Três pontos sobre…
… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria
(Imagem: AFP)
● A seleção francesa mantinha o mesmo time base de 1978 e 1982, mas estava ainda mais forte. O “quadrado mágico” do meio de campo ganhou mais qualidade com Luis Fernández fazendo companhia a Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini.
Platini era, ao mesmo tempo, o arco e a flecha. Era o armador das melhores jogadas e o principal finalizado também. Com extraordinária habilidade, era o maestro de uma grande orquestra. Ele vivia o auge de sua forma técnica, sendo eleito o Bola de Ouro da revista France Football por três anos consecutivos – 1983, 1984 e 1985. Com nove gols em cinco jogos, foi também o craque do título da Eurocopa de 1984 – primeiro título relevante da história da seleção francesa. Além disso, foi também o jogador mais importante do primeiro título da Juventus na Copa dos Campeões da Europa, na temporada 1984/85.
O técnico era Henri Michel, ex-meio campista da seleção francesa. Ele foi o treinador da equipe que conquistou a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Michel levou para a seleção principal alguns dos campeões olímpicos, como o goleiro Albert Rust, o zagueiro Michel Bibard, o lateral Ayache (que logo se tornou titular), e os pontas Daniel Xuereb e José Touré. Mas Touré precisou ser cortado por ter os ligamentos do joelho rompidos em uma partida do Nantes na antiga Copa da UEFA. Para seu lugar foi convocado Jean-Pierre Papin, do Club Brugge, da Bélgica.
Por tudo isso, uma euforia sem precedentes tomou conta dos torcedores franceses. Eles se consideravam prontos para entrar para a história com o título mundial.
(Imagem: Agence France Presse)
● Em um grupo com franceses e soviéticos, a Hungria corria por fora. O histórico credenciava os magiares, com melhor retrospecto: dois vice-campeonatos mundiais (1938 e 1954) e três títulos olímpicos (1952, 1964 e 1968).
Além dos números, contava a seu favor o respeito ao futebol técnico, vistoso e bem jogado – algumas vezes até taxado de não ser competitivo por priorizar o jogo vistoso, muitas vezes de forma irresponsável.
Os destaques da seleção húngara eram o goleiro Péter Disztl, o lateral direito baixinho Sándor Sallai e o veloz Márton Esterházy. Mas o craque do time era o ponta de lança Lajos Détári, dono de ótima visão de jogo, rápido, inteligente, habilidoso e artiheiro. O desfalque foi o experiente meia Tibor Nyilasi, machucado.
Era considerada a melhor seleção húngara desde 1966.
Treinada por Henri Michel, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.
A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.
● A vitória sobre o Canadá (1 x 0) e o empate com a União Soviética (1 x 1) deixou a França em boa situação no Grupo C. Bastaria um empate com a Hungria na última rodada para garantir a classificação.
A Hungria havia sido goleada na estreia pela URSS por 6 x 0. Se recuperou na segunda partida ao vencer o Canadá por 2 x 0. Contra os franceses, era tudo ou nada para os húngaros.
O primeiro tempo foi equilibrado, com um futebol vistoso e leve predomínio da França.
O placar foi aberto após 29 minutos jogados. Ayache recebeu lançamento e cruzou da direita. Yannick Stopyra apareceu sem marcação na segunda trave e cabeceou firme no ângulo do goleiro Péter Disztl.
Aos poucos o time do técnico Henri Michel começava a encontrar a sua melhor forma técnica. Principalmente após a saída do inoperante Papin para a entrada do experiente e participativo Dominique Rocheteau.
Aos 17′ do segundo tempo, Tigana avançou em velocidade desde seu próprio campo. Passou para Rocheteau, que antes da entrada da área, girou em cima de um marcador e devolveu. Tigana recebeu livre e ajeitou o corpo para bater firme de esquerda, no canto direito do goleiro. O segundo gol praticamente garantiu a vitória.
A Hungria chegou a mandar uma bola na trave no segundo tempo. Mas isso foi o máximo que conseguiu fazer diante de uma França imponente.
O terceiro gol dos gauleses saiu a seis minutos do apito final. Joël Bats repôs a bola em jogo com um chutão para frente. Platini deixou ela quicar e e dominou pelo lado esquerdo da grande área. Com uma visão de jogo incrível – que só os gênios têm –, ele viu a chegada de Rocheteau na segunda trave e cruzou de pé trocado. Rocheteau apareceu nas costas de um zagueiro e só teve o trabalho de dar um toquinho por cima do goleiro.
(Imagem: Eurosport)
● Com esses resultados, a França terminou em segundo lugar da chave, atrás da União Soviética no saldo de gols. Esse mesmo critério (saldo de gols de -7) foi o que impediu a Hungria de se classificar como um dos melhores terceiros.
Na sequência, a França eliminou a atual campeã Itália nas oitavas de final, com uma vitória por 2 a 0.
Nas quartas, outro duelo gigante, com a Seleção Brasileira, de Sócrates, Júnior, Zico, Müller, Careca, Edinho, Branco e outros grandes jogadores. Empate em 1 x 1 no tempo normal (com direito a pênalti perdido de Zico). Na decisão por penalidades, “Les Bleus” tiveram mais sorte e venceram por 4 a 3.
Na semifinal, a França enfrentou sua “asa negra”, a Alemanha Ocidental. Perdeu por 2 x 0, naquele que foi o “canto do cisne” daquela geração.
Encerrou a Copa conquistando o 3º lugar ao vencer a surpreendente Bélgica por 4 x 2. Essa campanha igualou a melhor classificação final da história francesa até então – já havia chegado em 3º em 1958.
(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)
● FICHA TÉCNICA: |
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FRANÇA 3 x 0 HUNGRIA |
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Data: 09/06/1986 Horário: 12h00 locais Estádio: Nou Camp Público: 31.420 Cidade: León (México) Árbitro: Carlos Silva Valente (Portugal) |
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FRANÇA (4-4-2): |
HUNGRIA (4-4-2): |
1 Joël Bats (G) |
1 Péter Disztl (G) |
2 Manuel Amoros |
2 Sándor Sallai |
4 Patrick Battiston |
3 Antal Róth |
6 Maxime Bossis |
6 Imre Garaba (C) |
3 William Ayache |
4 József Varga |
9 Luis Fernández |
5 József Kardos |
14 Jean Tigana |
9 László Dajka |
12 Alain Giresse |
15 Péter Hannich |
10 Michel Platini (C) |
10 Lajos Détári |
17 Jean-Pierre Papin |
20 Kálmán Kovács |
19 Yannick Stopyra |
11 Márton Esterházy |
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Técnico: Henri Michel |
Técnico: György Mezey |
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SUPLENTES: |
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22 Albert Rust (G) |
18 József Szendrei (G) |
21 Philippe Bergeroo (G) |
22 József Andrusch (G) |
5 Michel Bibard |
14 Zoltán Péter |
7 Yvon Le Roux |
12 József Csuhay |
8 Thierry Tusseau |
13 László Disztl |
15 Philippe Vercruysse |
8 Antal Nagy |
13 Bernard Genghini |
16 József Nagy |
11 Jean-Marc Ferreri |
17 Győző Burcsa |
16 Bruno Bellone |
21 Gyula Hajszán |
20 Daniel Xuereb |
19 György Bognár |
18 Dominique Rocheteau |
7 József Kiprich |
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GOLS: |
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29′ Yannick Stopyra (FRA) |
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62′ Jean Tigana (FRA) |
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84′ Dominique Rocheteau (FRA) |
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CARTÕES |
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41′ William Ayache (FRA) |
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69′ Dominique Rocheteau (FRA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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INTERVALO Péter Hannich (HUN) ↓ |
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Antal Nagy (HUN) ↑ |
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61′ Jean-Pierre Papin (FRA) ↓ |
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Dominique Rocheteau (FRA) ↑ |
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65′ Kálmán Kovács (HUN) ↓ |
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György Bognár (HUN) ↑ |
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71′ Yannick Stopyra (FRA) ↓ |
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Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑ |
Gols da partida: