Três pontos sobre… … Cafu jogando no Juventude em 1995
Você sabia que Cafu jogou no Juventude um ano depois de ser campeão do mundo pela Seleção Brasileira?
A Parmalat, patrocinadora do Palmeiras e do Juventude na época, usou o clube gaúcho como uma ponte para burlar uma cláusula que o São Paulo incluiu na venda de Cafu ao Zaragoza.
Três pontos sobre… … 05/07/2006 – França 1 x 0 Portugal
(Imagem: Reprodução / FIFA)
● Depois da decepcionante Europa de 2004, vários ícones resolveram se aposentar da seleção francesa: Marcel Desailly, Bixente Lizarazu, Lilian Thuram, Claude Makélélé e Zinedine Zidane. Mas os três últimos voltaram aos Bleus um ano depois, para ajudar nas eliminatórias para o Mundial de 2006 – onde a França estava passando dificuldades.
A França começou mal na Copa do Mundo de 2006. Nas duas primeiras partidas, foram dois empates: 0 x 0 com a Suíça e 1 x 1 com a Coreia do Sul. A classificação em segundo lugar no Grupo G (atrás dos suíços) veio com uma vitória sobre Togo por 2 x 0 – sem Zidane, suspenso. Nas oitavas de final, a França venceu a Espanha por 3 x 1, com um golaço marcado por Zidane nos acréscimos. Na quartas de final, um show solo de Zidane e vitória sobre o Brasil por 1 x 0.
O elenco francês ainda tinha alguns campeões do mundo em 1998, como o goleiro Fabien Barthez, o zagueiro Lilian Thuram, o capitão Zinedine Zidane e os atacantes David Trezeguet e Thierry Henry.
Zidane tinha mais um ano de contrato com o Real Madrid, mas já havia anunciado sua aposentadoria definitiva para depois da Copa. Ou seja: cada jogo do Mundial poderia ser a despedida de Zizou do futebol.
Com o corte de Djibril Cissé por fratura na perna, o time passou a jogar com apenas um atacante de ofício e com uma receita de jogo: longas trocas de passes, uma defesa sólida e experiente e dois craques que decidem: Zidane e Henry.
(Imagem: Ben Radford / Getty Images)
● O técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari levou seu país natal ao título da Copa de 2002. Depois da conquista do penta, ele assumiu um enorme desafio na seleção portuguesa.
Portugal havia disputado apenas três Copas do Mundo, sendo um sucesso (o 3º lugar em 1966) e dois fracassos, quando caiu na primeira fase em 1986 e 2002.
Aos poucos, Scolari reformulando o elenco luso. Ao mesmo tempo que deu oportunidades jogadores como o luso-brasileiro Deco e o jovem Cristiano Ronaldo, ele teve que ir tirando do time estrelas nacionais como o goleiro Vítor Baía, os zagueiros Fernando Couto e Abel Xavier, os meias Rui Costa e Sérgio Conceição, além do atacante João Pinto.
O capitão Luís Figo havia trocado o Real Madrid pela Inter de Milão um ano antes. Ele seguia sendo a maior estrela, exercendo sua importante liderança dentro de fora de campo.
Portugal sediou a Eurocopa de 2004 e chegou na final, mas perdeu de forma amarga para a surpreendente Grécia por 1 x 0.
Mas o time ganhou conjunto e se fortaleceu para a disputa do Mundial na Alemanha.
A maior ausência por lesão foi do zagueiro Jorge Andrade, do Deportivo La Coruña. Ele quebrou a perna três meses antes da Copa.
Os Tugas terminaram a primeira fase do Mundial com 100% de aproveitamento, com vitórias sobre Angola (1 x 0), Irã (2 x 0) e México (2 x 1). Nas oitavas de final, venceu a batalha campal diante da Holanda por 1 x 0. Nas quartas, vitória sobre a Inglaterra nos pênaltis por 3 x 1, depois de um empate sem gols.
As duas equipes jogavam no sistema 4-2-3-1.
● Em Munique, uma semifinal que criou muitas expectativas.
Os astros Luís Figo e Zinedine Zidane, ex-companheiros de Real Madrid, eram os capitães das duas seleções.
O técnico francês Raymond Domenech apostou nos mesmos titulares que começaram a partida contra o Brasil.
Les Bleus apostaram na mesma estratégia que deu certo contra o escrete canarinho, mas com uma enorme diferença: os lusos não jogaram de forma apática, acomodada e fria como os brasileiros quatro dias antes.
A partida começa com muito equilíbrio. Os jogadores mais criativos das duas seleções não conseguem espaços para criar e oferecer perigo. A maior parte do tempo, o jogo fica amarrado no meio campo. Quando os atacantes conseguiam finalizar, se limitavam a chutes de longa distância.
Quando caía pela esquerda, Thierry Henry dava muito trabalho para Miguel. Em um lance, ele driblou o lateral português por três vezes antes de chutar cruzado, para boa defesa do goleiro Ricardo.
Do outro lado, o jovem Cristiano Ronaldo apostava na velocidade e em um enorme repertório de dribles.
Em uma dessas jogadas, “CR17” arrancou pela esquerda e tocou para Deco no meio. O luso-brasileiro chutou de fora da área, mas a bola foi fraca. Barthez espalmou e Thuram afastou o perigo.
Também bem postado em campo, o time treinado por Luiz Felipe Scolari era firme na marcação e levou perigo em chutes de longe. Figo chutou de esquerda de fora da área e Barthez segurou bem.
Cristiano Ronaldo deixou de calcanhar para Maniche, que ajeitou e chutou de longe. A bola saiu por cima, mas assustou bastante o goleiro Barthez, passando muito perto da trave.
(Imagem: Alamy)
Com pouco mais de meia hora de jogo, a França encontrou uma brecha na defesa portuguesa.
Makélélé trocou passes com Zidane e deixou no meio para Florent Malouda. Ele passou por Deco e tocou para Henry. O camisa 12 entrou na área, cortou para o meio e foi derrubado por Ricardo Carvalho, em um carrinho irresponsável. Henry forçou um pouco a queda, mas o pênalti aconteceu.
Zinedine Zidane bateu firme, no cantinho direito do goleiro Ricardo, que até acertou o lado, mas não conseguiu alcançar a bola.
Ricardo voltou a aparecer em duas defesas difíceis no início do segundo tempo, nas últimas chances da França.
Depois disso, só deu Portugal.
Embora o goleiro Barthez tenha mostrado insegurança, soltando algumas bolas, a defesa francesa manteve a solidez, comandada pela experiência de Lilian Thuram.
No fim, até o goleiro Ricardo foi para a área francesa tentar o cabeceio, sem sucesso.
Pela segunda vez em sua história, Portugal caía nas semifinais da Copa.
Por sua vez, a França chegava à sua segunda final de Copa, a segunda em oito anos.
(Imagem: Ssbg)
● Mesmo caindo na semifinal, o técnico de Portugal, o brasileiro Luiz Felipe Scolari, já havia conquistado o recorde de doze jogos seguidos de invencibilidade, sendo sete pela Seleção Brasileira campeã do mundo em 2002 e outros cinco pela seleção portuguesa. Outra marca histórica de Scolari é a de onze vitórias consecutivas nesse mesmo período.
Apesar de inseguro em vários lances na partida, o goleiro careca Fabien Barthez alcançou um belo recorde: dez jogos sem tomar gols em Copas do Mundo. O índice é superior ao de arqueiros consagrados como Lev Yashin, Sepp Maier, Gordon Banks, Ladislao Mazurkiewicz, Rinat Dassaev, Ubaldo Fillol, Dino Zoff e Cláudio Taffarel – e igual apenas ao inglês Peter Shilton.
Nunca Les Bleus (“Os Azuis”, em francês – como são chamados os jogadores da seleção nacional) foram tão pouco azuis em uma Copa do Mundo. Isso se deve às superstições do técnico Raymond Domenech. Ele achou que o uniforme todo branco deu sorte nas oitavas de final contra a Espanha e fez o time repetir o fardamento nos jogos seguintes até a final.
Na final, um jogo de muito equilíbrio. A França saiu na frente com uma cobrança de pênalti de cavadinha convertido por Zidane, mas a Itália empatou com Marco Materazzi de cabeça. Ambos foram protagonistas em um lance histórico na prorrogação: Zidane foi provocado e deu uma cabeçada em Materazzi. O derradeiro momento de um gênio tão vencedor como Zinedine Zidane no futebol foi o cartão vermelho. Na decisão por pênaltis, David Trezeguet mandou na trave e a Itália se sagrou tetracampeã mundial. Zizou ainda foi eleito o melhor jogador do torneio, em escolha feita antes da final. Um adeus melancólico para um dos maiores jogadores da história.
Na decisão do 3º lugar, Portugal perdeu por 3 x 1 para a Alemanha, dona da casa. De qualquer forma, essa foi a segunda melhor campanha portuguesa em Copas do Mundo em todos os tempos, ficando atrás apenas do histórico 3º lugar da Copa de 1966.
Três pontos sobre… … 16/06/2006 – Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro
(Imagem: UOL)
● A Argentina era um time forte, experiente, técnico, com muitas excelentes opções para a linha de frente: Hernán Crespo, Javier Saviola, Rodrigo Palacio, Julio Cruz, Carlitos Tévez e Lionel Messi.
Na primeira partida, a albiceleste havia vencido a estreante Costa do Marfim por 2 x 1. Sérvia e Montenegro tinha perdido para a Holanda por 1 x 0.
Como a FIFA considerava Sérvia e Montenegro a herdeira das estatísticas da antiga Iugoslávia, essa era a décima participação em Copas do Mundo.
Mas havia um péssimo ambiente interno. Sérvia e Montenegro se desmembraram em dois países distintos apenas treze dias antes da Copa. O país existiu com esse nome apenas de 04/02/2003 a 03/06/2006.
Apesar disso, a seleção havia chegado com moral na Copa, com uma defesa considerada entre as mais sólidas da Europa. Nas eliminatórias, sofreu apenas um gol em dez partidas. Mas, por lesão, não podiam contar com seu melhor zagueiro, Nemanja Vidić – que posteriormente se tornaria capitão e ídolo do Manchester United.
Havia uma pressão da torcida sérvia para que o técnico Ilija Petković convocasse o meia Dejan Petković (que não tinha nenhum parentesco com o treinador). Bastante conhecido no Brasil, “Pet” (como ainda hoje é carinhosamente chamado), estava em ótima fase pelo Fluminense. O próprio capitão da seleção, Savo Milošević, admitia que Pet poderia ter um lugar no time.
O técnico insistia que tinha um bom grupo e que não seria justo retirar alguém que fez parte do grupo que conquistou a classificação para a Copa para dar espaço a Pet. Mas ele teve a chance quando o atacante Mirko Vučinić precisou ser cortado por lesão. Vučinić era um dos dois montenegrinos do elenco – o outro era o goleiro Dragoslav Jevrić, que preferiu manter a cidadania sérvia após a cisão dos dois países.
Com o corte de Vučinić, o treinador convocou “D. Petković“. Muitos ligaram para Pet no Brasil para dar os parabéns, mas… não era ele! Era o zagueiro Dušan Petković, filho do técnico! Ele não era convocado desde 2004 e foi muito atacado pela mídia de seu país, tanto por terem considerado nepotismo quanto pelo fato de ter sido convocado um defensor para a vaga de um atacante.
O elenco se rebelou e Dušan Petković não aguentou a pressão, deixando a delegação antes de chegarem à Alemanha. “É muita pressão para mim, para meu pai e meus companheiros”, afirmou Dušan. Sua seleção acabou disputando a Copa com um jogador a menos.
No início das partidas, novo momento de constrangimento para os jogadores sérvio-montenegrinos. O hino tocado era o da fase comunista da antiga Iugoslávia, que não era cantado pelos jogadores e vaiado pela torcida.
Muito bem treinada por José Pekerman, a Argentina jogou no sistema 4-4-2 em losango, com Riquelme jogando como “enganche”.
A Sérvia e Montenego foi escalada no esquema 4-4-2, com duas linhas de quatro.
● Em Gelsenkirchen, a Argentina apresentou um espetáculo que ficou na memória.
O ataque argentino descobriu logo cedo a fórmula para se sobressair diante da defesa sérvia. Sem deixar o adversário respirar, abusou dos passes rápidos e movimentação constante, especialmente de Javier Saviola.
Logo aos seis minutos, o próprio Saviola avançou pela esquerda e rolou para o meio da área. Maxi Rodríguez bateu deslocando o goleiro Dragoslav Jevrić e abriu o placar.
O segundo gol saiu apenas aos 31′, em uma troca de passes envolvente que se tornou uma verdadeira obra de arte. A jogada começou com Maxi Rodríguez roubando a bola no campo defensivo. A bola passou por Cambiasso, Riquelme, Sorín, girou da direita para a esquerda e voltou da esquerda para a direita, até que Saviola tocou para Cambiasso, que deu de primeira para Hernán Crespo, que devolveu de calcanhar. Esteban Cambiasso mandou para o gol. Desde a roubada de bola até a conclusão, foram 26 passes precisos – um símbolo do estilo de jogo argentino. Foi um gol que, pela dinâmica e pela finalização, lembrou um pouco o último gol de Maradona em Copas, diante da Grécia, em 1994. 2 a 0.
Com uma marcação frágil no meio e uma defesa pesada, os sérvios foram colocados literalmente na roda pelas tabelas envolventes dos albicelestes.
Dez minutos depois, o terceiro. Com uma falta não marcada pelo árbitro italiano Roberto Rosetti, Saviola roubou a bola de Mladen Krstajić, entrou na área e chutou cruzado. Jevrić espalmou para o canto, mas Maxi Rodríguez apareceu na segunda trave e completou para o gol. A bola ainda bateu na trave e no pé do zagueiro Goran Gavrančić antes de entrar. 3 a 0.
Após virar o intervalo vencendo por 3 a 0, os hermanos tiraram o pé e diminuíram o ritmo na etapa final.
Mateja Kežman foi expulso aos 20′ da segunda etapa, facilitando mais ainda o controle de jogo argentino.
(Imagem: 90 min)
Aos 29 minutos do segundo tempo, pouca gente se deu conta de que estava ocorrendo um momento histórico no futebol. Com a camisa 19, foi esse o momento que Lionel Messi pisou no gramado da Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen. Era sua estreia em Copas do Mundo. Com 18 anos, Messi já começava a ganhar espaço no excelente time titular do Barcelona, que havia conquistado a UEFA Champions League da temporada 2005/06. No ano seguinte já se tornaria protagonista e três anos mais tarde seria eleito o melhor jogador do mundo.
Três minutos depois de entrar, em sua primeira jogada, Messi driblou um adversário, foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro da ponta esquerda. Crespo apareceu na segunda trave, se antecipou a um adversário e marcou. 4 a 0.
O quinto tento veio seis minutos depois. Riquelme lançou Carlitos Tévez, que passou a bola entre as pernas de Gavrančić, cortou a marcação de Igor Duljaj e tocou rasteiro na saída do goleiro Jevrić. 5 a 0.
O último prego no caixão servo-montenegrino foi aos 43′. Juan Román Riquelme tocou para Tévez, que tabelou com Crespo e recebeu de volta. Ele enxergou a infiltração de Messi e deu o passe na medida. Messi dominou e bateu cruzado de pé direito, marcando seu primeiro gol em Copas do Mundo.
Com esse placar esmagador, o status de favorito ficou ainda mais estampado na albiceleste.
Essa vitória igualou a maior goleada aplicada pela Argentina em Copas do Mundo (a maior até então havia sido o “famoso” 6 a 0 sobre o Peru na Copa de 1978).
(Imagem: Goal)
● Na sequência, a Argentina empatou sem gols com a Holanda e assegurou a liderança do Grupo C no saldo de gols. Nas oitavas de final, precisou de um golaço ouro de Maxi Rodríguez para eliminar o México na prorrogação de virada por 2 x 1. Nas quartas de final, depois de um jogo duríssimo diante da anfitriã Alemanha, acabou caindo na decisão por pênaltis por 4 x 2, após empate por 1 x 1 no tempo normal.
Por sua vez, a Sérvia e Montenegro perdeu para a Costa do Marfim por 3 x 2 e terminou com três derrotas em três jogos. Na classificação geral, foi a última dentre as 32º seleções do Mundial.
Após a Copa, cinco jogadores sérvios foram punidos pela federação do país por terem cometido alguma indisciplina durante a competição: Mateja Kežman, Ognjen Koroman, Danijel Ljuboja, Zvonimir Vukić e Albert Nađ. Este último até jogou contra a Costa do Marfim, mas os outros quatro foram criticados por terem deixado a Alemanha antes do restante da delegação.
Embora Dušan Petković nem tenha jogado, o caso dele é um dos raros em que um pai atuou por uma seleção e o filho por outra, já que Ilija Petković havia jogado pela Iugoslávia em 1974. Outro caso que envolve dissolução de países foi o de Vladimír Weiss, que jogou pela Tchecoslováquia em 1990 e seu filho, de mesmo nome, atuou pela Eslováquia em 2010. O último caso envolve imigração: Martín Ventolrá jogou a Copa de 1934 pela Espanha e seu filho, José Vantolrá, atuou pelo México em 1970.
O meia Dejan Stanković disputou três Copas do Mundo, por três países diferentes. Ele representou a Iugoslávia em 1998, a Sérvia e Montenegro em 2006 e a Sérvia em 2010.
Três pontos sobre… … Roberto Carlos, “la zurda sinistra”
(Imagem: Acredite ou não)
Roberto Carlos da Silva Rocha nasceu em Garça, cidade do interior paulista, em 10 de abril de 1973.
Roberto Carlos nunca se limitou a marcar, mesmo sendo um lateral esquerdo – responsável por compor o sistema defensivo.
Com o advento do sistema 4-4-2 em meados da década de 1980, os antigos pontas praticamente tiveram seu fim decretado. Com isso, os laterais passaram a ser fundamentais no apoio, criação de jogadas, aproximação, cruzamentos.
Por mais que escola brasileira sempre tenha sido vanguardeira nesse sentido (com Nílton Santos, Carlos Alberto Torres e outros), ela se estabeleceu e fez sucesso na Seleção e no futebol europeu com o surgimento de laterais como Branco, Jorginho, Cafu e do próprio Roberto Carlos.
(Imagem: Band)
Aos 16 anos, Roberto já era titular do União São João. Disputou sua primeira partida pela Seleção Brasileira principal em 1992, aos 18 anos, ainda jogando pelo clube de Araras/SP.
(Imagem: Terceiro Tempo)
No mesmo ano teve um curto período de empréstimo ao Atlético Mineiro, que perdeu todas suas cinco partidas em uma excursão na Europa. RC não conseguiu mostrar todo seu potencial e acabou voltando ao União São João.
(Imagem: Grupo Opinião)
Mas em 1993 foi uma das primeiras estrelas das inúmeras contratações da Parmalat para o Palmeiras. E se tornou lenda no Parque Antártica. Em pouco mais de dois anos, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), bicampeão brasileiro (1993 e 1994), além de campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1993.
(Imagem: Calciopédia)
Despertou o interesse da Inter de Milão, onde passou a jogar como ala pela esquerda, meia e até ponta. Disputou apenas uma temporada com a camisa interista, a de 1995/96. Foram sete gols em 34 jogos – insuficientes para convencer o então presidente Massimo Moratti, que o trocou com o Real Madrid pelo já veterano atacante chileno Iván “Bam-Bam” Zamorano.
(Imagem: Getty Images)
Em Madrid, foram onze anos vestindo a camisa merengue e se tornou lenda. Logo em sua primeira temporada, marcou cinco gols e conquistou La Liga. No fim do ano de 1997, foi eleito o segundo melhor jogador do mundo pela FIFA, atrás apenas do fenômeno Ronaldo.
Nesse mesmo ano, marcou o gol de falta contra a França, que a bola fez uma curva que fez os físicos estudarem essa batida na bola.
Em 21/02/1998, marcou sobre o Tenerife um dos gols mais impressionantes da história, chamado de “gol impossível”. No início do segundo tempo, em uma bola esticada rumo à linha de fundo, Roberto disparou, alcançou e mandou um canhão para dentro da área. Inicialmente parecia ser um cruzamento, já que não havia nenhum ângulo para o chute direto. Mas a bola fez uma curva memorável e entrou no ângulo oposto. O gol mais espírita de todos os “gols espíritas”.
O sucesso permaneceu e o lado esquerdo do Madrid permanecia sendo responsável pela grande maioria dos gols do time – que continuou enfileirando títulos: UEFA Champions League (1997/98, 1999/00 e 2001/02), Copa Intercontinental (1998 e 2002), Campeonato Espanhol (1996/97, 2000/01, 2002/03 e 2006/07), Supercopa da Europa (2002) e Supercopa da Espanha (1997, 2001 e 2003).
(Imagem: Fenerbahçe)
Saiu do clube pela porta da frente e foi campeão da Supercopa da Turquia de 2007 pelo Fenerbahçe. Depois, até teve um bom ano pelo Corinthians em 2010, mas fez parte do time que passou a vergonha história caindo na pré-Libertadores para o Tolima em 2011. Logo depois, foi atuar no futebol russo, pelo Anzhi Makhachkala. Anunciou sua aposentadoria dos gramados em 2012 e se tornou auxiliar técnico do time russo. Na sequência, foi técnico dos turcos Sivasspor (2013/14) e Akhisar Belediyespor (2015). Ainda em 2015, foi desbravar o incipiente futebol da Índia, onde foi jogador-treinador do Delhi Dynamos FC em 2015/16 e encerrou definitivamente a carreira.
(Imagem: eotimedopovo.com.br)
Pela Seleção Brasileira, foram 126 jogos e onze gols. Disputou três Copas do Mundo: 1998, 2002 e 2006. Foi vice-campeão e muito criticado em 1998. Se tornou campeão e fundamental no time de 2002. Foi considerado o principal vilão em 2006 (contamos melhor toda a história aqui). Conquistou também os títulos da Copa América de 1997 e 1999, a Copa das Confederações de 1997, a Copa Umbro de 1995 e foi medalhe de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996.
É considerado um dos melhores laterais esquerdos de todos os tempos – discutivelmente, para muitos ele é o maior. Recentemente foi nomeado para o segundo time do “Dream Team” histórico da Bola de Ouro da revista France Football.
Roberto Carlos é uma lenda. É história, títulos, gols, explosão, raiva, tudo ao mesmo tempo.
Três pontos sobre… … 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil
Zizou desfilou em campo (Imagem: UOL)
● Podemos começar lembrando das eliminatórias sul-americanas, onde Ronaldo foi o artilheiro e o Brasil o líder geral. Ou podemos mudar o foco para a empolgação causada pelo título da Copa das Confederações de 2005, quando convenceu ao golear a Argentina por 4 x 1 na decisão. Pode ser que o resultado final tenha sido condicionado pela catastrófica preparação desde a chegada à cidade suíça de Weggis. Pode ter sido a exaltação ao fantástico “quadrado mágico”, que não rendeu o esperado quando deveria. Foi a magia de Zizou ou será que a culpa a eliminação brasileira foi de Roberto Carlos e seu meião?
Por sua vez, a Seleção Brasileira obteve 100% de aproveitamento na primeira fase e venceu Gana por 3 x 0 nas oitavas de final, com Ronaldo se tornando o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols. Mesmo não jogando bem, o excesso de confiança era algo que nunca se viu igual, até para os exagerados críticos brasileiros. Era impossível não enxergar que as peças não se encaixavam e que o futebol de teoria não se aplicava na prática. Falando mais didaticamente: o quadrado. Não só a figura geométrica, mas tudo que o envolvia.
Os vencedores da Copa do Mundo e o espelho da pirâmide. Na geometria, o Brasil venceria a Copa de 2006.
● Independentemente nível apresentado pela Seleção Brasileira, o torcedor tinha plena convicção na vitória e no título. Ingênuo, eu acreditei na “Pirâmide das Copas” (veja a figura acima). E era impossível não vencer com aquele esquadrão. No papel, é certamente uma das mais fortes do país em todos os tempos, com todos os titulares sendo destaque nos grandes clubes europeus.
Dida é um dos maiores goleiros da história do país e estava em plena forma. A dupla de zaga, com Lúcio e Juan, era bem entrosada e não comprometia. E no restante da escalação começam os problemas… Os dois lendários laterais, Cafu e Roberto Carlos, estavam mais para lendas mesmo, pois já começavam a entrar em declínio em suas vitoriosas carreiras. Emerson já não tinha o físico de outrora, mas, mesmo no auge, jamais conseguiria marcar sozinho no meio campo e cobrir os avanços dos laterais. Zé Roberto foi o destaque brasileiro na competição, mas seu forte não era a marcação e não conseguiu criar para todos os demais. O quadrado era composto por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Kaká não conseguiu render o seu melhor por causa de uma lesão. Melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores, R10 estava no auge e começou a despencar exponencialmente justamente no Mundial. Adriano era o menos famoso, mas talvez tenha sido, dos quatro, o que mais rendeu no torneio. E Ronaldo, embora fosse a esperança de reviver 2002, já começava a perder a luta para a balança.
O técnico Raymond Domenech organizou Les Bleus no sistema tático 4-2-3-1, com liberdade total para Zidane na armação.
Para essa partida, Parreira escalou a Seleção Brasileira no esquema 4-3-2-1, com Juninho Pernambucano entrando no meio para dar mais suporte a Gilberto Silva e Zé Roberto. Adriano foi sacrificado.
● Contra os franceses, o pragmático Carlos Alberto Parreira desmanchou o “quadrado” e escalou Juninho Pernambucano para preencher mais o meio de campo. O “Reizinho de São Januário” era o melhor jogador do futebol francês, reinando no Olympique Lyon. Mas não teve inteligência emocional e chorou no hino nacional. Não conseguiu render em campo. Gilberto Silva substituiu o lesionado Emerson e não conseguiu ver a sombra de Zidane.
Mas naquele dia, Zizou era o dono da bola, ou um menino maior brincando com os menores: estava tão acima dos demais, que parecia flutuar sobre o gramado. A bola grudava em seus pés e ele se tornava um bailarino em um festival de Frankfurt. Pouco antes do gol solitário, presenteou seu amigo Ronaldo com um belo chapéu.
Aos doze minutos do segundo tempo, Florent Malouda sofreu falta de Cafu na esquerda. Zidane cobrou a falta no segundo pau e Henry completou sozinho para o gol.
Ficou a história narrada por Galvão Bueno para o Brasil inteiro: enquanto Zizou se preparava para cobrar a falta, Roberto Carlos arrumava seu meião na entrada da área. A bola foi batida no segundo pau e Thierry Henry escapou da posição inicial de Roberto e completou para o gol.
Mas era improvável pensar que o camisa 6 do Brasil era o responsável por acompanhar o francês nas jogadas de bola parada. Henry: 1,88 m; Roberto: 1,68 m. A diferença entre ambos era aparentemente bem maior do que os 20 cm. Henry vinha de frente e tinha faro de gol.
Parreira voltou ao sistema 4-2-2-2, com o retorno de Adriano no lugar de Juninho Pernambucano.
Logo após sofrer o gol, Parreira desfez o sistema tático e voltou ao “quadrado mágico”, trocando Juninho por Adriano.
Ridiculamente, o Brasil só acertou o primeiro chute a gol no último minuto da partida: Ronaldo chutou de fora da área e Fabien Barthez defendeu.
Era impossível que a Seleção Brasileira não fosse mais vencer essa Copa. Como a pirâmide estaria errada? Culpa do quadrado mágico? Até hoje eu não consegui compreender. Mas nunca fui bom em matemática mesmo…
Zidane repetiu o feito de oito anos antes: destruiu os sonhos de um título brasileiro já ganho de véspera. Mas o futebol é resolvido em campo. E em campo, quem mandou novamente naquele dia foi Zidane.
E essa derrota interrompeu uma série de 11 vitórias consecutivas da Seleção Brasileira em Copas. Curiosamente, essa sequência começou após uma derrota para a França de Zidane. E terminou com derrota para a França de Zidane.
Henry se posicionou bem e, livre de marcação, fez o gol da partida (Imagem: UOL)
● Naquele dia 01/07/2006, eu seria padrinho de casamento de um primo, em uma cidade bem pequenina no interior de Minas Gerais. O enlace matrimonial estava marcado para as 19h00 e essa partida começou às 17h00. Eu tinha certeza que o Brasil venceria e que chegaríamos a tempo. Mas quando Henry marcou o gol, só fiquei pensando sobre como estaríamos na cerimônia se houvesse prorrogação. E questionei meu pai: “Será que vamos chegar atrasados?” E com a sabedoria de meio século vivido, meu pai me diz: “Não se preocupe. Nem o padre vai estar na igreja até o jogo acabar”. Infelizmente não houve prorrogação e a igreja foi se enchendo com o passar dos minutos.
Roberto Carlos ficou tachado injustamente como vilão (Imagem: Getty Images)
Três pontos sobre… … 27/06/2006 – França 3 x 1 Espanha
(Imagem: SoccerMuseum)
● A Espanha não chegou à Alemanha com a mesma confiança de outros Mundiais. Não tinha mais a experiência e liderança de Fernando Hierro. Raúl já estava em declínio técnico e não era mais o jogador extraclasse que havia sido. A esperança de gols era Fernando “El Niño” Torres. Treinada por Luis Aragonés desde o fim da Eurocopa de 2004, foi deixando aos poucos de ser “La Fúria” e se tornando “La Roja”. O que isso significava? Que não bastava tentar vencer na base da imposição, a todo custo (como em seu histórico), mas isso era feito com inteligência e muita posse de bola.
Muitos afirmam que foi Pep Guardiola quem implantou no Barcelona o estilo “tiki-taka” que teria sido copiado por Vicente Del Bosque para a seleção que venceu as Eurocopas de 2008 e 2012 e a Copa do Mundo de 2010. Porém, Guardiola chegou ao Barça na temporada 2008/09, logo na sequência do título espanhol na Euro. La Roja ainda era treinada por Aragonés, que usava Xavi e Iniesta como peças principais de uma troca de passes incessante.
Para 2006, era um time muito renovado em comparação com quatro anos antes, com destaques para Cesc Fàbregas (19 anos), Sergio Ramos (20), Fernando Torres (22), Andréa Iniesta (22), José Antonio Reyes (23) e David Villa (25) – que superaria Raúl como o maior goleador da história da seleção espanhola. Desde que Aragonés assumiu o comando, a Espanha não havia perdido nenhum dos últimos 25 jogos.
A França estava passando apuros para se qualificar para o Mundial. Mas, a quatro partidas do fim, teve a volta de três expoentes. Zinedine Zidane, Lilian Thuram e Claude Makélélé haviam se aposentado da seleção após a Euro 2004, mas voltaram na reta final das eliminatórias europeias para garantir a classificação dos Bleus. O grupo foi tão equilibrado em um festival de empates, que a França ficou apenas três pontos a frente da Irlanda, quarta colocada (França, Suíça e Israel terminaram invictos).
Zidane chegou na Copa aposentado. Ele tinha mais um ano de contrato com o Real Madrid, mas anunciou que penduraria as chuteiras após a Copa. Então, cada jogo na competição poderia ser o último da carreira de Zidane. E isso inflamou os franceses a se doarem mais em campo em prol de seu capitão. E causou uma enorme expectativa nos telespectadores e no público em geral.
A seleção francesa contava com seis veteranos campeões do mundo em 1998: o goleiro Fabien Barthez, o defensor Lilian Thuram, os meio-campistas Patrick Vieira e Zinedine Zidane, além dos atacantes David Trezeguet e Thierry Henry. Já no fim de sua gloriosa passagem pelo Arsenal, o meia Robert Pirès foi preterido pelo técnico Domenech; segundo o jogador, ele teria ficado de fora das convocações por ser do signo de escorpião, incomodando o místico treinador. Djibril Cissé era dado como certo até como titular, mas fraturou a perna uma semana antes do Mundial, em um amistoso contra a China; para seu lugar foi convocado o experiente Trezeguet.
(Imagem: BBC)
● A Espanha foi a líder do Grupo H, com 100% de aproveitamento. Na estreia, goleou a debutante Ucrânia, de Andriy Shevchenko, por 4 x 0. Na sequência, bateu a Tunísia por 3 X 1. Já classificada, jogou com um time reserva e venceu a Arábia Saudita com um magro 1 X 0.
Mas magra mesmo foi a campanha da França no Grupo G. Na primeira partida, empate sem gols com a Suíça. Na segunda, outro empate com a Coreia do Sul, dessa vez por 1 X 1. E o sinal de alerta foi ligado, porque no terceiro jogo, a França precisaria vencer a seleção de Togo, de Emmanuel Adebayor, por dois gols de diferença para depender apenas de si – e sem contar com Zinedine Zidane e Éric Abidal, ambos suspensos com o segundo cartão amarelo. Mas Les Bleus venceram sua ex-colônia africana pelo placar necessário de 2 x 0.
Nas oitavas de final, a França tinha que melhorar muito para desbancar a favorita Espanha. A Espanha era freguesa da França em jogos oficiais (quatro derrotas e um empate em cinco jogos até então). Essa foi a única partida em Copas do Mundo mas o duelo havia se repetido três vezes na Eurocopa. Na decisão de 1984, Michel Platini comandou Les Bleus ao título com vitória sobre a Fúria por 2 x 0. Em 1996, empate por 1 x 1 na fase de grupos. Em 2000, nova vitória francesa nas quartas de final por 2 x 1.
A França atuava no esquema 4-2-3-1.
A Espanha jogou no sistema 4-3-3.
● Na AWD Arena, em Hanover, a partida foi um jogo de xadrez, entre os estrategistas Raymond Domenech e Luis Aragonés. O jogo começou cadenciado, com as duas equipes se arriscando pouco no ataque. A Espanha mantinha a posse de bola e a França buscava roubar e sair em rápidos contragolpes.
Com os sistemas defensivos bem postados, a primeira chance do jogo só ocorreu na metade do primeiro tempo. Zidane lançou Henry na ponta direita e ele chegou cruzando para a pequena área. A bola passou por Franck Ribéry e Patrick Vieira, que não conseguiram alcançá-la e desperdiçaram a chance.
Thierry Henry era o único homem de frente dos Bleus (que jogaram de branco) e invariavelmente era pego em impedimento, pois a defesa espanhola atuava em linha. Os franceses também não davam espaço ao trio de ataque espanhol. Com isso, os gols só podiam sair de erros cometidos pelas defesas.
Aos 28′, Mariano Pernía (lateral esquerdo argentino naturalizado espanhol) bateu escanteio e a defesa francesa cortou mal. Xabi Alonso pegou o rebote e tocou para o meio. Se aventurando no ataque, o zagueiro Pablo Ibáñez tentou dominar dentro da área e Thuram pisou em seu tornozelo. Pênalti para a Espanha. Raúl estava completando 29 anos exatamente naquele dia. O craque merengue tinha desperdiçado uma penalidade no fim do jogo contra a França na Euro 2000 e não foi para a cobrança. David Villa se encarregou e bateu com perfeição, quase no pé da trave direita de Barthez, que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar. A Espanha abriu o placar.
A França teve que tomar mais a iniciativa, passou a dominar o jogo e a merecer o empate. E ele veio aos 41′. Franck Ribéry deixou com Vieira, que devolveu com perfeição para o Scarface escapar sem marcação nas costas da defesa ibérica, driblar Iker Casillas e completar para o gol.
(Imagem: BBC)
Tudo igual no intervalo. O jogo estava aberto e as expectativas para a etapa final eram as melhores possíveis.
O jogo voltou a ficar equilibrado, mas em ritmo mais lento. Nenhum dos dois times conseguiam criar chances claras de gol. O ataque espanhol era inócuo e o técnico fez duas mudanças no time aos oito minutos: saíram os atacantes Raúl e David Villa e entraram os pontas Luis García e Joaquín. Os jogadores que entraram auxiliavam mais na recomposição defensiva.
A Espanha tinha mais posse de bola (61%). Mas a França tinha Zinedine Zidane. E ele começou a jogar. Não queria se despedir do futebol dessa maneira e estava determinado a mudar a sorte de sua equipe. E estava no auge da sua magia. Com seu maestro orquestrando as jogadas, a França passou a merecer a virada. E ela veio quando faltavam apenas sete minutos para o fim do jogo.
Aos 38′ da etapa final, Zidane cobrou falta da intermediária direita para a área espanhola. Xabi Alonso cortou mal e Patrick Vieira cabeceou quase da linha de fundo. A bola bateu em Sergio Ramos e tirou Casillas da jogada. Era a virada francesa.
A Fúria não tinha alternativas e tentou partir com tudo para cima nos minutos finais, dando contra-ataques para os franceses e acabou por sofrer o golpe fatal. Já nos acréscimos, Cesc Fàbregas foi cercado por três franceses em seu campo de defesa e perdeu a bola. Sylvain Wiltord lançou Zidane na esquerda. O gênio invadiu a área, cortou Puyol e chutou no contrapé de Casillas. Um golaço que colocou ponto final no duelo.
(Imagem: BBC)
● Placar final: 3 x 1 e classificação francesa garantida. Um placar sem sombra de dúvidas sobre quem era melhor.
Melhor ainda: Zidane estendia a carreira ao menos por mais noventa minutos.
Patrick Vieira era até então o mais importante jogador francês no Mundial, com dois gols e duas assistências.
A Espanha continuava sua sina de amarelar em jogos decisivos.
Nas quartas de final, a França enfrentaria a Seleção Brasileira, do temível “Quadrado Mágico”: Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Mas sobre essa partida vamos falar no dia 01/07.
Três pontos sobre… … 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda
“A Batalha de Nuremberg”
(Imagem: Jan Pitman / Bongarts / Getty Images)
● Se várias partidas entraram para a história por causa do futebol ofensivo e vistoso, não é o caso dessa. O confronto entre Portugal e Holanda nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006 é o que se pode chamar de duelo, peleja, luta, batalha… a “Batalha de Nuremberg”. Não deveria ter havido súmula, mas “boletim de ocorrência”, devido ao alto número de jogadas violentas, cartões amarelos e expulsões.
Assistimos de tudo: empurrões, cabeçadas, cotoveladas, toques de mão, trombadas, discussões, cera, carrinhos e nenhum fair play. Poderiam até tirar a logo do Mundial e colocar o da Taça Libertadores da América, pois pareceu a Libertadores raiz, das antigas, quando tudo era permitido.
Se o árbitro russo Valentin Ivanov tivesse sido um pouco mais rigoroso, essa partida poderia ter terminado por número insuficiente de jogadores de ambos os lados.
(Imagem: Imortais do Futebol)
● A seleção portuguesa tinha sua melhor safra de craques desde 1966. Bem treinada pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, foi vice-campeã da Eurocopa de 2004 (passando justamente pela Holanda nas semifinais). Na primeira fase da Copa de 2006, pelo Grupo D, venceu suas três partidas: 1 a 0 sobre a ex-colônia Angola, 2 x 0 contra o Irã e 2 x 1 sobre o bom time do México.
A Holanda vinha renovada após ficar fora do Mundial de 2002. O técnico era o ex-craque Marco van Basten, que apostou na renovação e deixou de fora vários medalhões, como Clarence Seedorf, Edgar Davids, Frank de Boer, Patrick Kluivert e Roy Makaay. Pelo Grupo C da Copa, o “grupo da morte”, venceu Sérvia e Montenegro por 1 x 0 e Costa do Marfim por 2 x 1. Na partida que valia a liderança, empatou sem gols com a Argentina e ficou em segundo lugar da chave no critério de saldo de gols.
Tinha tudo para ser uma bela partida. As duas seleções possuem um histórico de futebol ofensivo e vistoso. Tinham em campo craques como Cristiano Ronaldo, Luís Figo e Deco de um lado, Arjen Robben, Wesley Sneijder e Robin van Persie do outro. Mas virou mesmo uma batalha campal.
Luiz Felipe Scolari escalou Portugal no sistema 4-2-3-1.
Marco van Basten armou seu time no tradicional 4-3-3 holandês.
● Logo no segundo minuto da partida, Mark van Bommel acertou Cristiano Ronaldo por trás e recebeu o primeiro de muitos cartões amarelos.
Mas o clima ficou tenso mesmo aos seis minutos de jogo, quando Khalid Boulahrouz mostrou seu cartão de visitas, deixando as travas de suas chuteiras na coxa de CR7. O holandês deveria ter sido expulso, mas o árbitro Valentin Ivanov foi muito conivente no lance e mostrou apenas amarelo. A partir daí, os ânimos continuaram exaltados até o apito final.
Felipão ficou ensandecido à beira do gramado e incitou seus jogadores a pagarem na mesma moeda – o que acabou se tornando um ciclo vicioso e um show de horrores.
Aos 19′, Maniche deu uma rasteira em Van Bommel e ganhou o primeiro amarelo dos lusos.
Após a solada de Boulahrouz, Cristiano precisou ser atendido três vezes fora do gramado e acabaria substituído por Simão Sabrosa aos 33′ do primeiro tempo. Os holandeses conseguiram tirar o jovem CR7 do jogo.
Aos 36′, Costinha acertou um violento carrinho em Phillip Cocu e também foi amarelado.
Seis minutos depois, Nuno Valente deu uma voadora em Arjen Robben em lance que deveria ter resultado em pênalti e expulsão, mas o juiz russo mandou seguir.
Costinha era um dos mais violentos em campo, mas sua expulsão veio nos acréscimos da etapa inicial após ele interceptar a bola com a mão e ganhar a segunda advertência.
Para recompor o time na cabeça de área, Scolari sacrificou Pauleta para a entrada de Petit.
(Imagem: The Daily Telegraph)
E o segundo tempo se tornou de vez um festival de deslealdade e agressões. Não tinha nenhum inocente em campo, claro.
Aos cinco minutos, Petit foi amarelado por derrubar Robin van Persie.
A partida seguiu nervosa e oito minutos depois, Figo se desentendeu com Van Bommel e acertou uma cabeçada no holandês. O juiz não viu e só deu o amarelo após ser alertado.
Nos bancos, os treinadores eram os extremos: enquanto o elegante Van Basten mantinha a postura calma e com as mãos no bolso, Scolari gritava, xingava e batia no banco.
Aos 14′ Giovanni van Bronckhorst acertou Deco e ganhou amarelo.
Três minutos depois, Figo avançou pela direita e, ao perceber que Boulahrouz colocou os braços para se desvencilhar dele, valorizou como se tivesse tomado uma cotovelada. O árbitro expulsou Boulahrouz com 53 minutos de atraso, mas esse não era um lance para isso.
Boulahrouz não se conformou, se desentendeu com Simão e tentou a todo custo levar alguém de Portugal com ele. A turma dos dois bancos de reservas entraram em campo e o jogo definitivamente ficou sem controle.
Aos 25′, o goleiro Ricardo foi ao chão e a Holanda não teve fair play. John Heitinga não jogou a bola para a lateral e puxava contra-ataque. Transtornado, Deco lhe deu uma tesoura que era para vermelho, mas o árbitro pipocou de novo e deu apenas amarelo. A confusão recomeçou. Wesley Sneijder empurrou Petit e ganhou amarelo, junto com Rafael van der Vaart.
Ricardo levou amarelo aos 31 min por reclamação. Logo depois, Nuno Valente ganhou o seu ao chutar Van Persie.
(Imagem: Imortais do Futebol)
Deco continuou pilhado. Aos 33′, ele se recusou a devolver a bola aos holandeses. Phillip Cocu queria jogo e empurrou o luso-brasileiro. O juiz deu a segunda advertência a Deco por fazer cena e o expulsou.
Aos 42′, Simão deixou o pé no rosto de Edwin van der Sar em uma dividida, mas o bananão do árbitro nada marcou.
Aos 50 do segundo tempo, Giovanni van Bronckhorst deu uma rasteira em Tiago e também ganhou o vermelho.
Aos sair, o holandês se sentou ao lado de Deco, seu companheiro de Barcelona (campeão da UEFA Champions League daquela temporada) e ficaram se bate papo como se nada tivesse acontecido.
A partida termina com nove homens em cada lado. Foi um dos jogos mais tensos da história das Copas.
(Imagem: Sportskeeda)
● O árbitro russo Valentin Ivanov foi o centro das atenções. No total, foram 16 cartões amarelos e quatro vermelhos (todos decorrentes de dupla advertência). O recorde em uma partida de Copa do Mundo.
Foi um número relativamente normal de faltas, 25 ao todo, sendo 10 cometidas pelos portugueses e 15 pelos holandeses. Mas a intensidade dessas faltas foi algo super anormal.
Após a partida, Joseph Blatter, então presidente da FIFA, afirmou que “o juiz mereceu um cartão amarelo por sua atuação e não esteve à altura da partida”.
Ao fim dessa partida, o técnico Luiz Felipe Scolari completou onze vitórias consecutivas em Copas do Mundo, sendo sete pela Seleção Brasileira em 2002 e quatro pela seleção das Quinas em 2006.
O treinador brasileiro teve méritos ao não deixar que Portugal se perdesse em campo nas duas vezes em que ficou com um jogador a menos (10 contra 11 e depois 9 contra 10). No total, a Holanda teve superioridade numérica por 33 minutos, mas o técnico Marco van Basten (genial dentro de campo e mediano na beira do gramado) não conseguiu fazer seu time traduzir isso em gols. O melhor que os holandeses conseguiram foi uma bola no travessão de Phillip Cocu, aos três minutos do segundo tempo.
(Imagem: FIFA)
Ah, já estava me esquecendo! Houve um gol! E que belo gol! Aos 23 minutos de jogo, Miguel cobrou lateral na direita para Deco, que deixou de primeira com Cristiano Ronaldo. Ele segurou a bola, se livrou de dois marcadores e devolveu para Deco na ponta direita. O luso-brasileiro cruzou rasteiro para a área. Pauleta fez o pivô para Maniche passar por André Ooijer e Mark van Bommel e chutar forte no canto direito de Edwin van der Sar.
Nas quartas de final, os portugueses enfrentaram a Inglaterra, eliminada por eles na Eurocopa de 2004. E os lusos venceram de novo nos pênaltis (3 x 1) após empate sem gols durante o tempo normal e a prorrogação. Na semifinal, vendeu caro a derrota para a França de Zinédine Zidane por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, perdeu para a anfitriã Alemanha por 3 x 1, terminando em uma honrosa quarta colocação.
Três pontos sobre… … 04/07/2006 – Alemanha 0 x 2 Itália
(Imagem: FIFA.com)
● A Alemanha estava em festa. Sua desacreditada seleção estava a dois jogos de conquistar o título mundial em casa, feito que já havia alcançado em 1974.
A primeira semifinal ocorreria no Signal Iduna Park (antigo Westfalenstadion), em Dortmund, e seria um dos maiores clássicos do mundo. Alemanha e Itália já nos brindaram com diversas partidas memoráveis e essa seria mais uma delas.
O retrospecto italiano contra os alemães é ótimo, principalmente em fases decisivas. A Azzurra já tinha vencido nas semifinais em 1970 (4 x 3) e na final de 1982 (3 x 1), além de dois empates sem gols (em 1962 e 1978).
Na estreia de 2006, a Alemanha bateu a Costa Rica por 4 a 2. Na segunda partida, o gol da vitória (1 x 0) sobre a rival Polônia foi arrancado aos 46 minutos do segundo tempo. No terceiro jogo, completou os 100% de aproveitamento ao atropelar o Equador por 3 a 0. Nas oitavas de final, ganhou tranquilamente da Suécia por 2 a 0. Nas quartas, uma verdadeira batalha no clássico contra a Argentina: após empate por 1 a 1, venceu nos pênaltis por 4 a 2, com uma grande confusão no final. Na briga generalizada, o argentino Julio Cruz acertou um tapa no alemão Torsten Frings, que revidou com um soco. A FIFA suspendeu Frings por uma partida e o meia seria o grande desfalque da Alemanha na semifinal.
A Squadra Azzurra se classificou como líder na fase de grupos com sete pontos, vencendo Gana por 2 a 1, empatando com os Estados Unidos em 1 a 1 e vencendo a República Tcheca por 2 a 0. Nas oitavas de final, precisou de um pênalti duvidoso aos 50 minutos do segundo tempo para eliminar a Austrália. Nas quartas de final, passou sem sustos pela Ucrânia, com um convincente 3 a 0 – uma bela noite, na qual a torcida italiana lavava a alma, cantando “Un estate italiana”, tema da Copa de 1990. Se a Alemanha conquistou a Copa sediada na Itália, agora a Squadra Azzurra poderia se vingar se vencesse o Mundial em solo germânico.
(Imagem: Football Unites)
● As cores da bandeira alemã predominavam no estádio. A torcida local, que era claramente a maioria esmagadora dos 65.000 expectadores, acreditava plenamente que seu país estaria na decisão no próximo domingo, em Berlim.
Paulo Vinícius Coelho disse em seu livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo (2010)” que a empolgação dos torcedores italianos também era tamanha, que em determinado momentos eles gritavam a plenos pulmões: “Tutti a Berlino / Andiamo tutti a Berlino”, cantando no ritmo do sucesso cubano “Guantanamera”.
Era um confronto de dois técnicos completamente diferentes. Marcello Lippi, jogador mediano, treinador experiente e extremamente tático. Jürgen Klinsmann, um craque de bola, em seu primeiro trabalho como técnico. O ex-atacante alemão era um dos heróis de 1990, quando conquistaram a Copa pela última vez até então.
Klinsmann precisaria contar com uma noite inspirada de sua dupla de ataque, os poloneses naturalizados Lukas Podolski e Miroslav Klose.
A Itália não tinha mais que cinco mil torcedores no estádio, mas a seleção de Marcello Lippi era experiente e não se deixava intimidar. A única alteração em relação às quartas de final era o retorno de Marco Materazzi, que voltava de suspensão. Francesco Totti começou como titular, deixando Alessandro Del Piero no banco.
A Alemanha atuou no 4-4-2. As jogadas fluíam bem no meio de campo, com a qualidade de Schneider, Borowski e Ballack, apoiados pelas constantes subidas de Lahm ao ataque.
A Itália era composta no 4-4-1-1, se defendendo com duas linhas de quatro. Os dois meias laterais, Camoranesi e Perrotta apoiavam muito ao ataque. Totti jogava livre para criar.
● Foi um jogo morno, com poucas chances de gol para os dois lados. No primeiro tempo, os italianos tiveram mais chances e criaram a primeira oportunidade. Simone Perrotta adiantou demais a bola, Jens Lehmann saiu para a dividida e ficou com ela.
Depois, Totti cobrou falta com força e Lehmann agarrou firme.
Os alemães viram que a partida não seria tão fácil, mas se acalmaram e começaram a jogar melhor. Eles reclamaram em vão de um pênalti, quando a bola tocou no braço de Pirlo dentro da área.
Mas era muito difícil passar pela defesa da Squadra Azzurra, liderada pelo capitão Fabio Cannavaro. Se a bola passasse pela zaga, tinha uma muralha chamada Buffon para impedir o gol.
Em uma mostra disso, Klose passou pela defesa, mas adiantou demais e Buffon apareceu para tirar o perigo da área.
Os alemães perderam a melhor oportunidade. Em bela troca de passes no ataque, a bola sobra para Bernd Schneider, que chuta forte. Buffon desvia com a pontinha da luva e a bola vai por cima.
A Itália ameaçava com os passes precisos de Pirlo, criador da maioria das jogadas perigosas. Mas quase todas acabavam nas mãos do goleiro Lehmann.
No segundo tempo, os donos da casa pediram outro pênalti, de Cannavaro em Podolski, que o árbitro assinalou fora da área.
Fabio Grosso avança, mas para em Lehmann. Era um jogo para consagrar dois grandes goleiros.
Faltando 16 minutos para o final, a Itália remaneja o time em busca do gol. Alberto Gilardino substitui Luca Toni.
Perto do final, Totti faz o passe por cobertura para Perrotta, mas Lehmann sai de soco para tirar o perigo.
E os primeiros 90 minutos terminaram sem gols.
(Imagem: Martin Rose / Bongarts / Getty Images / Sportsnet)
A Itália foi mais para cima ainda, com o atacante Iaquinta no lugar do meio campista Camoranesi.
Os lances de perigo foram mais frequentes a partir dos 3 minutos, quando Totti cobrou uma falta e assustou o goleiro Lehmann.
A Itália persiste no ataque. Gattuso fica sozinho no balanço defensivo, dando mais liberdade para Pirlo.
A Alemanha nunca havia perdido uma decisão por pênaltis na história das Copas, enquanto a Itália não tinha um bom retrospecto (tinha sido eliminada dessa forma em 1990, 1994 e 1998). Por isso, a Azzurra partia para decidir logo com a bola rolando.
A ousadia italiana rendeu duas bolas na trave em menos de um minuto.
Gilardino ganha disputa com Metzelder na direita, invade a área, chega na linha de fundo, passa por Ballack com um corte para o meio e, já dentro da pequena área, chuta fraco de esquerda e a bola bate na trave. Um lindo lance, que poderia ter decidido o jogo. Um pecado essa bola não ter entrado.
Zambrotta ameaça novamente com um chute no travessão. A Alemanha passava por maus bocados.
Na prorrogação, Marcello Lippi nem parecia italiano! Prendeu um pouco mais os laterais e deixou Gattuso como um cão de guarda, para liberar Pirlo. Totti continuava livre para criar. No ataque, Iaquinta abria pela direita e Del Piero na esquerda, deixando Gilardino flutuando pelo centro.
Marcello Lippi sente que é o momento de dar o golpe fatal. Ele opta por colocar outro atacante. A Itália não jogava com quatro no ataque desde o início da década de 1960. Alessandro Del Piero entrou para dar o último gás. Um dos jogadores mais talentosos e consagrados da Itália, Del Piero tinha se tornado recentemente o maior artilheiro de todos os tempos da Juventus, em sua 12ª temporada no time.
Mas essa vocação ofensiva mostrou a fragilidade defensiva dos italianos, permitindo o contra-ataque aos alemães.
Klinsmann troca o inoperante Klose por Oliver Neuville (outro naturalizado, nascido na Suíça).
Podolski chuta forte e Buffon espalma por cima.
Kehl chutou e a bola passou muito perto do gol de Buffon.
Os alemães, já sem pernas, foram se segurando. A Itália tinha mais posse de bola, com 57%. E seguia pressionando aos 29 minutos da prorrogação.
Quando (quase) todos davam o jogo por encerrado, esperando a disputa de pênaltis, a partida se resolveu.
Del Piero bate o escanteio e Friedrich desvia para a meia lua. Pirlo domina e vai puxando com calma para a direita. Com um passe açucarado, ele acha Fabio Grosso livre no meio dos zagueiros. O lateral esquerdo não “honrou” o sobrenome e bateu com estilo, com muita curva, e a bola morreu no canto direito de Lehmann.
E os alemães partem para o tudo ou nada, se lançando à frente. Mas seriam castigados por isso.
No último lance do jogo, veio o tiro de misericórdia. Podolski erra um passe na intermediária. Cannavaro rouba a bola e deixa com Totti. Ele dá um ótimo passe para Gilardino, que faz muito bem o papel de pivô, segura a bola e toca na passagem de Del Piero na esquerda. O craque juventino, com uma tranquilidade monstra na finalização, deu um toque por cobertura e mandou a bola no ângulo, coroando uma jogada toda extraordinária. Depois de um contra-ataque fulminante de 80 metros, Del Piero coloca seu nome no panteão dos heróis das Copas do Mundo.
Um duro golpe para os alemães, que tentavam conquistar seu segundo título como anfitriões, 32 anos depois.
(Imagem: Claudio Villa / Grazia Neri Agency / Goal.com)
● Como consolação, o alemão Lukas Podolski ganhou o prêmio de melhor jogador jovem da Copa.
Curiosamente, o atacante Alberto Gilardino, que foi fundamental nessa vitória na semifinal, completou 24 anos no dia seguinte a essa partida. Ele nasceu em 05/07/1982, poucos minutos depois que a Itália eliminou o Brasil na Copa do Mundo daquele ano.
Na decisão do 3º lugar, a Alemanha venceu Portugal por 3 a 1 e saiu de cabeça erguida.
Três pontos sobre… … 09/06/2006 – Alemanha 4 x 2 Costa Rica
A belíssima Allianz Arena, em Munique, foi inaugurada em maio de 2005, especialmente para abrigar jogos da Copa do Mundo de 2006, inclusive a abertura oficial da competição (Imagem: Foto-net / FIFA)
● Essa partida era o início do sonho alemão de repetir 1974 e conquistar a Copa do Mundo em casa. E Munique era o lugar certo para o jogo inaugural. Foi lá que Franz Beckenbauer tinha erguido a taça do mundo pela Alemanha Ocidental 32 anos antes.
O time treinado por Jürgen Klinsmann não suscitava grandes expectativas (leia mais abaixo). Os alemães vinham de resultados ruins. Caíram na primeira fase da Eurocopa de 2004 quando ainda era comandada por Rudi Völler. Depois, já dirigida por Klinsmann, tinha sido goleada pela Itália por 4 x 1 em um amistoso. Se já não bastasse tudo isso, Michael Ballack, o craque do time, estava lesionado e era dúvida para a competição – era certo que não jogaria na estreia.
A Costa Rica tinha uma equipe muito limitada. Mas apostava na famosa zebra que historicamente costumava aparecer no primeiro jogo dos Mundiais. Mas dessa vez, a seleção caribenha tinha chances mínimas de surpreender.
A Alemanha atuou no 4-4-2. As jogadas fluíam bem no meio de campo, com a qualidade de Schneider, Frings, Borowski e Schweinsteiger, apoiados pelas constantes subidas de Lahm ao ataque.
O brasileiro naturalizado costarriquenho Alexandre Guimarães armou sua seleção no defensivo sistema 5-3-2, contando com as escapadas dos experientes atacantes Ronald Gómez e Paulo Wanchope.
● E as duas seleções contrariaram o histórico das partidas de abertura das Copas do Mundo, que geralmente têm placares econômicos.
A partida começou sem a típica cautela das estreias e com os donos da casa marcando pressão e criando diversas chances de gol a todo momento.
Com o apoio da torcida e os jogadores ligados, a Alemanha imprimiu um ritmo alucinante na partida.
Com apenas seis minutos, o placar foi aberto. Atuando na esquerda, o jovem lateral Philipp Lahm pegou a sobra da defesa, avançou pelo meio passando por dois adversários e chutou no ângulo.
Mas a vantagem que o ataque alemão produzia, a defesa ajudava a desfazer com erros de posicionamento. Aos 12′, a zaga falhou. Rónald Gómez lançou para Paulo Wanchope, que ficou cara a cara com o goleiro Lehmann e tocou no canto direito. Tudo igual no marcador.
Mas a pressão dos locais continuou e foi premiada cinco minutos depois. Bernd Schneider tentou a jogada pela direita e passou para Schweinsteiger, na área. O meia driblou um zagueiro e chutou cruzado. Miroslav Klose apareceu no meio do caminho e mandou para as redes. Festa e presente de aniversário para o camisa 11, que comemorava seus 28 anos naquele mesmo dia.
O ritmo foi menos intenso até os 16′ do segundo tempo, quando Lahm cruzou da esquerda, a zaga desviou mal e a bola ficou para Klose cabecear. O goleiro Porras salvou, mas o próprio atacante estava lá para aproveitar a sobra e fazer o gol.
Mas a defesa deu mole de novo para Wanchope aos 28′. Centeno tabelou com Gómez e deixou o camisa 9 na cara do gol, livre para tocar na saída de Lehmann. Os alemães pediram impedimento, em vão.
O placar se mexeu pela última vez aos 42′. Em uma falta na intermediária, Schweinsteiger rolou para Frings chutar de primeira no ângulo. Um verdadeiro golaço!
O jovem Philipp Lahm comemora o primeiro gol do torneio (Imagem: Kai Pfaffenbach / Reuters)
● A vitória memorável por 4 a 2, logo na abertura, é mais do que a Alemanha podia esperar e era um alerta aos futuros adversários, demonstrando a força da anfitriã.
Nas ruas, os torcedores foram à loucura. O desempenho alemão confundiu os críticos e deu um tom ao torneio. A febre da Copa do Mundo começava a contaminar todo o país.
Na segunda partida, o gol da vitória (1 x 0) da Alemanha sobre a rival Polônia foi arrancado aos 46 minutos do segundo tempo. No terceiro jogo, completou os 100% de aproveitamento ao atropelar o Equador por 3 a 0. Nas oitavas de final, ganhou tranquilamente da Suécia por 2 a 0. Nas quartas, uma verdadeira batalha no clássico contra a Argentina: após empate por 1 a 1, venceu nos pênaltis por 4 a 2, com uma grande confusão no final. Nas semifinais, perdeu para a Itália por 2 a 0, com gols nos dois últimos minutos da prorrogação. Na decisão do 3º lugar, venceu Portugal por 3 a 1 e saiu de cabeça erguida.
A Costa Rica foi a lanterna do grupo A, com três derrotas. Perdeu por 4 a 2 para a Alemanha, 3 a 0 para o Equador e 2 a 1 para a Polônia.
Paulo Wanchope deu trabalho para a defesa alemã (Imagem: Bongarts / Getty Images / Daily Mail)
● Pela sua importância naquela seleção da Alemanha, o técnico Jürgen Klinsmann merece um espaço a parte. E quem melhor escreveu sobre o tema foram Axel Torres e André Schön, no livro “Gol da Alemanha” (2016):
“Klinsmann [como técnico] não funcionou, mas é o símbolo da mudança. […] Fez todos entenderem que era preciso mudar, que era preciso procurar outra mentalidade.”
“Circulavam boatos pela internet de que o trabalho [em 2006] não fora de Klinsmann, mas daquele que seria seu sucessor, Joachim Löw. A tarefa de Klinsmann, diziam, consistia unicamente em motivar o time. Essas pessoas esqueciam o trabalho – sutil, porém colossal – que significava mudar tudo. Klinsmann desafiou o sistema e o ‘establishment’ do futebol alemão.”
“Ele morava na Califórnia… e apostava em um futebol ofensivo, confiando o futuro do país a garotos jovens; não era pragmático e dava pouca importância a valores tradicionais como a experiência, o trabalho e a ordem defensiva acima de tudo.”
“Quando o árbitro apitou o início de Alemanha x Costa Rica, jogo de abertura da Copa, a pressão sobre Klinsmann era máxima. […] O que aconteceu naquele jogo diante da seleção caribenha é digno de estudo. Nunca uma goleada tão previsível pela diferença de nível entre as duas seleções teve um impacto tão revolucionário. Jamais uma resultado tão normal ‘para quem era de fora’ mudou tanto a percepção das pessoas.”
“Dois meses antes do início da Copa, Klinsmann reuniu-se com [o goleiro Oliver] Kahn em um hotel […] para anunciar que ele seria convocado como reserva. Os jornais do dia seguinte publicaram a história e trataram-na quase como um sacrilégio. […] Mexer com uma ‘entidade’ como Kahn era inédito, mas Klinsmann bancou o risco. Inesperadamente e contra todos os prognósticos, seu time só parou aos catorze minutos do segundo tempo da prorrogação na semifinal contra a Itália, com um golaço do lateral esquerdo Fabio Grosso [e outro belo gol e Alessandro Del Piero, marcado em contra-ataque no último lance da partida].”
“Depois disso, a Alemanha não apenas fez as pazes com Jürgen Klinsmann, como o santificou. Na manhã seguinte àquela honrosa derrota, todo o país queria que ele continuasse no cargo. Até o ‘Bild’ elogiou. Mas Klinsmann deu por terminado seu ciclo na seleção, deixando toda a Alemanha com lágrimas nos olhos.”
Jürgen Klinsmann foi importantíssimo para quebra de paradigmas de um país conhecido pela sua rigidez nas tradições (Imagem: AFP)
● FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA 4 x 2 COSTA RICA
Data: 09/06/2006
Horário: 18h00 locais
Estádio: Allianz Arena
Público: 66.000
Cidade: Munique (Alemanha)
Árbitro: HoracioElizondo (Argentina)
ALEMANHA (4-4-2):
COSTA RICA (5-3-2):
1Jens Lehmann (G)
18 José Porras (G)
3Arne Friedrich
5 Gilberto Martínez
17 Per Mertesacker
4MichaelUmaña
21 Christoph Metzelder
20 Douglas Sequeira
16 Philipp Lahm
3Luis Marín
19 Bernd Schneider (C)
12 Leonardo González
8Torsten Frings
6Danny Fonseca
18 Tim Borowski
10 Walter Centeno
7 Bastian Schweinsteiger
8MauricioSolís
20 Lukas Podolski
11 Rónald Gómez
11 MiroslavKlose
9PauloWanchope
Técnico: Jürgen Klinsmann
Técnico: Alexandre Guimarães
SUPLENTES:
12 Oliver Kahn (G)
1ÁlvaroMesén (G)
23 Timo Hildebrand (G)
23 WardyAlfaro (G)
4RobertHuth
2Jervis Drummond
6JensNowotny
17 Gabriel Badilla
2MarcellJansen
22 Michael Rodríguez
5Sebastian Kehl
15 Harold Wallace
15 Thomas Hitzlsperger
14 RandallAzofeifa
13 Michael Ballack
16 Carlos Hernández
22 David Odonkor
7ChristianBolaños
14 Gerald Asamoah
13 Kurt Bernard
10 Oliver Neuville
21 Víctor Núñez
9MikeHanke
19 Álvaro Saborío
GOLS:
6′ PhilippLahm (ALE)
12′ Paulo Wanchope (COS)
17′ MiroslavKlose (ALE)
61′ MiroslavKlose (ALE)
73′ Paulo Wanchope (COS)
87′ Torsten Frings (ALE)
CARTÃO AMARELO: 30′ Danny Fonseca (COS)
SUBSTITUIÇÕES:
66′ Gilberto Martínez (COS) ↓
Jervis Drummond (COS) ↑
72′ Tim Borowski (ALE) ↓
Sebastian Kehl (ALE) ↑
78′ Mauricio Solís (COS) ↓
Christian Bolaños (COS) ↑
79′ Miroslav Klose (ALE) ↓
Oliver Neuville (ALE) ↑
90+1′ Bernd Schneider (ALE) ↓
David Odonkor (ALE) ↑
90+1′ Rónald Gómez (COS) ↓
Randall Azofeifa (COS) ↑
Philipp Lahm puxa a bola para o meio, de onde sairia o chute que inaugurou as redes da Copa da 2006 (Imagem: Coub)