Três pontos sobre… … 13/06/1962 – Tchecoslováquia 3 x 1 Iugoslávia
Kadraba prepara o chute, em lance que antecedeu o primeiro gol da Tchecoslováquia (Imagem: Reprodução / FIFA)
● Muitas partidas tiveram poucos expectadores no Chile. Mas não foi pela falta de entusiasmo, mas de dinheiro, o que acabou afastando o público dos estádios. Não era possível adquirir o ingresso de um jogo só. A venda era feita em pacotes que eram muito caros. A solução encontrada pelo público local foi assistir de graça pelas TVs nas ruas.
Por isso, apenas 5.890 pessoas compareceram ao estádio Sousalito, em Viña del Mar, para assistir à semifinal entre Tchecoslováquia e Iugoslávia – curiosamente, dois países que não existem mais desde o início da década de 1990. Foi o menor público da Copa. No mesmo horário, a TV chilena transmitia ao vivo a outra semifinal, entre Brasil x Chile – que jogavam para 80 mil pessoas em Santiago. As duas semifinais foram jogadas simultaneamente.
A Iugoslávia chegava como favorita pelos bons resultados nas últimas competições oficiais. Havia conquistado a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, além de ter sido vice-campeã da primeira Copa das Nações Europeias (atual Eurocopa), também em 1960, quando perdeu a final para a União Soviética apenas no segundo tempo da prorrogação. Os maiores destaques eram o ponta de lança e capitão Milan Galić, do Partizan, o forte centroavante Dražan Jerković, do Dinamo Zagreb e o ponta esquerda Josip Skoblar, do OFK Belgrado (que viria a ser um dos maiores nomes da história do Olympique de Marseille).
A Iugoslávia passou em segundo lugar do Grupo 1. Na estreia, perdeu para a URSS por 2 x 0. Depois, venceu o Uruguai por 3 x 1 e goleou a Colômbia por 5 x 0. Nas quartas de final, encontrou a Alemanha Ocidental pela terceira vez consecutiva. Nas duas primeiras vezes a Alemanha venceu: 2 x 0 em 1954 e 1 x 0 em 1958 – ambas com o gol decisivo sendo anotado por Helmut Rahn. Mas dessa vez Rahn não estava e Petar Radaković marcou um belo gol a cinco minutos do fim, o único gol da partida que levou os iugoslavos para a segunda semifinal de sua história em Copas o Mundo, a primeira desde 1930.
A Tchecoslováquia também se classificou na segunda posição de sua chave, o forte Grupo 3, com uma vitória (1 x 0 sobre a poderosa Espanha), um empate (0 x 0 com o Brasil, com Pelé se lesionando durante o jogo) e uma derrota (3 x 1 para o México, na primeira vitória dos astecas em Copas). Nas quartas de final, vitória sobre o bom time da Hungria por 1 x 0.
Curiosamente, as quartas de final da Copa de 1962 foram tão equilibradas que, dos quatro vencedores dos grupos da primeira fase, só o Brasil passou para as semifinais. Além da derrota da Alemanha Ocidental para a Iugoslávia e da Hungria para a Tchecoslováquia, a União Soviética também perdeu para o Chile por 2 a 1.
A Tchecoslováquia jogava no esquema 4-2-4
A Iugoslávia foi escalada no sistema tático W-M
● O jogo começou acelerado e duro, com muitas faltas e jogadas com uma virilidade desnecessária. Percebendo que a partida descambava para a violência, o árbitro suíço Gottfried Dienst paralisou a partida aos dez minutos de jogo, chamou todos os 22 jogadores e deu uma advertência formal e generalizada: a próxima falta mais pesada resultaria em expulsão. Essa conversa fez bem e os dois times começaram a se preocupar mais com o futebol.
Mas o primeiro tempo foi fraco tecnicamente, não sendo criada nenhuma chance clara ou remota de gol. E o placar permaneceu zerado até o intervalo. O segundo tempo seria melhor.
Logo no terceiro minuto, Milan Galić perdeu a bola na meia direita. Andrej Kvašňák deu um passe vertical para Tomáš Pospíchal. Ele entrou em velocidade pelo meio e deixou com Adolf Scherer, que se livrou da marcação e, de perna esquerda, abriu na ponta direita. Na linha de fundo, Jan Lála deu um chapéu em um adversário e cortou para dentro. Josef Kadraba chegou chutando cruzado, o goleiro Milutin Šoškić espalmou para frente e o próprio Kadraba mergulhou para emendar de cabeça para o gol. Tchecoslováquia, 1 a 0.
Depois desse gol, os tchecos passaram a jogar de forma mais defensiva. E os iugoslavos pressionaram sem cessar nos vinte minutos seguintes. Seguro, o goleiro tcheco Viliam Schrojf estava tendo uma exibição irretocável até aquele momento.
Da linha central, Vladica Popović fez um lançamento longo para a área tcheca. Milan Galić escorou de cabeça e Josip Skoblar chutou de primeira. Viliam Schrojf espalmou para o lado e a defesa afastou o perigo.
Jerković sobre mais que o goleiro Schrojf para empatar o jogo (Imagem: Reprodução / FIFA)
Pouco depois, aos 24 minutos, novo lançamento longo, dessa vez de Petar Radaković. Schrojf saiu mal do gol. Jerković ganhou da marcação, se antecipou ao goleiro e só deu uma “casquinha” na bola para desviar do goleiro e empatar o jogo. De bicicleta, Ján Popluhár tentou evitar o gol, mas só conseguiu rasgar a rede – que foi remendada às pressas. Com cinco gols marcados, Dražan Jerković terminaria a Copa como artilheiro.
A correria em busca do empate custou caro, os iugoslavos estavam esgotados fisicamente e não tiveram forças para evitar dois contra-ataques fatais.
A dez minutos do fim, o capitão tcheco Ladislav Novák retomou a bola em seu campo de defesa e fez um lançamento longo. Masopust avançou, atraiu a marcação e tocou na medida para Scherer aparecer livre, dominar e bater por baixo do goleiro Šoškić. 2 a 1.
Logo depois do gol, um cachorro entrou no gramado pelo meio de campo e correu até a linha de fundo, saindo por lá mesmo. Outra cena bastante comum nos gramados do Chile durante o Mundial.
Tentando prender a bola no campo de ataque, os tchecos acabaram conseguindo o terceiro gol.
A seis minutos do apito final, Pospíchal tabelou com Scherer e invadiu a área pela direita. Vlatko Marković pulou, perdeu o tempo de bola e tocou com a mão dentro da área. Pênalti, que Scherer bateu com segurança, no canto esquerdo do goleiro, que nem se mexeu.
Scherer toca por baixo do goleiro Šoškić para fazer o segundo gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)
● Na decisão do 3º lugar, a Iugoslávia foi derrotada pelo anfitrião Chile com um gol no último minuto da partida, marcado por Eladio Rojas.
Na final da Copa, a Tchecoslováquia chegou a sair na frente com um gol de Josef Masopust, mas a Seleção Brasileira virou o jogo, com gols de Amarildo, Zito e Vavá, para conquistar o bicampeonato mundial. Assim, a Tchecoslováquia se tornava vice-campeã pela segunda vez em uma Copa do Mundo (1934 e 1962).
Scherer se prepara para bater o pênalti, que seria o terceiro gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)
● FICHA TÉCNICA:
TCHECOSLOVÁQUIA 3 x 1 IUGOSLÁVIA
Data: 13/06/1962
Horário: 14h30 locais
Estádio: Sousalito
Público: 5.890
Cidade: Viñadel Mar (Chile)
Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)
TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):
IUGOSLÁVIA (W-M):
1 ViliamSchrojf (G)
1 MilutinŠoškić (G)
2JanLála
2 VladimirDurković
5SvatoplukPluskal
5 VlatkoMarković
3JánPopluhár
3FahrudinJusufi
4LadislavNovák (C)
4PetarRadaković
19 Andrej Kvašňák
6VladicaPopović
6JosefMasopust
14 VasilijeŠijaković
17 TomášPospíchal
8DragoslavŠekularac
8Adolf Scherer
9DražanJerković
18 Josef Kadraba
10 Milan Galić (C)
11 Josef Jelínek
11 Josip Skoblar
Técnico: Rudolf Vytlačil
Técnicos: LjubomirLovrić / PrvoslavMihajlović
SUPLENTES:
22 Pavel Kouba (G)
12 SrboljubKrivokuća (G)
21 Jozef Bomba
19 MirkoStojanović (G)
12 JiříTichý
13 SlavkoSvinjarević
13 FrantišekSchmucker
15 ŽeljkoMatuš
15 Vladimír Kos
20 ŽarkoNikolić
16 Titus Buberník
17 Vojislav Melić
7JozefŠtibrányi
7AndrijaAnković
9PavolMolnár
21 NikolaStipić
20 Jaroslav Borovička
16 MuhamedMujić
10 JozefAdamec
18 VladicaKovačević
14 Václav Mašek
22 AleksandarIvoš
GOLS:
48′ Josef Kadraba (TCH)
69′ DražanJerković (IUG)
80′ Adolf Scherer (TCH)
84′ Adolf Scherer (TCH) (pen)
Melhores momentos da partida:
Membro da comissão organizadora conserta a rede após o lance do gol iugoslavo (Imagem: Reprodução / FIFA)
Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Inglaterra 3 x 1 Argentina
(Imagem: Daily Mail)
Depois da enxurrada de críticas após a primeira partida da Argentina na Copa de 1962, quando venceu a a Bulgária por 1 x 0, o técnico Juan Carlos Lorenzo resolveu mexer no time. O zagueiro Ramos Delgado, que viria a ser ídolo do Santos anos depois, continuou no banco. Mas Lorenzo fez quatro alterações na sua equipe em relação ao jogo anterior. Por lesão, trocou o lateral direito Alberto Sainz por Vladislao Cap. Por opção, substituiu o ponta direita Héctor Facundo por Rubén Héctor Sosa, o atacante Marcelo Pagani pelo velocista Juan Carlos Oleniak e, a mudança principal: sacou o meia Oscar Rossi para escalar o craque Rattín.
Meia do Boca Juniors, Antonio Rattín era um meia de ótima técnica, uma fonte de ótimos passes e excelente visão de jogo, mas não tinha a confiança de seu treinador. Contudo, pela falta de criatividade do meio campo da albiceleste no primeiro jogo, a pressão foi muito grande e Rattín foi escalado para a partida seguinte.
Por sua vez, a superestimada Inglaterra teve um choque de realidade ao perder na estreia para a Hungria por 2 x 1. Para não serem eliminados na primeira fase (como quatro anos antes), os britânicos precisavam vencer os argentinos de qualquer maneira. E trataram logo de partir para cima.
A Inglaterra jogou em uma espécie de “W-W”, ou seja, uma defesa com quatro homens e um ataque em W.
A Argentina atuava no sistema tático 4-2-4.
A seleção argentina apresentou uma novidade tática no Mundial: a defesa jogava em uma linha de quatro homens e se adiantava de forma sincronizada para deixar os atacantes adversários em posição de impedimento. A ideia era tão boa, que ainda hoje é utilizada por várias equipes do futebol mundial. Porém, os hermanos deveriam ter ensaiado melhor a arriscada jogada. Devido a essa “linha burra”, os rápidos atacantes ingleses surgiram livres por várias vezes diante do goleiro Antonio Roma.
Jogando na ponta esquerda, Bobby Charlton deu um baile no lateral Cap, deixando o pobre jogador perdido em todas as jogadas.
Sem forçar muito, os ingleses abriram o placar aos 17′. Charlton recebeu a bola sem marcação e cruzou para a área. Alan Peacock cabeceou e o zagueiro albiceleste Rubén Navarro se abraçou com a bola para evitar o gol. Pênalti indiscutível, convertido por Ron Flowers.
O segundo tento foi anotado por Bobby Charlton aos 42′. Ele recebeu a bola na área e finalizou sem chance de defesa para Roma.
O terceiro saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Após cruzamento na área da Argentina, Jimmy Greaves se antecipou a Raúl Páez e tocou no canto esquerdo do goleiro.
Confusa em campo, a Argentina só diminuiu o prejuízo a nove minutos do fim, quando o jogo já estava definido. José Sanfilippo recebeu a bola na intermediária, entre a marcação inglesa, avançou em velocidade e, ao entrar na área, tocou na saída do goleiro Ron Springett. Um belo gol, que pouco adiantou.
(Imagem: abrilacancha.com.ar)
O resultado reabilitou os ingleses e deixou os argentinos em situação difícil.
No dia seguinte, a Hungria goleou a Bulgária por 6 x 1. Com duas vitórias em dois jogos, os húngaros praticamente garantiram sua classificação para a fase seguinte na primeira colocação do Grupo 4. Argentinos e ingleses foram para a última rodada disputando a segunda vaga.
No dia 06/06, uma seleção argentina toda remendada parou nas mãos do lendário goleiro Gyula Grosics e empatou sem gols com uma equipe mista da Hungria. Assim, com três pontos em três jogos, os hermanos dependiam do resultado do jogo entre Inglaterra x Bulgária, que ocorreu no dia seguinte. Sem nenhum ponto conquistado, a Bulgária já estava eliminada. Mas o English Team tinha dois pontos e se classificaria com uma vitória simples ou até com um empate, já que levava vantagem sobre os argentinos no goal average (1,3 a 0,7).
E foi o que aconteceu: a Inglaterra só se defendeu e a Bulgária só queria evitar outro vexame. O empate sem gols classificou a Inglaterra em segundo lugar da chave. Nas quartas de final, os ingleses perderam para o Brasil por 3 x 1, em uma tarde esplendorosa de Garrincha.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Rubén Navarro e Johnny Haynes (Imagem: Keystone / Getty Images)
● FICHA TÉCNICA:
INGLATERRA 3 x 1 ARGENTINA
Data: 02/06/1962
Horário: 15h00 locais
Estádio: Braden Cooper (atual Estadio El Teniente-Codelco)
Três pontos sobre… … 31/05/1962 – Tchecoslováquia 1 x 0 Espanha
(Imagem: Getty Images)
● Cerca de 12.700 pessoas compareceram ao estádio Sousalito, em Viña del Mar. A expectativa era ver uma equipe praticamente desconhecida de um país comunista ser massacrada pelos vários astros do ataque espanhol.
A Tchecoslováquia chegava ao Mundial sem empolgar, apesar do 3º lugar no Campeonato Europeu de Seleções de 1960. A torcida estava desanimada, principalmente quando o sorteio colocou os tchecos num grupo com Espanha, Brasil e México. Mas os jogadores discordavam de sua torcida e estavam confiantes. Em 1959, o Dukla Praga (time base do selecionado tcheco, com cinco titulares) venceu o Santos por 4 x 3 em um torneio amistoso disputado no México.
O goleiro Viliam Schrojf dava segurança à meta, o capitão Ladislav Novák comandava a defesa, Josef Masopust era o maestro no meio e Adolf Scherer era o principal atacante.
O goleiro tcheco Schrojf vai ao chão cercado pelos companheiros de equipe Kvašňák, Novák e Popluhár e pelo espanhol Eulogio Martínez. (Imagem: Planet World Cup)
● A Espanha já havia decepcionado ao cair nas eliminatórias para a Copa de 1958, quando foi superada pela Escócia. Apesar dos maus resultados anteriores, a Fúria contava com um elenco de astros e a mídia europeia insistia em apontá-la como uma das favoritas ao título, justamente pelo talento individual de seus jogadores. Era esperado que o rígido técnico argentino Helenio Herrera fizesse o time jogar com mais sentido coletivo.
Real Madrid (pentacampeão da Copa dos Campeões Europeus) e Barcelona (ex-clube de Helenio Herrera) polarizavam a convocação da seleção espanhola, com sete jogadores cada. Da capital vinham o goleiro Araquistáin, o zagueiro uruguaio Santamaría, o defensor Pachín, o polivalente Del Sol, o genial húngaro Ferenc Puskás, o craque argentino Alfredo Di Stéfano e o “Mr. Títulos” Paco Gento.
Da Catalunha chegaram o arqueiro Sadurní, os defensores Rodri e Gràcia, os meio-campistas Joan Segarra, Martí Vergés e Jesús Garay, além do ponta paraguio Eulogio Martínez.
Completavam o elenco quatro ótimos jogadores do Atlético de Madrid (Rivilla, Collar, Joaquín Peiró e Adelardo), dois do Athletic Bilbao (Carmelo e Echeberría) e um do Zaragoza (o bom lateral esquerdo Severino Reija). Da Inter de Milão veio o cerebral meia Luis Suárez Miramontes, além do treinador Helenio Herrera (entre 1960 e 1962, o argentino treinou a Internazionale e a seleção espanhola ao mesmo tempo).
Assim, não tinha como não colocar a Espanha como uma das grandes favoritas. Mas seu principal jogador chegava ao Mundial fora de combate. Eleito o “Bola de Ouro” da revista France Football em 1957 e 1959, o gênio madridista Alfredo Di Stéfano só teria condições de jogo nas quartas de final, se a Fúria passasse de fase.
A Tchecoslováquia jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust
A Espanha jogava em um misto de W-M e 4-2-4
● A Espanha acabou sendo tão confusa em campo quanto a numeração de suas camisas. A Fúria tinha um domínio territorial estéril, sem concluir as jogadas. Os tchecos se defendiam bem e contra-atacavam com entusiasmo.
Josef Masopust liderava o meio-campo tcheco. Em uma jogada criada por ele, Adamec fez o pivô e Jelínek bateu rasteiro de fora da área. A bola foi fraca e o goleiro espanhol Carmelo fez a defesa.
Mas o primeiro tempo terminou sem gols. A maioria dos ataques morreram sem conclusão antes de chegar à área rival.
A melhor chance dos ibéricos foi com uma bola lançada para a área tcheca, que a defesa cortou e Jesús Garay pegou o rebote para chutar de longe, por cima do gol.
A Tchecoslováquia conseguia se segurar firme na defesa, mas não ousava no ataque.
O gol decisivo só poderia sair em uma falha. E foi o que aconteceu.
A dez minutos do apito final, Reija e Santamaría se atrapalharam com a bola e Adolf Scherer fez um lançamento nas costas da defesa. Sozinho, Jozef Štibrányi arrancou em velocidade pelo meio, entrou na área e deu um toquinho por cobertura, na saída do goleiro Carmelo. A bola acabou entrando no cantinho direito.
Em uma Copa que os fotógrafos invadiam o campo para registrar tudo de perto, a maioria deles estavam atrás do gol tcheco. Poucos registraram o gol de Štibrányi.
A Espanha apresentou um futebol melhor e mais vistoso. Mas só vence a partida quem marca gols. E quem fez isso – uma mísera vez – foi a Tchecoslováquia.
(Imagem: Pinterest)
● O Grupo C acabou sendo o mais equilibrado da primeira fase da Copa do Mundo de 1962. E a Fúria fracassou mais uma vez.
No jogo seguinte, a Espanha venceu o México por 1 x 0, com um gol no último minuto de Joaquín Peiró. Na terceira rodada, um duelo entre Espanha e Brasil classificaria o vencedor e eliminaria o derrotado. Bastante prejudicada pela arbitragem, a Espanha acabou perdendo por 2 x 1 e voltando para casa de forma precoce.
Na segunda partida, a Tchecoslováquia segurou o ataque brasileiro (com Pelé lesionado durante o jogo) e empatou sem gols. Já classificada, perdeu para o México por 3 x 1, na primeira vitória dos astecas em Copas do Mundo. Nas quartas de final, vitória sobre o bom time da Hungria por 1 x 0. Na semi, venceu a forte Iugoslávia por 3 x 1. Na decisão, dessa vez não contou com a sorte e foi derrotada pelo Brasil por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Masopust descontando para os tchecos.
Três pontos sobre… … 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia
(Imagem: @tabaspas no Twitter / The18.com)
● A maior surpresa do Mundial de 1962 foi a vitória do México sobre a Tchecoslováquia. Até então, os latino-americanos nunca haviam ganhado uma partida de Copa do Mundo, enquanto os europeus tinham um bom time e já tinham história por terem sido vice-campeões em 1934.
A Tchecoslováquia venceu o Grupo 8 das eliminatórias da UEFA, ao bater a Escócia na prorrogação do jogo desempate, em um grupo que tinha também a Irlanda.
O México precisou passar por mais fases no qualificatório para ficar com a única vaga da CONCACAF na fase final do torneio. Na primeira, passou pelos Estados Unidos. Na segunda, venceu um triangular final com apenas um ponto a mais que a Costa Rica e dois a mais que as Antilhas Holandesas. Enfrentou o Paraguai na repescagem intercontinental e empatou sem gols em Assunção após vencer por 1 x 0 na Cidade do México. Enfim, La Tri estava na Copa.
A Tchecoslováquia vinha de uma vitória sobre a Espanha por 1 x 0 e de um empate sem gols com o Brasil – partida na qual o Rei Pelé se lesionou e se despediu do Mundial.
Com a derrota da Espanha para o Brasil no dia anterior, a partida entre México e Tchecoslováquia havia perdido importância, já que os tchecos estavam classificados com três pontos e os mexicanos eliminados, sem somar pontos até então. Apesar disso, foi uma partida histórica. Até então, o México nunca havia vencido uma partida em Copas do Mundo desde sua primeira edição, em 1930. Nos treze jogos anteriores, o retrospecto era um empate (1 x 1 com o País de Gales, em 1958) e doze derrotas. E o jejum foi quebrado 32 anos depois, na 14ª partida.
Ambas equipes atuavam no esquema tático 4-2-4.
● Com sua camisa vermelho bordô, os mexicanos deram a saída. Os tchecoslovacos, de uniforme branco, roubaram a bola no meio de campo e trocaram passes até que Josef Masopust lançou o ponta esquerda Václav Mašek nas costas da defesa. Ele correu mais que Del Muro, invadiu a área e tocou cruzado, no canto esquerdo do goleiro. Eram jogados apenas 15 segundos de partida.
Este foi o gol mais rápido da história das Copas até 2002, quando o Hakan Şükür marcou para a Turquia aos 11 segundos, na partida que decidiu o 3º lugar contra a Coreia do Sul.
Parecia que seria mais um jogo daqueles para os mexicanos – igual a tantos outros –, em que a derrota era certa.
Os europeus continuaram no ataque. Adolf Scherer abriu com Jozef Štibrányi na ponta direita e ele chutou rasteiro para uma importante defesa de Carbajal.
Com muita vontade e garra, o México passou a neutralizar os ataques adversários, colocou a bola no chão e passou a jogar.
O empate veio aos 13 minutos. De cabeça erguida, Alfredo Hernández arrancou pelo meio e passou para Héctor Hernández próximo à meia-lua. Ele se livrou da marcação e tocou para Salvador Reyes, que deixou o zagueiro no chão tocou para Héctor Hernández. O camisa 9 tabelou com Alfredo del Águila na ponta direita e, ao receber de volta, chutou cruzado. Isidoro Díaz apareceu sozinho dentro da pequena área para escorar para o gol vazio.
Mesmo com mais toque de bola e tentando avançar, os europeus não conseguiam impor sua pressão, insistindo nas mesmas jogadas manjadas pelas pontas.
Aos 29′, a Tchecoslováquia errou a saída de bola. Del Águila roubou de Svatopluk Pluskal, tabelou com Alfredo Hernández, entrou na área e chutou de esquerda no canto esquerdo do goleiro Viliam Schrojf.
No segundo tempo, os astecas recuaram para segurar o resultado e os tchecos acordaram. E Carbajal foi se tornando o melhor homem em campo.
A melhor chance dos europeus foi em um chute do perigoso atacante Scherer, que o veterano goleiro defendeu em dois tempos.
Mesmo com dois jogadores mexicanos machucados (não havia substituições na época), os tchecos não conseguiram romper a defesa latina.
Mas o contragolpe mexicano estava fatal naquele dia. Na última volta do ponteiro, o lateral direito Jan Lála colocou a mão na bola dentro da área. Hector Hernández bateu no canto direito, deslocando Schroijff e fechando o placar.
(Imagem: Pinterest)
● O triunfo foi o maior presente de aniversário possível para o goleiro Antonio Carbajal, que completava 33 anos exatamente naquele dia. Carbajal é um dos mais longevos e importantes goleiros da história do futebol mexicano e mundial. Foi eleito pela IFFHS o 15º melhor de sua posição no século XX. Com apenas 19 anos, foi o maior destaque de sua seleção nos Jogos Olímpicos de 1948 e esteve no elenco que disputou a Copa do Mundo de 1966. Foi o primeiro jogador a disputar cinco Mundiais (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Assim, conseguiu a “proeza” de sofrer gols de jogadores de gerações tão diferentes, como Ademir de Menezes e Pelé. Apesar de ter a “honra” de ser um dos goleiros que mais levaram gols em Mundiais (25 em 11 jogos), certamente a seleção mexicana teria sofrido muito mais se ele não tivesse sido o dono da camisa 1 por tantos anos. Era dotado de bom posicionamento, reflexo apurado e boa saída do gol, além da coragem e liderança que sempre o caracterizou – não a toa foi capitão em três Copas.
Viva México! A Cidade do México viu uma festa que se faz aos campeões, com os festejos indo até a madrugada. Provavelmente foi a maior comemoração que já se viu para um time eliminado na primeira fase da Copa.
Com essa vitória, pela primeira vez os mexicanos não foram lanternas de seu grupo. Graças ao critério do goal average (divisão do número de gols pró pelo número de gols contra), ficaram à frente da poderosa Espanha de Ferenc Puskás e Paco Gento no Grupo III. México e Espanha terminaram com dois pontos ganhos e o mesmo saldo de gols (1 negativo). La Tri marcou 3 e sofreu 4 (goal average de 0,75) e a Fúria fez dois gols e levou 3 (goal average de 0,66).
Para os fãs das teorias conspiratórias, a derrota da Tchecoslováquia foi… digamos… conveniente. Como já estava classificada, pôde escolher o próximo adversário. Entre Hungria e Inglaterra, preferiram perder para os mexicanos para enfrentar os húngaros na próxima fase. Se essa teoria for verdade, a escolha não foi tão inteligente. A Hungria tinha um time melhor e estava jogando mais do que a Inglaterra naquele momento.
E mesmo sofrendo muito, a Tchecoslováquia conseguiu vencer a Hungria por 1 x 0 nas quartas de final. Nas semifinais, passou pelo bom time da Iugoslávia em vitória por 3 x 1. Na decisão, enfrentou o invencível Brasil e perdeu por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Josef Masopust descontando. Foi a segunda e última vez que o país chegou à final da Copa do Mundo.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA:
MÉXICO 3 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA
Data: 07/06/1962
Horário: 15h00 locais
Estádio: Sousalito
Público: 10.648
Cidade: Viñadel Mar (Chile)
Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)
MÉXICO (4-2-4):
TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):
1 Antonio Carbajal (G)(C)
1 ViliamSchrojf (G)
2Jesús del Muro
2Jan Lála
5Raúl Cárdenas
5SvatoplukPluskal
3 GuillermoSepúlveda
3JánPopluhár
15 Ignacio Jáuregui
4LadislavNovák (C)
8 Salvador Reyes
19 Andrej Kvašňák
6PedroNájera
6JosefMasopust
7 Alfredo del Águila
7JozefŠtibrányi
9 Héctor Hernández
8Adolf Scherer
18 Alfredo Hernández
10 JozefAdamec
11 Isidoro Díaz
14 Václav Mašek
Técnico: Ignacio Trelles
Técnico: Rudolf Vytlačil
SUPLENTES:
12 Jaime Gómez (G)
22 Pavel Kouba (G)
22 Antonio Mota (G)
21 Jozef Bomba
13 Arturo Chaires
12 JiříTichý
4José Villegas
13 FrantišekSchmucker
14 Pedro Romero
15 Vladimír Kos
16 Salvador Farfán
16 TitusBuberník
19 Antonio Jasso
17 TomášPospíchal
20 Mario Velarde
18 Josef Kadraba
10 Guillermo Ortiz
9PavolMolnár
17 Felipe Ruvalcaba
20 Jaroslav Borovička
21 Alberto Baeza
11 Josef Jelínek
GOLS:
15” Václav Mašek (TCH)
12′ Isidoro Díaz (MEX)
29′ Alfredo del Águila (MEX)
90′ Héctor Hernández (MEX) (pen)
Veja a partida completa no vídeo abaixo. (Seguem os minutos das jogadas completas dos gols:
– 04:10 Mašek 0-1;
– 16:05 Díaz 1-1;
– 32:25 Del Águila 2-1; e
– 1:38:35 Hernández 3-1.)
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Argentina 1 x 0 Bulgária
(Imagem: Pinterest)
● Os argentinos viajaram para o vizinho Chile com a missão de apagar a vergonha de quatro anos antes. Em 1958, na Suécia, os hermanos ficaram na lanterna do Grupo 1. Com uma equipe bem envelhecida, perderam da Alemanha Ocidental por 3 x 1 e venceram a Irlanda do Norte pelo mesmo placar. Precisando de uma vitória simples contra a Tchecoslováquia para se classificarem para as quartas de final, o que se viu foi uma goleada dos tchecos por 6 a 1 (a maior goleada sofrida na história pela seleção albiceleste).
Assim, por mais desastrosa que poderia ser a campanha argentina nos Andes, provavelmente seria melhor que a de 1958.
O elenco portenho foi bem renovado, mas mas sofreu com os mesmos problemas de sempre: não poder contar com as maiores estrelas nascidas em seu país.
Alfredo Di Stéfano já era um veterano, com 36 anos e só havia jogado com a camisa da nação onde nasceu em 1947, quando venceu a Copa América. Depois, jogou pela Colômbia entre 1951 e 1952 e pela Espanha entre 1957 e 1962. Estava no elenco da Fúria no Mundial do Chile, mas não jogou por não ter se recuperado totalmente de uma lesão. Um grande pecado: Don Alfredo acabou nunca entrando em campo em uma Copa do Mundo.
● Mesmo sem os maiores craques, a Argentina tinha uma boa equipe, tendo como destaques o goleiro Antonio Roma, o lateral esquerdo Silvio Marzolini (ambos do Boca Juniors), o atacante José Sanfilippo (San Lorenzo) e o ponta esquerda Raúl Belén (Racing).
Nas eliminatórias, a Argentina goleou o Equador por duas vezes: 6 x 3 em Guayaquil e 5 a 0 em Buenos Aires.
A Bulgária, por sua vez, bateu forte seleção da França por 1 a 0 no jogo desempate em Milão, após terminarem iguais em número de pontos no Grupo 2 (que também tinha a Finlândia).
A comunista e obscura Bulgária era uma surpresa. Todos seus jogadores atuavam em seu país e não havia nenhum destaque individual. Tecnicamente, seu melhor jogador era o ponta esquerda Ivan Kolev. No banco estava o jovem Georgi Asparuhov, que viria a ser um dos maiores artilheiros de seu país em todos os tempos.
A Argentina atuava no sistema tático 4-2-4.
A Bulgária jogava em uma espécie de “WW”: uma defesa moderna, com quatro defensores no formato do 4-2-4; e o ataque em W, derivando do antigo WM.
● O sonho dos argentinos ao chegar no Chile era disputar a final contra o Brasil. Mas logo de cara veriam que era um sonho alto demais.
A Bulgária era inexperiente e estreava em Mundiais.
Assim, os argentinos aproveitaram o nervosismo dos búlgaros e abriram o placar com o ponta direita Héctor Facundo, chutando cruzado, logo aos quatro minutos de jogo.
Mas depois disso, o time sofreu. A Bulgária passou a dar mostras do estilo que a faria disputar também as três Copas seguintes: a força física e um time fechado, com marcação forte e dura, tentando explorar os contra-ataques.
Com isso, os búlgaros anularam o sistema de jogo albiceleste, que consistia em toques curtos e habilidade individual. Sanfilippo, por exemplo, reclamou bastante da truculência dos adversários.
E nenhuma das equipes conseguiu mais passar pela defesa adversária e o jogo terminou em uma vitória sofrível da Argentina.
Mesmo com a vitória, o técnico Juan Carlos Lorenzo foi bastante criticado por ter deixado o meia Antonio Rattín na reserva. Ele era uma fonte de ótimos passes e excelente visão de jogo, mas não tinha a confiança de seu treinador.
(Imagem: Pinterest)
● Apesar de jogar perto de sua torcida, a Argentina não conseguiu nenhuma boa atuação e foi novamente eliminada na fase de grupos, assim como havia ocorrido em 1958. Na segunda partida, perdeu para a Inglaterra por 3 a 1. Na rodada final, precisava vencer a Hungria para se classificar. Os magiares já estavam classificados e escalaram uma equipe mista. E mesmo assim, os argentinos não conseguiram furar o bloqueio dos europeus e ficaram no empate em 0 a 0, parando em uma atuação magistral do goleiro Grosics – último remanescente do esquadrão húngaro de 1954.
No dia seguinte, a delegação argentina foi assistir à partida entre Inglaterra e Bulgária, na qual uma vitória búlgara classificaria os portenhos. Mas de nada adiantou a torcida. A Bulgária (que havia sido goleada pela Hungria por 6 x 1 na partida anterior) empatou sem gols com a Inglaterra, conquistando seu primeiro ponto na história das Copas – resultado que deu a classificação ao English Team e eliminou a Argentina.
O Chile estava fazendo uma campanha digna, de certa forma até surpreendente. Estreou vencendo a Suíça por 3 x 1 de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 x 0. A derrota por 2 x 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1 e estava entre os quatro melhores do mundo pela primeira (e até hoje única) vez em sua história.
Animados com a campanha, os torcedores comemoraram tanto a classificação, como se tivessem vencido a final. A capital Santiago foi tomada pela febre do futebol, que contagiou a todos – até mesmo os que nunca assistiram a uma partida na vida. Até nas casas noturnas e teatros, o tema era a bola. O Chile era a capital da bola.
A empolgação da torcida local passava do ponto, chegando a encher a capital Santiago de frases cômicas e ameaçadoras, como, por exemplo: “Com Pelé ou sem Pelé, haveremos de tomar café” ou “Com Didi ou sem Didi, haveremos de fazer xixi”.
Por isso, naquela manhã de quarta-feira, a comissão técnica brasileira decidiu providenciar ela mesma a refeição dos jogadores e comprou salame, mortadela, queijo e pão. Os atletas almoçaram apenas sanduíches. Os dirigentes brasileiros tinham receio de que algo pudesse ser colocado na comida do hotel.
(Imagem: FIFA / Getty Images)
● Se fosse seguida a tabela original da Copa, a semifinal entre Brasil e Chile deveria ser disputada em Viña del Mar, enquanto Tchecoslováquia e Iugoslávia se enfrentariam em Santiago. Mas o comitê organizador, inverteu as sedes com o objetivo de ter uma renda maior.
Assim, ao mesmo tempo em que tchecos e iugoslavos duelavam no estádio Sousalito para 5.890 pessoas, brasileiros e chilenos jogavam para 76.594 expectadores. O “detalhe” é que o estádio Nacional tinha capacidade para 70 mil. Ou seja, o público presente extrapolou em mais de seis mil a lotação máxima. Foi o maior público e a maior renda da Copa.
Muitos jogos tiveram poucos expectadores no Chile. Cabe ressaltar o motivo não foi a falta de entusiasmo que afastou o público dos estádios, mas sim a falta de dinheiro. E não era possível adquirir o ingresso para um jogo só. Eles eram vendidos em pacotes e eram muito caros. O jeito era assistir de graça pelas televisões nas ruas. Onde houvesse uma TV ligada, havia uma multidão de chilenos com os olhos grudados na tela.
Recém saindo de um terremoto arrasador, o país vivia problemas econômicos, financeiros e até estruturais, inclusive com racionamento de energia elétrica. O fornecimento era interrompido em todas as tardes. A única exceção naqueles dias foi em 13/06, justamente no dia da semifinal entre Brasil e Chile. A direção geral da companhia energética recebeu milhares de cartas e telefonemas de pessoas que não tinham ingressos para o jogo, mas que não queriam perder a transmissão pelo rádio ou pela TV. Curiosamente, um dos bairros que deveria sofrer o corte naquele dia era justamente o do estádio Nacional, palco da disputa. Em caráter de exceção, o pedido foi prontamente atendido.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.
O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.
● Os jogadores pareciam nervosos nos minutos iniciais, mas o Brasil dominou o jogo desde os primeiros momentos.
Didi cobrou falta com perigo, mas a bola foi por cima.
Após bola na área brasileira, Mauro escorou de cabeça e Djalma Santos cortou mal, para o meio da área. Leonel Sánchez chutou de esquerda e a bola bateu na trave direita de Gylmar. No rebote, Landa cabeceou por cima.
E os locais se decepcionaram logo aos nove minutos de bola rolando. Da esquerda, Zagallo ergueu a bola na área. Amarildo furou na tentativa de bicicleta e Vavá deixou para Garrincha. De fora da área, o ponta dominou e mandou uma bomba de perna esquerda no ângulo esquerdo do goleiro Misael Escuti, sem chance alguma de defesa.
Garrincha continuava a brilhar, aparecendo em todos os lados do ataque. Pouco depois, ele avançou pela direita e chutou cruzado para dentro da pequena área. A bola passou por todo mundo, até pelo goleiro chileno, mas a zaga recuperou e afastou o perigo. Claramente a marcação sobre Garrincha não estava funcionando. Para tentar parar o ponta direita, o técnico Fernando Riera havia escalado Manuel Rodríguez (mais forte e melhor na marcação individual) na lateral esquerda, ao invés de Sergio Navarro – que havia sido titular nas partidas anteriores.
Aos 21′, Vavá marcou o segundo, mas o árbitro Arturo Yamasaki anulou alegando impedimento. Foi a primeira de algumas decisões controversas do juiz peruano.
Mas nem fez muita diferença. Dez minutos depois, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha subiu mais que Rodríguez e, do bico da pequena área, cabeceou forte para dentro. Foi um lance muito semelhante ao gol de cabeça que o mesmo Mané havia marcado contra a Inglaterra três dias antes. Desde o princípio, o Chile já havia se mostrado vulnerável na bola aérea defensiva.
Mas a animada e esperançosa torcida local não se cansava de incentivar o seu time. E empurrado pela fanática torcida, o Chile não se dava por vencido. Jorge Toro recebeu na intermediária ofensiva e sofreu falta de Zito. O próprio Toro cobrou com perfeição e mandou no ângulo direito de Gylmar.
Os donos da casa foram para o segundo tempo na esperança de conseguir o empate, mas foram frustrados logo aos três minutos. Garrincha cobrou escanteio da direita. Vavá escapou da marcação, subiu nas costas de Raúl Sánchez e cabeceou para baixo. A bola quicou no chão e tomou o rumo do gol, sem chances para o goleiro (que foi com a mão mole na bola).
(Imagem: Barão Lhkz)
Mas a vantagem de dois gols não deixou o jogo mais fácil para o Brasil. O Chile passava a ter mais posse de bola.
No esforço de agradar ao time da casa, Yamasaki tomou outra de suas decisões discutíveis ao marcar um pênalti para o Chile aos 16′. Os brasileiros reclamaram muito, alegando que a bola teria batido na mão de Zózimo de forma involuntária. Nada adiantou. Leonel Sánchez cobrou rasteiro, no canto esquerdo e diminuiu para os chilenos. Gylmar nem pulou.
Mas Garrincha continuava a mandar no jogo. Em outra arrancada, Mané finalizou, mas o chute saiu fraco para uma defesa fácil do goleiro Escuti.
Somente aos 33′ o escrete canarinho respiraria aliviado. Em cobrança de falta da esquerda, Zagallo ergueu a bola na pequena área. Vavá, forte e sempre bem posicionado, apareceu entre Sánchez e Rodríguez e cabeceou para o gol. Curiosamente, Vavá se desgastou tanto nessa partida, que perdeu 3,5 kg.
E depois o jogo descambou para a violência. Aos 35′, Honorino Landa fez falta dura em Zito e acabou expulso.
Na tentativa de fazer o impossível e tentar parar Garrincha, Eladio Rojas utilizou todas suas “ferramentas”: pontapés, cotoveladas e dedos nos olhos. E o juiz foi complacente com tudo isso. E aos 39 minutos do segundo tempo, com o placar já definido, Garrincha levou outro pontapé de Rojas. Caiu e se levantou. De forma cômica, com todo o “estilo Garrincha de ser”, o Mané deu um peteleco de joelho na bunda de Rojas. O chileno se atirou ao chão, como se houvesse sido agredido brutalmente. Os chilenos acusaram o lance e cercaram o árbitro. Depois de consulta ao bandeirinha uruguaio Esteban Marino (que estava a um metro do lance), o juiz expulsou o brasileiro – que havia apanhado calado o jogo todo. Após sair de campo e enquanto caminhava junto à linha lateral, Garrincha foi atingido na cabeça por uma pedra atirada pela torcida (algumas fontes indicam que foi uma garrafa). Abriu-se um corte que precisou de pontos e o craque passou a noite com a cabeça enfaixada.
Mesmo com tudo isso, após o apito final, os craques brasileiros homenagearam a torcida chilena, para que ela ficasse ao seu favor na decisão. O Brasil estava em sua segunda final de Copa do Mundo consecutiva.
Com o resultado definido, a preocupação era outra. Garrincha seria punido e suspenso da final pela FIFA?
“Foi um pontapezinho de amizade” — afirmou o ingênuo Garrincha.
(Imagem: FIFA)
● Embora o regulamento da época não previsse a suspensão automática em caso de expulsão, a pressão dos chilenos era enorme para que isso acontecesse. A imprensa transformou a atitude pueril de Garrincha em uma agressão criminosa. A comissão disciplinar da FIFA se reuniu no dia seguinte para julgar o caso.
Foi feita uma força-tarefa na tentativa de absolver Garrincha. Representantes da CBD fizeram um amplo dossiê, baseando sua defesa no fato dele nunca ter sido expulso de campo. Tancredo Neves, primeiro-ministro brasileiro, passou um telegrama à comissão “em nome do povo brasileiro” pedindo perdão para o jogador. Até o presidente do Peru pediu ao árbitro para que não prejudicasse o craque brasileiro.
Mas o maior feito foi o “sumiço” do bandeirinha uruguaio Esteban Marino. O presidente da CBD, João Havelange, por intermédio do árbitro brasileiro João Etzel Filho, deu de presente a Marino um passeio de Santiago a Paris, saindo logo de manhã. Coincidentemente, antes do julgamento ocorrer.
E tudo ficou mais fácil quando a comissão disciplinar leu a súmula. O árbitro escreveu que “não viu a infração de Garrincha” e que seu auxiliar “tivera de viajar”, mas que lhe deixou um bilhete descrevendo a suposta agressão como um “revide típico de lance de jogo”. Assim, a agressão estava descaracterizada e Garrincha foi absolvido por 5 votos a 2, recebendo apenas uma advertência simbólica.
Cabe ressaltar que o mesmo Marino tinha sido bandeirinha na vitória do Brasil sobre a Espanha, quando o escrete canarinho foi beneficiado pela não marcação de um pênalti e por um gol sofrido incorretamente anulado, quando perdia por 1 a 0. “Coincidentemente”, um mês depois, Marino foi contratado como árbitro pela Federação Paulista de Futebol.
Mas possivelmente nem seria necessária toda essa proeza. Ninguém tinha interesse que um país comunista (Tchecoslováquia) vencesse a Copa. Além disso, a FIFA era grata ao Brasil por ter sediado a Copa de 1950, logo no pós-Guerra. Por isso e muito mais, a FIFA é historicamente “simpática” ao Brasil.
E se Garrincha foi absolvido, o chileno Landa foi suspenso para a decisão do bronze entre Chile e Iugoslávia. Mas, mesmo sem ele, o Chile venceu por 1 a 0. A festa pelo terceiro lugar tomou as ruas de Santiago e só parou no dia seguinte, poucas horas antes da final entre Brasil e Tchecoslováquia.
Três pontos sobre… … 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra
(Imagem: FIFA)
● Em 1958, o Brasil se livrou do “complexo de vira-latas” e se sagrou campeão do mundo. Com Pelé e Garrincha no auge, era o favorito destacado à conquista do bicampeonato.
Na primeira fase, o English Team teve uma campanha irregular. No dia 31/05, perdeu na estreia para a Hungria por 2 a 1. Dois dias depois, venceu a Argentina por 3 a 1. Na última rodada, um empate sem gols com a Bulgária permitiu que os ingleses se classificassem no critério de saldo de gols. Empatadas com três pontos, a Inglaterra teve saldo de +1, enquanto a Argentina teve saldo de -1.
(Imagem: CBF)
● No escrete canarinho, uma preocupação era unanimidade: a ausência de Pelé. Ele até treinou com o grupo, mas não tinha condições de jogo. Comissão técnica, crítica especializada e torcida estavam inseguras com as chances de título sem o Rei. Mas outra coisa afligia discretamente a maioria: a má fase técnica de Garrincha.
Nos jogos anteriores, Mané teve um desempenho muito aquém do esperado e foi acusado injustamente de excesso de individualismo. Contra os mexicanos, esteve bem marcado e se omitiu do jogo, recebendo poucas bolas. Contra os tchecos, com Pelé lesionado e Vavá mal na partida, não tinha para quem cruzar. Contra a Espanha, só acertou uma boa jogada, que deu origem ao segundo gol de Amarildo.
Didi também não esteve bem na fase inicial. Mas, contra os ingleses, ele jogaria mais solto. Com sua visão de jogo, fez seus lançamentos, orientou o posicionamento da linha de frente, fechou os espaços no meio para revezar com Zito nas subidas ao ataque. Era uma passagem de bastão. Se Didi foi o líder em campo em 1958, Garrincha seria o astro na reta final em 1962.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
O ultrapassado técnico inglês Walter Winterbottom se rendeu ao “moderno” sistema 4-2-4.
● Antes da partida, o nervosismo de alguns atletas era grande. Até o experiente Zagallo sofreu. Ele não conseguiu urinar no vestiário. Já em campo, depois de executados os hinos nacionais, lhe deu uma vontade incontrolável de fazer xixi. Como não podia sair correndo dali, chamou três jogadores e dois fotógrafos para fazer uma rodinha. Ele se agachou e se aliviou ali mesmo, no centro do gramado.
A Inglaterra, mesmo não jogando bem, sempre é um time a ser respeitado. A partida começou com muito equilíbrio de lado a lado, com os dois selecionados se estudando. Os brasileiros ainda se recordavam do jogo na Copa de 1958, quando o Brasil não conseguiu passar pela defesa inglesa e ficou em um empate sem gols.
Estava sendo um jogo muito bem disputado. Os dois goleiros, Gylmar e Ron Springett, haviam feito defesas importantes.
Mas o maior protagonista da partida, até então, tinha sido um cachorrinho preto que invadiu o campo no meio da partida. Ele driblou alguns jogadores e deu um “olé” em Garrincha. Só foi capturado pelo inglês Jimmy Greaves, que ficou de quatro e foi se aproximando do bichinho no meio campo até agarrá-lo. Pouco depois, outro cão entrou no gramado, mas este não foi pego. Depois de desfilar rapidamente pelo gramado, ele passou por baixo do alambrado e desapareceu por conta própria.
● Garrincha era um driblador nato, brilhante na técnica, mas irresponsável taticamente. Costumava jogar fixo pela ponta direita e não entrava em diagonal. Mas, contra os ingleses, fugiu de seu padrão: saiu de sua posição, se infiltrou pelo meio e até pela esquerda, desempenhando tarefas que caberiam aos outros. Foi o responsável pelos três gols brasileiros, que decidiram uma partida complicada. Garrincha sabia e podia fazer de tudo. Provou isso naquele dia 10/06.
E foi ele quem abriu o placar para o Brasil. Aos 31 minutos de jogo, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha veio livre de trás e subiu mais que Maurice Norman (mais alto que ele) para cabecear forte para o gol. Um raro gol de cabeça de Garrincha.
Sete minutos depois, Johnny Haynes cobrou falta da direita para dentro da área. Jimmy Greaves cabeceou para o gol. A bola encobriu Gylmar, bateu na trave e sobrou limpa para Gerry Hitchens completar para o gol vazio e empatar o jogo.
Aos 8′ do segundo tempo, o Brasil tinha uma falta para bater, em uma posição perfeita para a cobrança de Didi. Mas Garrincha foi mais rápido e chutou com violência. A bola passou pela barreira. O goleiro Ron Springett não conseguiu segurar e espalmou para frente. Vavá só aproveitou e escorou de cabeça para fazer seu primeiro gol na Copa.
No minuto 14′, a Inglaterra tentou a bola longa, mas Mauro aparou de cabeça e deixou com Didi. O “Príncipe Etíope” lançou rasteiro para Amarildo na esquerda. O “Possesso” só ajeitou a bola para Garrincha, que chutou de fora da área. A bola fez uma curva, como se fosse a famosa “folha seca” de Didi, e foi no ângulo. Springett se esticou todo, mas não conseguiu defender. Na comemoração, Mané brincou com Didi: “Viu? Não é só você que sabe chutar assim”.
Segundo algumas fontes, Garrincha poderia ter marcado o “hat-trick” se o goleiro Springett não tivesse defendido um pênalti cobrado por ele, aos 21 minutos da etapa final.
Com dribles desconcertantes e jogadas decisivas, o “Anjo das Pernas Tortas” infernizava seus marcadores e levava ao delírio os 18.715 expectadores do estádio Sousalito, em Viña del Mar.
(Imagem: Candangol)
● “Preparamos nossos rapazes durante quatro anos para enfrentar times de futebol. Não esperávamos um jogador como Garrincha.” — Walter Winterbottom, técnico inglês, eliminado por Garrincha.
Após a consagradora exibição do ponta direita brasileiro, um jornal chileno publicou em manchete: “Garrincha, de qual planeta você vem?”
Naquele mesmo dia 10/06, o Chile estava em festa. Sua seleção havia se classificado para as semifinais ao vencer a União Soviética por 2 a 1. A notícia ruim? O adversário seria o Brasil, do “extra-terrestre” Garrincha.
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Uruguai 2 x 1 Colômbia
(Imagem: Fútbol Red)
● Atualmente estamos acostumados aos sorteios dirigidos que a FIFA faz para determinar os grupos da primeira fase das Copas do Mundo. Uma das regras é evitar que caiam mais de uma equipe do mesmo continente no mesmo grupo. Não era assim em 1962. Tanto, que os sul-americanos Uruguai e Colômbia foram sorteados para se enfrentarem logo de cara, em partida válida pelo Grupo 1.
O Uruguai voltava à disputa de um Mundial, após ter ficado de fora em 1958, quando caiu para o Paraguai nas eliminatórias. A experiência pelos dois títulos anteriores (1930 e 1950) e o confronto direto davam um enorme favoritismo diante da Colômbia.
Os cafeteros estreavam em Copas do Mundo. Eliminaram o Peru na fase classificatória. Curiosamente, a cidade escolhida para sede do grupo foi Arica, no norte do Chile, justamente por ser próxima ao Peru. Os organizadores tinham certeza da classificação peruana, mas a Colômbia “estragou” o planejamento feito.
Com isso, apenas 7.908 pessoas assistiram o confronto no estádio Carlos Dittborn. Segundo a imprensa, o alto preço dos ingressos foi o principal responsável pelo baixo público – composto em sua maioria por chilenos e peruanos.
Os dois times atuavam no sistema tático 4-2-4.
● Desde aquela época, o futebol colombiano era baseado mais na técnica do que na força física e velocidade. E os abusados estreantes foram melhores no primeiro tempo, com mais posse de bola e boas trocas de passe. E mereceram abrir o placar.
Com 19 minutos jogados, o capitão Francisco “Cobo” Zuluaga abriu o placar cobrando pênalti. Bola à meia altura, no canto esquerdo, deslocando o goleiro Roberto Sosa.
A Colômbia ainda teve chances para ampliar o marcador. No fim do primeiro tempo, Marcos Coll acertou a trave. O Uruguai não conseguia criar chances.
Na etapa final, a Celeste (que naquele dia jogou de vermelho) se agigantou. Aos 11′, o craque Luis Cubilla dominou dentro da área e cruzou rasteiro para o centroavante José Sasía só completar para o fundo da rede do goleiro Efraín “Caimán” Sánchez.
Minutos depois, após uma cobrança de escanteio, Sasía atingiu as costas de Zuluaga e lhe quebrou três costelas. Sem condições de jogo, ele teve que sair do jogo. Com isso, a Colômbia perdia não apenas um atleta, mas o seu capitão, que dava as ordens dentro de campo.
Para piorar, Delio “Maravilla” Gamboa também se lesionou e precisou sair. Como não haviam substituições à época, o time colombiano ficou com nove homens em campo. Com dois a menos, era difícil que os cafeteros segurassem o ímpeto charrua. Era uma luta desigual. Foi muito duro para eles perderem seu capitão e sua maior estrela.
E a inevitável virada ocorreu aos 30. O jovem Pedro Rocha (futuro ídolo do São Paulo FC), de apenas 19 anos, recebeu dentro da área e rolou para Cubilla dominar e bater cruzado e fechar o placar.
(Imagem: FIFA)
● “Estivemos bem. Perdemos para a experiência do qualificado rival, que cresceu no segundo tempo.” — Delio “Maravilla” Gamboa, centroavante colombiano.
“Pagamos o preço pela primeira participação em um Mundial. Tivemos uma boa equipe, que perdeu por nervosismo e falta de experiência.” — Adolfo Pedernera, técnico argentino que dirigiu a Colômbia (e foi um excepcional jogador na década de 1940).
Embora decepcionados pela forma como perderam, os colombianos ainda protagonizaram um elétrico empate por 4 a 4 com os soviéticos na rodada seguinte. Só decepcionaram mesmo ao se despedirem do torneio sofrendo uma goleada por 5 a 0 para os iugoslavos. Ainda assim, na chegada à Bogotá, o público fez festa para receber “los pioneros”.
O Uruguai também decepcionou e caiu na primeira fase. Nos jogos seguintes, perdeu para a Iugoslávia por 3 x 1 e para a União Soviética por 2 x 1.
Muitos achavam que jogar contra os colombianos seria moleza para os soviéticos, já que estes eram considerados fortes favoritos inclusive para a conquista do título mundial.
A seleção colombiana debutava em Copas do Mundo. Tinha uma equipe técnica e ofensiva, mas era fraquíssima e desobediente taticamente.
A URSS vinha de excelentes resultados, como a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e a conquista do título da primeira Eurocopa, disputada em 1960. Era mesmo uma grande geração, com destaques como o goleiro Lev Yashin, os meias Igor Netto e Igor Chislenko e o atacante Valentin Ivanov. Essa mesma base ainda seria vice-campeã da Euro em 1964 e 4º lugar na Copa do Mundo de 1966.
Ambas seleções atuavam no sistema 4-2-4
● Apenas 8.040 pessoas assistiram à partida no estádio Carlos Dittborn, em Arica.
Os colombianos começam com uma incrível demonstração de técnica, com toques de efeito na bola, mas logo os soviéticos dominam o jogo.
Aos oito minutos, Óscar López tenta tirar a bola da área e joga nos pés de Ivanov, que chuta de primeira da entrada da área e fuzila o goleiro Sánchez.
Dois minutos depois, Ivanov lança para Chislenko, que entra na área, dribla um adversário e toca na saída do goleiro.
Tudo indicava uma enorme goleada, porque um minuto depois Ivanov chuta cruzado, do bico da área, e manda a bola no canto direiro de Sánchez. Com apenas 11 minutos de jogo, o placar já apontava 3 a 0 para a URSS.
Mas aos 21′, os colombianos furam a “Cortina de Ferro” soviética. Serrano toca para Germán Aceros, que gira e, com um toque, encobre o goleiro Yashin, que estava adiantado.
O gol parece dar vida nova aos colombianos e deixa os soviéticos sem saber o que esperar.
Na segunda etapa, os sul-americanos continuam pressionando e os europeus se postam bem na defesa.
Aos 11′, Ponedelnik recebe na área e chuta sem defesa para o goleiro. Agora, 4 a 1 para a URSS.
Aos 23 minutos, escanteio para a Colômbia. Marcos Coll cobra o corner. Chokheli se posiciona na primeira trave, mas deixa a bola passar e Yashin fica só olhando. Chokheli levou uma bronca de Yashin e os soviéticos não se entenderam mais em campo. Esse é o único gol olímpico da história das Copas.
Marcos Coll, autor do único gol olímpico na história das Copas (Imagem: Pinterest)
Aos 27′, Klinger toca para González na esquerda. Ele rola para o meio da área e Antonio Rada chega chutando de primeira.
O dramático empate veio aos 41 minutos do segundo tempo. Klinger recebe lançamento de Rada, ganha a dividida contra Yashin e toca para o gol vazio.
Uma incrível reação dos colombianos depois se estarem perdendo por 3 a 0.
(Imagem: Anotando Fútbol)
● Essa foi a partida com mais gols na Copa de 1962.
Por mais que a arbitragem não tivesse sido questionada em nenhum lance dessa partida, anos depois, o árbitro brasileiro João Etzel Filho confessou que deu uma “ajudinha” aos colombianos: “Fui eu que empatei aquele jogo. Sou descendente de húngaros e odeios os russos desde a invasão soviética na Hungria em 1956”.
A Colômbia já havia perdido para o Uruguai por 2 a 1. Depois, ainda perderia para a Iugoslávia por 5 a 0. Foi lanterna do Grupo 1. O único ponto conquistado foi esse empate com a URSS.
Já os soviéticos terminaram em primeiro do grupo. Além deste empate, venceram a Iugoslávia (2 x 0) e o Uruguai (2 x 1). Caíram para os anfitriões, chilenos, nas quartas de final, em derrota por 2 a 1.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Efraín “El Caimán” Sánchez e Igor Netto (Imagem localizada no Google)