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… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália


(Imagem: Pinterest)

● Em uma Copa do mundo, o jogo da decisão do 3º lugar é sempre frustrante. Em 1978 esse sentimento foi ainda maior.

A Itália perdeu a vaga na decisão de virada, depois de ter jogado muito bem nos primeiros 45 minutos. O Brasil ainda remoía a polêmica partida entre Argentina e Peru, cuja goleada a favor dos albicelestes classificou os donos da casa para a final no saldo de gols.

O Brasil tinha jogadores talentosos, como Rivellino, Zico, Reinaldo, Dirceu, Toninho Cerezo e Roberto Dinamite. Mas não conseguia engrenar. O técnico era Cláudio Coutinho, que havia sido o preparador físico da Seleção em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele foi o responsável por implantar os conceitos de “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência” na Seleção. A ignorância de Coutinho em não convocar Falcão e Marinho Chagas deixou a Seleção sem dois dos maiores craques da década de 1970.

O técnico Enzo Bearzot renovou boa parte do elenco italiano que foi um fiasco no Mundial de 1974, caindo na primeira fase. Ele preferiu não convocar jogadores como Giacinto Facchetti, Gianni Rivera, Roberto Boninsegna, Enrico Albertosi, Fabio Capello e Giorgio Chinaglia.

Na primeira fase, a Itália terminou com 100% de aproveitamento no difícil Grupo 1. Venceu a França por 2 x 1, a Hungria por 3 x 1 e a Argentina por 1 x 0. Na fase semifinal, no Grupo A, a Azzurra empatou sem gols com a Alemanha Ocidental, venceu a Áustria por 1 x 0 perdeu para a Holanda por 2 x 1.

Por sua vez, o Brasil mal “deu pro gasto” no Grupo 3 e acabou se classificando em segundo lugar da chave. Empatou os dois primeiros jogos, com Suécia (1 x 1) e Espanha (0 x 0). Depois de dois jogos sem vitória, foi instituído um “Comitê de Apoio” ao técnico Coutinho, liderado pelo presidente da CBD, o almirante Heleno Nunes. Esse “Comitê” serviria para ajudar o treinador a escalar o time que enfrentaria a Áustria. Traduzindo: era uma interferência direta da Confederação na escalação do time. O almirante, vascaíno de coração, forçou a entrada de Roberto Dinamite no lugar de Reinaldo, além de Rodrigues Neto e Jorge Mendonça nos lugares de Edinho e Zico. Coincidência ou não, o time conseguiu a vitória necessária sobre os austríacos por 1 x 0. Na segunda fase, pelo Grupo B, o Brasil venceu o Peru por 3 x 0, empatou sem gols com a Argentina e venceu a Polônia por 3 x 1.


O Brasil foi escalado 4-3-3, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-4-2.

● Em um clima de “fim de festa”, a Itália dominou o primeiro tempo.

Giancarlo Antognoni cobrou falta da entrada da área, mas Leão espalmou. O capitão Emerson Leão tentava acalmar seus companheiros depois de um início de jogo tenso.

No primeiro ataque brasileiro, Dirceu chutou de fora da área e Zoff pulou no cantinho esquerdo para segurar.

Após escanteio cobrado por Nelinho, Dino Zoff segurou a bola em dois tempos e Oscar trombou com ele de forma desnecessária. Até o banco de reservas do Brasil se irritou com a atitude virulenta de Oscar.

A Itália saiu na frente aos 38′. Roberto perdeu a bola no ataque, Giancarlo Antognoni puxou o contragolpe, passou por Batista e abriu com Paolo Rossi na direita. O atacante cortou a marcação de Rodrigues Neto e cruzou para a pequena área. Sem marcação, Franco Causio apareceu na segunda trave e cabeceou no contrapé de Leão.

Esse gol iniciou uma sequência de bons ataques italianos, nos quais a Azzurra poderia ter ampliado o placar.

No lado esquerdo do ataque italiano, Antonio Cabrini driblou Nelinho e cruzou para a área, mas Amaral cortou. Antognoni pegou a sobra e chutou de primeira. A bola quicou, Leão não segurou e Oscar bobeou. Paolo Rossi chutou em cima de Leão e Roberto Bettega 18 passou da bola. Na sobra, após nova indecisão entre Franco Causio e Antonello Cuccureddu, a bola bateu em Nelinho e voltou para Causio chutar da marca do pênalti. A bola subiu e bateu no travessão. Um festival de horrores! Uma jogada confusa da defesa brasileira, que o ataque italiano não conseguiu aproveitar.

Em outro lance, Paolo Rossi driblou Leão e chutou. O goleiro brasileiro chegou a resvalar na bola antes dela tocar na trave e sair.

Esgotados, os dois times terminaram o primeiro tempo disputando desordenadamente a posse de bola. O ataque brasileiro pouco produziu. Roberto Dinamite estava perdido no meio da marcação da defesa italiana.


(Imagem: Michel Barrault / Onze / Icon Sport / Getty Images)

Na etapa final, a Seleção Brasileira ficou mais ofensiva com a entrada de Reinaldo no lugar de Gil. Jogando com dois centroavantes de ofício, a movimentação do ataque brasileiro começou a confundir a defesa italiana. Nessa formação, os jogadores canarinhos pareciam estar mais seguros e jogaram de forma mais solta.

No primeiro lance de perigo, Nelinho bateu escanteio, Zoff socou a bola para fora da área e Jorge Mendonça emendou de primeira para fora.

O Brasil manteve a pressão e conseguiu o empate aos 19′. Sem muito ângulo, Nelinho foi capaz de um chute de rara precisão, força e uma curva surreal. Zoff chegou a tocar na bola, mas ela só poderia ter um endereço: o fundo do gol. Em uma Copa do Mundo cheia de gols bonitos, com chutes de longe, esse foi o mais lindo de todos eles.

Na sequência, Cerezo deu lugar a Rivellino, em sua 120ª e última partida pela Seleção Brasileira. Ele ainda estava se recuperando da contusão sofrida no primeiro jogo da Copa.


(Imagem: Pinterest)

Roberto Rivellino, um artista do futebol que fazia sua despedida dos grandes palcos. Mesmo fora de forma, ele mal entrou e começou a desfilar seu talento, com várias jogadas de efeito no meio do campo. Parecia que o mágico queria fazer todos os seus truques no pouco tempo que teria. Ele transformou uma partida sem graça em uma ocasião especial. O camisa 10 fez de tudo: catimbou, dividiu, reclamou do juiz, ameaçou brigar, segurou a bola, chutou e fez alguns lançamentos, inclusive criando a jogada que resultou no gol da vitória.

Aos 26′, Rodrigues Neto avançou pela esquerda e deixou com Rivellino pelo meio. O craque fez o lançamento curto para a entrada da área. Jorge Mendonça escorou com o peito e deixou na medida para o chute de primeira de Dirceu. A bola foi de novo no canto direito de Zoff. Outro golaço. Dirceu certamente foi o melhor jogador brasileiro na Copa de 1978 – um dos melhores de todo o Mundial.

A última chance da Itália foi em uma cobrança de falta ensaiada. Causio cruzou para a marca do pênalti, Bettega subiu mais que Amaral, cabeceou firme, mas a bola explodiu no travessão e saiu por cima do gol.

Depois o jogo ficou feio, com pancadas distribuídas de lado a lado. Claudio Gentile não foi nada gentil e acertou Rodrigues Neto sem bola. Pouco depois, o mesmo Gentile deu um carrinho forte em Amaral. Patrizio Sala deixou o braço no rosto de Batista. Rivellino revidou e acertou Sala por trás e encarou catimbando.


(Imagem: Diego Goldberg / Sygma / Corbis)

● A vitória do Brasil foi justificada pelo bom futebol apresentado no segundo tempo.

Após a partida, o técnico Cláudio Coutinho declarou que o Brasil era “campeão moral” – mesma expressão usada pelos argentinos quando perderam para o Uruguai na final da Copa de 1930. O escrete canarinho foi o único invicto do Mundial.

A bem da verdade, principalmente para o brasileiro, o 3º lugar vale pouco. Se não for o campeão, todos os outros são derrotados. Se não for primeiro, tudo é último.

Apenas quatro jogadores brasileiros disputaram todos os minutos de todos os jogos: o goleiro Leão, os zagueiros Oscar e Amaral e o volante Batista. A rotatividade foi grande no escrete canarinho. Coutinho utilizou 17 dos 22 convocados. Apenas os goleiros Waldir Peres e Carlos, os zagueiros Abel Braga e Polozzi e o ponta Zé Sérgio não entraram em campo.

Curiosamente, essa foi a última partida de Copa do Mundo que a Seleção Brasileira utilizou o escudo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Em 24/09/1979 foi criada a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).


(Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 ITÁLIA

 

Data: 24/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 69.659

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Leão (G)(C)

1  Dino Zoff (G)(C)

13 Nelinho

5  Claudio Gentile

3  Oscar

8  Gaetano Scirea

4  Amaral

4  Antonello Cuccureddu

16 Rodrigues Neto

3  Antonio Cabrini

17 Batista

6  Aldo Maldera

5  Toninho Cerezo

9  Giancarlo Antognoni

19 Jorge Mendonça

13 Patrizio Sala

18 Gil

16 Franco Causio

20 Roberto Dinamite

21 Paolo Rossi

11 Dirceu

18 Roberto Bettega

 

Técnico: Cláudio Coutinho

Técnico: Enzo Bearzot

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos (G)

12 Paolo Conti (G)

22 Waldir Peres (G)

22 Ivano Bordon (G)

2  Toninho Baiano

2  Mauro Bellugi

14 Abel Braga

7  Lionello Manfredonia

15 Polozzi

14 Marco Tardelli

6  Edinho

15 Renato Zaccarelli

21 Chicão

17 Claudio Sala

10 Rivellino

10 Romeo Benetti

8  Zico

11 Eraldo Pecci

7  Sérgio

19 Francesco Graziani

9  Reinaldo

20 Paolo Pulici

 

GOLS:

38′ Franco Causio (ITA)

64′ Nelinho (BRA)

71′ Dirceu (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

35′ Nelinho (BRA)

44′ Batista (BRA)

72′ Claudio Gentile (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Gil (BRA) ↓

Reinaldo (BRA) ↑

 

64′ Toninho Cerezo (BRA) ↓

Rivellino (BRA) ↑

 

78′ Giancarlo Antognoni (ITA) ↓

Claudio Sala (ITA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 21/06/1978 – Argentina 6 x 0 Peru

Três pontos sobre…
… 21/06/1978 – Argentina 6 x 0 Peru

“A vergonha de Rosário”


(Imagem: futbolargentino.com)

● Depois de quarenta anos de tentativa, enfim, a Argentina pôde realizar o sonho de sediar uma Copa do Mundo. Devido a uma crise política (que contamos melhor aqui), o evento tão aguardado correu risco de não ter acontecido. Mas uma junta militar, comandada pelo general Jorge Rafael Videla, tomou o país em 1976 e garantiu a realização do torneio em solo portenho. Assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

O técnico César Luis Menotti gostava do futebol ofensivo e bem jogado. E ele tinha uma equipe de boa qualidade técnica, se destacando o zagueiro e capitão Daniel Passarella, o meio campo Osvaldo Ardiles, e os atacantes Daniel Bertoni, Leopoldo Luque e, claro, Mario Kempes. Era ele o toque de classe daquela equipe batalhadora.

Menotti preferiu prescindir do talento de um genial e genioso menino de apenas 17 anos chamado Diego Armando Maradona. Ele havia estreado na albiceleste no início do ano anterior, mas foi um dos três cortados de última hora. O treinador julgou que o mancebo não tinha a experiência e maturidade necessária para lidar com a enorme pressão que a torcida exercia.

Na primeira fase, a a Argentina passou como segunda colocada do Grupo 1. Nos dois primeiros jogos, venceu a Hungria e a França por 2 x 1. Na terceira rodada, foi surpreendida pela Itália e perdeu por 1 x 0. Por isso, os donos da casa tiveram que sair de Buenos Aires para jogar em Rosário na segunda fase.

O Peru mantinha parte da equipe que chegou nas quartas de final da Copa de 1970, como o zagueiro e capitão Héctor Chumpitaz, o craque Teófilo Cubillas e o atacante Hugo Sotil. E havia feito uma bela campanha na primeira fase, terminando como líder o Grupo 4 e ficando à frente da poderosa Holanda. Venceu a Escócia na estreia por 3 x 1, empatou sem gols com os holandeses e bateu o Irã por 4 x 1.


(Imagem: Peter Robinson / Empics / Getty Images)

● Assim como em 1974, a segunda fase não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final.

Pelo Grupo B, o Peru foi derrotado por Brasil (3 x 0) e Polônia (1 x 0). Mas mesmo perdendo, a seleção peruana continuou apresentando um futebol organizado e aguerrido.

Os argentinos tinham vencido a Polônia por 2 x 0 e empatado sem gols com o Brasil. Assim, após duas rodadas, brasileiros e argentinos estavam empatados em números de pontos.

No Grupo A da fase semifinal, todas as partidas foram jogadas simultaneamente para evitar que uma seleção entrasse em campo já sabendo do resultado que precisaria. Já no Grupo B, a tabela era diferente, com a Argentina fazendo todos os seus jogos mais tarde.

Algumas horas antes, o Brasil havia derrotado a Polônia por 3 x 1. Assim, antes do jogo contra o Peru, a Argentina sabia que precisava vencer por, pelo menos, quatro gols de diferença, pois o Brasil tinha cinco gols de saldo e a Argentina apenas dois. O critério seguinte era gols marcados, que beneficiava o Brasil.

Já eliminados, os peruanos diziam que jogariam por sua própria honra. E vendo o futebol apresentado pelos incas até então, muitos acreditavam que eles poderiam dificultar a chegada da Argentina à final da Copa. Antes do jogo, o técnico brasileiro Cláudio Coutinho disse: “A Argentina não faz quatro gols no Peru. O Peru não tomou quatro gols de ninguém nessa Copa, não toma hoje”.

O técnico peruano Marcos Calderón concordou: “O Peru saberá jogar honesta, leal e honradamente, como o fazemos sempre em todas as partidas, em todos os lugares. Está em jogo, aqui, a nossa honra”.

O goleiro da seleção peruana era Ramón Quiroga, argentino de nascimento. Ele era nascido em Rosário e seus pais moravam a poucos quarteirões do estádio Gigante de Arroyito. Quiroga jogou no Rosario Central de 1968 a 1973 e saiu do clube tendo sido acusado de ter se vendido num jogo pelo campeonato local, o que provocou a sua saída do país. Depois, se transferiu para o Sporting Cristal e se naturalizou peruano.

Outro que estava praticamente em casa era Mario Kempes. Ele era ídolo do Rosario Central, onde jogou de 1973 a 1976, marcando 85 gols em 107 jogos.

E ambos acabaram sendo os personagens principais dessa partida.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


O Peru também jogou no 4-3-3, com Cubillas recuando para armar. A bem da verdade, o time foi uma verdadeira bagunça.

● Com apenas dois minutos jogados, Juan José Muñante passou pela marcação e chutou por cima do goleiro Ubaldo Fillol. Caprichosamente, a bola foi na trave. Essa foi a primeira e última chance peruana durante os 90 minutos.

A partir daí, só deu Argentina.

Em um belo lance, Mario Kempes fez boa jogada pela direita e deixou com Daniel Bertoni. Ele cruzou rasteiro e a defesa peruana tentou tirar. Oscar Alberto Ortiz pegou o rebote e chegou batendo. A bola desviou na defesa e Quiroga espalmou para escanteio.

O placar foi aberto aos 21 minutos. Mario Kempes arrancou pelo meio, tabelou com Passarella e recebeu a bola na frente. O camisa 10 invadiu a área, passou fácil por Rodulfo Manzo o deixando no chão e tocou com classe no canto esquerdo do goleiro Ramón Quiroga. Foi o terceiro gol de Kempes no Mundial. Kempes mostrou nesse lance todo o talento que fez dele um dos melhores atacantes de sua geração. 1 a 0.

Com pressão contínua da Argentina, o segundo gol veio aos 43′. Bertoni cobrou escanteio da direita. O lateral esquerdo Alberto Tarantini apareceu livre na marca do pênalti e teve que se abaixar para cabecear. A bola quicou e entrou no canto esquerdo do goleiro peruano. 2 a 0.

Com a defesa peruana mais sonolenta que o normal, o goleiro Quiroga se desdobrava para evitar um placar maior. Em um lance, ele teve que disputar com Kempes fora da área e ainda ganhou o lance.

Em outra jogada de bola na área, Kempes ganhou no alto de Chumpitaz, mas cabeceou fraco. Quiroga pegou.

Em outro lance, Kempes bateu falta para a área e Quiroga disputou com Américo Gallego e Omar Larrosa. O goleiro peruano subiu mais alto que os dois argentinos e socou a bola por cima do gol.

A pressão era enorme sobre Quiroga. Do outro lado, Fillol era um mero expectador.

A Argentina chegou ao intervalo vencendo por 2 a 0, ou seja, com metade do placar construído.

O Peru já não estava jogando bem, mas o segundo tempo ridículo foi a origem da “teoria da conspiração”. Era impressionante a facilidade com a qual os donos da casa entravam na área adversária.

Jorge Olguín cobrou falta da direita para dentro da área. Na marca do pênalti, Kempes ajeitou com o peito, Bertoni devolveu e Kempes mandou para o gol, no canto direito do goleiro. 3 a 0.

Faltando ainda 40 minutos a serem jogados, a Argentina só precisava de mais um gol para chegar à decisão. Esse gol parecia inevitável e veio logo no minuto seguinte.

Na intermediária ofensiva, Kempes limpou a marcação e tocou para Omar Larrosa, que fez o corta luz para Tarantini. Ele cruzou da esquerda, Passarella escorou na segunda trave e Leopoldo Luque marcou de peixinho, quase dentro do gol. A defesa peruana reclamou um impedimento inexistente, mas o gol foi corretamente validado pelo árbitro francês Robert Wurtz. 4 a 0.

Com apenas cinco minutos do segundo tempo, a Argentina já estava com os pés na grande final. Bastava não sofrer gols. Ou marcar mais.

Quando o Peru começava a atacar, o técnico Marcos Calderón fazia sinais para que sua equipe recuasse. Babaca. Ridículo. Antiesportivo. Uma farsa.

Aos 22′, Kempes deixou com Ortiz, que avançou pela esquerda e cruzou rasteiro para a pequena área. A bola passou por Quiroga e René Houseman completou para o gol vazio. Houseman havia entrado no lugar de Bertoni três minutos antes. 5 a 0.

Na base da empolgação, a Argentina conseguiu o sexto gol aos 27′, em uma falha lamentável da defesa peruana, que deu a bola de presente. Chumpitaz bateu falta rápido para Raúl Gorriti, que perdeu a bola para Larrosa. Ele serviu Luque, que entrou na área e tocou na saída de Quiroga. Foi o segundo gol de Luque na partida e o quarto no Mundial. 6 a 0.

A seleção peruana havia tomado seis gols durante toda a Copa, mas sofreu seis gols apenas nessa partida.


(Imagem: Globo)

● Em uma Copa do Mundo, espera-se que as seleções entrem para dar tudo de si, superando com dedicação as deficiências técnicas. Em momento algum desse jogo o Peru jogou como se tivesse disputando uma Copa do Mundo. Era como uma presa que estava sendo engolida pelo predador, sem fazer nenhum esforço para se soltar. O Peru acabou sendo o principal responsável pela festa argentina pela classificação para a final em casa.

Ninguém do Peru compareceu à entrevista coletiva pós-jogo, nem o técnico e nem o capitão Chumpitaz.

“Llora Brasil! Llora Brasil! Argentina canta, llora Brasil!” Era uma música cantada a plenos pulmões pelas 42 mil pessoas que lotaral o estádio Gigante de Arroyito, em Rosário.

O polêmico resultado eliminou o Brasil e classificou a Argentina. Os albicelestes estavam de volta à decisão da Copa do Mundo 48 anos depois de sua única final, quando perderam para o Uruguai por 4 x 2 em 1930.

A vitória argentina coincidiu com a estreia do musical “Evita” em Londres, mas os únicos que choraram naquele dia foram os brasileiros.

Depois do jogo surgiram várias acusações de que o Peru havia entregado a partida. Em sua maioria, elas vinham de parte da imprensa e da delegação brasileira. Mas todas sem comprovação alguma. O técnico Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Cavalheiro (membro da administração da CBD) convocaram uma entrevista para denunciar uma possível armação entre peruanos e argentinos. Coutinho declarou que o Brasil era o verdadeiro “campeão moral”.

A goleada motivou todo tipo de acusação contra Ramón Quiroga. Em uma delas, ele teria recebido US$ 10 mil para entregar o jogo. O goleiro sempre negou o suborno. Em uma entrevista, chegou a afirmar que havia percebido algo de errado, acusando de forma racista que os negros do elenco é que teriam aceitado o suborno. Realmente o goleiro não teve culpa nos gols, face à morosidade dos colegas. Quiroga tinha ido bem durante toda a Copa e chegou a defender um pênalti diante da Escócia.

O jornal inglês Sunday Times fez uma outra denúncia que nunca foi provada: que os argentinos fraudavam os testes antidoping, que a urina para os exames após a partida não eram fornecidas pelos jogadores – que teriam fortes doses de anfetaminas – mas por um homem que teria sido contratado só para ter sua urina colhida.

“Se me perguntam se a Junta Militar fez algo, vou dizer que não sei, mas essa gente estava preparada para absolutamente tudo. Tomara que não tenham feito nada, que o triunfo tenha sido simplesmente esportivo.” ― Osvaldo Ardiles, meia argentino.

Na decisão, a Argentina venceu a Holanda na prorrogação por 3 x 1 e conquistou seu primeiro título mundial.


(Imagem: Lance!)

“Teoria da conspiração”

Dez minutos antes de os jogadores peruanos entrarem em campo, eles receberam uma visita inusitada em pleno vestiário. Alguns deles estavam de cueca e outros nus quando o general argentino Jorge Rafael Videla entrou e fez ressoar sua voz metálica: “Irmãos latino-americanos!”

“Não sabia se terminava de me vestir, o que poderia ser interpretado como uma falta de educação, ou se o cumprimentava seminu”, disse um dos atletas peruanos ao escritor argentino Ricardo Gotta.

Com a companhia do diplomata dos EUA Henry Kissinger, Videla, “que era um especialista em toda demonstração mais ou menos explícita de intimidação”, segundo Gotta, seguiu discursando sobre a intensa “solidariedade” entre peruanos e argentinos.

Os jogadores peruanos entenderam o recado subliminar. Em seu interior, eles sabiam que, se o Peru vencesse, os militares argentinos poderiam assassiná-los depois da partida e colocar a culpa do “atentado” em algum grupo guerrilheiro. E os jogadores peruanos subiram ao campo tremendo.

“Aquele jogo não foi normal… foi esquisito”. “[A presença de Videla no vestiário] foi terrível… eu estava atrás de uma parede e ali fiquei. Não queria que isso interrompesse minha concentração” ― Juan Carlos Oblitas, em depoimento a Carlos del Frave, pesquisador esportivo de Rosário.

“[Videla era] um tipo que nos metia um pouco de medo”, disse anos depois o capitão peruano Héctor Chumpitaz.

Segundo Gotta, “a ditadura precisava chegar à final. E ganhar. Senão, teria sido um fracasso não somente esportivo, mas também político. O regime precisava da imagem de um país vencedor”.

O placar elástico gerou suspeitas por todo o mundo.

Ao retornarem ao seu país, os jogadores peruanos foram vaiados pela população. Ao descer do avião, em Lima, uma multidão atirou moedas aos jogadores.

Seguindo as considerações de Gotta, ele duvida que o goleiro Ramón Quiroga tenha sido o responsável pela derrota. “Ele defendeu muitíssimos ataques argentinos. Em torno de 13 a 15 jogadas que poderiam ter sido gol e não foram graças à sua habilidade. Mas a presença dos argentinos perto do arco era constante. Por isso, poderia suspeitar-se mais da atitude dos defensores peruanos [Jaime Duarte, Rodulfo Manzo, Roberto Rojas e Héctor Chumpitaz], que cometeram muitos erros.”

Apesar de tudo, Ramón Quiroga manteve uma boa imagem entre os peruanos, seguiu na seleção até 1985 e foi treinador de vários times do país nos anos seguintes. Em 2006, negou que ele ou seus pais (que sempre moraram em Rosário, a poucos quarteirões do estádio) haviam sido ameaçados pela ditadura.

Os outros jogadores peruanos suspeitos nunca exibiram sinais de riqueza nos anos seguintes. Um deles, Rodulfo Manzo, emigrou para a Itália onde se tornou caminhoneiro.

Em 2008, Mario “El Matador” Kempes, melhor jogador da Copa de 1978, afirmou que o jogo contra o Peru não teve menhum fator estranho ou anormal.

“Todos os jogos foram complicados. O primeiro, com a Hungria, foi suado, talvez por nossa falta de experiência. Outra grande seleção que enfrentamos, que custou muito esforço foi a França, com Platini na cabeça. A Itália, que nos venceu em Rosário. Os italianos são espetaculares, com seu poder ofensivo. E a seleção brasileira, que, seja lá quais forem seus jogadores, sempre impressionam positivamente. Mesmo na Copa dos Estados Unidos, em 1994, a seleção brasileira, que era ruim, foi campeã. Os brasileiros sempre, de algum modo, vão para a frente! E, no caso da Argentina com o Peru, foi um jogo normal. A seleção argentina havia ido ao Peru três meses antes da Copa e emplacado, se a memória não me falha, uns 3 gols a 0. Por isso, em 1978, a Argentina, precisando de quatro gols, foi ao ataque. A partir do primeiro gol tudo se normalizou. No segundo, começamos a acreditar que dava pra chegar à final. Para nós, tudo era esporte. Se houve algo por fora do futebol, eu não sei. Digo isso com a mão no coração: nós, no campo fomos superiores ao Peru. Não dá pra acusar nem o Oblitas, nem qualquer outro jogador peruano de qualquer coisa estranha. E muito menos o Quiroga, cujo arco metralhamos constantemente… Nunca será possível separar isso [a vitória polêmica sobre o Peru] de toda a Copa de 1978. Será uma mancha negra que teremos sobre as costas toda a vida. Nós fomos jogar futebol. Naquela época, somente as famílias dos desaparecidos, que sofreram horrores, é que sabiam o que estava ocorrendo. A imensa maioria dos argentinos não sabia de nada. Quando fomos jogar na Copa, fomos pelo futebol. Não fomos jogar para o Videla e sua cambada que estava no poder. Dentro de tudo isso, espero ter possibilitado minutos de felicidade – quem sabe – para essas pessoas que estavam sofrendo. Na época, não imaginávamos que posteriormente envolveriam os jogadores nessa questão política.” ― Mario Kempes.

“Investiguei todos os rumores sobre o jogo Peru x Argentina. A verdade é que ninguém tem provas. Mas, de toda forma, será o jogo ‘mais longo’ de toda a história mundial… pois parece que ainda não se concluiu. Nunca antes houve um embate em um estádio que seja tão comentado como esse, três décadas depois de ocorrido. E, além disso, os rumores crescem com o tempo. Acho que foi um jogo que a seleção argentina venceu justamente.” ― Pablo Llonto, jornalista argentino.


(Imagem: Lance!)

Teorias

São várias as teorias sobre o resultado da partida. Essas são as mais comuns:

― Videla teria subornado o governo peruano, comandado pelo general Francisco Morales Bermúdez, com um substancial carregamento de trigo argentino (14 mil toneladas, equivalente a US$ 100 milhões na época).

― A ditadura teria pago US$ 50 mil a todos os jogadores peruanos.

― A ditadura teria pago US$ 50 mil somente a alguns jogadores peruanos.

― A ditadura teria pago US$ 250 mil a integrantes da comissão técnica peruana.

― A ditadura teria utilizado um narcotraficante colombiano, Fernando Rodríguez Mondragón, do cartel de Cali, como intermediário para realizar um milionário suborno à Federação Peruana de Futebol. Essa história foi contada trinta anos depois no livro “El hijo del Ajedrecista 2”. De acordo com o livro, apenas quatro jogadores (de nomes não revelados), além do técnico Marcos Calderón, sabiam do esquema. O goleiro Quiroga (um dos principais suspeitos) aponta que teriam sido Rodulfo Manzo, Roberto Rojas e Raúl Gorriti – que entrou em campo quando o placar já apontava 4 a 0. Essa afirmação nunca foi provada.

― Tudo pode acontecer no futebol e o placar avantajado ocorreu por causas puramente esportivas, principalmente pela tarde inspirada de Mario Kempes. O Brasil também poderia ter vencido o Peru por um placar mais elástico ou até ter derrotado a Argentina, mas não o fez.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 0 PERU

 

Data: 21/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Gigante de Arroyito

Público: 37.315

Cidade: Rosário (Argentina)

Árbitro: Robert Wurtz (França)

 

ARGENTINA (4-3-3):

PERU (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

21 Ramón Quiroga (G)

15 Jorge Olguín

2  Jaime Duarte

7  Luis Galván

3  Rodulfo Manzo

19 Daniel Passarella (C)

4  Héctor Chumpitaz (C)

20 Alberto Tarantini

22 Roberto Rojas

6  Américo Gallego

6  José Velásquez

12 Omar Larrosa

8  César Cueto

10 Mario Kempes

17 Alfredo Quesada

4  Daniel Bertoni

7  Juan José Muñante

14 Leopoldo Luque

10 Teófilo Cubillas

16 Oscar Alberto Ortiz

11 Juan Carlos Oblitas

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Marcos Calderón

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

1  Ottorino Sartor (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

13 Juan Cáceres (G)

18 Rubén Pagnanini

5  Rubén Toribio Díaz

11 Daniel Killer

14 José Navarro

8  Rubén Galván

15 Germán Leguía

2  Osvaldo Ardiles

9  Percy Rojas

17 Miguel Oviedo

12 Roberto Mosquera

21 José Daniel Valencia

16 Raúl Gorriti

1  Norberto Alonso

18 Ernesto Labarthe

22 Ricardo Villa

19 Guillermo La Rosa

9  René Houseman

20 Hugo Sotil

 

GOLS:

21′ Mario Kempes (ARG)

43′ Alberto Tarantini (ARG)

49′ Mario Kempes (ARG)

50′ Leopoldo Luque (ARG)

67′ René Houseman (ARG)

72′ Leopoldo Luque (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

36′ Alfredo Quesada (PER)

48′ José Velásquez (PER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

51′ José Velásquez (PER) ↓

Raúl Gorriti (PER) ↑

 

64′ Daniel Bertoni (ARG) ↓

René Houseman (ARG) ↑

 

85′ Américo Gallego (ARG) ↓

Miguel Oviedo (ARG) ↑

Gols da partida (em inglês):

Gols do jogo e entrevista do general Videla à Rede Globo:

… 11/06/1978 – Escócia 3 x 2 Holanda

Três pontos sobre…
… 11/06/1978 – Escócia 3 x 2 Holanda


Da esquerda para a direita: Hartford, Donachie, Buchan, Forsyth, Jordan, Souness, Dalglish, Gemmill, Kennedy, Rough e Rioch. (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)

● A seleção da Escócia viajou à Argentina numa onda exagerada de otimismo. Deixou boa impressão em 1974, quando terminou invicta e foi eliminada pela Seleção Brasileira apenas no saldo de gols. Era apontada pelo presidente da FIFA, o brasileiro João Havelange, como uma das possíveis finalistas.

O técnico Ally MacLeod tinha bons jogadores que eram destaques no futebol inglês, como Joe Jordan (Leeds United), Kenny Dalglish (Liverpool) e Graeme Souness (que chegaria ao Liverpool depois da Copa para se tornar uma lenda).

O nacionalismo escocês estava aceso como poucas vezes no século XX e o maior pecado do time foi o excesso de autoconfiança.

Contra o Peru, na estreia, a Escócia abriu o placar e sofreu a virada por 3 a 1. Para piorar, o ponta de lança Willie Johnston foi pego no teste antidoping, que acusou a presença do estimulante proibido fencamfamina.

No empate por 1 x 1 diante do Irã, a Escócia entrou bem diferente. A confiança havia desaparecido e a Escócia acabou não marcando nem seu próprio gol (foi de Andranik Eskandarian, contra).

Por tudo isso, o jogo contra a Holanda, em Mendoza, seria decisivo às pretensões dos escoceses. O treinador fez alterações decisivas no time. O capitão Bruce Rioch voltou ao time e o meia Graeme Souness foi titular pela primeira vez na competição.

Para passar de fase pela primeira vez em uma Copa do Mundo, a Escócia teria que vencer a Holanda por três gols de diferença.


(Imagem: Pinterest)

● A poderosa Holanda não contava mais com o genial Johan Cruijff e nem com o técnico Rinus Michels. Mas a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff. O treinador agora era Ernst Happel, austríaco linha dura.

A principal ausência, além de Cruijff, foi Willem van Hanegem. A duas semanas do Mundial, o jogador fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 no “piloto automático”, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru ficou de bom tamanho. Bastava segurar a Escócia para se classificar.


A Escócia jogava no 4-3-3, com Graeme Souness como responsável pela armação.


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.

● Graeme Souness era o grande líder dos escoceses no meio de campo, sendo o responsável pela criação das jogadas mais perigosas. Em uma delas, cruzou da direita e Rioch apareceu livre na pequena área, mas cabeceou na trave.

Ficava cada vez mais incompreensível a ausência de Souness nos jogos anteriores.

Aos 10′, Rioch cobrou uma falta de esquerda com força, mas ficou na barreira. A bola sobrou para Archie Gemmill e Johan Neeskens foi disputá-la com um carrinho. O holandês levou a pior. Ele já vinha sofrendo com problemas físicos e teve que sair para dar lugar a Johan Boskamp. A Holanda perdia seu cérebro no meio de campo logo no princípio.

O primeiro tempo foi mais amarrado. A Escócia tentava o ataque sem conseguir abrir o placar e a Holanda não conseguia criar, principalmente devido à ausência de Neeskens e pela ótima marcação escocesa sobre Rob Rensenbrink.

Aos 33′, Johnny Rep avançou sozinho e foi derrubado dentro da área por Stuart Kennedy. O árbitro austríaco Erich Linemayr apontou a penalidade. Rob Rensenbrink assumiu a responsabilidade e bateu com segurança, rasteiro, no canto direito do goleiro Alan Rough – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.

Com esse pênalti, Rob Rensenbrink marcou o milésimo gol da história das Copas.

Após o gol, a Holanda conseguia se organizar melhor. Por duas vezes o goleiro Rough precisou sair do gol para dividir com Rep e evitar o segundo tento holandês.

Mas a Escócia não se intimidava. Gemmill criava as jogadas mais incisivas e era parado de qualquer forma – na bola ou na pancada.

Kenny Dalglish chegou a marcar um golaço, com um toquinho por cobertura sobre o goleiro, mas o juiz anulou por uma suposta falta do atacante em um defensor holandês.

Mas Dalglish não se deu por vencido e empatou um minuto antes do intervalo. Após cruzamento da esquerda, a defesa holandesa tirou e a bola sobrou para Souness. Ele cruzou da esquerda para a segunda trave, Jordan fez o pivô e escorou de cabeça para o meio e Dalglish, sozinho, acertou um voleio no ângulo esquerdo. Um belo gol.

A virada da Tartan Army veio logo no primeiro minuto do segundo tempo. Souness foi derrubado na área. Gemmill bateu fraco e rasteiro no canto esquerdo. O goleiro Jan Jongbloed foi na bola, mas não conseguiu pegar.

Aos 23′, Dalglish ficou na marcação de dois adversários. Gemmill pegou o rebote pela direita, escapou do carrinho de Wim Jansen, driblou Ruud Krol, passou a bola entre as pernas de Jan Poortvliet e, do bico da pequena área, tocou por cima do goleiro Jongbloed. Um verdadeiro golaço.

A Escócia começou a acreditar e partiu para cima. Como o placar estava 3 x 1, os britânicos precisavam apenas de mais um gol para conseguirem o milagre da classificação.

Mas não foi o que aconteceu. Aos 26′, Johnny Rep matou as esperanças dos escoceses. Ele recebeu de Krol e chutou de longe, acertando o ângulo direito do goleiro Rough, que chegou a tocar na bola, mas não impediu o gol.

A Holanda garantia a classificação em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru, contrariando os prognósticos.


(Imagem: bleacherreport.com)

● Os escoceses estavam eliminados, mas caíram de cabeça erguida. Até hoje a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Pelo Grupo A da segunda fase, a Holanda lembrou um pouco o já distante “Carrossel Holandês” e goleou a Áustria por 5 x 1. Na sequência, na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


Kenny Dalglish também fez o seu golaço (Imagem: The Print Collector / Alamy / The Guardian)

FICHA TÉCNICA:

 

ESCÓCIA 3 x 2 HOLANDA

 

Data: 11/06/1978

Horário: 16h45 locais

Estádio: Malvinas Argentinas

Público: 35.130

Cidade: Mendoza (Argentina)

Árbitro: Erich Linemayr (Áustria)

 

ESCÓCIA (4-3-3):

HOLANDA (4-3-3):

1  Alan Rough (G)

8  Jan Jongbloed (G)

13 Stuart Kennedy

20 Wim Suurbier

14 Tom Forsyth

17 Wim Rijsbergen

4  Martin Buchan

2  Jan Poortvliet

3  Willie Donachie

5  Ruud Krol (C)

6  Bruce Rioch (C)

6  Wim Jansen

18 Graeme Souness

13 Johan Neeskens

10 Asa Hartford

11 Willy van de Kerkhof

15 Archie Gemmill

10 René van de Kerkhof

8  Kenny Dalglish

16 Johnny Rep

9  Joe Jordan

12 Rob Rensenbrink

 

Técnico: Ally MacLeod

Técnico: Ernst Happel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jim Blyth (G)

1  Piet Schrijvers (G)

20 Bobby Clark (G)

19 Pim Doesburg (G)

2  Sandy Jardine

7  Piet Wildschut

5  Gordon McQueen

22 Ernie Brandts

17 Derek Johnstone

4  Adrie van Kraaij

22 Kenny Burns

15 Hugo Hovenkamp

7  Don Masson

9  Arie Haan

16 Lou Macari

3  Dick Schoenaker

11 Willie Johnston

14 Johan Boskamp

19 John Robertson

18 Dick Nanninga

21 Joe Harper

21 Harry Lubse

 

GOLS:

34′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

45′ Kenny Dalglish (ESC)

46′ Archie Gemmill (ESC) (pen)

68′ Archie Gemmill (ESC)

71′ Johnny Rep (HOL)

 

CARTÃO AMARELO: 35′ Archie Gemmill (ESC)

 

SUBSTITUIÇÕES:

10′ Johan Neeskens (HOL) ↓

Johan Boskamp (HOL) ↑

 

44′ Wim Rijsbergen (HOL) ↓

Piet Wildschut (HOL) ↑

Golaço marcado por Archie Gemmill:

Jogo completo (em inglês):

Gols da partida (em portugês):

● Sequência de fotos do golaço de Archie Gemmill:


Ele escapou de Win Jansen… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)


… passou por Ruud Krol… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)


… colocou a bola entre as pernas de Jan Poortvliet… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)


… e deu um toque por cima do goleiro Jan Jongbloed (Imagem: Mirrorpix / Getty Images / The Guardian)

(Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)

… 06/06/1978 – Alemanha Ocidental 6 x 0 México

Três pontos sobre…
… 06/06/1978 – Alemanha Ocidental 6 x 0 México


(Imagem: Impromptuinc)

● Na partida anterior, o México perdeu para a Tunísia por 3 x 1, naquela que foi a primeira vitória de uma seleção africana na história das Copas.

O time do México era fraco. Embora fosse presença frequente nos Mundiais, não era protagonista. Havia disputado oito das onze Copas disputadas até então e só havia passado de fase uma vez, quando foi sede, em 1970.

Não havia conseguido se qualificar para a Copa de 1974, caindo para o Haiti. Mas, quatro anos depois, conseguiu recuperar a supremacia em seu continente.

Os destaques do time eram o meia Leonardo Cuéllar e um jovem atacante de 19 anos chamado Hugo Sánchez – que viria a ser um dos maiores artilheiros do mundo no fim dos anos 1980 e se tornaria ídolo do Real Madrid.


(Imagem: Impromptuinc)

● No jogo de abertura, a Alemanha Ocidental empatou por 0 x 0 com a Polônia. O goleiro Sepp Maier foi um dos raros alemães salvos pela crítica.

O técnico Helmut Schön não gostou da forma que os alemães atuaram e fez mudanças drásticas na equipe. Ele escalou o zagueiro Bernard Dietz, o meia Dieter Müller e o atacante Karl-Heinz Rummenigge, sacando do time o meia Erich Beer e os atacantes Rüdiger Abramczik e Herbert Zimmermann.

As alterações conseguiram dar mais fluidez à equipe em relação à estreia e o placar acabou sendo construído com facilidade.


O técnico Helmut Schön escalou a Alemanha Ocidental no 4-3-3 com Rüssmann atuando como zagueiro na sobra.


O treinador José Antonio Roca mandou o México a campo no sistema 4-3-3.

● Na tentativa de angariar o apoio da torcida local, os jogadores mexicanos entraram em campo com a bandeira argentina. De fato, eles até tiveram certo apoio no início, mas não conseguiram corresponder. Nem toda a torcida do mundo seria páreo para o ataque germânico naquela tarde.

Diferentemente do jogo anterior, a Alemanha começou de forma agressiva. Não parecia só uma mudança de nomes, mas também de atitude e autoconfiança. Com isso, a Nationalelf tinha o controle do meio de campo e dominou totalmente a partida.

Na verdade, não houve disputa. Foi um massacre.

O primeiro gol saiu aos 15 minutos. Heinz Flohe dominou na ponta direita, tabelou com Berti Vogts e rolou para Dieter Müller encher o pé esquerdo de fora da área. A bola fez uma bela curva e morreu no ângulo esquerdo do goleiro mexicano. Esse foi o 101º gol alemão em Copas do Mundo.

Aos 30′, Flohe conduziu a bola da esquerda para o meio, se aproximou da área e tocou para Hansi Müller. Ele recebeu, cortou a marcação de Ayala e bateu cruzado no canto direito. 2 a 0.

Oito minutos depois, falta para o México. A bola foi chutada na barreira e ficou com o craque Karl Heiz Rummenigge. O ponta de lança do Bayern de Munique arrancou desde seu campo, em diagonal da direita para a esquerda, ganhou do adversário na velocidade, invadiu a área e tocou por baixo do goleiro José Reyes, que saía para tentar dividir a jogada. Foi o gol mais bonito daquela tarde na cidade de Córdoba.

Nesse lance, o goleiro Reyes se lesionou e precisou sair de maca. Pedro Soto entrou em seu lugar para sofrer os outros gols.


(Imagem: Impromptuinc)

O quarto saiu um minuto antes do intervalo. Falta para a Alemanha. Rainer Bonhof rolou a bola para a meia lua e Flohe pegou de primeira, acertando o ângulo do goleiro Soto.

O quinto até que demorou. Só veio aos 28′ do segundo tempo. Flohe cruzou da esquerda para a segunda trave, Hansi Müller escorou para o meio com um toque de calcanhar em pleno ar e Rummenigge chegou batendo também de primeira no canto direito. Outro belo gol.

Pouco depois, os mexicanos foram salvos pela trave duas vezes no mesmo lance. Flohe tabelou com Bonhof dentro da área, cortou a marcação de Ramos e bateu de direita. Caprichosamente, a bola bateu na trave esquerda, bateu na trave direita e não entrou. Martínez pegou o rebote e recuou para o goleiro.

O placar foi fechado no minuto final. Flohe recebeu de Fischer próximo à meia lua, gingou na frente de dois marcadores, levou para o pé esquerdo e chutou no ângulo direito.

“Fomos derrotados por um adversário que jogou como campeão do mundo que é.” ― José Antonio Roca, técnico da seleção mexicana.


(Imagem: Impromptuinc)

● Na sequência da primeira fase o México foi derrotado pela Polônia por 3 x 1 e ficou na lanterna da chave.

Por sua vez, a Alemanha empatou sem gols com a Tunísia – resultado que a classificou em segundo lugar do Grupo 2.

Na fase seguinte (semifinal), disputada em dois grupos de quatro seleções cada, a Alemanha Ocidental empatou por 0 x 0 com a Itália e por 2 x 2 com a Holanda. Precisando vencer para ter alguma chance de ir para a final, perdeu para a vizinha Áustria por 3 x 2 e o resultado foi a eliminação.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 6 x 0 MÉXICO

 

Data: 06/06/1978

Horário: 16h45 locais

Estádio: Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 35.258

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: Farouk Bouzo (Síria)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

MÉXICO (4-3-3):

1  Sepp Maier (G)

1  José Pilar Reyes (G)

2  Berti Vogts (C)

3  Alfredo Tena

5  Manfred Kaltz

4  Eduardo Ramos

4  Rolf Rüssmann

5  Arturo Vázquez Ayala (C)

3  Bernard Dietz

12 Jesús Martínez

6  Rainer Bonhof

6  Guillermo Mendizábal

10 Heinz Flohe

7  Antonio de la Torre

20 Hansi Müller

17 Leonardo Cuéllar

11 Karl-Heinz Rummenigge

8  Enrique López Zarza

14 Dieter Müller

9  Víctor Rangel

9  Klaus Fischer

11 Hugo Sánchez

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: José Antonio Roca

 

SUPLENTES:

 

 

21 Rudi Kargus (G)

22 Pedro Soto (G)

22 Dieter Burdenski (G)

15 Ignacio Flores

12 Hans-Georg Schwarzenbeck

2  Manuel Nájera

13 Harald Konopka

13 Rigoberto Cisneros

15 Erich Beer

14 Carlos Gómez

16 Bernhard Cullmann

16 Javier Cárdenas

18 Gerd Zewe

18 Gerardo Lugo

17 Bernd Hölzenbein

21 Raúl Isiordia

19 Ronald Worm

10 Cristóbal Ortega

7  Rüdiger Abramczik

19 Hugo René Rodríguez

8  Herbert Zimmermann

20 Mario Medina

 

GOLS:

15′ Dieter Müller (ALE)

30′ Hansi Müller (ALE)

38′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

44′ Heinz Flohe (ALE)

73′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

89′ Heinz Flohe (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

43′ Rainer Bonhof (ALE)

44′ Arturo Vázquez Ayala (MEX)

 

SUBSTITUIÇÕES:

39′ José Pilar Reyes (MEX) ↓

Pedro Soto (MEX) ↑

 

INTERVALO Enrique López Zarza (MEX) ↓

Gerardo Lugo (MEX) ↑

Melhores momentos da partida:

… 01/06/1978 – Alemanha Ocidental 0 x 0 Polônia

Três pontos sobre…
… 01/06/1978 – Alemanha Ocidental 0 x 0 Polônia


(Imagem: Impromptuinc)

● Alemanha e Polônia haviam feito uma excelente partida na fase semifinal da Copa do Mundo de 1974, em um duelo de muito equilíbrio. Jogando em casa e com um time melhor, os alemães venceram.

Quatro anos depois, a Polônia mantinha praticamente o mesmo time que conquistou o 3º lugar na Copa anterior, com o belo acréscimo do meia-atacante Zbigniew Boniek e o retorno de Włodzimierz Lubański. O atacante polonês não havia disputado o Mundial anterior por ter se lesionado pouco antes, mas havia sido o maior destaque de sua seleção na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique.

Portando a camisa 12 e a faixa de capitão, o meia Kazimierz Deyna ainda era o articulador criativo de sua seleção. A esperança de gols permanecia sendo o velocista Grzegorz Lato, artilheiro da Copa de 1974. O goleiro Jan Tomaszewski continuava dando segurança à defesa, assim como o zagueiro Władysław Żmuda. A ausência era o inteligente ponta esquerda Robert Gadocha.

Mas, se o elenco polaco era quatro anos mais experiente, também era quatro anos mais velho e cansado.


(Imagem: Impromptuinc)

● Por sua vez, a Alemanha Ocidental estava se renovando aos poucos. O goleador Gerd Müller agora dava lugar ao craque Karl-Heinz Rummenigge. O Kaiser Franz Beckenbauer também havia saído de cena, mas alguns importantes campeões do mundo continuavam na Mannschaft, como o agora capitão Berti Vogts, o goleiro Sepp Maier, Rainer Bonhof e outros.

Mas a Nationalelf estava sentindo falta de outros jogadores de alto nível, como Wolfgang Overath e Jürgen Grabowski. Um dos principais desfalques era o rebelde Paul Breitner, que estava em litígio com o veterano técnico Helmut Schön.


O técnico Helmut Schön escalou a Alemanha Ocidental no 4-3-3 com Rüssmann atuando como zagueiro na sobra.


O treinador Jacek Gmoch mandou a Polônia a campo no sistema 4-3-3.

● O jogo de abertura da Copa geralmente é truncado e sem graça. Mas todos esperavam um duelo elétrico como o de 1974. Ledo engano.

Não foi um bom presságio para quem esperava uma Copa com inovações táticas e jogadores de alto nível técnico, como quatro anos antes.

Um dos problemas era o campo. Alguém – não se sabe quem – teve a iluminada ideia de irrigar o gramado do estádio Monumental de Núñez com água do mar. Logicamente, a grama ficou arruinada e teve que ser substituída em cima da hora. Com isso, tufos de grama se soltavam a cada jogada, prejudicando o toque de bola.

Para piorar, alemães e poloneses preferiram jogar para evitar a derrota ao invés de partirem em busca da vitória. Não foi um bom jogo tecnicamente, com nenhuma chance clara ou remota de gol.

Com atuações bem abaixo do esperado, as duas seleções deixaram entediados e com sono os 67 mil expectadores.


(Imagem: Impromptuinc)

● Na sequência da primeira fase, a Polônia venceu a Tunísia (1 x 0) e o México (3 x 1). A Alemanha goleou o México por 6 a 0 e empatou sem gols com a Tunísia. Com esses resultados, os poloneses terminaram como líderes do Grupo 2, com os alemães se classificando em segundo lugar.

Assim como em 1974, a segunda fase não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final.

Nessa fase, pelo Grupo B, a Polônia perdeu para a Argentina por 2 x 0, venceu o Peru por 1 x 0 e se despediu perdendo para o Brasil por 3 x 1.

Pelo Grupo A, a Alemanha Ocidental empatou por 0 x 0 com a Itália e por 2 x 2 com a Holanda. Precisando vencer para ter alguma chance de ir para a final, perdeu para a vizinha Áustria por 3 x 2 e o resultado foi a eliminação.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 0 x 0 POLÔNIA

 

Data: 01/06/1978

Horário: 16h00 locais

Estádio: Monumental de Nuñez (Estadio Antonio Vespucio Liberti)

Público: 67.579

Cidade: Buenos
Aires (Argentina)

Árbitro: Ángel Norberto Coerezza (Argentina)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

POLÔNIA (4-3-3):

1  Sepp Maier (G)

1  Jan Tomaszewski (G)

2  Berti Vogts (C)

4  Antoni Szymanowski

5  Manfred Kaltz

9  Władysław Żmuda

4  Rolf Rüssmann

6  Jerzy Gorgoń

15 Erich Beer

3  Henryk Maculewicz

6  Rainer Bonhof

5  Adam Nawałka

10 Heinz Flohe

11 Bohdan Masztaler

20 Hansi Müller

12 Kazimierz Deyna (C)

7  Rüdiger Abramczik

16 Grzegorz Lato

8  Herbert Zimmermann

17 Andrzej Szarmach

9  Klaus Fischer

19 Włodzimierz Lubański

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Jacek Gmoch

 

SUPLENTES:

 

 

21 Rudi Kargus (G)

21 Zygmunt Kukla (G)

22 Dieter Burdenski (G)

22 Zdzisław Kostrzewa (G)

12 Hans-Georg Schwarzenbeck

14 Mirosław Justek

13 Harald Konopka

20 Roman Wójcicki

3  Bernard Dietz

13 Janusz Kupcewicz

16 Bernhard Cullmann

8  Henryk Kasperczak

18 Gerd Zewe

10 Wojciech Rudy

17 Bernd Hölzenbein

18 Zbigniew Boniek

19 Ronald Worm

2  Włodzimierz Mazur

14 Dieter Müller

7  Andrzej Iwan

11 Karl-Heinz Rummenigge

15 Marek Kusto

 

SUBSTITUIÇÕES:

79′ Włodzimierz Lubański (POL) ↓

Zbigniew Boniek (POL) ↑

 

84′ Bohdan Masztaler (POL) ↓

Henryk Kasperczak (POL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Três pontos sobre…
… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França


(Imagem: AFP / Folha)

● Após 48 anos, a Copa do Mundo voltou a ser disputada às margens do Rio da Prata. A primeira vez foi no Uruguai. Em 1978 foi a vez da Argentina ser o maior palco do futebol mundial. Os portenhos já tinham pleiteado o direito de sediar o torneio em outras ocasiões, mas só tiveram sucesso em 1966, quando foi escolhida como anfitriã para a competição que seria disputada doze anos depois.

Dois anos antes, uma junta militar foi responsável por dar um golpe de estado e tirar do poder Isabelita Perón, viúva do mítico presidente Juan Domingo Perón. Autodenominada “Processo de Reorganização Nacional”, a junta foi constituída pelos comandantes das três forças armadas: Jorge Rafael Videla (exército), Emilio Massera (marinha) e Orlando Agosti (força aérea). Logo na sequência, o general Videla assumiu a presidência e governou por cinco anos com mão de ferro.

E foi nesse período, em meio a um turbilhão de acontecimentos na política e na sociedade argentina, que o Mundial ocorreu: bem no período mais crítico da ditadura militar. A tortura e os métodos de combate aos opositores geravam controvérsia internacional e houve até boatos de boicote em massa à competição.

Era um país sem confiança e baixa autoestima. E, assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Realizar a Copa do Mundo com êxito se tornou fundamental. Foram construídos três estádios (nas cidades de Córdoba, Mendoza e Mar del Plata) e outros três foram reformados (Gigante de Arroyito – em Rosário; Monumental de Núñez e El Fortín de Liniers – em Buenos Aires). Na capital, foi construído em tempo recorde o mais bem equipado centro de imprensa da América do Sul. Ironicamente, os pobres hermanos só podiam assistir ao torneio em preto e branco, enquanto as imagens mais sofisticadas da época eram transmitidas mundo afora.

César Luis Menotti (ex-jogador do Santos de Pelé) se tornou técnico da seleção há quatro anos. Nesse último ciclo, armou um time limitado, mas voluntarioso e competitivo. Tinha a difícil missão de consertar a imagem arranhada da qual os portenhos saíram dos últimos Mundiais, voltando ao tempo em que sua seleção era mais conhecida pela prática do bom futebol do que pelas jogadas ríspidas. Para isso, contava com o ótimo meia-atacante Mario Kempes, o único de seus convocados que jogava no exterior – no Valencia, da Espanha.

Menotti preferiu prescindir do talento de um genial e genioso menino de apenas 17 anos chamado Diego Armando Maradona. Ele havia estreado na albiceleste no início do ano anterior, mas foi um dos três cortados de última hora. O treinador julgou que o mancebo não tinha a experiência necessária para lidar com a enorme pressão que a torcida exercia (veja mais abaixo).


(Imagem: AFP)

● A França voltava a disputar uma Copa do Mundo após doze anos. Tendo como time-base o bom time do Saint-Étienne, tricampeão francês na década de 1970 (Christian Lopez, Dominique Bathenay e Dominique Rocheteau eram titulares de Les Bleus), possuía uma geração inexperiente em nível internacional, mas de enorme talento, com destaques para Michel Platini, Dominique Rocheteau e Didier Six. O calcanhar de aquiles era o sistema defensivo, embora contasse com o bons nomes como Marius Trésor e Maxime Bossis.

Os franceses venceram o Grupo 5 das eliminatórias europeias com cinco pontos. Na última rodada, Les Bleus precisavam vencer os búlgaros em Paris e venceram por 3 x 1. Na ocasião, a Bulgária não conseguiu ser a “asa negra” da França, como havia sido em 1961 e seria ainda mais em 1993 – mas esse é um delicioso assunto para outra hora.

A seleção francesa tentou boicotar a sua ida para a Copa em resposta ao assassinato de freiras francesas pelo regime militar argentino, mas não tiveram êxito no boicote.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A França também jogava no 4-3-3, com Platini tendo liberdade para criar e com muita movimentação dos pontas.

● O Grupo 1 era bastante equilibrado, com a dona da casa e favorita Argentina, a sempre poderosa Itália, além da rejuvenescida França e do bom time da Hungria. Na primeira rodada, a Squadra Azzurra venceu Les Bleus por 2 x 1 e os albicelestes bateram os magiares pelo mesmo placar.

Uma segunda vitória praticamente garantia a dona da casa no quadrangular semifinal. Assim, mais de 70 mil expectadores lotaram o mítico estádio Monumental de Núñez. Vestidos de azul e branco, os fanáticos torcedores argentinos jogavam junto com o time, enchendo o campo de muita serpentina e papel picado quando sua seleção entrava em campo.

A primeira chance do jogo foi argentina. René Houseman entrou na área pelo lado esquerdo e deixou com Kempes na entrada da área. O camisa 10 encheu a perna esquerda de primeira, mas a bola foi na trave.

O primeiro tempo estava prestes a terminar sem gols, mas o árbitro suíço Jean Dubach marcou um pênalti a favor dos hermanos. Após uma boa jogada de Kempes, Luque chutou cruzado e Trésor tentou cortar, mas, já caído, a bola desviou em seu braço dentro da área. Toda a Argentina reclamou. O volante Américo Gallego perseguiu o juiz desde o meio de campo até a conversa com o bandeira. Deu a impressão de ter ganhado no grito, mas a penalidade existiu mesmo. O capitão Daniel Passarella cobrou o pênalti com força no canto esquerdo e converteu, fazendo a festa de seus compatriotas. No último minuto do primeiro tempo, a Argentina abriu o placar.

Aos dez minutos da segunda etapa, Luque chutou da intermediária e a bola subiu. O goleiro francês Bertrand-Demanes espalmou por cima, mas, na queda, sofreu o choque da trave no meio das costas. O arqueiro não conseguiu continuar em campo e foi substituído por Dominique Baratelli.

A França lutou e conseguiu a reação aos 15′. Battiston lançou por cima da defesa platina. Bernard Lacombe recebeu na direita e tentou encobrir Fillol, mas a bola foi no travessão. O próprio Lacombe dominou o rebote e deixou para Platini, que vinha de frente, encher a perna esquerda para a baliza desprotegida e empatar o jogo, marcando o seu primeiro gol em Copas.

A França mantinha a pressão e se inspirava no jovem Michel Platini, então camisa 15, que estava prestes a completar 23 anos. Ele estava sempre no centro das melhores jogadas. Com a visão de jogo de um veterano, ele avançou desde sua intermediária defensiva, viu uma brecha na defesa adversária e achou Didier Six livre. O ponta esquerda passou por Tarantini e tocou na saída de Fillol. Caprichosamente, a bola passou rente à trave e foi para fora.

Como diz aquele velho ditado: “quem não faz…” O erro custou caro à França, que deixou passar seu melhor momento no jogo.

Aos 28′, Ardiles tocou para Luque na entrada da área. Ele teve tempo e espaço para dominar sozinho, deixar a bola quicar e chutar para o gol. A bola vadia de Luque desviou no meio do caminho, traiu o goleiro Baratelli e tomou o rumo do gol.

Leopoldo Luque foi o melhor em campo, sendo fundamental nos dois gols. Mesmo com uma luxação no ombro, após uma dividida com o zagueiro francês Christian Lopez, o camisa 14 continuou firme em campo. O que ele não sabia é que seu irmão Oscar tinha falecido após sofrer um acidente naquela manhã. Seus pais só lhe informaram do acontecimento no dia seguinte.

Esse havia sido o melhor jogo da Copa até aquele momento. A Argentina estava classificada. A França, mesmo com um dos melhores times do campeonato, era eliminada após apenas dois jogos.


Luque marca o segundo gol da albiceleste (Imagem: Pinterest)

● Com a vitória da Itália sobre a Hungria por 3 x 1, italianos e argentinos já estavam classificados quando se enfrentaram na terceira rodada. A Itália ganhou de 1 x 0 na Argentina, enquanto a França (jogando com uma equipe mista e o uniforme listrado em verde e branco, do time do Kimberley, da terceira divisão) venceu a Hungria por 3 x 1, e ambas ficaram na primeira fase.

No quadrangular semifinal, a Argentina venceu a Polônia por 2 x 0 e empatou sem gols com o Brasil. Na terceira rodada (como explicamos aqui), precisava vencer o Peru por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. E em uma partida no mínimo estranha, venceu por 6 x 0. Na final, continuou contando com a sorte e venceu a Holanda por 3 x 1 na prorrogação.

Essa foi o último Mundial em que 16 participaram da fase final. A partir de 1982, na Espanha, seriam 24 seleções.

Curiosamente, essa foi a primeira Copa do Mundo em que a Argentina usou o famoso uniforme com o escudo da AFA (Asociación del Fútbol Argentino). Nas edições anteriores, a camisa albiceleste ainda não tinha o escudo.

A numeração dos jogadores da Argentina era feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Norberto Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Ubaldo Fillol jogou com a 5. Coincidências da vida, o maior craque, Mario Kempes, ficou mesmo com a 10 – o que lhe cabia tão bem.

Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Diego Armando Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o treinador César Luis Menotti decidiu não convocá-lo. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 x 1 FRANÇA

 

Data: 06/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.666

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Jean Dubach (Suíça)

 

ARGENTINA (4-3-3):

FRANÇA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

21 Jean-Paul Bertrand-Demanes (G)

15 Jorge Olguín

2  Patrick Battiston

7  Luis Galván

6  Christian Lopez

19 Daniel Passarella (C)

8  Marius Trésor (C)

20 Alberto Tarantini

3  Maxime Bossis

6  Américo Gallego

9  Dominique Bathenay

2  Osvaldo Ardiles

11 Henri Michel

21 José Daniel Valencia

15 Michel Platini

10 Mario Kempes

18 Dominique Rocheteau

9  René Houseman

17 Bernard Lacombe

14 Leopoldo Luque

19 Didier Six

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Michel Hidalgo

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

1  Dominique Baratelli (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Dominique Dropsy (G)

18 Rubén Pagnanini

4  Gérard Janvion

11 Daniel Killer

5  François Bracci

8  Rubén Galván

7  Patrice Rio

12 Omar Larrosa

10 Jean-Marc Guillou

17 Miguel Oviedo

12 Claude Papi

1  Norberto Alonso

13 Jean Petit

16 Oscar Alberto Ortiz

14 Marc Berdoll

4  Daniel Bertoni

16 Christian Dalger

22 Ricardo Villa

20 Olivier Rouyer

 

GOLS:

45′ Daniel Passarella (ARG) (pen)

60′ Michel Platini (FRA)

73′ Leopoldo Luque (ARG)

 

CARTÃO AMARELO: 88′ Didier Six (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jean-Paul Bertrand-Demanes (FRA) ↓

Dominique Baratelli (FRA)

 

64′ José Daniel Valencia (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↑

 

71′ Norberto Alonso (ARG) ↓

Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↑

Melhores momentos da partida:

… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

● A Argentina era um país em seu período mais crítico da ditadura militar, sob o comando do general Jorge Rafael Videla. Era um país sem confiança e baixa autoestima. Ainda bem que existe o futebol, para dar alguma alegria ao povo.

Sem o gênio Johan Cruijff (que não viajou para a Copa de 78), a Holanda fez uma primeira fase bastante irregular. Estreou bem, vencendo o Irã por 3 a 0, mas na sequência empatou com o Peru por 0 a 0 e perdeu por 3 a 2 para a Escócia. Na fase seguinte mostrou sua força ao golear a Áustria por 5 a 1, empatar com a Alemanha por 2 a 2 e vencer a Itália por 2 a 1.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1) e perdendo para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, se classificando para a final.

A polêmica em torno da goleada de 6 x 0 sobre o Peru continuou sendo o assunto principal até o dia da final. Os jogadores argentinos passaram três dias explicando, como se fosse necessária alguma explicação por ter vencido. O goleiro Fillol resumiu bem: “O Brasil fez 3 a 0 no Peru e teve chances de fazer mais; acontece que nós aproveitamos todas as chances”.

Mas essa controvérsia foi útil para o Ente Autárquico Mundial (EAM, uma entidade criada pela ditadura argentina para organizar a Copa do Mundo de 1978). Com o foco das atenções voltado para o jogo anterior, a entidade agiu na surdina e “escolheu” o árbitro da final. Foi vetado o israelense Abraham Klein (que apitou a única derrota argentina no torneio, 1 a 0 contra a Itália) e indicou o italiano Sergio Gonella, mais suscetível a pressões.

A polêmica começou antes mesmo do jogo começar. Os argentinos fizeram de tudo para catimbar a partida, entrando em campo com dez minutos de atraso. Depois, o capitão Daniel Passarella reclamou com o juiz sobre o gesso que René van de Kerkhof usava no braço. O árbitro ordenou que o holandês molhasse o braço para que o gesso ficasse mais mole. Já se foram mais cinco minutos passados.

Antes do apito inicial, a torcida argentina já tinha transformado o estádio Monumental de Núñez em um caldeirão, com uma chuva infindável de papel picado.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A Holanda também no 4-3-3, mas com Krol como líbero, com liberdade para avançar e inicar as jogadas.

● Com a bola rolando, a Argentina estava acuada, como se tivesse com medo tanto de perder quanto de vencer. A Holanda dominou o jogo, sendo a responsável pelas jogadas mais agudas. Gonella amarrou o jogo no meio campo, invertendo faltas e punindo apenas a Holanda. Só durante os primeiros 90 minutos, foram mais de 50 faltas apitadas contra os holandeses. Sem contar em duas vezes que o ataque dos europeus foi parado diante do gol por impedimentos bastante duvidosos.

Mesmo assim, a “Laranja” (que não era mais a “Mecânica, mas ainda assim era ótima) criava as jogadas mais perigosas. Na melhor delas, Johnny Rep chutou da marca do pênalti, à queima roupa, mas Fillol defendeu bem, mandando para escanteio.

Os argentinos eram só catimba e provocação, mas aos poucos foram se acalmando e cresceram na partida.

Aos 38 minutos da etapa inicial, o placar foi aberto. O centroavante Luque recebeu de Ardiles e tocou para Kempes, na entrada da área. Ele dominou, passou rapidamente entre Krol e Haan e, mesmo caindo, chutou por baixo, na saída do veterano goleiro Jongbloed.

Na etapa final, a Holanda era melhor. Foi premiada com o empate aos 37 minutos, quando Arie Haan lançou René van de Kerkhof pela direita e o camisa 10 cruzou para a área de primeira. Dick Nanninga apareceu nas costas de Galván e Olguín e cabeceou firme, a direita de Fillol.

Nos últimos segundos do tempo normal, a Holanda perdeu a chance de se sagrar campeã mundial. Ruud Krol levantou a bola para a área, Neeskens ganhou pelo alto de Passarella e Rensenbrink, cara a cara com Fillol, chutou na trave e a bola voltou para dentro de campo.

Pela terceira vez o título da Copa do Mundo seria decidido na prorrogação. A Holanda continuou buscando mais o jogo. Mas foi ali que o misto de raça e qualidade da Argentina se sobressaiu.

No último minuto do primeiro tempo, Mario Kempes dominou a bola na intermediária, deu uma arrancada de 20 metros, escapou dos carrinhos e Haan e Krol ao entrar na área, dividiu com o goleiro no chão e teve sorte, pois a bola sobrou livre para ele concluir a gol antes da chegada de Suurbier e Poortvliet. Kempes contou com a sorte nas divididas, mas foi um lindo gol, digno de um camisa 10 argentino.

Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Kempes arrancou de novo e tabelou com Bertoni. A bola bateu no braço de Kempes, mas Bertoni chuta cruzado antes da chegada de Jongbloed, marcando o gol do título. Os holandeses reclamaram toque de mão, mas o árbitro italiano validou o gol.

Mesmo com suspeita de favorecimentos nessa e em outras partidas, os albicelestes tinham seus méritos e foram campeões. Festa da torcida em casa, que via a Argentina conquistar uma Copa do Mundo após 48 anos de sonhos frustrados.


O craque Mario Kempes comemora o segundo gol argentino (Imagem: Getty Images)

● A Holanda conquistou um feito inglório: foi a primeira seleção com dois vice-campeonatos mundiais consecutivos. (Seria vice novamente em 2010, como veremos no dia 11/07.)

Ao fim da partida, o holandês Johnny Rep foi ácido em sua declaração: “Não sentimos falta de Cruijff. E o senhor Rensenbrink comportou-se como uma galinha medrosa. Nenhum time é campeão do mundo com covardes”.

Já o técnico campeão César Luis Menotti alfinetou o brasileiro Cláudio Coutinho: “Eu felicito meu colega Coutinho por seu campeonato moral e desejaria, também, que ele me felicitasse por meu campeonato real”.

Por sua vez o técnico austríaco Ernst Happel, da Holanda, nem teve chances de participar da conferência de imprensa depois da final. Ele tentou entrar no salão, mas o militar que vigiava a porta não o conhecia e retrucava: “Esta é uma conferência de imprensa e só passam Menotti, o treinador da Holanda, e os jornalistas”. Happel nada pôde fazer, a não ser ir embora. A conferência ocorreu sem ele.

Mario Kempes se tornou artilheiro da Copa marcando apenas gols decisivos. Depois de passar em branco na primeira fase, raspou o bigode e parece que essa “mandinga” funcionou. Ele anotou dois gols sobre a Polônia, dois no Peru e mais dois na final contra a Holanda. Assim, passou o ponta holandês Rob Rensenbrink, que tinha cinco gols (sendo quatro de pênalti). Foi a primeira vez que o artilheiro do torneio pertenceu à seleção campeã. Kempes também foi eleito o melhor jogador do Mundial.

Curiosamente, o dia da polêmica goleada da Argentina sobre o Peru coincidiu com a data de estreia nos teatros de Londres do musical “Evita” (“Don’t cry for me Argentina…”), de produzido pelo britânico Andrew Lloyd-Weber.


Passarella levanta a primeira Copa do Mundo conquistada pela Argentina (Imagem: Daily Mail)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 1 HOLANDA

 

Data: 25/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.483

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Sergio Gonella (Itália)

 

ARGENTINA (4-3-3):

HOLANDA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

8  Jan Jongbloed (G)

15 Jorge Olguín

6  Wim Jansen

7  Luis Galván

22 Ernie Brandts

19 Daniel Passarella (C)

2  Jan Poortvliet

20 Alberto Tarantini

5  Ruud Krol (C)

2  Osvaldo Ardiles

9  Arie Haan

6  Américo Gallego

13 Johan Neeskens

10 Mario Kempes

11 Willy van de Kerkhof

4  Daniel Bertoni

10 René van de Kerkhof

14 Leopoldo Luque

16 Johnny Rep

16 Oscar Alberto Ortiz

12 Rob Rensenbrink

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Ernst Happel

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

19 Pim Doesburg (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

1  Piet Schrijvers (G)

18 Rubén Pagnanini

17 Wim Rijsbergen

11 Daniel Killer

4  Adrie van Kraaij

8  Rubén Galván

20 Wim Suurbier

12 Omar Larrosa

7  Piet Wildschut

17 Miguel Oviedo

15 Hugo Hovenkamp

21 José Daniel Valencia

3  Dick Schoenaker

1  Norberto Alonso

14 Johan Boskamp

22 Ricardo Villa

18 Dick Nanninga

9  René Houseman

21 Harry Lubse

 

GOLS:

38′ Mario Kempes (ARG)

82′ Dick Nanninga (HOL)

105′ Mario Kempes (ARG)

115′ Daniel Bertoni (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

15′ Ruud Krol (HOL)

40′ Osvaldo Ardiles (ARG)

93′ Omar Larrosa (ARG)

94′ Wim Suurbier (HOL)

96′ Jan Poortvliet (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

58′ Johnny Rep (HOL) ↓

Dick Nanninga (HOL) ↑

 

66′ Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Omar Larrosa (ARG)

 

75′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

René Houseman (ARG)

 

75′ Wim Jansen (HOL) ↓

Wim Suurbier (HOL)


Os capitães Ruud Krol e Daniel Passarella disputam uma jogada (Imagem: Globo Esporte)

… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

“A Batalha de Rosario”


Oscar encara Luque (Imagem localizada no Google)

● Em 1978 a Argentina vivia sob uma ditadura militar, comandada pelo general Jorge Rafael Videla. Assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Na segunda partida da segunda fase, Brasil e Argentina se enfrentaram no acanhado estádio Gigante de Arroyito, em busca de uma única vaga na final. A Argentina foi beneficiada pela logística e o Brasil foi prejudicado, pois para disputar as suas sete partidas, o Brasil percorreu 4.659 quilômetros, enquanto a Argentina deslocou-se por apenas 618 quilômetros, entre Buenos Aires e Rosario.

Veja mais:
… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda
… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Desde que a delegação brasileira viajou de Mendoza para Rosario, o clima não foi fácil. Na madrugada do jogo, a polícia permitiu que os torcedores locais buzinassem à vontade em frente ao Hotel Libertador, onde os brasileiros estavam hospedados. Ao chegar ao estádio, novo momento de pressão: a torcida argentina formou uma espécie de “corredor polonês” para receber os adversários com pedradas.

O Brasil estava invicto há oito anos contra a Argentina. Rivellino, remanescente da equipe campeã em 1970, continuava machucado. O técnico brasileiro era Cláudio Coutinho, preparador físico em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele não convocou o meia Falcão, eleito o melhor jogador do Brasileirão de 1978, que teria criticado certas atitudes suas.

A seleção da Argentina festejava o retorno do centroavante Leopoldo Luque, que ficou fora de dois jogos – um deles por causa de uma contusão no braço e outro devido à morte de um irmão em um acidente, no qual seu caminhão bateu e pegou fogo. Com a volta de Luque, Kempes jogou mais recuado.

Curiosamente, a numeração dos jogadores da Argentina foi feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Fillol ficou com a de número 5.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


O Brasil foi escalado em um 4-3-3 defensivo, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.

● Na partida que terminou em 0 a 0, a violência ganhou de goleada. Foi um festival sem fim de pontapés, cotoveladas e até cusparadas.

O técnico Coutinho estava ciente da pressão que sua equipe enfrentaria e escalou um time mais forte fisicamente. Chicão e Batista lutavam por todas as bolas. Chicão colou em Kempes e Batista marcou Ardiles, mais rápido. Jorge Mendonça recuava para marcar, mas também dava tranquilidade na armação das jogadas. Dirceu, com um físico privilegiado, fechava pelo meio e avançava pela ponta. Na frente, Gil e Roberto Dinamite ficaram isolados.

Com Toninho Cerezo sentindo dores, o técnico Cláudio Coutinho optou pela valentia e disciplina tática de Chicão, volante do São Paulo. Ele foi escolhido justamente por seu estilo vigoroso de disputar cada lance. Ele foi encarregado de marcar o craque portenho, Mario Kempes. Cumpriu sua função e eclipsou Kempes da partida, mesmo sendo provocado o tempo todo. Provavelmente foi a melhor partida de Chicão em toda sua carreira.

Com dez segundos, Luque acertou um chute sem bola em Batista, já demonstrando o tom bélico que seriam os 90 minutos. Foram seis faltas nos três minutos iniciais. Nos primeiros 12 minutos, 14 faltas. No total, foram 51 infrações, o recorde em uma partida desse Mundial. Intimidado, o árbitro húngaro Károly Palotai fazia vista grossa para as agressões dos argentinos. Assim, nada restava aos brasileiros, a não ser pagar com a mesma moeda.

Por diversas vezes o time argentino certou o árbitro. E tudo foi aceito com naturalidade, exceto pelo capitão Leão, que foi contido por seus colegas ao entrar em atrito com Luque. Leão ficava instigando sua defesa para que acertasse Luque no braço machucado.

Ainda no primeiro tempo, o grandalhão Luque tirou Oscar da jogada com uma cotovelada e cruzou para Galván errar a conclusão. Apesar das entradas duras de Oscar e de Chicão, Luque continuava batendo sem bola e a cada falta que recebia, ele simulava ter sido agredido.

Aos 16 minutos, Gil ganhou na corrida de dois defensores e chutou cruzado, mas Fillol defendeu. Mas a chance mais clara de gol foi desperdiçada. Roberto Dinamite recebeu lançamento, entrou na área e finalizou, mas Fillol defendeu com as pernas. A Argentina teve uma única chance, perdida por Ortiz após cruzamento de Bertoni.

Ainda no primeiro tempo, o técnico Cláudio Coutinho trocou o lesionado Rodrigues Neto por Edinho, na tentativa de fechar melhor os espaços do ponta direita Bertoni. Mas ocorreu o contrário. O zagueiro improvisado na lateral perdeu todos os lances, o que exigia a sempre excelente cobertura de Amaral. Bertoni cuspia tanto que parecia um chafariz.

No fim da primeira etapa, Ardiles torceu o tornozelo e saiu carregado com a ajuda de Toninho, em um raro momento de fair play. No intervalo, foi substituído por Ricardo Villa, que entrou só para bater (e bateu muito).

A partida era tensa, com a marcação prevalecendo. Poucas chances foram criadas. Oscar foi impecável no jogo aéreo, o forte da Argentina (além de valente em todas as disputas). Na direita, Toninho conseguiu conter as firulas de Ortiz e até conseguiu avançar com frequência.

A medida que o jogo foi se aproximando do fim, as pancadas foram diminuindo e o Brasil pôde mostrar seu melhor futebol. Os argentinos estiveram nervosos o tempo todo. Os minutos se passaram sem que a Argentina conseguisse impor seu ritmo. A barulhenta torcida por vezes se calava, vendo a dificuldade de seu time em sair da própria defesa.

Apesar da batalha, no fim, surpreendentemente, os jogadores adversários trocaram camisas e se abraçaram.


Chicão domina a bola no meio de campo, em cena comum na partida (Imagem localizada no Google)

● O resultado de 0 a 0 foi bom para a Argentina, pois o Brasil jogou melhor. Com a igualdade no placar, as duas seleções tinham chances na última rodada, disputada três dias depois.

Na primeira fase, a Seleção Brasileira empatou com a Suécia por 1 a 1 e com a Espanha por 0 a 0; venceu a Áustria por mísero 1 a 0. Já na segunda fase (também disputada em grupos com quatro equipes), venceu o Peru por 3 a 0, empatou sem gols com os anfitriões argentinos e venceu a Polônia por 3 a 1. Na decisão do 3º lugar, o Brasil venceu a Itália por 2 a 1 e foi a única equipe que terminou a Copa invicta. Segundo o técnico Cláudio Coutinho, o Brasil foi o verdadeiro “campeão moral” da Copa.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1), além de perder para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Antes da partida, o general Videla e o diplomata dos EUA Henry Kissinger foram ao vestiário peruano ter uma conversa “misteriosa” com os jogadores. Há várias “teorias da conspiração, envolvendo inclusive o Cartel de Cali. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, chegando à final contra a Holanda (que veremos no próximo dia 25/06).


Chicão estapeia Kempes. O craque argentino foi anulado pelo volante brasileiro (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 0 x 0 BRASIL

 

Data: 18/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Gigante de Arroyito

Público: 37.326

Cidade: Rosario (Argentina)

Árbitro: Károly Palotai (Hungria)

 

ARGENTINA (4-3-3):

BRASIL (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

1  Leão (G)(C)

15 Jorge Olguín

2  Toninho Baiano

7  Luis Galván

3  Oscar

19 Daniel Passarella (C)

4  Amaral

20 Alberto Tarantini

16 Rodrigues Neto

2  Osvaldo Ardiles

21 Chicão

6  Américo Gallego

17 Batista

10 Mario Kempes

19 Jorge Mendonça

4  Daniel Bertoni

18 Gil

14 Leopoldo Luque

20 Roberto Dinamite

16 Oscar Alberto Ortiz

11 Dirceu

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Cláudio Coutinho

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

12 Carlos (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Waldir Peres (G)

18 Rubén Pagnanini

13 Nelinho

11 Daniel Killer

14 Abel Braga

8  Rubén Galván

15 Polozzi

12 Omar Larrosa

6  Edinho

17 Miguel Oviedo

5  Toninho Cerezo

21 José Daniel Valencia

10 Rivellino

1  Norberto Alonso

8  Zico

22 Ricardo Villa

7  Sérgio

9  René Houseman

9  Reinaldo

 

CARTÕES AMARELOS:

Ricardo Villa (ARG)

Chicão (BRA)

Edinho (BRA)

Zico (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

34′ Rodrigues Neto (BRA) ↓

Edinho (BRA)

 

INTERVALO Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Ricardo Villa (ARG)

 

60′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↓

 

67′ Jorge Mendonça (BRA) ↓

Zico (BRA)

Melhores (e piores) momentos da partida:

Jogo completo:

… Polônia e a breve história de sua seleção de futebol

Três pontos sobre…
… Polônia e a breve história de sua seleção de futebol

(Imagem localizada no Google)

A seleção polonesa fez sua primeira partida oficial em 18/12/1921, perdendo por 1 x 0 em um amistoso com a Hungria, em Budapeste. Estreou em Copas do Mundo em 1938, caindo logo na estreia, mas vendendo muito caro uma derrota para o Brasil por 6 x 5 na prorrogação, com incríveis quatro gols de Ernest Wilimowski (apelidado de Ezi).

Pouco depois, a Polônia foi o país que mais sofreu com a Segunda Guerra Mundial e passou a se esconder atrás da cortina de ferro do bloco soviético. Devido ao regime comunista, o futebol não se profissionalizou e todos os jogadores eram considerados simples amadores. Mas isso não foi algo ruim, muito pelo contrário. Apenas amadores podiam participar dos Jogos Olímpicos e os comunistas podiam envias suas equipes completas, encobertas pelo amadorismo de fachada.

E é nesse momento que entra essa geração que colocou a Polônia de vez no mapa futebolístico e começou a fazer história. Nos Jogos Olímpicos de 1972, os poloneses conquistaram a medalha de ouro, derrotando a Hungria na final por 2 a 1, com dois gols de Deyna. Em toda a competição, foram 21 gols marcados em 7 jogos (média de três gols por partida).

Na Copa de 1974, na mesma Alemanha onde foi campeã olímpica, a Polônia chegou forte, mas desfalcada de seu maior craque, o centro-avante Włodzimierz Lubański, que foi o grande líder e destaque em 1972. Lubański atuou pela seleção entre 1963 e 1980, com 75 partidas e 48 gols (ainda é o maior artilheiro histórico). Ele se lesionou em 06/06/1973, contra a Inglaterra, nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Teve uma lesão no ligamento cruzado que o tirou dos gramados por dois anos, inclusive do Mundial.


Włodzimierz Lubański
(Imagem: glamrap.pl)

Com a ausência de Lubański, foi necessário que outro craque chamasse o protagonismo para si. O careca ponta direita Grzegorz Lato (aniversariante de hoje, 08/04) tinha uma velocidade absurda, correndo 100 metros em incríveis 10,8 segundos. Lato não brilhou em um só verão (“Lato” significa “verão” em polonês). Ele foi o artilheiro da Copa de 1974, marcando sete gols, inclusive no 1 x 0 contra o Brasil, que valeu o 3º lugar do torneio à Polônia.

Mesmo não sendo uma equipe desconhecida, não estava entre as consideradas favoritas, principalmente devido ao fato de ser comunista e frequentar pouco o noticiário estrangeiro. Isso deu ainda mais tranquilidade ao técnico Kazimierz Górski. Ele sabia tirar o melhor de cada um de seus comandados, principalmente de Lato. Era uma seleção jovem, com muita disciplina tática, jogadores velozes e time entrosado, com um futebol rápido e envolvente, uma defesa segura e o talento de Deyna no meio campo, além de Lato e Gadocha nas pontas.


Grzegorz Lato
(Imagem localizada no Google)

O show começou nas eliminatórias, quando eliminou a forte Inglaterra (campeã oito anos antes), com uma vitória por 2 x 0 em casa e um empate por 1 x 1 em pleno Wembley, com Jan Tomaszewski fechando o gol.

Já na Copa, mesmo em um grupo difícil, a Polônia venceu os três jogos (3 x 2 na Argentina, 7 x 0 no Haiti e 2 x 1 na Itália), se classificando em primeiro lugar. A partir daquele instante, quem ainda duvidava do poder de fogo dos poloneses passou a rever seus conceitos.

Na segunda fase, as oito seleções classificadas foram divididas em dois grupos de quatro, com a primeira colocada garantindo vaga na final e a segunda na decisão do 3º lugar. Nos dois primeiros jogos, duas vitórias (1 x 0 na Suécia e 2 x 1 na Iugoslávia). A terceira e decisiva partida foi contra a anfitriã, Alemanha Ocidental, que também tinha vencido os dois jogos, mas jogava pelo empate por possuir maior saldo de gols (4, contra 2 dos poloneses). Assim, o jogo foi na prática uma semifinal direta, valendo vaga na decisão.

Durante todo o dia caiu uma chuva torrencial na cidade de Frankfurt, o que certamente prejudicava o futebol rápido da Polônia e favorecia a força física, principal arma da Alemanha Ocidental. Mesmo com o técnico Kazimierz Górski pedindo o adiamento da partida, ela aconteceu. E com um gol de Gerd Müller aos 31 minutos do segundo tempo, os alemães venceram por 1 x 0. Fim do sonho polonês e festa para os donos da casa.

Restou à Polônia disputar a decisão do 3º lugar contra o Brasil, que perdeu para a Holanda de Johan Cruijff (e do futebol total) no outro grupo. Em Munique, a 15 minutos do fim, Marinho Chagas errou o passe, Lato foi lançado em suas costas e arrancou sozinho para o gol. Mesmo sem ter o gosto de jogar a final, os poloneses comemoraram bastante a sólida campanha, terminando a competição em terceiro, com 6 vitórias e apenas 1 derrota. A partir desse momento, a Polônia passou a ser uma equipe respeitada e temida no mundo da bola.

Com o mesmo time base, nas Olimpíadas de 1976, em Montreal, a Polônia novamente foi finalista, mas ficou com a medalha de prata ao ser derrotada por 3 x 1 pela Alemanha Oriental.

Na Copa de 1978, a estrutura era basicamente a mesma, com o acréscimo do craque Włodzimierz Lubański, que já estava com 31 anos e em não tão boa forma quanto estaria quatro anos antes. Mas nesse torneio surgiu o jovem Zbigniew Boniek, com apenas 22 anos. Novamente a equipe foi comendo pelas beiradas e chegou em 5º lugar. Essa Copa marcou a despedida da maioria dos jogadores da era dourada. Do time de 1974, somente Andrzej Szarmach, Grzegorz Lato e Władysław Żmuda disputariam a Copa de 1982.

Na Copa da Espanha, um dos grandes destaques era Boniek. Ele era um jogador completo, atuando na ala esquerda, no meio, como ponta ou no ataque. Um jogador genial. Com ele, Lato e o novato Włodzimierz Smolarek juntos, a Polônia era cada vez mais temida. Classificou-se em primeiro lugar com dois empates e uma vitória. Na segunda fase, eliminou as fortes União Soviética e Bélgica. Caiu novamente de pé na semifinal em derrota por 2 x 0 para a futura campeã Itália, em partida que Boniek não disputou por estar suspenso pelo segundo cartão amarelo. Na decisão do 3º lugar, nova vitória, por 3 x 2 sobre a França de Michel Platini.


Zbigniew Boniek
(Imagem: Łączy-nas-piłka)

Em 1986, a Polônia disputou sua quarta Copa consecutiva, mas já não tinha a força de antes. Boniek ainda era o craque do time. Żmuda era o único remanescente de 1974, sendo também quem mais vestiu a camisa da Polônia em Copas do Mundo, com 21 partidas, entre 1974, 1978, 1982 e 1986. Mesmo assim, os poloneses passaram da primeira fase como um dos melhores 3º colocados, ao empatarem com o Marrocos, vencerem Portugal e perderem para a Inglaterra. Mas o sonho foi interrompido nas oitavas de final, ao serem impiedosamente goleados pela Seleção Brasileira por 4 x 0. Esse massacre foi um atestado de que os melhores dias já haviam passado para o futebol polonês.

Houve a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1992, mas nenhum medalhista de prata se destacou posteriormente. Se classificou para a Copa de 2002, mas graças a um nigeriano naturalizado: Emmanuel Olisadebe. Com duas derrotas e uma vitória, pela primeira vez foram eliminados na fase de grupos, com sua pior campanha da história das Copas. Conseguiu também se qualificar para a Copa de 2006, mas também ficou na primeira fase, de novo com duas derrotas e uma vitória na última rodada.

Disputou pela primeira vez a Eurocopa, em 2008, ficando em último lugar no grupo. Foram duas derrotas e um empate, com um único gol marcado pelo brasileiro naturalizado Roger Guerreiro, lateral ex-Corinthians. Na Euro 2012, em casa, nova decepção, sendo logo eliminada com uma derrota e dois empates.

Já na Euro 2016, liderada por Robert Lewandowski, enfim a Polônia fez uma campanha digna. Na fase de grupos, venceu a Irlanda do Norte e a Ucrânia, segurando um empate sem gols com a Alemanha. Nas oitavas de final, empate com a Suíça em 1 a 1 e vitória por 5 a 4 nos pênaltis. Nas quartas de final, novo empate por 1 a 1, mas dessa vez foi derrotada na decisão das penalidades por 5 a 3 para Portugal, futuro campeão. No fim, o 7º lugar geral dentre as 24 seleções foi uma boa campanha, o que melhora as perspectivas para as próximas competições.


Robert Lewandowski
(Imagem: Kicker)