Três pontos sobre…
… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália
(Imagem: Pinterest)
● Em uma Copa do mundo, o jogo da decisão do 3º lugar é sempre frustrante. Em 1978 esse sentimento foi ainda maior.
A Itália perdeu a vaga na decisão de virada, depois de ter jogado muito bem nos primeiros 45 minutos. O Brasil ainda remoía a polêmica partida entre Argentina e Peru, cuja goleada a favor dos albicelestes classificou os donos da casa para a final no saldo de gols.
O Brasil tinha jogadores talentosos, como Rivellino, Zico, Reinaldo, Dirceu, Toninho Cerezo e Roberto Dinamite. Mas não conseguia engrenar. O técnico era Cláudio Coutinho, que havia sido o preparador físico da Seleção em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele foi o responsável por implantar os conceitos de “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência” na Seleção. A ignorância de Coutinho em não convocar Falcão e Marinho Chagas deixou a Seleção sem dois dos maiores craques da década de 1970.
O técnico Enzo Bearzot renovou boa parte do elenco italiano que foi um fiasco no Mundial de 1974, caindo na primeira fase. Ele preferiu não convocar jogadores como Giacinto Facchetti, Gianni Rivera, Roberto Boninsegna, Enrico Albertosi, Fabio Capello e Giorgio Chinaglia.
Na primeira fase, a Itália terminou com 100% de aproveitamento no difícil Grupo 1. Venceu a França por 2 x 1, a Hungria por 3 x 1 e a Argentina por 1 x 0. Na fase semifinal, no Grupo A, a Azzurra empatou sem gols com a Alemanha Ocidental, venceu a Áustria por 1 x 0 perdeu para a Holanda por 2 x 1.
Por sua vez, o Brasil mal “deu pro gasto” no Grupo 3 e acabou se classificando em segundo lugar da chave. Empatou os dois primeiros jogos, com Suécia (1 x 1) e Espanha (0 x 0). Depois de dois jogos sem vitória, foi instituído um “Comitê de Apoio” ao técnico Coutinho, liderado pelo presidente da CBD, o almirante Heleno Nunes. Esse “Comitê” serviria para ajudar o treinador a escalar o time que enfrentaria a Áustria. Traduzindo: era uma interferência direta da Confederação na escalação do time. O almirante, vascaíno de coração, forçou a entrada de Roberto Dinamite no lugar de Reinaldo, além de Rodrigues Neto e Jorge Mendonça nos lugares de Edinho e Zico. Coincidência ou não, o time conseguiu a vitória necessária sobre os austríacos por 1 x 0. Na segunda fase, pelo Grupo B, o Brasil venceu o Peru por 3 x 0, empatou sem gols com a Argentina e venceu a Polônia por 3 x 1.
O Brasil foi escalado 4-3-3, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.
A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-4-2.
● Em um clima de “fim de festa”, a Itália dominou o primeiro tempo.
Giancarlo Antognoni cobrou falta da entrada da área, mas Leão espalmou. O capitão Emerson Leão tentava acalmar seus companheiros depois de um início de jogo tenso.
No primeiro ataque brasileiro, Dirceu chutou de fora da área e Zoff pulou no cantinho esquerdo para segurar.
Após escanteio cobrado por Nelinho, Dino Zoff segurou a bola em dois tempos e Oscar trombou com ele de forma desnecessária. Até o banco de reservas do Brasil se irritou com a atitude virulenta de Oscar.
A Itália saiu na frente aos 38′. Roberto perdeu a bola no ataque, Giancarlo Antognoni puxou o contragolpe, passou por Batista e abriu com Paolo Rossi na direita. O atacante cortou a marcação de Rodrigues Neto e cruzou para a pequena área. Sem marcação, Franco Causio apareceu na segunda trave e cabeceou no contrapé de Leão.
Esse gol iniciou uma sequência de bons ataques italianos, nos quais a Azzurra poderia ter ampliado o placar.
No lado esquerdo do ataque italiano, Antonio Cabrini driblou Nelinho e cruzou para a área, mas Amaral cortou. Antognoni pegou a sobra e chutou de primeira. A bola quicou, Leão não segurou e Oscar bobeou. Paolo Rossi chutou em cima de Leão e Roberto Bettega 18 passou da bola. Na sobra, após nova indecisão entre Franco Causio e Antonello Cuccureddu, a bola bateu em Nelinho e voltou para Causio chutar da marca do pênalti. A bola subiu e bateu no travessão. Um festival de horrores! Uma jogada confusa da defesa brasileira, que o ataque italiano não conseguiu aproveitar.
Em outro lance, Paolo Rossi driblou Leão e chutou. O goleiro brasileiro chegou a resvalar na bola antes dela tocar na trave e sair.
Esgotados, os dois times terminaram o primeiro tempo disputando desordenadamente a posse de bola. O ataque brasileiro pouco produziu. Roberto Dinamite estava perdido no meio da marcação da defesa italiana.
(Imagem: Michel Barrault / Onze / Icon Sport / Getty Images)
Na etapa final, a Seleção Brasileira ficou mais ofensiva com a entrada de Reinaldo no lugar de Gil. Jogando com dois centroavantes de ofício, a movimentação do ataque brasileiro começou a confundir a defesa italiana. Nessa formação, os jogadores canarinhos pareciam estar mais seguros e jogaram de forma mais solta.
No primeiro lance de perigo, Nelinho bateu escanteio, Zoff socou a bola para fora da área e Jorge Mendonça emendou de primeira para fora.
O Brasil manteve a pressão e conseguiu o empate aos 19′. Sem muito ângulo, Nelinho foi capaz de um chute de rara precisão, força e uma curva surreal. Zoff chegou a tocar na bola, mas ela só poderia ter um endereço: o fundo do gol. Em uma Copa do Mundo cheia de gols bonitos, com chutes de longe, esse foi o mais lindo de todos eles.
Na sequência, Cerezo deu lugar a Rivellino, em sua 120ª e última partida pela Seleção Brasileira. Ele ainda estava se recuperando da contusão sofrida no primeiro jogo da Copa.
(Imagem: Pinterest)
Roberto Rivellino, um artista do futebol que fazia sua despedida dos grandes palcos. Mesmo fora de forma, ele mal entrou e começou a desfilar seu talento, com várias jogadas de efeito no meio do campo. Parecia que o mágico queria fazer todos os seus truques no pouco tempo que teria. Ele transformou uma partida sem graça em uma ocasião especial. O camisa 10 fez de tudo: catimbou, dividiu, reclamou do juiz, ameaçou brigar, segurou a bola, chutou e fez alguns lançamentos, inclusive criando a jogada que resultou no gol da vitória.
Aos 26′, Rodrigues Neto avançou pela esquerda e deixou com Rivellino pelo meio. O craque fez o lançamento curto para a entrada da área. Jorge Mendonça escorou com o peito e deixou na medida para o chute de primeira de Dirceu. A bola foi de novo no canto direito de Zoff. Outro golaço. Dirceu certamente foi o melhor jogador brasileiro na Copa de 1978 – um dos melhores de todo o Mundial.
A última chance da Itália foi em uma cobrança de falta ensaiada. Causio cruzou para a marca do pênalti, Bettega subiu mais que Amaral, cabeceou firme, mas a bola explodiu no travessão e saiu por cima do gol.
Depois o jogo ficou feio, com pancadas distribuídas de lado a lado. Claudio Gentile não foi nada gentil e acertou Rodrigues Neto sem bola. Pouco depois, o mesmo Gentile deu um carrinho forte em Amaral. Patrizio Sala deixou o braço no rosto de Batista. Rivellino revidou e acertou Sala por trás e encarou catimbando.
(Imagem: Diego Goldberg / Sygma / Corbis)
● A vitória do Brasil foi justificada pelo bom futebol apresentado no segundo tempo.
Após a partida, o técnico Cláudio Coutinho declarou que o Brasil era “campeão moral” – mesma expressão usada pelos argentinos quando perderam para o Uruguai na final da Copa de 1930. O escrete canarinho foi o único invicto do Mundial.
A bem da verdade, principalmente para o brasileiro, o 3º lugar vale pouco. Se não for o campeão, todos os outros são derrotados. Se não for primeiro, tudo é último.
Apenas quatro jogadores brasileiros disputaram todos os minutos de todos os jogos: o goleiro Leão, os zagueiros Oscar e Amaral e o volante Batista. A rotatividade foi grande no escrete canarinho. Coutinho utilizou 17 dos 22 convocados. Apenas os goleiros Waldir Peres e Carlos, os zagueiros Abel Braga e Polozzi e o ponta Zé Sérgio não entraram em campo.
Curiosamente, essa foi a última partida de Copa do Mundo que a Seleção Brasileira utilizou o escudo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Em 24/09/1979 foi criada a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
(Imagem: FIFA)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 2 x 1 ITÁLIA |
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Data: 24/06/1978 Horário: 15h00 locais Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez) Público: 69.659 Cidade: Buenos Aires (Argentina) Árbitro: Abraham Klein (Israel) |
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BRASIL (4-3-3): |
ITÁLIA (4-3-3): |
1 Leão (G)(C) |
1 Dino Zoff (G)(C) |
13 Nelinho |
5 Claudio Gentile |
3 Oscar |
8 Gaetano Scirea |
4 Amaral |
4 Antonello Cuccureddu |
16 Rodrigues Neto |
3 Antonio Cabrini |
17 Batista |
6 Aldo Maldera |
5 Toninho Cerezo |
9 Giancarlo Antognoni |
19 Jorge Mendonça |
13 Patrizio Sala |
18 Gil |
16 Franco Causio |
20 Roberto Dinamite |
21 Paolo Rossi |
11 Dirceu |
18 Roberto Bettega |
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Técnico: Cláudio Coutinho |
Técnico: Enzo Bearzot |
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SUPLENTES: |
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12 Carlos (G) |
12 Paolo Conti (G) |
22 Waldir Peres (G) |
22 Ivano Bordon (G) |
2 Toninho Baiano |
2 Mauro Bellugi |
14 Abel Braga |
7 Lionello Manfredonia |
15 Polozzi |
14 Marco Tardelli |
6 Edinho |
15 Renato Zaccarelli |
21 Chicão |
17 Claudio Sala |
10 Rivellino |
10 Romeo Benetti |
8 Zico |
11 Eraldo Pecci |
7 Zé Sérgio |
19 Francesco Graziani |
9 Reinaldo |
20 Paolo Pulici |
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GOLS: |
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38′ Franco Causio (ITA) |
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64′ Nelinho (BRA) |
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71′ Dirceu (BRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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35′ Nelinho (BRA) |
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44′ Batista (BRA) |
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72′ Claudio Gentile (ITA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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INTERVALO Gil (BRA) ↓ |
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Reinaldo (BRA) ↑ |
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64′ Toninho Cerezo (BRA) ↓ |
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Rivellino (BRA) ↑ |
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78′ Giancarlo Antognoni (ITA) ↓ |
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Claudio Sala (ITA) ↑ |
Melhores momentos da partida: