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… 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha


(Imagem: Impromptuinc)

● Foi a primeira partida na história entre Alemanha e Tchecoslováquia.

Nas eliminatórias, a Tchecoslováquia eliminou a Polônia – contra quem tinha uma disputa territorial. Os tchecos venceram em Varsóvia por 2 x 1 e os poloneses abriram mão de jogar a partida de volta, dando a qualificação ao rival.

Na Copa, os tchecoslovacos venceram a Romênia nas oitavas de final (2 x 1) e a Suíça nas quartas (3 x 2).

Por sua vez, os alemães venceram a Bélgica por 5 a 2 nas oitavas e bateram a Suécia por 2 x 1 nas quartas.


(Imagem: Impromptuinc)

● Essa era uma partida considerada “inferior” pela imprensa europeia. “Itália vs. Áustria” era uma “final antecipada”. Nem Tchecoslováquia, nem Alemanha (que pouco apresentaram nos primeiros jogos) seriam páreo para nenhum dos outros dois adversários.

Enquanto o San Siro lotou na primeira semifinal, onde os favoritos se digladiavam por uma vaga na decisão, apenas 15 mil pessoas compareceram ao Stadio Nazionale PNF para assistir ao duelo entre tchecoslovacos e alemães – em partida que a imprensa chamou de “atalho para a grande decisão”.

O público não apreciava o jeito alemão de jogar. Tanto que, mesmo com pouca gente, essa foi a partida da Alemanha com maior público nessa Copa.

No quesito organização, a Tchecoslováquia estava à frente de seu tempo. Foi a primeira seleção a ter oficialmente um segundo uniforme, sem precisar de nenhuma improvisação. Até então, quando dois adversários tinham camisas de mesma cor, o costume era pedir camisas emprestadas de outras seleções ou de times locais que tivessem cores diferentes do adversário. Em uma emergência, também compravam camisas novas em cima da hora. Mas os tchecos inovaram. A camisa principal era toda vermelha e a reserva era toda branca – ambas contando com o brasão de armas do país. A camisa branca foi usada nos dois primeiros jogos, mas, contra os alemães, foi utilizado o fardamento vermelho.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.

● Foi um choque de estilos de jogo. Com um time formado por jogadores de apenas duas equipes – Sparta Praga e Slavia Praga – a Tchecoslováquia tinha melhor entrosamento e uma técnica mais apurada, enquanto os alemães apostaram na obediência tática e na força física.

Taticamente, a Alemanha era a seleção mais avançada da competição. Era a única que jogava no sistema W-M. Todas as outras ainda atuavam no sistema “clássico”, com dois zagueiros de área, três médios e cinco atacantes. No W-M, o centromédio era recuado para uma linha de três zagueiros e dois atacantes jogavam um pouco mais recuados para armar as jogadas como meias. Com isso, formava-se um quadrado no meio de campo, com os dois médios restantes e os dois meias – numa espécie de 3-2-2-3, que, visto de cima, pareciam as letras W e M. Essa inovação tática se tornaria padrão no Mundial seguinte, em 1938, mas a Alemanha já era vanguardeira em 1934.

Mas a ousadia tática dos alemães foi deveras prejudicada por dois sensíveis desfalques. O meia-atacante Karl Hohmann estava lesionado. Mas a ausência do médio Rudolf Gramlich foi mais inusitada.

Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia nas quartas de final, Gramlich recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava como curtidor, em Frankfurt, tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.

A ausência de ambos desmontou o sistema de jogo alemão, o W-M ficou sem dois de seus mais importantes artífices e o time ficou um pouco perdido em campo.

Assim, prevaleceu o jogo mais técnico e metódico dos tchecos. Eles se sobressaíram no meio de campo, conseguiram controlar o jogo com seu estilo mais refinado: com toques curtos, de pé em pé, evoluindo lentamente, mas com muita eficiência.


(Imagem: Impromptuinc)

A Tchecoslováquia justificou a superioridade e mereceu abrir o placar ainda na etapa inicial. Nejedlý fez o primeiro gol aos 19′.

No segundo tempo, a Alemanha reagiu e buscou o empate aos 17′, quando František Plánička não conseguiu segurar um chute fraco de Rudolf Noack.

Com o empate, muitos pensaram que os alemães tinham o aspecto psicológico a seu favor. Mas foi justamente o contrário. O gol germânico acordou a equipe eslava, que soube aproveitar seu potencial ofensivo para marcar mais duas vezes.

A Alemanha não conseguiu resistir ao forte adversário e o goleiro Willibald Kreß falhou em dois gols, soltando bolas fáceis nos pés do artilheiro tcheco. Oldřich Nejedlý estava impossível e completou seu “hat trick”, marcando aos 26′ e aos 35′.


O goleiro Kreß teve uma jornada infeliz (Imagem: Impromptuinc)

● Essa acabou por ser a primeira derrota dos alemães na história das Copas. Quatro dias depois, a Alemanha conquistou o 3º lugar ao bater a arquirrival e vizinha Áustria por 3 x 2.

Apesar de não constar em nenhuma das relações dos prováveis candidatos ao título, a Tchecoslováquia chegou na decisão da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história.

Na final, a Tchecoslováquia perdeu para a anfitriã Itália por 2 a 1 e ficou com o vice-campeonato. Um resultado muito digno e merecido para os tchecos.

FICHA TÉCNICA:

 

TCHECOSLOVÁQUIA 3 X 1 ALEMANHA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stadio Nazionale PNF

Público: 15.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Rinaldo Barlassina (Itália)

 

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

František Plánička (G)(C)

Willibald Kreß (G)

Jaroslav Burgr

Willy Busch

Josef Čtyřoký

Sigmund Haringer

Josef Košťálek

Paul Zielinski

Štefan Čambal

Fritz Szepan (C)

Rudolf Krčil

Jakob Bender

František Junek

Ernst Lehner

František Svoboda

Otto Siffling

Jiří Sobotka

Edmund Conen

Oldřich Nejedlý

Rudolf Noack

Antonín Puč

Stanislaus Kobierski

 

Técnico: Karel Petrů

Técnico: Otto Nerz

 

SUPLENTES:

 

 

Ehrenfried Patzel (G)

Hans Jakob (G)

Ladislav Ženíšek

Fritz Buchloh (G)

Ferdinand Daučík

Hans Schwartz

Jaroslav Bouček

Reinhold Münzenberg

Vlastimil Kopecký

Ernst Albrecht

Adolf Šimperský

Rudolf Gramlich

Erich Srbek

Josef Streb

František Šterc

Paul Janes

Antonín Vodička

Franz Dienert

Géza Kalocsay

Matthias Heidemann

Josef Silný

Karl Hohmann

 

GOLS:

21′ Oldřich Nejedlý (TCH)

62′ Rudolf Noack (ALE)

69′ Oldřich Nejedlý (TCH)

80′ Oldřich Nejedlý (TCH)

Imagens da partida:

… 27/05/1934 – Alemanha 5 x 2 Bélgica

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Alemanha 5 x 2 Bélgica


(Imagem: Impromptuinc)

● A Bélgica já havia vivido a experiência de disputar um Mundial. Foi uma das poucas seleções europeias que participaram da primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, mas o desempenho foi ruim. Perdeu as duas partidas que disputou, para Estados Unidos (3 x 0) e Paraguai (1 x 0). Ficou em último lugar do Grupo 4, sem marcar um gol sequer.

A Alemanha estreava em Copas. Quatro anos antes, declinou o convite devido à grave crise econômica que afetou toda a Europa, ocasionadas pelo crash de 1929 e resquícios da Primeira Guerra Mundial.

Nas eliminatórias, a Alemanha disputou apenas uma partida pelo Grupo 8, goleando Luxemburgo por 9 a 1. Como a França também venceu os luxemburgueses (6 a 1) e a chave reservava duas vagas, nem foi preciso que alemães e franceses se enfrentassem.

Por sua vez, pelo Grupo 7, os belgas empataram com a Irlanda por 4 a 4 e perderam para a Holanda por 4 a 2. Curiosamente, se qualificaram sem vencer nenhuma partida – já que os irlandeses sofreram um gol a mais na partida diante da Holanda (5 a 2).

Mas a seleção belga viajou à Itália bastante renovada. Apenas quatro jogadores eram remanescentes de 1930: o goleiro Arnold Badjou, o zagueiro August Hellemans e os atacantes Louis Versyp e Bernard Voorhoof, além do técnico Hector Goetinck. Desses, apenas Voorhoof era titular.


(Imagem: Impromptuinc)

● Diferentemente da primeira edição do Mundial, a Copa do Mundo de 1934 teve um formato diferente. Ao invés de fase de grupos, houve um torneio eliminatório direto, começando nas oitavas de final. Se uma partida terminasse empatada depois de 90 minutos, seriam jogados mais 30 minutos de prorrogação. Persistindo a igualdade, haveria outro jogo-desempate no dia seguinte.

Oito equipes eram cabeças de chave: Itália, Brasil, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Holanda, Alemanha e Argentina.

A política era uma das principais motivações dos alemães para fazerem um bom papel no torneio. Naqueles tempos, o então chanceler Adolf Hitler já estava começando sua teoria de superioridade da raça ariana – que chegaria ao ápice nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Antes das partidas, os atletas da Nationalelf eram obrigados a executar a saudação ao futuro Führer – assim como os italianos saudavam o Duce Benito Mussolini.

O treinador alemão Otto Nerz era um entusiasta do regime nazista e tinha o apoio de Hitler (que chegou a intervir na federação de seu país). Em 1926, Nerz havia sido o primeiro a assumir oficialmente o posto de técnico da seleção alemã. Com tempo para trabalhar, ele conseguiu transformar uma equipe medíocre em uma camisa respeitada no futebol europeu. Era sempre aberto a novas aprendizagens, estudando e absorvendo conhecimentos técnicos e táticos de lendas como James Hogan, Hugo Meisl e Vittorio Pozzo. Foi um dos primeiros em nível internacional a implementar o “W-M” – sistema tático criado pelo inglês Herbert Chapman, em 1925, no Arsenal. O esquema tinha como objetivo fortalecer a defesa e dar ênfase ao jogo de meio de campo, com uma espécie de “quadrado” – dois meias defensivos e dois meias ofensivos.

Após as eliminatórias, Nerz selecionou 38 jogadores, que foram submetidos a rígidos tratamentos físicos durante 60 dias, até serem definidos os 18 que seriam convocados para a Copa. E a Alemanha viajou para a Itália com a seleção mais jovem da Copa, com média de idade de 23 anos.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.

● No Stadio Comunale, em Florença, os termômetros registravam 30º C à sombra. Até por isso, apenas 8.000 torcedores se animaram a ir ao estádio.

Este duelo não era uma novidade. Cerca de um ano antes, a Alemanha goleou a Bélgica por 8 a 1 em um amistoso. E todos esperavam outra fácil vitória alemã. Todavia, tudo é diferente em uma partida de Copa do Mundo.

A Alemanha até saiu na frente aos 25 minutos do primeiro tempo, com Stanislaus Kobierski.

Mas a Bélgica empatou quatro minutos depois, com Bernard Voorhoof – aquele que foi o primeiro gol marcado pelos belgas na história das Copas.

Dois minutos antes do intervalo, Voorhoof anotou seu segundo tento na partida e virou o placar. Com 30 gols marcados em 61 partidas, Voorhoof é até hoje o terceiro maior artilheiro da história da seleção belga, atrás de Romelu Lukaku (59) e Eden Hazard (32), empatado com Paul Van Himst.

Os belgas viraram o jogo e terminaram o primeiro tempo com vantagem de 2 a 1 no placar, mas, no segundo tempo, a Alemanha controlou o jogo e demonstrou um desempenho capaz de superar qualquer crise.

Logo aos 4′, Otto Siffling empatou o jogo em 2 a 2.

A vitória germânica só foi construída nos últimos 25 minutos. O jovem atacante Edmund Conen, de apenas 19 anos, se empolgou e anotou um “hat trick”, marcando aos 21′, 25 e 42′.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● A vitória consistente e a classificação deram motivação aos alemães e esse sucesso foi muito aproveitado pelos nazistas nas propagandas políticas.

E juntando todos os resultados da primeira rodada, pela única vez em uma Copa do Mundo, todas as oito seleções classificadas para as quartas de final eram da Europa.

Na sequência, a Alemanha venceu a Suécia nas quartas de final por 2 a 1. Na semifinal, perdeu para a Tchecoslováquia por 3 a 1. Terminou a Copa em um honroso 3º lugar ao vencer a arquirrival Áustria por 3 a 2.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 5 X 2 BÉLGICA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h00 locais

Estádio: Stadio Comunale / Giovanni Berta (atual Artemio Franchi)

Público: 8.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ALEMANHA (WM):

BÉLGICA (2-3-5):

Willibald Kreß (G)

André Vandewyer (G)

Sigmund Haringer

Philibert Smellinckx

Hans Schwartz

Constant Joacim

Paul Janes

Frans Peeraer

Fritz Szepan (C)

Félix Welkenhuysen (C)

Paul Zielinski

Jean Claessens

Ernst Lehner

François Devries

Karl Hohmann

Bernard Voorhoof

Edmund Conen

Jean Capelle

Otto Siffling

Laurent Grimmonprez

Stanislaus Kobierski

Albert Heremans

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hector Goetinck

 

SUPLENTES:

 

 

Hans Jakob (G)

Arnold Badjou (G)

Fritz Buchloh (G)

Jules Pappaert

Willy Busch

August Hellemans

Reinhold Münzenberg

Désiré Bourgeois

Ernst Albrecht

Victor Putmans

Rudolf Gramlich

Charles Simons

Josef Streb

Joseph Van Ingelgem

Jakob Bender

Jean Brichaut

Franz Dienert

Robert Lamoot

Matthias Heidemann

René Ledent

Rudolf Noack

Louis Versyp

 

GOLS:

25′ Stanislaus Kobierski (ALE)

29′ Bernard Voorhoof (BEL)

43′ Bernard Voorhoof (BEL)

49′ Otto Siffling (ALE)

66′ Edmund Conen (ALE)

70′ Edmund Conen (ALE)

87′ Edmund Conen (ALE)

Algumas imagens da partida:

… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

(Imagem: AP Photo)

● A revolução no futebol austríaco teve nome e sobrenome: Hugo Meisl. Nascido na cidade de Malešov (hoje na República Tcheca), então pertencente ao antigo Império Austro-Húngaro, ele era um homem rico que dedicou toda sua vida ao futebol. Foi treinador da seleção austríaca de 1919 até sua morte, em 1937. Seu maior sonho era construir uma seleção forte.

Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes, ao invés de um estilo mais físico. Essa característica ficou ainda mais incisiva a partir de 1931, quando o treinador resolveu seguir uma sugestão de jornalistas presentes no Café Ring, em Viena.

A Áustria tinha dois excelentes jogadores que eram centroavantes em seus clubes. Matthias Sindelar jogava no Austria Vienna e Josef Smistik no Rapid Wien. Por serem da mesma posição, ninguém pensava em escalá-los juntos. Mas Meisl ouviu a imprensa e fez uma adaptação, deslocando seu capitão Smistik para jogar como centromédio, onde ele poderia usar toda sua inteligência e visão de jogo. Assim, trocou um centroavante estático (Smistik) por outro que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time Sindelar (conhecido como “Der Papierene” – “Homem de Papel -, pelo seu físico magro, leveza e mobilidade).

Na primeira partida dessa forma, a Áustria goleou a Escócia por 5 x 0, em amistoso disputado em 16/05/1931. O time ficou invicto durante quase dois anos e só voltou a perder em 1932 para a Inglaterra (4 x 3) em Wembley, onde o “English Team” nunca havia sido derrotado por um adversário não-britânico até então (só veio a perder em 1953, para a Hungria de Ferenc Puskás). Mas os austríacos venderam caro a derrota, abalando o inquestionável futebol-força praticado na Inglaterra.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como os já citados Sindelar (maior gênio do futebol do país), Smistik e Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história).

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

● Mas haviam outras grandes forças na Europa à época. A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro).

Mas a Squadra Azzurra não era só política, mas contava com um ótimo time, com craques como Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari e contava com um bom retrospecto em partidas recentes.

Chegava extenuada para a semifinal, após precisar de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço e era apoiado por uma linha de frente bem experiente.

● Novamente sob o olhar atento de Mussolini, mais de 35 mil pessoas assistiram a esse duelo da Europa Central, no estádio San Siro, em Milão.

Mas a Áustria foi bastante prejudicada por dois fatos: a forte chuva que deixou o campo pesado demais para se tocar a bola e a arbitragem do sueco Ivan Eklind, sempre conivente com o jogo desleal dos italianos.

O único gol do jogo saiu aos 19 minutos do primeiro tempo. Após um cruzamento rasteiro na área austríaca, Meazza chutou e o goleiro Peter Platzer não conseguiu segurar. O ponta direita Enrique Guaita (um dos “oriundi”) trombou com ele e foi chutando bola, goleiro, lama e tudo mais para o dentro do gol.

A Azzurra foi novamente beneficiada pelo homem do apito. Mas isso não pode ser desculpa. Na verdade, a Áustria não conseguiu reeditar seu bom futebol e a Itália soube usar suas armas para vencer.

E a Itália, liderada pelo ótimo centromédio argentino Luisito Monti (especialista nisso), passou a distribuir pancadas e chutões para todos os lados, garantindo a classificação para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Na primeira fase, a Áustria passou pela França por 3 x 2, na primeira prorrogação da história dos Mundiais. Na segunda partida, venceu a vizinha e rival Hungria por 2 x 1. Na semifinal, caiu para os futuros campeões, os italianos, por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, jogou sem ânimo e foi derrotada pela Alemanha por 3 x 2. O 4º lugar foi muito pouco perto do potencial do “Wunderteam”.

Nas oitavas de final, a Itália massacrou os Estados Unidos por 7 x 1. Nas quartas, teve maiores dificuldades e precisou da ajuda da arbitragem para vencer a forte Espanha por 1 x 0 apenas na partida desempate, após 1 x 1 na primeira partida. Na semifinal, bateu o “Wunderteam” da Áustria por 1 x 0 – novamente com auxílio do “apito amigo”. Na final, a Squadra Azzurra venceu a Tchecoslováquia por 2 x 1 em mais um jogo polêmico apitado pelo sueco Ivan Eklind, e garantiu a primeira de suas quatro conquistas da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: San Siro

Público: 35.000

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Peter Platzer (G)

Eraldo Monzeglio

Franz Cisar

Luigi Allemandi

Karl Sesta

Attilio Ferraris IV

Franz Wagner

Luis Monti

Josef Smistik (C)

Luigi Bertolini

Johann Urbanek

Enrique Guaita

Karl Zischek

Giuseppe Meazza

Josef Bican

Angelo Schiavio

Matthias Sindelar

Giovanni Ferrari

Anton Schall

Raimundo Orsi

Rudolf Viertl

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

GuidoMasetti (G)

Friederich Franzl (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Rudolf Raftl (G)

Umberto Caligaris

Anton Janda

Virginio Rosetta

Willibald Schmaus

Armando Castellazzi

Leopold Hofmann

Mario Pizziolo

Josef Hassmann

Mario Varglien I

Matthias Kaburek

Pietro Arcari

Josef Stroh

Felice Borel II

Hans Walzhofer

Anfilogino Guarisi

Johann Horvath

Attilio Demaría

Georg Braun

 

GOL: 19′ Enrique Guaita (ITA)

Veja algumas imagens da partida:

… 27/05/1934 – Suécia 3 x 2 Argentina

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Suécia 3 x 2 Argentina


(Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images)

Como já contamos anteriormente, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias.

A Suécia foi a vencedora do Grupo 1 das eliminatórias ao vencer a Estônia (6 x 2, em Estocolmo) e a Lituânia (2 x 0, em Kaunas).

A Argentina ficou com uma das duas vagas da América do Sul (juntamente com o Brasil), após a desistência do Chile.

Era a estreia dos suecos em Copas, enquanto a Argentina havia sido vice-campeã da primeira edição do Mundial, disputado quatro anos antes no Uruguai.


(Imagem: El Gráfico)

● A Argentina chegava bastante enfraquecida para a disputa do torneio, basicamente por dois motivos: a busca da Itália pelos oriundi mundo afora e o início do futebol profissional no país.

Liderada pelo ditador Benito Mussolini, a Itália queria mostrar a superioridade do fascismo e resolveu fortalecer sua seleção com os descendentes de italianos. O Brasil perdeu o ponta direita Filó (Anfilogino Guarisi). Mas os argentinos foram mais prejudicados, ao perderem talentos como o centromédio Luisito Monti, o atacante Attilio Demaría (ambos vice-campeões do mundo em 1930), o ponta direita Enrique Guaita e o ponta esquerda Raimundo Orsi.

Posteriormente, Guaita revelou que havia combinado com seus três companheiros no início da Copa que não entrariam em campo se tivessem de enfrentar a Argentina. Certamente enfrentariam a fúria do Duce, mas a fuga não foi necessária, graças à eliminação precoce dos portenhos.

Na época, o critério utilizado pela FIFA autorizava o jogador a representar outra seleção desde que estivesse morando em seu novo país há pelo menos três anos e não houvesse atuado pela antiga seleção nesse período. Mas Monti havia jogado pela Argentina em julho de 1931 e Guaita em 1933 – menos de três anos antes da Copa. A FIFA foi condescendente com a Itália, mas não fez o mesmo com o húngaro Iuliu Baratky, que só pôde jogar pela Romênia na Copa de 1938. Privilégios que eram conquistados graças à influência de Mussolini junto à entidade máxima do futebol.

Além desses importantes desfalques, os grandes clubes portenhos (River Plate, Boca Juniors e San Lorenzo) haviam aderido ao profissionalismo, formaram uma associação fora da tutela da FIFA e não cederam jogadores para a seleção. Com isso, nenhum atleta vice-campeão de 1930 pôde ir à Copa de 1934. Craques como Francisco Varallo, Carlos Peucelle e Manuel Ferreira não puderam exibir suas qualidades nos gramados do belpaese.

O mesmo aconteceu com o Brasil, já que a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) era uma entidade amadora e teve dificuldades de reunir uma seleção competitiva.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Mesmo com um time formado por amadores, os hermanos exigiram bastante da Suécia, que já era adepta ao profissionalismo sem problemas e estava composta pelos seus principais jogadores.

Mas quem abriu o placar foi o zagueiro argentino Ernesto Belis, aos 16 minutos de partida.

O centroavante sueco Sven Jonasson empatou aos 33′.

No início da segunda etapa, aos 4 minutos, Alberto Galateo deu mais esperanças aos albicelestes e fez 2 a 1.

O empate veio aos 22′, quando Jonasson fez seu segundo gol.

Os argentinos chegaram a ficar na frente do placar por duas vezes, mas a Suécia teve calma e ratificou sua superioridade técnica conquistando a vitória a dez minutos do fim, com o ponteiro esquerdo Knut Kroon.


(Imagem: Pinterest)

● Os suecos seriam eliminados logo na sequência pela Alemanha, nas quartas de final.

No dia 31/05/1934, os alemães venceram por 2 x 1, com dois gols de Karl Hohmann (Dunker diminuiu para os nórdicos).

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 3 x 2 ARGENTINA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h00 locais

Estádio: Littoriale

Público: 14.000

Cidade: Bologna (Itália)

Árbitro: Eugen Braun (Áustria)

 

SUÉCIA (2-3-5):

ARGENTINA (2-3-5):

Anders Rydberg (G)

Héctor Freschi (G)

Nils Axelsson

Juan Pedevilla

Sven Andersson

Ernesto Belis

Rune Carlsson

José Nehin

Nils Rosén (C)

Constantino Urbieta Sosa

Ernst Andersson

Arcadio López

Gösta Dunker

Francisco Rúa

Ragnar Gustavsson

Federico Wilde

Sven Jonasson

Alfredo Devincenzi (C)

Tore Keller

Alberto Galateo

Knut Kroon

Roberto Irañeta

 

Técnico: József Nagy

Técnico: Felipe Pascucci

 

SUPLENTES:

 

 

Eivar Widlund (G)

Ángel Grippa (G)

Otto Andersson

Ramón Astudillo

Victor Carlund

Enrique Chimento

Helge Liljebjörn

Ernesto Albarracín

Einar Snitt

Alfonso Lorenzo

Harry Lundahl

Luis Izzeta

Carl-Erik Holmberg

Francisco Pérez

Gunnar Jansson

 

Georg Johansson

 

Gunnar Olsson

 

Arvid Thörn

 

 

GOLS:

4′ Ernesto Belis (ARG)

9′ Sven Jonasson (SUE)

48′ Alberto Galateo (ARG)

67′ Sven Jonasson (SUE)

79′ Knut Kroon (SUE)

Veja alguns lances da partida:

… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria

Três pontos sobre…
… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria


(Imagem: Yahoo)

● Em sua primeira Copa do Mundo, a inexperiente e (até então) pouco expressiva seleção da Alemanha surpreendeu e conquistou o terceiro lugar. Eliminou a Bélgica com uma vitória por 5 a 2 nas oitavas. Nas quartas, bateu o bom time da Suécia por 2 a 1. Na semifinal, teve desfalques importantes e duas falhas do goleiro Willibald Kreß foram cruciais para que a Tchecoslováquia vencesse por 3 a 1.

O “Wunderteam” (“time maravilha”) austríaco estava desanimado. Após vencer a França nas oitavas (3 x 2) e a Hungria nas quartas (2 x 1), foi bastante prejudicada pela arbitragem na derrota para a anfitriã Itália por 1 a 0 na semifinal.

Na decisão do 3º lugar, os dois países vizinhos se enfrentariam. Com a mesma origem germânica, com culturas semelhantes que praticamente se misturavam, dividem o alemão como o mesmo idioma. E algo mais era comum aos dois, que gerou discórdia desde antes do apito inicial.

Antigamente, era comum que as seleções viajassem para disputar uma Copa do Mundo levando somente o uniforme principal, ignorando a possibilidade de que suas cores poderiam coincidir com as do adversário. E isso aconteceu nessa partida. As duas equipes entraram em campo com seu uniforme tradicional: camisa branca e calção preto. Após muita discussão, os capitães Fritz Szepan e Johann Horvath não chegaram a um acordo sobre quem deveria se trocar. Assim, o jogo começou com as duas seleções vestindo branco. Como não poderia deixar de ser, a confusão foi enorme e a Alemanha abriu o placar. Só após isso, os austríacos acabaram mudando de ideia e pediram permissão para trocar as vestimentas. Um dirigente do Napoli, a equipe local, ofereceu a camisa do clube, que foi prontamente aceita. Com isso, os austríacos ganharam a simpatia da torcida napolitana.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● O técnico alemão Otto Nerz teve problemas para escalar sua equipe. Entre deserções e lesões durante o torneio, ele tinha apenas dez atletas à disposição para a última partida. Como as regras da FIFA não eram tão rígidas, Nerz convocou de última hora o defensor Reinhold Münzenberg, que estava na Alemanha. Münzenberg havia atuado quatro vezes com a camisa da “Nationalelf”, inclusive nas eliminatórias. Ao receber o chamado, o jogador telefonou para o hotel onde se hospedava a delegação alemã e conversou diretamente com o até então auxiliar técnico Sepp Herberger. Ele explicou que não poderia viajar à Itália por estar de casamento marcado no mesmo dia do jogo. Herberger insistiu e convenceu Münzenberg: “Uma data de casamento pode ser adiada, mas um Mundial, não”. Curiosamente, Münzenberg estaria no elenco de sua seleção também em 1938.

Uma das ausências no escrete alemão foi o meia Rudolf Gramlich. Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia por 2 x 1, ele recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava, em Frankfurt, como curtidor tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


A Áustria de Meisl jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos. Sem Sindelar, lesionado, faltou movimentação ao ataque.

● Historicamente, a Áustria levava ampla vantagem. Mas isso não se traduziu em campo em Nápoles, no estádio Giorgio Ascarelli – que viria a ser destruído por bombardeios na Segunda Guerra Mundial.

Matthias Sindelar, conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”) pelo seu físico magro, leveza e mobilidade, estava lesionado e não pôde jogar. Em campo, a Áustria demonstrou que dependia muito do estilo de jogo de seu astro para que todo o time funcionasse.

A Alemanha teve sorte ao marcar um gol logo aos 25 segundos de jogo, com Ernst Lehner. Na época, foi o gol mais rápido da história das Copas.

Edmund Conen marcou seu quarto gol no Mundial e fez 2 a 0 aos 27′.

A Áustria diminuiu três minutos depois com o capitão Johann Horvath.

Mas pouco antes do intervalo, Lehner marcou de novo e aumentou a vantagem.

No segundo tempo, a Áustria cresceu em campo. O zagueiro Karl Sesta ainda descontou aos 9′.

Mas foi pouco. A derrota seria o canto de cisne do “Wunderteam”.


(Imagem: Impromptuinc)

● Quatro anos depois, a seleção austríaca ainda tinha jogadores remanescentes do “Wunderteam”. Se classificou com tranquilidade nas eliminatórias, mas não pôde disputar a Copa do Mundo de 1938.

Na véspera do torneio, a Europa estava às portas da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu oficialmente entre 1939 e 1945. E o conflito político interferiu diretamente no Mundial organizado pela França.

No dia 11/03/1938, a Alemanha nazista deu um choque no mundo ao anexar a Áustria ao seu território, em um processo chamado “Anschluss” (“anexação”, em alemão). Assim, a Áustria deixou de existir como nação independente. Com isso, o “Wunderteam” teria jogadores “prestando serviços” à seleção alemã – foi o que a federação germânica comunicou à FIFA, sem mais delongas. A invasão piorou as relações diplomáticas no continente. A FIFA tentou ignorar o caso ao máximo. Para tentar contornar a situação, a entidade convidou a Inglaterra a ocupar a vaga austríaca, mas o “English Team” – sabiamente – declinou o convite.

Sem time contra quem jogar, a Suécia (adversária da Áustria) se classificou automaticamente para as quartas de final. Até hoje esse é o único W.O. da história das Copas do Mundo.

Já comandada pelo lendário Sepp Herberger, a seleção alemã contou com nove atletas nascidos na Áustria: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco austríaco na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.

Mas, mesmo com esses “reforços”, a “Nationalelf” foi eliminada na primeira fase. Com cinco deles em campo (Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão), empatou com a Suíça em 1 a 1. Na partida desempate, novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria (Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh). Dessa vez, a Alemanha perdeu de virada por 4 a 2, depois de estar vencendo por 2 a 0.

Matthias Sindelar, melhor jogador de seu país em todos os tempos, se recusou a defender a seleção da Alemanha. Ele faleceu em 23/01/1939, pouco depois de sua esposa. A versão oficial é que ele se matou. A história romântica diz que ele “foi suicidado” pelo regime nazista por ser judeu.

A Áustria teve outros bons times, como o que conquistou o 3º lugar na Copa de 1954, mas nunca mais formou uma seleção de classe mundial como foi o “Wunderteam” da década de 1930 – destruído por Adolf Hitler e cia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 3 X 2 ÁUSTRIA

 

Data: 07/06/1934

Horário: 18h00 locais

Estádio: Giorgio Ascarelli

Público: 7.000

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Albino Carraro (Itália)

 

ALEMANHA (W-M):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Hans Jakob (G)

Peter Platzer (G)

Paul Janes

Franz Cisar

Willy Busch

Karl Sesta

Jakob Bender

Franz Wagner

Reinhold Münzenberg

Josef Smistik

Paul Zielinski

Johann Urbanek

Ernst Lehner

Karl Zischek

Fritz Szepan (C)

Josef Bican

Edmund Conen

Georg Braun

Otto Siffling

Johann Horvath (C)

Matthias Heidemann

Rudolf Viertl

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

Willibald Kreß (G)

Friederich Franzl (G)

Fritz Buchloh (G)

Rudolf Raftl (G)

Sigmund Haringer

Anton Janda

Hans Schwartz

Willibald Schmaus

Rudolf Gramlich

Leopold Hofmann

Ernst Albrecht

Josef Hassmann

Rudolf Noack

Matthias Kaburek

Josef Streb

Josef Stroh

Franz Dienert

Hans Walzhofer

Karl Hohmann

Anton Schall

Stanislaus Kobierski

Matthias Sindelar

 

GOLS:

25” Ernst Lehner (ALE)

27′ Edmund Conen (ALE)

28′ Johann Horvath (AUT)

42′ Ernst Lehner (ALE)

54′ Karl Sesta (AUT)


(Imagem: Impromptuinc)

… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Esses dois vizinhos do centro da Europa foram um só país de 1867 a 1918, o Império Austro-Húngaro. A separação só ocorreu após o término da Primeira Guerra Mundial. Mas, futebolisticamente, elas sempre tiveram suas respectivas seleções.

Culturalmente, sempre foram muito semelhantes. As evoluções táticas ocorreram quase simultaneamente, assim como o aprimoramento no jogo de troca de passes ao invés de um estilo mais físico.

Mas a rivalidade era enorme de lado a lado e foi posta à prova nas quartas de final da Copa do Mundo de 1934.


Ambas equipes jogavam em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Nenhum dos times economizou na virilidade e na violência.

Nos poucos momentos sem pancadaria, a Áustria fez dois gols, cada um no começo de cada etapa.

O capitão Johann Horvath abriu o placar aos oito minutos do primeiro e o ponta Karl Zischek aumentou aos seis do segundo tempo.

A Hungria tentou reagir e descontou. Aos 15′, György Sárosi cobrou pênalti e converteu.

Mas, em seguida, o ponta direita Imre Markos foi expulso após uma jogada violenta. Essa foi a única expulsão da Copa de 1934.

Com um a menos, a Hungria não teve forças para empatar a partida.


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Na fase anterior, de oitavas de final, a Hungria havia vencido o Egito por 4 a 2. O atacante “Doctor” György Sárosi não esteve presente nesse jogo. Ele trabalhava em um escritório de advocacia e precisou adiar sua chegada à Itália devido a um compromisso de trabalho. Sárosi seria um dos principais destaques na campanha da Hungria no vice-campeonato da Copa do Mundo de 1938.

A Áustria, que havia precisado da primeira prorrogação da história das Copas para despachar a França por 3 x 2 na partida anterior, agora estava nas semifinais. Enfrentaria a anfitriã Itália, que precisou de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Littoriale (atual Estádio Renato Dall’Ara)

Público: 23.000

Cidade: Bolonha (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Antal Szabó (G)

Franz Cisar

József Vágó

Karl Sesta

László Sternberg (C)

Franz Wagner

István Palotás

Josef Smistik

György Szűcs

Johann Urbanek

Antal Szalay

Karl Zischek

Imre Markos

Josef Bican

István Avar

Matthias Sindelar

György Sárosi

Johann Horvath (C)

Géza Toldi

Rudolf Viertl

Tibor Kemény

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: Ödön Nádas

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

József Háda (G)

Rudolf Raftl (G)

Sándor Bíró

Anton Janda

Gyula Futó

Willibald Schmaus

Gyula Polgár

Leopold Hofmann

Gyula Lázár

Josef Hassmann

János Dudás

Matthias Kaburek

Rezső Somlai

Josef Stroh

István Tamássy

Hans Walzhofer

Jenő Vincze

Anton Schall

Pál Teleki

Georg Braun

Gábor Péter Szabó

 

GOLS:

8′ Johann Horvath (AUT)

51′ Karl Zischek (AUT)

60′ György Sárosi (HUN) (pen)

 

EXPULSÃO: 63′ Imre Markos (HUN)

Imagens da partida:

… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França


(Imagem: Pinterest)

Como já contamos aqui, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias.

A Áustria terminou em segundo lugar do Grupo 4, embora tenha jogado apenas uma partida e goleado a Bulgária por 6 x 1.

Da mesma forma, a França também foi 2º, mas no Grupo 8. No único jogo, venceu Luxemburgo por 6 a 1.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Desde aquela época, a França já era tão “plural” e miscigenada como é atualmente. Dois atletas nasceram em cidades que à época pertenciam à Alemanha (Fritz Keller, em Estrasburgo, e Émile Veinante, em Metz). Outros dois nasceram na Argélia, então colônia francesa (Joseph Alcazar e Joseph Gonzales). Além disso, o atacante Roger Courtois nasceu na Suíça.

“Les Bleus” contavam também com veteranos da Copa de 1930. Dos 22 convocados, seis disputaram o primeiro Mundial, com destaque para o goleiro Alex Thépot e o zagueiro Étienne Mattler. Mas a esperança de gols estava depositada mesmo em Jean Nicolas, centroavante do FC Rouen, de apenas 20 anos.


Hugo Meisl, com a pasta na mão (Imagem: Imortais do Futebol)

● O técnico austríaco Hugo Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes. Essa característica ficou ainda mais incisiva quando Meisl trocou um centroavante estático por Matthias Sindelar, que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como o já citado Sindelar (maior gênio do futebol do país), Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história), e o centromédio e capitão Josef Smistik.

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço.


O técnico inglês Sid Kimpton também escalava a seleção da França no 2-3-5 ou sistema pirâmide.

● Era o jogo mais esperado da primeira fase e correspondeu às expectativas.

Jean Nicolas abriu o placar para a França aos 18 minutos de jogo.

Os franceses conseguiam fazer uma boa marcação sobre Sindelar. Mas, em uma única brecha que teve, o craque austríaco empatou a partida aos 44′.

O empate no tempo regulamentar levou o jogo para o tempo extra. Essa foi a primeira prorrogação da história das Copas. Eram necessários mais trinta minutos para ser definido o vencedor.

Mais inteira e melhor fisicamente, a Áustria se sobressaiu e marcou dois gols. Anton Schall anotou o seu aos 3′ do 1º e Josef Bican aos 4′ do 2º tempo.

A quatro minutos do fim, Georges Verriest cobrou pênalti e descontou. Mas era tarde para mudar o resultado.

A França estava eliminada logo nas oitavas de final. A Áustria estava classificada para as quartas de final, para enfrentar sua maior rival, a Hungria, que havia vencido o Egito por 4 x 2.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 3 x 2 FRANÇA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Benito Mussolini

Público: 16.000

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: Johannes van Moorsel (Holanda)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Alex Thépot (G)(C)

Franz Cisar

Jacques Mairesse

Karl Sesta

Étienne Mattler

Franz Wagner

Edmond Delfour

Josef Smistik (C)

Georges Verriest

Johann Urbanek

Noël Liétaer

Karl Zischek

Fritz Keller

Josef Bican

Joseph Alcazar

Matthias Sindelar

Jean Nicolas

Anton Schall

Roger Rio

Rudolf Viertl

Alfred Aston

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: George “Sid” Kimpton

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

Robert Défossé (G)

Rudolf Raftl (G)

René Llense (G)

Anton Janda

Joseph Gonzales

Willibald Schmaus

Jules Vandooren

Leopold Hofmann

Georges Beaucourt

Josef Hassmann

Célestin Delmer

Matthias Kaburek

Louis Gabrillargues

Josef Stroh

Roger Courtois

Hans Walzhofer

Lucien Laurent

Johann Horvath

Pierre Korb

Georg Braun

Émile Veinante

 

GOLS:

18′ Jean Nicolas (FRA)

44′ Matthias Sindelar (AUT)

93′ Anton Schall (AUT)

109′ Josef Bican (AUT)

116′ Georges Verriest (FRA) (pen)

Veja alguns lances da partida:

… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

“A Batalha de Florença”


(Imagem: Soccer Nostalgia)

● No jogo inaugural da segunda Copa do Mundo de futebol, a Itália havia massacrado os Estados Unidos com impiedosos 7 x 1. Enquanto isso, a Espanha venceu o Brasil com tranquilidade, por 3 x 1. Quis o sorteio feito quatro meses antes que as duas favoritas se encontrassem já nas quartas de final.

Era a partida mais aguardada do campeonato até então. Talvez uma final antecipada. Mas o cenário não era dos mais favoráveis aos espanhóis, já que os italianos jogavam diante de sua torcida e sob o olhar atento do ditador Benito Mussolini, “Il Duce”. Eram mais de 35 mil expectadores ansiosos para ver a vitória do regime fascista sobre qualquer que fosse o adversário. Mas o que assistiram foi mais uma guerra do que um jogo de futebol.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Segundo Paulo Vinícius Coelho, autor do livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010), “em vez de súmula, o clássico Itália e Espanha poderia ter um boletim de ocorrência, com os nomes das vítimas”.

Em um duelo muito equilibrado, os espanhóis foram superiores técnica e psicologicamente, não dando ouvidos às arquibancadas do estádio Giovanni Berta, que entoavam o slogan fascista “Vitória ou morte”.

A Fúria abriu o placar aos 30 minutos de jogo, com o atacante Luis Regueiro.

Amedrontado, o árbitro belga Louis Baert não teve coragem de expulsar nenhum italiano – apesar muitos merecerem. Especialmente o ótimo centromédio Luisito Monti, que não se furtou a utilizar os mais baixos artifícios e abriu sua “caixa de ferramentas”.

Além disso, o gol italiano foi irregular: o atacante Angelo Schiavio tirou o goleiro espanhol Zamora do lance com uma cotovelada, enquanto a bola ficava livre para Giovanni Ferrari marcar o tento que igualou o placar, a um minuto do intervalo. O juiz fez vista grossa. Esse foi o primeiro e indiscutível grande roubo na história das Copas. Mas a Itália de Mussolini tinha que vencer a qualquer preço.

Na etapa final, a Itália distribuiu pancadas e a Espanha se segurou na defesa, graças ao machucado Zamora e à dupla de zaga Ciriaco e Quincoces (todos do Real Madrid).


Seleção italiana na primeira partida contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Combi, Monti, Guaita, Schiavio, Allemandi, Ferrari e Castellazzi;
Agachados: Pizziolo, Monzeglio, Meazza e Orsi.


Seleção espanhola na primeira partida contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Iraragorri, Ramón “Moncho” Encinas (assistente técnico), Quincoces, Zamora, Cilaurren, Fede, Lafuente e Regueiro;
Agachados: Ciriaco, Gorostiza e Muguerza.

● Já veterano, o lendário capitão Ricardo “El Divino” Zamora era considerado o melhor goleiro do mundo na época. Ainda hoje ele dá nome à premiação do goleiro menos vazado em cada edição do Campeonato Espanhol. A história conta que ele defendeu cinco bolas praticamente dentro do gol, impedindo a vitória italiana contra os bravos espanhóis.

