Três pontos sobre… … Itália Campeã da Eurocopa 2021
(Imagem: Michael Regan / Reuters)
O vilão é o mesmo de 25 anos atrás.
Gareth Southgate só mudou de posição. Ele foi o responsável por perder o pênalti decisivo diante da Alemanha na semifinal da Eurocopa de 1996, no antigo estádio Wembley. E, na decisão da Euro 2020 (disputada em 2021 por causa da pandemia), foi o “burro” da vez, colocando dois jogadores nos acréscimos da prorrogação exclusivamente para a cobrança dos pênaltis.
Mas se Southgate foi vilão, foi também o responsável pela montagem desse elenco que chegou na semifinal da Copa do Mundo de 2018 e na final da Euro três anos depois. Um time forte, consistente e homogêneo em todas suas posições. Corajoso por dar chances a Declan Rice e Kalvin Phillips como titulares no meio, tendo Jordan Henderson no banco. Arrojado por convocar Jude Bellingham, que tinha 17 anos no início da Euro.
Os maiores méritos do técnico do English Team é adaptar o sistema tático do seu time ao adversário. Hoje começou no 3-4-2-1, dando liberdade para os dois alas que participaram diretamente do gol. Harry Keane fez um ótimo trabalho no meio e abriu para Kieran Trippier, que cruzou no segundo pau, onde Luke Shaw pegou de primeira para fazer um belo gol. Luke Shaw, que teve uma seriíssima lesão em 2015, mas recuperou seu bom futebol e foi titular, mesmo com Ben Chilwell em uma ótima fase.
Mas foi só. A partir do segundo minuto de jogo, a Inglaterra abdicou do ataque quis vencer por 1 x 0, se fechou enquanto pôde e a Itália “começou a gostar do jogo” (como diriam os comentaristas nos anos 1990). Mas só no meio do segundo tempo que a Azzurra chegou ao empate, com Leonardo Bonucci pegando o rebote em uma jogada de bola parada.
No restante do jogo, assim como nos 30 minutos de prorrogação, os dois times se alternaram, mas sem nada produzir de concreto. Foi uma partida de xadrez, mais estudada do que “jogada”, onde a marcação se sobressaiu sobre a criatividade.
Voltamos aos pênaltis, essa fábrica de heróis e vilões. Berardi e Keane converteram. Andrea Belotti se candidatou como o primeiro vilão, ao ver sua batida ser defendida por Jordan Pickford – candidato a herói. Maguire e Bonucci converteram. E surgiram novos vilões: Marcus Rashford e Jadon Sancho, de 23 e 21 anos, respectivamente, haviam entrado nos acréscimos da prorrogação e nem chegaram a tocar na bola. Rashford rabiscou demais e chutou na trave. Jadon Sancho telegrafou e Gianluigi Donnarumma pegou. Antes, Bernardeschi converteu. Jorginho não. O melhor cobrador italiano teve a cobrança defendida por Pickford antes da bola parar na trave. E na última cobrança, Bukayo Saka, de 19 anos, inexperiente e… canhoto… com a cara mais assustada que já vi na vida, só poderia perder. Sua batida parou nas mãos de Donnarumma.
(Imagem: Laurence Griffiths / Reuters)
“Judas” Donnarumma – o maior mercenário dos tempos recentes do futebol – foi o herói definitivo e foi eleito (sei lá por quem) o melhor jogador da Euro.
Uma partida ganha por Roberto Mancini: craque dentro e fora dos campos. E perdida por Gareth Southgate: vilão nos pênaltis dentro e fora dos campos.
Méritos para uma Itália invicta há três anos, que cresceu durante a Euro e ganhou maturidade para chegar forte na Copa do Mundo de 2022.
Na Inglaterra, ficam as dúvidas. Raheem Sterling “pipocou”? Jack Grealish, que poderia ter entrado antes (ou até ter sido titular), além de bater o pênalti? Jadon Sancho não merecia mais oportunidade com a bola rolando?
Mas fica constatada, mais uma vez, a grande verdade do futebol: camisa pesa. E pesa muito. A camisa Azzurra é amplamente mais pesada do que a dos Three Lions.
Três pontos sobre… … 04/07/1990 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Inglaterra
(Imagem: The Guardian)
● Uma das semifinais da Copa do Mundo de 1990 foi um clássico do futebol mundial: Alemanha e Inglaterra.
Na primeira fase, a Alemanha Ocidental foi a primeira do Grupo D com cinco pontos. Começou goleando a Iugoslávia por 4 a 1 e os Emirados Árabes Unidos por 5 a 1. Na última rodada, empatou por 1 x 1 com a Colômbia. Nas oitavas de final, venceu a grande rival Holanda por 2 a 1, em uma verdadeira batalha. Nas quartas, vitória simples por 1 a 0 sobre a Tchecoslováquia.
Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0). Nas quartas, um jogo duríssimo e nova prorrogação para eliminar Camarões, os surpreendentes Leões Indomáveis, em uma vitória por 3 x 2.
O técnico Franz Beckenbauer escalou sua equipe no sistema 3-5-2.
Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Beardsley e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.
● Nas arquibancadas, algumas bandeiras da Inglaterra, mas várias do Reino Unido. Os hooligans estavam presentes. Assim como a barulhenta torcida alemã.
Logo nos primeiros minutos, Paul Gascoigne pegou o rebote de um escanteio e emendou de esquerda, da entrada da área, exigindo uma ótima defesa de Bodo Illgner, que espalmou para escanteio.
Chris Waddle aproveitou um erro da defesa alemã na saída de bola e, de sua intermediária, tentou surpreender Illgner. A bola tinha o rumo do gol, mas o goleiro se esticou todo e conseguiu espalmar para cima. A bola ainda tocou no travessão antes de sair. O árbitro brasileiro José Roberto Wright já havia marcado falta no início da jogada, mas esse lance foi o mais bonito do jogo.
David Platt abriu com Stuart Pearce na esquerda. Ele chegou cruzando rasteiro de primeira, mas Gary Lineker foi travado pela marcação e não conseguiu finalizar.
Em cobrança de falta da direita, a bola sobrevoou a área germânica e Thomas Berthold cabeceou para trás. A defesa alemã tirou e Gascoigne pegou o rebote e encheu o pé. Mas Illgner segurou sem dar rebote.
A Alemanha respondeu. Olaf Thon chutou de muito longe de perna esquerda, mas o veterano Peter Shilton segurou sem dar rebote.
Peter Beardsley tocou para Waddle, que cruzou para a área. Lineker desviou, Platt aparou na linha de fundo e rolou para trás. Pearce dominou de esquerda, cortou a marcação de Thon e bateu de direita. Mas o inglês foi travado pela marcação e a bola se perdeu pela linha de fundo.
Ainda no primeiro tempo, o técnico Franz Beckenbauer precisou substituir o lesionado Rudi Völler por Karl-Heinz Riedle.
Em cobrança de falta ensaiada na entrada da área, Andreas Brehme rolou para Klaus Augenthaler encher o pé. A bola foi forte e o goleiro Shilton espalmou por cima.
(Imagem: Alambrado)
A Alemanha Ocidental passou a se soltar mais no segundo tempo, lembrando a seleção brilhante do início do torneio. Lothar Matthäus e Thomas Häßler dominam as ações no meio de campo.
Thon avançou, cortou a marcação de Paul Parker e bateu de esquerda. A bola foi fraca e fácil para Shilton.
A Inglaterra respondeu. Gascoigne cobrou falta da esquerda. Pearce desviou na primeira trave e a bola passou assustando Illgner.
O gol da Nationalelf saiu em uma bola parada, aos 15′ do segundo tempo. Häßler avançou pela direita e foi derrubado por um carrinho de Pearce. Na cobrança da falta, Thon rolou para o ambidestro Brehme chutar de esquerda. A bola desviou em Paul Parker (que se adiantou) e encobriu Shilton, que havia saído do gol e estava mal colocado. Alemanha, 1 a 0.
Aos 21′, Häßler saiu para a entrada de Stefan Reuter.
Do lado inglês, o meia atacante Trevor Steven entrou no lugar do zagueiro e capitão Terry Butcher, aos 25′. Foi o último jogo de Butcher com a camisa do English Team.
Pearce – que era um bom ala – avançou em velocidade pela esquerda, passou por um adversário e foi derrubado por Berthold. Falta que Gascoigne rolou para Des Walker. Na hora do chute, ele foi prensado por um alemão. No rebote, a bola sobrou para Steven. Em seu primeiro toque na bola, o camisa 20 chutou de esquerda, mas a bola foi fácil para Illgner.
O English Team conseguiu o empate a dez minutos do fim. Da direita, Parker fez um lançamento longo para a área e Jürgen Kohler não conseguiu cortar. Lineker dominou cortando a marcação de Augenthaler e chutou cruzado de esquerda. A bola foi no pé da trave esquerda de Illgner. Inglaterra 1, Alemanha também 1.
Foi o quarto gol de Lineker no Mundial de 1990. Ele havia sido o artilheiro da Copa de 1986 com seis gols.
A igualdade no placar levou o jogo para a prorrogação.
(Imagem: The Guardian)
Foi o terceiro jogo entre alemães e ingleses em Copas do Mundo que ia para a prorrogação, assim como 1966 (final) e 1970 (quartas de final).
Nos minutos que antecedem ao tempo extra, uma cena inusitada para os dias atuais. Foi engraçado ver Gascoigne torcendo a própria camisa para retirar o suor e deixar a camisa sequinha para a prorrogação.
Brehme cruzou da esquerda, Jürgen Klinsmann cabeceou bem e Shilton espalmou. Uma bola perigosa.
Em uma jogada no meio campo, aos 9′, Gascoigne adiantou demais e deu um carrinho idiota em Berthold. A jogada lhe rendeu um cartão amarelo, que tiraria o inglês de uma eventual final. Era o segundo cartão amarelo de Gazza na competição, o que lhe garantiria uma suspensão na partida seguinte. O intenso meia inglês começou a chorar dentro de campo mesmo.
No finalzinho do primeiro tempo, Steven cruzou da esquerda para a área e a zaga alemã cortou. Lineker ganhou no alto de Berthold e a bola sobrou para Waddle. No lado esquerdo da grande área, o camisa 8 ajeitou e chutou cruzado de esquerda. A bola bateu no pé da trave esquerda.
Guido Buchwald recebeu pouco antes da meia lua, ajeitou a bateu. A bola quicou e passou por Shilton, mas também bateu no pé da trave.
Brehme deu um carrinho por trás em Gascoigne e ele se levantou rápido. Todos esperavam que ele fosse tirar satisfação com o alemão, mas ele só queria recomeçar logo o jogo. A Inglaterra estava ligeiramente melhor. Gazza logo aceitou as desculpas de Brehme (que recebeu o cartão amarelo) e voltaram para o jogo.
No último lance com a bola rolando, Platt cabeceou para o gol após uma cobrança de falta da direita, mas José Roberto Wright anulou o gol por impedimento do inglês.
(Imagem: UOL)
Com tudo igual também na prorrogação, o semifinalista teve que ser decidido nos pênaltis.
Os técnicos se cumprimentam cheios de sorrisos, orgulhosos das exibições de suas respectivas seleções.
O goleiro Dave Beasant, do Chelsea, foi convocado de última hora no lugar de David Seaman, que havia se machucado. Beasant não teve chances no torneio, mas posteriormente o Bobby Robson admitiu que pretendia colocá-lo no lugar de Shilton no último minuto da prorrogação, apenas para a disputa de pênaltis. Shilton tinha 1,83 m de altura e Beasant media dez centímetros a mais. Mas o treinador acabou não fazendo a alteração e manteve o titular.
Lineker bateu firme no canto direito, deslocando Illgner, que caiu para o esquerdo. Inglaterra, 1 a 0.
Brehme bateu com precisão, no canto direito. O goleiro acertou o lado, mas não conseguiu pegar. 1 a 1.
Beardsley bateu no canto esquerdo, no alto, quase no ângulo. Illgner foi no canto certo, mas não pegou. Inglaterra, 2 a 1.
Matthäus bateu com muita força no canto direito e Shilton pouco se mexeu. 2 a 2.
Platt bateu à meia altura no canto direito. Illgner chegou a tocar na bola, mas ela acabou entrando. Inglaterra 3 a 2.
Riedle mandou no ângulo esquerdo. Shilton acertou o canto, mas a cobrança foi bem feita. 3 a 3.
Pearce, o vilão inglês na partida, bateu muito mal. A bola foi rasteira e no meio do gol. Illgner, que caía para seu canto direito, defendeu com as pernas. Ainda 3 a 3.
Thon bateu colocado, no cantinho esquerdo do goleiro. Alemanha 4 a 3.
Waddle tinha que marcar para manter as chances da Inglaterra. Ele tentou acertar o ângulo direito, mas bateu alto e fora do rumo do gol.
Final: Alemanha Ocidental 4 x 3 Inglaterra.
(Imagem: AFP / Globo Esporte)
● Pela quinta vez, a Alemanha estava em uma final de Copa do Mundo – a terceira decisão seguida (1982, 1986 e 1990).
Após a partida, Gary Lineker deu uma declaração que se tornaria histórica e seria repetida inúmeras vezes desde então: “O futebol é um esporte muito simples, no qual 22 homens correm atrás da bola, e a Alemanha sempre vence no final“.
Três pontos sobre… … 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões
● A seleção de Camarões havia sido uma grande surpresa em 1982, quando debutou na Copa do Mundo e terminou invicta. Oito anos depois, voltava a disputar um Mundial. Quatro eram os atletas remanescentes: os goleiros Thomas N’Kono e Joseph-Antoine Bell, o zagueiro Emmanuel Kundé e o atacante Roger Milla.
Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos Leões Indomáveis para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.
Com o objetivo de profissionalizar a seleção, a federação camaronesa montou uma eficiente estrutura, além de trazer o técnico soviético Valery Nepomnyashchy, ex-auxiliar do treinador da URSS Valeriy Lobanovskyi. Apreciador dos métodos de seu mestre, Nepomnyashchy tratou de misturar o talento natural dos africanos a um sistema tático mais rigoroso, mas sem deixar de potencializar a técnica.
Camarões foi líder do difícil e equilibrado Grupo B. Estreou vencendo por 1 x 0 a campeã mundial Argentina, de Diego Maradona. Depois, bateu a Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, por 2 x 1. Já classificado, foi goleado por 4 x 0 pela União Soviética, campeã olímpica dois anos antes. A Colômbia foi a adversária nas oitavas de final, em uma partida histórica. Roger Milla fez dois gols na prorrogação, um deles ao roubar a bola do goleiro René Higuita, que tentou sair driblando. O placar de 2 x 1 sobre os cafeteros garantiu Camarões como a primeira seleção africana da história a chegar às quartas de final da Copa do Mundo.
A seleção de Camarões era considerada o “segundo time” de todos os torcedores que assistiram à Copa do Mundo de 1990. Muito por ser novidade, mas mais ainda pelo futebol bonito que havia sido apresentado até então. Os otimistas acreditavam que os africanos pudessem surpreender o bom time da Inglaterra.
Embora jogasse bonito, os africanos também eram muito duros na marcação. Comumente, até apelavam para a violência. Por isso o time tinha quatro importantes desfalques para o duelo diante dos ingleses, todos por terem recebido o segundo cartão amarelo no Mundial: os zagueiros Victor N’Dip e Jules Onana, o volante André Kana-Biyik e o meia Émile Mbouh.
● A seleção inglesa chegava com uma grande invencibilidade pré-Copa – inclusive com uma vitória sobre o Brasil por 1 x 0. O experiente técnico Bobby Robson soube montar um time que acabou com a histórica desconfiança dos torcedores e era considerado um dos favoritos ao título.
Gary Lineker continuava sendo o responsável pelos gols, mas o grande queridinho da torcida era o meia Paul Gascoigne. Com tamanha elegância em campo, ele nem parecia um inglês. Mas Gazza não agradava totalmente ao técnico por usa indisciplina tática, embora compensasse com o seu talento. Ambos demonstravam na seleção o entrosamento que adquiriram jogando juntos no Tottenham.
Outro destaque era o meia driblador Chris Waddle, que atravessava excelente fase no Olympique de Marselha. A experiência em campo vinha do ótimo goleiro Peter Shilton e seus 40 anos. A surpresa na convocação foi o explosivo atacante Steve Bull, artilheiro do Wolverhampton, que estava na terceira divisão inglesa na época. A grande ausência era o capitão Bryan Robson, que ainda não havia se recuperado totalmente de uma cirurgia de hérnia.
Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas de final, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0).
O English Team se preparou para as oitavas de final sabendo o perigo que corria ao enfrentar os fortes e arrojados camaroneses.
Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Barnes e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.
No papel, o técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-4-2. Sem a bola, Emmanuel Kundé se transformava em líbero e o time se defendia no 4-5-1. Com a bola, os meias avançavam em velocidade e o time se formava no 4-3-3. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.
● Inglaterra e Camarões fizeram o melhor jogo da etapa das quartas de final da Copa do Mundo de 1990, na Itália.
Mais de 55 mil expectadores se fizeram presentes no estádio San Paolo, em Nápoles.
Camarões teve a chance de abrir o placar e só não o fez porque Shilton salvou um chute cara a cara com François Omam-Biyik.
Aos 25 minutos de jogo, David Platt abriu o placar. Stuart Pearce avançou pela esquerda e cruzou pelo alto. Platt apareceu sozinho na pequena área e cabeceou firme para baixo. A bola passou entre as pernas do goleiro Thomas N’Kono, que havia saltado para fechar o ângulo. Foi o segundo gol do camisa 17 na Copa de 1990.
Mas, como era de praxe, Roger Milla entrou no intervalo para mudar o rumo da partida. O “vovô” camaronês era a arma secreta – nem tão secreta assim.
Aos 16′ da etapa final, ele recebeu passe dentro da área, protegeu com o corpo e foi derrubado por Gascoigne. O líbero Emmanuel Kundé bateu com precisão e a bola foi no ângulo esquerdo de Peter Shilton – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.
Quatro minutos depois, Milla viu a infiltração de Eugène Ekéké e fez o passe com precisão para o meio da área. Ekéké só deu um toque por cima para tirar o goleiro da jogada. Era a virada camaronesa.
Em sua ampla maioria, a torcida napolitana era para os azarões africanos.
Depois, os camaroneses passaram a abusar das firulas e jogadas de efeito, mas sem efetividade. “A bola pune”, como diria Muricy Ramalho.
A sete minutos do fim, Paul Parker interceptou um lançamento já na intermediária ofensiva e Mark Wright ajeitou para Gary Lineker. Dentro da área, o atacante inglês deu um corte em Benjamin Massing e foi derrubado. O próprio Lineker bateu o pênalti à meia altura no canto esquerdo, deslocando o goleiro Thomas N’Kono, que pulou para a direita.
Camarões ainda teve uma última chance. Ekéké tocou para Cyrille Makanaky. Ele invadiu a área, deixou Pearce no chão, mas foi travado em cima da hora por Trevor Steven.
Com o placar igual no tempo normal, o jogo foi definido na prorrogação.
O líbero Mark Wright se machucou em um choque de cabeça acidental com Roger Milla e voltou ao jogo com uma caixa amarrada na cabeça. Ele cortou o supercílio esquerdo.
Os Leões Indomáveis farejam sangue e foram para cima dos Three Lions. Makanaky fez boa jogada pelo lado direito, passou por Pearce e cruzou. Wright tirou a bola da cabeça de Ekéké. Ela subiu, François Omam-Biyik ganhou no alto de Des Walker e cabeceou, mas Shilton segurou firme.
No fim do primeiro tempo extra, Gascoigne fez um passe magistral. Lineker arrancou sozinho e foi derrubado dentro da área em dividida com Massing e N’Kono. Outra penalidade. Dessa vez, Lineker encheu o pé no meio do gol e N’Kono caiu para o lado esquerdo. Nova virada no marcador, dessa vez em definitivo, a favor dos ingleses.
De forma dramática, a Inglaterra segurou o 3 x 2 e se classificou.
O técnico Bobby Robson, que sempre tratou Paul Gascoigne como uma bomba relógio prestes a explodir – o que de fato era – se abraçou forte com o jogador após o apito final.
Com exceção dos ingleses, todos lamentavam a queda do time que ousou enfrentar seus adversários com criatividade e alegria – e uma pitada de irresponsabilidade, que acabou lhe custando a vaga nas semifinais.
Mas os camaroneses não se sentiram derrotados. Foram aplaudidos de pé e deram a volta olímpica no estádio San Paolo.
Roger Milla e seus companheiros já tinham entrado para a história das Copas.
● A arbitragem do mexicano Edgardo Codesal foi bastante elogiada pela imprensa internacional, principalmente pela coragem em marcar três pênaltis em um mesmo jogo (todos existentes), algo difícil de acontecer. Por causa dessa atuação, ele acabaria sendo indicado para apitar a final da Copa – quando não foi muito bem e apitou um pênalti bastante polêmico.
Na semifinal, a Inglaterra encontrou seus dois algozes que se tornariam históricos dali adiante: as decisões por pênaltis e a Alemanha Ocidental. O empate por 1 x 1 no tempo normal se manteve na prorrogação. Na decisão por penalidades, os erros de Stuart Pearce e Chris Waddle impediram que os britânicos voltassem a disputar uma final, com a derrota por 4 x 3. Na decisão do 3º lugar, a Inglaterra perdeu por 2 x 1 para a anfitriã Itália.
Curiosamente, o filho mais velho do goleiro italiano Gianluigi Buffon se chama Thomas, em homenagem ao goleiro camaronês Thomas N’Kono.
O antigo estádio San Paolo foi renomeado no fim de 2020 para estádio Diego Armando Maradona, maior ídolo da história do Napoli – clube que manda seus jogos no estádio.
Três pontos sobre… … 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
● O técnico argentino Daniel Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Nelson Vivas mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.
A Argentina terminou a primeira fase como líder go Grupo H com 100% de aproveitamento. Na estreia, venceu o Japão por 1 x 0. No segundo jogo, massacrou a inexperiente Jamaica por 5 x 0. Na terceira rodada, bateu a Croácia por 1 x 0.
No caminho da Argentina, um adversário conhecido, de grandes duelos no campo e fora dele: a Inglaterra.
● O English Team terminou em segundo lugar no Grupo G. Estreou vencendo Tunísia por 2 x 0. Na sequência, perdeu para a Romênia por 2 x 1 e venceu a Colômbia por 2 x 0, com um gol de David Beckham contando falta.
A Inglaterra contava com um bom time, que havia sido semifinalista da Eurocopa de 1996. No gol, o experiente e seguro David Seaman. Na defesa, um trio duro de passar: Gary Neville, Tony Adams e Sol Campbell. Darren Anderton na ala direita e Graeme Le Saux na esquerda. No meio, Paul Ince, Paul Scholes e David Beckham. No ataque, a juventude é impetuosidade de Michael Owen se completava com a experiência e faro de gol de Alan Shearer. No banco, bons nomes como o jovem zagueiro Rio Ferdinand, o meia Steve McManaman e o atacante Teddy Sheringham.
Com apenas 18 anos, Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”) foi convocado por causa da sequência de lesões e má formação física do genial Paul Gascoigne. Gazza já estava iniciando seu declínio sem fim, sofrendo com o alcoolismo. Segundo as más línguas, foi um curandeira quem recomendou ao técnico Glenn Hoddle para que cortasse o meia do Mundial.
Com a injeção de energia e juventude, o time inglês ficou mais equilibrado e menos previsível.
As duas seleções jogavam em sistemas táticos espelhados – ambas no 3-5-2.
● O que se viu no estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne, foi mais um jogo épico entre argentinos e ingleses.
A Argentina abriu o marcador logo aos cinco minutos. Do lado direito da intermediária defensiva, Roberto Ayala fez o passe na vertical para Gabriel Batistuta. Ele dominou e abriu com Ariel Ortega na direita. O camisa 10 fez o lançamento para a área e Batistuta só conseguiu desviar a bola de leve. Simeone aparece como homem surpresa e, mesmo com a marcação de Southgate, o goleiro Seaman saiu e atropelou o capitão argentino. Pênalti claro. Batistuta bateu com força no canto direito. Seaman chegou a tocar na bola, mas ela entrou. Foi o quinto gol de Batistuta em quatro jogos.
Quatro minutos depois, a Inglaterra pagou na mesma moeda. Le Saux passou para Scholes no meio e ele deu um toque de cabeça para Owen. O Wonderkid invadiu a área e foi levemente tocado por Ayala. Shearer bateu o pênalti no ângulo direito do goleiro Carlos Roa, colocando fim à invencibilidade do gol argentino na Copa.
A virada veio aos 16′. Da meia direita, Beckham fez um lançamento para Owen no meio. Ele dominou de chaleira, ganhou de José Chamot na velocidade e no corpo, driblou Ayala e bateu cruzado, por cima de Roa. Um golaço histórico, que ajudou a consolidar de vez o talento de Michael Owen. Não era mais promessa: era uma bela realidade. Sua imagem era transmitida para todo o planeta e seu talento reconhecido com entusiasmo pela imprensa. Surgia um novo astro – que, infelizmente, não brilharia tanto como aquele prenúncio devido às sucessivas e sérias lesões.
Incentivada pela torcida, a Inglaterra pressionou em busca do terceiro gol. Teve chances para liquidar a partida, mas não aproveitou.
Beckham cobrou falta da direita. A defesa argentina afastou. Paul Ince chutou de longe e a bola saiu, mas assustou bastante o goleiro Roa.
Le Saux avançou pela esquerda, passou por Zanetti e cruzou da linha de fundo, mas Ayala cortou para escanteio.
Seaman bateu falta de sua área mandando a bola para a frente. Ela viajou o campo todo e Shearer escorou de cabeça para o meio da área. Sozinho, quase na pequena área, Scholes não teve tranquilidade e bateu cruzado de esquerda, mas mandou a bola para fora. Foi um verdadeiro gol perdido. Faria muita falta.
A Argentina conseguiu sustentar a pressão e alcançou o empate nos acréscimos do primeiro tempo. Verón tocou para Claudio López próximo à meia lua. Ele recebeu de costas e sofreu falta de Campbell. Na cobrança, uma bela jogada ensaiada. Batistuta fez que chutaria forte, mas deixou para Verón. Ele só rolou para dentro da área para Javier Zanetti, que passou rápido atrás da barreira inglesa e ficou livre. Ele dominou de direita e ajeitou o corpo para bater de esquerda, no alto, sem chances para Seaman. Uma jogada ensaiada que funcionou à beira da perfeição.
Mas o jogo lindo e bem jogado até então se transformou em uma guerra de um momento para outro.
No começo do segundo tempo houve o lance mais polêmico da partida. Simeone chegou firme em uma disputa com Beckham. O astro inglês perdeu a paciência e revidou dando um “coice” de leve no argentino. O árbitro dinamarquês Kim Milton Nielsen mostrou o cartão amarelo a Simeone (pela falta) e o cartão vermelho a Beckham (pela tentativa de agressão).
Um prato cheio para os críticos implacáveis do Spice Boy. O técnico Glenn Hoddle teve que organizar seu time com dez jogadores.
E a Argentina começou a pressionar. Verón abriu na ponta direita para Claudio López, que foi até a linha de fundo e cruzou para trás. A bola chegaria limpa para Nelson Vivas só completar para o gol, mas Shearer estava ajudando a defesa e afastou o perigo.
Depois, o jogo ficou truncado, com muitas faltas no meio de campo. Nenhuma das equipes teve força e criatividade para superar a defesa adversária e marcar o gol que lhe daria a vitória.
No fim da partida, Anderton bateu escanteio fechado e Campbell cabeceou para o gol. Todos já comemoravam até ver que o árbitro havia anulado por falta cometida por Shearer no goleiro Roa. Uma decisão muito discutível da arbitragem.
Depois, Verón abriu na esquerda para Gallardo. Neville cortou e a bola sobrou para Ortega, que deu ótimo passe para Crespo. Mas o camisa 19 chutou em cima da marcação.
As duas equipes sobreviveram à agonia da prorrogação com morte súbita. Mas, para a Inglaterra e seu histórico de cair nas penalidades, viria outro momento agônico.
Sergio Berti bateu a primeira penalidade para os argentinos. O chute foi no cantinho esquerdo. 1 a 0.
Alan Shearer repetiu a cobrança do tempo normal, mandando no ângulo. 1 a 1.
Hernán Crespo bateu fraco, à meia altura, no canto esquerdo. David Seaman pulou certo e fez a defesa sem dificuldades. Permanecia 1 a 1.
Paul Ince bateu mal, do mesmo jeito e no mesmo lugar. Carlos Roa pegou. Ainda estava 1 a 1.
Juan Sebastián Verón, “La Brujita”, bateu da mesma forma que Shearer e mandou no alto, no canto direito do goleiro inglês. 2 a 1.
Paul Merson tentou imitar. A bola foi mais baixa e mais no meio. Roa chegou a tocar, mas a bola entrou. 2 a 2.
Cheio de confiança, Marcelo Gallardo bateu no canto direito. Seaman novamente acertou o canto, mas não conseguiu pegar. 3 a 2.
Michael Owen, no alto de seus 18 anos, mostrou toda a sua confiança. Bateu no ângulo direito. Roa pulou no canto esquerdo pelo chão. 3 a 3.
Roberto Ayala não fugiu da responsabilidade. Ele bateu rasteiro, no canto esquerdo. Incrivel: Seaman acertou o canto em todas as batidas, mas só conseguiu defender uma das penalidades. 4 a 3.
O inglês David Batty tinha que marcar para forçar a segunda série de cobranças, as chamadas “alternadas”. Ele bateu â meia altura no canto direito, quase no meio do gol. Foi uma defesa fácil para Carlos Roa. Placar final: 4 a 3 para a Argentina.
● Após a disputa nas penalidades, David Batty confessou que nunca havia batido um pênalti sequer como profissional, porém, estava se sentindo confiante e com muita vontade de cobrar e, por isso, pediu ao técnico. Apesar do erro, Batty disse que faria isso novamente, se a oportunidade aparecesse e ele se sentisse bem.
Se em 1990 Sergio Coycochea havia sido o herói nos pênaltis, essa era a vez de Carlos Roa, o novo tapa penales. A Argentina voltava às quartas de final.
Foi a terceira eliminação seguida da Inglaterra na decisão por pênaltis em grandes torneios – Copa do Mundo de 1990, Eurocopa de 1996 e Copa do Mundo de 1998.
Na Copa do Mundo seguinte, em 2002, Inglaterra e Argentina estavam no mesmo grupo na primeira fase. Os ingleses venceram por 1 x 0, com um gol de pênalti marcado por David Beckham. Era a vingança pessoal do jogador inglês contra a Diego Simeone e a Argentina. O resultado praticamente classificou os ingleses e deixou os albicelestes em más condições. De fato, os hermanos seriam eliminados ainda na fase de grupos. Um vexame.
Uma curiosidade sobre Alan Shearer. Conhecido pelo seu faro de gol e seu poder goleador, o atacante inglês era muito supersticioso. Ele acreditava que seu talismã era… sua sogra! Ela assistiu das arquibancadas à sua estreia na seleção inglesa – um amistoso contra a França em fevereiro de 1992 –, e ele marcou um gol na partida. Nos quatro jogos seguintes, ela não compareceu e ele não marcou. No jogo seguinte, ela voltou a assistir e ele voltou a marcar – contra a Turquia, em novembro de 1992, pelas eliminatórias da Copa de 1994. Desde então, a sogra se tornou um amuleto e Shearer passou a levá-la para todos os jogos do English Team.
Três pontos sobre… … 13/06/2021 – O melhor do terceiro dia da Euro
(Imagem: UEFA)
A Inglaterra venceu pela primeira vez no jogo de abertura da Euro, a Áustria conseguiu sua primeira vitória na história do torneio e a Holanda venceu a Ucrânia no melhor jogo até o momento.
Sem poder contar com o zagueiro Harry Maguire, o técnico Gareth Southgate optou por desfazer de seu tradicional 3-5-2. Mandou seu time a campo no 4-3-3, improvisando Trippier na lateral esquerda.
Jogando em casa, no mítico estádio Wembley, a Inglaterra começou o jogo pressionando e teve a primeira chance logo aos cinco minutos. Phil Foden (com o cabelo descolorido que lembra um pouco Paul Gasgoigne) invadiu a área pelo lado direito e bateu de perna esquerda. A bola passou pelo goleiro Dominik Livaković, mas bateu na trave.
Ainda houve duas outras chances, com Sterling perdendo o tempo de bola pelo lado esquerdo e um chute de fora da área de Kalvin Phillips, que Livaković pegou.
A Inglaterra dominava. Mas, no meio do primeiro tempo, a Croácia compactou as linhas de marcação e passou a impedir a criação do English Team. Com isso, os croatas começaram a ficar mais com a bola no pé. Na melhor das jogadas, Vrsaljko cruzou da direita, Kramarić fez o corta luz e Ivan Perišić bateu por cima, longe do gol.
O segundo tempo começou como uma continuação do primeiro. Luka Modrić, mais apagado que o normal, chutou de longe e Pickford segurou.
Aos 12, o único gol do jogo. Kalvin Phillips apareceu como opção na meia direita, cortou a marcação e tocou na medida para a infiltração de Raheem Sterling, que finalizou de dentro da área. A bola ainda tocou no goleiro antes de entrar.
A sequência da partida foi uma batalha no meio de campo, em que ninguém se sobressaiu. E o jogo terminou assim.
Foi a primeira derrota da Croácia em uma estreia de Euro. Antes, eram quatro vitórias e um empate.
Por sua vez, foi a primeira vitória inglesa na primeira partida de uma Eurocopa. Anteriormente, eram cinco empates e quatro derrotas.
… Áustria 3 x 1 Macedônia do Norte
(Imagem: UEFA)
● Pelo histórico das duas seleções no futebol, muitos esperavam um jogo fácil. Mas não foi.
A Áustria abriu o placar aos 18′. Marcel Sabitzer fez um lançamento sensacional da lateral esquerda. O ala Stefan Lainer apareceu na segunda trave e emendou para o gol.
Mas a Macedônia do Norte empatou o jogo aos dez minutos depois, em uma falha da defesa austríaca. A bola acabou sobrando livre para o melhor jogador macedônio fazer o primeiro gol da história de seu país em uma grande competição. Prestes a completar 38 anos, Goran Pandev é o capitão, camisa 10, mais talentoso do time e com histórico mais vencedor. É um simbolismo enorme ele ter sido o autor do gol.
De forma incoerente, o treinador Franco Foda preferiu escalar David Alaba no centro de uma linha de três zagueiros. Mais técnico de sua seleção, ele dava muita qualide à saída de bola, mas suas características poderiam ser utilizadas melhor na criação das jogadas. Assim, Sabitzer e Konrad Laimer – a dupla do RB Leipzig – tentava fazer sua seleção jogar.
Quando a Macedônia do Norte estava mais confortável em campo e parecia até mais perto da virada, a Áustria fez o segundo gol.
Aos 33′ do segundo tempo, Alaba se projetou pela lateral esquerda e cruzou para Michael Gregoritsch desviar para o gol, antes da chegada do goleiro Dimitrievski.
O terceiro gol saiu a um minuto do fim. Laimer deu um toque de calcanhar, Marko Arnautović dominou, invadiu a área e driblou o goleiro antes de chutar para o gol.
Essa foi a primeira vitória da Áustria na história da Eurocopa. Nas duas participações anteriores (2008 e 2016), haviam sido dois empates e quatro derrotas – e queda na primeira fase em ambos.
… Holanda 3 x 2 Ucrânia
(Imagem: UEFA)
● Andriy Shevchenko mandou a Ucrânia a campo no sistema 4-1-4-1, com muita liberdade para os meias laterais avançarem ao ataque.
Frank de Boer escalou a Holanda no mesmo esquema 5-3-2 que fez a Oranje obter o 4º lugar na Copa de 2014.
No primeiro tempo, as duas seleções jogaram pra ganhar, com muito toque de bola e intensidade. Mas faltou o gol. A Holanda chegou mais perto disso, com chutes de fora da área de Wijnaldum e finalizações imprecisas de Weghorst e Dumfries.
Aos 7′ da etapa final, lançamento em profundidade pela direita do ataque holandês, Mykolenko errou o corte e Dumfries cruzou rasteiro. O goleiro Bushchan ainda tirou da área, mas Georginio Wijnaldum aproveitou o rebote e mandou no alto para abrir o placar.
A Laranja marcou o segundo seis minutos depois, em nova falha do lateral esquerdo ucraniano Vitaliy Mykolenko. Frenkie de Jong tocou para Dumfries dentro da área. Mykolenko caiu na dividida, a zaga tentou tirar e Wout Weghorst emendou de primeira para o gol. Bushchan ainda tentou pegar, mas a bola entrou.
A Holanda tinha controle do jogo, mas a Ucrânia não se deu por vencida e diminuiu aos 30′. Vestindo a camisa 7 que era de seu treinador, Andriy Yarmolenko fez um golaço. Ele tabelou com Yaremchuk, cortou da direita para o centro, ajeitou e bateu de perna esquerda, encobrindo o gigante Stekelenburg.
O empate ucraniano saiu quatro minutos depois. Malinovskyi cobrou falta da esquerda e Roman Yaremchuk apareceu sozinho na entrada da pequena área e cabeceou no canto esquerdo do goleiro.
Quando parecia que a Ucrânia tinha mais moral e estava mais próxima da virada, a Holanda resolveu o jogo a seu favor, com um gol de Denzel Dumfries, o melhor em campo, marcando um gol e participando dos outros dois.
Aos 40′, o zagueiro Nathan Aké cruzou da esquerda e Dumfries se antecipou à marcação de Zinchenko e cabeceou forte no canto esquerdo, sem chances para o goleiro ucraniano.
Três pontos sobre… … 08/06/1958 – União Soviética 2 x 2 Inglaterra
(Imagem: Pinterest)
● Por ser o mais equilibrado da Copa, o Grupo 4 era chamado pela imprensa de “Grupo de Ferro”. Além de Inglaterra e URSS, a chave ainda tinha o talento dos craques da Seleção Brasileira e o bom time da Áustria, que tinha terminado o Mundial anterior na 3ª colocação.
A União Soviética chegou ao Mundial como uma das favoritas ao título, muito por causa da conquista da medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne. Mas teve certa dificuldade para se qualificar para o Mundial na Suécia. No Grupo 6 das eliminatórias, terminou empatada em número de pontos com a Polônia e precisou do jogo desempate, quando derrotou os poloneses por 2 x 0 em Leipzig, na Alemanha Oriental.
A URSS atraía a curiosidade de todos. Tudo que vinha “do lado de lá” da Cortina de Ferro tinha uma aura misteriosa e moderna que dava medo ao mundo ocidental, em todos os âmbitos: na ciência, nos equipamentos bélicos, no esporte e em tudo mais. A lenda do “futebol científico” – que havia produzido um sistema perfeito para derrotar qualquer equipe – deixava os adversários intimidados. Segundo uma história contada na época, a comissão técnica soviética teria cruzado o provável desempenho dos rivais em computadores e, após os cálculos, o país seria campeão do mundo.
Lev Yashin recebe a bola recuada antes da chegada de Derek Kevan (Imagem: Futbox)
● Em sua partida de estreia em Copas do Mundo, a União Soviética enfrentou um forte adversário.
A Inglaterra se classificou no Grupo 1 das eliminatórias. Mesmo em um grupo com a incipiente Dinamarca e a fraca Irlanda, o English Team não foi soberano. A qualificação foi alcançada apenas aos 44 minutos do segundo tempo do último jogo, quando John Atyeo fez o gol do empate por 1 x 1 com os irlandeses, em Dublin.
Os ingleses não tinham mais a aura de invencível, principalmente depois das duas surras que sofreram da Hungria em 1953 (3 x 6) e 1954 (1 x 7). Mas ainda era um time muito respeitável, com jogadores como o capitão Billy Wright, Bobby Robson, Johnny Haynes e Tom Finney. No banco já aparecia o craque Bobby Charlton, de apenas 20 anos, que lideraria a seleção campeã do mundo em 1966 (disputaria quatro Copas, entre 1958 e 1970). Inclusive, Charlton foi um dos sobreviventes da “Tragédia de Munique”.
O futebol inglês ainda vivia o luto causado pelo desastre aéreo ocorrido no aeroporto de Munique no dia 06 de fevereiro daquele mesmo ano, que causou a morte de 23 dos 38 tripulantes, sendo oito jogadores do Manchester United. Entre os mortos, três atletas que certamente seriam titulares do English Team na Copa da Suécia: Roger Byrne (28 anos), capitão do Man Utd, que havia jogado o Mundial de 1954; Tommy Taylor (26 anos), grande artilheiro dos Red Devils e também veterano da Copa de 1954; e Duncan Edwards (21 anos), um jogador polivalente, adorado pelos ingleses e que – segundo a imprensa europeia – tinha potencial para ser o melhor do mundo.
Os três foram perdas muito sentidas para o time formado pelo técnico Walter Winterbottom. Além do aspecto técnico, o fator psicológico também foi preponderante. Em um amistoso preparatório disputado um mês antes do Mundial, a Inglaterra perdeu por 5 x 0 para a Iugoslávia, em Belgrado.
(Imagem: sovsport.ru)
● Esse foi um duelo muito aguardado, por colocar frente a frente duas escolas diferentes e com grande qualidade técnica.
As duas seleções entraram em campo com seus uniformes tradicionais: os ingleses de calção preto e camisa branca com o símbolo dos três leões (Three Lions), enquanto os soviéticos vestiam calção branco e a camisa vermelha ostentando o famoso símbolo “CCCP” (Союз Советских Социалистических Республик – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, escrita em russo com o alfabeto cirílico). O goleiro Lev Yashin justificava a alcunha de Aranha Negra, com seu uniforme todo preto, sua tradicional boina e uma coisa inédita: luvas. Yashin foi o primeiro goleiro a usar luvas de couro para proteger as mãos em uma partida de Copa do Mundo.
A principal ausência na seleção soviética foi a do centroavante Eduard Streltsov, artilheiro do time nas eliminatórias. Ele foi impedido de sair de seu país por estar respondendo a um processo criminal por estupro. Diz a lenda que ele era inocente e seu julgamento teria sido todo armado porque ele bateu de frente com o regime comunista russo. Porém, essa é uma história polêmica que fica pra outro momento. Mas ele fez muita falta à equipe e, talvez, se estivesse em campo, a URSS poderia ter tido melhor sorte ao longo da competição.
A URSS jogava em um sistema W-M adaptado, com um homem na sobra, como um líbero. Os meias jogavam muito perto dos pontas e trocavam de posição com frequência.
A Inglaterra ainda utilizada o velho sistema W-M, criado por Herbert Chapman em 1925. Era um estilo de jogo mais estático que o dos soviéticos.
● Praticamente ninguém sabia como jogava a URSS. E os ingleses descobriram da pior maneira, já dentro de campo. A novidade tática dos soviéticos estava no ataque, com os meias jogando bem próximos dos pontas, com muita movimentação. O centroavante Nikita Simonyan se mexia incessantemente, caindo para os dois lados. Essa troca de posições constante confundiu muito a marcação da defesa inglesa. Mesmo com a proteção do grande Billy Wright como líbero, o time só se encontrou após sofrer dois gols.
O placar foi aberto aos 13 minutos. Após cruzamento da direita, a bola passou por todo mundo e Nikita Simonyan chutou para o gol vazio.
O segundo foi foi marcado aos 11′ do segundo tempo. Aleksandr Ivanov recebeu na meia-lua, invadiu a área sem marcação, driblou o goleiro Colin McDonald e finalizou de esquerda para o gol.
O jogo parecia resolvido. Mas os ingleses tinham uma jogada que praticavam desde o século XIX: os famosos “chuveirinhos” – as bolas aéreas cruzadas na área desde a linha lateral. E o primeiro gol saiu assim, aos 21′, em um desses incessantes cruzamentos. Bryan Douglas cruzou da direita. De dentro da pequena área, Derek Kevan cabeceou para baixo e a bola entrou à direita de Yashin.
O English Team seguiu atacando em busca da igualdade, principalmente apostando na bola aérea.
Em um bom lance, o veterano Tom Finney passou por Vladimir Kesarev, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda. Yashin segurou, mas Kevan atingiu o goleiro na dividida. A bola sobrou livre para Bobby Robson marcar o gol, mas o árbitro húngaro István Zsolt já havia marcado corretamente a falta no lance.
Yashin tinha dificuldades até para repor a bola em jogo, pois os atacantes ingleses ficavam em cima, impedindo a saída rápida do arqueiro soviético.
Mas McDonald também trabalhava. Aleksandr Ivanov cruzou da ponta direita e o goleiro inglês saiu para tirar a bola de Simonyan e evitar o gol.
O empate veio a cinco minutos do fim em um pênalti muito polêmico. Johnny Haynes foi derrubado quase na linha da grande área. Mal posicionado, o juiz assinalou o pênalti. Tom Finney bateu com precisão, forte e rasteiro, no canto direito de Yashin – que até acertou o lado, mas não conseguiu pegar.
No fim, o placar de 2 a 2 foi um empate honroso, que justificou a qualidade das duas seleções.
Tom Finney converte a cobrança de pênalti sobre o goleiro Lev Yashin (Imagem: Popperfoto / Getty Images)
Aliás, o equilíbrio tomou conta da fase de grupos. Tanto, que foram necessários três jogos desempate para definir os classificados para as quartas de final. Somente o Grupo 2 classificou dois países de forma direta. No Grupo 1, a Irlanda do Norte bateu a Tchecoslováquia por 2 x 1. Pelo Grupo 3, o País de Gales venceu a Hungria também por 2 x 1. No Grupo 4, União Soviética e Inglaterra voltaram a se enfrentar nove dias depois da primeira partida.
E, no dia 17/06/1958, qualquer uma das duas equipes poderiam ter vencido. Os soviéticos jogaram melhor na primeira etapa, mas não conseguiram abrir o placar. O segundo tempo foi dominado pelos ingleses e, mais especificamente, pelo atacante estreante Peter Brabrook, do Chelsea. Ele mandou duas bolas na trave e ainda teve um gol anulado (ele tocou a bola com a mão antes de finalizar no ângulo direito). Mas foi a URSS quem fez o único gol do jogo, aos 23′ da etapa final. O goleiro McDonald saiu jogando errado e entregou a bola nos pés de Valentin Ivanov. Após uma rápida troca de passes, o ponta esquerda Anatoli Ilyin ficou com a bola dentro da área e finalizou antes da chegada de dois marcadores. A bola tocou na trave direita antes de entrar. Depois do gol, os soviéticos recuaram para segurar o resultado. Os britânicos foram para o abafa, mas a defesa russa se sobressaiu, com destaques para o goleirão Lev Yashin e o zagueiro Yuriy Voynov.
Na sequência, o “futebol científico” soviético foi por água abaixo nas quartas de final ao ser eliminado pela Suécia, a dona da casa, com uma derrota por 2 x 0.
Lance do jogo desempate, quando a URSS eliminou a Inglaterra com vitória por 1 a 0 (Imagem: Popperfoto / Getty Images)
Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Inglaterra 3 x 1 Argentina
(Imagem: Daily Mail)
Depois da enxurrada de críticas após a primeira partida da Argentina na Copa de 1962, quando venceu a a Bulgária por 1 x 0, o técnico Juan Carlos Lorenzo resolveu mexer no time. O zagueiro Ramos Delgado, que viria a ser ídolo do Santos anos depois, continuou no banco. Mas Lorenzo fez quatro alterações na sua equipe em relação ao jogo anterior. Por lesão, trocou o lateral direito Alberto Sainz por Vladislao Cap. Por opção, substituiu o ponta direita Héctor Facundo por Rubén Héctor Sosa, o atacante Marcelo Pagani pelo velocista Juan Carlos Oleniak e, a mudança principal: sacou o meia Oscar Rossi para escalar o craque Rattín.
Meia do Boca Juniors, Antonio Rattín era um meia de ótima técnica, uma fonte de ótimos passes e excelente visão de jogo, mas não tinha a confiança de seu treinador. Contudo, pela falta de criatividade do meio campo da albiceleste no primeiro jogo, a pressão foi muito grande e Rattín foi escalado para a partida seguinte.
Por sua vez, a superestimada Inglaterra teve um choque de realidade ao perder na estreia para a Hungria por 2 x 1. Para não serem eliminados na primeira fase (como quatro anos antes), os britânicos precisavam vencer os argentinos de qualquer maneira. E trataram logo de partir para cima.
A Inglaterra jogou em uma espécie de “W-W”, ou seja, uma defesa com quatro homens e um ataque em W.
A Argentina atuava no sistema tático 4-2-4.
A seleção argentina apresentou uma novidade tática no Mundial: a defesa jogava em uma linha de quatro homens e se adiantava de forma sincronizada para deixar os atacantes adversários em posição de impedimento. A ideia era tão boa, que ainda hoje é utilizada por várias equipes do futebol mundial. Porém, os hermanos deveriam ter ensaiado melhor a arriscada jogada. Devido a essa “linha burra”, os rápidos atacantes ingleses surgiram livres por várias vezes diante do goleiro Antonio Roma.
Jogando na ponta esquerda, Bobby Charlton deu um baile no lateral Cap, deixando o pobre jogador perdido em todas as jogadas.
Sem forçar muito, os ingleses abriram o placar aos 17′. Charlton recebeu a bola sem marcação e cruzou para a área. Alan Peacock cabeceou e o zagueiro albiceleste Rubén Navarro se abraçou com a bola para evitar o gol. Pênalti indiscutível, convertido por Ron Flowers.
O segundo tento foi anotado por Bobby Charlton aos 42′. Ele recebeu a bola na área e finalizou sem chance de defesa para Roma.
O terceiro saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Após cruzamento na área da Argentina, Jimmy Greaves se antecipou a Raúl Páez e tocou no canto esquerdo do goleiro.
Confusa em campo, a Argentina só diminuiu o prejuízo a nove minutos do fim, quando o jogo já estava definido. José Sanfilippo recebeu a bola na intermediária, entre a marcação inglesa, avançou em velocidade e, ao entrar na área, tocou na saída do goleiro Ron Springett. Um belo gol, que pouco adiantou.
(Imagem: abrilacancha.com.ar)
O resultado reabilitou os ingleses e deixou os argentinos em situação difícil.
No dia seguinte, a Hungria goleou a Bulgária por 6 x 1. Com duas vitórias em dois jogos, os húngaros praticamente garantiram sua classificação para a fase seguinte na primeira colocação do Grupo 4. Argentinos e ingleses foram para a última rodada disputando a segunda vaga.
No dia 06/06, uma seleção argentina toda remendada parou nas mãos do lendário goleiro Gyula Grosics e empatou sem gols com uma equipe mista da Hungria. Assim, com três pontos em três jogos, os hermanos dependiam do resultado do jogo entre Inglaterra x Bulgária, que ocorreu no dia seguinte. Sem nenhum ponto conquistado, a Bulgária já estava eliminada. Mas o English Team tinha dois pontos e se classificaria com uma vitória simples ou até com um empate, já que levava vantagem sobre os argentinos no goal average (1,3 a 0,7).
E foi o que aconteceu: a Inglaterra só se defendeu e a Bulgária só queria evitar outro vexame. O empate sem gols classificou a Inglaterra em segundo lugar da chave. Nas quartas de final, os ingleses perderam para o Brasil por 3 x 1, em uma tarde esplendorosa de Garrincha.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Rubén Navarro e Johnny Haynes (Imagem: Keystone / Getty Images)
● FICHA TÉCNICA:
INGLATERRA 3 x 1 ARGENTINA
Data: 02/06/1962
Horário: 15h00 locais
Estádio: Braden Cooper (atual Estadio El Teniente-Codelco)
Três pontos sobre… … 29/06/1950 – Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra
(Imagem: Imortais do Futebol)
● Inventores do futebol moderno, a Inglaterra protagonizou a primeira partida entre duas nações em 30/11/1872, ao empatar sem gols com a vizinha Escócia. Com tanta referência e tradição, os ingleses se negavam a disputar as Copas do Mundo, já que mantinha relações rompidas com a FIFA entre 1928 e 1946. E os ingleses se sentiam tão superiores, que não viam a necessidade de colocar a sua superioridade em questão e em disputa.
Ao se reconciliar com a entidade máxima do futebol, a federação inglesa aceitou disputar o Mundial de 1950. E viajaram para o Brasil com total convicção de que levantariam a taça. Na primeira partida, vitória sobre o Chile por 2 x 0, gols de Stan Mortensen e Wilf Mannion. Apesar do placar magro, a vitória tranquila apenas ressaltou o favoritismo inglês para as partidas seguintes.
A curiosidade sobre os ingleses era tão grande, que a delegação brasileira foi assistir à partida. Esse foi o único jogo que os donos da casa foram acompanhar in loco. Foi a primeira vez que o English Team jogou no continente americano.
Então, na segunda partida, contra os ingênuos ianques – semiamadores –, seria moleza.
(Imagem: Getty Images / Globo)
● Sério candidato a saco de pancadas, os Estados Unidos possuíam um time montado às pressas por atletas semi-amadores e recheado de imigrantes. Por exemplo, Frank Borghi foi médico na Segunda Guerra Mundial e trabalhava como motorista da funerária de seu tio na época da Copa. Walter Bahr era professor. Outros eram carteiros ou lavadores de prato. O atacante Ben McLaughlin não conseguiu a liberação do emprego e não viajou ao Brasil.
Cinco jogadores eram nascidos em em outro país: Joe Maca na Bélgica, Gino Gardassanich na região onde atualmente é a Croácia, Ed McIlvenny na Escócia, Adam Wolanin na Polônia e Joe Gaetjens no Haiti. Eles foram inscritos pouco antes da viagem da delegação. Outros sete eram de ascendência europeia: Frank Borghi, Charlie Colombo, Nicholas DiOrio e Gino Pariani eram de origem italiana; Walter Bahr era descendente de alemães; e John Souza e Ed Souza (que não tinham parentesco) eram de família portuguesa.
Curiosamente, o centromédio Charlie Colombo tinha o apelido de “Gloves” (“luvas”, em inglês) porque usava luvas para se lembrar de não colocar as mãos na bola. Depois da Copa, ele receberia o convite para jogar no futebol brasileiro, mas preferiu voltar aos EUA.
(Imagem: Getty Images / Globo)
● A Inglaterra chegou ao Brasil com um retrospecto de 23 vitórias, três empates e quatro derrotas no pós-guerra. Venceu o Campeonato Britânico de Seleções, que valia como eliminatórias e garantia uma vaga ao campeão.
Os Estados Unidos sofreram no grupo qualificatório das Américas do Norte e Central. Foram goleados duas vezes pelo México e só garantiu a vaga ao superar Cuba na última partida, após empatar a primeira. Nos sete últimos jogos desde o Mundial de 1934, haviam levado 45 gols (média de 6,5 gols sofridos por partida) e marcado apenas três. Com esse histórico, era de se esperar que passasse a maior das vergonhas, em um grupo com Inglaterra, Espanha e Chile. Apenas o vencedor de cada grupo se qualificava para o quadrangular final. Como esperado, Estados Unidos perderam para a Espanha por 3 x 1 na primeira partida.
Uma casa de apostas londrina estava pagando 500 para 1 em caso de aposta em vitória dos norte-americanos. O técnico Bill Jeffrey foi honesto à imprensa: “Não temos chance”. Ele também disse que seus jogadores eram “ovelhas prontas para serem abatidas”. O jornal inglês Daily Express esculachou: “Seria justo começar dando aos EUA três gols de vantagem”.
A Inglaterra tinha a expectativa da estreia do ponta direita Stanley Matthews, craque do time e chamado de “Feiticeiro do Drible”. Mas o presidente da federação inglesa, Arthur Drewry, pediu que o técnico Walter Winterbottom escalasse o mesmo time que havia vencido o Chile e, consequentemente, sem Matthews, poupado para o duelo diante da Espanha.
Os EUA atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
A Inglaterra jogava no sistema WM.
● Na tarde de 29 de junho de 1950, 10.151 expectadores compareceram ao estádio Independência, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A expectativa era ver uma surra homérica da Inglaterra no time semiamador dos Estados Unidos.
Normalmente Walter Bahr era o capitão da seleção dos Estados Unidos, mas Ed McIlvenny foi escolhido para essa partida somente por ser britânico. A Inglaterra ganhou no cara ou coroa e optou por começar com a bola.
Em um minuto e meio, Stan Mortensen cruzou da esquerda, Roy Bentley chutou e o goleiro Frank Borghi espalmou.
Aos 12′, a Inglaterra já tinha finalizado seis vezes, com duas bolas na trave, uma por cima e uma defendida milagrosamente por Borghi.
Os EUA só conseguiram chegar ao ataque aos 25′, com um chute defendido pelo goleiro inglês Bert Williams.
Na sequência, o English Team respondeu com três chutes a gol em três minutos. Mortensen chutou duas vezes por cima e o chute de Tom Finney tinha o caminho do ângulo, mas foi desviado por Borghi.
Aos 38 minutos, McIlvenny bateu um lateral para Walter Bahr, que chutou de forma despretensiosa, de longe, a 23 metros do gol. Quando o Williams deu um passo para a direita para segurar, Joe Gaetjens se antecipou e mergulhou de cabeça da marca do pênalti, tocando na bola apenas o suficiente para tirá-la das mãos do goleiro inglês e mandar para o fundo da rede. A multidão explodiu de alegria.
No último lance antes do intervalo, Finney teve a chance de empatar, mas o árbitro italiano Generoso Dattilo apitou antes que ele pudesse chutar.
Ao fim do primeiro tempo, o saldo era de 30 finalizações dos ingleses e apenas duas dos norte-americanos.
(Imagem: Superesportes)
A multidão em volta do estádio aumentou quando os belo-horizontinos ouviram o gol no rádio. Alguns até pularam o muto para entrar no estádio. Em sua grande maioria, os brasileiros estavam torcendo para os americanos, aplaudindo as defesas de Borghi e os falhos ataques ingleses.
“A maioria esmagadora era de brasileiros, mas eles torceram por nós o tempo todo. Não sabíamos o motivo até depois. Eles esperavam que vencêssemos a Inglaterra para que a tirasse do caminho do Brasil nas finais.” ― Walter Bahr
Com a vantagem no placar, o técnico Bill Jeffrey ordenou que seu time se fechasse todo atrás do meio de campo. E os estadunidenses começaram o segundo tempo jogando com confiança e quase ampliaram o marcados aos 54′.
Cinco minutos depois, Mortensen cobrou falta, mas Borghi defendeu bem.
A Inglaterra começou a atacar novamente e pressionava os americanos em seu campo de defesa.
A oito minutos do fim, Charlie Colombo derrubou Mortensen na entrada da área. Os atletas do English Team queriam pênalti, mas o juiz marcou falta fora da área. Na cobrança, Alf Ramsey cruzou e Jimmy Mullen cabeceou firme. A bola ia tomando o rumo do gol, mas Frank Borghi – o melhor jogador em campo – salvou em cima da linha. Os ingleses protestaram, alegando que a bola havia cruzado a linha, mas o árbitro não os atendeu e mandou o jogo seguir.
E o ímpeto britânico se perdeu. Aos 40′, Frank Wallace driblou o goleiro Williams e chutou, mas Alf Ramsey salvou em cima da linha.
Não havia mais tempo para nada. Estava decretada a maior zebra da história das Copas do Mundo.
No fim da partida, a eufórica torcida brasileira invadiu o gramado para erguer os jogadores americanos, especialmente Joe Gaetjens, o autor do milagre.
“O jogo perfeito é vencer e jogar bem. Ganhamos, mas com certeza não fomos melhores do que a Inglaterra. Foi um daqueles jogos onde a melhor equipe não ganha. Eu estou orgulhoso disso. Tínhamos uma boa equipe. Mas, se jogássemos contra a Inglaterra dez vezes, eles teriam ganhado nove.” ― Walter Bahr
(Imagem: Sport 360)
● Reza a lenda que, ao receber o teletipo com a informação do placar “EnglandOX1USA”, um jornal de Londres publicou o resultado da partida sem medo de errar: “England 10 x 1 USA”. Seria impossível para os ingleses acreditarem que não estivesse faltando nenhum caracter ao lado do “0 x 1”. Tinha que ser um erro. Outro jornal britânico foi irônico: “A Inglaterra foi batida pelo time do Mickey Mouse e do Pato Donald”.
A imprensa internacional foi unânime: se tratava do resultado mais inesperado da história das Copas. A zebra repercutiu no mundo todo, menos nos Estados Unidos. Os ianques praticamente ignoravam o futebol e não se ligaram no feito até a década de 1970.
A partida ficou conhecida como o “Milagre de Belo Horizonte”.
Na rodada final, os Estados Unidos perderam para o Chile por 5 x 2 e a Inglaterra foi batida pela Espanha por 1 x 0. Os espanhóis foram líderes do grupo e se classificaram para a fase final.
Por causa da decepcionante queda na primeira fase e o oitavo lugar na classificação geral, a seleção inglesa nunca mais voltou a vestir as camisas e meias azuis escuras que usou nessa partida.
Como zagueiro pela direita, esteve em campo Alf Ramsey, que seria o técnico campeão do mundo com a seleção inglesa em 1966.
Em 2005 foi lançado o filme “The game of their lives” (“Duelo de campeões”), produzido pelos ianques para retratar a histórica zebra. A película mostra como foi feita a montagem do time, as relações entre o elenco e uma partida em que os jogadores teriam enfrentado uma espécie de time B inglês e aprendido com os erros desse jogo para irem à Copa do Mundo (o que, de fato, ocorreu). É lógico que tem muito do tom nacionalista que os ianques adoram, tratando os jogadores como super-heróis. Mas a única falha histórica grotesca foi ignorar completamente o primeiro jogo dos EUA na Copa (derrota para a Espanha por 3 x 1). No fim do filme, aparecem cindo jogadores do time original que ainda estavam vivos mais de meio século depois: o goleiro Frank Borghi, o médio Walter Bahr e os atacantes Frank Wallace, Gino Pariani e John Souza.
O autor do gol da partida foi o haitiano Joe Gaetjens. Ele vivia nos Estados Unidos graças a um visto de estudante para cursar contabilidade na Universidade de Columbia e trabalhava como lavador de pratos eum um restaurante no Brooklin, além de jogar futebol pelo time Brookhattan. Ele obteve um passaporte provisório para poder disputar a Copa do Mundo pelos EUA. Ele já havia representado a seleção do Haiti em 1944 e voltou a jogar em 1953, em uma partida das eliminatórias para a Copa de 1954, contra o México.
No ano seguinte, Joe Gaetjens foi jogar no Racing Club de Paris e retornou ao Haiti posteriormente. Depois, passou a trabalhar para um rival político de François “Papa Doc” Duvalier e foi preso em 1954. Passou a militar politicamente contra a ditadura de “Papa Doc” até que foi visto pela última vez em 08 de julho de 1964, sendo colocado à força em um carro da polícia secreta do ditador e levado à prisão de Fort Dimanche, conhecido como um lugar de tortura e crueldade. Gaetjens nunca mais foi visto.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA:
ESTADOS UNIDOS 1 x 0 INGLATERRA
Data: 29/06/1950
Horário: 15h00 locais
Estádio: Independência
Público: 10.151
Cidade: Belo Horizonte (Brasil)
Árbitro: Generoso Dattilo (Itália)
ESTADOS UNIDOS (2-3-5):
INGLATERRA (W-M):
1FrankBorghi (G)
1Bert Williams (G)
2HarryKeough
2Alf Ramsey
3Joe Maca
3John Aston
4EdMcIlvenny (C)
4Billy Wright
5Charlie Colombo
5Laurie Hughes
6WalterBahr
6Jimmy Dickinson
7Ed Souza
7Tom Finney
8John Souza
8Stan Mortensen
9JoeGaetjens
9Roy Bentley
10 Gino Pariani
10 WilfMannion
11 Frank Wallace
11 Jimmy Mullen
Técnico: William Jeffrey
Técnico: Walter Winterbottom
SUPLENTES:
Gino Gardassanich (G)
Ted Ditchburn (G)
Robert Annis
Laurie Scott
GeoffCoombes
Jim Taylor
Robert Craddock
Bill Eckersley
Nicholas DiOrio
Willie Watson
Adam Wolanin
Bill Nicholson
Eddie Baily
Henry Cockburn
Stanley Matthews
Jackie Milburn
GOL: 38′ Joe Gaetjens (EUA)
Algumas imagens da partida:
Reportagem sobre o jogo e entrevista com o zagueiro norte-americano Harry Keough:
Três pontos sobre… … 11/06/1958 – Brasil 0 x 0 Inglaterra
(Imagem: DPA / FourFourTwo)
● Em partida válida pela segunda rodada do Grupo 4, mais de quarenta mil pessoas estiveram presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, para assistir ao primeiro jogo oficial entre Brasil e Inglaterra.
Após a vitória de 3 a 0 sobre a Áustria, o Brasil liderava seu grupo com dois pontos. Na primeira rodada, Inglaterra e União Soviética haviam empatado por 2 a 2.
O futebol inglês ainda vivia o luto causado pelo desastre aéreo ocorrido no aeroporto de Munique no dia 06/02, que causou a morte de 23 dos 38 tripulantes, sendo oito jogadores do Manchester United. Entre os mortos, três atletas que certamente seriam titulares do English Team na Copa da Suécia: Roger Byrne (28 anos), capitão do Man Utd, que havia jogado o Mundial de 1954; Tommy Taylor (26 anos), grande artilheiro dos Red Devils e também veterano da Copa de 1954; e Duncan Edwards (21 anos), um jogador polivalente, adorado pelos ingleses e que – segundo a imprensa europeia – tinha potencial para ser o melhor do mundo. Os três foram perdas muito sentidas para o time formado pelo técnico Walter Winterbottom. Entre os sobreviventes, um garoto de 20 anos, Bobby Charlton, que esteva no elenco em 1958 e que lideraria a seleção campeã do mundo em 1966 (disputaria quatro Copas, entre 1958 e 1970).
(Imagem: Central Press / Hulton Archive / Getty Images)
● Como já contamos detalhadamente nesse outro texto (clique aqui para ler) a pacata cidade de Hindås foi o local escolhido para concentração da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958. A cerca de 300 metros estava hospedada também a delegação da União Soviética.
Na véspera do jogo contra a Inglaterra, o goleiro Gymar dos Santos Neves recebeu a visita do colega Lev Yashin. O arqueiro soviético falava um pouquinho de espanhol e alertou o brasileiro sobre o centroavante inglês Derek Kevan, que costumava entrar dando cotoveladas para quebrar os goleiros rivais. O “Aranha Negra” descobriu isso da pior maneira na partida anterior e sofreu com o jogo sujo do inglês – que também era acostumado a cuspir nos adversários.
Gylmar entrou em campo prevenido. Na partida, saía do gol com o joelho levantado para acertar os oponentes antes de ser acertado. Isso ajudou a manter o ataque inglês longe de sua área. Na época o futebol britânico era pouco criativo e tinha praticamente uma única jogada de ataque: os cruzamentos para a área adversária. Foi um jogo duro, muito sofrido. Kevan jogava sujo, mas era um grande jogador e deu muito trabalho à defesa brasileira.
Antes da partida, Feola recebeu informações sobre o forte sistema defensivo inglês e resolveu reforçar o ataque, com dois atacantes de ofício. Dida sentia dores no pé e não conseguia sequer chutar uma bola. Foi substituído por Vavá. Além disso, Pelé havia sido barrado pelo médico, o Dr. Hilton Gosling, por ainda estar com o joelho em tratamento.
O treinador brasileiro pretendia escalar uma equipe mais ofensiva do que na estreia e queria que Garrincha jogasse no lugar de Joel. Mas, outra vez, foi convencido do contrário pelo observador Ernesto Santos, que alertou que o lateral esquerdo Bill Slater era um jogador muito violento e que poderia atingir Garrincha e tirá-lo do restante da Copa. Segundo Ernesto, Slater era o “jogador mais perverso que já vira atuar”. A jogada desleal do inglês consistia em “pisar com força o calcanhar do adversário na corrida, prender-lhe o pé e embolar-se com ele na queda”. E, enquanto o juiz nem marcava falta, o ponta passava o resto do jogo fazendo número ou saía de campo para não mais voltar.
Joel foi escalado e orientado a buscar mais o jogo no meio ao invés de abrir pela ponta, evitando o confronto direto com Slater. Seguiu o posicionamento à risca na primeira etapa e quase marcou um gol – salvo em cima da linha por Billy Wright. Porém, no segundo tempo, o brasileiro se empolgou, deu uma sequência de dribles no inglês, recebeu uma pancada e saiu de campo com muitas dores.
Influenciado pelo técnico húngaro Béla Guttmann, de quem foi auxiliar no São Paulo FC, Vicente Feola escalou seu time no revolucionário sistema 4-2-4. Com o recuo voluntário de Zagallo, o esquema se transformava em um 4-3-3 sem a bola.
A Inglaterra ainda utilizada o velho sistema W-M, criado por Herbert Chapman em 1925.
● O Brasil deu o pontapé inicial. Mas logo nos primeiros segundos, quem atacou foi a Inglaterra. O ponta esquerda Alan A’Court avançou e tabelou com Johnny Haynes. O capitão Bellini cortou e Dino Sani aliviou o perigo.
No fim do primeiro tempo, Zagallo cruzou para a área e a bola sobrou para Joel, que chutou forte para boa defesa de McDonald. Eddie Clamp pegou a sobra e bateu para cima.
A Inglaterra partiu para o ataque. Johnny Haynes, tabelou com Kevan e chutou bem. Gylmar defendeu em dois tempos. Foi o lance mais perigoso dos ingleses nos 90 minutos.
O English Team soube fechar os espaços para Didi, evitando que a criação de jogadas passasse pelo astro brasileiro. Com isso, o Brasil não conseguiu criar muito e não faz gols.
O goleiro inglês Colin McDonald esteve em uma noite inspirada e fechou o gol. Ele fez várias defesas à queima roupa, especialmente de Mazzola, e viu o Brasil acertar a trave com Vavá.
Já no finzinho, foi Mazzola quem desperdiçou a melhor oportunidade do jogo, ao perder um gol embaixo da trave, finalizando por cima.
(Imagem: Pinterest)
● Essa partida ficou marcada por ter sido a primeira a terminar sem gols em toda a história das Copas, após 116 jogos. Como era uma situação inédita, alguns jogadores ficaram meio perdidos em campo, chegando a pensar que o árbitro alemão Albert Dusch daria uma prorrogação.
O placar soou como um alerta para a comissão técnica denunciou algumas deficiências no ataque brasileiro que não tinham sido percebidas na estreia. O terceiro jogo seria de “vida ou morte” e seria justamente contra os temidos soviéticos.
Três pontos sobre… … 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra
(Imagem: FIFA)
● Em 1958, o Brasil se livrou do “complexo de vira-latas” e se sagrou campeão do mundo. Com Pelé e Garrincha no auge, era o favorito destacado à conquista do bicampeonato.
Na primeira fase, o English Team teve uma campanha irregular. No dia 31/05, perdeu na estreia para a Hungria por 2 a 1. Dois dias depois, venceu a Argentina por 3 a 1. Na última rodada, um empate sem gols com a Bulgária permitiu que os ingleses se classificassem no critério de saldo de gols. Empatadas com três pontos, a Inglaterra teve saldo de +1, enquanto a Argentina teve saldo de -1.
(Imagem: CBF)
● No escrete canarinho, uma preocupação era unanimidade: a ausência de Pelé. Ele até treinou com o grupo, mas não tinha condições de jogo. Comissão técnica, crítica especializada e torcida estavam inseguras com as chances de título sem o Rei. Mas outra coisa afligia discretamente a maioria: a má fase técnica de Garrincha.
Nos jogos anteriores, Mané teve um desempenho muito aquém do esperado e foi acusado injustamente de excesso de individualismo. Contra os mexicanos, esteve bem marcado e se omitiu do jogo, recebendo poucas bolas. Contra os tchecos, com Pelé lesionado e Vavá mal na partida, não tinha para quem cruzar. Contra a Espanha, só acertou uma boa jogada, que deu origem ao segundo gol de Amarildo.
Didi também não esteve bem na fase inicial. Mas, contra os ingleses, ele jogaria mais solto. Com sua visão de jogo, fez seus lançamentos, orientou o posicionamento da linha de frente, fechou os espaços no meio para revezar com Zito nas subidas ao ataque. Era uma passagem de bastão. Se Didi foi o líder em campo em 1958, Garrincha seria o astro na reta final em 1962.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
O ultrapassado técnico inglês Walter Winterbottom se rendeu ao “moderno” sistema 4-2-4.
● Antes da partida, o nervosismo de alguns atletas era grande. Até o experiente Zagallo sofreu. Ele não conseguiu urinar no vestiário. Já em campo, depois de executados os hinos nacionais, lhe deu uma vontade incontrolável de fazer xixi. Como não podia sair correndo dali, chamou três jogadores e dois fotógrafos para fazer uma rodinha. Ele se agachou e se aliviou ali mesmo, no centro do gramado.
A Inglaterra, mesmo não jogando bem, sempre é um time a ser respeitado. A partida começou com muito equilíbrio de lado a lado, com os dois selecionados se estudando. Os brasileiros ainda se recordavam do jogo na Copa de 1958, quando o Brasil não conseguiu passar pela defesa inglesa e ficou em um empate sem gols.
Estava sendo um jogo muito bem disputado. Os dois goleiros, Gylmar e Ron Springett, haviam feito defesas importantes.
Mas o maior protagonista da partida, até então, tinha sido um cachorrinho preto que invadiu o campo no meio da partida. Ele driblou alguns jogadores e deu um “olé” em Garrincha. Só foi capturado pelo inglês Jimmy Greaves, que ficou de quatro e foi se aproximando do bichinho no meio campo até agarrá-lo. Pouco depois, outro cão entrou no gramado, mas este não foi pego. Depois de desfilar rapidamente pelo gramado, ele passou por baixo do alambrado e desapareceu por conta própria.
● Garrincha era um driblador nato, brilhante na técnica, mas irresponsável taticamente. Costumava jogar fixo pela ponta direita e não entrava em diagonal. Mas, contra os ingleses, fugiu de seu padrão: saiu de sua posição, se infiltrou pelo meio e até pela esquerda, desempenhando tarefas que caberiam aos outros. Foi o responsável pelos três gols brasileiros, que decidiram uma partida complicada. Garrincha sabia e podia fazer de tudo. Provou isso naquele dia 10/06.
E foi ele quem abriu o placar para o Brasil. Aos 31 minutos de jogo, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha veio livre de trás e subiu mais que Maurice Norman (mais alto que ele) para cabecear forte para o gol. Um raro gol de cabeça de Garrincha.
Sete minutos depois, Johnny Haynes cobrou falta da direita para dentro da área. Jimmy Greaves cabeceou para o gol. A bola encobriu Gylmar, bateu na trave e sobrou limpa para Gerry Hitchens completar para o gol vazio e empatar o jogo.
Aos 8′ do segundo tempo, o Brasil tinha uma falta para bater, em uma posição perfeita para a cobrança de Didi. Mas Garrincha foi mais rápido e chutou com violência. A bola passou pela barreira. O goleiro Ron Springett não conseguiu segurar e espalmou para frente. Vavá só aproveitou e escorou de cabeça para fazer seu primeiro gol na Copa.
No minuto 14′, a Inglaterra tentou a bola longa, mas Mauro aparou de cabeça e deixou com Didi. O “Príncipe Etíope” lançou rasteiro para Amarildo na esquerda. O “Possesso” só ajeitou a bola para Garrincha, que chutou de fora da área. A bola fez uma curva, como se fosse a famosa “folha seca” de Didi, e foi no ângulo. Springett se esticou todo, mas não conseguiu defender. Na comemoração, Mané brincou com Didi: “Viu? Não é só você que sabe chutar assim”.
Segundo algumas fontes, Garrincha poderia ter marcado o “hat-trick” se o goleiro Springett não tivesse defendido um pênalti cobrado por ele, aos 21 minutos da etapa final.
Com dribles desconcertantes e jogadas decisivas, o “Anjo das Pernas Tortas” infernizava seus marcadores e levava ao delírio os 18.715 expectadores do estádio Sousalito, em Viña del Mar.
(Imagem: Candangol)
● “Preparamos nossos rapazes durante quatro anos para enfrentar times de futebol. Não esperávamos um jogador como Garrincha.” — Walter Winterbottom, técnico inglês, eliminado por Garrincha.
Após a consagradora exibição do ponta direita brasileiro, um jornal chileno publicou em manchete: “Garrincha, de qual planeta você vem?”
Naquele mesmo dia 10/06, o Chile estava em festa. Sua seleção havia se classificado para as semifinais ao vencer a União Soviética por 2 a 1. A notícia ruim? O adversário seria o Brasil, do “extra-terrestre” Garrincha.