… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia

Três pontos sobre…
… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia


(Imagem: Pinterest)

● Envolta de nostalgia e superstição, a Seleção Brasileira voltava à disputar uma Copa do Mundo no México dezesseis anos depois e esperava reencontrar o espírito vencedor de 1970. Mas, em campo, os espíritos astecas não ajudaram tanto a Seleção de Telê Santana e Cia.

O Brasil estreou no dia 01/06 diante da Espanha. Precisou contar com o travessão e o auxílio da arbitragem para vencer a Fúria pelo placar mínimo. Dois dias depois, pelo mesmo Grupo D, Argélia e Irlanda do Norte empataram por 1 x 1.

A Argélia esteve muito perto de passar de fase em 1982. Venceu poderosa Alemanha Ocidental (2 x 1) e o Chile (3 x 2), mas perdeu para a Áustria (2 x 0). Na última rodada do equilibrado Grupo B, Alemanha Ocidental e Áustria fizeram um “jogo de compadres”, com vitória simples dos alemães – um dos poucos resultados que classificaria as duas seleções europeias e eliminaria os africanos.

Para 1986, as “Raposas do Deserto” mantiveram suas principais peças de quatro anos antes. Destaque para o meia Lakhdar Belloumi e os atacantes Rabah Madjer (ídolo do FC Porto) e Salah Assad.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


O técnico argelino Rabah Saâdane escalou sua seleção no sistema 4-3-3.

● Depois da vitória sobre o adversário mais difícil da chave, todos esperavam que jogo contra a Argélia fosse mais fácil.

Tudo começou mal, quando o lateral direito Édson Abobrão precisou deixar o campo logo aos 11 minutos e o técnico Telê Santana foi deveras infeliz na substituição. Alemão foi deslocado para a lateral e Falcão entrou no meio campo. O time ficou desorganizado.

Sem o ímpeto de Alemão no meio, Elzo teve que correr em dobro. Falcão estava em má forma física – tanto, que encerraria a carreira naquela temporada, com apenas 33 anos.

Mas o Brasil começou assustando. Em uma cobrança de falta ensaiada, Júnior chutou forte. O goleiro Nacerdine Drid espalmou e Careca chutou o rebote para fora.

Depois, Júnior cobrou falta para a área. A zaga rebateu e Edinho rolou para Falcão chutar de esquerda, mas a bola desviou e saiu fraca.

Ainda na etapa inicial, Careca cruzou da direita, Casagrande cabeceou bem e Drid pulou no cantinho. Na sobra, “Casão” dividiu com o goleiro e a bola sobrou para Sócrates chutar para o gol. O árbitro guatemalteco Rómulo Méndez Molina anulou o tento brasileiro, por entender que Casão fez falta em Drid na disputa de bola.

O lance mais perigoso foi uma falta da intermediária cobrada por Júlio César, que fez a bola explodir no travessão.

No início do segundo tempo, o Brasil diminuiu o ritmo e a torcida vaiou. A Argélia perdeu o medo e chegou a assustar. Assad cruzou na pequena área e Belloumi chegou de carrinho, mas Carlos fez uma grande defesa com o pé.

Mas logo a Seleção voltou a pressionar. Branco tabelou com Sócrates pela esquerda, invadiu a área e chutou forte. O goleiro desviou e a bola ainda bateu na trave.

No segundo tempo, o time cresceu com a entrada de Müller no ataque. E foi dele a assistência para o gol.

Aos 22 minutos do segundo tempo, Branco virou o jogo para Alemão na direita, que abriu com Müller na ponta. O atacante são-paulino cruzou para a pequena área. A bola desviou no meio do caminho e ficou entre o zagueiro e o goleiro, que vacilaram. Em uma fração de segundo, Careca se aproveitou da indecisão adversária e apareceu como uma flecha para tocar a bola para dentro do gol.

Careca queria mais. Ele chutou de longe e a bola passou perto do gol, à direita do goleiro.

Sócrates avançou pela direita e bateu forte e Drid espalmou. Na sobra, Careca perdeu a disputa pelo alto e o zagueiro impediu o segundo tento brasileiro.

O camisa 9 teve ainda uma última chance, quando chutou da entrada da área, mas o goleiro pegou.


Careca foi esperto ao aproveitar a bobeira da zaga argelina e chutar para o gol (Imagem: saopaulofc.net)

● É impossível falar dessa partida sem o enfoque em Careca. Mesmo nas piores fases, atacante tinha total confiança do técnico Telê Santana. O que mais unia os dois, é que ambos carregavam o mesmo estigma: não conseguir render na seleção o mesmo que em clubes. Com isso, viviam sempre sob suspeita.

“Ele é centroavante com melhor toque de bola no país.” – Telê afirmava. A torcida e a crítica especializada não acreditavam. Chamavam o camisa 9 de egoísta e preciosista nas conclusões, capaz de perder o gol para requintar o lance.

Na estreia contra os espanhóis, ele não marcou gol, mas foi fundamental no ataque. Mal comparando, foi como Tostão no Mundial de 1970 (também no México): segurava a atenção da marcação para abrir espaços para os companheiros que se infiltravam.

Mas Careca não queria mais ser “boi de piranha”. Estava determinado não só a fazer gols, mas também queria provar ao Brasil que poderia ser o mesmo craque do São Paulo e do Guarani (protagonizou o título do Campeonato Brasileiro de 1978 aos 18 anos).

De amarela, basta a camisa e ele não amarelou. Foi a principal arma brasileira, mostrando talento e oportunismo. Seu gol tirou o Brasil do sufoco contra os africanos e garantiu a vitória da seleção tricampeã do mundo.


Walter Casagrande Júnior não fez uma boa Copa. Na partida seguinte, perderia a titularidade para Müller (Imagem: Pinterest)

● Foi outra atuação nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela superação de Careca, pela vitória e pela classificação antecipada para a próxima fase.

No jogo seguinte, houve uma ingênua impressão de evolução quando a Seleção Brasileira venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini.

Na terceira rodada do Grupo D, a Argélia perdeu para a Espanha por 3 a 0 e terminou no último lugar da chave. As “Raposas do Deserto” terminaram rigorosamente empatadas com a Irlanda do Norte: um ponto e saldo de -4 gols para cada; porém, os irlandeses marcaram dois gols e os argelinos apenas um.

Mais de 25 anos depois, o ex-atacante Djamel Menad revelou que ele e pelo menos cinco companheiros da seleção argelina teriam recebido drogas durante a preparação para o Mundial de 1990. Segundo ele, um médico russo deu medicamentos aos atletas às vésperas e durante o torneio, informando ser apenas “vitaminas”. O ex-jogador afirmou ainda que cinco de seus filhos (todos nascidos após 1986) tem algum problema de saúde. Pouco depois, outros atletas revelaram que o procedimento aconteceu também durante a Copa de 1982.


Paulo Roberto Falcão sofria com problemas físicos e não foi bem (Imagem: Think Marketing)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 ARGÉLIA

 

Data: 06/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 48.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Rómulo Méndez Molina (Guatemala)

 

BRASIL (4-4-2):

ARGÉLIA (4-3-3):

1  Carlos (G)

1  Nacerdine Drid (G)

2  Édson Boaro

5  Abdellah Liegeon

14 Júlio César

20 Fodil Megharia

4  Edinho (C)

2  Mahmoud Guendouz (C)

17 Branco

16 Faouzi Mansouri

19 Elzo

6  Mohamed Kaci-Saïd

15 Alemão

18 Halim Benmabrouk

6  Júnior

10 Lakhdar Belloumi

18  Sócrates

7  Salah Assad

8  Casagrande

9  Djamel Menad

9  Careca

11 Rabah Madjer

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Rabah Saâdane

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

21 Larbi El Hadi (G)

22 Leão (G)

22 Mourad Amara (G)

13 Josimar

4  Noureddine Kourichi

3  Oscar

15 Abdelhamid Sadmi

16 Mauro Galvão

19 Mohamed Chaïb

5  Falcão

3  Fathi Chebal

20 Silas

8  Karim Maroc

21 Valdo

17 Fawzi Benkhalidi

10 Zico

14 Djamel Zidane

11 Edivaldo

13 Rachid Harkouk

7  Müller

12 Tedj Bensaoula

 

GOL: 66′ Careca (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

10′ Édson Boaro (BRA) ↓

Falcão (BRA) ↑

 

59′ Casagrande (BRA) ↓

Müller (BRA) ↑

 

68′ Salah Assad (ALG) ↓

Tedj Bensaoula (ALG) ↑

 

80′ Lakhdar Belloumi (ALG) ↓

Djamel Zidane (ALG) ↑

Melhores momentos da partida:

Partida completa (narração de Galvão Bueno):

… 05/06/2002 – Alemanha 1 x 1 Irlanda

Três pontos sobre…
… 05/06/2002 – Alemanha 1 x 1 Irlanda


(Imagem: Mandatory Credit / INPHO / Andrew Paton)

● A Alemanha viveu certa turbulência na reta final das eliminatórias, quando foi goleada em casa pela Inglaterra por 5 x 1, com direito a um “hat-trick” de Michael Owen. De quebra, perdeu o primeiro lugar no Grupo 9 para o “English Team” no saldo de gols e precisou disputar a repescagem com forte Ucrânia, de Andriy Shevchenko, Sergey Rebrov e outros. Empatou por 1 x 1 em Kiev e venceu bem, por 4 x 1 em Dortmund. A tradicional Alemanha estava na Copa.

Nas eliminatórias, a Irlanda surpreendeu ao bater de frente com os favoritos Portugal e Holanda no Grupo 2. Na primeira rodada, empate com os holandeses em Amsterdã por 2 a 2. Contra os lusos, foram dois empates por 1 a 1. Venceu todas as demais partidas, inclusive contra a Holanda em casa (1 x 0). Terminou com 24 pontos, juntamente com Portugal, mas perdeu a liderança no saldo de gols (26 a 18). A toda-poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998, estava eliminada da edição de 2002. E, por ter sido o melhor segundo lugar entre todos os grupos europeus, o Eire disputou a repescagem contra o Irã (terceiro melhor do qualificatório da Ásia). Venceu em Dublin por 2 a 0 e perdeu em Teerã por 1 a 0. A vaga estava garantida.

A Irlanda perdeu seu principal jogador às vésperas do Mundial. O técnico Mick McCarthy expulsou o experiente volante Roy Keane da delegação por este ter feito severas críticas à imprensa sobre as condições de treinamento. O treinador manteve sua postura mesmo após o atleta ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A Federação Irlandesa tentou de todo jeito substituir Roy Keane por Colin Healy na lista de inscritos, mas não teve autorização da FIFA. Segundo as regras, só se pode alterar a lista definitiva em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior – como a morte de um familiar, por exemplo. A Irlanda ficou com um jogador a menos na delegação.

Ex-zagueiro, o técnico Mick McCarthy havia participado como jogador da Eurocopa de 1988 e da Copa do Mundo de 1990 (era capitão) – primeiras participações do país nas fases finais das competições. Mas o treinador parecia não ter se acostumado à aposentadoria dos campos. Curiosamente, ele se vestia a caráter: blusa, calções, meiões e até chuteiras para comandar seu time à beira do gramado.

Na primeira rodada da chave, a Alemanha massacrou a Arábia Saudita por incríveis 8 x 0, enquanto a Irlanda sofreu para empatar com Camarões por 1 x 1.


O ex-centroavante Rudi Völler escalou a Alemanha no 3-5-2, apostando no talento de Michael Ballack (que jogou com dores, no sacrifício) e no faro de gol de Miroslav Klose.


O ex-zagueiro Mick McCarthy formou a Irlanda no sistema 4-4-2. Sem a bola, Damien Duff recuava para formar o 4-5-1. Com a bola, a aposta era a velocidade de Robbie Keane.

● Na segunda rodada do Grupo E, a partida entre Alemanha e Irlanda praticamente se resumiu no jogo aéreo. E o bombardeio aéreo alemão, que pulverizou a defesa saudita, voltou a funcionar contra a Irlanda.

Michael Ballack recebeu na intermediária, ergueu a cabeça e cruzou de esquerda. Foi um “cruzamento de GPS”, bem no ponto futuro, onde Miroslav Klose (sempre ele!) completou de cabeça, da marca do pênalti. Foi o quarto gol do centroavante no Mundial – o quarto de cabeça (ele viria a se tornar o maior artilheiro da história das Copas doze anos depois). Comemoração clássica do camisa 11, com uma cambalhota no ar.

No lance, o lateral esquerdo Ian Harte falhou na marcação, ao não acompanhar a arrancada de Klose. Harte também havia falhado na estreia contra Camarões.


(Imagem: Martin Rose / Bongarts / Getty Images)

Cinco minutos depois, Damien Duff cruzou da direita, a zaga alemã rebateu e Matt Holland emendou de primeira. A bola passou raspando à trave direita. Foi uma jogada muito parecida com o gol que o camisa 8 marcou contra os camaroneses no jogo anterior.

A Alemanha quase chegou ao segundo gol. Carsten Jancker desviou uma bola perigosa, mas o goleiro Shay Given estava atento.

Apesar do predomínio na etapa inicial, os alemães não conseguiram transformar o domínio em maior vantagem no marcador. Apesar disso, conseguiram fechar bem o meio e limitar a criação de jogadas da equipe irlandesa.

Mas seria diferente no segundo tempo. A Irlanda cresceu sob a liderança técnica de Robbie Keane e teve 58% de posse de bola. Passou a pressionar mais em busca do empate, mas desperdiçava algumas chances claras de gol.

Aos 11′, Steve Finnan cruzou da direita. A bola desviou na defesa germânica e sobrou para Duff, que finalizou. Mas Oliver Kahn fez uma defesa excepcional, à queima-roupa, fechando todos os espaços. Se contra a Arábia Saudita, Kahn tocou na bola apenas para bater tiro de meta, contra os britânicos ele teve muito trabalho. Fez três defesas salvadoras.

Em um contra-ataque, a Alemanha perdeu uma grande chance para definir o placar. Bernd Schneider deixou com Jancker, que encobriu Given, mas a bola foi fraca e para fora. Finnan já estava na cobertura se a bola tivesse tomado o rumo do gol.

Logo depois, Torsten Frings ganhou no corpo de Kevin Kilbane e cruzou bem da direita. Klose subiu sozinho, mas cabeceou por cima.

O empate demorou, mas aconteceu e fez justiça ao placar.

Aos 47 minutos do segundo tempo, Finnan deu um chutão para a frente. O gigante Niall Quinn ganhou no alto de Christoph Metzelder e desviou de cabeça. Robbie Keane invadiu em velocidade entre Thomas Linke e Carsten Ramelow e finalizou forte já de dentro da pequena área. O monstro Oliver Kahn fechou o ângulo e desviou a bola, que ainda bateu na trave antes de entrar.

Um gol chorado. Só assim mesmo para fazer um gol naquele momento nessa parede que era Oliver Kahn. Ele era um goleiro espetacular e teve seu auge na Copa de 2002.


(Imagem: Andy Hooper / Daily Mail)

● O empate impediu a classificação antecipada da Nationalelf e fez os alemães terem um choque de realidade. Nem tudo eram maravilhas, como a goleada sobre os sauditas fizera parecer. As lesões tiraram jogadores importantes do elenco, que sentia falta da criatividade de Mehmet Scholl e Sebastian Deisler, além da segurança da experiente dupla de zaga Christian Wörns e Jens Nowotny. Os críticos da imprensa alemã eram ferozes com o trio defensivo: Thomas Linke era chamado de lento, Christoph Metzelder de inexperiente e Carsten Ramelow de meio-campista medíocre improvisado como líbero. O centroavante Carsten Jancker, autor de “incríveis” zero gols na Bundesliga pelo Bayern de Munique, cumpria apenas uma função tática de atrair a marcação e era estéril na frente do gol adversário. Críticas justas, apesar da acidez.

A Alemanha ainda venceria Camarões (2 x 0), se classificando em primeiro do grupo. Passaria ainda pelo Paraguai (1 x 0, nas oitavas de final) e Estados Unidos (1 x 0, nas quartas). Na semifinal, venceu a co-anfitriã (e surpresa) Coreia do Sul também por 1 a 0 e chegou à final contra o Brasil, quando perdeu por 2 a 0 e adiou o sonho do tetra.

Na rodada final, a Irlanda bateu a Arábia Saudita por 3 a 0 e se classificou em segundo lugar da chave, com cinco pontos. Curiosamente, a Irlanda passou de fase em todas as Copas que disputou (1990, 1994 e 2002). Nas oitavas de final, os celtas venderam muito caro a eliminação para a Espanha, após empate por 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. Chegou a perder um pênalti durante os 90 minutos. Mas, no fim, perdeu nos pênaltis por 3 a 2 e saiu de cabeça erguida, de forma invicta.


(Imagem: RTE)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 1 x 1 IRLANDA

 

Data: 05/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Kashima Soccer Stadium

Público: 35.854

Cidade: Ibaraki (Japão)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

ALEMANHA (3-5-2):

IRLANDA (4-4-2):

1  Oliver Kahn (G)(C)

1  Shay Given (G)

2  Thomas Linke

2  Steve Finnan

5  Carsten Ramelow

14 Gary Breen

21 Christoph Metzelder

5  Steve Staunton (C)

22 Torsten Frings

3  Ian Harte

19 Bernd Schneider

18 Gary Kelly

8  Dietmar Hamann

12 Mark Kinsella

13 Michael Ballack

8  Matt Holland

6  Christian Ziege

11 Kevin Kilbane

9  Carsten Jancker

9  Damien Duff

11 Miroslav Klose

10 Robbie Keane

 

Técnico: Rudi Völler

Técnico: Mick McCarthy

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jens Lehmann (G)

16 Dean Kiely (G)

23 Hans-Jörg Butt (G)

23 Alan Kelly (G)

3  Marko Rehmer

15 Richard Dunne

4  Frank Baumann

4  Kenny Cunningham

15 Sebastian Kehl

20 Andy O’Brien

16 Jens Jeremies

21 Steven Reid

17 Marco Bode

22 Lee Carsley

18 Jörg Böhme

6  Roy Keane (cortado da delegação)

10 Lars Ricken

7  Jason McAteer

14 Gerald Asamoah

19 Clinton Morrison

7  Oliver Neuville

13 David Connolly

20 Oliver Bierhoff

17 Niall Quinn

 

GOLS:

19′ Miroslav Klose (ALE)

90+2′ Robbie Keane (IRL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

73′ Gary Kelly (IRL) ↓

Steven Reid (IRL) ↑

 

73′ Ian Harte (IRL) ↓

Niall Quinn (IRL) ↑

 

75′ Carsten Jancker (ALE) ↓

Oliver Bierhoff (ALE) ↑

 

85′ Miroslav Klose (ALE) ↓

Marco Bode (ALE) ↑

 

87′ Steve Staunton (IRL) ↓

Kenny Cunningham (IRL) ↑

 

89′ Bernd Schneider (ALE) ↓

Jens Jeremies (ALE) ↑


(Imagem: Balls.ie)

Gols da partida:

Compilado de belas imagens do jogo, com uma ótima música de fundo:

… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia


(Imagem: David Cannon / All Sport / Getty Images)

● A Dinamarca foi uma das pioneiras na prática do futebol. Conquistou as medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de 1908 e 1912, o bronze em 1948 e novamente a prata em 1960. Em uma fase eliminatória altamente favorável (Malta, Albânia e Luxemburgo), alcançou a semifinal da Eurocopa de 1964. Mas o futebol local só começou a crescer de fato após a regulamentação do profissionalismo no país, a partir de 1978. O patrocínio da cervejaria Calsberg possibilitou a contratação do alemão Sepp Piontek como técnico da seleção nacional a partir de 1979.

A cultura do amadorismo levavam os atletas a serem naturalmente indisciplinados. Eram jogadores que gostavam e estar juntos e se divertirem. Era um conjunto de mulherengos, bêbados e fumantes inveterados. Destaque do time, Preben Elkjær Larsen chegava a consumir de 20 a 30 cigarros por dia, muitas vezes escondido do treinador no vestiário.

A primeira medida adotada pelo técnico foi o afastamento do goleiro titular, Birger Jensen. Foi quase um sacrifício simbólico, de forma a deixar claro que a partir de então, os atletas deveriam respeitar regras – e os dinamarqueses não costumavam respeitar nenhuma, por mais que elas nem fossem tão rígidas.


(Imagem: FourFourTwo)

● O principal motivo de sucesso dos dinamarqueses naquela década foi justamente a falta de expectativas. Como era a primeira boa seleção formada no país, não haviam críticos resmungando sobre as “glórias do passado”. Não existia pressão alguma. Havia mais uma certa incredulidade sobre até onde poderiam chegar. E é aí que começa a semelhança com a seleção holandesa da década de 1970.

De certa forma, foi a Dinamarca de 1986 quem chegou mais perto de emular o futebol total da Laranja Mecânica de 1974: linha de impedimento alta, marcação pressão, ocupação de espaço, movimentação constante, criatividade no passe e velocidade com a bola. E a Holanda tinha que ser mesmo a inspiração para o estilo de jogo dinamarquês: Frank Arnesen, Søren Lerby, Jesper Olsen e Jan Mølby jogaram no Ajax entre 1975 e 1982 e, consequentemente, sofreram a influência do “Carrossel” de Johan Cruijff e companhia (i)limitada.

Mas, à medida que amadurecia, a Dinamarca foi assumindo um caráter próprio. E a principal diferença entre os modelos de jogo estava no estilo. Enquanto a Holanda tinha o enfoque na trocação, com passes rápidos e constantes, a Dinamarca era um time que carregava muito bem a bola em velocidade, especialmente com Arnesen, Michael Laudrup, Elkjær e os dois Olsens (Jesper e Morten).

O 3-5-2 da “Dinamáquina” é derivado do “1-3-3-3” do “Futebol Total”. Mas foi a excepcional noção de posicionamento do experiente líbero e capitão Morten Olsen que permitiu o radicalismo tático. Para Piontek, seu time foi o primeiro na Europa a adotar o sistema 3-5-2. “O motivo foi que eu tinha ótimos jogadores de meio de campo. Eram sete ou oito. Mas eu não tinha muitos defensores bons. Naquela época, os adversários jogavam com dois ou apenas um homem no ataque, então por que eu deveria manter quatro atletas na defesa? E, se eles fossem ofensivos, acabariam tendo de correr oitenta metros para a frente e oitenta metros para trás, o que é bem cansativo. Onde se trabalha mais em uma partida de futebol? No meio de campo, que está envolvido no ataque e na defesa. Eu jogava com dois marcadores [Nielsen e Busk] muito fortes, bons pelo ar, e Morten [Olsen] era o terceiro, atrás. Às vezes, ele saía com a bola e, se fosse necessário, alguém do meio de campo recuava. Era um sistema muito bom, e a Alemanha foi campeã mundial usando esse sistema em 1990. Era econômico também. Sempre era possível mudar quem ia para o ataque. Um descansava enquanto o outro descia.”


(Imagem: FourFourTwo)

● Na Eurocopa de 1984, a Dinamarca estreou perdendo para os franceses, donos da casa, por 1 a 0. Em seguida, goleou de forma empolgante a Iugoslávia por 5 a 0 e venceu a Bélgica de virada por 3 a 2. Na semifinal, empatou com a Espanha por 1 a 1 e só perdeu nos pênaltis por 5 a 4.

Poucos acreditavam que o sucesso seria sustentável, especialmente sem Allan Simonsen. Mesmo em seu ocaso, ele era o nome mais famoso, eleito melhor jogador da Europa em 1977 e vencedor de duas Copas da UEFA pelo Borussia Mönchengladbach e de uma Recopa Europeia pelo Barcelona. Simonsen praticamente deixou de jogar em alto nível quando quebrou a perna na primeira partida da Euro 1984.

Mas o time conseguiu ficar ainda melhor. Com apenas 22 anos, o jovem Michael Laudrup já vestia a camisa da Juventus. Mas o principal destaque era Preben Elkjær Larsen, que havia liderado o surpreendente Verona campeão italiano da temporada 1984/85.

Tecnicamente brilhante, a consistência nunca foi o forte da Dinamarca, principalmente pela vulnerabilidade de sua maneira de jogar. Era um risco assumido. Era um time capaz de impor goleadas (5 a 1 na Noruega e 4 a 1 na Irlanda, pelas rodadas finais das eliminatórias para a Copa de 1986) e sofrer outras (6 a 0 para a Holanda e 4 a 0 para a Alemanha Oriental, ambas em amistosos). Na Copa, Piontek não estava disposto a mudar. “No México, devemos atacar, como sempre fizemos”, prometeu e cumpriu.


Sir Alex Ferguson, ao lado do seu auxiliar técnico Walter Smith)

● A Escócia ainda estava de luto pela perda do maior treinador da história do país até então. Jock Stein liderou o Celtic no mítico título da Taça dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) de 1966/67 e ao vice-campeonato de 1969/70. Foi o primeiro time britânico a conquistar o torneio (antes de qualquer clube inglês). Já havia dirigido a seleção escocesa no Mundial de 1982, quando foi eliminado na primeira fase no critério de saldo de gols após perder para o Brasil (4 x 1), empatar com a União Soviética (2 x 2) e vencer a Nova Zelândia (5 x 2). Foi o mais próximo que a “Tartan Army” chegou de passar de fase em uma Copa do Mundo.

Em 10/09/1985, a seleção escocesa jogou contra o País de Gales na casa do adversário, valendo uma vaga na repescagem para a Copa do ano seguinte. Essa partida foi um verdadeiro “teste para cardíacos”. E o coração de Jock Stein foi reprovado nesse teste. Ele teve um infarto fulminante ainda dentro de campo e caiu morto após a partida, aos 62 anos de idade. Com melhor saldo de gols, o empate em 1 a 1 foi suficiente para a Escócia seguir à repescagem – onde eliminou a Austrália.

Depois da morte de Stein, a Escócia passou a ser treinada pelo então auxiliar técnico Alex Ferguson (que se tornaria um dos maiores gênios do banco que o futebol conheceu). Cinco meses e dois dias depois, Ferguson assumiria o comando do Manchester United, onde reinaria por 26 anos ininterruptos.

Mas aquele elenco escocês carecia de talento. Os principais destaques era o experiente trio de meio-campistas: Graeme Souness (líder e capitão), Gordon Strachan e Steve Nicol, além do atacante Steve Archibald (que atuava no Barcelona). O time sentiu muita falta de sua estrela e maior ídolo, Kenny Dalglish, que havia lesionado o joelho antes do torneio.


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


A Escócia atuava no esquema tático 4-4-2 britânico clássico. Na ausência de Kenny Dalglish, Graeme Souness liderava o time.

● O sorteio foi cruel e colocou os vikings realmente à prova. O Grupo C era o “da morte”, com Alemanha Ocidental, Uruguai e Escócia. Os holofotes estavam na força dos alemães e na tradição dos uruguaios. Mas ninguém ousava duvidar do potencial dos vikings.

Sepp Piontek exigia seriedade e concentração dos seus atletas, com preleções táticas de três horas. Já no México, a preparação incluía treinos na altitude com o uso se máscaras de oxigênio, em sessões que chegavam a durar das oito horas da manhã às onze e meia da noite.

Na estreia, frente aos escoceses, a Dinamarca mostrou amplo domínio territorial durante todos os noventa minutos. Porém, faltou tranquilidade e sobrou preciosismo no momento de definir a maioria dos lances.

Michael Laudrup carregou pelo meio, passou por dois marcadores e chutou por cima.

A Escócia respondeu. Após cobrança de escanteio, Richard Gough cabeceou por cima.

Gordon Strachan percebeu a penetração de Gough pelo meio e deixou o lateral na cara do gol. Ele dribla o goleiro Troels Rasmussen, finaliza de esquerda por cima. A Dinamarca deixava brechas defensivas.

Laudrup lançou para Eljkjær na área. O camisa 10 tirou de Leighton, mas perdeu o ângulo na hora do chute, mandando a bola na rede pelo lado de fora.

Charlie Nicholas fez ótima jogada pela esquerda e rolou na meia-lua para Graeme Souness, que chutou rasteiro para fora.

Elkjær recebeu, dominou e finalizou por cima.

Laudrup deixou com Elkjær, que chutou de primeira, à esquerda de Leighton.

E uma partida fácil se tornou tensa.

O solitário gol da vitória dos nórdicos saiu apenas aos doze minutos do segundo tempo. Após uma bela troca de passes simples pelo meio do campo, Frank Arnesen deixou com Elkjær perto da área. Ele driblou um marcador, invadiu a área e finalizou antes da chegada do goleiro Jim Leighton, que saía para fechar o ângulo. A bola tocou na trave antes de tomar o caminho do gol.


(Imagem: Lance!)

● Na sequência, os escoceses perderam para a Alemanha Ocidental (2 a 1) e empataram sem gols com o Uruguai. Foram os últimos colocados do Grupo E, com apenas um ponto. Curiosamente, em oito Copas do Mundo disputadas, a Escócia nunca passou da primeira fase.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram ainda Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final no dia 18 de junho.


(Imagem: Seen Sport Images)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 1 x 0 ESCÓCIA

 

Data: 04/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: Neza 86

Público: 18.000

Cidade: Nezahualcóyotl (México)

Árbitro: Lajos Németh (Hungria)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ESCÓCIA (4-4-2):

1  Troels Rasmussen (G)

1  Jim Leighton (G)

3  Søren Busk

2  Richard Gough

4  Morten Olsen (C)

5  Alex McLeish

5  Ivan Nielsen

6  Willie Miller

15 Frank Arnesen

3  Maurice Malpas

9  Klaus Berggreen

7  Gordon Strachan

12 Jens Jørn Bertelsen

8  Roy Aitken

6  Søren Lerby

4  Graeme Souness (C)

8  Jesper Olsen

13 Steve Nicol

11 Michael Laudrup

19 Charlie Nicholas

10 Preben Elkjær Larsen

20 Paul Sturrock

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: “Sir” Alex Ferguson

 

SUPLENTES:

 

 

16 Ole Qvist (G)

12 Andy Goram (G)

22 Lars Høgh (G)

22 Alan Rough (G)

2  John Sivebæk

14 David Narey

17 Kent Nielsen

15 Arthur Albiston

7  Jan Mølby

10 Jim Bett

13 Per Frimann

11 Paul McStay

20 Jan Bartram

16 Frank McAvennie

21 Henrik Andersen

21 Davie Cooper

14 Allan Simonsen

9  Eamonn Bannon

18 Flemming Christensen

18 Graeme Sharp

19 John Eriksen

17 Steve Archibald

 

GOL: 57′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

 

CARTÃO AMARELO: 84′ Klaus Berggreen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Paul Sturrock (ESC) ↓

Frank McAvennie (ESC) ↑

 

74′ Gordon Strachan (ESC) ↓

Eamonn Bannon (ESC) ↑

 

74′ Frank Arnesen (DIN) ↓

John Sivebæk (DIN) ↑

 

80′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

(Imagem: FourFourTwo)

Melhores momentos da partida (Rede Globo):

Veja o gol da partida desde o início da jogada:

… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia

Três pontos sobre…
… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia


O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)

Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.

Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.

E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.

Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.

Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.

No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.


Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)

● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.

Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.

Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.

Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.

Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.

Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.

Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.

Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.

Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.


Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)

● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.

O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.

Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.

Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.

A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.

Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.

Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.


Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)

“Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo

“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos

Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.

Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.

Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).

Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.


Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

 

Data: 03/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 33.842

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Kim Young-joo (Coreia do Sul)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

5  Alpay Özalan

5  Edmílson

16 Ümit Özat

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

4  Fatih Akyel

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

19 Juninho Paulista

20 Hakan Ünsal

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

11 Ronaldinho Gaúcho

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

22 Ümit Davala

16 Júnior

18 Ergün Penbe

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

15 Kléberson

13 Muzzy Izzet

7  Ricardinho

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

20 Edílson

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOLS:

45+2′ Hasan Şaş (TUR)

50′ Ronaldo (BRA)

87′ Rivaldo (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Fatih Akyel (TUR)

24′ Hakan Ünsal (TUR)

44′ Alpay Özalan (TUR)

73′ Denílson (BRA)

 

CARTÕES VERMELHOS:

86′ Alpay Özalan (TUR)

90+4′ Hakan Ünsal (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Bülent Korkmaz (TUR) ↓

Ümit Davala (TUR) ↑

 

66′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

67′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

72′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Vampeta (BRA) ↑

 

73′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

88′ Tugay Kerimoğlu (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

(Imagem: Getty Images)

Reportagem sobre a partida (SporTV):

Melhores momentos da partida:

Partida completa:

… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria


(Imagem: World Cup Archive)

● A Hungria é detentora de feitos históricos no futebol, tendo como maior destaque os vice-campeonatos nas Copas do Mundo de 1938 e 1954. É a maior vencedora da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas de ouro (1952, 1964 e 1968), uma de prata (1972) e uma de bronze (1960). Aplicou as duas maiores goleadas da história das Copas do Mundo: 10 x 1 sobre El Salvador em 1982 e 9 x 0 sobre a Coreia do Sul em 1954.

Mas esse histórico não tem a força que tinha antes e a Hungria não disputa uma Copa do Mundo desde 1986. O Mundial do México, inclusive, foi palco de um dos maiores vexames dos magiares nos gramados. Principalmente a estreia, que foi mesmo para ser esquecida.


(Imagem: Futebol Comunista)

● A Hungria havia sido eliminada na primeira fase em 1978 e 1982. Sofria com o dilema sobre como adaptar seu tradicional estilo refinado de jogo a um futebol cada vez mais físico, com mais estatura e velocidade. E em 1983, György Mezey assumiu o comando técnico da seleção. Os resultados melhoraram de imediato. E, aos poucos, o treinador foi renovando quase toda a equipe.

O grande destaque era o jovem meia Lajos Détári. Preciso nos passes e lançamentos longos, era apelidado de “Platini húngaro”. Era o principal responsável por municiar o veloz ponta direita József Kiprich e o centroavante Márton Esterházy, que se movimentava por todo o setor.

Nas eliminatórias, passou com tranquilidade em um grupo difícil: Holanda (de Gullit, Van Basten, Rijkaard e Ronald Koeman), a eterna rival Áustria e o fraco Chipre. Depois, mostrou sua força também nos jogos amistosos, nas vitórias sobre Alemanha Ocidental (1 x 0 em Hamburgo), País de Gales (3 x 0 em Cardiff) e Brasil (3 x 0 em Budapeste). A Hungria tinha um time encaixado e jogava bonito como não se via desde 1954. Por tudo isso, chegou ao México cotada como surpresa da Copa, com potencial para chegar longe.

A URSS chegava ao México com uma mudança importante no comando técnico. Eduard Malofeyev (que fez história levando o Dinamo Minsk ao título soviético) o deu lugar a Valeriy Lobanovs’kyi. O novo técnico apostou na base do Dínamo de Kiev, time que treinava e havia se sagrado campeão da Recopa Europeia naquela temporada recém finalizada. Dos 22 atletas convocados, 11 pertenciam ao clube ucraniano. Curiosamente, Kiev fica a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que havia sofrido um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do início da Copa de 1986. Era um time coeso, mas sem muito brilho individual.


A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● Desde o início, os soviéticos atropelaram. Logo no segundo minuto, Aleksandr Zavarov cobrou falta, a defesa se atrapalhou com a bola e Pavel Yakovenko chutou no canto. Placar aberto: 1 a 0 para a URSS.

Dois minutos depois, Sergey Aleynikov tabelou com Igor Belanov, que fez o pivô e devolveu para Aleynikov disparar no ângulo, sem chances para o goleiro.

Aos 24′, Zavarov avançou e sofreu pênalti. O craque Belanov cobrou forte e alto, no meio do gol.

O marcador foi ampliado aos 21 minutos do segundo tempo. Yakovenko avançou pelo meio e lançou Ivan Yaremchuk na área. O meia driblou o goleiro Péter Disztl e tocou para as redes. Não perca a conta: 4 a 0.

Aos 30, Yaremchuk fez o segundo. Ele tabelou com Belanov e chutou prensado com um zagueiro. A bola saiu do alcance do goleiro e tocou na trave antes de entrar.

O placar de 6 a 0 foi fechado aos 35′. Aleynikov avançou sem marcação e Disztl saiu para dividir a jogada. A bola sobrou para Rodionov tocar para dentro.

Durante todo o tempo, a URSS demonstrou uma excepcional organização tática e surpreendente resistência física. Os soviéticos desperdiçaram inúmeras oportunidades claras.

Os húngaros estavam tão perdidos em campo, que só não sofreram mais gols porque Belanov cobrou um pênalti por cima quando o jogo já estava 5 a 0. Foram falhas individuais gritantes, especialmente no setor defensivo. O zagueiro Antal Róth, inclusive, foi substituído antes dos 15 minutos. O time sentiu muito a falta de seu capitão, o experiente meia Tibor Nyilasi, que teve que se submeter a uma cirurgia na coluna, em março e ficou fora do Mundial.

Em noventa minutos, a Hungria despencou de candidata a surpresa para maior decepção da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Essa partida foi fonte de várias piadas prontas, como “clássico comunista”, “goleada atômica” e até os dizeres que os soviéticos estavam “dopados com radiação”.

Essa foi a maior goleada do torneio. E foi bastante dolorosa, pois não foi para um adversário qualquer. Foi justamente para a União Soviética, líder do bloco comunista, conhecido como “Cortina de Ferro”. O regime cairia no país do leste europeu no dia 23 de outubro de 1989. Mas, naquele ano de 1986, completavam-se três décadas da invasão soviética que sufocou o levante político húngaro de 1956, com consequências eternas em âmbitos político, social, econômico e esportivo.

A União Soviética terminou a primeira fase como líder do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Os soviéticos eram favoritos nas oitavas de final, mas perderam para a Bélgica por 4 x 3 na prorrogação – na qual foram claramente prejudicados pela arbitragem em dois lances cruciais.

Após a derrota para os soviéticos, mesmo jogando de forma displicente, a Hungria venceu o Canadá por 2 x 0 e perdeu para a França por 3 x 0. Com dois pontos, ficou em terceiro lugar no Grupo. Foi eliminada na primeira fase. Perdeu a vaga nas oitavas de final no saldo de gols, bastante prejudicado pela goleada sofrida na estreia.

Esse foi o fiasco húngaro em sua última participação em Copas do Mundo. Com o passar do tempo, o futebol do país foi se enfraquecendo e perdendo a força e o respeito que tinha em todo o mundo. Ficam as histórias, que parecem cada vez mais pertencer a um passado muito distante.


(Imagem: YouTube)

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 6 X 0 HUNGRIA

 

Data: 02/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Irapuato (atual Estadio Sergio León Chávez)

Público: 16.500

Cidade: Irapuato (México)

Árbitro: Luigi Agnolin (Itália)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-5-1):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Rinat Dasayev (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Vladimir Bessonov

2  Sándor Sallai

10 Oleg Kuznetsov

3  Antal Róth

15 Nikolay Larionov

6  Imre Garaba

5  Anatoliy Dem’yanenko (C)

14 Zoltán Péter

21 Vasiliy Rats

5  József Kardos

20 Sergey Aleynikov

8  Antal Nagy (C)

7  Ivan Yaremchuk

10 Lajos Détári

8  Pavel Yakovenko

19 György Bognár

9  Aleksandr Zavarov

7  József Kiprich

19 Igor Belanov

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Valeriy Lobanovs’kyi

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

16 Viktor Chanov (G)

18 József Szendrei (G)

22 Sergey Krakovs’kyi (G)

22 József Andrusch (G)

3  Aleksandr Chivadze

4  József Varga

4  Gennady Morozov

12 József Csuhay

6  Aleksandr Bubnov

13 László Disztl

12 Andriy Bal

9  László Dajka

13 Gennadiy Litovchenko

15 Péter Hannich

17 Vadim Yevtushenko

16 József Nagy

14 Sergey Rodionov

17 Győző Burcsa

18 Oleg Protasov

21 Gyula Hajszán

11 Oleg Blokhin

20 Kálmán Kovács

 

GOLS:

2′ Pavel Yakovenko (URSS)

4′ Sergey Aleynikov (URSS)

24′ Igor Belanov (URSS) (pen)

66′ Ivan Yaremchuk (URSS)

73′ László Dajka (URSS) (gol contra)

80′ Sergey Rodionov (URSS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

13′ Antal Róth (HUN) ↓

Győző Burcsa (HUN) ↑

 

62′ Zoltán Péter (HUN) ↓

László Dajka (HUN) ↑

72′ Pavel Yakovenko (URSS) ↓

Vadim Yevtushenko (URSS) ↑

 

69′ Igor Belanov (URSS) ↓

Sergey Rodionov (URSS) ↑

Melhores momentos:

Partida completa:

… Tottenham 0 x 2 Liverpool

Três pontos sobre…
… Tottenham 0 x 2 Liverpool


(Imagem: Matthias Hangst / Getty Images)

● Camisa pesada ganha jogo, sim.

O Liverpool era favorito não apenas por isso, mas pela grande evolução desde a chegada do técnico Jürgen Klopp. É um time com grande organização no sistema defensivo, com a parede Alisson Becker e o intransponível Virgil van Dijk. Nas laterais, dois dos maiores assistentes da temporada europeia: Trent Alexander-Arnold e Andrew Robertson. No meio, um trio homogêneo, “box-to-box”, com o capitão Jordan Henderson, Fabinho e Georginio Wijnaldum. E um ataque veloz e infernal, com Bobby Firmino, Sadio Mané e, especialmente, Mohamed Salah.

Sem o dinheiro e o status do Liverpool, o Tottenham também é um excelente time. Gastando muito na construção de seu estádio, os Spurs não contrataram ninguém nas duas últimas janelas de transferência. Juntamente com o semifinalista Ajax, é um exemplo para os times com menos dinheiro, provando que não é necessário sair gastando para ter seus momentos de sucesso (ouviram, PSG e Man City?!). O capitão Hugo Lloris, campeão do mundo pela França, é um dos goleiros mais regulares atualmente. A zaga belga raramente compromete e os laterais são sólidos e ofensivos. No meio, Harry Winks estava voltando de contusão e não foi bem, assim como Dele Alli e Harry Keane. Christian Eriksen ficou apagado no primeiro tempo e só acordou no segundo. O desafogo do time eram as arrancadas de Son Heung-min, como foi durante vários momentos da temporada. Em minha opinião, talvez Son seja o melhor jogador asiático da história – e com potencial para mais.


Mauricio Pochettino escalou sua boa equipe no 4-2-3-1, com os retornos de Winks, Dele Alli e Keane, mas o time não rendeu como esperado.


O Liverpool jogou no seu tradicional 4-3-3, com destaque para a velocidade do trio de frente.

● Foi Sadio Mané quem começou a aprontar, logo aos 22 segundos de partida. Ele tentou o cruzamento para a área e a bola tocou no ombro/peito de Sissoko e resvalou no braço aberto. Pênalti marcado por Damir Skomina, que o VAR não ousou intrometer por ser lance interpretativo. Para mim, pênalti mal marcado. Sissoko não interferiu na trajetória da bola com a mão. A bola só bateu no braço dele após ser tocada pelo peito.

Mohamed Salah não tinha nada a ver com isso, cobrou e converteu a penalidade. Se na final da temporada anterior o egípcio se lesionou e não conseguiu ser decisivo no melhor momento de sua carreira, agora foi o responsável por colocar sua equipe na dianteira do placar antes que o relógio desse duas voltas.

O gol relâmpago condicionou todo o jogo. Nervoso em demasia, o Tottenham não conseguia criar chances. Os Reds subiam as linhas e marcavam no campo adversário.

Ainda na etapa inicial, teve brecha até para uma “peladona” invadir o campo. Ela é Kinsey Wolanski (@kinsey_sue), namorada de Vitaly Zdorovetskiy, o cara que invadiu a final da Copa do Mundo de 2014 e dono do site “Vitaly Uncensored”, que faz pegadinhas e piadas com teor sexista e sem pudor algum.


Mo Salah abriu o placar de pênalti (Imagem: Matthias Hangst / Getty Images)

● Voltando ao futebol (que poderia ter sido melhor), no segundo tempo, o Tottenham melhorou, atacou, teve chances, mas parou em Alisson. O goleiro brasileiro pegou tudo e frustrou os Spurs. Lucas Moura entrou no meio do segundo tempo e não teve a mesma estrela da semifinal. Na única chance que teve, chutou fraco, no meio do gol e Alisson defendeu.

Nos últimos lances da partida, quando os Spurs até pareciam mais próximos do empate, Divock Origi aproveira uma sobra de um escanteio e bate cruzado de esquerda, no cantinho de Lloris. 2 a 0 e jogo liquidado.

No fim, festa da maravilhosa torcida do Liverpool, que cantou e emocionou novamente ao som de “You’ll Never Walk Alone”, clássico dos Beatles.


O quase sempre sortudo Origi chutou cruzado e fez o segundo dos Reds (Imagem: Laurence Griffiths / Getty Images)

● O Liverpool é merecidamente o campeão da UEFA Champions League. O título que tão dolorosamente lhe escapou no ano passado, agora foi conquistado. Em sua terceira tentativa, Jürgen Klopp vence a “Orelhuda”. E Jordan Henderson repete o gesto de Steven Gerrard e levanta a taça quatorze anos depois.

Com seis títulos, agora o Liverpool é isolado o terceiro maior vencedor da Champions. Fica atrás apenas de Real Madrid (13) e Milan (7). E o melhor é que esse time, com esse elenco e podendo ser reforçado, tem fôlego para mais. E uma camisa pesadíssima.

Mas, repito: a final foi condicionada por um pênalti polêmico em lance interpretativo.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

TOTTENHAM HOTSPUR F.C. 0 x 2 LIVERPOOL F.C.

 

Data: 01/06/2019

Horário: 21h00 locais

Estádio: Wanda Metropolitano

Público: 63.272

Cidade: Madri (Espanha)

Árbitro: Damir Skomina (Eslovênia)

 

TOTTENHAM (4-2-3-1):

LIVERPOOL (4-3-3):

1  Hugo Lloris (G)(C)

13 Alisson Becker (G)

2  Kieran Trippier

66 Trent Alexander-Arnold

4  Toby Alderweireld

32 Joël Matip

5  Jan Vertonghen

4  Virgil van Dijk

3  Danny Rose

26 Andrew Robertson

17 Moussa Sissoko

14 Jordan Henderson (C)

8  Harry Winks

3  Fabinho

23 Christian Eriksen

5  Georginio Wijnaldum

20 Dele Alli

11 Mohamed Salah

7  Son Heung-min

9  Roberto Firmino

10 Harry Kane

10 Sadio Mané

 

Técnico: Mauricio Pochettino

Técnico: Jürgen Klopp

 

SUPLENTES:

 

 

22 Paulo Gazzaniga (G)

22 Simon Mignolet (G)

13 Michel Vorm (G)

62 Caoimhin Kelleher (G)

24 Serge Aurier

12 Joe Gomez

16 Kyle Walker-Peters

6  Dejan Lovren

6  Davinson Sánchez

18 Alberto Moreno

21 Juan Foyth

7  James Milner

33 Ben Davies

20 Adam Lallana

15 Eric Dier

23 Xherdan Shaqiri

12 Victor Wanyama

21 Alex Oxlade-Chamberlain

11 Erik Lamela

24 Rhian Brewster

27 Lucas Moura

15 Daniel Sturridge

18 Fernando Llorente

27 Divock Origi

 

GOLS:

2′ Mohamed Salah (LIV)

87′ Divock Origi (LIV)

 

SUBSTITUIÇÕES:

58′ Roberto Firmino (LIV) ↓

Divock Origi (LIV) ↑

 

62′ Georginio Wijnaldum (LIV) ↓

James Milner (LIV) ↑

 

66′ Harry Winks (TOT) ↓

Lucas Moura (TOT) ↑

 

74′ Moussa Sissoko (TOT) ↓

Eric Dier (TOT) ↑

 

82′ Dele Alli (TOT) ↓

Fernando Llorente (TOT) ↑

 

90′ Sadio Mané (LIV) ↓

Joe Gomez (LIV) ↑

Primeiro gol:

 

Segundo gol:

… 01/06/2002 – Dinamarca 2 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Dinamarca 2 x 1 Uruguai


Darío Rodríguez marcou um golaço (Imagem: Reuters)

● Na abertura da Copa do Mundo de 2002 e primeira partida do Grupo A, Senegal surpreendeu a França e venceu por 1 a 0.

No segundo jogo da chave, Dinamarca e Uruguai se enfrentaram no dia 1º de junho em Ulsan.

Internamente, os jogadores da Celeste Olímpica queriam vingança pela derrota por 6 a 1 na Copa de 1986. Aquele massacre sofrido ainda estava entalado na garganta.

Bicampeões, os uruguaios estavam ausentes de um Mundial desde 1990. Por isso, não foi cabeça de chave e caiu em um grupo difícil.

Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil.


O técnico Morten Olsen armava seu time no 4-4-2, com muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.


Víctor Púa armava o Uruguai no sistema 4-4-2 em losango, com liberdade para Álvaro Recoba circular e criar.

● Foi uma partida de muito equilíbrio, onde as duas equipes se alternavam no ataque.

As maiores armas dos charruas eram a visão de jogo e a bola parada de Álvaro Recoba, além da velocidade de Darío Silva. Os vikings apostavam mais nos cruzamentos para a área.

A primeira chance foi dos europeus. Aos seis minutos, Dennis Rommedahl arriscou de longe, mas para fora.

No minuto seguinte, Recoba cobrou falta pelo lado direito e a bola passou rente à trave, assustando o ótimo goleiro Thomas Sørensen.

O jogo era “lá e cá”. Aos 11′, a bola veio da direita, Ebbe Sand desviou e a bola bateu na trave.

Aos 39, Recoba – fonte da inspiração Celeste – fez boa jogada e cruzou para Silva, que cabeceou. A bola iria em direção ao gol, mas a zaga tirou.

O lance seguiu e Gustavo Méndez segurou Tomasson na área. Pênalti ignorado pelo árbitro Saad Mane, do Kuwait.

No finzinho da etapa inicial, Jesper Grønkjær e Jon Dahl Tomasson tabelaram pelo alto. O camisa 8, nascido na Groenlândia, recebeu na esquerda e cruzou rasteiro. Na risca da área, Tomasson se antecipou à marcação e finalizou de primeira para abrir o placar.

A Dinamarca teve apenas o intervalo para comemorar. Logo no reinício, aos dois minutos, Recoba cobrou escanteio e a zaga rebateu. Pablo García aproveitou a sobra na meia-lua, fez embaixadinhas e tocou no alto para Darío Rodríguez. Sem deixar a bola cair, o camisa 6 emendou de primeira e mandou um foguete com efeito, no ângulo de Sørensen. Um golaço! Talvez o mais bonito da Copa de 2002.

O gol encheu os uruguaios de esperança. Aos 19, Recoba chutou de longe, mas o goleiro defendeu.

Os dinamarqueses tinham mais posse de bola no campo ofensivo, mas não conseguiam finalizar.

Mas, a sete minutos do fim, Martin Jørgensen roubou a bola na saída de jogo do Uruguai e cruzou da esquerda. Tomasson apareceu entre os zagueiros e cabeceou firme. A bola ainda bateu no travessão antes de entrar, sem chance de defesa para o goleiro Fabián Carini. Jon Dahl Tomasson foi mais que decisivo na vitória dos nórdicos.


(Imagem: Pinterest)

● Nos jogos seguintes, o Uruguai empatou com a França por 0 a 0 e com Senegal por 3 a 3, sendo eliminado ainda na primeira fase.

A Dinamarca empatou com Senegal por 1 x 1 e venceu a França (com um combalido Zinédine Zidane) por 2 x 0. Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.


(Imagem: Reuters)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 1 URUGUAI

 

Data: 01/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 30.157

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Saad Mane (Kuwait)

 

DINAMARCA (4-4-2):

URUGUAI (4-4-2):

1  Thomas Sørensen (G)

1  Fabián Carini (G)

6  Thomas Helveg

2  Gustavo Méndez

4  Martin Laursen

14 Gonzalo Sorondo

3  René Henriksen

4  Paolo Montero (C)

5  Jan Heintze (C)

6  Darío Rodríguez

2  Stig Tøfting

5  Pablo García

7  Thomas Gravesen

8  Gustavo Varela

8  Jesper Grønkjær

7  Gianni Guigou

19 Dennis Rommedahl

20 Álvaro Recoba

9  Jon Dahl Tomasson

9  Darío Silva

11 Ebbe Sand

13 Sebastián “Loco” Abreu

 

Técnico: Morten Olsen

Técnico: Víctor Púa

 

SUPLENTES:

 

 

16 Peter Kjær (G)

12 Gustavo Munúa (G)

22 Jesper Christiansen (G)

23 Federico Elduayen (G)

20 Kasper Bøgelund

3  Alejandro Lembo

13 Steven Lustü

19 Joe Bizera

12 Niclas Jensen

22 Gonzalo de los Santos

17 Christian Poulsen

16 Marcelo Romero

23 Brian Steen Nielsen

10 Fabián O’Neill

15 Jan Michaelsen

17 Mario Regueiro

14 Claus Jensen

15 Nicolás Olivera

10 Martin Jørgensen

21 Diego Forlán

21 Peter Madsen

11 Federico Magallanes

18 Peter Løvenkrands

18 Richard Morales

 

GOLS:

45′ Jon Dahl Tomasson (DIN)

47′ Darío Rodríguez (URU)

83′ Jon Dahl Tomasson (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Gustavo Méndez (URU)

34′ Jan Heintze (DIN)

51′ Martin Laursen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

58′ Jan Heintze (DIN) ↓

Niclas Jensen (DIN) ↑

 

70′ Jesper Grønkjær (DIN) ↓

Martin Jørgensen (DIN) ↑

 

80′ Álvaro Recoba (URU) ↓

Mario Regueiro (URU) ↑

 

87′ Darío Rodríguez (URU) ↓

Federico Magallanes (URU) ↑

 

88′ Sebastián “Loco” Abreu (URU) ↓

Richard Morales (URU) ↑

 

89′ Ebbe Sand (DIN) ↓

Christian Poulsen (DIN) ↑

Darío Silva, entre Ebbe Sand e Stig Tøfting (Imagem: Reuters)

Melhores momentos da partida:

… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Esses dois vizinhos do centro da Europa foram um só país de 1867 a 1918, o Império Austro-Húngaro. A separação só ocorreu após o término da Primeira Guerra Mundial. Mas, futebolisticamente, elas sempre tiveram suas respectivas seleções.

Culturalmente, sempre foram muito semelhantes. As evoluções táticas ocorreram quase simultaneamente, assim como o aprimoramento no jogo de troca de passes ao invés de um estilo mais físico.

Mas a rivalidade era enorme de lado a lado e foi posta à prova nas quartas de final da Copa do Mundo de 1934.


Ambas equipes jogavam em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Nenhum dos times economizou na virilidade e na violência.

Nos poucos momentos sem pancadaria, a Áustria fez dois gols, cada um no começo de cada etapa.

O capitão Johann Horvath abriu o placar aos oito minutos do primeiro e o ponta Karl Zischek aumentou aos seis do segundo tempo.

A Hungria tentou reagir e descontou. Aos 15′, György Sárosi cobrou pênalti e converteu.

Mas, em seguida, o ponta direita Imre Markos foi expulso após uma jogada violenta. Essa foi a única expulsão da Copa de 1934.

Com um a menos, a Hungria não teve forças para empatar a partida.


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Na fase anterior, de oitavas de final, a Hungria havia vencido o Egito por 4 a 2. O atacante “Doctor” György Sárosi não esteve presente nesse jogo. Ele trabalhava em um escritório de advocacia e precisou adiar sua chegada à Itália devido a um compromisso de trabalho. Sárosi seria um dos principais destaques na campanha da Hungria no vice-campeonato da Copa do Mundo de 1938.

A Áustria, que havia precisado da primeira prorrogação da história das Copas para despachar a França por 3 x 2 na partida anterior, agora estava nas semifinais. Enfrentaria a anfitriã Itália, que precisou de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Littoriale (atual Estádio Renato Dall’Ara)

Público: 23.000

Cidade: Bolonha (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Antal Szabó (G)

Franz Cisar

József Vágó

Karl Sesta

László Sternberg (C)

Franz Wagner

István Palotás

Josef Smistik

György Szűcs

Johann Urbanek

Antal Szalay

Karl Zischek

Imre Markos

Josef Bican

István Avar

Matthias Sindelar

György Sárosi

Johann Horvath (C)

Géza Toldi

Rudolf Viertl

Tibor Kemény

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: Ödön Nádas

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

József Háda (G)

Rudolf Raftl (G)

Sándor Bíró

Anton Janda

Gyula Futó

Willibald Schmaus

Gyula Polgár

Leopold Hofmann

Gyula Lázár

Josef Hassmann

János Dudás

Matthias Kaburek

Rezső Somlai

Josef Stroh

István Tamássy

Hans Walzhofer

Jenő Vincze

Anton Schall

Pál Teleki

Georg Braun

Gábor Péter Szabó

 

GOLS:

8′ Johann Horvath (AUT)

51′ Karl Zischek (AUT)

60′ György Sárosi (HUN) (pen)

 

EXPULSÃO: 63′ Imre Markos (HUN)

Imagens da partida:

… 30/05/1962 – Uruguai 2 x 1 Colômbia

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Uruguai 2 x 1 Colômbia


(Imagem: Fútbol Red)

● Atualmente estamos acostumados aos sorteios dirigidos que a FIFA faz para determinar os grupos da primeira fase das Copas do Mundo. Uma das regras é evitar que caiam mais de uma equipe do mesmo continente no mesmo grupo. Não era assim em 1962. Tanto, que os sul-americanos Uruguai e Colômbia foram sorteados para se enfrentarem logo de cara, em partida válida pelo Grupo 1.

O Uruguai voltava à disputa de um Mundial, após ter ficado de fora em 1958, quando caiu para o Paraguai nas eliminatórias. A experiência pelos dois títulos anteriores (1930 e 1950) e o confronto direto davam um enorme favoritismo diante da Colômbia.

Os cafeteros estreavam em Copas do Mundo. Eliminaram o Peru na fase classificatória. Curiosamente, a cidade escolhida para sede do grupo foi Arica, no norte do Chile, justamente por ser próxima ao Peru. Os organizadores tinham certeza da classificação peruana, mas a Colômbia “estragou” o planejamento feito.

Com isso, apenas 7.908 pessoas assistiram o confronto no estádio Carlos Dittborn. Segundo a imprensa, o alto preço dos ingressos foi o principal responsável pelo baixo público – composto em sua maioria por chilenos e peruanos.


Os dois times atuavam no sistema tático 4-2-4.

● Desde aquela época, o futebol colombiano era baseado mais na técnica do que na força física e velocidade. E os abusados estreantes foram melhores no primeiro tempo, com mais posse de bola e boas trocas de passe. E mereceram abrir o placar.

Com 19 minutos jogados, o capitão Francisco “Cobo” Zuluaga abriu o placar cobrando pênalti. Bola à meia altura, no canto esquerdo, deslocando o goleiro Roberto Sosa.

A Colômbia ainda teve chances para ampliar o marcador. No fim do primeiro tempo, Marcos Coll acertou a trave. O Uruguai não conseguia criar chances.

Na etapa final, a Celeste (que naquele dia jogou de vermelho) se agigantou. Aos 11′, o craque Luis Cubilla dominou dentro da área e cruzou rasteiro para o centroavante José Sasía só completar para o fundo da rede do goleiro Efraín “Caimán” Sánchez.

Minutos depois, após uma cobrança de escanteio, Sasía atingiu as costas de Zuluaga e lhe quebrou três costelas. Sem condições de jogo, ele teve que sair do jogo. Com isso, a Colômbia perdia não apenas um atleta, mas o seu capitão, que dava as ordens dentro de campo.

Para piorar, Delio “Maravilla” Gamboa também se lesionou e precisou sair. Como não haviam substituições à época, o time colombiano ficou com nove homens em campo. Com dois a menos, era difícil que os cafeteros segurassem o ímpeto charrua. Era uma luta desigual. Foi muito duro para eles perderem seu capitão e sua maior estrela.

E a inevitável virada ocorreu aos 30. O jovem Pedro Rocha (futuro ídolo do São Paulo FC), de apenas 19 anos, recebeu dentro da área e rolou para Cubilla dominar e bater cruzado e fechar o placar.


(Imagem: FIFA)

“Estivemos bem. Perdemos para a experiência do qualificado rival, que cresceu no segundo tempo.” — Delio “Maravilla” Gamboa, centroavante colombiano.

“Pagamos o preço pela primeira participação em um Mundial. Tivemos uma boa equipe, que perdeu por nervosismo e falta de experiência.” — Adolfo Pedernera, técnico argentino que dirigiu a Colômbia (e foi um excepcional jogador na década de 1940).

Embora decepcionados pela forma como perderam, os colombianos ainda protagonizaram um elétrico empate por 4 a 4 com os soviéticos na rodada seguinte. Só decepcionaram mesmo ao se despedirem do torneio sofrendo uma goleada por 5 a 0 para os iugoslavos. Ainda assim, na chegada à Bogotá, o público fez festa para receber “los pioneros”.

O Uruguai também decepcionou e caiu na primeira fase. Nos jogos seguintes, perdeu para a Iugoslávia por 3 x 1 e para a União Soviética por 2 x 1.


(Imagem: Jornal “El Tiempo”)

 

FICHA TÉCNICA:

 

URUGUAI 2 x 1 COLÔMBIA

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Carlos Dittborn

Público: 7.908

Cidade: Arica (Chile)

Árbitro: Andor Dorogi (Hungria)

 

URUGUAI (4-2-4):

COLÔMBIA (4-2-4):

1  Roberto Sosa (G)

1  Efraín Sánchez (G)

4  Omar Méndez

3  Francisco Zuluaga (C)

2  Horacio Troche (C)

8  Hector Echeverri

3  Emilio Álvarez

5  Jaime González

18 Eliseo Álvarez

11 Óscar López

5  Néstor Gonçalves

9  Jaime Silva

19 Ronald Langón

13 Germán Aceros

11 Luis Cubilla

15 Marcos Coll

9  José Sasía

17 Marino Klinger

10 Pedro Rocha

19 Delio Gamboa

7  Domingo Pérez

22 Jairo Arias

 

Técnico: Juan Carlos Corazzo

Técnico: Adolfo Pedernera

 

SUPLENTES:

 

 

12 Luis Maidana (G)

2  Adelmo Vivas (G)

14 William Martínez

4  Aníbal Alzate

15 Rubén Soria

6  Ignacio Calle

17 Rubén González

7  Carlos Aponte

20 Mario Bergara

16 Ignacio Pérez

6  Pedro Cubilla

10 Rolando Serrano

8  Julio César Cortés

12 Hernando Tovar

16 Edgardo González

14 Luis Paz

21 Héctor Silva

18 Eusebio Escobar

22 Ángel Cabrera

20 Antonio Rada

23 Guillermo Escalada

21 Héctor González

 

GOLS:

19′ Francisco Zuluaga (COL) (pen)

56′ José Sasía (URU)

75′ Luis Cubilla (URU)

Alguns lances da partida:

… 29/05/1919 – Brasil 1 x 0 Uruguai

Três pontos sobre…
… 29/05/1919 – Brasil 1 x 0 Uruguai


Em pé: Píndaro, Sérgio, Marcos, Fortes, Bianco e Amílcar. Agachados: Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo. (Imagem: O Malho)

● O Brasil foi a sede da terceira edição do Campeonato Sul-Americano de futebol (atual Copa América). Esse foi o ponto chave de inclusão da massa no futebol brasileiro. E um simples esporte, um relés jogo de bola mudou para sempre o jeito de ser do brasileiro, representando a inclusão do povão em uma modalidade antes reservada às elites. E, desde então, os governantes perceberam o poder do futebol e passaram a capitalizar sobre suas vitórias. Era a já centenária política de “pão e circo”.

Antes de tudo, é necessário tentar compreender um pouco de como era o Brasil cem anos atrás. Era um país bem menos igualitário, em que o poder da elite predominava sobre as massas ainda mais do que é hoje em dia. Uma nação sem identidade, que era conduzida com mãos de ferro por barões e coronéis. A Lei Áurea havia sido assinada há pouco mais de trinta anos. Os negros, mestiços e pobres não tinham “direito” de praticar o futebol.

Até o fim da década de 1910, para praticar o esporte sem ser malvisto era preciso estudar ou trabalhar. Via de regra, os treinos aconteciam após o expediente ou em dias de folga, tendo como objetivo se preparar para o jogo do final de semana. Os “atletas” geralmente trabalhavam em firmas estrangeiras ou faziam faculdade. Nunca se imaginava que alguém poderia ganhar a vida com isso, receber exclusivamente para praticar futebol.

Pouco a pouco, a paixão pela bola foi se espalhando pelas periferias e atingiu o grande público. E o povão foi levando jeito para a coisa. Com o tempo, os clubes elitistas acabaram abrindo as portas para os brancos pobres e, depois, para os mulatos e negros. O importante já passava a ser fortalecer o time. Era o início das rivalidades locais, hoje tão enraizadas.


(Imagem: CBF)

● O Campeonato Sul-Americano de 1919 estava marcado para acontecer em 1918, no Rio de Janeiro. Mas uma devastadora epidemia de gripe espanhola obrigou o adiamento da competição. O vírus foi responsável por milhares de mortes no Brasil e cerca de 40 milhões em todo o mundo. Escolas e comércio foram fechados para diminuir o contágio. Relatos da época contam que os caminhões da Saúde Pública percorriam as ruas das cidades para recolher corpos deixados às portas das casas. Mas, felizmente, a partir de 1919, o Brasil foi totalmente infestado por outro vírus: o do futebol.

Situado no Rio de Janeiro, então capital federal, o estádio das Laranjeiras, propriedade do Fluminense FC, foi construído para ser palco do Campeonato Sul-Americano. Era o maior estádio da América Latina, mas pequeno diante do surpreendente interesse do público pela competição.

Foi inaugurado em 11/05/1919, na abertura do campeonato, quando o Brasil goleou o Chile por 6 x 0, com um hat-trick de Friedenreich, dois gols de Neco e um de Haroldo.

Uma semana depois, a Seleção venceu a Argentina por 3 x 1, com gols de Heitor, Amílcar e Millon.

Na última rodada, dia 26, o Brasil enfrentou o Uruguai e empatou por 2 x 2, após sair perdendo por 2 a 0. Neco fez os dois gols brasileiros.

Com isso, Brasil e Uruguai terminaram o campeonato empatados com cinco pontos (duas vitórias e um empate). Os charruas haviam vencido a Argentina por 3 a 2 e o Chile por 2 a 0. Assim, precisariam disputar um jogo desempate três dias depois.

O time uruguaio era a mesma base que havia vencido os dois primeiros Sul-Americanos e era grande favorito para vencer o terceiro. As futuras medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, além do título da primeira Copa do Mundo, em 1930, foram frutos colhidos pelo espírito de competitividade e pela organização uruguaia desde os primórdios. E o símbolo dessa transição vitoriosa era Héctor Scarone, um jovem de 20 anos naquele longínquo 1919 e um dos veteranos em 1930.


(Imagem: CBF)

● No dia 29/05/1919, em plena quinta-feira à tarde, o Rio parou. Por ordem de Delfim Moreira, presidente da República, as repartições públicas tiveram ponto facultativo e o comércio fechou suas portas ao meio-dia. Os bancos nem abriram.

Mesmo tendo capacidade para “apenas” 18 mil expectadores, o público oficial da decisão foi de mais de 28 mil – uma superlotação que se tornaria costumeira. Mas o desejo de assistir à final era tão grande, que quem não conseguiu adquirir seu ingresso escalou o morro vizinho e acompanhou a partida de lá mesmo. Naquele momento, começou-se algo que se tornaria também a marca do nosso povo: o “jeitinho brasileiro”.

Outra coisa marcante também e, até então inédita, foi a mistura do povo simples com os endinheirados. Agora, choravam e sorriam juntos, se abraçavam… começando a quebrar preconceitos. Era a democratização do futebol. E, paradoxalmente, o futebol sendo usado para democratizar. O esporte elitizado pelos ricos e brancos, passava a fazer parte da vida dos menos favorecidos. E todos unidos em dois objetivos: torcer para seu país e ser hostil aos rivais. O brasileiro queria a taça a qualquer custo para mostrar seu valor – nem que fosse através do futebol.

Os cavalheiros vestiam terno com gravata (na maioria borboleta) e chapéus – que, na comemoração dos gols, voavam das arquibancadas. As damas usavam vestidos bordados de seda e luvas, que no auge da aflição eram tiradas e torcidas a cada perigo de gol. Vem daí a origem do verbo “torcer” no esporte.

Houve uma espécie de catarse coletiva que envolveu toda a população. No decorrer das partidas, os ânimos ficavam exaltados e o futebol ganhava contornos de paixão. Na tentativa de evitar maiores problemas, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que depois se tornaria a CBF) pediu para que o policiamento no estádio fosse reforçado, evitando invasões ao campo.


Tanto Brasil quanto Uruguai jogavam no tradicional sistema tático clássico, 2-3-5 ou pirâmide.

● O início da partida foi um verdadeiro jogo de xadrez. A preocupação inicial das duas equipes era não sofrer gols. Tanto, que nenhuma grande chance foi criada no primeiro tempo e os goleiros foram meros expectadores.

Mas tudo mudou na segunda etapa. Com o cansaço dos atletas, as oportunidades começaram a surgir. Romano chuta forte e Marcos espalma para a linha de fundo. Friedenreich responde e obriga Saporiti a defender. Desde então, os goleiros não mais pararam de trabalhar. Heitor e Neco obrigaram o arqueiro uruguaio a fazer grandes defesas. Marcos também foi testado em um chute de primeira de Morán.

O passar do tempo causava uma angústia enorme na torcida, como nunca antes. A incerteza reinava e o jogo era lá e cá. Fried e Heitor tentaram, mas não conseguiram acabar com essa agonia. Isabelino Gradín, o único negro do Uruguai, melhor jogador do time e principal responsável pelas conquistas anteriores, chutou firme e Marcos pegou.

Como o empate prevaleceu ao fim dos 90 minutos, eram necessárias sucessivas prorrogações até que houvesse um vencedor. Mas os jogadores estavam destruídos fisicamente. Se atualmente os atletas sofrem com o tempo extra, imagine há cem anos, quando a preparação física era ainda incipiente. E ainda não eram permitidas as substituições. Agora, a vitória era mais uma questão de honra patriótica para ambos os lados.

O duelo continuou. Scarone passou pela marcação e chutou forte no canto. Em um voo espetacular, Marcos Carneiro de Mendonça conseguiu espalmar pela linha de fundo. Em suas memórias, o legendário goleiro afirmaria: “Foi a defesa mais difícil e importante da minha vida”. E talvez seja a mais fundamental de todo o futebol brasileiro. Sem ela, não haveria mais trinta extenuantes minutos de um novo tempo extra.


(Imagem: CBF)

● E, depois de mais de duas horas de jogo, o tão esperado grito de gol saiu da garganta logo aos três minutos da segunda prorrogação. Neco avançou pela direita marcado por Foglino, foi até a linha de fundo e cruzou. Heitor chutou em cima de Saporiti, que socou a bola para fora da área. Mas Friedenreich acompanhava a jogada e bateu de primeira, à meia altura, no canto do goleiro celeste.

O recém construído estádio das Laranjeiras quase veio abaixo. Os expectadores foram ao delírio, gritando, se abraçando e jogando seus chapéus para o alto. Os jogadores se abraçavam e beijavam Fried.

A vantagem no placar deu ânimo aos brasileiros, que permaneciam no ataque para tentar matar o jogo. Mas ele ainda não tinha acabado e o adversário era o Uruguai, que jamais se entrega em nenhuma peleja. Ainda restavam metade do primeiro tempo e todo o segundo.

Nos minutos finais, os uruguaios não se conformavam com a derrota e estavam irritados. Quase houve uma briga. O início, segundo o jornal “O Imparcial”, foi a provocação de um torcedor. “Scarone comete um foul na linha de fundo, do lado das gerais. Um popular diz-lhe qualquer coisa que não pudemos ouvir. O jogador uruguaio parte para tentar agredir o mesmo popular. A polícia intervém. Scarone e Gradim ameaçam deixar o campo. Os outros jogadores orientais não concordam e eles são demovidos dessa idéia.”

No recomeço, a pressão uruguaia aumenta e Marcos defende um último chute de Gradín. Já eram 17h25 e não restava mais tempo. Já estava começando a escurecer no Rio de Janeiro. E, enfim, o árbitro argentino Juan Pedro Barbera apita o fim da partida. O estádio é imediatamente invadido, se transformando em um grande palco de comemoração, em uma celebração que se arrastaria por toda a capital federal. Os mais festejados eram Arthur Friedenreich, autor do gol, e Marcos Carneiro de Mendonça, responsável por defesas milagrosas.


(Imagem: CBF)

● Um inédito e estranho orgulho de ser brasileiro se embrenhava por toda aquela gente. E tudo isso por um simples jogo de futebol. Aos poucos os torcedores foram deixando o estádio e contando o resultado do jogo a quem encontrasse. A boa notícia foi se espalhando pelos bondes, em frente às redações dos jornais, em toda a cidade. Em alguns dias, as filmagens do duelo estavam nas salas de projeção das principais cidades brasileiras. Todos queriam ver seu país vencedor.

A bola do jogo, com a assinatura de todos os jogadores, foi guardada numa redoma de vidro da antiga sede da CBD, como um troféu. A chuteira de Friedenreich, ainda suja de lama, ficou em exposição pública na vitrine de uma loja de luxo na rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro.

Para comemorar a conquista, o então jovem instrumentista Pixinguinha (apaixonado por futebol) e seu parceiro, o flautista Benedito Lacerda, compuseram a melodia do chorinho “1 a 0”. Só em 1993, Nelson Angelo escreveu uma letra para essa música, sobre futebol, mas sem nenhuma referência ao jogo que a inspirou.

Marcos Carneiro de Mendonça foi também o primeiro goleiro da Seleção Brasileira. É o mais jovem a defender o gol do Brasil, aos 19 anos. Pelo escrete nacional, foram dez jogos e 15 gols sofridos (uma bela média para a época). Lenda do Fluminense, o arqueiro era conhecido como “Fita Roxa”. Ele usava um uniforme estiloso, todo branco e com a referida fita roxa como um cinto, para prender o calção. Era considerado galã e arrancava suspiros do público feminino. Ao encerrar a carreira, foi historiador e presidente do Fluminense. Era pai de Bárbara Heliodora Carneiro de Mendonça, professora, ensaísta, tradutora e crítica de teatro brasileira, uma especialista e grande conhecedora da obra de William Shakespeare.

Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira, Arthur Friedenreich foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro em tempos de amadorismo. Autor do gol do título, ele foi humilde ao comentá-lo: “O gol foi do Neco, que fez uma jogada belíssima. Eu apenas tive o trabalho de chutá-la. Nada mais.” Ao fim da partida, o centroavante recebeu um pergaminho das mãos do capitão uruguaio com os dizeres: “Nós, os componentes da seleção uruguaia, concedemos ao senhor Arthur Friedenreich, o título de El Tigre por ser o mais perfeito centroavante do campeonato Sul-Americano”. Friedenreich mereceu e chorou de emoção.

Mas Fried quase ficou fora da grande decisão. Na noite anterior, ele recebeu uma homenagem em uma casa no Catete chamada “Flor do Abacate”. Ele pulou o muro do alojamento e foi para o evento mesmo com a proibição pela comissão técnica. Houve uma crise no vestiário, mas não a ponto de barrar o astro da partida.

Nada mais genuíno do que um mulato marcar o gol decisivo do primeiro título da história de nosso país. Fried não era branco e nem era negro: era o encontro das duas raças que simboliza a junção de culturas do país até os dias de hoje. Ele foi o responsável pela primeira grande alegria do futebol brasileiro.

E o Brasil se rendeu definitivamente às emoções do futebol, passando a ter seu próprio estilo de praticar o esporte: pouca disposição tática e física, mas com muito “molejo, picardia e a dança da capoeira” (disse certa vez Gilberto Freyre). O Brasil foi se tornando o país do futebol. As derrotas nos moldaram como “vira-latas” e as vitórias nos “assoberbam” até hoje. Para o brasileiro, o futebol não é caso de vida ou morte: é muito mais do que isso (como dizia Bill Shankly). O futebol passou a ser o termômetro da autoestima do povo. O futebol brasileiro passou a ser um patrimônio do povo.


(Imagem: CBF)

 

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 URUGUAI

 

Data: 29/05/1919

Horário: 14h00 locais

Estádio: Laranjeiras

Público: 28.000

Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)

Árbitro: Juan Pedro Barbera (Argentina)

 

BRASIL (2-3-5):

URUGUAI (2-3-5):

Marcos Carneiro de Mendonça (G)

Cayetano Saporiti (G)

Píndaro de Carvalho

Manuel Varela

Bianco Spartaco

Alfredo Foglino

Sérgio Pires

Rogelio Naguil

Amílcar Barbuy

Alfredo Zibechi

Fortes

José Vanzzino

Millon

José Pérez

Neco

Héctor Scarone

Arthur Friedenreich

Ángel Romano

Heitor Domingues

Isabelino Gradín

Arnaldo da Silveira (C)

Rodolfo Marán

 

Técnico: Ground Committeé (comissão técnica formada por: Arnaldo da Silveira [capitão], Amílcar Barbuy, Mário Pollo, Affonso de Castro e Ferreira Vianna Netto). Em alguns registros, consta simplesmente: Haroldo Domingues

Técnico: Severino
Castillo

 

SUPLENTES:

 

 

Dyonísio (G)

Roberto Chery (G)

Primo Zanotta (G)

José Benincasa

Palamone

Juan Delgado

Laís

Ricardo Medina

Picagli

Omar Pérez

Martins

Pascual Somma

Galo

Carlos Scarone

Luiz Menezes

 

Carregal

 

Arlindo

 

Haroldo
Domingues

 

 

GOL: 123′ Arthur Friedenreich (BRA)

Vídeo sobre a partida:

Veja mais fotos:


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)


(Imagem: CBF)

Algumas matérias de jornais sobre o triunfo brasileiro:


O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Jornal do Brazil (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Gazeta de Notícias (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


A Razão (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)


Correio da Manhã (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)