O placar de 1 x 1 permaneceu no tempo normal. Na prorrogação, o máximo que as equipes conseguiram foi uma bola na trave para cada lado, obrigando a disputa de um jogo extra.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 X 1 ESPANHA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Giovanni Berta

Público: 35.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: Louis Baert (Bélgica)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESPANHA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Ricardo Zamora (G)(C)

Eraldo Monzeglio

Ciriaco Errasti

Luigi Allemandi

Jacinto Quincoces

Mario Pizziolo

Leonardo Cilaurren

Luis Monti

José Muguerza

Armando Castellazzi

Fede

Enrique Guaita

Ramón de Lafuente

Giuseppe Meazza

José “Chato” Iraragorri

Angelo Schiavio

Isidro Lángara

Giovanni Ferrari

Luis Regueiro

Raimundo Orsi

Guillermo Gorostiza

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Amadeo García Salazar

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Juan José Nogués (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Ramón Zabalo

Umberto Caligaris

Hilario

Virginio Rosetta

Pedro Solé

Luigi Bertolini

Luis Martín

Attilio Ferraris IV

Martín Marculeta

Mario Varglien I

Chacho

Pietro Arcari

Campanal

Felice Borel II

Crisanto Bosch

Anfilogino Guarisi

Martí Ventolrà

Attilio Demaría

Simón Lecue

 

GOLS:

30′ Luis Regueiro (ESP)

44′ Giovanni Ferrari (ITA)


… 01/06/1934 – Itália 1 x 0 Espanha (Partida de Desempate)


(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)

● A partida de desempate, marcada para apenas 24 horas depois, no mesmo estádio, começou com o resultado decidido. Era mera formalidade.

Desgastados pela partida anterior, os dois times estavam bem modificados. A Itália vinha com quatro alterações. A Espanha teve sete atletas “feridos”, já que em guerras não há lesionados (como disse Edgardo Martolio no livro “Glória Roubada”): Ciriaco, Fede, Lafuente, Iraragorri, Gorostiza, Lángara e Zamora, o mais machucado deles, com duas costelas fraturadas após uma didivida na qual o juiz belga nem falta marcou.

Agora havia um outro árbitro em campo, mas Mussolini continuava mandando no apito. Se não fosse capaz de vencer na bola, a “Azzurra” teria toda a ajuda “externa” possível.


A Itália teve quatro alterações em relação ao jogo anterior, mas permaneciam com as peças chave para seu estilo de jogo, especialmente o meia-atacante Giuseppe Meazza e os pontas Enrique Guaita e “Mumo” Orsi.


A seleção espanhola foi obrigada a fazer sete alterações em relação aos atletas que atuaram um dia antes. O sistema tático permaneceu o mesmo, o 2-3-5.

● Quem definiu o resultado foi o juiz suíço René Mercet. Ele deixou a pancadaria rolar solta. Ainda na primeira etapa, o ponta espanhol Crisanto Bosch foi violentamente atingido por Luisito Monti. Como as substituições não eram permitidas na época, ele permaneceu em campo apenas para fazer número.

O substituto de Zamora, Juan José Nogués, que jogava no Barcelona, era um goleiro valoroso, mas não imbatível como o titular. Ele não comprometeu, já que o gol de Giuseppe Meazza, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, foi indefensável. Enquanto Meazza marcava o gol, o argentino Demaría segurava Nogués, impedindo que ele pudesse ir na bola. Era uma artimanha muito utilizada pelos italianos, que não era coibida pela arbitragem.

O árbitro suíço, além de validar o gol irregular do italiano, ainda anulou dois tentos legítimos dos espanhóis no segundo tempo: um de Campanal, após marcar impedimento de Regueiro, que não estava no lance, e outro do próprio Regueiro, depois de ter voltado atrás em uma vantagem e apitado falta para a Espanha depois que a bola já estava nas redes. Dessa vez o roubo foi tão evidente que a FIFA e a federação suíça expulsaram o juiz de seus quadros. Mas nada modificaria a vitória italiana.

Apesar da derrota, os espanhóis foram recebidos como heróis em seu país. A população considerou que seus atletas foram bravos e valentes, enquanto os italianos venceram graças a um jogo sujo. Houve, inclusive, quem contribuísse para que os jogadores recebessem uma medalha de ouro e uma premiação em dinheiro como reconhecimento pelo bela competição que fizeram.


Seleção italiana na partida desempate contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Vittorio Pozzo (técnico), Combi, Ferraris IV, Allemandi, Monti, Guaita e Carlo Carcano (assistente técnico);
Agachados: Bertolini, Orsi, Monzeglio, Meazza, Borel II e Demaría.


Seleção espanhola na partida desempate contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Campanal, Vantoira, Nogués, Bosch, Zabalo, Muguerza, Chacho, Lecue, Cilaurren;
Agachados: Regueiro e Quincoces.

● Em 1934, a Itália se tornou a única seleção que disputou três jogos de Copa do Mundo em apenas quatro dias. Em 31/05/1934, empatou com a Espanha por 1 x 1. No dia seguinte, venceu o jogo desempate por 1 x 0. No dia 03/06, venceu a Áustria por 1 x 0 na semifinal – quando a arbitragem voltou a favorecer o time local.

Na decisão, outra vitória bastante controversa contra a Tchecoslováquia, de virada, por 2 x 1.

Benito Mussolini levou sua Itália fascista ao título da segunda Copa do Mundo. Festa para os “tifosi” (torcedores) e para “Il Duce”.

Todos temiam ao “Duce”. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:

“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”


(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 X 0 ESPANHA

 

Data: 01/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Giovanni Berta

Público: 43.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESPANHA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Juan José Nogués (G)

Eraldo Monzeglio

Ramón Zabalo

Luigi Allemandi

Jacinto Quincoces (C)

Attilio Ferraris IV

Leonardo Cilaurren

Luis Monti

José Muguerza

Luigi Bertolini

Simón Lecue

Enrique Guaita

Martí Ventolrà

Giuseppe Meazza

Luis Regueiro

Felice Borel II

Campanal

Attilio Demaría

Chacho

Raimundo Orsi

Crisanto Bosch

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Amadeo García Salazar

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Ricardo Zamora (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Ciriaco Errasti

Umberto Caligaris

Hilario

Virginio Rosetta

Pedro Solé

Armando Castellazzi

Luis Martín

Mario Pizziolo

Martín Marculeta

Mario Varglien I

Fede

Pietro Arcari

Isidro Lángara

Angelo Schiavio

Guillermo Gorostiza

Anfilogino Guarisi

Ramón de Lafuente

Giovanni Ferrari

José “Chato” Iraragorri

 

GOL: 11′ Giuseppe Meazza (ITA)

Resumo rápido da partida:

Algumas imagens da partida:

… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos


Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)

Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.

A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.

Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.


Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)

● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.

Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.

Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.

Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.

Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.

Final: 7 a 1 para a Itália.

Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.

“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino


Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)

Os Estados Unidos haviam vencido o rival México em uma “pré-Copa” no dia 24/05, já em Roma, por 4 a 2. Foram eliminados logo na primeira partida do Mundial, com essa goleada sofrida para os italianos.

Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.

A Itália se classificou para as quartas de final e enfrentaria a fortíssima Espanha, que tinha batido o Brasil por 3 x 1.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 7 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 25.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Giampiero Combi (G)

Julius Hjulian (G)

Virginio Rosetta (C)

Ed Czerkiewicz

Luigi Allemandi

George Moorhouse (C)

Mario Pizziolo

Peter Pietras

Luis Monti

Billy Gonsalves

Luigi Bertolini

Tom Florie

Anfilogino Guarisi

Francis Ryan

Giuseppe Meazza

Werner Nilsen

Angelo Schiavio

Aldo Donelli

Giovanni Ferrari

Walter Dick

Raimundo Orsi

Bill McLean

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: David Gould

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Al Harker

Giuseppe Cavanna (G)

Joe Martinelli

Umberto Caligaris

Herman Rapp

Eraldo Monzeglio

Bill Lehman

Armando Castellazzi

Tom Amrhein

Attilio Ferraris IV

Jimmy Gallagher

Mario Varglien I

Bill Fiedler

Pietro Arcari

Tom Lynch

Felice Borel II

 

Enrique Guaita

 

Attilio Demaría

 

 

GOLS:

18′ Angelo Schiavio (ITA)

20′ Raimundo Orsi (ITA)

29′ Angelo Schiavio (ITA)

57′ Aldo Donelli (EUA)

63′ Giovanni Ferrari (ITA)

64′ Angelo Schiavio (ITA)

69′ Raimundo Orsi (ITA)

90′ Giuseppe Meazza (ITA)

Algumas imagens da partida:

… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia


Jogadores italianos fazem saudação fascista antes da final (Imagem: FIFA)

● A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, o Duce queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi“. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota se sagraram campeões do mundo em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornou o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Diz a lenda que antes da final contra a Tchecoslováquia, o alto escalão da FIFA e o árbitro sueco Ivan Eklind (que já havia apitado a semifinal entre italianos e austríacos) foram convidados a jantar com Mussolini. O encontro nunca foi oficialmente confirmado, mas antes da partida, Eklind e os dois auxiliares (Louis Baert, belga, e Mihaly Ivancsis, húngaro) fizeram a saudação fascista ao Duce, que assistia à partida na tribuna de honra. Na hora, poucos estranharam. Mas em campo, a arbitragem usou a sua arma para aniquilar qualquer pretensão dos tchecos: o apito.

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O retrospecto anterior já credenciava a Itália como favorita ao título. As duas seleções se enfrentaram em um amistoso em 03/05/1929, com vitória dos italianos por 4 a 2. Desde essa data até o início do mundial, a Itália entrou em campo 32 vezes, com 20 vitórias, 6 empates e 6 derrotas, 79 gols marcados e 38 sofridos. Já os tchecos, em 41 jogos, venceram 17 vezes, com 11 empates e 13 revezes, marcando 83 gols e sofrendo 72.

Para chegar à final, os tchecos tinham vencido a Romênia (2 a 1), a Suíça (3 a 2) e a Alemanha (3 a 1).

Já a Itália, passou pelos Estados Unidos (7 a 1) e pela fortíssima Espanha (em duas partidas, 1 a 1 na primeira e 1 a 0 no jogo desempate), além de bater a boa seleção da Áustria (apelidada de Wunderteam, “time maravilha”) na semifinal por 1 a 0.

A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Tchecoslováquia jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Um fato raro: os capitães de ambas as equipes eram os goleiros: Giampiero Combi (Itália) e František Plánička (Tchecoslováquia). E foram eles os destaques do primeiro tempo, com várias defesas difíceis, impedindo os gols adversários. Plánička teve que se esforçar mais. Mas a melhor oportunidade foi dos tchecos, com uma bola na trave. A Itália tinha maior velocidade, enquanto a Tchecoslováquia tinha um melhor toque de bola.

A partida continuou equilibrada até os 31 minutos da etapa final, quando Jiří Sobotka avançou e tocou para Antonín Puč, na esquerda do ataque. O ponta chutou de primeira, no canto direito, surpreendendo o goleiro Combi, que não conseguiu chegar na bola. Curiosamente, Puč havia sofrido uma contusão e deixado o campo para ser atendido três minutos antes. Em seu primeiro toque na bola após retornar ao gramado, ele abriu o placar.

Faltando pouco tempo para acabar a partida, o desespero tomou conta dos 55 mil torcedores no estádio romano. Quase piorou quando František Svoboda chutou uma bola na trave.

Mas logo depois, aos 36 minutos, Giovanni Ferrari dominou a bola no peito e tocou para Raimundo Orsi. De costas para o gol, ele girou em torno de Josef Košťálek e chutou com efeito, no canto direito de Plánička, empatando a decisão. Os tchecos reclamaram de irregularidade, alegando que Ferrari tinha dominado a bola com o braço, mas o árbitro confirmou o gol após consultar o auxiliar. E o empate forçou a prorrogação da final.

Durante o período de descanso, os torcedores estavam apreensivos com um eventual desgaste do time. Os anfitriões, além de terem uma média de idade em torno dos 30 anos, haviam jogado 120 minutos a mais que o adversário, devido ao duríssimo jogo desempate com a Espanha nas quartas de final. Mas foi nesse momento que valeu a pena o período de três meses de treino intenso na Suíça, obtido graças a insistência do técnico Vittorio Pozzo.

Os italianos mostraram mais preparo físico que o adversário e conseguiram virar o marcador logo aos cinco minutos, quando Giuseppe Meazza ergueu a bola na área, Enrique Guaita dominou e a ela sobrou mansa para Angelo Schiavio, que chutou a gol. A finalização acabou prensada em um zagueiro e a bola encobriu Plánička. 2 a 1, de virada.

Os italianos se trancaram na defesa e os tchecos não mostraram forças para reagir.

Ao fim do tempo extra, a Itália se sagrou campeã do mundo.


Italianos festejam o título (Imagem: FIFA)

● O grande craque da Copa foi Giuseppe Meazza, de apenas 23 anos. Nascido em 23/08/1910, ele iniciou a carreira aos 17 anos, na Ambrosiana (atual Inter de Milão) e estreou na seleção aos 20 anos. Pela Azzurra, marcou 33 gols em 53 jogos. Era o maior artilheiro da seleção até os anos 1970, quando foi ultrapassado por Luigi Riva.

Além da Taça Jules Rimet, os campeões do mundo foram agraciados com medalhas de bronze estampadas com a efígie de Mussolini, entregues aos jogadores no gramado pelo próprio ditador.

Diversas fontes afirmam que esse resultado salvou a vida de jogadores e comissão técnica, pois seria difícil aplacar um provável e mortal acesso de ira de Benito Mussolini em uma eventual derrota.

Todos temiam ao Duce. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:

“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 10/06/1934

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 55.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

František Plánička (G)(C)

Eraldo Monzeglio

Ladislav Ženíšek

Luigi Allemandi

Josef Čtyřoký

Luigi Bertolini

Josef Košťálek

Luis Monti

Štefan Čambal

Attilio Ferraris IV

Rudolf Krčil

Enrique Guaita

František Junek

Giuseppe Meazza

František Svoboda

Angelo Schiavio

Jiří Sobotka

Giovanni Ferrari

Oldřich Nejedlý

Raimundo Orsi

Antonín Puč

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Karel Petrů

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Ehrenfried Patzel (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Jaroslav Burgr

Umberto Caligaris

Ferdinand Daučík

Virginio Rosetta

Jaroslav Bouček

Armando Castellazzi

Vlastimil Kopecký

Mario Pizziolo

Adolf Šimperský

Mario Varglien I

Erich Srbek

Pietro Arcari

František Šterc

Felice Borel II

Antonín Vodička

Anfilogino Guarisi

Géza Kalocsay

Attilio Demaría

Josef Silný

 

GOLS:

76′ Antonín Puč (TCH)

81′ Raymundo Orsi (ITA)

95′ Angelo Schiavio (ITA) 

Lances e gols da final: