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… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil

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… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil


Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: UOL)

● Como veremos no próximo dia 14/07, os cartolas brasileiros não aprenderam a lição. Se em 1930 a discórdia era entre cariocas e paulistas, para a Copa de 1934 a briga foi entre amadores e profissionais. O profissionalismo no futebol nacional foi regulamentado em 1933 e a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) era adepta ao amadorismo (atrasada desde sempre…).

Com apenas 17 atletas, o fato é que a Seleção Brasileira foi montada com um “catado” de nove jogadores do Botafogo (único time forte que ainda era filiado a uma liga amadora), reforçado por um ou outro jogador profissional, como Luisinho, Patesko e o jovem Leônidas da Silva. Se o técnico oficial era Luiz Vinhais, quem fez a “convocação”, escalou e mandou em tudo era mesmo o cartola botafoguense Carlito Rocha.

Foram doze dias de viagem no navio Conte de Biancamano, onde os jogadores treinavam no convés do jeito que dava. Ao desembarcar na Itália, os brasileiros não sabiam que enfrentariam uma das melhores seleções do mundo na época. Os espanhóis tinham uma das defesas mais entrosadas da história, com Zamora, Ciriaco e Quincoces, todos do Real Madrid há mais de três anos.

Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Com os jogadores fora de forma e sem inspiração, o Brasil começou mal. Logo nos primeiros minutos, era claro que a Espanha estava melhor no jogo, enquanto os brasileiros dependiam do talento individual de Leônidas e Waldemar de Brito. Porém, a Fúria abriu 3 a 0 antes da primeira meia hora de jogo, com dois gols de Iraragorri e um de Langara, mas acabou sendo beneficiada por um grave erro de arbitragem: Quincoces evitou um gol com o braço em cima da linha quando o Brasil perdia por 1 a 0. Poderia ser o gol de empate, mas a arbitragem não viu.

No segundo tempo, a Espanha tentou segurar e o Brasil foi para cima, diminuindo o prejuízo com Leônidas, aos 11 minutos. Aos 15, Luisinho marcou o segundo, mas o árbitro anulou por impedimento, gerando grande reclamação dos sul-americanos. Dois minutos depois, Waldemar de Brito trombou com Ciriaco na área e o árbitro assinalou pênalti. O próprio Waldemar bateu e Zamora defendeu no canto esquerdo, enterrando de vez as esperanças brasileiras.

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… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

● Ricardo Zamora estava com 33 anos e já era um mito em seu país. Por lá, ele é considerado o maior goleiro do mundo em todos os tempos. Tanto, que o troféu do goleiro menos vazado do Campeonato Espanhol leva seu nome. Reza a lenda que ele tinha um olhar hipnótico, que desconcentrava os batedores de pênaltis. Dizem também que em 1930, o Real Madrid o contratou junto ao Espanyol por uma quantia suficiente para comprar cinco times inteiros.

Ricardo Zamora (Imagem: Alchetron)

Waldemar de Brito ficou marcado como o primeiro jogador a perder um pênalti pela Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Ele entraria na história também alguns anos depois, quando era técnico do Bauru Atlético Clube (o Baquinho) em 1954 e descobriu um garoto de 14 anos. Dois anos depois, resolveu levá-lo para o Santos. O garoto era simplesmente Pelé.

Apesar do preço elevado dos ingressos, o público da partida foi considerado excelente. Além disso, as colinas e os telhados das casas nas imediações do Estádio Comunale Marassi também estavam repletos de pessoas.

A Copa de 1934 (assim como a de 1938) foi no formato eliminatório, começando direto nas oitavas de final. Ou seja, com a derrota, o Brasil foi eliminado logo na primeira partida, terminando em 14º lugar entre 16 seleções.

A Espanha foi eliminada na fase seguinte para a anfitriã (e futura campeã) Itália em uma batalha sangrenta de 210 minutos (um jogo com prorrogação e um jogo desempate), com um gol decisivo do mítico Giuseppe Meazza.

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 3 X 1 BRASIL

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Comunale Marassi (atual Luigi Ferraris)

Público: 21.000

Cidade: Gênova (Itália)

Árbitro: Alfred Birlem (Alemanha)

 

ESPANHA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Ricardo Zamora (G)(C)

Roberto Gomes Pedrosa (G)

Ciriaco Errasti

Sylvio Hoffmann

Jacinto Quincoces

Luís Luz

Leonardo Cilaurren

Tinoco

José Muguerza

Martim
Silveira (C)

Martín Marculeta

Canalli

Ramón de Lafuente

Luisinho Mesquita de Oliveira

José “Chato” Iraragorri

Waldemar de Brito

Isidro Lángara

Leônidas da Silva

Simón Lecue

Armandinho

Guillermo Gorostiza

Patesko

 

Técnico: Amadeo García Salazar

Técnico: Luiz Augusto Vinhais

 

SUPLENTES:

 

 

Juan José Nogués (G)

Germano (G)

Ramón Zabalo

Octacílio

Hilario

Ariel

Pedro Solé

Waldyr

Luis Regueiro

Áttila

Luis Martín

Carvalho Leite

Fede

 

Chacho

 

Campanal

 

Crisanto Bosch

 

Martí Ventolrà

 

 

GOLS:

18′ José Iraragorri (ESP) (pen)

25′ José Iraragorri (ESP)

29′ Isidro Lángara (ESP)

54′ Leônidas da Silva (BRA)

Reportagem da TV Cultura sobre a participação brasileira na Copa de 1934: 

… Josef Bican: o homem de 5000 gols

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… Josef Bican: o homem de 5000 gols


(Imagem: Alchetron)

“Quem teria acreditado em mim se eu dissesse que marquei cinco vezes mais gols que Pelé?” — Josef Bican.

● Em 29/11/1933, com apenas 20 anos e 64 dias, Bican fez sua estreia pela seleção da Áustria, em um empate com a Escócia por 2 a 2. Em 1934, a Áustria chegava como favorita destacada à Copa do Mundo. Conhecida como “Wunderteam” (time maravilha), era composta por diversos austro-tchecos: o próprio Bican, o craque e líder Matthias Sindelar (“Der Papierene”, o Homem de Papel), Franz Cisar, Anton Janda, Mathias Kaburek, Josef Smistik, Johann Urbanek e Karl Zischek. De todos os sete gols marcado pela equipe no torneio, apenas um foi de um austríaco germânico: Anton Schall. Eles levaram o país à semifinal contra a anfitriã Itália. Meses antes, em casa, os austríacos tinham vencido um amistoso entre as duas equipes. Mas dessa vez, a pressão por jogar na casa do inimigo, especialmente a pressão exercida por “Il Duce” Benito Mussolini, que usava o torneio como propaganda de seu regime fascista, a Áustria caiu de pé, por 1 a 0, com gol de Enrique Guaita em impedimento escandaloso. Momentos depois do jogo, foi revelado que o árbitro sueco Ivan Eklind jantou com “Il Duce” na noite anterior. A Áustria ainda perdeu na decisão do 3º lugar para a Alemanha. O único gol de Josef Bican em uma Copa do Mundo aconteceu em 27/05/1934, quando marcou na prorrogação contra a França nas oitavas de final, em vitória por 3 x 2.

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… Josef Bican: o artilheiro inigualável

O Wunderteam foi desfeito de vez com a anexação austríaca pelo Terceiro Reich em 1938, no Anschluß, às vésperas da Copa do Mundo daquele ano. Bican se recusou jogar pela Alemanha nazista e pediu a nacionalidade de seus pais, a Tchecoslováquia, mas um erro de documentação o impediu de disputar a Copa de 1938. Mas começou a defender seu novo país nesse mesmo ano, marcando 12 gols em 14 jogos, de 1938 a 1949. Seu sucesso provocava inveja dos colegas, que o chamavam de “bastardo austríaco”. Durante a 2ª Guerra Mundial, quando o país foi desmembrado, jogou pela Seleção do Protetorado da Boêmia e Morávia (que era o pedaço tcheco), anotando um hat-trick contra a Alemanha nazista, em empate por 4 a 4. No total, marcou 34 gols em 45 jogos por três seleções diferentes. Sua última aparição internacional foi em uma derrota da sua Tchecoslováquia por 3 a 1 para a Bulgária, em 04/09/1949.

● De acordo com o RSSSF (Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation), foram 805 gols em 530 jogos oficiais e 663 gols em 388 partidas amistosas. A soma é absurda: 1468 gols em 918 jogos, marca superior a qualquer outro jogador. Foi laureado também pela IFFHS (International Federation of Football History & Statistics) com o prêmio “Bola de Ouro”, por ter sido o maior goleador do século XX, com 518 gols marcados em 341 jogos (média de 1,52 gols por jogo), considerando apenas jogos em primeira divisão das ligas nacionais.

Em 1969, Pelé estava se aproximando de seu milésimo gol e muitos jornalistas estavam à procura de outro jogador que tinha chegado a essa marca. O ex-jogador austríaco Franz “Bimbo” Binder (11º maior artilheiro da história, com 1006 gols no total) citou o nome de Pepi Bican. Quando os repórteres o perguntaram por que ele não era festejado pelo feito, ele simplesmente perguntou: “quem teria acreditado em mim se eu dissesse que marquei cinco vezes mais gols que Pelé?” Essa marca é muito improvável, pois para ter marcado os 5000, ele deveria ter mantido uma média de 185 gols por ano em todos os seus 27 anos (dos 15 aos 42 anos) de carreira, o que é um fato extremamente improvável de ter acontecido e passado despercebido.

Ele sempre criticava a mercantilização do futebol e os salários astronômicos recebidos por atletas medíocres. Também nunca aceitou que os atacantes atuais tivessem mais crédito do que os de antigamente:

“Eu ouvi muitas vezes que era mais fácil marcar gols na minha época. Mas as chances eram as mesmas há cem anos atrás e serão as mesmas daqui a cem anos. A situação é idêntica e todos concordariam que, de uma chance, deveria sair um gol. Se eu tivesse cinco chances, eu marcaria cinco gols — se eu tivesse sete, então seriam sete.”

Pepi Bican finalizava bem com as duas pernas e era tão veloz que, em sua época, corria 100 metros em incríveis 10,8 segundos. Não eram apenas seus números que atraíam o público ao estádio. Durante seu tempo no Slavia, as multidões iam aos treinos para se divertirem, como se estivessem indo ao circo. Centenas de torcedores e curiosos pagavam algumas korunas apenas para assistir um show a parte. Enquanto os outros jogadores faziam treinos físicos, Bican colocava garrafas vazias em cima do travessão (as traves eram quadradas, na época), na distância de cerca de 30 cm cada uma. Posicionava algumas bolas da entrada da área e derrubava as garrafas, uma por uma na distância de 20 metros. Dizem que em um dia ruim, ele erraria uma de dez.


(Imagem: Goalden Times)

Feitos e premiações de Josef Bican:

Pela seleção da Áustria:
– 4º lugar na Copa do Mundo de 1934.

Pelo Rapid Viena:
– Campeão do Campeonato Austríaco em 1934/35.

Pelo Admira Viena:
– Bicampeão do Campeonato Austríaco em 1935/36 e 1936/37.

Pelo Slavia Praga:
– Campeão da Copa Mitropa em 1938.
– Campeão do Campeonato Tchecoslovaco em 1946/47
– Tetracampeão do Campeonato do Protetorado da Boêmia e Morávia em 1939/40, 1940/41, 1941/42 e 1942/43.
– Campeão da Copa do Protetorado da Boêmia e Morávia em 1940/41, 1941/42 e 1945.
– Campeão da Copa da Boêmia em 1940/41.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Austríaco de 1933/34 (28 gols).
– Artilheiro do campeonato nacional da Tchecoslováquia de 1937/38 (22 gols), 1938/39 (29 gols), 1939/40 (50 gols), 1940/41 (38 gols), 1941/42 (45 gols), 1942/43 (39 gols), 1943/44 (57 gols), 1945/46 (31 gols), 1946/47 (43 gols), 1948 (21 gols) e 1950 (22 gols).
– Eleito o 34º melhor jogador do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 28º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o melhor jogador tchecoslovaco do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 2º melhor jogador austríaco do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Nomeado o maior goleador do Século XX pela RSSSF.
– Nomeado o 2º maior goleador do Século XX pela IFFHS.

… Josef Bican: o artilheiro inigualável

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… Josef Bican: o artilheiro inigualável


(Imagem: UEFA)

● Há exatos quinze anos Josef Bican deixava a vida e ficava apenas na história. Reza a lenda que ele fez mais de 5.000 gols.

Josef Bican, conhecido também como “Pepi” Bican (se pronuncia “Bítsan”), nasceu em um bairro pobre de Viena, na Áustria, em 25/09/1913. Era o segundo de quatro filhos de František e Ludmila Bican. Sua mãe era vienense, dos austro-checos e seu pai era da cidade de Sedlice, na Boêmia do Sul. František também foi jogador de futebol e atuou no Hertha Viena. Era famoso na cidade e certa vez recusou a se transferir para o gigante Rapid Viena. Ele lutou na 1ª Guerra Mundial e voltou ileso, mas morreu com apenas 30 anos, em 1921, pois não quis fazer uma cirurgia renal, necessária por ter tomado uma violenta pancada em uma partida justamente contra o Rapid. Sua mãe era cozinheira em um restaurante. Sua família era tão pobre, que o menino Josef teve que aprender a jogar futebol descalço, o que acabou o ajudando a melhorar suas habilidades com a bola. Bican frequentou a Jan Amos Komenskýa, uma escola tcheca em Viena. Em 1925, quatro anos após a morte de seu pai, tinha doze anos quando começou a jogar nas divisões inferiores do Hertha Viena, o Hertha Viena II. Certa vez, quando Pepi jogava nas divisões de base, sua mãe Ludmila foi vê-lo jogar. Depois de uma falta sofrida pelo garoto, ela invadiu o campo e bateu no marcador de seu filho com um guarda-chuva.

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Ainda jovem, atuou pelo Schustek (1927-1930) e Farbenlutz (1930-1931). Aos 18 anos, foi descoberto pelo Rapid Viena, grande clube do país na época. Sua transferência custou ao Rapid 150 schillings (valor alto pago em um garoto), mas dois anos depois 600 schillings era seu salário mensal, aos 20 anos (enquanto um bom jogador recebia cerca de 100 schillings). Estreou pelo clube em 1931, marcando um hat-trick no grande rival, o Austria Viena. Passou quatro anos liderando o clube, com 68 gols marcados em 61 jogos oficiais. Depois, passou pelo Admira Viena, com 21 tentos anotados em 31 partidas.


(Imagem: Futebol de Todos os Tempos)

● Desde 1937, Bican já atuava no Slavia Praga, na terra de seus ancestrais. Ficaria na Tchecoslováquia até o fim de sua carreira e seu melhor momento foram os onze anos passados no Slavia, onde marcou absurdos 537 gols em 274 partidas, sendo 328 gols na liga nacional, incluindo 57 gols em 24 partidas no ano de 1939/40. Por três vezes em sua carreira, marcou sete gols em um jogo. Em uma partida da liga de 1939/40, Bican fez sete gols e o Slavia goleou o Zlín por 10 a 1. Na temporada seguinte (1940/41), novamente marcou 7 vezes contra o Zlín e seu time venceu por inacreditáveis 12 a 10. Já em 1947/48, marcou sete vezes na goleada do Slavia em cima do České Budějovice por 15 x 1. Nas duas ligas nacionais que disputou, Pepi Bican foi artilheiro por 12 vezes, em uma carreira de 27 anos. Foi o maior artilheiro da Europa por cinco temporadas consecutivas, de 1939/40 a 1943/44, situação um pouco facilidada porque a maioria dos jogadores mais jovens e de bom físico foram convocados para a Guerra.

Na Europa devastada após a Guerra, vários dos grandes times desejaram ter Bican. A Juventus lhe ofereceu uma fortuna para ir jogar em Turim, mas ele se recusou por medo, devido a boato de que os comunistas iriam controlar a Itália. Ele resolveu ficar em Praga e, ironicamente, os comunistas chegaram ao poder por lá em 1948. Ele se recusou a se filiar ao Partido Comunista, da mesma forma que se recusou anteriormente a se juntar ao Partido Nazista na Áustria. Ele tentou melhorar sua relação com os “comunas” ao jogar no Železárny Vítkovice na temporada 1950/51. Na temporada seguinte, jogou no FC Hradec Králové, mas a perseguição do governo o forçou a deixar a cidade em 01/05/1953 e, consequentemente, o clube. O regime comunistra classificou o craque como “ídolo burguês” e tentou dimunuir sua popularidade em vão, pois os fãs continuaram fiéis a ele. Assim, voltou para a capital para jogar pelo seu antigo clube, o Slavia, que tinha sido renomeado para Dinamo Praga. Jogou mais dois anos e se aposentou em 1955, aos 42 anos de idade. Era o jogador mais velho do país na época e já era jogador e treinador ao mesmo tempo desde 1954.

● Depois de se retirar dos gramados, continuou sendo técnico do Dinamo até 1956. Treinou também: Slovan Liberec (1956-1959), Spartak ZJS Brno (1959-1960), Baník Příbram (1963-1964), Hradec Králové (1964), SONP Kladno (1967-1969). Em 1969, ele foi autorizado pelo governo a trabalhar como técnico de uma equipe estrangeira, o KSK Tongeren, da Bélgica, onde teve muito sucesso, levando a equipe da 4ª para 2ª divisão nacional, de 1969 a 1972. Encerrou a carreira de técnico em 1977, de volta a seu país, no SK Benešov. Depois, trabalhou como operário, motorista de ônibus e até alimentando animais ferozes no zoológico de Praga. Nos seus últimos meses de vida, Bican passou a sofrer problemas cardíacos e faleceu duas semanas antes do natal de 2001, que planejava passar com sua família. Faleceu em Praga, na República Tcheca, em 12/12/2001.

Durante o período de domínio comunista, que foi até 1989, Josef Bican teve seu legado esportivo praticamente apagado e somente agora, aos poucos, Pepi volta a surgir como um grande atleta, um dos maiores da história da Áustria e, principalmente, da Tchecoslováquia. Chegamos à conclusão que Bican não é mais conhecido porque a explosão midiática do futebol internacional ocorreu apenas no fim da década de 1950, principalmente com a concepção da Copa dos Campeões Europeus, enquanto Josef Bican é da geração anterior.

… Patesko: ponta esquerda craque e letal

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… Patesko: ponta esquerda craque e letal


(Imagem: Paraná Online)

● Patesko era um apelido, derivado da dificuldade de pronunciar seu complicado sobrenome de origem polaca (era filho de poloneses). Rodolfo Barteczko nasceu em Curitiba, em 12/11/1910. Alguns historiadores dizem que ele nasceu na Lapa-PR. Era considerado um dos melhores ponta-esquerda de sua época. Tinha velocidade, bom drible, chute potente e excelente finalização.

Iniciou sua carreira no Palestra Itália Futebol Clube, de Curitiba, em 1929, no que é considerado pela imprensa paranaense um dos melhores times da história do futebol do estado, perdendo por pouco o título estadual de 1931 para o Coritiba. Em amistosos no Rio Grande do Sul, o Palestra Itália venceu a seleção gaúcha por 1 x 0 e perdeu para o Grêmio por 3 x 2, mas ele chamou a atenção do Grêmio Esportivo Força e Luz, de Porto Alegre. Em 1932 desembarcou no Força e Luz: clube modesto, mas grande vitrine. Tanto, que cerca de um ano depois foi contratado pelo Nacional, do Uruguai, onde se tornou ídolo, conquistando dois títulos uruguaios (1933 e 1934).

● Após uma maratona de jogos com a Seleção Brasileira após a Copa do Mundo de 1934, foi jogar no Rio de Janeiro. Foi com a camisa do Botafogo Futebol Clube (precursor do atual Botafogo de Futebol e Regatas) que Patesko se tornou uma grande estrela do futebol brasileiro na primeira metade do século passado. O Botafogo era o clube mais importante da década de 30 no Rio de Janeiro e Patesko se encaixou como uma luva no time. Estreou no Glorioso em 09/12/1934, em um amistoso com o Vasco da Gama. O alvinegro era campeão carioca e o cruzmaltino era campeão da Liga Carioca. A partida terminou empatada em 1 x 1, com gols de Carvalho Leite (BOT) e Lamana (VAS). Esteve no elenco botafoguense tetracampeão carioca em 1935, atuando em 22 partidas e assinalando 6 gols. Esteve também no grupo alvinegro que fez sua primeira excursão internacional no México e nos Estados Unidos, em 1936. Foi uma digressão vitoriosa, vencendo seis de nove jogos (um empate e duas derrotas), marcando 27 gols (sendo 6 de Patesko) e sofrendo 15.

Mesmo sendo originalmente ponta esquerda, passou a jogar como ponta direita a partir de 1942. Atuou pelo Botafogo de 1934 a 1943, em um total de 237 partidas e 102 gols.
Em 21/09/1941, enquanto era jogador do clube carioca, fez um amistoso com a camisa do Clube Atlético Mineiro, que venceu o Santa Cruz Esporte Clube, da cidade de Santa Luzia/MG, por 3 x 2, mas sem gols do ponta. Alguns registros constam que atuou pelo Peñarol entre 1934 e 1935 e no Fluminense em 1941.

● Em 1934 se tornou o primeiro paranaense a ser convocado para a seleção e a ser titular. No mesmo ano também foi o pioneiro de seu estado a jogar uma Copa do Mundo. Também é o primeiro brasileiro a estar em um Mundial jogando em time estrangeiro (em 1934, estava no Nacional; o zagueiro Luiz Luz também jogava no futebol uruguaio, no rival Peñarol). Foi titular na Copa do Mundo de 1938, conseguindo o 3º lugar com o Brasil. Nem era para a seleção estar na competição, mas ganhou a vaga de presente com a recusa da Argentina em disputar a competição em protesto ao presidente da FIFA, Jules Rimet, por quebrar o rodízio (essa Copa teoricamente seria disputado na América do Sul.

Patesko jogou quatro partidas em Copas, mas nunca marcou gols:
– Em 1934, em Gênova (Itália), a Seleção foi eliminada logo no primeiro jogo, perdendo para a Espanha nas oitavas de final (primeira fase) por 3 x 1, em 27/05/1934. Era um dos atletas amadores registrados pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF), que não aceitava jogadores profissionais. O profissionalismo foi implantado no país no ano anterior.
– Em 1938, em Bordeaux (França), Patesko esteve no jogo desempate das quartas de final, vencendo a Tchecoslováquia por 2 x 1, em 14/06/1938.
– Disputou a semifinal de 1938, em Marselha (FRA), na derrota para a Itália, por 2 a 1, em 16/06/1938.
– Patesko perdeu um pênalti, chutando por cima do travessão, na decisão do 3º lugar, em Bordeaux, na vitória por 2 x 1 contra a Suécia, em 19/06/1938.

Disputou o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América) em 1937 e 1942. Em 1937, foi o destaque e artilheiro brasileiro, com 4 gols, e o Brasil vice-campeão, perdendo para a Argentina por 2 x 0 apenas na prorrogação da partida desempate. Já em 1942 (na última competição do ponta na seleção), ficou no 3º lugar, com dois gols de Patesko, sendo um olímpico com menos de um minuto de jogo, na goleada por 6 x 1 no Chile, na estreia na competição.

Também apelidado de “Perigo Loiro”, disputou 34 jogos pela seleção, com 20 vitórias, 5 empates e 9 derrotas, marcando 11 gols.

Faleceu no Rio de Janeiro em 13/03/1988, aos 77 anos, em consequência de uma tuberculose.