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… 29/05/1919 – Brasil 1 x 0 Uruguai

Três pontos sobre…
… 29/05/1919 – Brasil 1 x 0 Uruguai


Em pé: Píndaro, Sérgio, Marcos, Fortes, Bianco e Amílcar. Agachados: Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo. (Imagem: O Malho)

● O Brasil foi a sede da terceira edição do Campeonato Sul-Americano de futebol (atual Copa América). Esse foi o ponto chave de inclusão da massa no futebol brasileiro. E um simples esporte, um relés jogo de bola mudou para sempre o jeito de ser do brasileiro, representando a inclusão do povão em uma modalidade antes reservada às elites. E, desde então, os governantes perceberam o poder do futebol e passaram a capitalizar sobre suas vitórias. Era a já centenária política de “pão e circo”.

Antes de tudo, é necessário tentar compreender um pouco de como era o Brasil cem anos atrás. Era um país bem menos igualitário, em que o poder da elite predominava sobre as massas ainda mais do que é hoje em dia. Uma nação sem identidade, que era conduzida com mãos de ferro por barões e coronéis. A Lei Áurea havia sido assinada há pouco mais de trinta anos. Os negros, mestiços e pobres não tinham “direito” de praticar o futebol.

Até o fim da década de 1910, para praticar o esporte sem ser malvisto era preciso estudar ou trabalhar. Via de regra, os treinos aconteciam após o expediente ou em dias de folga, tendo como objetivo se preparar para o jogo do final de semana. Os “atletas” geralmente trabalhavam em firmas estrangeiras ou faziam faculdade. Nunca se imaginava que alguém poderia ganhar a vida com isso, receber exclusivamente para praticar futebol.

Pouco a pouco, a paixão pela bola foi se espalhando pelas periferias e atingiu o grande público. E o povão foi levando jeito para a coisa. Com o tempo, os clubes elitistas acabaram abrindo as portas para os brancos pobres e, depois, para os mulatos e negros. O importante já passava a ser fortalecer o time. Era o início das rivalidades locais, hoje tão enraizadas.


(Imagem: CBF)

● O Campeonato Sul-Americano de 1919 estava marcado para acontecer em 1918, no Rio de Janeiro. Mas uma devastadora epidemia de gripe espanhola obrigou o adiamento da competição. O vírus foi responsável por milhares de mortes no Brasil e cerca de 40 milhões em todo o mundo. Escolas e comércio foram fechados para diminuir o contágio. Relatos da época contam que os caminhões da Saúde Pública percorriam as ruas das cidades para recolher corpos deixados às portas das casas. Mas, felizmente, a partir de 1919, o Brasil foi totalmente infestado por outro vírus: o do futebol.

Situado no Rio de Janeiro, então capital federal, o estádio das Laranjeiras, propriedade do Fluminense FC, foi construído para ser palco do Campeonato Sul-Americano. Era o maior estádio da América Latina, mas pequeno diante do surpreendente interesse do público pela competição.

Foi inaugurado em 11/05/1919, na abertura do campeonato, quando o Brasil goleou o Chile por 6 x 0, com um hat-trick de Friedenreich, dois gols de Neco e um de Haroldo.

Uma semana depois, a Seleção venceu a Argentina por 3 x 1, com gols de Heitor, Amílcar e Millon.

Na última rodada, dia 26, o Brasil enfrentou o Uruguai e empatou por 2 x 2, após sair perdendo por 2 a 0. Neco fez os dois gols brasileiros.

Com isso, Brasil e Uruguai terminaram o campeonato empatados com cinco pontos (duas vitórias e um empate). Os charruas haviam vencido a Argentina por 3 a 2 e o Chile por 2 a 0. Assim, precisariam disputar um jogo desempate três dias depois.

O time uruguaio era a mesma base que havia vencido os dois primeiros Sul-Americanos e era grande favorito para vencer o terceiro. As futuras medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, além do título da primeira Copa do Mundo, em 1930, foram frutos colhidos pelo espírito de competitividade e pela organização uruguaia desde os primórdios. E o símbolo dessa transição vitoriosa era Héctor Scarone, um jovem de 20 anos naquele longínquo 1919 e um dos veteranos em 1930.


(Imagem: CBF)

● No dia 29/05/1919, em plena quinta-feira à tarde, o Rio parou. Por ordem de Delfim Moreira, presidente da República, as repartições públicas tiveram ponto facultativo e o comércio fechou suas portas ao meio-dia. Os bancos nem abriram.

Mesmo tendo capacidade para “apenas” 18 mil expectadores, o público oficial da decisão foi de mais de 28 mil – uma superlotação que se tornaria costumeira. Mas o desejo de assistir à final era tão grande, que quem não conseguiu adquirir seu ingresso escalou o morro vizinho e acompanhou a partida de lá mesmo. Naquele momento, começou-se algo que se tornaria também a marca do nosso povo: o “jeitinho brasileiro”.

Outra coisa marcante também e, até então inédita, foi a mistura do povo simples com os endinheirados. Agora, choravam e sorriam juntos, se abraçavam… começando a quebrar preconceitos. Era a democratização do futebol. E, paradoxalmente, o futebol sendo usado para democratizar. O esporte elitizado pelos ricos e brancos, passava a fazer parte da vida dos menos favorecidos. E todos unidos em dois objetivos: torcer para seu país e ser hostil aos rivais. O brasileiro queria a taça a qualquer custo para mostrar seu valor – nem que fosse através do futebol.

Os cavalheiros vestiam terno com gravata (na maioria borboleta) e chapéus – que, na comemoração dos gols, voavam das arquibancadas. As damas usavam vestidos bordados de seda e luvas, que no auge da aflição eram tiradas e torcidas a cada perigo de gol. Vem daí a origem do verbo “torcer” no esporte.

Houve uma espécie de catarse coletiva que envolveu toda a população. No decorrer das partidas, os ânimos ficavam exaltados e o futebol ganhava contornos de paixão. Na tentativa de evitar maiores problemas, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que depois se tornaria a CBF) pediu para que o policiamento no estádio fosse reforçado, evitando invasões ao campo.


Tanto Brasil quanto Uruguai jogavam no tradicional sistema tático clássico, 2-3-5 ou pirâmide.

● O início da partida foi um verdadeiro jogo de xadrez. A preocupação inicial das duas equipes era não sofrer gols. Tanto, que nenhuma grande chance foi criada no primeiro tempo e os goleiros foram meros expectadores.

Mas tudo mudou na segunda etapa. Com o cansaço dos atletas, as oportunidades começaram a surgir. Romano chuta forte e Marcos espalma para a linha de fundo. Friedenreich responde e obriga Saporiti a defender. Desde então, os goleiros não mais pararam de trabalhar. Heitor e Neco obrigaram o arqueiro uruguaio a fazer grandes defesas. Marcos também foi testado em um chute de primeira de Morán.

O passar do tempo causava uma angústia enorme na torcida, como nunca antes. A incerteza reinava e o jogo era lá e cá. Fried e Heitor tentaram, mas não conseguiram acabar com essa agonia. Isabelino Gradín, o único negro do Uruguai, melhor jogador do time e principal responsável pelas conquistas anteriores, chutou firme e Marcos pegou.

Como o empate prevaleceu ao fim dos 90 minutos, eram necessárias sucessivas prorrogações até que houvesse um vencedor. Mas os jogadores estavam destruídos fisicamente. Se atualmente os atletas sofrem com o tempo extra, imagine há cem anos, quando a preparação física era ainda incipiente. E ainda não eram permitidas as substituições. Agora, a vitória era mais uma questão de honra patriótica para ambos os lados.

O duelo continuou. Scarone passou pela marcação e chutou forte no canto. Em um voo espetacular, Marcos Carneiro de Mendonça conseguiu espalmar pela linha de fundo. Em suas memórias, o legendário goleiro afirmaria: “Foi a defesa mais difícil e importante da minha vida”. E talvez seja a mais fundamental de todo o futebol brasileiro. Sem ela, não haveria mais trinta extenuantes minutos de um novo tempo extra.


(Imagem: CBF)

● E, depois de mais de duas horas de jogo, o tão esperado grito de gol saiu da garganta logo aos três minutos da segunda prorrogação. Neco avançou pela direita marcado por Foglino, foi até a linha de fundo e cruzou. Heitor chutou em cima de Saporiti, que socou a bola para fora da área. Mas Friedenreich acompanhava a jogada e bateu de primeira, à meia altura, no canto do goleiro celeste.

O recém construído estádio das Laranjeiras quase veio abaixo. Os expectadores foram ao delírio, gritando, se abraçando e jogando seus chapéus para o alto. Os jogadores se abraçavam e beijavam Fried.

A vantagem no placar deu ânimo aos brasileiros, que permaneciam no ataque para tentar matar o jogo. Mas ele ainda não tinha acabado e o adversário era o Uruguai, que jamais se entrega em nenhuma peleja. Ainda restavam metade do primeiro tempo e todo o segundo.

Nos minutos finais, os uruguaios não se conformavam com a derrota e estavam irritados. Quase houve uma briga. O início, segundo o jornal “O Imparcial”, foi a provocação de um torcedor. “Scarone comete um foul na linha de fundo, do lado das gerais. Um popular diz-lhe qualquer coisa que não pudemos ouvir. O jogador uruguaio parte para tentar agredir o mesmo popular. A polícia intervém. Scarone e Gradim ameaçam deixar o campo. Os outros jogadores orientais não concordam e eles são demovidos dessa idéia.”

No recomeço, a pressão uruguaia aumenta e Marcos defende um último chute de Gradín. Já eram 17h25 e não restava mais tempo. Já estava começando a escurecer no Rio de Janeiro. E, enfim, o árbitro argentino Juan Pedro Barbera apita o fim da partida. O estádio é imediatamente invadido, se transformando em um grande palco de comemoração, em uma celebração que se arrastaria por toda a capital federal. Os mais festejados eram Arthur Friedenreich, autor do gol, e Marcos Carneiro de Mendonça, responsável por defesas milagrosas.


(Imagem: CBF)

● Um inédito e estranho orgulho de ser brasileiro se embrenhava por toda aquela gente. E tudo isso por um simples jogo de futebol. Aos poucos os torcedores foram deixando o estádio e contando o resultado do jogo a quem encontrasse. A boa notícia foi se espalhando pelos bondes, em frente às redações dos jornais, em toda a cidade. Em alguns dias, as filmagens do duelo estavam nas salas de projeção das principais cidades brasileiras. Todos queriam ver seu país vencedor.

A bola do jogo, com a assinatura de todos os jogadores, foi guardada numa redoma de vidro da antiga sede da CBD, como um troféu. A chuteira de Friedenreich, ainda suja de lama, ficou em exposição pública na vitrine de uma loja de luxo na rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro.

Para comemorar a conquista, o então jovem instrumentista Pixinguinha (apaixonado por futebol) e seu parceiro, o flautista Benedito Lacerda, compuseram a melodia do chorinho “1 a 0”. Só em 1993, Nelson Angelo escreveu uma letra para essa música, sobre futebol, mas sem nenhuma referência ao jogo que a inspirou.

Marcos Carneiro de Mendonça foi também o primeiro goleiro da Seleção Brasileira. É o mais jovem a defender o gol do Brasil, aos 19 anos. Pelo escrete nacional, foram dez jogos e 15 gols sofridos (uma bela média para a época). Lenda do Fluminense, o arqueiro era conhecido como “Fita Roxa”. Ele usava um uniforme estiloso, todo branco e com a referida fita roxa como um cinto, para prender o calção. Era considerado galã e arrancava suspiros do público feminino. Ao encerrar a carreira, foi historiador e presidente do Fluminense. Era pai de Bárbara Heliodora Carneiro de Mendonça, professora, ensaísta, tradutora e crítica de teatro brasileira, uma especialista e grande conhecedora da obra de William Shakespeare.

Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira, Arthur Friedenreich foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro em tempos de amadorismo. Autor do gol do título, ele foi humilde ao comentá-lo: “O gol foi do Neco, que fez uma jogada belíssima. Eu apenas tive o trabalho de chutá-la. Nada mais.” Ao fim da partida, o centroavante recebeu um pergaminho das mãos do capitão uruguaio com os dizeres: “Nós, os componentes da seleção uruguaia, concedemos ao senhor Arthur Friedenreich, o título de El Tigre por ser o mais perfeito centroavante do campeonato Sul-Americano”. Friedenreich mereceu e chorou de emoção.

Mas Fried quase ficou fora da grande decisão. Na noite anterior, ele recebeu uma homenagem em uma casa no Catete chamada “Flor do Abacate”. Ele pulou o muro do alojamento e foi para o evento mesmo com a proibição pela comissão técnica. Houve uma crise no vestiário, mas não a ponto de barrar o astro da partida.

