comemorava uma vitória fora do campo. Depois de uma longa queda de braço, os dirigentes da federação do país aceitaram pagar um prêmio de US$ 15 mil a cada jogador em caso de vitória sobre a Alemanha. “O assunto está resolvido. Domingo, vamos vencer”, assegurava o otimista Hristo Stoichkov.


A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).


A Alemanha jogava em seu tradicional 3-5-2, com Matthäus como líbero.

● A partida ocorreu no Giants Stadium, em East Rutherford, mesmo palco em que a Bulgária havia eliminado o México cinco dias antes.

A Bulgária começou a partida de forma mais cautelosa, na defesa. E a Alemanha não conseguiu criar nenhuma chance clara nos primeiros minutos. Era um duelo equilibrado. Mas aos poucos os dois times foram se soltando.

O primeiro lance de perigo foi quando Stoichkov invadiu a área pela direita e rolou para trás, mas Balakov acertou o pé da trave.

Mas os alemães responderam à altura com ataques verticais. Häßler bateu de longe e Mikhailov segurou com tranquilidade.

Häßler jogou muita bola naquele dia. Ele cruzou da direita e Klinsmann finalizou com um peixinho à queima-roupa que Mikhailov defendeu em cima da linha.

Klinsmann ganhou uma dividida e tocou para Völler, que deixou Ivanov sentado após um drible e chutou fraco para fora.

Illgner saiu jogando com Möller, que tocou para Buchwald, que deixou com Matthäus. Da linha central, o camisa 10 fez um lançamento preciso para a grande área. Klinsmann virou batendo bonito, mas a bola foi por cima do gol.

Nos primeiros 45 minutos, os alemães tiveram uma ligeira superioridade, mas o placar se mantinha zerado. Mas tudo mudou na volta do intervalo.

Logo no primeiro lance do segundo tempo, Wagner fez o lançamento de sua intermediária, Buchwald ganhou de cabeça de Ivanov e Klinsmann dominou dentro da área. Esperto, ele esperou o contato de Letchkov e se jogou. O árbitro colombiano José Torres Cadena marcou a penalidade. Lothar Matthäus bateu com categoria. Ele esperou Mikhailov pular para o lado direito e bateu firme à meia altura no canto esquerdo. Alemanha, 1 a 0.

Mas, apenas seis minutos depois, o ala esquerdo Martin Wagner sofreu um choque de cabeça, ficou desacordado e teve que sair para a entrada de Thomas Strunz. Wagner estava muito bem na partida e sua saída desestruturou a defesa alemã e deixou o meio campo mais lento.

Com isso, liderada por Balakov, a Bulgária passou a coordenar as ações no meio e a jogar no campo de ataque.

Mesmo com a pressão búlgara, a Alemanha teve chances de matar a partida antes da metade do segundo tempo.

Häßler deu um belo chute de fora da área e Mikhailov salvou com a ponta dos dedos.

Aos 28′, Thomas Häßler – sempre ele – dominou pela ponta esquerda, cortou para o meio e tocou para Möller. Da entrada da área, o camisa 7 chutou na trave. Na sobra, Völler dominou e bateu para o gol vazio, mas a arbitragem já havia sinalizado o impedimento do centroavante alemão.


(Imagem: Rick Stewart / All Sport)

Assim como nas partidas anteriores, os alemães sofreram muito com o calor do meio-dia e pregaram no segundo tempo. E, como diz aquele velho ditado: “Quem não faz…”

Yankov abriu na direita com Kiryakov, que cruzou. A bola desviou em Thomas Strunz e foi pela linha de fundo. Balakov bateu o córner e Buchwald escorou de cabeça para fora da área. Stoichkov dominou de costas e cavou a falta, após receber o contato de Möller. A bola estava posicionada um pouco à direita da meia lua, em lugar perfeito para a canhota calibrada do camisa 8. Hristo Stoichkov bateu com perfeição e a bola encobriu a barreira. Bodo Illgner nem se mexeu. Era o merecido empate, a quinze minutos do fim.

“Na hora em que ajeitei a bola para bater a falta, me lembrei que era o dia do aniversário da minha filha, Michaela. Ela está fazendo seis anos e, em questão de segundos, pensei que um gol seria uma grande lembrança para ela ter em sua vida. Aí me concentrei e chutei. Não houve nada de especial. A bola simplesmente foi direto para o gol.” ― Hristo Stoichkov

A mãe do astro do Barcelona teve um princípio de infarto ao assistir pela TV o golaço do filho.

A Bulgária se empolgou com o empate e continuou no ataque. E a virada veio três minutos depois.

Möller errou o passe no campo de ataque. Sirakov interceptou e abriu na ponta direita para Kostadinov, mas Matthäus estava na marcação e mandou pela linha de fundo. Balakov novamente bateu o escanteio e Matthäus escorou para a linha lateral. Kiryakov cobrou rápido para Kostadinov, que devolveu. Kiryakov viu a aproximação de Yankov e deixou com o volante, que cortou a marcação de Berthold e cruzou para a área. Yordan Letchkov apareceu como um raio, ganhou no alto do baixinho Häßler e meteu a careca na bola, que encobriu o goleiro Illgner. Lechkov jogava no Hamburgo, da Alemanha, e recebeu ameaças de morte após voltar ao país.

Berti Vogts ainda tentou apelar para a estrela do veterano Andreas Brehme, mas não teve sucesso.

Dimitar Penev foi suicida e tirou seus dois atacantes Stoichkov e Kostadinov para a entrada de Yordanov (meia) e Boncho Genchev (zagueiro). O treinador búlgaro apostou em fechar os espaços, mas estaria sem poder de fogo em uma eventual prorrogação – que não ocorreu.

A Alemanha ainda pressionou, mas a Bulgária resistiu firme e garantiu a inédita classificação para as semifinais.

Nos últimos instantes do jogo, Brehme cruzou da esquerda e Rudi Völler tentou imitar Maradona fazendo um gol de mão, mas não foi tão discreto e acabou recebendo um cartão amarelo muito bem aplicado.


(Imagem: Pinterest)

● A Alemanha estava fora da Copa. O futebol búlgaro já não era mais zebra e tinha que ser respeitado.

A festa na capital Sófia foi enorme, com milhares de pessoas nas ruas para comemorar a maior vitória da história do país no futebol.

“Há um Cristo no céu e um Hristo na terra.” ― Hristo Stoichkov

“É justo a equipe jogar em torno de mim. Sou o melhor do time.” ― Hristo Stoichkov

“No início do jogo contra a Alemanha, o time estava psicologicamente bem, muito calmo e com a mente aberta, porque não tínhamos nada a perder, só a ganhar. E, no final, ganhamos.” ― Krasimir Balakov

Nessa partida, Lothar Matthäus completou 21 partidas em Copas do Mundo, se igualando ao polonês Władysław Żmuda e ao argentino Diego Armando Maradona. Na Copa de 1998, Matthäus chegaria a 25 jogos e é o recordista até hoje. O alemão Miroslav Klose tem 24 partidas e o italiano Paolo Maldini tem 23, logo na sequência.

O goleiro e capitão búlgaro Borislav Mikhailov era conhecido por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele havia prometido que se a Bulgária passasse pela Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas o sonho búlgaro ruiu diante de um iluminado Roberto Baggio e a Itália venceu por 2 x 1. Na decisão do 3º lugar, a desmotivada Bulgária perdeu para a Suécia por 4 x 0. Mas já tinha superado as expectativas até dos mais otimistas e entrado para a história como uma das seleções mais adoradas dos últimos tempos pelos amantes do futebol.


(Imagem: Bundesliga Classic)

FICHA TÉCNICA:

 

BULGÁRIA 2 x 1 ALEMANHA

 

Data: 10/07/1994

Horário: 12h00 locais

Estádio: Giants Stadium

Público: 72.000

Cidade: East Rutherford (Estados Unidos)

Árbitro: José Torres Cadena (Colômbia)

 

BULGÁRIA (4-3-3):

ALEMANHA (3-5-2):

1  Borislav Mikhailov (G)(C)

1  Bodo Illgner (G)

16 Iliyan Kiryakov

4  Jürgen Kohler

3  Trifon Ivanov

10 Lothar Matthäus (C)

5  Petar Hubchev

5  Thomas Helmer

4  Tsanko Tsvetanov

14 Thomas Berthold

6  Zlatko Yankov

6  Guido Buchwald

9  Yordan Letchkov

8  Thomas Häßler

20 Krasimir Balakov

7  Andreas Möller

10 Nasko Sirakov

17 Martin Wagner

8  Hristo Stoichkov

18 Jürgen Klinsmann

7  Emil Kostadinov

13 Rudi Völler

 

Técnico: Dimitar Penev

Técnico: Berti Vogts

 

SUPLENTES:

 

 

12 Plamen Nikolov (G)

12 Andreas Köpke (G)

2  Emil Kremenliev

22 Oliver Kahn (G)

15 Nikolay Iliev

16 Matthias Sammer

11 Daniel Borimirov

3  Andreas Brehme

14 Boncho Genchev

2  Thomas Strunz

19 Georgi Georgiev

20 Stefan Effenberg

13 Ivaylo Yordanov

15 Maurizio Gaudino

17 Petar Mihtarski

21 Mario Basler

18 Petar Aleksandrov

11 Stefan Kuntz

21 Velko Yotov

9  Karl-Heinz Riedle

22 Ivaylo Andonov

19 Ulf Kirsten

 

GOLS:

47′ Lothar Matthäus (ALE) (pen)

75′ Hristo Stoichkov (BUL)

78′ Yordan Letchkov (BUL)

 

CARTÕES AMARELOS:

14′ Thomas Helmer (ALE)

15′ Martin Wagner (ALE)

22′ Trifon Ivanov (BUL)

49′ Thomas Häßler (ALE)

50′ Jürgen Klinsmann (ALE)

82′ Hristo Stoichkov (BUL)

85′ Borislav Mikhailov (BUL)

89′ Rudi Völler (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

59′ Martin Wagner (ALE) ↓

Thomas Strunz (ALE) ↑

 

83′ Thomas Häßler (ALE) ↓

Andreas Brehme (ALE) ↑

 

85′ Hristo Stoichkov (BUL) ↓

Ivaylo Yordanov (BUL) ↑

 

90′ Emil Kostadinov (BUL) ↓

Boncho Genchev (BUL) ↑

Melhores momentos da partida (Rede Globo):

Segundo tempo completo:

Veja a festa na Bulgária com a chegada da delegação ao país após a Copa do Mundo de 1994:

… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária

Três pontos sobre…
… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária


(Imagem: FIFA / Getty Images)

● O Peru é um país que costuma sofrer muito com catástrofes naturais, como tremores de terra e erupções de vulcões. Mas, em toda sua história, nada foi tão devastador quanto o mortal terremoto de Ancash.

Era um domingo, dia 31 de maio de 1970, exatamente às 15h23m29s, e durou “apenas” 45 segundos. O epicentro foi a 35 km ao largo da costa de Casma e Chimbote, no Oceano Pacífico, onde a placa tectônica de Nazca se encontra com a placa Sul-Americana. Com magnitude momento de 7,9 na escala Richter, o fortíssimo terremoto afetou uma área de cerca de 83 mil km² (uma área maior que a Bélgica e a Holanda juntas). Os locais mais afetados foram a região de Ancash e o sul de La Libertad. Com o tremor, a parede norte do monte Huascarán se rompeu e causou uma avalanche de rocha, gelo e neve, enterrando as cidades de Yungay e Ranrahirca. Cerca de 60 mil pessoas morreram devido ao desastre, que ainda deixou mais de 70 mil feridos ou desabrigados. Foi o maior abalo sísmico do país, não só na alta magnitude, mas também em número de perdas de vidas humanas.

O fato, ocorrido apenas dois dias antes da estreia peruana no Mundial, abalou todos os cidadão do país, inclusive os jogadores. Já no México, eles ficaram desesperados pelo fato de não conseguirem entrar em contato com seus familiares. E, nesse cenário, eles queriam voltar para casa, mas o governo decidiu que o time deveria disputar a competição e dar o melhor de si, para trazer alguma alegria aos seus sofridos conterrâneos.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Com a melhor geração de sua história, os sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Hugo Sotil, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi, um dos maiores craques de todos os tempos. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962, sendo eleito o melhor jogador da Copa na primeira conquista.

Didi trabalhava como treinador no Sporting Cristal e foi campeão peruano em 1968. No ano seguinte, foi convidado pela federação para treinar a seleção. Deu certo. Com um futebol solto, cheio de trocas de passes, o time deixou para trás o complexo de inferioridade e terminou na liderança do Grupo A das eliminatórias sul-americanas. Com duas vitórias, um empate e uma derrota, o talentoso time se sobrepôs a Bolívia e Argentina – que foi lanterna do grupo, atrás até dos bolivianos.

Com quatro vitórias, um empate e uma derrota, a Bulgária se garantiu em sua terceira Copa do Mundo, ficando com a vaga no difícil Grupo 8 da UEFA, contra as ascendentes Holanda e Polônia, além do sparring Luxemburgo. Os “Demônios da Europa” contavam com uma das equipes mais competitivas da Europa naquela época. Tinha bons jogadores, como Georgi Asparuhov (em seu terceiro Mundial), Hristo Bonev e Petar Zhekov (Chuteira de Ouro da Europa em 1969, com 36 gols).


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.


Stefan Bozhkov armou a Bulgária no sistema 4-3-3 clássico.

● O escrete peruano não tinha ânimo algum para a partida. Entraram em campo com uma fita preta na camisa, em sinal de luto. Os andinos entraram dispersos e a Bulgária aproveitou.

O primeiro gol saiu logo aos treze minutos. Em cobrança de falta frontal muito bem ensaiada, Dermendzhiev fingiu que ia chutar e avançou. Yakimov rolou para Bonev tocar de calcanhar para a infiltração de Dermendzhiev, que invadiu a área sozinho e tocou na saída do goleiro peruano. Foi o primeiro gol do Mundial, já que a partida de abertura entre México e União Soviética havia terminado 0 x 0.

No intervalo, o presidente da delegação peruana, Javier Aramburú visitou o vestiário da equipe para tentar inflar o ânimo dos jogadores. O dirigente entrou carregando um punhado de terra e disse: “Rapazes, essa terra é do Peru. Beijem-a!” Todos ficaram tocados com aquilo e cumpriram a ordem. “E nós, como éramos jovens, a beijamos e saímos para jogar como bestas”, disse o ex-meia Roberto Challe. Eles creditaram nas palavras de Aramburú e lembraram dos entes queridos e do povo que tanto estava sofrendo. Obviamente, a terra não era peruana. O dirigente enfiou a mão em um vaso que estava lá mesmo, no lado de fora do vestiário no estádio de León. Mas, na hora do desesperou, valeu e surtiu o efeito desejado.

Aos 4′ do segundo tempo, Mifflin cometeu falta em Popov próximo à grande área. Hristo Bonev cobrou falta e o péssimo goleiro Rubiños aceitou. Ele foi com “mão de alface” e acabou levando um frango. A bola bateu na trave, nas costas do arqueiro e foi para o gol.

A Bulgária mantinha total controle do jogo. Parecia ser uma tarde desastrosa para o futebol peruano. Mas a jovem e promissora equipe deixou a apatia de lado e reagiu no minuto seguinte.

Perico León abriu na esquerda para Gallardo. O ponta, ex-Palmeiras, chutou cruzado da esquerda, sem ângulo. A bola bateu no travessão e entrou. O gol encheu de brios a seleção Bicolor.

Cinco minutos depois, o bom atacante Hugo Sotil (que viria a jogar por quatro anos no Barcelona de Rinus Michels e Johan Cruijff) tabelou com Perico León, driblou três adversários e sofreu falta de Shalamanov na meia lua. O capitão Héctor Chumpitaz cobrou falta escorregando e acertou o cantinho para deixar tudo igual.

A vidada veio aos 28′. Ramón Mifflin (que jogaria no Santos em 1974/75) passou a bola para Teófilo Cubillas. O camisa 10 fez uma jogada do craque que era: entrou na área driblando dois adversários, puxou para a perna direita e chutou forte no canto esquerdo do goleiro Simeonov.

No fim, a vitória peruana satisfez o pedido do governo e a vontade do país. Um alento ao povo peruano.

Essa foi a primeira vitória do Peru em Copas do Mundo. A seleção Blanquirroja havia disputado apenas a edição de 1930, com derrotas para a Romênia por 3 a 1 e para o Uruguai por 1 a 0.


(Imagem: Depor.com)

● A Bulgária seguiu sua sina de nunca ter vencido em Copas, o que duraria até 1994. Foi eliminada na primeira fase, após perder para alemães por 5 x 2 e empatar com marroquinos em 1 x 1.

Em sua segunda partida, o Peru goleou o Marrocos por 3 x 0. Já classificado para a próxima fase, perdeu para a Alemanha Ocidental por 3 x 1. Nas quartas de final, a sorte ingrata colocou os andinos no caminho da poderosa Seleção Brasileira. Os peruanos até tentaram, mas não foram páreo para o Brasil e perderam por 4 x 2. Honrosamente, o Peru terminou no 7º lugar geral.

Com essa equipe como base, o Peru ainda conquistou a Copa América de 1975 e fazia uma boa Copa do Mundo em 1978 até a vergonha diante da Argentina.


(Imagem: Andina.pe)

FICHA TÉCNICA:

 

PERU 3 x 2 BULGÁRIA

 

Data: 02/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: León

Público: 13.765

Cidade: León (México)

Árbitro: Antonio Sbardella (Itália

 

PERU (4-3-3):

BULGÁRIA (4-3-3):

1  Luis Rubiños (G)

1  Simeon Simeonov (G)

2  Eloy Campos

2  Aleksandar Shalamanov

3  Orlando de la Torre

3  Ivan Dimitrov (C)

4  Héctor Chumpitaz (C)

5  Ivan Davidov

5  Nicolás Fuentes

4  Stefan Aladzhov

6  Ramón Mifflin

6  Dimitar Penev

7  Roberto Challe

8  Hristo Bonev

10 Teófilo Cubillas

10 Dimitar Yakimov

8  Julio Baylón

7  Georgi Popov

9  Perico León

9  Petar Zhekov

11 Alberto Gallardo

11 Dinko Dermendzhiev

 

Técnico: Didi

Técnico: Stefan Bozhkov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Rubén Correa (G)

13 Stoyan Yordanov (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

22 Georgi Kamenski (G)

14 José Fernández

12 Milko Gaydarski

16 Félix Salinas

14 Dobromir Zhechev

13 Pedro González

15 Boris Gaganelov

15 Javier González

17 Todor Kolev

17 Luis Cruzado

16 Asparuh Nikodimov

18 José del Castillo

20 Vasil Mitkov

19 Eladio Reyes

21 Bozhidar Grigorov

20 Hugo Sotil

18 Dimitar Marashliev

22 Oswaldo Ramírez

19 Georgi Asparuhov

 

GOLS:

13′ Dinko Dermendzhiev (BUL)

49′ Hristo Bonev (BUL)

50′ Alberto Gallardo (PER)

55′ Héctor Chumpitaz (PER)

73′ Teófilo Cubillas (PER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

29′ Eloy Campos (PER) ↓

Javier González (PER) ↑

 

51′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

59′ Georgi Popov (BUL) ↓

Dimitar Marashliev (BUL) ↑

 

73′ Hristo Bonev (BUL) ↓

Georgi Asparuhov (BUL) ↑

Veja os gols da partida:

… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária

Três pontos sobre…
… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária


Nasko Sirakov empatou para a Bulgária a cinco minutos do fim (Imagem: Pinterest)

● No dia 11/04/1974, a Colômbia foi escolhida como país sede da 13ª edição da Copa do Mundo de futebol. Porém, já em 1982, os cafeteros renunciaram alegando “insuperáveis dificuldades” econômicas e sociais. Um dos argumentos foi o aumento de 16 para 24 seleções, o que exigiria pelo menos dez estádios – que o país não possuía prontos e nem tinha condições de construir.

Com isso, se candidataram inicialmente: Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, Peru, Inglaterra, Alemanha Ocidental e Holanda-Bélgica (em conjunto). Devido ao sistema de rodízio entre os continentes, os europeus foram rapidamente descartados, pois essa era a vez das Américas. Logo o Brasil desistiu (um veto do General Figueiredo, então presidente da República, devido ao momento econômico conturbado que o país passava). Depois foi a vez de norte-americanos, canadenses e peruanos. Por fim, em julho de 1983, a FIFA decidiu de forma polêmica a favor dos mexicanos. Com isso, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio, sendo a segunda apenas 16 anos depois da primeira.

Porém, nos dias 19 e 20 de setembro de 1985, menos de um ano antes do início do Mundial, dois terremotos atingiram o México. O primeiro foi mais violento. Às 07h30 do dia 19, em menos de dois minutos, um forte tremor devastou a Cidade do México (maior cidade do mundo na época). Milhares de pessoas perderam a vida. As fontes oficiais citam 9.500 mortos, outras afirmam que chegaram a 35 mil; além de 30 mil feridos e mais de 100 mil desabrigados. Foram 412 prédios totalmente destruídos e 3.124 parcialmente danificados. Mas o estádio Azteca e os principais hotéis da cidade ficaram incólumes e a Copa pôde ser realizada sem nenhum problema. Em oito meses, o batalhador povo mexicano se reergueu e, com muito entusiasmo, o país novamente foi palco da maior festa do futebol mundial.

O Brasil era o principal candidato ao título, pela tradição e por manter os craques que encantaram o mundo em 1982. Mas qualquer aposta séria sempre incluíam Itália, Alemanha Ocidental e Inglaterra. A Argentina vinha mais fraca que antes, mas Diego Armando Maradona estava melhor que nunca. A França venceu a Eurocopa, os Jogos Olímpicos e contava com Michel Platini em pleno esplendor. O Uruguai voltava ao torneio após duas ausências e tinha Enzo Francescoli. Até a Hungria possuía um jogador diferenciado, como Lajos Détári. A Bélgica tinha um bom time, com o goleiro Jean-Marie Pfaff e o capitão Jan Ceulemans. A União Soviética tinha o paredão Rinat Dasayev no gol e Igor Belanov (que viria a ser eleito Bola de Ouro no fim do ano) no ataque. A Fúria espanhola era liderada por Emilio Butragueño, “El Buitre”. O México tinha a força da torcida e Hugo Sánchez no ataque. O Paraguai tinha Romerito, ídolo do Fluminense campeão brasileiro de 1984. A Argélia mantinha Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi como seus destaques. A Irlanda do Norte contava com o veterano arqueiro Pat Jennings e com o jovem Norman Whiteside. A Escócia tinha um time experiente em nível europeu e era treinada por Sir Alex Ferguson. A Polônia ainda contava com Zbigniew Boniek e Wladyslaw Zmuda. Portugal sonhava em reviver os bons momentos de vinte anos antes. Marrocos tentava ser a primeira seleção africana a passar de fase em Mundiais. E a Dinamarca desfilava a novidade do 3-5-2, além de figuras importantes como o líbero Morten Olsen e a dupla de ataque Michael Laudrup e Preben Elkjær Larsen. Apenas Coreia do Sul, Iraque e Canadá eram cartas fora do baralho.


Salvatore Bagni luta pela bola com Bozhidar Iskrenov (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● A tradicional Squadra Azzurra chegava no México para disputar com o Brasil a honra de ser o primeiro tetracampeão do mundo. A camisa italiana sempre teve força própria. O azul da Casa di Savoia é uma das mais tradicionais e pesadas do mundo.

Desde que levantou a taça em 1982, os italianos sonhavam e trabalhavam para conquistar a Copa seguinte, assim como foi em 1934 e 1938. A Federazione Italiana Giuoco Calcio definiu Puebla como local da concentração dois anos antes. E, assim como o Brasil de 1958/1962, a superstição era grande e os dirigentes da Federação exigiram a mesma tripulação da Alitalia que havia levado a delegação à Espanha quatro anos antes.

Acompanhado de seu fiel cachimbo, o técnico Enzo Bearzot completava dez anos no cargo. Ele era uma verdadeira raposa, um ás das estratégias e adepto da marcação mista: individual no maior destaque adversário e por zona nas demais partes do campo. Ao desembarcar no México, ele foi político ao afirmar que a Copa de 1986 seria vencida por sul-americanos. Claramente não estava sendo sincero, mas apenas tirando o peso de sua equipe e jogando a responsabilidade para os adversários.

No gol, na posição que foi do mítico Dino Zoff, estava Giovanni Galli, prestes a trocar a Fiorentina pelo Milan. O velho líbero Gaetano Scirea agora era o capitão do time, dando segurança para os avanços do ala esquerdo Cabrini. O meio campo não contava mais com Giancarlo Antognoni; Marco Tardelli e Carlo Ancelotti eram reservas. Com isso, faltava criatividade e as transições entre defesa e ataque eram rápidas, com a bola passando pouco pelo meio campo. O ataque contava com diversas opções de estilo: Aldo Serena, Giuseppe Galderisi, Alessandro Altobelli, Gianluca Vialli, o talismã Paolo Rossi e Bruno Conti. (Curiosamente, Conti praticava beisebol em sua juventude; se destacou tanto, que quase foi jogar profissionalmente nos Estados Unidos.)


Os “Demônios da Europa” (apelido da seleção búlgara) no Mundial de 1986 (Imagem: Pinterest)

● Nas eliminatórias, a Bulgária surpreendeu ao terminar em primeiro lugar, empatada com a França e perdendo apenas no saldo de gols. O principal responsável pela evolução nos últimos tempos foi o técnico Ivan Voutsov, ex-meio campista da seleção na Copa de 1970. Ele fez o time praticar um futebol simples, solidário e objetivo – bem diferente do velho sistema baseado no vigor físico das equipes da Europa Oriental. Estava mais “ocidentalizada”. A força foi dando lugar a um estilo moderno, de mais mobilidade, com defesa sólida, meio campo atuante e ataque com muita velocidade.

Apesar da falta de tradição, vários jogadores tinham um nível técnico acima da média, como o goleiro Borislav Mikhailov, o líbero e capitão Georgi Dimitrov, o meia-atacante Nasko Sirakov e o armador Plamen Getov – melhor jogador do time, habilidoso e com um chute potente. Mikhailov e Sirakov haviam sido punidos por sua federação por terem participado de uma luta campal na final da Copa da Bulgária no ano anterior, mas acabaram absolvidos devido à importância de ambos e um pedido especial do técnico. Um jovem chamado Hristo Stoichkov não obteve o mesmo perdão e não foi convocado para a Copa. Oito anos depois, os três viriam a ser destaques da equipe búlgara no Mundial dos Estados Unidos.

A Bulgária carregava a sina de ter disputado quatro Copas do Mundo (1962, 1966, 1970 e 1974), sem nunca ter vencido uma partida. Sempre fazia boas campanhas nas eliminatórias, mas sucumbia nos Mundiais. Lutava pela honra de representar seu país. Qualquer coisa diferente de três derrotas, já seria um avanço.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1. Na prática, com o “afunilamento” de Bruno Conti, era 4-4-2.


A Bulgária atuava no 4-4-2 clássico, com os meias laterais se apresentando bastante no meio e no ataque.

● Via de regra, a partida de abertura do mundial costuma ser dura, nervosa e nenhuma das equipes conseguem se soltar e praticar um bom futebol.

E foi bem isso que ocorreu no dia 31 de maio no estádio Azteca. Mais de 96 mil expectadores foram assistir a toda poderosa Itália, campeã do mundo, massacrar os pobres búlgaros. Não viram. Na teoria, a prática foi outra. A Squadra Azzurra já não era mais o mesmo time consistente e sagaz de quatro anos antes, quando bateu os favoritos Brasil e Argentina para se embalar rumo ao tricampeonato. Paolo Rossi estava em má forma e era reserva de Altobelli.

O péssimo retrospecto não jogava a favor dos búlgaros, que sonhavam em surpreender desde a festa de abertura.

E o marcador só foi inaugurado no fim do primeiro tempo. Aos 43′, Di Gennaro cobrou falta da intermediária esquerda, a defesa búlgara ficou parada e Altobelli escorou para as redes.

Estava tudo preparado para ser uma festa, com vitória fácil dos italianos, mas eles se deram ao luxo de perder alguns gols na etapa final. E, como diria o ditado: quem não faz…

No fim da partida, quando tudo indicava uma vitória sofrível da Azzurra, ficou ainda pior. Aos 40 minutos do segundo tempo, Zdravkov ergueu a bola na área italiana. Sirakov apareceu entre dois marcadores e cabeceou de forma esquisita, mas o suficiente para colocar a bola no canto do goleiro Galli.

Essa partida foi uma luta permanente pelo domínio no meio campo, na qual o 4-4-2 em voga praticamente eliminou a figura do ponta. Bruno Conti, ponta de origem, afunilava muito o jogo e não teve uma tarde boa.

No fim, o empate foi o placar mais justo pelo que apresentaram ambas as equipes.

Mesmo sendo um jogo deveras tenso e amarrado, pelo menos essa partida teve dois gols – o que não ocorria numa partida de abertura desde 1962.


Alessandro Altobelli, agora titular no ataque na função de Paolo Rossi, foi oportunista e inaugurou o marcador (Imagem: Pinterest)

● Na segunda rodada, a Itália repetiu o placar e empatou por 1 x 1 com a futura campeã Argentina, de Maradona. Na última partida, bateu a Coreia do Sul por 3 x 2 e se classificou como vice-líder do Grupo A. Nas oitavas de final, perdeu para a França de Platini, Giresse e Tigana por 2 x 0 (caindo uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses).

Por sua vez, a Bulgária também repetiu o empate em 1 a 1 contra a Coreia do Sul e perdeu para a Argentina por 2 a 0. Mesmo sem nenhuma vitória, os búlgaros conquistaram dois pontos e se classificaram para a segunda fase pela primeira vez em sua história. Nas oitavas, caiu para o México, dono da casa, por 2 a 0.


Altobelli foi um dos melhores em campo. Nessa foto, em disputa de bola com o bom lateral Radoslav Zdravkov (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 1 BULGÁRIA

 

Data: 31/05/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 96.000

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Erik Fredriksson (Suécia)

 

ITÁLIA (4-4-2):

BULGÁRIA (4-4-2):

1  Giovanni Galli (G)

1  Borislav Mikhailov (G)

2  Giuseppe Bergomi

12 Radoslav Zdravkov

6  Gaetano Scirea (C)

5  Georgi Dimitrov (C)

8  Pietro Vierchowod

3  Nikolay Arabov

3  Antonio Cabrini

13 Aleksandar Markov

10  Salvatore Bagni

8  Ayan Sadakov

13  Fernando De Napoli

10 Zhivko Gospodinov

14 Antonio Di Gennaro

2 Nasko Sirakov

16  Bruno Conti

11 Plamen Getov

18 Alessandro Altobelli

7  Bozhidar Iskrenov

19 Giuseppe Galderisi

9  Stoycho Mladenov

 

Técnico: Enzo Bearzot

Técnico: Ivan Vutsov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Franco Tancredi (G)

22 Iliya Valov (G)

22 Walter Zenga (G)

21 Iliya Dyakov

4  Fulvio Collovati

4 Petar Petrov

5  Sebastiano Nela

14 Plamen Markov

7  Roberto Tricella

15 Georgi Yordanov

11 Giuseppe Baresi

17 Hristo Kolev

15 Marco Tardelli

6  Andrey Zhelyazkov

9  Carlo Ancelotti

16 Vasil Dragolov

21 Aldo Serena

18 Boycho Velichkov

17 Gianluca Vialli

19 Atanas Pashev

20 Paolo Rossi

20 Kostadin Kostadinov

 

GOLS:

44′ Alessandro Altobelli (ITA)

85′ Nasko Sirakov (BUL)

 

CARTÕES AMARELOS:

48′ Giuseppe Bergomi (ITA)

51′ Aleksandar Markov (BUL)

64′ Antonio Cabrini (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

65′ Bruno Conti (ITA) ↓

Gianluca Vialli (ITA) ↑

 

65′ Bozhidar Iskrenov (BUL) ↓

Kostadin Kostadinov (BUL) ↑

 

74′ Zhivko Gospodinov (BUL) ↓

Andrey Zhelyazkov (BUL) ↑

Alguns lances do jogo, em reportagem da TV Globo:

… 30/05/1962 – Argentina 1 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Argentina 1 x 0 Bulgária


(Imagem: Pinterest)

● Os argentinos viajaram para o vizinho Chile com a missão de apagar a vergonha de quatro anos antes. Em 1958, na Suécia, os hermanos ficaram na lanterna do Grupo 1. Com uma equipe bem envelhecida, perderam da Alemanha Ocidental por 3 x 1 e venceram a Irlanda do Norte pelo mesmo placar. Precisando de uma vitória simples contra a Tchecoslováquia para se classificarem para as quartas de final, o que se viu foi uma goleada dos tchecos por 6 a 1 (a maior goleada sofrida na história pela seleção albiceleste).

Assim, por mais desastrosa que poderia ser a campanha argentina nos Andes, provavelmente seria melhor que a de 1958.

O elenco portenho foi bem renovado, mas mas sofreu com os mesmos problemas de sempre: não poder contar com as maiores estrelas nascidas em seu país.

Alfredo Di Stéfano já era um veterano, com 36 anos e só havia jogado com a camisa da nação onde nasceu em 1947, quando venceu a Copa América. Depois, jogou pela Colômbia entre 1951 e 1952 e pela Espanha entre 1957 e 1962. Estava no elenco da Fúria no Mundial do Chile, mas não jogou por não ter se recuperado totalmente de uma lesão. Um grande pecado: Don Alfredo acabou nunca entrando em campo em uma Copa do Mundo.

Os casos de Enrique Omar Sívori e Humberto Maschio são ainda mais emblemáticos. Ambos eram os destaques dos “Carasucias de Lima”, que venceram a Copa América em 1957. Agora, os dois estavam na Squadra Azzurra que viria a fracassar no Chile.


(Imagem: Pinterest)

● Mesmo sem os maiores craques, a Argentina tinha uma boa equipe, tendo como destaques o goleiro Antonio Roma, o lateral esquerdo Silvio Marzolini (ambos do Boca Juniors), o atacante José Sanfilippo (San Lorenzo) e o ponta esquerda Raúl Belén (Racing).

Nas eliminatórias, a Argentina goleou o Equador por duas vezes: 6 x 3 em Guayaquil e 5 a 0 em Buenos Aires.

A Bulgária, por sua vez, bateu forte seleção da França por 1 a 0 no jogo desempate em Milão, após terminarem iguais em número de pontos no Grupo 2 (que também tinha a Finlândia).

A comunista e obscura Bulgária era uma surpresa. Todos seus jogadores atuavam em seu país e não havia nenhum destaque individual. Tecnicamente, seu melhor jogador era o ponta esquerda Ivan Kolev. No banco estava o jovem Georgi Asparuhov, que viria a ser um dos maiores artilheiros de seu país em todos os tempos.


A Argentina atuava no sistema tático 4-2-4.


A Bulgária jogava em uma espécie de “WW”: uma defesa moderna, com quatro defensores no formato do 4-2-4; e o ataque em W, derivando do antigo WM.

● O sonho dos argentinos ao chegar no Chile era disputar a final contra o Brasil. Mas logo de cara veriam que era um sonho alto demais.

A Bulgária era inexperiente e estreava em Mundiais.

Assim, os argentinos aproveitaram o nervosismo dos búlgaros e abriram o placar com o ponta direita Héctor Facundo, chutando cruzado, logo aos quatro minutos de jogo.

Mas depois disso, o time sofreu. A Bulgária passou a dar mostras do estilo que a faria disputar também as três Copas seguintes: a força física e um time fechado, com marcação forte e dura, tentando explorar os contra-ataques.

Com isso, os búlgaros anularam o sistema de jogo albiceleste, que consistia em toques curtos e habilidade individual. Sanfilippo, por exemplo, reclamou bastante da truculência dos adversários.

E nenhuma das equipes conseguiu mais passar pela defesa adversária e o jogo terminou em uma vitória sofrível da Argentina.

Mesmo com a vitória, o técnico Juan Carlos Lorenzo foi bastante criticado por ter deixado o meia Antonio Rattín na reserva. Ele era uma fonte de ótimos passes e excelente visão de jogo, mas não tinha a confiança de seu treinador.


(Imagem: Pinterest)

● Apesar de jogar perto de sua torcida, a Argentina não conseguiu nenhuma boa atuação e foi novamente eliminada na fase de grupos, assim como havia ocorrido em 1958. Na segunda partida, perdeu para a Inglaterra por 3 a 1. Na rodada final, precisava vencer a Hungria para se classificar. Os magiares já estavam classificados e escalaram uma equipe mista. E mesmo assim, os argentinos não conseguiram furar o bloqueio dos europeus e ficaram no empate em 0 a 0, parando em uma atuação magistral do goleiro Grosics – último remanescente do esquadrão húngaro de 1954.

No dia seguinte, a delegação argentina foi assistir à partida entre Inglaterra e Bulgária, na qual uma vitória búlgara classificaria os portenhos. Mas de nada adiantou a torcida. A Bulgária (que havia sido goleada pela Hungria por 6 x 1 na partida anterior) empatou sem gols com a Inglaterra, conquistando seu primeiro ponto na história das Copas – resultado que deu a classificação ao English Team e eliminou a Argentina.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 X 0 BULGÁRIA

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Braden Copper Co. (El Teniente-Codelco)

Público: 7.134

Cidade: Rancagua (Chile)

Árbitro: Juan Garay Gardeazábal (Espanha)

 

ARGENTINA (4-2-4):

BULGÁRIA (WW):

1  Antonio Roma (G)

1  Georgi Naydenov (G)

4  Alberto Sainz

5  Dimitar Kostov

15 Rubén Navarro (C)

2  Kiril Rakarov (C)

6  Raúl Páez

3  Ivan Dimitrov

3  Silvio Marzolini

6  Nikola Kovachev

5  Federico Sacchi

4  Stoyan Kitov

13 Oscar Rossi

7  Todor Diev

7  Héctor Facundo

13 Petar Velichkov

9  Marcelo Pagani

9  Hristo Iliev

10 José Sanfilippo

11 Dimitar Yakimov

11 Raúl Belén

10 Ivan Kolev

 

Técnico: Juan Carlos Lorenzo

Técnico: Georgi Pachedzhiev

 

SUPLENTES:

 

 

12 Rogelio Domínguez (G)

18 Ivan Ivanov (G)

2  José Ramos Delgado

20 Nikola Parchanov (G)

18 Vladislao Cap

12 Dobromir Zhechev

14 Alberto Mariotti

8  Dimitar Dimov

17 Rafael Albrecht

17 Panteley Dimitrov

21 Ramón Abeledo

14 Georgi Sokolov

16 Antonio Rattín

21 Panayot Panayotov

8  Martín Pando

22 Georgi Nikolov

19 Rubén Héctor Sosa

19 Dinko Dermendzhiev

20 Juan Carlos Oleniak

16 Aleksandar Kostov

22 Alberto Mario González

15 Georgi Asparuhov

 

GOL: 4′ Héctor Facundo (ARG)

 

ADVERTÊNCIA: Rubén Navarro

Gol da partida:

Algumas imagens do jogo:

… 16/07/1994 – Suécia 4 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 16/07/1994 – Suécia 4 x 0 Bulgária


(Imagem: Getty Images)

● Na véspera da final da Copa do Mundo, três dias depois de perder nas semifinais, a Suécia retornou ao estádio Rose Bowl, em Pasadena, para enfrentar a Bulgária pela disputa do terceiro lugar. As duas seleções tinham se classificado para a Copa no mesmo grupo das Eliminatórias europeias, deixando a França de fora.

A Suécia empatou com Camarões na estreia por 2 a 2. Depois, venceu a Rússia por 3 a 1. Segurou o Brasil e empatou por 1 a 1. Nas oitavas de final, bateu a surpreendente Arábia Saudita por 3 a 1. Nas quartas de final, fez um jogo proibido para cardíacos, com muito equilíbrio, contra a Romênia, empatando por 1 a 1 no tempo normal, outro 1 a 1 na prorrogação, e vencendo por 5 a 4 nas penalidades máximas. Nas semifinais, parou no futuro campeão Brasil, caindo com um magro e digno 1 a 0.

A Bulgária estreou perdendo por 3 a 0 para a Nigéria. Depois, goleou a Grécia por 4 a 0 e surpreendeu vencendo a Argentina por 2 a 0. Nas oitavas, precisou dos pênaltis (3 x 1) para passar pelo México após o empate por 1 a 1. Nas quartas, eliminou a então campeã mundial, Alemanha, vencendo de virada por 2 a 1. Nas semi, vendeu caro a derrota por 2 a 1 para Itália de Roberto Baggio.

Apesar da igualdade de condições, suecos e búlgaros apresentavam ânimos diferentes para o confronto. Enquanto os nórdicos passavam a sensação de aceitação por terem perdido para a melhor equipe do torneio (Brasil), o selecionado do leste europeu parecia remoer o erro de arbitragem que resultou em sua desclassificação.

Na semifinal, quando a Itália já vencia a Bulgária por 2 a 1 e Roberto Baggio tinha sido substituído por lesão, Kostadinov pediu pênalti por um toque de mão do zagueiro Alessandro Costacurta na linha lateral da grande área. Porém, o trio de arbitragem mandou o jogo seguir. Foi um pênalti claro, que poderia ter mudado o rumo do jogo e até a história da competição. “Deus é búlgaro, mas o juiz é francês (Joël Quiniou). Estamos entre os quatro melhores do mundo, mas deixamos de jogar a final entre os dois melhores por causa do juiz”, disse Stoichkov, numa alusão à desclassificação da França diante da Bulgária nas Eliminatórias.


A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.


A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).

● Quem esperava um duelo equilibrado viu uma Bulgária apática e desmotivada.

Nesse cenário de terra devastada, a seleção do leste europeu não ofereceu nenhuma resistência e a Suécia abriu o placar aos oito minutos. Ingesson foi à linha de fundo e cruzou. Mikhailov e a defesa búlgara ficaram no meio do caminho e Tomas Brolin cabeceou para o gol aberto.

A seleção escandinava aproveitou a catarse búlgara e, vendo que os adversários não ofereciam resistência, começou a empilhar gols.

Com meia hora de jogo, Brolin sofreu falta. Ele cobrou rápido e tocou para Mild, que pegou a defesa desprevenida e tocou por cima do goleiro.

Sete minutos depois, Brolin, o melhor em campo, lançou nas costas da defesa. O rastafári Henrik Larsson ganhou de Ivanov na corrida, entrou na área, driblou o goleiro, parou a jogada deixando Ivanov no chão, e tocou para o gol vazio. Larsson teve sangue frio. Um belo gol.

Aos 40′, Schwarz ergueu a bola para a área da intermediária. Antes da marca do pênalti, o gigante Kennet Andersson ganhou no alto de Mikhailov, que saiu mal do gol. Era o quarto da Suécia, que transformava a apatia do oponente em goleada. A Bulgária já estava cansada depois de tantas batalhas.

Cada bola que os suecos lançavam para a área era sinônimo de tormento para o técnico búlgaro Dimitar Penev. Ele se irritou profundamente e queimou logo todas as substituições ainda antes do pontapé inicial do segundo tempo.

Trocou inclusive seu goleiro, tirando o capitão Borislav Mikhailov e colocando em campo o reserva Plamen Nikolov. Era a terceira vez na história das Copas que um goleiro foi substituído sem estar lesionado. A primeira foi Mwamba Kazadi, do Zaire, em 1974. No jogo contra a Iugoslávia, ele saiu aos 22 minutos, quando seu time perdia por 3 a 0. A partida terminou 9 a 0. A segunda vez foi em 1994 mesmo. O sul-coreano Choi In-young pediu pra ir embora no intervalo do confronto diante da Alemanha, quando sua equipe perdia por 3 a 0. No segundo tempo, com Lee Woon-jae no gol, os asiáticos reagiram e diminuíram para 3 a 2.

Um dos substituídos naquela partida, Trifon Ivanov, falou mais sobre isso: “Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não queria. Eu nunca vou me esquecer do gol de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.

Os suecos, que abriram 4 a 0 em 45 minutos, sabiam que a medalha de bronze dificilmente escaparia, e deixaram passar o segundo tempo. Mas continuou criando chances. Kennet Andersson fez um lançamento de 40 metros, Larsson avançou sozinho (de novo), mas dessa vez Nikolov defendeu com os pés, impedindo um placar ainda mais elástico.

A Bulgária, sem forças, só tinha um objetivo: fazer de Hristo Stoichkov o artilheiro isolado da Copa, já que até então ele tinha os mesmos seis gols do russo Oleg Salenko. Assim, todas as jogadas eram preparadas para ele finalizar. Nenhuma deu resultado efetivo. Na chance mais clara, parou em boa defesa de Ravelli.

Além disso, Balakov ainda perdeu dois gols feitos, na pequena área. Em uma delas, Ravelli não conseguiu segurar um chute de longe e soltou a bola nos pés do camisa 20 que, incrivelmente, conseguiu acertar a trave de dentro da pequena área. Foi a melhor chance búlgara no jogo.

Sem contar que o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, ainda anulou um gol de Emil Kostadinov por impedimento.

Faltando poucos minutos para o fim da partida, o goleiro sueco Thomas Ravelli fazia piruetas em campo. Enquanto sua seleção prendia a bola no campo de ataque, o arqueiro divertia a multidão com acrobacias.

(Imagem: Stephen Dunn / All Sports / Getty Images)

● Na entrevista, o técnico búlgaro Dimitar Penev resmungou: “Este jogo não deveria existir”, se referindo às decisões do terceiro e quarto lugar em uma Copa do Mundo.

Mas a Bulgária já estava no lucro por ter chegado tão longe, que nem parecia incomodada com a goleada sofrida. Estar entre os quatro melhores era muito mais do que poderiam sonhar. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Mas restou o consolo de ter realizado sua melhor campanha em um Mundial. Além disso, emplacou Krasimir Balakov e Hristo Stoichkov na seleção do torneio. Pelo lado sueco, Tomas Brolin, o “Boneco Assassino”, também esteve entre os melhores da Copa.

Foi a melhor classificação sueca na história das Copas, depois do vice-campeonato de 1958, quando foram anfitriões. A goleada, além de render o terceiro lugar, deixou os Vikings com o melhor ataque de toda a Copa, com 15 gols marcados em sete jogos (média de 2,14 por partida), mais que os finalistas Brasil (11) e Itália (8).

Mesmo perdendo feio no último jogo, os integrantes da delegação búlgara foram recebidos como heróis na volta à pátria.

Um dos destaques da seleção escandinava, Martin Dahlin anotou quatro gols na Copa, mas não foi escalado na decisão do terceiro lugar. Além dos gols e do talento, o camisa 10 se destacava também por ser o único negro em uma equipe toda composta por loiros branquíssimos. Dan Martin Nathaniel Dahlin é filho de uma sueca e de um venezuelano.

O goleiro búlgaro Mikhailov foi notícia por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele tinha prometido que, se a Bulgária superasse a Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas a Itália venceu.

Dos 22 jogadores convocados pela Bulgária, apenas seis tinham nomes que não terminavam em “ov”: Kremenliev, Houbchev, Genchev, Iliev, Georgiev e Mikhtarski.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 4 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 16/07/1994

Horário: 12h30 locais

Estádio: Rose Bowl

Público: 91.500

Cidade: Pasadena (Estados Unidos)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

SUÉCIA (4-4-2):

BULGÁRIA (4-4-2):

1  Thomas Ravelli (G)

1  Borislav Mikhailov (G)(C)

2  Roland Nilsson (C)

16 Iliyan Kiryakov

3  Patrik Andersson

3  Trifon Ivanov

4  Joachim Björklund

5  Petar Hubchev

14 Pontus Kåmark

4  Tsanko Tsvetanov

6  Stefan Schwarz

6  Zlatko Yankov

18 Håkan Mild

9  Yordan Letchkov

8  Klas Ingesson

20 Krasimir Balakov

11 Tomas Brolin

10 Nasko Sirakov

7  Henrik Larsson

8  Hristo Stoichkov

19 Kennet Andersson

7  Emil Kostadinov

 

Técnico: Tommy Svensson

Técnico: Dimitar Penev

 

SUPLENTES:

 

 

12 Lars Eriksson (G)

12 Plamen Nikolov (G)

22 Magnus Hedman (G)

2  Emil Kremenliev

13 Mikael Nilsson

15 Nikolay Iliev

5  Roger Ljung

11 Daniel Borimirov

15 Teddy Lučić

14 Boncho Genchev

20 Magnus Erlingmark

19 Georgi Georgiev

17 Stefan Rehn

13 Ivaylo Yordanov

9  Jonas Thern

17 Petar Mihtarski

16 Anders Limpar

18 Petar Aleksandrov

21 Jesper Blomqvist

21 Velko Yotov

10 Martin Dahlin

22 Ivaylo Andonov

 

GOLS:

8′ Tomas Brolin (SUE)

30′ Håkan Mild (SUE)

37′ Henrik Larsson (SUE)

40′ Kennet Andersson (SUE)

 

CARTÕES AMARELOS:

70′ Zlatko Yankov (BUL)

82′ Kennet Andersson (SUE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

42′ Trifon Ivanov (BUL) ↓

Emil Kremenliev (BUL) ↑

 

INTERVALO Borislav Mikhailov (BUL) ↓

Plamen Nikolov (BUL) ↑

 

INTERVALO Nasko Sirakov (BUL) ↓

Ivaylo Yordanov (BUL) ↑

 

79′ Henrik Larsson (SUE) ↓

Anders Limpar (SUE) ↑

Melhores momentos da partida:

… Trifon Ivanov: “O Lobo Búlgaro”, venerado por toda uma geração

Três pontos sobre…
… Trifon Ivanov: “O Lobo Búlgaro”, venerado por toda uma geração


(Imagem: Gazeta Esportiva)

● Ele metia medo nos adversários. Não só pelo seu estilo de marcação deveras viril, mas também pela sua fisionomia digamos… feia: olhos grandes e esbugalhados, barba rente a um rosto triangular com faces fundas e mullets desgrenhados.

Era um zagueiro rude, de futebol limitado, mas que marcou época. Diversas pessoas quem nunca o viram jogar o veneram como um ícone cult. Na Copa do Mundo de 1994, Trifon foi um personagem fundamental na porta de entrada do futebol para vários novos aficionados. No inesquecível álbum de figurinhas da Copa, a de Ivanov era das mais queridas e concorridas no jogo de bafo. Pouco importava que ele não fosse o craque de um time com o capitão Borislav Mikhailov, Yordan Letchkov, Krasimir Balakov, Emil Kostadinov e Hristo Stoichkov.

Lembrado pela sua aparência peculiar, foi um do mais icônicos jogadores de seu tempo. Era um beque regular, marcador duro, mas um profissional exemplar, sem apelar para a deslealdade. Raçudo, demonstrava uma dedicação total e sem fim e era uma liderança inconteste na equipe. Ganhou a admiração de todos os telespectadores que acompanharam a bela trajetória da seleção búlgara. Tinha um chute potente e arriscava frequentemente de fora da área, inclusive sendo opção nas cobranças de faltas diretas.


(Imagem: http://bnr.bg)

● Trifon Marinov Ivanov (Трифон Маринов Иванов, em búlgaro) nasceu em 27/07/1965, na cidade de Veliko Tărnovo, no norte da Bulgária. Deu seus primeiros passos no futebol em uma equipe da região onde nasceu, aos 18 anos, o Etar Veliko Tărnovo. Aos 23 anos, foi atuar no gigante de seu país, o CSKA Sofia, onde ficou por dois anos nessa primeira passagem, conquistando vários títulos, dentre eles o bicampeonato búlgaro.

Entre 1990 e 1993, atuou no Real Betis, da Espanha, mas voltando aos clubes anteriores por curtos empréstimos: Etar Veliko Tărnovo (em 1991) e CSKA Sofia (1992). Nessa época, foi sondado pelo Barcelona para ocupar o lugar de Ronald Koeman, que estava lesionado, mas o presidente do Betis impediu, afirmando que o clube precisava dele.

Em 1993, foi jogar no Neuchâtel Xamax, da Suíça. Voltou ao CSKA em um novo e ligeiro empréstimo em 1995.

Ainda em 1995, foi atuar no Rapid Wien, onde ficou por dois anos e venceu a Bundesliga Austríaca de 1995/96 e chegou na decisão da Recopa Europeia, perdendo a final para o PSG de Raí.

Jogou a temporada 1997/98 no rival Austria Wien, com um último empréstimo relâmpago ao CSKA.

Já em fim de carreira, continuou na Áustria, mas nas divisões inferiores, vestindo a camisa do inexpressivo Floridsdorfer AC até 2001, quando pendurou as chuteiras aos 36 anos.


(Imagem: blogartedabola.com.br)

● Mas seus grandes momentos foram mesmo com a camisa da seleção de seu país. Era fundamental para uma equipe com vocação ofensiva. Ele servia de “limpa trilhos”. Disputou 77 partidas pela seleção e marcou seis gols.

Aqui cabe um “parêntese”. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, a Bulgária nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Nada dizia que seria diferente em 1994, ao ser goleada logo na estreia pela Nigéria por 3 a 0. Mas a partir do segundo jogo, sob a batuta do maestro Stoichkov e o suor de Ivanov e seus companheiros, o time foi engrenando e chegou nas semifinais, dando trabalho para a Itália de Roberto Baggio, vendendo caro a derrota por 2 x 1. Na decisão do 3° lugar, a Bulgária se descaracterizou e foi goleada por 4 x 0 pela Suécia. O Lobo Búlgaro falou sobre esse jogo em outubro de 2013, em uma entrevista à revista So Foot:

“Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não quis. Eu nunca vou me esquecer do quarto gol, de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.

A queda de nível de uma equipe limitada nos anos seguintes acentuou ainda mais a importância do talento de Stoichkov e a raça e liderança de Ivanov (capitão de sua seleção entre 1996 e 1998). A Bulgária não passou de fase na Eurocopa de 1996 e na Copa de 1998. Aliás, depois dessa prolífica geração, os búlgaros nunca mais se classificaram para uma Copa do Mundo e disputaram apenas uma Euro (2004, caindo na primeira fase).

Disciplinado, o próprio zagueiro disse que foi expulso apenas duas vezes na carreira, sendo uma quando atuava na Áustria. Um adversário o chamou de “búlgaro sujo” e Ivanov o acertou com uma cotovelada, pegando seis jogos de gancho. A segunda vez foi em um amistoso contra a seleção da Itália, em Sófia. Gianluca Vialli cuspiu em sua cara e Trifon o levou ao chão.

Nunca se importou com as regras extra-campo, a ponto de ter sido visto bebendo e fumando minutos antes de um jogo na Copa de 1994.

Certa vez, quando ainda era jogador, Ivanov comprou e teve por pouco tempo um tanque de guerra do exército. Ele o conduziu no campo por duas vezes, apenas para testá-lo, mas um jornal sensacionalista local publicou que Ivanov andava com tanques. A partir daí ele começou com o hábito de não conceder entrevistas.

Após se retirar dos gramados, Ivanov preferiu viver recluso na sua cidade natal com sua família e continuou evitando a imprensa. A partir daí, enfrentou adversários mais ferozes, como a depressão, o alcoolismo e a obesidade. Em agosto de 2015, foi internado por problemas cardíacos. Mas em 13/02/2016 esse mesmo coração não resistiu a um ataque fulminante e faleceu aos 50 anos.

A admiração dos brasileiros pelo Lobo Búlgaro (seu apelido mais marcante) é tamanha que em 2013 foi criada a Copa Trifon Ivanov, um campeonato de várzea para “esforçados” de São Paulo. Ao descobrir o torneio, os jornalistas búlgaros estavam completamente confusos: “A Copa Trifon Ivanov será realizada neste sábado. Até agora, nada de anormal. Só que… o torneio será realizado no Brasil!”, escreveram perplexos na época da primeira edição, tentando explicar a idolatria pelo zagueiro por ele ter se tornado um ícone cult entre os fãs do futebol da década de 90.

Na verdade, Trifon representou muito mais do que um jogador de futebol. Ele deixou um ensinamento puro, simples e admirável: a dedicação e o esforço incondicionais nunca são demais. Se eles não superam o talento nato, pelo menos eleva o ser humano, tanto em nível pessoal, quanto profissional.

E a lembrança de Ivanov a partir de uma figurinha é muito mais do que aquele jogador, aquela seleção ou aquela Copa. É símbolo de uma era, de uma época boa das nossas vidas.


(Imagem: Panini)

Feitos e premiações de Trifon Ivanov:

Pela seleção da Bulgária:
– 4° lugar na Copa do Mundo de 1994.

Pelo CSKA Sofia
– Campeão do Campeonato Búlgaro em 1988/89, 1989/90 e 1991/92.
– Campeão da Copa da Bulgária em 1988/89.
– Campeão da Supercopa da Bulgária em 1989.

Pelo Rapid Vienna:
– Campeão do Campeonato Austríaco (Bundesliga) em 1995/96.
– Campeão da Copa da Áustria em 1994/95.
– Vice-campeão da Recopa Europeia em 1995/96.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito melhor jogador da Bulgária em 1996.
– Capitão da seleção da Bulgária entre 1996 e 1998.


(Imagem: Goal)

… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”

Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”


(Imagem: paixaocanarinha.com.br)

● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)

● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.

● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.

– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.

– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.

– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.

– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.

– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.

P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.