Nada mais genuíno do que um mulato marcar o gol decisivo do primeiro título da história de nosso país. Fried não era branco e nem era negro: era o encontro das duas raças que simboliza a junção de culturas do país até os dias de hoje. Ele foi o responsável pela primeira grande alegria do futebol brasileiro.

E o Brasil se rendeu definitivamente às emoções do futebol, passando a ter seu próprio estilo de praticar o esporte: pouca disposição tática e física, mas com muito “molejo, picardia e a dança da capoeira” (disse certa vez Gilberto Freyre). O Brasil foi se tornando o país do futebol. As derrotas nos moldaram como “vira-latas” e as vitórias nos “assoberbam” até hoje. Para o brasileiro, o futebol não é caso de vida ou morte: é muito mais do que isso (como dizia Bill Shankly). O futebol passou a ser o termômetro da autoestima do povo. O futebol brasileiro passou a ser um patrimônio do povo.


(Imagem: CBF)

 

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 URUGUAI

 

Data: 29/05/1919

Horário: 14h00 locais

Estádio: Laranjeiras

Público: 28.000

Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)

Árbitro: Juan Pedro Barbera (Argentina)

 

BRASIL (2-3-5):

URUGUAI (2-3-5):

Marcos Carneiro de Mendonça (G)

Cayetano Saporiti (G)

Píndaro de Carvalho

Manuel Varela

Bianco Spartaco

Alfredo Foglino

Sérgio Pires

Rogelio Naguil

Amílcar Barbuy

Alfredo Zibechi

Fortes

José Vanzzino

Millon

José Pérez

Neco

Héctor Scarone

Arthur Friedenreich

Ángel Romano

Heitor Domingues

Isabelino Gradín

Arnaldo da Silveira (C)

Rodolfo Marán

 

Técnico: Ground Committeé (comissão técnica formada por: Arnaldo da Silveira [capitão], Amílcar Barbuy, Mário Pollo, Affonso de Castro e Ferreira Vianna Netto). Em alguns registros, consta simplesmente: Haroldo Domingues

Técnico: Severino
Castillo

 

SUPLENTES:

 

 

Dyonísio (G)

Roberto Chery (G)

Primo Zanotta (G)

José Benincasa

Palamone

Juan Delgado

Laís

Ricardo Medina

Picagli

Omar Pérez

Martins

Pascual Somma

Galo

Carlos Scarone

Luiz Menezes

 

Carregal

 

Arlindo

 

Haroldo
Domingues

 

 

GOL: 123′ Arthur Friedenreich (BRA)

Vídeo sobre a partida:

Veja mais fotos:


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)

Algumas matérias de jornais sobre o triunfo brasileiro:


O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Jornal do Brazil (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Gazeta de Notícias (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


A Razão (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Correio da Manhã (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)

… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai


(Imagem: Esporte Ilustrado)

Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. Então, nada mais justo que o Campeonato Sul-Americano de Futebol voltasse a ser sediado no Brasil após um longo hiato de 27 anos. Nas outras duas edições em que foi a dona da casa, a Seleção Brasileira havia se sagrado campeã: em 1919 e 1922.

O técnico Flávio Costa era unanimidade, um verdadeiro estrategista, criador do sistema “Diagonal”, utilizado pela Seleção desde 1944. A geração de craques era prolífica, se destacando o trio Zizinho, Ademir de Menezes e Jair Rosa Pinto.

Por tudo isso e muito mais, a Seleção Brasileira era a grande favorita. Se já não bastasse, esse protagonismo ficou mais latente com a ausência da Argentina (que estava com relações futebolísticas cortadas com o Brasil desde a Copa América de 1946). Por sua vez, o Uruguai mandou uma equipe repleta de amadores, que ficou em 6º entre os oito participantes. Cabe ressaltar que os dois países vizinhos viviam na época a maior greve da história do futebol sul-americano.


Flávio Costa: estrategista (Imagem: O Globo)

A fragilidade dos demais adversários era clara. O Brasil estreou massacrando Equador (9 x 1) e Bolívia (10 x 1). Depois, venceu o Chile por 2 x 1 com tranquilidade – por mais que o placar não mostre isso. Voltou às goleadas com 5 a 0 sobre a Colômbia, 7 a 1 no Peru e 5 a 1 no Uruguai. Na última rodada, bastando empatar para ficar com o título, perdeu de virada para o Paraguai por 2 x 1. (Seria premonição, sobre o que poderia vir na Copa do Mundo, contra outro rival sul-americano muito mais forte?)

O Paraguai terminou empatado em pontos com o Brasil (12 para cada), com seis vitórias (3 x 0 na Colômbia, 1 x 0 no Equador, 3 x 1 no Peru, 4 x 2 no Chile, 7 x 0 sobre a Bolívia) e uma derrota (2 x 1 para o Uruguai).

Com isso, agora seria necessária a disputa da partida desempate, novamente entre Brasil e Paraguai. Era uma verdadeira final.


O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Era quase a origem do 4-2-4 que a Hungria consagraria quatro anos depois.


A Seleção Paraguaia jogava no tradicional WM.

A derrota começou a causar desconfiança na torcida e, especialmente na imprensa carioca. Mas, em um estádio São Januário lotado com mais de 55 mil expectadores, se alguém tinha dúvida sobre capacidade do escrete nacional, ela começou a se dissipar aos 17 minutos, quando Ademir de Menezes, o “Queixada” abriu o placar.

Ele mesmo aumentou dez minutos depois.

O título já estava encaminhado. A vantagem já era enorme no intervalo. Tesourinha havia feito o terceiro aos 43′.

Logo no reinício, aos três, Ademir fazia seu “hat trick” ou “tripleta”, como se fala na América Latina.

O Paraguai não teve mais forças.

Tesourinha fez outro aos 70. Jair Rosa Pinto fechou o placar aos 72′ e aos 89′.


Trio fantástico: Zizinho, Ademir e Jair (Imagem: Os Gigantes da Colina)

Foi um troco com sobras! Um massacre por 7 a 0!

Zizinho deu um show! Ademir de Menezes foi eleito o melhor da competição. Jair Rosa Pinto foi o artilheiro, com nove gols.

Mesmo com a goleada sofrida, o goleiro Sinforiano García se destacou e foi contratado pelo Flamengo logo depois do torneio. O rubro-negro da Gávea também assinaria com o atacante Jorge Benítez em 1952. Após o título do Paraguai na edição de 1953 (e a vingança sobre a Seleção Brasileira), o Flamengo completou seu trio de guaranis contratando o técnico Fleitas Solich, por indicação do escritor José Lins do Rêgo.


(Imagem: Ficha do Jogo)

A 21ª edição do Campeonato Sul-Americano teve o número recorde de 135 gols, sendo 46 deles marcados pelo Brasil. Em 29 jogos, a absurda média de gols ficou em 4,66 por partida.

A expectativa era de que a Copa América fosse uma espécie de preparação para a Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo em casa no ano seguinte. A fragilidade dos adversários (principalmente pelo “time B” do Uruguai) enganou a todos quanto ao nível da equipe. Na Copa, o Brasil passou com tranquilidade contra o México (4 x 0), empatou com a Suíça (2 x 2) e sofreu para ganhar da Iugoslávia (2 x 0). No quadrangular final, goleou Espanha (6 x 1) e Suécia (7 x 1), mas perdeu de virada (2 x 1) para o Uruguai na última partida.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 7 x 0 PARAGUAI

 

Data: 11/05/1949

Horário: 21h00 locais

Estádio: São Januário

Público: 55.000

Cidade: Rio de Janeio (Brasil)

Árbitro: Cyril Jack Barrick (Inglaterra)

 

BRASIL (WM Diagonal):

PARAGUAI (WM):

Barbosa (G)

Sinforiano García (G)

Augusto (C)

Alberto González Gonzalito

Mauro

Casiano Céspedes

Ely

Manuel Gavilán

Danilo Alvim

Pedro Nardelli

Noronha

Sixto Castor Cantero

Tesourinha

Pedro Fernández

Zizinho

César López Fretes (C)

Ademir de Menezes

Dionisio Arce

Jair Rosa Pinto

Jorge Duilio Benítez

Simão

Félix Vázquez

 

Técnico: Flávio Costa

Técnico: Manuel Fleitas Solich

 

SUPLENTES:

 

 

Osvaldo Baliza (G)

Dionisio Maciel (G)

Wilso

Antonio Cabrera

Nílton Santos

Francisco Calonga

Bauer

Armando González

Rui

Rogelio Negri

Bigode

César Santomé

Cláudio Christovam de Pinho

Enrique Ávalos

Nininho

Sixto Noceda

Octávio Moraes

Santiago Rivas

Orlando Pingo de Ouro

Marcial Barrios

Canhotinho

Estanislao Romero

 

GOLS:

17′ Ademir de Menezes (BRA)

27′ Ademir de Menezes (BRA)

43′ Tesourinha (BRA)

48′ Ademir de Menezes (BRA)

70′ Tesourinha (BRA)

72′ Jair Rosa Pinto (BRA)

89′ Jair Rosa Pinto (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Pedro Fernández ↓

Marcial Barrios ↑

 

Félix Vázquez ↓

Estanislao Romero ↑

… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil


Argentina campeã da Copa América 1959 (Imagem: Goal)

● Na edição anterior do Campeonato Sul-Americano, a Argentina conquistou o título, embalada por jovens atletas, conhecidos como “Los Carasucias de Lima”. Agora, dois anos depois, o escrete albiceleste tinha que se refazer mais uma vez. Já não tinha mais Guillermo Stábile como técnico depois do fiasco de ter sido eliminado Copa do Mundo de 1958 (com direito a sofrer a maior goleada de sua história, um 6 x 1 para a Tchecoslováquia). Vários craques agora vestiam a camisa da seleção italiana, como Omar Sívori, Humberto Maschio e Antonio Valentín Angelillo. Assim, o país anfitrião da 26ª Copa América foi representado por jogadores com menos fama até então, como Jorge Griffa, Juan José Pizzuti, Héctor Sosa e Raúl Belén.

O grande favorito ao título era a Seleção Brasileira, que havia conquistado a Copa do Mundo na Suécia menos de um ano antes e viajou com força máxima. Dirigida por Vicente Feola, a base era a mesma: Gylmar, Castilho, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Mauro, Nílton Santos, Zito, Dino Sani, Zagallo, Didi, Garrincha e Pelé. Como novidades, dentre outros, apareciam nomes como os vascaínos Coronel (lateral esquerdo) e Almir Pernambuquinho (ponta de lança), o botafoguense Paulo Valentim (atacante) e o palmeirense Chinesinho (ponta esquerda).


Linha de frente de Seleção Brasileira: Garrincha, Pelé, Paulo Valentim, Didi e Zagallo. Na final, Chinesinho ocupou a ponta esquerda no lugar de Zagallo. (Imagem: Youtube)

● Mas o escrete canarinho começou mal, ao empatar com o Peru por 2 a 2. Depois, as quatro vitórias consecutivas voltaram a dar esperanças para o Brasil (3 a 0 sobre o Chile, 4 a 2 na Bolívia, 3 a 1 no Uruguai e 4 a 1 no Paraguai). Precisava vencer a Argentina em pleno Munumental de Núñez abarrotado por 85 mil hinchas.

Os donos da casa estavam com 100% de aproveitamento. Haviam vencido o Chile (6 x 1), a Bolívia (2 x 0), o Peru (3 x 1), o Paraguai (3 x 1) e o Uruguai (4 x 1). No torneio de pontos corridos, bastaria um empate com o Brasil para conquistar seu 12º título. E ele veio.


A comissão técnica formada por José Barreiro, José Della Torre e Victorio Spinetto escalou a Argentina no tradicional sistema WM.


O esquema tático implementado pelo treinador Vicente Feola foi o 4-2-4.

A Argentina abriu o placar com o meia direita Juan José Pizzuti aos 40 minutos de jogo.

Aos 13′ da etapa final, Pelé marcou e empatou a partida.

O garoto Pelé, já campeão do mundo e consagrado Rei, ainda tinha 18 anos. Foi o artilheiro da Copa América na única edição que disputou, anotando oito gols em seis jogos.

Foi pouco.

O empate por 1 x 1 e o título foi um consolo para os hermanos, ainda ressentidos pelo vexame de 1958.


Pelé marcou contra a Argentina, mas o Brasil não conseguiu vencer (Imagem: AFA)

● Ainda em 1959, a cidade equatoriana de Guayaquil inaugurou um novo estádio e solicitou a permissão da CONMEBOL para organizar um novo Campeonato Sul-Americano. A entidade concordou e, pela primeira e única vez em toda a história, houve duas edições da Copa América no mesmo ano. O torneio ganhou o status de “Campeonato Sul-Americano Extraordinário” e ocorreu de 05 a 25 de dezembro. O Uruguai se sagrou campeão, com a Argentina como vice e o Brasil com o 3º lugar. O detalhe é que a Seleção Brasileira foi representada pela Seleção Pernambucana, vice-campeã do antigo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais no mesmo ano de 1959.


Festa argentina pelo título conquistado em casa (Imagem: Impedimento)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 1 BRASIL

 

Data: 04/04/1959

Estádio: Monumental de Núñez

Público: 85.000

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Carlos Robles (Chile)

 

ARGENTINA (WM):

BRASIL (4-2-4):

Osvaldo Negri (G)

1  Gylmar (G)

Jorge Griffa

2  Djalma Santos

Juan Carlos Murúa

3  Bellini (C)

Juan Francisco Lombardo

6  Orlando

Eliseo Mouriño

4  Coronel

Vladislao Cap

5  Dino Sani

Ángel Nardiello

8  Didi

Juan José Pizzuti

7  Garrincha

Héctor Sosa

9  Paulo Valentim

Eugenio Callá

10 Pelé

Raúl Belén

11 Chinesinho

 

Técnicos: José Barreiro / José Della Torre / Victorio Spinetto

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Bertoldi (G)

Castilho (G)

Luis Cardoso

Mauro

Julio Nuín

Chico Formiga

Carlos Griguol

Paulinho de Almeida

Carmelo Simeone

Nílton Santos

José Varacka

Zito

Oreste Corbatta

Décio Esteves

Roberto Brookes

Dorval

Osvaldo Güenzatti

Almir Pernambuquinho

Pedro Manfredini

Henrique

Juan José Rodríguez

Zagallo

 

 

 

GOLS:

40′ Juan José Pizzuti (ARG)

58′ Pelé (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Juan Francisco Lombardo (ARG) ↓

Carmelo Simeone (ARG) ↑

 

Jorge Griffa (ARG) ↓

Luis Cardoso (ARG) ↑

 

Eugenio Callá (ARG) ↓

Juan José Rodríguez (ARG) ↑

 

Paulo Valentim (BRA) ↓

Almir Pernambuquinho (BRA) ↑

… 03/04/1957 – Argentina 3 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 03/04/1957 – Argentina 3 x 0 Brasil


Em pé: Giménez, Guillermo Stábila (técnico), Domínguez, Dellacha, Néstor Rossi, Schandlein e Vairo. Agachados: Corbatta, Maschio, Angelillo, Sívori e Cruz. (Imagem: Soccer Nostalgia)

● Depois da derrota para o Paraguai na decisão do Campeonato Sul-Americano de 1953, o Brasil não enviou delegação para a disputa do torneio em 1955, no Chile. No ano seguinte, terminou em quarto lugar, no Uruguai. Em 1957, tinha um time realmente muito bom, com grandes chances de conquistar o título. Aquela já era a base que conquistaria o mundo um ano depois, com Gylmar, Castilho, Djalma Santos, Nílton Santos, Bellini, Zózimo, Oreco, Zito, Dino Sani, Joel, Garrincha, Pepe e Didi. Mas nem essas lendas impediram mais uma “amarelada” brasileira em competições longe de casa.

A Argentina enviou uma equipe bastante renovada. Como o sindicato de jogadores impedia a convocação de aletas que atuavam no exterior, o mítico técnico Guillermo Stábile teve que convocar muitos jovens. A linha de frente era composta por alguns meninos: Omar Corbatta (21 anos), Humberto Maschio (24), Antonio Valentín Angelillo (19), Omar Sívori (21) e Osvaldo Héctor Cruz (25 – futuro jogador do Palmeiras). Esse quinteto ficou conhecido como “Los Carasucias de Lima” (“Cara-sujas” é uma gíria para “moleques” no país hermano).

Outros destaques eram o goleiro Rogelio Domínguez (futuro multicampeão pelo Real Madrid, que encerraria a carreira no Flamengo) e o maestro Néstor Rossi, o “Patrão da América”, veterano (31 anos) remanescente das grandes conquistas nos anos 1940.

“Los Carasucias de Lima”: Corbatta, Maschio, Angelillo, Sívori e Cruz (Imagem: Futebol Portenho)

Na penúltima rodada, a Argentina teria a chance de ser campeã por antecipação se vencesse o Brasil. Os portenhos vinham de quatro vitórias (8 x 2 contra Colômbia, 3 x 0 no Equador, 4 x 0 no rival Uruguai e 6 x 2 no Chile). Por sua vez, os brasileiros tinham um jogo a mais, e haviam vencido quatro jogos (4 a 2 sobre o Chile, 7 a 1 no Equador, 9 a 0 na Colômbia – partida na qual Evaristo de Macedo marcou cinco gols, recorde de um jogador na Seleção Brasileira até hoje – e 1 a 0 contra o Peru) e perdido uma partida (3 a 2 para o Uruguai).

Para ter alguma chance se sonhar com o título, a Seleção Canarinho não podia sofrer gols e tinha que vencer por pelo menos dois, para igualarem a pontuação e passar à frente no critério de desempate, o goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos).


Treinada pelo mito Guillermo Stábile, a seleção argentina jogava no esquema tático WM


O Brasil de Osvaldo Brandão também atuava no sistema WM, mas já ensaiava uma mudança para o 4-2-4 que se concretizou no ano seguinte com Vicente Feola

● Os primeiros minutos foram muito equilibrados. A Argentina teve a primeira chance em uma cobrança de falta de Schandlein, bem defendida por Gylmar. O Brasil apareceu assustando com Didi emendando uma falta de Joel. Sívori tentou por cobertura, mas Zózimo salvou. Evaristo se lesionou logo aos 10′ e foi substituído por Índio.

Aos poucos os albicelestes começaram a tomar conta do jogo e o placar foi aberto aos 23 minutos. Schandlein lançou do campo defensivo para Cruz na ponta esquerda. Ele cruzou rasteiro e Sívori chutou. A bola bateu em Djalma Santos e sobrou limpa para Angelillo mandar para o gol.

Maschio quase ampliou em seguida, mas Gylmar salvou “como um gato” e mandou para escanteio. Pepe teve a chance de empatar, mas Domínguez também fez grande defesa e espalmou para fora. Joel chegou a marcar aos 39′, mas o árbitro inglês Robert Turner anulou o tento por entender que houve falta do ponta direita. Sívori ainda perdeu uma boa chance ao isolar a bola.

No intervalo, o técnico Osvaldo Brandão trocou os goleiros: saiu Gylmar e entrou Castilho. Pouco depois do reinício, o mestre Zizinho (anulado por Néstor Rossi) foi sacado para dar lugar a Dino Sani.

A Argentina dominava. Os dez jogadores de linha atuavam no campo canarinho. O centroavante Angelillo chegou aumentar a vantagem, mas o gol foi anulado por impedimento. Ainda assim, quase o empate brasileiro aconteceu, em um sem-pulo de Índio que raspou a trave.

A cinco minutos do fim, o Brasil já estava todo bagunçado e não conseguia organizar um ataque sequer. E ficou ainda pior.

Aos 43′, Néstor Rossi passou por dois brasileiros, deixou com Angelillo, que passou para Maschio. O craque argentino encobriu Castilho para fazer o segundo gol de seu escrete.

Já nos acréscimos, Dino Sani perdeu a cabeça e empurrou Vairo. Na cobrança de falta, Maschio passou para Angelillo encher o pé. A bola foi na trave e sobrou para Cruz, que não perdoou e decretou o 3 a 0 e o título argentino por antecipação.

Na rodada final, a Argentina jogou sem interesse algum e perdeu para o Peru, dono da casa. Não mudava nada. A Argentina já havia se sagrado campeã do Campeonato Sul-Americano pela 11ª vez.


(Imagem: Los Andes)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 0 BRASIL

 

Data: 03/04/1957

Estádio: Nacional

Público: 55.000

Cidade: Lima (Peru)

Árbitro: Robert Turner (Inglaterra)

 

ARGENTINA (WM):

BRASIL (WM):

Rogelio Domínguez (G)

1  Gylmar (G)

Pedro Dellacha (C)

4  Djalma Santos

Ángel Schandlein

2  Édson

Cacho Giménez

3  Olavo

Néstor Rossi

5  Zózimo

Federico Vairo

6  Roberto Belangero

Oreste Omar Corbatta

7  Joel

Humberto Maschio

8  Zizinho (C)

Antonio Valentín Angelillo

9  Evaristo de Macedo

Omar Sívori

10 Didi

Osvaldo Héctor Cruz

11 Pepe

 

Técnico: Guillermo Stábile

Técnico: Osvaldo Brandão

 

SUPLENTES:

 

 

Antonio Roma (G)

Castilho (G)

David Iñigo

Édgar (G)

Federico Pizarro

Bellini

Jorge Benegas

Paulinho de Almeida

Juan Héctor Guidi

Nílton Santos

Oscar Mantegari

Oreco

Héctor De Bourgoing

Zito

José Sanfilippo

Dino Sani

Roberto Brookes

Cláudio Christovam de Pinho

Juan Castro

Garrincha

Miguel Juárez

Índio

 

GOLS:

23′ Antonio Valentín Angelillo (ARG)

87′ Humberto Maschio (ARG)

90′ Osvaldo Héctor Cruz (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Gylmar (BRA) ↓

Castilho (BRA) ↑

 

Zizinho (BRA) ↓

Dino Sani (BRA) ↑

 

Evaristo de Macedo (BRA) ↓

Índio (BRA) ↑

Elenco da Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1957. Em pé: Joel, Garrincha, Índio, Paulinho, Djalma Santos, Evaristo, Dino Sani, Pepe e Didi. Agachados: Zózimo, Belini, Castilho, Oreco, Edson e Olavo. (Imagem: Álbum dos Esportes)

… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil

Três pontos sobre…
… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil


(Imagem: Lance)

● O Brasil entrou como favorito à conquista do Campeonato Sul-Americano de 1953. Era o então detentor da taça (foi campeão no Maracanã, em 1949 – história que contaremos no dia 11 de maio). Contava com vários remanescentes da Copa do Mundo de 1950, na qual, se não conquistou o título, encantou o mundo.

O elenco mesclava a experiência de Barbosa, Danilo Alvim, Bauer, Zizinho e Ademir de Menezes, com jovens como Julinho Botelho e Pinheiro, e até alguns futuros campeões do mundo cinco anos depois: Castilho, Gylmar, Djalma Santos, Nílton Santos e Didi. O técnico era Zezé Moreira, o “inventor” da marcação por zona no futebol brasileiro (e irmão de Aymoré Moreira, treinador que ganhou a Copa de 1962).

A missão brasileira ficou relativamente mais “fácil” com nova ausência da Argentina e a tentativa de renovação da seleção uruguaia, que enviou uma equipe muito jovem e inexperiente.

Havia “apenas” uma grande ameaça ao título: o Brasil nunca havia vencido uma Copa América fora de seu país. Já tinha três títulos, mas sempre jogando em casa: 1919, 1922 e 1949.

Até então, o único troféu ganho no exterior havia sido o Campeonato Pan-Americano de Futebol de 1952, em Santiago, capital do Chile. E esse título que fez o Brasil deixar de ser um “amarelão” fora de casa foi conquistado por basicamente o mesmo elenco da Copa América de 1953.


Tanto Paraguai quanto Brasil jogavam no sistema tático WM.

● O torneio foi disputado no formato de pontos corridos e foi uma intensa batalha. Ao fim de seis partidas para cada, Brasil e Paraguai terminaram empatados com 8 pontos, o que obrigou a disputa de um jogo desempate.

O Brasil havia vencido quatro jogos (8 a 1 na Bolívia, 2 a 0 no Equador, 1 a 0 no Uruguai e 3 a 2 no Chile) e perdido dois (1 a 0 para o Peru e 2 a 1 para o Paraguai).

O Paraguai tinha vencido três (3 x 0 sobre o Chile, 2 x 1 na Bolívia e 2 x 1 no Brasil), empatado dois (0 x 0 com o Equador e 2 x 2 com o Uruguai) e perdido um (empatou por 2 x 2 com o Peru, mas foi punido com a derrota nos tribunais, devido ao comportamento anti-desportivo por ter feito uma alteração além das permitidas e pelo fato de um atleta ter chutado o árbitro). Ou seja, se o resultado de campo fosse mantido, o Paraguai teria sido campeão sem precisar do jogo extra.

Mas ele ocorreu. Mais de 35 mil pessoas encheram o estádio Nacional, de Lima, para assistir à decisão.

E os paraguaios foram implacáveis na etapa inicial.

Aos 14 minutos de jogo, Atilio López inaugurou o marcador.

A vantagem foi ampliada três minutos depois, por Manuel Gavilán.

No fim do primeiro tempo, aos 41′, Rubén Fernández fez o terceiro. Parecia que estava tudo decidido.

Mas o Brasil não se deu por vencido e diminuiu com dois gols de Baltazar, o “Cabecinha de Ouro”, aos 56′ e aos 65′.

Mas foi só. Foi o primeiro título da história do futebol do Paraguai, com gosto de revanche sobre a Seleção Brasileira, que o havia goleado na decisão quatro anos antes.

Mais uma vez o Brasil não conquistava o torneio fora de casa.

Pouco depois do torneio, o técnico Manuel Fleitas Solich foi contratado pelo Flamengo, por indicação do escritor rubro-negro José Lins do Rêgo. No mesmo ano, conquistou com o clube o primeiro título dentro do Maracanã e emendou logo um tricampeonato carioca (1953/54/55). Depois, Fleitas Solich ainda conquistaria a atual UEFA Champions League pelo Real Madrid em 1959/60 (e outras dezenas de títulos por onde passou).


Fleitas Solich marcou época como técnico da seleção paraguaia e do Flamengo (Imagens localizadas no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

PARAGUAI 3 x 2 BRASIL

 

Data: 01/04/1953

Estádio: Nacional

Público: 35.000

Cidade: Lima (Peru)

Árbitro: Charles Dean (Inglaterra)

 

PARAGUAI (WM):

BRASIL (WM):

Adolfo Riquelme (G)

Castilho (G)

Melanio Olmedo

Djalma Santos

Heriberto Herrera

Haroldo

Ireneo Hermosilla

Nílton Santos

Manuel Gavilán

Brandãozinho

Victoriano Leguizamón

Bauer (C)

Ángel Berni

Julinho Botelho

Atilio López

Didi

Rubén Fernández

Baltazar

Juán Ángel Romero

Pinga

Antonio Ramón Gómez

Cláudio Christovam de Pinho

 

Técnico: Manuel Fleitas Solich

Técnico: Zezé Moreira

 

 

 

 

Rubén Noceda (G)

Barbosa (G)

Antonio Cabrera

Gylmar (G)

Robustiano Maciel

Pinheiro

Domingo Martínez

Ely

Alejandro Arce

Danilo Alvim

Derlis Molinas

Noronha

Milner Ayala

Alfredo II

Inocencio González

Zizinho

Luis Lacasa

Ademir de Menezes

Pablo León

Ipojucã

Silvio Parodi

Rodrigues Tatu

 

GOLS:

14′ Atilio López (PAR)

17′ Manuel Gavilán (PAR)

41′ Rubén Fernández (PAR)

56′ Baltazar (BRA)

65′ Baltazar (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Atilio López (PAR) ↓

Silvio Parodi (PAR) ↑

 

Juán Ángel Romero (PAR) ↓

Luis Lacasa (PAR) ↑

 

Antonio Ramón Gómez (PAR) ↓

Inocencio González (PAR) ↑

 

Nílton Santos (BRA) ↓

Alfredo II (BRA) ↑

 

Pinga (BRA) ↓

Ipojucã (BRA) ↑

… 31/03/1963 – Bolívia 5 x 4 Brasil

Três pontos sobre…
… 31/03/1963 – Bolívia 5 x 4 Brasil


Em pé: Max Ramírez, Eduardo Espinoza, Wilfredo Camacho, Roberto Caínzo, Eulogio Vargas e Arturo López. Sentados: Ramiro Blacut, Máximo Alcócer, Víctor Agustín Ugarte, Ausberto García e Fortunato Castillo (Imagem: historiadoresdosesportes.com)

● A Copa América teve sua primeira edição em 1916. Desde então, ela passou a ser disputada com frequência, mas de forma intermitente. Entre 1916 e 1929, a competição só não ocorreu em 1918 e 1928. Voltaria em 1935 de forma bianual, mas continuaria irregular até 1967. Tanto, que em 1959 houve dois torneios.

Em 1963, a Bolívia foi sede do torneio pela primeira vez. Os bolivianos não tinham uma grande tradição no futebol. Haviam participado apenas de nove das 27 edições anteriores do torneio. Disputou a Copa do Mundo de 1930 (perdeu para a Iugoslávia e para o Brasil, ambos por 4 x 0).

Mas para compreender melhor as circunstâncias dessa partida histórica, precisamos voltar até a fatídica Copa do Mundo de 1950, sediada no Brasil. A seleção boliviana ganhou a vaga de presente após a desistência dos argentinos, que estavam com relações futebolísticas cortadas com o Brasil na época. A Bolívia foi sorteada no Grupo D, juntamente com Uruguai, França e Portugal. Franceses e portugueses desistiram antes mesmo de viajarem e a FIFA não preencheu suas vagas na competição. Ou seja: a Copa teria quatro grupos de quatro seleções, mas o Grupo C teve três (a Índia desistiu) e o Grupo D contou apenas com Uruguai e Bolívia. Ambos se enfrentaram em 02/07/1950, no estádio Independência, em Belo Horizonte, com massacre dos charruas por 8 a 0.


O povo boliviano ficou em festa com o título (Imagem: historiadelfutbolboliviano.com)

● Treze anos depois, a Bolívia sediaria o Campeonato Sul-Americano. Tinha um elenco fraco, mas contava com seu grande aliado desde sempre: a altitude – maior fator histórico do pouco sucesso das equipes boliviana e até mesmo de sua seleção. Os atletas locais, mais adaptados a jogar no mítico estádio Hernando Siles, na capital La Paz, a 3.600 metros acima do mar, costumam ter vantagem por sofrer menos com o ar rarefeito e seus impactos, como falta de ar, dor de cabeça e cansaço excessivo.

As três potências do continente se revoltaram por disputar a competição na altitude. O Uruguai desistiu e nem enviou sua delegação. A Argentina enviou uma equipe de jovens inexperientes. O Brasil, então bicampeão do mundo, optou por poupar seus principais atletas e convocou uma lista de jogadores de pouco prestígio até mesmo em seu próprio país. Os mais “famosos” eram o zagueiro Procópio, do Atlético-MG, e o atacante Flávio Minuano, do Inter.


Danilo Alvim, “O Príncipe” (Imagem: tardesdepacaembu.wordpress.com)

O técnico da Bolívia também nos faz recordar a Copa de 1950. Era o brasileiro Danilo Alvim, apelidado de “O Príncipe” pelo seu estilo refinado de jogo. Era um jogador muito técnico, mesmo sendo um volante marcador. Foi um dos pilares do CR Vasco da Gama das décadas de 1940 e 1950, que ficou conhecido como “Expresso da Vitória”.

Danilo foi um dos criticados após o Maracanazzo. Pendurou as chuteiras em 1956, no nosso amado Uberaba Sport Club e já emendou a carreira de técnico no clube mineiro, onde durou um ano. Mesmo sem experiência na função, foi descoberto e convidado pela Federação Boliviana de Futebol para ser o comandante da seleção anfitriã na Copa América de 1963. Discípulo do uruguaio Ondino Vieira (que o treinou no Vasco), Danilo armou o time no sistema tático WM – bastante ofensivo e desprotegido, se comparado com o 4-2-4 que já tinha virado moda desde o início da década.

A dona da casa contava com a liderança de Víctor Agustín Ugarte, “El Maestro”, que estava prestes a completar 37 anos e era remanescente da Copa de 1950. Citado por muitos como o maior jogador da história do país, já não tinha um rendimento físico e técnico como os companheiros e adversários, mas compensava com inteligência e bom posicionamento.


Víctor Agustín Ugarte, “El Maestro”, encerrou a carreira nos braços de seu povo (Imagem: historiadelfutbolboliviano.com)

● Mas a Bolívia não começou bem o torneio, ao empatar com o Equador por 4 x 4. Depois, com direito a catimba e retranca, virou sobre a Colômbia por 2 x 1. Na sequência, venceu o Peru por 3 x 2 e o Paraguai por 2 x 0. O sonho ficou mais próximo de se tornar realidade ao vencer a combalida Argentina por 3 x 2.

O formato do torneio era de pontos corridos. Àquela altura, na última rodada, bastava uma vitória diante do Brasil para garantir a taça. Mas a Bolívia foi além. Danilo teve todos méritos ao conter a empolgação de seus comandados, não os deixando levar pela torcida e pela imprensa. Nada estava decidido.

Três equipes tinham chances de título ou de forçar o jogo extra. A Bolívia tinha 9 pontos, o Paraguai 8, e o Brasil 7. A Bolívia dependia apenas de si precisava vencer o Brasil para ser campeã. O Paraguai necessitava vencer a Argentina e torcer por uma vitória (seria campeão) ou empate (forçaria o jogo extra) do Brasil sobre a Bolívia. O Brasil tinha que vencer a Bolívia para forçar o jogo extra, mas só se a Argentina derrotasse o Paraguai. Se isso acontecesse, Brasil, Argentina e Paraguai disputariam um triangular final – e a Bolívia estaria eliminada.

Contudo, na partida preliminar no estádio Hernando Siles, o Paraguai empatou com a Argentina no mesmo dia 31/03 e deixou os donos da casa a um empate do título.


A Bolívia jogou no já defasado sistema tático WM. Enquanto a defesa ficava desguarnecida, o ataque era fortalecido.


O Brasil, de Amyoré Moreira, foi escalado no seu já tradicional 4-2-4 – sistema tático que lhe rendeu as duas últimas Copas do Mundo.

● Sabendo do que precisava, a Bolívia começou com tudo. Abriu o placar com o ídolo Víctor Agustín Ugarte, aos 15 minutos de jogo.

O talismã Wilfredo Camacho ampliou aos 25′. Na partida anterior, contra a Argentina, Camacho tinha feito um gol de pura persistência, que deu origem à expressão “futebol camachista“, desde então usada para denominar a raça e entrega dos bolivianos durante uma partida.

O Brasil diminuiu logo na sequência, com Marco Antônio, que jogava no Comercial, de Ribeirão Preto.

Dois minutos depois, a Seleção Canarinho voltou a ter esperanças ao empatar, com gol de Almir, atleta do Taubaté.

Mas, aos 13 min do 2º tempo, o ídolo Ugarte frustrou os brasileiros e fez o terceiro dos locais. Ele não tinha feito nenhum gol na competição. Quando precisou, no jogo decisivo, fez logo dois. O camisa 10 se consagrou definitivamente como o maior mito do futebol local e encerrou a carreira ali mesmo.

Ausberto García ampliou aos 17′.

Flávio Minuano fez dois gols, aos 63′ e aos 66′ e deixou tudo igual novamente. Flávio era realmente muito bom e merecia ter disputado a Copa do Mundo de 1966, se não houvesse aquela bagunça generalizada na organização.

O placar se tornou definitivo em 5 x 4 a quatro minutos do fim, com o gol do ponta direita Máximo Alcócer, artilheiro boliviano no torneio com cinco gols.


(Imagem: historiadoresdosesportes.com)

● Com o resultado, a Bolívia (e sua altitude) conquistou o título da Copa América de 1963 de forma invicta, com cinco vitórias e um empate, marcando 19 gols e sofrendo 13. O sistema hiper-ofensivo de Danilo deu o resultado, embora sofresse na defesa.

A conquista rendeu aos heróis bolivianos uma pensão vitalícia garantida pelo Congresso Nacional do país.

O Paraguai foi o vice-campeão. O centroavante local Ramiro Blacut foi eleito o melhor jogador e o equatoriano Carlos Raffo foi o artilheiro, com seis gols marcados.

O Brasil terminou com o 4º lugar, com duas vitórias (1 x 0 no Peru e 5 x 1 na Colômbia), um empate (2 x 2 com o Equador) e três derrotas (2 x 0 para o Paraguai, 3 x 0 para a Argentina e os 5 x 4 para a Bolívia).


Os heróis do título reunidos em 2011 (Imagem: Jornal La Patria)

● A Copa América seguinte foi disputada no Uruguai, em 1967. A seleção boliviana, então detentora do troféu, terminou em último lugar, com um empate e quatro derrotas.

Desde então, a melhor classificação foi o vice-campeonato em 1997, quando voltou a jogar em casa. Perdeu a decisão para o Brasil de Ronaldo por 3 x 1.

Talvez essa geração da década de 1990 tenha sido a melhor do país em todos os tempos. Em 1994, jogadores como Erwin “Platini” Sánchez, Marco “El Diablo” Etcheverry e Julio César Baldivieso levaram a Bolívia de volta a uma Copa do Mundo. Nos EUA, perdeu para a Alemanha (1 x 0), empatou com a Coreia do Sul (0 x 0) e perdeu para a Espanha (3 x 1). Erwin Sánchez marcou o único gol dos bolivianos na história das Copas.


Seleção boliviana na Copa do Mundo de 1994 (Imagem: soccerfootballwhatever.blogspot.com)

FICHA TÉCNICA:

 

BOLÍVIA 5 x 4 BRASIL

 

Data: 31/03/1963

Estádio: Félix Capriles

Público: 25.000

Cidade: Cochabamba (Bolívia)

Árbitro: Ovidio Orrego (Colômbia)

 

BOLÍVIA (WM):

BRASIL (4-2-4):

Arturo López (G)

Silas (G)

Roberto Caínzo

Jorge

Eduardo Espinoza

Cláudio Danni

Eulogio Vargas

Procópio Cardoso (C)

Max Ramírez

Geraldino

Wilfredo Camacho

Ílton Vaccari

Máximo Alcócer

Marco Antônio

Ausberto García

Almir

Ramiro Blacut

Tião Macalé

Víctor Agustín Ugarte

Flávio Minuano

Fortunato Castillo

Oswaldo

 

Técnico: Danilo Alvim

Técnico: Aymoré Moreira

 

SUPLENTES:

 

 

Isaac Álvarez (G)

Marcial (G)

Hugo Palenque

Massinha

Alberto Torres Vargas

Amáury Horta

Osvaldo Villarroel

Mário Tito

Carlos Cárdenas

Ary

Jesús Herbas

William

Mario Zabalaga

Píter

Atilio Aguirre

Ílton Chaves

Abdul Aramayo

Altamiro

Jaime Herbas

Amauri Silva

Renan López

Fernando

Edgar Quinteros

 

 

GOLS:

15′ Víctor Agustín Ugarte (BOL)

25′ Wilfredo Camacho (BOL)

26′ Marco Antônio (BRA)

28′ Almir (BRA)

58′ Víctor Agustín Ugarte (BOL)

62′ Ausberto García (BOL)

63′ Flávio Minuano (BRA)

66′ Flávio Minuano (BRA)

86′ Máximo Alcócer (BOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Jorge ↓

Massinha

 

Máximo Alcócer

Renan López

… 19/07/1966 – Portugal 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 19/07/1966 – Portugal 3 x 1 Brasil


(Imagem: Fernando Amaral FC)

● Era o encontro mais aguardado da primeira fase. Na cidade de Liverpool, no estádio Goodison Park, do Everton, 58.479 pessoas iriam assistir ao encontro de duas das melhores equipes da década. O Brasil do Rei Pelé enfrentaria Portugal, do “príncipe” Eusébio, o “Pantera Negra”.

No Brasil, o otimismo era intenso e inveterado, contaminando torcida, imprensa e jogadores. Ninguém seguraria a Seleção, com Pelé e Garrincha ainda mais experientes que nas duas Copas anteriores. A revista Realidade chegou a publicar uma reportagem de capa prevendo como o Brasil conquistaria o tri.

A preparação brasileira foi uma enorme festa. O técnico Vicente Feola montou um grupo deveras inchado, com 47 jogadores, que se exibiu em cinco cidades brasileiras antes de embarcar para a Inglaterra. Além disso, a preparação física feita por Rudolf Hermanny, especialista em judô, se mostraria um enorme fiasco.

Dessa forma, o Brasil se tornou uma mescla mal feita entre alguns craques bicampeões nas duas Copas anteriores, com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito, Garrincha e Pelé, além de jogadores que viriam a encantar o mundo em 1970, como Brito, Gérson, Tostão e Jairzinho. Várias unanimidades ficaram fora da lista final, como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Servílio e outros.

Em compensação, Portugal chegou voando ao Mundial, tendo como base a equipe do Benfica, bicampeã da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) no início da década. Treinada pelo brasileiro Otto Glória, Portugal tinha uma ótima equipe a partir do meio campo. Todos os jogadores da linha de frente vestiam a gloriosa camisa encarnada: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões. O “calcanhar de Aquiles” era o fraco sistema defensivo, que compensava com virilidade e violência.

Estreante em Copas do Mundo, “Os Magriços” começaram a competição com tudo, ao vencer a forte Hungria por 3 a 1. Na segunda rodada, inapelavelmente bateu a Bulgária por (baratos) 3 a 0. Assim, estava praticamente assegurado na fase seguinte, faltando apenas a confirmação matemática.

O Brasil começou bem, vencendo uma frágil Bulgária por 2 a 0, na última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção. Eles nunca perderam atuando juntos. Foram 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Curiosamente os dois gols contra os búlgaros foram em cobranças de falta diretas, um anotado pelo Rei e outro por Mané.

A Seleção estava invicta em Copas do Mundo havia 13 partidas, desde a derrota para a Hungria em 1954. Mas todas as fragilidades ficaram claras com a quebra de invencibilidade na segunda rodada, uma derrota por 3 a 1 para a mesma Hungria. (Curiosamente, Djalma Santos participou dessas duas partidas.) Com uma equipe lenta, especialmente no sistema defensivo, a Seleção foi presa fácil para a ótima geração húngara, que tinha Flórián Albert e Ferenc Bene como destaques. Pelé não jogou, lesionado. Essa foi a despedida de Garrincha com o escrete canarinho e sua única derrota em um total de 60 partidas.

Assim, para conseguir a vaga na próxima fase sem depender do resultado do jogo entre Hungria e Bulgária, o Brasil precisaria bater os portugueses por três gols de diferença, por causa do critério de desempate “goal average” (número de gols marcados divididos entre o número de gols sofridos).


Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.


Vicente Feola escalou o Brasil no sistema 4-2-4.

● Pela necessidade de mudança de postura e de resultados, o técnico Vicente Feola simplesmente “surtou” e promoveu nada menos que nove mudanças em relação à partida anterior. Só Jairzinho e Lima foram mantidos como titulares. O capitão Bellini foi barrado, com a justificativa de que não tinha mais o mesmo vigor. Mas, como veremos, nem Brito e tampouco Orlando seriam capazes de parar Eusébio no auge da forma. Ele estava voando. Ele despontou para o futebol ainda garoto, jogando em Moçambique (seu país natal) e foi indicado ao Benfica pelo brasileiro Bauer, vice-campeão do mundo em 1950.

A reformulada e desentrosada defesa brasileira errou bastante, permitindo várias chances para o adversário. Rildo chegou a tocar a bola com o braço dentro da própria área, mas o árbitro inglês não marcou a penalidade máxima. O grande goleiro Manga falhou feio duas vezes, permitindo dois gols lusos.

A boa notícia era o retorno de Pelé, que não estava no melhor de sua forma física depois de ser alvo da violência dos búlgaros e ficar fora contra os húngaros. Desde o início, a defesa lusa fazia de tudo para pará-lo, de qualquer forma – especialmente com faltas repetidamente violentas, cometidas principalmente pelos zagueiros Morais e Vicente. O árbitro George McCabe ignorava as sucessivas agressões ao Rei.

Mas a Seleção não deixou por menos. Após uma cobrança de falta de Pelé, o goleiro José Pereira faz uma defesa segura e o atacante brasileiro Silva Batuta entrou feio, empurrando o goleiro português para dentro do gol. O tempo fechou e os patrícios reclamaram muito com a arbitragem.

Melhor em campo desde o início, Portugal inaugurou o marcador aos 15 minutos de partida. Eusébio escapou pela ponta esquerda e cruzou para a área. Manga, nervoso, espalmou feio para cima e o baixinho Simões cabeceou para o gol.

Aos 27, Coluna cobrou falta, o gigante Torres (1,91 m) ganha da zaga pelo alto e escora para Eusébio. Mesmo marcado por Orlando, o “Pantera” consegue cabecear para o gol. A bola vai em cima de Manga, que não consegue fazer a defesa. Era o segundo gol luso.

Dois minutos depois, Pelé recebeu duas entradas criminosas no mesmo lance. A segunda foi do zagueiro Morais, que tirou o Rei da partida. Ele voltou para o jogo no segundo tempo, mas apenas mancava em campo, fazendo número na ponta esquerda enquanto conseguiu, já que não eram permitidas substituições à época. Com um jogador a menos e Eusébio jogando o fino da bola, ninguém acreditava mais em um resultado diferente. Muito menos os brasileiros.

O Brasil só descontaria aos 25 minutos do segundo tempo, em um de seus raros ataques. Rildo invade a área e chuta cruzado e rasteiro, no canto esquerdo do goleiro José Pereira. Naquela altura, o Brasil precisaria de mais quatro gols, pois a Hungria estava vencendo a Bulgária por 3 a 1 (placar que se manteria até o fim).

No final da partida, Eusébio cobrou uma falta com um chute fortíssimo e Manga foi no ângulo desviar para escanteio. Depois, o mesmo Eusébio foi até a linha de fundo e chutou sem ângulo, para outra bela e difícil defesa de Manga.

No escanteio oriundo dessa jogada, a cinco minutos do fim, a esquadra lusa jogou a última pá de cal sobre o Brasil. Coluna cobrou escanteio, Torres ganhou de Brito pelo alto e escorou de cabeça para Eusébio chegar como uma flecha e emendar de primeira, do bico da pequena área. E o placar de 3 a 1 se manteve até o apito final.

Portugal venceu e convenceu contra o Brasil. A impressão que se tinha era da “troca de reis”: o fim de Pelé e o início do reinado de Eusébio.

Após a partida, todos os portugueses queriam cumprimentar e consolar Pelé. Mas não tiveram pena nenhuma do camisa 10 durante os 90 minutos.


(Imagem: PA Photos / Otherimages / Época / Globo)

● Com essa derrota, o super Brasil, bicampeão em 1958 e 1962, estava vergonhosamente eliminado ainda na fase de grupos. O que parecia um grupo fácil, se enfrentado com seriedade, se tornou um dos maiores vexames da Seleção em Copas do Mundo. Era a terceira (e, por enquanto, última) vez que o Brasil caía na primeira fase de um Mundial. Foi assim também em 1930 e 1934.

Assim, terminava de forma incontestável a esperança do tricampeonato, que seria adiado por mais quatro anos.

Foi o fim da carreira do treinador Vicente Feola. Ele não conseguiu montar um time-base nem mesmo durante a disputa da Copa. Dos 22 convocados, 20 foram utilizados nas três partidas, sendo que ainda não eram permitidas substituições na época.

Desgostoso com o excesso de violência e com o fiasco brasileiro no Mundial, Pelé disse que nunca mais disputaria uma Copa do Mundo. Por sorte do universo do futebol, ele mudou logo de ideia.

Portugal terminou o Grupo 3 com 100% de aproveitamento. Nas quartas de final, teria uma partida teoricamente fácil contra a surpreendente Coreia do Norte.


(Imagem: Footy Fair)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 3 x 1 BRASIL

 

Data: 19/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 58.479

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: George McCabe (Inglaterra)

 

PORTUGAL (4-2-4):

BRASIL (4-2-4):

3  José Pereira (G)

12 Manga (G)

17 João Morais

3  Fidélis

20 Alexandre Baptista

5  Brito

4  Vicente

7  Orlando (C)

9  Hilário

9  Rildo

16 Jaime Graça

13 Denílson

10 Mário Coluna (C)

14 Lima

12 José Augusto

17 Jairzinho

13 Eusébio

19 Silva Batuta

18 José Torres

10 Pelé

11 António Simões

21 Paraná

 

Técnico: Otto Glória

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

1  Américo (G)

1  Gylmar (G)

2  Joaquim Carvalho (G)

2  Djalma Santos

22 Alberto Festa

4  Bellini

21 José Carlos

6  Altair

5  Germano

8  Paulo Henrique

14 Fernando Cruz

15 Zito

19 Custódio Pinto

11 Gérson

6  Fernando Peres

16 Garrincha

7  Ernesto Figueiredo

18 Alcindo Bugre

8  João Lourenço

20 Tostão

15 Manuel Duarte

22 Edu

 

GOLS:

15′ António Simões (POR)

27′ Eusébio (POR)

70′ Rildo (BRA)

85′ Eusébio (POR)

 “Os Magriços”
Era o apelido da seleção de Portugal que terminou a Copa do Mundo de 1966 em 3º lugar.
O apelido é baseado em Álvaro Gonçalves Coutinho, que era apelidado de “O Magriço”.
Álvaro era um cavaleiro português do século XIV que, juntamente com outros onze colegas, viajou para a Inglaterra para participar de um torneio para defender a honra de doze damas inglesas ofendidas por doze nobres, também ingleses.
Como essas damas não conseguiam encontrar cavaleiros na Inglaterra dispostos a lutar por suas respectivas honras, doze cavaleiros lusitanos partiram para essa luta, já que o povo português era conhecido em toda a Europa por serem defensores a honra.
A história é famosa e contada por Luís de Camões no canto VI de seu livro “Os Lusíadas”, mas é de veracidade duvidosa.

Ótima reportagem do “Canal 100” sobre a partida:

Melhores momentos da partida:

… 13/07/1950 – Brasil 6 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 13/07/1950 – Brasil 6 x 1 Espanha


(Imagem: FIFA.com)

● Nas Copas do Mundo de 1934 e 1938, todas as partidas eram eliminatórias, ou seja, se uma seleção perdesse uma vez, já seria eliminada. Esse formato cometia aberrações, como fazer a delegação de um país atravessar o mundo para jogar um mísera partida.

Mas se nas edições anteriores todos os jogos eram finais, o Mundial de 1950 quebrou completamente essa escrita. Não haviam finais em seu regulamento. O primeiro colocado de cada um dos quatro grupos de quatro se classificaria para um quadrangular final, onde todos jogariam contra todos e quem somasse mais pontos seria o campeão do mundo.

O Brasil foi líder do Grupo 1. Goleou o México por 4 a 0, empatou com a Suíça por 2 a 2 e venceu a Iugoslávia por 2 a 0.

O apelido de Fúria atribuído aos espanhóis surgiu nessa Copa, quando a Espanha fez a melhor campanha da primeira fase. No Grupo 2, foram vitórias sobre Estados Unidos (3 x 1), Chile (2 x 0) e Inglaterra (1 x 0).

No Grupo 3, a liderança ficou com a Suécia, que bateu a Itália (3 x 2) e empatou com o Paraguai (2 x 2). A Índia seria o quarto time, mas desistiu da competição em protesto contra uma decisão da FIFA que proibia jogar descalço, o que era costume no país.

O Grupo 4, devido à desistências de Escócia e Turquia, tinha apenas Uruguai e Bolívia. A Celeste Olímpica se classificou com uma vitória, ao golear La Verde com impiedosos 8 a 0.

Assim, estavam classificados para o quadrangular final: Brasil, Espanha, Suécia e Uruguai. A ordem dos confrontos foi decidida e não sorteada. Os jogos seriam disputados no Pacaembu e no Maracanã. A CBD solicitou que o Brasil jogasse as três partidas no Maracanã, que tinha maior capacidade oficial (150 mil, contra 60 mil do estádio paulista) e, consequentemente, gerava maior renda. Isso desagradou muito aos espanhóis, porque o Brasil seria o único país que não precisaria se deslocar entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Na primeira partida da fase decisiva, Espanha e Uruguai empataram por 2 a 2, enquanto o Brasil aumentava seu favoritismo massacrando a Suécia com 7 a 1. [Alguém aí lembrou de algum outro “7 a 1” em Copa do Mundo disputada no Brasil, com a Seleção em campo? Então, por favor, esqueça.]

Na segunda rodada, o Uruguai venceu a Suécia por 3 a 2 e o Brasil enfrentaria a Espanha. Se a Seleção vencesse, jogaria por um empate na última partida frente ao rival Uruguai.


O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Na imagem, ficam claros o losango no meio campo e a faixa diagonal que deu nome ao sistema.


A Espanha jogava no WM. O sistema defensivo com três zagueiros e dois meio campistas recuados, formam um “W”. Os dois meias avançados, os dois pontas e o centroavante, formam um “M”. Por isso o sistema 3-2-2-3 da época era chamado de WM. Conforme a imagem, o meio campo formava um retângulo.

● O Brasil vinha embalado pelo resultado contra os suecos. Todos esperavam um grande jogo, não apenas os 150 mil presentes no estádio Maracanã, mas todos os 52 milhões de brasileiros que se aglomeravam juntos aos rádios para escutar as narrações de Pedro Luiz (Rádio Panamericana de São Paulo, atual Jovem Pan) e da dupla Jorge Curi e Antônio Cordeiro (Rádio Nacional — veja mais abaixo).

A Espanha estava invicta há mais de um ano e tinha grandes jogadores, como o zagueiro José Parra (eleito para a seleção da Copa), o ponta direita Estanislau Basora e o centroavante Telmo Zarra (recordista de gols em um só campeonato espanhol até aparecerem os “extra-terrestres” Messi e Cristiano Ronaldo).

No escrete nacional, Friaça continuava na ponta direita, no lugar de Maneca, que sentia uma lesão na coxa.

Logo de cara o Brasil já começou a encantar os expectadores, mostrando um futebol bonito e envolvente.

Todavia, foi a Fúria quem teve a primeira oportunidade de tirar o zero do placar, mas Telmo Zarra desperdiça ao dominar a bola com a mão.

As duas equipes se alternavam no ataque até que, aos 15 minutos, Ademir de Menezes domina a bola fora da área e chuta no canto esquerdo. A bola desvia no espanhol Parra e tira qualquer chance de defesa para o goleiro. A FIFA só creditou o gol para o centroavante brasileiro mais de cinquenta anos depois. Para os padrões da época, foi considerado gol contra.

Depois, o capitão Augusto tirou em cima da linha o que seria o empate da Fúria. Na sequência, no minuto 22, o Brasil amplia o resultado. Jair Rosa Pinto chuta de canhota da entrada da área. Ramallets ainda alcança a bola, mas a deixa escapar. Ela toca a rede pelo alto e cai dentro do gol.

Com dois tentos de vantagem, o Brasil toma conta do jogo e marca mais um. Aos 31′, Chico recebe de Bigode, entra na área pelo lado esquerdo e chuta. Ramallets espalma e Ademir pega a sobra e chuta, para nova rebatida do goleiro espanhol. Chico pega a sobra e emenda de primeira para o gol.

Com a goleada já bem encaminhada, o Brasil passa a administrar a vantagem.

No segundo tempo, o domínio foi ampliado. O time forçou duas grandes defesas de Ramallets, em chutes de Friaça e Ademir. Mas ele seria vazado outra vez aos 10′. Após lançamento longo, Ademir avança pela ponta direita e cruza. A bola passa por vários jogadores e cai nos pés de Chico, que chuta no ângulo direito. Esse foi o gol de número 300 na história das Copas do Mundo.

Mal se deu a saída de bola, quando Zizinho cruza da direita e Ademir fuzila, de dentro da área. Era o quinto do Brasil.

Dez minutos depois, Ademir, o melhor em campo, dá um belo passe para Zizinho. O craque domina a bola dentro da área, tira o marcador espanhol e chuta forte, balançando as redes da Espanha, fazendo o sexto e mais bonito dos gols.

Com o resultado garantido, o Brasil parou de atacar e a torcida começou a cantar “Touradas em Madri” nas arquibancadas (veja mais abaixo).

Não parou nem com o gol de honra da Espanha. Aos 26′, Basora corre pela ponta direita e cruza para a pequena área. Perto da trave direita (e em posição de impedimento não marcada pela arbitragem), Silvestre Igoa acerta um lindo voleio e diminui a goleada.

Depois, Zarra ainda acertaria a trave.

No fim, os espanhois passaram a assistir o toque de bola brasileiro. Nada mais importava. Estava muito próximo o sonhado título mundial do Brasil em pleno Maracanã.


(Imagem: FIFA.com)

● Vencer a Espanha de forma tão avassaladora era a prova de que o Brasil estava preparado para ser campeão do mundo. Muitos consideram que essa partida foi a maior exibição da história da Seleção. O jornalista inglês Brian Glanville escreveu que o Brasil “jogava o futebol do futuro, quase surrealista, que taticamente não apresenta nada demais, mas tecnicamente é soberbo”.

Provavelmente nunca mais tenha se visto uma festa coletiva que unisse o país inteiro, como foi naquele 13 de julho de 1950.

É até hoje a terceira maior goleada sofrida pela seleção espanhola em toda sua história.

Na última rodada, a Espanha perdeu para a Suécia por 3 a 1, terminando com o 4º lugar geral.

O Brasil enfrentou o arquirrival Uruguai, precisando apenas de um empate para se sagrar campeão, mas todos sabemos como termina essa história.

● Após o quarto gol brasileiro, a torcida estava enlouquecida e começou a cantar em coro “Touradas em Madri”. Essa que é uma das marchinhas de Carnaval mais populares da história, foi composta por João de Barro (o Braguinha) e Alberto Ribeiro.

A música já era muito conhecida, mas curiosamente tinha sido desclassificada do Carnaval de 1938, quando a comissão do júri alegou que se tratava de um “pasodoble” (estilo espanhol) e não de uma marchinha.

Mas doze anos depois, cantada em uníssono por um público oficial de 152.772 pessoas, “Touradas em Madri” foi consagrada em pleno Maracanã.

Em uma entrevista à ESPN, o jornalista João Máximo, que estava presente no estádio naquele dia, relatou como tudo começou: “Quando fui ao jogo, havia pequenos grupos de torcedores que distribuíam uma paródia para ser cantada com o ‘Touradas em Madri’. Essa paródia mexia com Basora, Parra, Gaínza, Puchades, Panizo, jogadores espanhóis. O que eu acho é que esse papel se espalhou por vários grupos da arquibancada, as pessoas tentaram cantar a paródia. Mas claro que não pegou. O estádio de repente começou a cantar a mesma letra original que todo mundo conhecia.”

Braguinha também estava presente no Maracanã e chorou tanto de emoção, que nem conseguia falar. Muitos torcedores brasileiros não o reconheceram e pensaram se tratar de um torcedor espanhol que chorava de tristeza. Alguns queriam até agredi-lo. Mas era apenas Braguinha, chorando de felicidade ao ver seu trabalho ser eternizado eu um dos momentos mais felizes da história do país.

Touradas em Madri (1938)

Eu fui às touradas em Madri
E quase não volto mais aqui
Pra ver Peri beijar Ceci
Eu conheci uma espanhola
Natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse touro à unha
Caramba! Caracoles! Sou do samba
Não me amoles
Pro Brasil eu vou fugir!
Isto é conversa mole para boi dormir!”

● Assim como todos os jogos da Copa de 1950, esse é uma partida da qual se tem poucos registros. Uma verdadeira relíquia (descoberta por Thiago Uberreich, da Jovem Pan) é a a transmissão da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Infelizmente alguns trechos do áudio foram perdidos, mas a maior parte está disponível. Na narração, fica evidente a o envolvimento e a euforia da torcida.

 

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 6 x 1 ESPANHA

 

Data: 13/07/1974

Horário: 15h00 locais

Estádio: Maracanã

Público: 152.772

Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)

Árbitro: Reginald Leafe (Inglaterra)

 

BRASIL (Diagonal):

ESPANHA (WM):

1  Barbosa (G)

1  Antoni Ramallets (G)

2  Augusto (C)

2  Gabriel Alonso

3  Juvenal 

3  José Gonzalvo II

4  Bauer

4  Mariano Gonzalvo III

5  Danilo Alvim

5  José Parra

6  Bigode

6  Antonio Puchades

7  Friaça

7  Estanislau Basora

8  Zizinho

8  Silvestre Igoa

9  Ademir de Menezes

9  Telmo Zarra

10 Jair Rosa Pinto

10 José Luis Panizo

11 Chico

11 Agustín Gaínza (C)

 

Técnico: Flávio Costa

Técnico: Guillermo Eizaguirre

 

SUPLENTES:

 

 

Castilho (G)

Ignacio Eizaguirre (G)

Nena

Juan Acuña (G)

Nilton Santos

Francisco Antúnez

Ely

Vicente Asensi

Rui

Rafael Lesmes II

Noronha

Alfonso Silva

Alfredo II

Nando

Maneca

Luis Molowny

Baltazar

Rosendo Hernández

Adãozinho

José Juncosa

Rodrigues

César

 

GOLS:

15′ Ademir de Menezes (BRA)

21′ Jair Rosa Pinto (BRA)

31′ Chico (BRA)

55′ Chico (BRA)

57′ Ademir de Menezes (BRA)

67′ Zizinho (BRA)

71′ Silvestre Igoa (ESP)

Lances da partida:

Diversas imagens desse jogo:

… 12/07/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda

Três pontos sobre…
… 12/07/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda


(Imagem: Zimbio)

● A decisão do 3º e 4º lugar é uma partida em que ninguém quer disputar. Embora faça parte do calendário, você tem que perder para jogá-la. Mas, já que tem que ser jogada, é importante reerguer a cabeça e vencê-la. E foi isso que os holandeses fizeram muito bem em 2014.

A Holanda chegou bastante contestada para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Tinha caído na primeira fase da Eurocopa de 2012 e o técnico Louis van Gaal assumiu a Oranje logo depois. Na parte final da preparação para o Mundial, o treinador passou a testar uma variação do sistema 5-3-2, quase um 5-4-1. Uma heresia, se comparado ao tradicional e enraizado 4-3-3 holandês. Mas, na prática, além de fortalecer o sistema defensivo, o esquema passou a distribuir melhor os jogadores dentro de campo, de forma que ocupassem o máximo de espaços possíveis.

Na Copa, deu certo. Estreou enfiando uma goleada acachapante por 5 x 1 de virada na Espanha, que havia lhe tirado o título na final quatro anos antes. Depois, teve trabalho para bater a Austrália por 3 x 2, mas venceu o Chile por 2 x 0 e garantiu o primeiro lugar do Grupo B. Nas oitavas de final, vitória controversa sobre o México por 2 x 1, com um gol de pênalti (inexistente) nos últimos minutos. Nas quartas de final, parou no paredão da Costa Rica e venceu nos pênaltis. Nas semifinais, após novo empate sem gols, perdeu nas penalidades para a Argentina.

Agora queria sair do torneio em alta, enfrentando a Seleção Brasileira, de terra arrasada quatro dias antes pela goleada histórica sofrida diante da Alemanha, o famoso “7 a 1”.


O Brasil atuou no sistema 4-2-3-1. O técnico Luiz Felipe Scolari fez várias alterações em relação à equipe que perdeu para a Alemanha. Thiago Silva voltou de suspensão no lugar de Dante; Maxwell ocupou a lateral esquerda ao invés de Marcelo; Paulinho jogou no lugar de Fernandinho, no meio; Ramires e Willian ocuparam as pontas, que antes tinham Bernard e Hulk; no ataque, Fred foi sacado para a entrada de Jô.


Wesley Sneijder se lesionou no aquecimento e Van Gaal foi obrigado a escalar Jordy Clasie. O sistema tático continuou o mesmo, o 5-3-2, com liberdade total a Robben e Van Persie.

● A Holanda começou o jogo com mais ímpeto. Logo no primeiro minuto, Van Persie ganha de Thiago Silva em disputa pelo alto e toca para a ultrapassagem em velocidade de Arjen Robben. Thiago Silva segura o holandês e impede o gol. Equivocadamente, o árbitro Djamel Haimoudi marcou pênalti. A falta foi fora da área e passível de expulsão, mas ele aplicou apenas o cartão amarelo. O juiz argelino errou duas vezes no mesmo lance.

Robin van Persie cobrou forte, no ângulo esquerdo do goleiro Júlio César, que até foi na bola, mas não conseguiu pegar. Cobrança perfeita do capitão holandês para abrir o placar.

O segundo gol holandês saiu aos 17′. Robben avança e abre na ponta direita com De Guzmán, que cruza alta de primeira. David Luiz afasta mal, para o meio da área. Daley Blind domina de pé esquerdo e finaliza da pé direito no alto. Júlio César, desesperado, saltou tentando fechar o ângulo, enquanto tinham três defensores dentro do gol. Esse lance reflete o mesmo desespero de quatro dias antes, no vexame diante dos alemães. O detalhe é que no nomento do passe de Robben, De Guzmán estava ligeiramente impedido, mas a arbitragem viu o lance como legal. Era um lance morto, mas David Luiz deu o gol ao holandês.

Oscar avançou pelo meio, passou por dois marcadores e chutou fraco e rasteiro, para uma defesa tranquila do goleiro Jasper Cillessen.

Oscar cobra falta do lado direito, mas David Luiz cabeceia mal.

Robben encontra De Guzmán na entrada da área, mas ele chuta por cima, sem perigo.

Oscar cobra nova falta da direita, mas a bola passa por todo mundo e sai pela linha de fundo. Talvez a melhor oportunidade brasileira no jogo. Faltou um mísero toque na bola, que passou por Luiz Gustavo, Paulinho e David Luiz, sem que ninguém tocasse.

Van Persie chuta de fora da área. A bola quica e Júlio César a agarra.


(Imagem: The Telegraph)

● No segundo tempo, Robben chuta da esquerda, mas é travado por Thiago Silva. A bola sobe e quase é aproveitada por Wijnaldum antes de sair.

Oscar deixa com Ramires na entrada da área, que abre e bate cruzado para fora.

David Luiz bateu falta de longe, mas Cillessen defendeu em dois tempos.

Nos acréscimos, Robben abre na direita com Janmaat, que cruza rasteiro de primeira para a pequena área. Wijnaldum completa no cantinho esquerdo do goleiro Júlio César. Virou goleada! 3 a 0!

E ainda quase deu tempo de sair o quarto! Robben é lançado na esquerda, passa por David Luiz e cruza, mas Fernandinho evita o gol com o bico da chuteira, tirando as chances de Van Persie e Janmaat.


(Imagem: The New York Times)

● No apito final, vaias incessantes dos 68.034 presentes no Estádio Nacional Mané Garrincha. O sonho de disputar uma Copa do Mundo em casa, acabou sendo um grande pesadelo para a Seleção Brasileira.

O terceiro lugar na Copa era mais do que esperavam os holandeses no início do torneio. Mas aquele time tinha potencial para mais. Talvez tivesse feito uma partida melhor do que fez a Argentina na final contra os alemães. Arjen Robben estava “voando” durante a competição e mereceu ter sido eleito o “Bola de Ouro da Copa”, mas a honraria ficou (injustamente) com Lionel Messi.

A entrada em campo do goleiro Michel Vorm, nos acréscimos, entrou para a história. Essa Holanda é a primeira a ter utilizado todos os 23 jogadores em uma Copa do Mundo. Antes de 2002, eram 22 atletas na delegação. A França de 1978 e a Grécia de 1994 já haviam usado seus 22 convocados. Mas colocar 23 jogadores diferentes em campo em uma Copa do Mundo é um novo recorde.


(Imagem: Zimbio)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 0 x 3 HOLANDA

 

Data: 12/07/2014

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nacional Mané Garrincha

Público: 68.034

Cidade: Brasília (Brasil)

Árbitro: Djamel Haimoudi (Argélia)

 

BRASIL (4-2-3-1):

HOLANDA (5-3-2):

12 Júlio César (G)

1  Jasper Cillessen (G)

23 Maicon

15 Dirk Kuyt

3  Thiago Silva (C)

2  Ron Vlaar

4  David Luiz

3  Stefan de Vrij

14 Maxwell

4  Bruno Martins Indi

17 Luiz Gustavo

5  Daley Blind

8  Paulinho

16 Jordy Clasie

16 Ramires

8  Jonathan de Guzmán

11 Oscar

20 Georginio Wijnaldum

19 Willian

11 Arjen Robben

21 Jô

9  Robin van Persie (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Louis van Gaal

 

SUPLENTES:

 

 

1  Jefferson (G)

23 Tim Krul (G)

22 Victor (G)

22 Michel Vorm (G)

2  Daniel Alves

12 Paul Verhaegh

15 Henrique

13 Joël Veltman

13 Dante

14 Terence Kongolo

6  Marcelo

7  Daryl Janmaat

5  Fernandinho

6  Nigel de Jong

18 Hernanes

18 Leroy Fer

7  Hulk

10 Wesley Sneijder

20 Bernard

17 Jeremain Lens

10 Neymar Jr

21 Memphis Depay

9  Fred

19 Klaas-Jan Huntelaar

 

GOLS:

3′ Robin van Persie (HOL) (pen)

17′ Daley Blind (HOL)

90+1′ Georginio Wijnaldum (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Thiago Silva (BRA)

9′ Arjen Robben (HOL)

36′ Jonathan de Guzmán (HOL)

54′ Fernandinho (BRA)

68′ Oscar (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Luiz Gustavo (BRA) ↓

Fernandinho (BRA) ↑

 

57′ Paulinho (BRA) ↓

Hernanes (BRA) ↑

 

73′ Ramires (BRA) ↓

Hulk (BRA) ↑

 

70′ Daley Blind (HOL) ↓

Daryl Janmaat (HOL) ↑

 

90′ Jordy Clasie (HOL) ↓

Joël Veltman (HOL) ↑

 

90+3′ Jasper Cillessen (HOL) ↓

Michel Vorm (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Três pontos sobre…
… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Deu Branco: o “gol cala-boca”


(Imagem: FIFA.com)

● Programar uma partida para as duas e meia da tarde no calor infernal de Dallas foi realmente um desrespeito da FIFA aos atletas. Por isso, nos dias que antecederam à partida, só se falavam em dois assuntos na concentração da Seleção Brasileira: o calor e o substituto de Leonardo, fora da Copa do Mundo por ter sido suspenso pela FIFA por quatro partidas por conta de uma cotovelada em Tab Ramos, na dura vitória por 1 x 0 nas oitavas de final sobre os Estados Unidos, donos da casa.

Com um elenco versátil, a comissão técnica tinha várias possibilidades para a lateral esquerda. Uma delas era trazer Mazinho do meio e devolver Raí ao time titular. Outra seria deslocar Cafu para a esquerda. Uma opção mais defensiva seria improvisar o zagueiro Ronaldão. Mas o técnico Parreira fez o mais sensato e óbvio: escalou Branco, especialista da posição. O camisa 6 estava completamente recuperado de uma lesão crônica nas costas, mas ainda sentia falta de ritmo de jogo. Mas quando o preparador físico Moraci Sant’anna atestou sua condição para atuar os 90 minutos, era claro que seria titular. Além disso, Branco ainda teria uma das missões mais inglórias da Copa: marcar o veloz ponta direita holandês Marc Overmars, um dos destaques da competição até então. Mas o capitão Dunga já sabia por antecipação o antídoto contra o ponteiro holandês: “Não vamos deixar que ele seja lançado em velocidade e o Branco tem a experiência para correr atrás dele usando os atalhos.”

A boa notícia que chegava à concentração brasileira em Los Gatos era o nascimento de Mattheus, terceiro filho de Bebeto. Sua mulher, Denise, deu à luz o bebê às 14h20 do dia 07 de julho na Clínica São Vicente no Rio de Janeiro. O nome do rebento, escolhido pelo pai, era uma clara homenagem ao craque alemão Lothar Matthäus. Hoje com 24 anos, Mattheus de Andrade Gama de Oliveira é meia atacante e disputou a última temporada pelo Vitória de Guimarães, emprestado pelo Sporting, depois de ter sido revelado pelo Flamengo.

A Holanda nem de longe lembrava seus melhores momentos. Jogadores com espírito vencedor, como Ronald Koeman, Jan Wouters e Frank Rijkaard já haviam passado pela suas melhores fases. Marco van Basten e Ruud Gullit não estavam no elenco. Van Basten, pela recorrente lesão nos tornozelos. Gullit, por desavenças com o técnico Dick Advocaat.

Mesmo assim, os holandeses terminaram no primeiro lugar do Grupo F da primeira fase. Estreou vencendo com dificuldades a Arábia Saudita por 2 a 1. Depois, perdeu o clássico para a rival Bélgica por 1 a 0. Na terceira rodada, nova vitória por 2 a 1, desta vez sobre Marrocos. Nas oitavas de final, passou pela forte defesa da Irlanda venceu por 2 a 0.

O Brasil foi líder do Grupo B com sete pontos: derrotou a Rússia por 2 a 0, engoliu Camarões por 3 a 0 e empatou com a Suécia por 1 a 1. Nas oitavas de final, uma vitória duríssima (1 x 0) contra os anfitriões Estados Unidos, justamente no dia 04 de julho, data da independência do país. Mas agora brasileiros e holandeses se enfrentariam nas quartas de final.


O Brasil atuava no 4-4-2. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “Enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


Pela Orange, o técnico Dick Advocaat optou por retornar ao 4-3-3, com: Ed de Goey; Aron Winter, Stan Valcks, Ronald Koeman e Rob Witschge; Jan Wouters, Frank Rijkaard e Wim Jonk; Marc Overmars, Dennis Bergkamp e Peter Van Vossen.

● Como já era marca registrada, o Brasil entrou em campo de mãos dadas no estádio Cotton Bowl, em Dallas. Naquele momento, a temperatura era surpreendentemente amena para os padrões do verão no Texas. Os brasileiros eram maioria dos 63.500 expectadores.

Curiosamente, tanto a Seleção Canarinho quanto a Laranja Mecânica atuaram com seus respectivos uniformes reservas por determinação da FIFA. A entidade observava o fato de que mais da metade dos televisores do planeta ainda tinham imagem em preto e branco. Assim, para dar maior contraste, o Brasil vestiu camisa azul com golas e punhos brancos, calção branco e meiões azuis. A Holanda usou camisa branca, calção laranja e meias brancas.

E a bola rolou. Foi só isso que ela fez naquele insosso primeiro tempo. Seria um jogo de paciência e os dois lados sabiam disso.

A Holanda começou o jogo com o ataque marcando a saída de bola brasileira. Apesar da pressão, o escrete brasileiro conseguia encontrar espaços e seu futebol começou a fluir como ainda não tinha sido visto no torneio.

Branco e Koeman eram artilharia pesada no que dizia respeito a cobranças de falta. Antes dos dez minutos de partida, Branco assustou De Goeij com um tiro que passou perto do ângulo e Koeman mandou um torpedo que nocauteou Jorginho na barreira.

Mas além de levar perigo nas bolas paradas, Ronald Koeman era muito mais que um zagueiro. Era o verdadeiro líbero, cumprindo muito bem a função de armar sua equipe vindo de trás, acionando diretamente o trio de ataque com seus lançamentos. Quando ele avançava e saía para o jogo, Wouters era o responsável por recuar para compor a defesa com Valckx. Na prática, em diversos momentos a Holanda se esquematizava em um 3-4-3, sistema que não funcionou bem na primeira fase.

Enquanto isso, Branco conseguir marcar bem o impetuoso Overmars, contando com a cobertura impecável de Márcio Santos e Mauro Silva. O volante do Deportivo La Coruña se multiplicava em campo, cobrindo os dois lados da defesa e ratificando sua qualidade como o maior ladrão de bolas da Seleção. Com Mauro Silva, Dunga e Mazinho, o meio campo brasileiro marcava muito. Por outro lado, Zinho novamente era burocrático.

A marcação holandesa era toda encaixada: Wouters em Bebeto, Valckx em Romário e Koeman na sobra. Winter cercava Zinho e Witschge vigiava Mazinho; Rijkaard e Jonk colavam em Dunga e Mauro Silva. Até os pontas Overmars e Van Vossen acompanhavam as subidas dos laterais Branco e Jorginho. Com isso, eventuais avanços de Mauro Silva ou de um dos zagueiros brasileiros sempre pegavam a defesa holandesa desprevenida.

O zagueiro Stan Valckx foi o melhor amigo que Romário fez no período em que jogou no PSV, a ponto de o holandês vir visitar o Rio de Janeiro a convite do Baixinho. Agora no Barcelona, Romário dividia o vestiário com Ronald Koeman. Mas o brasileiro não tinha papas na língua e deixava claro seus pensamentos: “Dentro de campo não tenho amigos”.

Mas em um primeiro tempo em que a Holanda teve 52% de posse de bola, as melhores chances foram brasileiras. Na melhor delas, Romário, Zinho e Aldair tabelaram na entrada da área rival, mas o zagueiro chutou muito mal à esquerda do gol de De Goeij. Se alguém tivesse que estar vencendo, seriam os sul-americanos.


(Imagem: Getty Images)

● O segundo tempo seria alucinante e dramático. Começou com o Brasil sendo mais incisivo no ataque, buscando abrir o placar. Zinho acordou nos primeiros minutos, participou de uma jogada de contra-ataque e quase fez o gol.

Logo em seguida, aos oito minutos, Frank Rijkaard começou o contragolpe holandês e fez o passe longo. Aldair se antecipou e interceptou. Com a bola dominada, o camisa 13 fez um lançamento perfeito para Bebeto em velocidade na ponta esquerda. Ele dominou e cruzou para o meio da área, onde onde Romário chegava em disparada. O cruzamento foi um pouco mais alto do que o ideal, mas o Baixinho era o mestre das finalizações. De sem pulo, com os dois pés no alto, como se fosse um bailarino, ele finalizou de primeira e inaugurou o marcador. Era o quarto gol de Romário na Copa.

A vantagem fez a Seleção Brasileira recuar naturalmente, para tentar explorar os avanços do aversário, que atacava e abusava da tática do impedimento, com sua defesa muito alta.

Lesionado, Van Vossen deu lugar a Bryan Roy. Mas nada inibia Jorginho, que criava boas oportunidades. Em uma delas, ele tabelou com Mazinho e deu um passe vertical pela direita para Bebeto. Dentro da área, o camisa 7 chuta cruzado e a bola chega a tocar de leve na trave.

Mas aos 18 minutos, o goleiro De Goeij repôs a bola em jogo com um chutão, Branco escorou de cabeça e devolveu a bola para a intermediária ofensiva. Percebendo que estava em impedimento, Romário abandonou a jogada e passou a andar calmamente rumo ao seu próprio campo, no claro objetivo de mostrar que não participava do lance. O assistente Yousif Abdulla Al Ghattan, do Bahrein, percebeu o impedimento passivo do camisa 11 e não levantou a bandeira. A defesa holandesa se distraiu e Bebeto veio de trás, em posição legal, acelerando em direção à bola. O zagueiro Valckx se atira tentando parar o brasileiro a qualquer custo, mas Bebeto saiu livre, driblou De Goeij e tocou para o fundo do gol.

Os holandeses choram o gol impedido até hoje e afirmam que Romário participou da jogada, prendendo a atenção da defesa.

Na comemoração, Bebeto correu à linha lateral, posicionou os braços como quem carrega uma criança e passou a embalá-los para os lados. Romário e Mazinho o acompanharam na coreografia. Bebeto, assim, homenageava o filho recém-nascodo Mattheus. Estava criada a comemoração “nana-neném”, até hoje copiada mundo afora.

A Seleção Brasileira, enfim, começou a jogar um futebol rápido e envolvente e, pela primeira vez nessa Copa, empolgou sua torcida. Bebeto e Romário, a “Dupla BR”, colocava o Brasil em boa vantagem.

A torcida holandesa, também em bom número no Cotton Bowl, já estava desanimando, mas a resposta tardou apenas um minuto. O Brasil já comemorava, mas ninguém contava com a genialidade e esperteza de Dennis Bergkamp. Witschge cobrou o lateral e Aldair deixou Bargkamp entrar na área com a bola. O craque holandês ganhou a dividida com Márcio Santos e, na pequena área, deu um toque de bico sutil, tirando o alcance de Taffarel. Uma enorme falta de atenção do sistema defensivo brasileiro.

A Holanda se animou depois do primeiro gol. Faltava muito tempo ainda para se jogar. Para dar mais criatividade ao seu meio campo, o técnico Dick Advocaat tirou o apagado Rijkaard e colocou Ronald de Boer como centroavante, recuando Bergkamp. Essa mudança acuou o Brasil e a Holanda passou a mandar mais ainda no jogo.

Winter chutou rasteiro, mas Taffarel espalmou para o lado. A pressão holandesa era terrível.

Na cobrança de escanteio, Overmars levantou para a área e o próprio Winter se antecipou à defesa, desviando de cabeça para o gol. Estava tudo igual no placar. A Holanda retomava o sonho de ser semifinalista pela primeira vez desde 1978, quando foi vice-campeã. Mesmo sentindo falta de Gullit e Van Basten, aquele time tinha suas qualidades.

“Foram duas falhas incríveis da defesa. Todo mundo falhou, inclusive o Taffarel. Tomamos um gol que começou um lateral, uma coisa inacreditável para a categoria e a consistência daquele time. Aí conseguimos marcar o terceiro naquela falta cobrada pelo Branco, recuperamos o domínio do jogo e fomos em frente.” — Carlos Alberto Parreira

“Aquela seleção só tomou três gols. E dois naquele jogo. Ali, por algums minutos, ficou a sensação de que todo esse esforço, todo o sacrifício daquele grupo seria em vão.” — Mauro Silva

O empate fez a Seleção voltar a jogar.

O jogo fica dramático e Branco se agiganta. A dez minutos do fim, ele partiu para o campo de ataque acossado por Overmars e lhe deu um safanão no rosto, mas o juiz mandou o jogo seguir. O lateral brasileiro avançou pelo meio e foi “ensanduichado” por Jonk e Winter e, depois de caído, foi chutado sem bola por Koeman. Houve um princípio de confusão, com os holandeses reclamando do tapa recebido por Overmars e os brasileiros se queixando da agressão de Koeman.

Branco ajeitou a bola com carinho e cobrou com muito efeito. A curva colocada foi incrível, saindo da barreira. Atento, Romário se contorceu para desviar da bola, que passou raspando em suas costas. Provavelmente a presença de Romário interferiu na visão de De Goeij, mas é fato que o goleiro holandês poderia ter chegado melhor à bola. Ela chegou a tocar no pé da trave antes de entrar. Os holandeses até hoje lamentam a falha do goleiro De Goeij no chute de Branco.

Branco, às lágrimas, correu em direção ao banco de reservas e apontou para o Dr. Lídio Toledo, médico responsável por bancar sua permanência entre os convocados, e o massagista Nocaute Jack, que o acompanhou durante toda sua recuperação.

Com certeza aquele foi o gol mais importante da carreira de Branco, que o fez protagonista da melhor partida da Copa do Mundo.

Logo na saída, Raí entrou no lugar de Mazinho, dando fôlego novo ao meio campo.

Mais perto do fim, Parreira trocou o exausto Branco por Cafu.

Até o fim, o Brasil catimbou muito e deixou o tempo correr. Mauro Silva valorizou bastante uma falta recebida de Bergkamp e chegou a ficar quase três minutos no campo até sair para receber atendimento. Branco, antes de deixar o campo, quis cumprimentar todos jogadores que via pela frente.

O árbitro costarriquenho Rodrigo Badilla foi firme e deu cinco minutos de acréscimo.

A Seleção Brasileira suportou a pressão holandesa até os 50 minutos e depois comemorou a classificação às semifinais.


(Imagem: Pinterest)

● Pela primeira vez desde 1978, o Brasil estava entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo de futebol.

Zagallo deu seu depoimento mais marcante naquele Mundial: “Só faltam dois! Só faltam dois! Só faltam dois jogos! E nós vamos ser tetra!”

Ainda no gramado, o herói Branco foi à forra: “Mas e aí? Cadê o tal ponta da Holanda? Fiz o gol cala-boca! Foi o mais importante da minha carreira e serviu para calar a boca de quem achava que eu estava acabado. Mostrei a todos que vale a pena acreditar, mesmo nos momentos mais difíceis”.

O sempre crítico Romário dessa vez estava confiante: “Quem não gosta de espetáculo? Acredito que começamos a mostrar nesta grande vitória sobre a Holanda o futebol-arte. Enfim, mostramos um futebol digno de campeão do mundo”.

A comemoração “nana-neném”, feita por Bebeto (ao marcar um gol contra Camarões em homenagem a Lucas – filho de Leonardo, que nasceu dia 21/06 – e depois contra a Holanda, em homenagem ao próprio filho) ficou famosa, mas não foi uma invenção sua. Em 1971, Rivellino fez a mesma comemoração no jogo Corinthians 1 x 1 Santos, pela ocasião do nascimento de sua filha Roberta.

Na semifinal, novamente a Suécia fez uma partida imensa, mas a Seleção Brasileira venceu por 1 a 0, com um gol de cabeça do baixinho Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentaria justamente a Itália, assim como em 1970.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 2 HOLANDA

 

Data: 09/07/1994

Horário: 14h30 locais

Estádio: Cotton Bowl

Público: 63.500

Cidade: Dallas (Estados Unidos)

Árbitro: Rodrigo Badilla (Costa Rica)

 

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-3-3):

1  Taffarel (G)

1  Ed de Goeij (G)

2  Jorginho

20 Aron Winter

13 Aldair

18 Stan Valckx

15 Márcio Santos

4  Ronald Koeman (C)

6  Branco

5  Rob Witschge

5  Mauro Silva

6  Jan Wouters

8  Dunga (C)

3  Frank Rijkaard

17 Mazinho

8  Wim Jonk

9  Zinho

7  Marc Overmars

7  Bebeto

10 Dennis Bergkamp

11 Romário

19 Peter van Vossen

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Dick Advocaat

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

13 Edwin van der Sar (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

22 Theo Snelders (G)

14 Cafu

15 Danny Blind

3  Ricardo Rocha

14 Ulrich van Gobbel

4  Ronaldão

21 John de Wolf

16 Leonardo

16 Arthur Numan

10 Raí

2  Frank de Boer

18 Paulo Sérgio

9  Ronald de Boer

19 Müller

17 Gaston Taument

21 Viola

11 Bryan Roy

20 Ronaldo

12 John Bosman

 

GOLS:

53′ Romário (BRA)

63′ Bebeto (BRA)

64′ Dennis Bergkamp (HOL)

76′ Aron Winter (HOL)

81′ Branco (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

40′ Aron Winter (HOL)

74′ Dunga (BRA)

89′ Jan Wouters (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Peter van Vossen (HOL) ↓

Bryan Roy (HOL) ↑

 

65′ Frank Rijkaard (HOL) ↓

Ronald de Boer (HOL) ↑

 

81′ Mazinho (BRA) ↓

Raí (BRA) ↑

 

90′ Branco (BRA) ↓

Cafu (BRA) ↑

Gols da partida:

Reportagem da TV Globo sobre o jogo: