Três pontos sobre… … 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria
(Imagem: World Cup Archive)
● A Hungria é detentora de feitos históricos no futebol, tendo como maior destaque os vice-campeonatos nas Copas do Mundo de 1938 e 1954. É a maior vencedora da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas de ouro (1952, 1964 e 1968), uma de prata (1972) e uma de bronze (1960). Aplicou as duas maiores goleadas da história das Copas do Mundo: 10 x 1 sobre El Salvador em 1982 e 9 x 0 sobre a Coreia do Sul em 1954.
Mas esse histórico não tem a força que tinha antes e a Hungria não disputa uma Copa do Mundo desde 1986. O Mundial do México, inclusive, foi palco de um dos maiores vexames dos magiares nos gramados. Principalmente a estreia, que foi mesmo para ser esquecida.
(Imagem: Futebol Comunista)
● A Hungria havia sido eliminada na primeira fase em 1978 e 1982. Sofria com o dilema sobre como adaptar seu tradicional estilo refinado de jogo a um futebol cada vez mais físico, com mais estatura e velocidade. E em 1983, György Mezey assumiu o comando técnico da seleção. Os resultados melhoraram de imediato. E, aos poucos, o treinador foi renovando quase toda a equipe.
O grande destaque era o jovem meia Lajos Détári. Preciso nos passes e lançamentos longos, era apelidado de “Platini húngaro”. Era o principal responsável por municiar o veloz ponta direita József Kiprich e o centroavante Márton Esterházy, que se movimentava por todo o setor.
Nas eliminatórias, passou com tranquilidade em um grupo difícil: Holanda (de Gullit, Van Basten, Rijkaard e Ronald Koeman), a eterna rival Áustria e o fraco Chipre. Depois, mostrou sua força também nos jogos amistosos, nas vitórias sobre Alemanha Ocidental (1 x 0 em Hamburgo), País de Gales (3 x 0 em Cardiff) e Brasil (3 x 0 em Budapeste). A Hungria tinha um time encaixado e jogava bonito como não se via desde 1954. Por tudo isso, chegou ao México cotada como surpresa da Copa, com potencial para chegar longe.
A URSS chegava ao México com uma mudança importante no comando técnico. Eduard Malofeyev (que fez história levando o Dinamo Minsk ao título soviético) o deu lugar a Valeriy Lobanovs’kyi. O novo técnico apostou na base do Dínamo de Kiev, time que treinava e havia se sagrado campeão da Recopa Europeia naquela temporada recém finalizada. Dos 22 atletas convocados, 11 pertenciam ao clube ucraniano. Curiosamente, Kiev fica a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que havia sofrido um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do início da Copa de 1986. Era um time coeso, mas sem muito brilho individual.
A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.
A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.
● Desde o início, os soviéticos atropelaram. Logo no segundo minuto, Aleksandr Zavarov cobrou falta, a defesa se atrapalhou com a bola e Pavel Yakovenko chutou no canto. Placar aberto: 1 a 0 para a URSS.
Dois minutos depois, Sergey Aleynikov tabelou com Igor Belanov, que fez o pivô e devolveu para Aleynikov disparar no ângulo, sem chances para o goleiro.
Aos 24′, Zavarov avançou e sofreu pênalti. O craque Belanov cobrou forte e alto, no meio do gol.
O marcador foi ampliado aos 21 minutos do segundo tempo. Yakovenko avançou pelo meio e lançou Ivan Yaremchuk na área. O meia driblou o goleiro Péter Disztl e tocou para as redes. Não perca a conta: 4 a 0.
Aos 30, Yaremchuk fez o segundo. Ele tabelou com Belanov e chutou prensado com um zagueiro. A bola saiu do alcance do goleiro e tocou na trave antes de entrar.
O placar de 6 a 0 foi fechado aos 35′. Aleynikov avançou sem marcação e Disztl saiu para dividir a jogada. A bola sobrou para Rodionov tocar para dentro.
Durante todo o tempo, a URSS demonstrou uma excepcional organização tática e surpreendente resistência física. Os soviéticos desperdiçaram inúmeras oportunidades claras.
Os húngaros estavam tão perdidos em campo, que só não sofreram mais gols porque Belanov cobrou um pênalti por cima quando o jogo já estava 5 a 0. Foram falhas individuais gritantes, especialmente no setor defensivo. O zagueiro Antal Róth, inclusive, foi substituído antes dos 15 minutos. O time sentiu muito a falta de seu capitão, o experiente meia Tibor Nyilasi, que teve que se submeter a uma cirurgia na coluna, em março e ficou fora do Mundial.
Em noventa minutos, a Hungria despencou de candidata a surpresa para maior decepção da Copa.
(Imagem: Pinterest)
● Essa partida foi fonte de várias piadas prontas, como “clássico comunista”, “goleada atômica” e até os dizeres que os soviéticos estavam “dopados com radiação”.
Essa foi a maior goleada do torneio. E foi bastante dolorosa, pois não foi para um adversário qualquer. Foi justamente para a União Soviética, líder do bloco comunista, conhecido como “Cortina de Ferro”. O regime cairia no país do leste europeu no dia 23 de outubro de 1989. Mas, naquele ano de 1986, completavam-se três décadas da invasão soviética que sufocou o levante político húngaro de 1956, com consequências eternas em âmbitos político, social, econômico e esportivo.
A União Soviética terminou a primeira fase como líder do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Os soviéticos eram favoritos nas oitavas de final, mas perderam para a Bélgica por 4 x 3 na prorrogação – na qual foram claramente prejudicados pela arbitragem em dois lances cruciais.
Após a derrota para os soviéticos, mesmo jogando de forma displicente, a Hungria venceu o Canadá por 2 x 0 e perdeu para a França por 3 x 0. Com dois pontos, ficou em terceiro lugar no Grupo. Foi eliminada na primeira fase. Perdeu a vaga nas oitavas de final no saldo de gols, bastante prejudicado pela goleada sofrida na estreia.
Esse foi o fiasco húngaro em sua última participação em Copas do Mundo. Com o passar do tempo, o futebol do país foi se enfraquecendo e perdendo a força e o respeito que tinha em todo o mundo. Ficam as histórias, que parecem cada vez mais pertencer a um passado muito distante.
Três pontos sobre… … 29/06/1986 – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental
(Imagem: Telegraph / AP)
● Na Argentina, ou se é “menottista” ou se é “bilardista”. Vencer com um futebol de toque de bola envolvente ou vencer a qualquer custo?
César Luis Menotti, fumante inverterado, gostava do jogo coletivo, baseado no “toco e me voy”, com tabelas e ultrapassagens.
Carlos Salvador Bilardo, técnico da seleção entre 1983 e 1990, era a antítese do treinador campeão mundial em 1978. Bilardo era meio campista do Estudiantes de La Plata, tricampeão da Taça Libertadores da América (1968, 1969 e 1970), um time em que a catimba e o jogo sujo prevalecia. Valia tudo para ser campeão, até espetar os adversários com um prego, como Bilardo era acusado de agir. Não que ele tenha usado essas artimanhas em sua vitoriosa passagem pela seleção de seu país. Ele só queria vencer e tinha uma equipe disposta a lhe proporcionar isso. Eram estilos antagônicos.
Sem Maradona nas eliminatórias, a Argentina perdia para o Peru no Monumental de Núñez por 2 x 1 até os 30 do segundo tempo. O vexame da eliminação foi evitado no fim da partida, com um gol de Ricardo Gareca (técnico que levou o Peru à Copa de 2018, após 36 anos).
Poucos dias depois de sofrer para se classificar ao Mundial, a revista El Gráfico perguntou ao técnico qual era a melhor equipe do mundo. Bilardo, em um misto de premonição com presunção, respondeu: “Vejo a Alemanha na final da Copa”. “E a Argentina?”, questionou o repórter. O treinador afirmou: “Eu a vejo campeã do mundo”.
De qualquer forma, Bilardo, um médico de 47 anos, era quase unanimidade em seu país: 80% dos argentinos não confiavam em seu trabalho. Foi duramente criticado pelo antecessor, Menotti, que o chamou de “uma piada”, e até pelo presidente do país, Raúl Alfonsín.
(Imagem: Telegraph / Rex)
● A decisão que Bilardo previa ocorre no dia 29 de junho de 1986. A 13ª final de Copa do Mundo reúne a Argentina, campeã em 1978, e a Alemanha Ocidental, bicampeã mundial (1954 e 1974) e vice da última Copa. O chanceler alemão, Helmut Kohl, está entre os quase 115 mil expectadores no belíssimo estádio Azteca, para assistir a um confronto de gigantes. Era a terceira final da Argentina e a quinta da Alemanha. Embora inegavelmente possuíssem bons times, ambas não estavam entre os principais favoritos à conquista do Mundial e chegaram à decisão de maneiras distintas.
A Argentina estava invicta. No Grupo A da primeira fase, venceu a Coreia do Sul (3 x 1), empatou com a Itália (1 x 1) e bateu a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, bateu o Uruguai por 1 a 0, no clássico sul-americano. Nas quartas de final, venceu a Inglaterra por 2 a 1, na vingança da “Guerra das Malvinas”. Nas semifinais, contou com a genialidade de Maradona para passar pela surpreendente Bélgica por 2 a 0.
Os alemães não podiam contar com Rummenigge em sua melhor forma e se arrastaram em quase toda a Copa, sofrendo muito para chegar à decisão. Na primeira fase, se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0.
Por tudo isso, era muito difícil prever o desfecho final. Mas se as duas seleções e seus principais craques repetissem o futebol das partidas anteriores, a Argentina era favorita. Isso não ajudava em nada, pois nas finais anteriores a Alemanha Ocidental derrotou adversários muito melhores que ela (a Hungria, em 1954, e a Holanda, em 1974).
Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.
A Alemanha jogava no mesmo sistema, um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. Mas, ao contrário dos argentinos, o lateral esquerdo era o marcador que fazia o terceiro zagueiro, Briegel. Do lado direito, Berthold apoiava um pouquinho mais, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para o centroavante Klaus Allofs e para o craque Rummenigge.
● Maradona entrou no gramado do estádio Azteca com seu ritual: fazendo o sinal da cruz e dando pulos sobre a perna direita, com a mágica perna esquerda encolhida.
Rummenigge e Klaus Allofs deram a saída.
Ciciuffo ficou preso na lateral direita, marcando Klaus Allofs. Ruggeri ficou à esquerda, colado em Rummenigge. Com a bola, Valdano demonstrava toda sua inteligência tática, abrindo espaço para os que vinham de trás. Sem a bola, ele era o encarregado de não deixar o gigante Briegel avançar.
Thomas Berthold retornava de suspensão e entrou no lugar de Wolfgang Rolff. Com isso, coube a Matthäus a responsabilidade de marcar Maradona individualmente, da mesma forma que seu técnico Franz Beckenbauer tinha feito em Bobby Charlton na final de 1966, e Berti Vogts tinha sido a sombra de Johan Cruijff na decisão de 1974. E até conseguiu parcialmente. Mas ele também neutralizou Mattthäus. Às vezes, Maradona avançava tanto e arrastava Matthäus, de forma que parecia que a Alemanha tinha quatro defensores centrais. Com isso, os alemães perderam a criatividade e Magath ficou isolado, participando pouco do jogo.
Mas, ao contrário do que se dizia, a Argentina era mais do que apenas Maradona, e não se deixou intimidar. Todavia, nos primeiros minutos, foram os alemães que tomaram a iniciativa da partida, mas sem assustar.
Mesmo mais comprometida defensivamente, a Argentina passou a ser melhor na partida e mais ofensiva. O primeiro susto para o goleiro Schumacher foi um escanteio cobrado por Maradona, que Burruchaga desviou na primeira trave.
A Alemanha respondeu rápido. Eder entregou a bola a Briegel, que literalmente se jogou na entrada da área. Só o árbitro brasileiro Romualdo Arppi Filho viu a falta e marcou. Rummenigge rolou para Brehme chutar para o gol, mas Pumpido encaixou a bola com segurança.
Enquanto isso, Maradona só reclamava sem parar. Romualdo controlou o jogo ao advertir o capitão argentino com o cartão amarelo logo aos 17′. O camisa 10 sofreu sete faltas em toda a partida, sem contar outras três não apitadas pelo juiz. Mas foi marcado de forma leal e implacável. “Matthäus me marcou sem dar espaços nem patadas”, diria Diego depois.
Logo depois, Maradona dá um passe perfeito para Burruchaga, mas Brehme estava firme na marcação. Ele deu um carrinho e impediu a bola de chegar em condições para o portenho. A Argentina continuou controlando a posse de bola.
Cuciuffo engana Rummenigge e passa a Maradona. O capitão devolve de calcanhar e é derrubado por trás. Romualdo dá a vantagem, mas Cuciuffo leva uma rasteira de Matthäus na sequência. E foi nesse lance que a Argentina inaugurou o marcador. Burruchaga cobrou a falta pela ponta direita, em direção à pequena área. A Alemanha tinha sete jogadores dentro da área, mais o goleiro, contra quatro da Argentina, sendo um deles o baixinho Maradona. Contra todas as expectativas, Schumacher saiu “catando borboletas” e deixou o gol aberto para a cabeçada fulminante de Brown. O sucessor do legendário Daniel Passarella põe a Argentina na frente. Depois, ele deu um beijo na bola e agradeceu Burruchaga pela assistência perfeita. A Argentina abre o placar aos 23 minutos de jogo.
Ainda no primeiro tempo, Maradona teve duas boas chances para marcar seu gol. A primeira surgiu em uma cobrança de falta, defendida pelo goleiro. A segunda foi quando ele recebeu a bola na cara do gol e Schumacher saiu bem e o desarmou, em uma dividida com os pés.
O esquema cauteloso da Alemanha não funcionava. Agora, com a derrota parcial, os germânicos tinham que atacar e a final seria um jogo mais aberto, do jeito que Maradona e Burruchaga gostavam.
Em um lance no campo de ataque, Berthold toca de cabeça, mas Rummenigge chega atrasado e Pumpido segura.
Até o intervalo, nota-se um padrão. A Alemanha Ocidental, que nos jogos anteriores recorreu à bola parada e à decisão por pênaltis para avançar, apela para a interrupção das jogadas, tentando parar Maradona de qualquer forma. Mas estava com a desvantagem no placar e não conseguia nenhum ataque efetivo ao gol argentino. Próximo ao intervalo, os alemães reclamaram de um pênalti, mas o árbitro apontou de forma correta que a infração foi 10 cm fora da grande área.
Após 45 minutos, a Argentina vencia por 1 a 0. Não foi um bom primeiro tempo, com muitas faltas e poucas jogadas bonitas. Mas, felizmente, o que veríamos na etapa final seria muito diferente.
(Imagem: UOL)
● Beckenbauer voltou com Rudi Völler no lugar de Klaus Allofs, que tinha sido engolido pela marcação de Cuciuffo.
A Argentina voltou ainda melhor para a segunda etapa, começou com tudo e fez 2 a 0 aos 10 minutos. Maradona toca para Héctor Enrique. “El Negro”, puxa a jogada pelo meio e lança na medida para Jorge Valdano, livre de marcação. O atacante recebe, avança pela esquerda, entra na área e toca mansinho, na saída do goleiro Schumacher, fazendo a alegria da maioria da torcida presente no estádio.
Jogando com muita confiança na defesa, os sul-americanos não dão espaço para os atacantes rivais e ainda criam oportunidades de contra-ataque. Jorge Valdano teve uma outra chance, mas a cabeçada foi para fora.
Na metade do segundo tempo, Enrique partiu livre para marcar o terceiro, mas o bandeirinha costarriquenho Berny Ulloa assinalou um dos impedimentos mais absurdos da história.
Depois, achando que a partida já estava ganha, os argentinos amoleceram. Mas nunca se deve subestimar os metódicos alemães. Maradona diria depois: “Até que recebam o atestado de óbito, os alemães não se entregam. Não temem nada. Na entrada dos times, nós acostumávamos a gritar, bater no peito. Isso metia medo em todos os rivais. Menos neles”.
E então Matthäus foi parcialmente dispensado de suas obrigações ofensivas e a Alemanha Ocidental começou a jogar, tentando reagir a qualquer custo. Aos 17′, Beckenbauer trocou o apagado meia Magath (que foi muito bem marcado por Giusti) pelo atacante Dieter Hoeneß, bom nas bolas altas.
As bolas aéreas deveriam ser a especialidade argentina. Bilardo se preocupava tanto com a bola parada defensiva que entrou no quarto de Oscar Ruggeri às quatro horas da manhã do dia da final e perguntou ao defensor, meio dormindo e desorientado, quem ele deveria marcar nos escanteios. Ruggeri respondeu: “Rummenigge”, provando ao técnico que ele estava suficientemente focado.
Porém, aos 29′, com Brown sentindo dores por uma pancada no ombro, Ruggeri não conseguiu cumprir sua função. Brehme bate um escanteio, Völler desvia de cabeça para a pequena área e Rummenigge aparece entre os zagueiros e completa de carrinho para as redes. Com 2 a 1 no marcador, o jogo ganha nova vida.
Dois minutos depois, Maradona domina a bola de chaleira, mas chuta sem direção. O “Pibe” tenta controlar mais a bola, mas Matthäus é a sua sombra. Rummenigge recua para o meio de campo, para armar as jogadas.
E o inimaginável acontece aos 35′. Matthäus avança e cruza na cabeça de Dieter Hoeneß, mas Pumpido espalma, cedendo novo escanteio. Brehme cobra e ergue para a área. Berthold apara pelo alto e Rudi Völler se antecipa a Pumpido e cabeceia para o gol. Völler, que já tinha sido fundamental no gol anterior, agora marcava o seu. Ele entrou no segundo tempo e mudou a partida.
A Alemanha empatou em duas cobranças de escanteio nas quais a zaga portenha serviu apenas de plateia.
(Imagem: Pinterest)
● A dez minutos do fim, o jogo estava empatado em 2 a 2 e havia no estádio o temor de que o melhor futebol não fosse premiado com a taça. Visivelmente desgastada pelo sol de rachar do México, a Alemanha tentava diminuir o ritmo. Maradona diria: “Até fiquei com receio da prorrogação depois do gol de empate. Mas quando olhei aquele touro do Briegel com as pernas vermelhas, falei pro Burruchaga que era só fazer a bola correr que a gente ganhava”.
A decisão se encaminhava para a prorrogação, mas, entusiasmados pela reação, os alemães afrouxaram a marcação e acabaram deixando espaço atrás de sua linha de defesa.
Aos 38′, Maradona recebeu a bola em seu próprio campo e, cercado por dois alemães, viu Burruchaga escapar em condição legal por trás da defesa alemã, que estava incrivelmente adiantada. Foi um belo lançamento do camisa 10. Burruchaga avançou, ganhou na velocidade do ex-decatla Briegel, e tocou com muito sangue frio para o gol, na lenta saída de Schumacher.
O camisa 7 Burruchaga emulou o Jairzinho de 16 anos antes, se ajoelhou para comemorar o gol e o título no estádio Azteca. “Foi o pique mais longo e emocionante de minha vida. Achei que não aguentaria. Mas tive a sorte de ver claramente o Schumacher, que estava todo de uniforme amarelo, brilhando. Vi o quanto estava longe da meta quando recebi a bola, e pude mais facilmente definir o lance. O plano era encobri-lo, mas acabei tocando entre suas pernas. Eu não vi que Valdano estava correndo ao meu lado pelo meio, nem ouvi Briegel atrás de mim. Estava esgotado demais para perceber tantas coisas.”
Era o gol do título! Era o gol da justiça com Maradona e com o próprio futebol.
Nos instantes finais, o talentoso trio Valdano, Maradona e Burruchaga ainda infernizava a vida dos alemães.
No finzinho, Maradona passa por dois adversários e é atingido por Schumacher dentro da área. Romualdo não marca pênalti, mas apenas falta para a Argentina. Maradona cobra forte, rasteiro, na esquerda do goleiro, que espalma para a lateral.
Burruchaga foi substituído para ser ovacionado pela torcida e festejar antes com os companheiros do banco.
A essa altura, tudo estava decidido. Oito anos depois de sua primeira conquista, os argentinos são novamente campeões do mundo. Dessa vez, de maneira incontestável.
A loucura toma conta do estádio Azteca, como 16 anos antes, no tricampeonato da Seleção Brasileira de Pelé. O gramado estava tão lotado, que Maradona e seus companheiros nem conseguiram dar a volta olímpica.
Enquanto todos os argentinos comemoravam, com a taça nas mãos, o perfeccionista Bilardo ficou horas chateado, se perguntando como seu time tinha levado dois gols de estanteio depois de treinar tanto.
Na tribuna, um cumprimento seco entre Maradona e João Havelange, o eterno presidente da FIFA. Diego recebeu a taça das mãos do presidente do México, Miguel de la Madrid, a beijou e a levantou para a posteridade.
(Imagem: Pinterest)
● O alemão Rummenigge é até hoje o único capitão de uma seleção nacional a perder duas finais de Copa, diante da Itália em 1982 e da Argentina em 1986.
O prêmio dos argentinos, campeões mundiais, foi de 50 mil dólares. Se ficassem com a taça, os brasileiros receberiam 130 mil dólares.
“Todos estavam contra a gente. O governo, muitos argentinos, os rivais. Éramos visitantes até no Estádio Azteca. A torcida era maior pelos alemães. No fim do jogo, só os argentinos no estádio berravam. Em nosso país, sabia que tínhamos virado o jogo. E os que mais nos criticavam seriam os primeiros a subir no carro da vitória na Argentina. Pena que um título mundial não baixe o preço do pão. Se pudéssemos resolver os problemas do nosso país com dribles…” — Maradona
Maradona foi fundamental para que a Argentina conquistasse o título. Muitos dizem que ele “ganhou o título sozinho”, o que é impossível em um esporte coletivo como o futebol. Mas é fato que nenhum jogador desequilibrou tanto em um Mundial desde Garrincha, que liderou o Brasil na conquista de 1962. Pela sua liderança e singularidade, com o título, Maradona entrou de vez no “Olimpo do futebol”.
Dieguito não teve desempenho semelhante nas outras três Copas que disputou. Não fez parte do elenco campeão em 1978, segundo o técnico Menotti, por ser “jovem demais” (tinha 17 anos e 7 meses). Em 1982, ainda um garoto, chegou com status de craque e decepcionou, sendo expulso depois de um coice no brasileiro Batista. Em 1990, liderou sua seleção até a final. Mas, com dores no tornozelo, esteve irregular e até perdeu um pênalti. Em 1994, fez duas belas partidas antes de ser flagrado em um exame antidoping.
O capitão da Copa de 1978, Daniel Passarella, estava presente no elenco campeão em 1986, mas ele prefere não colocar esse título no seu currículo, por não ter jogado um minuto sequer na campanha, devido à desavenças e conflito de egos com Maradona, que não queria sequer a convocação do desafeto. De qualquer forma, Passarella é o único jogador presente nos dois títulos mundiais dos portenhos.
A seleção argentina fez sua preparação em Tilcara, um povoado de seis mil habitantes, que fica na província de Jujuy, extremo norte do país, nas fronteiras com o Chile e com a Bolívia. O local foi escolhido por ser uma região de clima árido e altitude considerável, um pouco semelhante ao que veriam no México. Alguns jogadores fizeram uma promessa à Virgem de Punta Corral, padroeira do vilarejo: caso conquistassem o Mundial, esses atletas voltariam ao lugar para agradecer à santa. O título aconteceu, mas eles não cumpriram sua promessa. Alguns fanáticos creditam a seca atual de títulos da seleção ao não cumprimento da promessa.
Três pontos sobre… … 01/06/1986 – Brasil 1 x 0 Espanha
Casagrande lutando pela bola contra a zaga espanhola (Imagem: Futebol Nostálgico)
● Em 1983, alegando dificuldades econômicas, a Colômbia passou ao México a honra e a responsabilidade de sediar a Copa do Mundo de 1986. Assim, dezesseis anos depois, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio. No Brasil, o sentimento era de nostalgia e superstição. Todos confiavam que a Seleção reencontraria o espírito vencedor de 1970, quando conquistou o tricampeonato no mesmo solo mexicano.
Após a derrota na Espanha em 1982, Telê Santana pediu demissão no fim daquele ano. Para substituí-lo, foi contratado Carlos Alberto Parreira, depois Edu Coimbra (irmão de Zico) e, por último, Evaristo de Macedo. Como nenhum deles alcançou os resultados esperados, a CBF atendeu aos apelos da torcida e convidou Telê para ser técnico novamente, às vésperas das eliminatórias.
Telê jamais teve o time definido, sob o pretexto de que sua equipe ideal ainda não estava completa. Ele ainda confiava no elenco de 1982, que, claramente, já não era mais o mesmo de antes. Seu time ideal era: Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates; Renato e Casagrande. Dirceu era o 12º homem.
Devido à indefinição da recuperação física de alguns atletas, foram 29 jogadores convocados para os treinamentos na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, com muita briga por posição. Foram pouco menos de quatro meses de treinamentos, com dezenas de times escalados sem que se definisse o time titular. Essa forte concorrência e a convivência por tanto tempo resultou em brigas, discussões, fuga para as baladas, desencontros dentro e fora de campo.
Sócrates, Casagrande e Careca: esperanças de gol da Seleção Canarinho em 1986 (Imagem: Pedro Martinelli / Veja)
Em uma noite de folga da concentração, oito jogadores estenderam a diversão madrugada adentro. No retorno, seis deles pularam o muro da Toca da Raposa e não foram flagrados. Mas o lateral Leandro era o mais embriagado e não conseguiu voltar, entrando pela porta da frente carregado por Renato Gaúcho. Três meses depois, na hora de definir os cortes finais no elenco, Renato foi excluído por Telê, enquanto Leandro foi perdoado. Em solidariedade ao companheiro, Leandro decidiu abandonar a seleção no dia do embarque para o México. Zico e Júnior ainda foram à sua casa e tentaram fazê-lo mudar de ideia, mas ele já estava decidido a não ir. Mas o motivo alegado por Leandro é que ele estava atuando como zagueiro no Flamengo e não queria atuar mais como lateral direito, pois esta posição exigia um maior esforço físico que seu corpo não conseguia mais realizar.
Havia ainda a incerteza em torno das condições físicas de Zico. Foi lhe dado tempo para se recuperar durante o Mundial, mas Dirceu e Toninho Cerezo foram cortados, o que foi traumático para o grupo.
A desconfiança com o escrete canarinho era tão grande, que dois meses antes da Copa, Pelé, então com 45 anos de idade, declarou à revista Veja: “Posso ajudar o Brasil. Se o Telê me der tempo para me preparar, eu jogo pelo menos 45 minutos”.
Por sua vez, a Espanha estava em grande fase, invicta a oito jogos. Contava com uma boa geração, que tinha sido vice-campeã da Eurocopa de 1984. Além disso, na época em que eram mais raros jogadores estrangeiros em times europeus, os craques locais provavam sua qualidade ao emplacarem três times entre os finalistas das três competições mais importantes do continente: o Barcelona foi vice-campeão da Copa da Europa (atual UEFA Champions League), o Real Madrid foi campeão da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) e o Atlético de Madrid foi vice-campeão da Recopa Europeia (torneio extinto em 1999).
Além de bons jogadores como o goleiro Zubizarreta, o defensor Camacho, o meia Míchel e os atacantes Julio Salinas e Butragueño, o apelido de “Fúria” se justificava também por outros “atributos” muito bem simbolizados pelo zagueiro Andoni Goikoetxea. O jogador do Athletic ganhou o apelido de “Açougueiro de Bilbao” depois de romper os ligamentos do tornozelo de Diego Armando Maradona em 1983, quando este jogava pelo Barcelona. Dois anos antes, Goikoetxea quase encerrou a carreira do meia alemão Bernd Schuster, também do Barça.
O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.
Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de 4 e os avanços dos meias Míchel e Julo Alberto. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.
No onze inicial, à exceção de Edinho, Sócrates e Júnior, a Seleção Brasileira era praticamente estreante em Copas do Mundo e a torcida temia que os atletas sentissem a pressão. Assim, pouco antes do jogo, o técnico Telê Santana cogitou sacar o goleiro Carlos e o zagueiro Júlio César, para entrar os mais experientes Leão e Oscar. Felizmente isso não foi feito.
Júlio César, de apenas 23 anos, anulou o badalado atacante Emilio Butragueño, destaque do Real Madrid. Carlos se agigantou no México e se tornou um dos melhores goleiros do Mundial.
Depois de um primeiro tempo equilibrado e sem grandes chances para nenhum dos dois lados, o Brasil levou um grande susto aos sete minutos da etapa final. O meia Francisco chutou de fora da área, a bola bateu no travessão e claramente cruzou a linha do gol, mas o árbitro australiano Christopher Bambridge e o bandeirinha holandês Jan Keizer não viram o gol legítimo e não validaram o lance.
No chute de Francisco, a bola claramente entrou no gol brasileiro (Imagem: Sebastião Marinho / O Globo)
Mas o travessão não ajudou o Brasil apenas na defesa. Foi fundamental também no ataque.
Aos 16 minutos do segundo tempo, Júnior conduziu a bola pela direita, entrou pelo meio e rolou para Careca. O camisa 9 limpou o lance e chutou com força, de dentro da área. A bola explodiu no travessão, tirando o goleiro Zubizarreta e toda a defesa espanhola da jogada, sobrando limpa para Sócrates, que só teve o trabalho de escorar de cabeça para o gol.
Depois da partida, o técnico espanhol Miguel Muñoz foi ácido ao dizer: “Este Brasil é inferior ao de 1982, porém mais aplicado taticamente. Marca melhor, atira-se com mais vitalidade à luta e pode ter em Sócrates um comandante mais livre para criar. Vai melhorar quando Zico se juntar a Sócrates. Aí vocês terão um grande time. Por enquanto é apenas razoável. Mas os juízes gostam”.
Foi uma atuação muito nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela estreia com vitória.
Sócrates aproveita o rebote e marca o gol da partida (Imagem: ESPN)
● Esses mesmos problemas se repetiram nas demais partidas. Contra a Argélia, foi um time desorganizado após a lesão que tirou o lateral direito Édson Abobrão da Copa, possibilitando uma pressão argelina na etapa final, até que Careca marcasse o gol da vitória por 1 a 0. Na terceira partida houve uma ingênua impressão de evolução, ao bater a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum.
Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas de final, o Brasil fez sua melhor partida na Copa, mas empatou com a França, de Michel Platini, por 1 a 1 e perdeu nos pênaltis (4 x 3). Nessa partida, Zico teve a chance de cobrar um pênalti a 17 minutos do fim, logo depois de entrar em campo. O Galo bateu no canto esquerdo e o goleiro francês Joël Bats espalmou. O tetra seria adiado mais uma vez. Assim como em 1978, o Brasil terminou a Copa invicto, mas sem o título.
A Espanha ficou com a segunda vaga do Grupo D, vencendo a Irlanda do Norte por 2 a 1 e a Argélia por 3 a 0. Nas oitavas de final, a Espanha atropelou a surpreendente Dinamarca por 5 a 1. Parou nas quartas, nos pênaltis, após empatar com a Bélgica por 1 a 1 no tempo normal.
Curiosamente, os mexicanos apresentaram a “olla” ao mundo no dia 03 de junho de 1986, na vitória dos anfitriões sobre a Bélgica por 2 x 1. “Olla” significa “onda” em espanhol. Criada pelos mexicanos e hoje praticada pelo mundo afora, é uma coreografia coletiva em que a torcida levanta o corpo e os braços de modo sincronizado, fazendo uma onda “varrer” as arquibancadas. Embora tenha se popularizado no México, seria uma invenção dos americanos.
Seleção Brasileira em formação para foto oficial na partida contra a Espanha (Imagem: CBN)
Seleção espanhola em formação para foto oficial na partida contra o Brasil (Imagem: Efeito Fúria)
Três pontos sobre… … 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra
Maradona comemora gol sobre a Inglaterra (Imagem localizada no Google)
● Para entender a atmosfera que tomava conta do estádio Azteca era preciso voltar quatro anos antes, quando a Inglaterra derrotou ferozmente a Argentina na Guerra das Malvinas. Os dois países lutaram pela soberania nas Ilhas Malvinas (como é chamada pelos argentinos) ou Falklands (como é conhecida pelos britânicos). Poucos tinham esquecido desse confronto, principalmente os portenhos mais nacionalistas, que estavam ávidos pela vitória no futebol para “vingar” a derrota no conflito militar. Foi com esse espírito de vingança que a Argentina entrou em campo, liderada por Diego Armando Maradona.
Além do motivo político, teve também o futebolístico. A Argentina ainda tinha mágoas por ter sido prejudicada pela arbitragem em um confronto com os ingleses na Copa de 1966, quando o capitão Antonio Rattín acabou expulso por não entender o que a arbitragem falava (falaremos dessa partida dia 23/07).
Na primeira fase, a seleção albiceleste foi líder do grupo A, vencendo a Coreia do Sul (3 x 1), empatando com a Itália (1 x 1) e vencendo a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, venceu o rival Uruguai por 1 a 0.
Já os ingleses terminaram o grupo F em segundo lugar, perdendo na estreia para Portugal por 2 a 1, empatando sem gols com o Marrocos e vencendo a Polônia por 3 a 0. Nas oitavas, nova vitória por 3 a 0, mas agora diante do Paraguai.
Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.
A Inglaterra era escalada no tradicional 4-4-2, com todo o time trabalhando para criar oportunidades para o matador Gary Lineker.
● Foi um primeiro tempo feio e com poucas chances de gol. Na melhor delas, Glenn Hoddle fez um longo lançamento, Pumpido saiu do gol todo desajeitado e Beardsley o driblou e o encobriu, batendo sem ângulo para fora.
Depois, Maradona cobrou falta perigosa, que passou a centímetros da trave esquerda de Peter Shilton. Maradona estava mais “endiabrado” do que nunca, fazendo fila na defesa inglesa, que só o conseguia parar com faltas violentas.
O camisa 10 era sempre destaque. Ainda no primeiro tempo, ao ir cobrar um escanteio, reclamou da falta de espaço e arrancou o mastro com a bandeirinha. O auxiliar costarriquenho Berny Ulloa Morera lhe deu uma grande bronca e o obrigou a colocar o mastro no lugar, mas a flâmula ainda estava caída. Após nova reprimenda, o argentino a colocou de qualquer jeito. Apenas na terceira bronca, Dieguito ajeitou a bandeirinha do jeito que estava antes. Lance hilário.
No segundo tempo, o astro queria colocar fogo no jogo. Logo aos cinco minutos da etapa complementar, Maradona arrancou em direção à área, passou por dois marcadores e tocou para Burruchaga. Fenwick interceptou o passe com um chute para cima, em direção a Peter Shilton. Maradona percebeu, correu e subiu junto com o goleiro. O baixinho não alcançaria, mas com um leve soco na bola, conseguiu encobrir o rival e desviar a bola para as redes. Os ingleses reclamaram bastante do toque de mão. Diego saiu comemorando com discretas olhadinhas de lado para o juiz. O árbitro tunisiano Ali Bin Nasser não viu a infração e validou o gol após consultar o bandeirinha búlgaro Bogdan Dotchev.
La mano de Díos (Imagem localizada no Google)
Aproveitando o nervosismo dos adversários, Maradona ampliou o marcador. Ele recebeu ainda em seu campo e manteve a bola grudada em seu pé esquerdo. Com um giro, tirou Reid e Beardsley da jogada. O argentino arrancou em velocidade, passou por Butcher e Fenwick, driblou o goleiro Shilton e tocou para as redes antes de ser derrubado por Fenwick. Diego demorou 10,9 segundos para percorrer os sessenta metros que o separava da baliza. Foi um lance antológico, considerado por muitos o mais belo gol da história das Copas, demonstrando toda a técnica e a genialidade do capitão albiceleste.
Só então a Inglaterra passou a atacar com mais afinco, mas não conseguia criar chances claras para finalizar. Apenas aos 30 minutos o técnico Bobby Robson colocou o atacante John Barnes em campo. Foram os únicos 15 minutos do jamaicano naturalizado no Mundial, mas ele infernizou a defesa argentina e criou duas oportunidades de gol.
Na primeira, ele recebeu no bico da área passou por dois marcadores, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda, encontrando Gary Lineker livre dentro da pequena área. O centroavante só escorou para as redes, anotando seu sexto gol e se sagrando artilheiro da competição.
Nos últimos lances da partida, a mesma jogada se repetiu: Barnes vai até a linha de fundo e cruza para Lineker, mas dessa vez o camisa 10 não alcançou a bola, perdendo a última chance de empatar e forçar a prorrogação.
No último lance de perigo, Maradona faz outra jogada genial e lança Tapia, que dribla um zagueiro e chuta na trave direita do goleiro Shilton.
Fim de jogo. Inglaterra eliminada, Argentina classificada. Era a única seleção sul-americana que permanecia viva na Copa.
Diego tenta passar pela marcação de Terry Butcher (Imagem localizada no Google)
● Maradona vingou seu país, fazendo justiça com as próprias mãos, literalmente.
Nos dias que se seguiram, Maradona era constantemente questionado sobre a forma que marcou o primeiro gol. E ele “mitou” com a seguinte frase: “O gol foi marcado com a minha cabeça e com a mão de Deus”. Para os fanáticos, era questão de lógica: se Diego diz que fez o gol com “la mano de Díos“, e a imagem mostra ele fazendo o gol com a mão, então… Maradona é deus”. Doze anos depois, seus fiéis fundaram a Igreja Maradoniana.
Na sequência da Copa, Maradona continuou liderando sua seleção, fazendo os dois gols na vitória sobre a Bélgica (2 x 0) nas semifinais. Na decisão, ele não marcou, mas criou tudo que se passou na emocionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 3 a 2. Assim, a Argentina se sagrou bicampeã da Copa do Mundo.
Muitos dizem que Maradona “ganhou a Copa de 1986 sozinho”. O time argentino não era realmente muito bom, mas estava longe de ser uma baba. Mas independente disso, a atuação de Diego no Mundial o elevou a “status de deus“. Independente de seus futuros problemas pessoais como, por exemplo, o vício em drogas, Maradona é uma lenda viva do futebol e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Para o bem e para o mal, um gênio.
Cumprimentos iniciais entre os capitães Maradona e Peter Shilton (Imagem: Globo Esporte)
Três pontos sobre… … 15/06/1986 – Bélgica 4 x 3 União Soviética
O capitão Jan Ceulemans é perseguido pela marcação soviética (Imagem: Pinterest)
● Era uma tarde de sol escaldante no estádio Nou Camp, em León, estado mexicano de Guanajuato. Mais quente ainda seria a partida das quartas de final entre Bélgica e União Soviética.
As duas seleções vinham cumprindo papéis distintos no Mundial. Na primeira fase, os belgas ficaram em terceiro lugar no grupo B, com uma derrota (2 a 0 para o México), uma vitória (2 a 1 sobre o Iraque) e um empate (2 a 2 com o Paraguai). Foi um desempenho fraco, para quem ainda tinha como base a equipe vice-campeã da Eurocopa em 1980. Não era o time dos sonhos, mas aquela foi a primeira “ótima geração belga”. Aliando experiência e juventude, os destaques eram Eric Gerets, Stéphane Demol, Jan Ceulemans, Jean-Marie Pfaff (eleito melhor goleiro da Copa) e o prodígio Enzo Scifo (então com 20 anos).
Por outro lado, a União Soviética sempre foi uma equipe dura de ser batida. Terminaram a primeira fase como líderes do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Com a base do Dínamo de Kiev, campeão da Recopa Europeia, o técnico Valeriy Lobanovs’kyi tinha em seu time destaques como Igor Belanov, Aleksandr Zavarov, o ótimo goleiro Rinat Dasayev (que tinha completado 29 anos dois dias antes) e o veterano Oleg Blokhin (Bola de Ouro em 1975).
Esses resultados colocavam a URSS amplamente favorita a passar para as quartas de final. O retrospecto histórico ainda era favorável, com quatro vitórias soviéticas em quatro jogos disputados entre eles.
A Bélgica era escalada no 3-5-2, com Ceulemans coordenando as ações entre o meio e o ataque.
A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.
● A partida começou com belas e contínuas trocas de passes entre os soviéticos. Mesmo pressionando, eles demoraram 27 minutos a abrirem o placar. Com uma ótima jogada, Zavarov encontrou Belanov entre as linhas e ele chutou forte da entrada da área para inaugurar o marcador.
Os soviéticos tentaram ampliar, mas Pfaff estava exuberante no gol.
No começo do segundo tempo, aos 11 minutos, a Bélgica foi para cima e Scifo (em posição duvidosa) finalizou com muita tranquilidade um cruzamento de Vercauteren.
O empate se seguiu até os 25 minutos, quando Ceulemans perdeu a bola na intermediária defensiva e, novamente, o ótimo Zavarov deu uma excelente assistência para Belanov marcar o segundo, chutando cruzado na saída de Pfaff.
Sete minutos depois, Demol faz um longo lançamento e Ceulemans (em posição de impedimento) dominou no peito, girou e finalizou ao gol. Era o empate.
No minuto final do tempo regulamentar, Dasayev faz uma defesa monumental em cabeçada de Ceulemans.
No tempo normal, empate em 2 a 2. Em uma partida em que a Bélgica jogava no contra-ataque e a URSS esbarrava em Pfaff, a prorrogação se tornou um caminho natural.
Os soviéticos saíram de campo pregados e reclamando bastante dos lances irregulares. A verdade é que a URSS foi prejudicada pela arbitragem em dois lances vitais na partida.
Além do bom preparo físico, os belgas voltaram com outra mentalidade e passaram a ter mais posse de bola. E foi assim que os “Diabos Vermelhos” começaram a criar suas chances.
Aos 12 minutos do tempo extra, Vercauteren cobra um escanteio curto e Gerets fez um cruzamento precioso na cabeça do zagueiro Demol, que apareceu como um foguete e cabeceou no ângulo.
Aos 5 do segundo tempo, a Bélgica ampliou. Após ótima jogada de Ceulemans, Lei Clijsters (pai da tenista Kim Clijsters) e Claesen tabelam pelo miolo da área. A bola sobe e Claesen, de primeira, acerta o canto direito.
O resto da partida foi toda de Pfaff.
Um minuto depois, Belanov é empurrado por Gerets dentro da área. O próprio Belanov cobrou, chutando forte, alto e no meio do gol.
A URSS continuou em busca do empate, mas sem sucesso.
Apesar da quantidade de gols, os dois goleiros foram protagonistas na partida.
Sergey Aleynikov tenta driblar o menino Scifo (Imagem: Pinterest)
● Esse jogo contra os soviéticos provavelmente foi o momento mais importante da história do futebol belga, pois foi o início de uma campanha histórica, que colocou de vez a Bélgica no hall das grandes seleções mundiais.
Na sequência, os embalados “Diabos Vermelhos” eliminaram a Espanha nos pênaltis (5 a 4, após um empate por 1 a 1 no tempo normal e prorrogação). Nas semifinais, caíram de pé para a Argentina (2 a 0), com um inspirado Maradona, autor dos dois gols.
Na decisão do 3º lugar, ainda perderiam para a França de Michel Platini na prorrogação por 4 a 2. Não faz mal. Já havia feito história.
Como curiosidade, a seleção soviética tinha onze jogadores que atuavam no Dínamo de Kiev, cidade a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que sofreu um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do desembarque da equipe no México.
A delegação belga repetiu o que os ingleses fizeram em 1970 e levaram mantimentos próprios para evitar o “mal de Montezuma“, que causa intoxicação alimentar em alguns estrangeiros no México. Dessa vez, no entanto, os mexicanos não se sentiram ofendidos com essa atitude (diferentemente de 1970, em relação à Inglaterra).
Igor Belanov, destaque da URSS e do Dínamo de Kiev, foi o segundo jogador em Copas do Mundo a fazer um “hat trick” (três gols no mesmo jogo) e sua equipe perder. [Falaremos do primeiro caso no dia 26/06.] No fim do ano de 1986, Belanov seria eleito Bola de Ouro pela revista France Football.
Vladimir Bessonov rouba a bola de Ceulemans (Imagem: Pinterest)
Três pontos sobre… … 08/06/1986 – Dinamarca 6 x 1 Uruguai
Elkjær, Laudrup e Andersen comemoram um dos gols (Imagem: Futebol Marketing)
● A Dinamarca já havia encantado o mundo dois anos antes durante a Eurocopa, quando chegou às semifinais e perdeu para a Espanha apenas nos pênaltis.
O técnico Sepp Piontek revolucionou, montando sua equipe no sistema 3-5-2. Era um tempo em que quase todos os times do mundo jogavam com quatro homens no meio e apenas dois atacantes. Se era necessário um zagueiro para marcar cada atacante e outro na sobra, então era desnecessária a escalação do quarto defensor. Assim, ele daria lugar a um jogador de meio. O futebol sempre foi decidido no jogo de meio de campo. Se uma equipe tem um homem a mais nessa área do gramado, a tendência é estar sempre em superioridade numérica, vencendo a maior parte dos duelos. É a teoria.
Mas o auge do estilo de jogo dos dinamarqueses foi no dia 8 de junho de 1986. Nunca se viu um jogo igual àquele. Justificou o apelido de “Dinamáquina”.
No papel, o time uruguaio não era tão fraco, pois contava com Darío Pereyra (do São Paulo, que não atuou nessa partida), Rubén Paz (do Inter, que também não jogou), Víctor Diogo (do Palmeiras) e, principalmente, Enzo Francescoli (do River Plate).
Mas, por outro lado, a Dinamarca não era só o sistema tático. Tinha seus craques, como o jovem Michael Laudrup, que aos 22 anos já vestia a camisa da Juventus. Havia também Preben Elkjær Larsen, que havia liderado o surpreendente Verona campeão italiano da temporada 1984/85. Elkjær era um fumante inveterado, que chegava a consumir de 20 a 30 cigarros por dia, muitas vezes escondido do treinador no vestiário.
A Dinamarca jogava em um inédito 3-5-2, com muita movimentação de todos seus jogadores, quase como um “futebol total”.
O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época).
● Aos 11 minutos de partida, Laudrup dribla dois uruguaios e serve Elkjær, que chuta na saída do goleiro Álvez.
Oito minutos depois, o volante uruguaio Miguel Bossio (que já tinha recebido cartão amarelo seis minutos antes) foi expulso de campo. O Uruguai ficou escancarado e virou presa fácil para tomar a goleada, que tinha apenas começado.
Aos 41, Elkjær cruza da direita e Lerby aproveita-se de indecisão da defesa e manda para dentro.
No último instante da etapa inicial, Francescoli cobra pênalti no canto esquerdo, deslocando o goleiro Rasmussen.
Aos 7 da etapa complementar, o gol mais bonito do jogo. Laudrup recebe na entrada da área, dribla dois uruguaios, passa pelo goleiro e marca.
Aos 22, Laudrup (sempre ele) entra na área, ganha duas divididas com os zagueiros, fica na cara do gol e tenta encobrir Álvez. Ele defende parcialmente e Elkjær (de novo) dá o último toque antes de a bola entrar.
Aos 35, os uruguaios vão para cima e estão todos no campo de ataque. Molby toma a bola e lança Elkjær, que parte sem marcação ainda em seu campo, invade a área, dribla o goleiro e toca para o gol.
A dois minutos do fim, Elkjær avança pela direita e cruza para Jesper Olsen, que bate por baixo do goleiro, concluindo o massacre na cidade de Nezahualcóyotl.
Laudrup dribla Diogo (Imagem: Peter Robinson/EMPICS Sport)
● Foi a maior goleada sofrida pelo Uruguai em Copas. A Celeste (que nesse dia jogou de branco) ainda passaria à segunda fase graças aos empates com Alemanha (que seria vice-campeã da Copa) e Escócia (treinada por Alex Ferguson). Mas cairia nas oitavas de final, em derrota por 1 a 0 para a futura campeã Argentina, no clássico sul-americano.
Assim, revolucionando e encantando, a Dinamarca terminou a primeira fase como líder do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos, sobre Escócia (1 x 0), Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0); anotou nove gols e sofreu apenas um, de pênalti.
Nas oitavas de final, perdeu-se o encanto e a Dinamarca foi goleada pela Espanha por 5 a 1 (com quatro gols de Emilio Butragueño) e deu adeus à Copa.
Três pontos sobre… … Polônia e a breve história de sua seleção de futebol
(Imagem localizada no Google)
A seleção polonesa fez sua primeira partida oficial em 18/12/1921, perdendo por 1 x 0 em um amistoso com a Hungria, em Budapeste. Estreou em Copas do Mundo em 1938, caindo logo na estreia, mas vendendo muito caro uma derrota para o Brasil por 6 x 5 na prorrogação, com incríveis quatro gols de Ernest Wilimowski (apelidado de Ezi).
Pouco depois, a Polônia foi o país que mais sofreu com a Segunda Guerra Mundial e passou a se esconder atrás da cortina de ferro do bloco soviético. Devido ao regime comunista, o futebol não se profissionalizou e todos os jogadores eram considerados simples amadores. Mas isso não foi algo ruim, muito pelo contrário. Apenas amadores podiam participar dos Jogos Olímpicos e os comunistas podiam envias suas equipes completas, encobertas pelo amadorismo de fachada.
E é nesse momento que entra essa geração que colocou a Polônia de vez no mapa futebolístico e começou a fazer história. Nos Jogos Olímpicos de 1972, os poloneses conquistaram a medalha de ouro, derrotando a Hungria na final por 2 a 1, com dois gols de Deyna. Em toda a competição, foram 21 gols marcados em 7 jogos (média de três gols por partida).
Na Copa de 1974, na mesma Alemanha onde foi campeã olímpica, a Polônia chegou forte, mas desfalcada de seu maior craque, o centro-avante Włodzimierz Lubański, que foi o grande líder e destaque em 1972. Lubański atuou pela seleção entre 1963 e 1980, com 75 partidas e 48 gols (ainda é o maior artilheiro histórico). Ele se lesionou em 06/06/1973, contra a Inglaterra, nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Teve uma lesão no ligamento cruzado que o tirou dos gramados por dois anos, inclusive do Mundial.
Włodzimierz Lubański (Imagem: glamrap.pl)
Com a ausência de Lubański, foi necessário que outro craque chamasse o protagonismo para si. O careca ponta direita Grzegorz Lato (aniversariante de hoje, 08/04) tinha uma velocidade absurda, correndo 100 metros em incríveis 10,8 segundos. Lato não brilhou em um só verão (“Lato” significa “verão” em polonês). Ele foi o artilheiro da Copa de 1974, marcando sete gols, inclusive no 1 x 0 contra o Brasil, que valeu o 3º lugar do torneio à Polônia.
Mesmo não sendo uma equipe desconhecida, não estava entre as consideradas favoritas, principalmente devido ao fato de ser comunista e frequentar pouco o noticiário estrangeiro. Isso deu ainda mais tranquilidade ao técnico Kazimierz Górski. Ele sabia tirar o melhor de cada um de seus comandados, principalmente de Lato. Era uma seleção jovem, com muita disciplina tática, jogadores velozes e time entrosado, com um futebol rápido e envolvente, uma defesa segura e o talento de Deyna no meio campo, além de Lato e Gadocha nas pontas.
Grzegorz Lato (Imagem localizada no Google)
O show começou nas eliminatórias, quando eliminou a forte Inglaterra (campeã oito anos antes), com uma vitória por 2 x 0 em casa e um empate por 1 x 1 em pleno Wembley, com Jan Tomaszewski fechando o gol.
Já na Copa, mesmo em um grupo difícil, a Polônia venceu os três jogos (3 x 2 na Argentina, 7 x 0 no Haiti e 2 x 1 na Itália), se classificando em primeiro lugar. A partir daquele instante, quem ainda duvidava do poder de fogo dos poloneses passou a rever seus conceitos.
Na segunda fase, as oito seleções classificadas foram divididas em dois grupos de quatro, com a primeira colocada garantindo vaga na final e a segunda na decisão do 3º lugar. Nos dois primeiros jogos, duas vitórias (1 x 0 na Suécia e 2 x 1 na Iugoslávia). A terceira e decisiva partida foi contra a anfitriã, Alemanha Ocidental, que também tinha vencido os dois jogos, mas jogava pelo empate por possuir maior saldo de gols (4, contra 2 dos poloneses). Assim, o jogo foi na prática uma semifinal direta, valendo vaga na decisão.
Durante todo o dia caiu uma chuva torrencial na cidade de Frankfurt, o que certamente prejudicava o futebol rápido da Polônia e favorecia a força física, principal arma da Alemanha Ocidental. Mesmo com o técnico Kazimierz Górski pedindo o adiamento da partida, ela aconteceu. E com um gol de Gerd Müller aos 31 minutos do segundo tempo, os alemães venceram por 1 x 0. Fim do sonho polonês e festa para os donos da casa.
Restou à Polônia disputar a decisão do 3º lugar contra o Brasil, que perdeu para a Holanda de Johan Cruijff (e do futebol total) no outro grupo. Em Munique, a 15 minutos do fim, Marinho Chagas errou o passe, Lato foi lançado em suas costas e arrancou sozinho para o gol. Mesmo sem ter o gosto de jogar a final, os poloneses comemoraram bastante a sólida campanha, terminando a competição em terceiro, com 6 vitórias e apenas 1 derrota. A partir desse momento, a Polônia passou a ser uma equipe respeitada e temida no mundo da bola.
Com o mesmo time base, nas Olimpíadas de 1976, em Montreal, a Polônia novamente foi finalista, mas ficou com a medalha de prata ao ser derrotada por 3 x 1 pela Alemanha Oriental.
Na Copa de 1978, a estrutura era basicamente a mesma, com o acréscimo do craque Włodzimierz Lubański, que já estava com 31 anos e em não tão boa forma quanto estaria quatro anos antes. Mas nesse torneio surgiu o jovem Zbigniew Boniek, com apenas 22 anos. Novamente a equipe foi comendo pelas beiradas e chegou em 5º lugar. Essa Copa marcou a despedida da maioria dos jogadores da era dourada. Do time de 1974, somente Andrzej Szarmach, Grzegorz Lato e Władysław Żmuda disputariam a Copa de 1982.
Na Copa da Espanha, um dos grandes destaques era Boniek. Ele era um jogador completo, atuando na ala esquerda, no meio, como ponta ou no ataque. Um jogador genial. Com ele, Lato e o novato Włodzimierz Smolarek juntos, a Polônia era cada vez mais temida. Classificou-se em primeiro lugar com dois empates e uma vitória. Na segunda fase, eliminou as fortes União Soviética e Bélgica. Caiu novamente de pé na semifinal em derrota por 2 x 0 para a futura campeã Itália, em partida que Boniek não disputou por estar suspenso pelo segundo cartão amarelo. Na decisão do 3º lugar, nova vitória, por 3 x 2 sobre a França de Michel Platini.
Zbigniew Boniek (Imagem: Łączy-nas-piłka)
Em 1986, a Polônia disputou sua quarta Copa consecutiva, mas já não tinha a força de antes. Boniek ainda era o craque do time. Żmuda era o único remanescente de 1974, sendo também quem mais vestiu a camisa da Polônia em Copas do Mundo, com 21 partidas, entre 1974, 1978, 1982 e 1986. Mesmo assim, os poloneses passaram da primeira fase como um dos melhores 3º colocados, ao empatarem com o Marrocos, vencerem Portugal e perderem para a Inglaterra. Mas o sonho foi interrompido nas oitavas de final, ao serem impiedosamente goleados pela Seleção Brasileira por 4 x 0. Esse massacre foi um atestado de que os melhores dias já haviam passado para o futebol polonês.
Houve a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1992, mas nenhum medalhista de prata se destacou posteriormente. Se classificou para a Copa de 2002, mas graças a um nigeriano naturalizado: Emmanuel Olisadebe. Com duas derrotas e uma vitória, pela primeira vez foram eliminados na fase de grupos, com sua pior campanha da história das Copas. Conseguiu também se qualificar para a Copa de 2006, mas também ficou na primeira fase, de novo com duas derrotas e uma vitória na última rodada.
Disputou pela primeira vez a Eurocopa, em 2008, ficando em último lugar no grupo. Foram duas derrotas e um empate, com um único gol marcado pelo brasileiro naturalizado Roger Guerreiro, lateral ex-Corinthians. Na Euro 2012, em casa, nova decepção, sendo logo eliminada com uma derrota e dois empates.
Já na Euro 2016, liderada por Robert Lewandowski, enfim a Polônia fez uma campanha digna. Na fase de grupos, venceu a Irlanda do Norte e a Ucrânia, segurando um empate sem gols com a Alemanha. Nas oitavas de final, empate com a Suíça em 1 a 1 e vitória por 5 a 4 nos pênaltis. Nas quartas de final, novo empate por 1 a 1, mas dessa vez foi derrotada na decisão das penalidades por 5 a 3 para Portugal, futuro campeão. No fim, o 7º lugar geral dentre as 24 seleções foi uma boa campanha, o que melhora as perspectivas para as próximas competições.
Três pontos sobre… … Allan Simonsen: o pequeno gigante dinamarquês
(Imagem localizada no Google)
● Se hoje a Dinamarca é um país respeitado dentro do futebol, isso se deve a Allan Simonsen. Ele é sem sombra de dúvidas o jogador mais importante da história de seu país. Foi fundamental na formação da nova geração dinamarquesa vitoriosa nos anos 1980 e 1990, com sua atitude de humildade e dedicação, sempre colocando os objetivos da equipe acima dos seus, independentemente de seu status de um dos melhores jogadores do continente na época.
Allan Rodenkam Simonsen nasceu em Vejle, no dia 15/12/1952. Nascido na cidade de Vejle, era apenas um jovem nanico (1,65 m) quando começou a jogar no time menor de sua cidade, o Vejle FC, antes de passar para o maior em 1963, o Vejle BK, onde faria história. Aos 17 anos, participou de um torneio internacional em Dusseldorf (Alemanha), chamando a atenção de Hennes Weisweiler, então técnico do Borussia Mönchengladbach. Estreou profissionalmente em 24/03/1971, em vitória em casa contra o Karlskoga FF. Foi bicampeão da liga nacional em 1971 e 1972 e em 1972 conquistou também a Copa da Dinamarca. Depois de três gols em seis partidas com seu país nos Jogos Olímpicos de 1972, Simonsen foi defender o clube alemão Borussia Mönchengladbach.
Sofreu um bocado nas suas duas primeiras temporadas, com apenas 17 jogos e dois gols. Entretanto, fez parte da equipe que conquistou a Copa da Alemanha de 1972/73. Passou a ser titular na temporada 1974/75, disputando todos os 34 jogos da Bundesliga, marcando 18 gols e conquistando o título. Fez também 10 gols em 12 jogos na Copa da UEFA do mesmo ano, incluindo dois na final em que o Gladbach goleou o holandês FC Twente por 5 x 1. Já em 1975/76, seu time conquistou o bicampeonato nacional e ele marcou 16 gols. Na Copa da Europa, fez quatro gols em seis partidas e foi eliminado nas quartas de final pelo Real Madrid, apenas no critério do gol marcado fora de casa.
Mas seu auge foi mesmo a temporada 1976/77. Além do tricampeonato nacional, na Copa dos Campeões, Simonsen foi fundamental para que o Borussia Mönchengladbach chegasse na final contra o Liverpool. Na decisão, fez o gol de empate em 1 a 1, mas seu time acabou derrotado por 3 a 1. Mas no fim do ano, o craque acabou sendo condecorado com a Bola de Ouro da revista France Football, como o melhor jogador da Europa no ano de 1977. Foi o primeiro (e até hoje o único) atleta dinamarquês a conseguir o feito. A votação foi apertada e ele venceu o inglês Kevin Keegan por três pontos e o francês Michel Platini por quatro pontos.
Nas duas temporadas seguintes, Simonsen continuou brilhando, mas o Gladbach terminou em segundo e oitavo, respectivamente. Em sua última temporada no clube alemão, 1978/79, conquistou novamente a Copa da UEFA, anotando nove gols em nove jogos. Na final, fez o gol do título, em vitória por 2 a 1 contra o Estrela Vermelha, da Iugoslávia. No início da temporada, o Barcelona já queria Allan Simonsen, mas o Gladbach não o deixou ir. Assim, o pequeno craque deixou seu contrato chegar a fim e foi para os Blaugranas, rejeitando ofertas do Hamburgo, da Juventus e de vários times do mundo árabe.
No clube catalão, recebeu o apelido de “El pequeño gran danés” (o pequeno gigante dinamarquês). Foram três anos bem sucedidos. Na primeira temporada, foi o artilheiro de sua equipe com 10 gols em 32 jogos, mas o Barça terminou em 4º lugar na liga de 1979/80. No ano seguinte, com uma reestruturação na base, o clube conquistou a Copa do Rei e Simonsen foi o terceiro maior goleador de seu time, com 10 gols (atrás dos novatos Quini, com 20 e Bernd Schuster, com 11) e o Barça termina novamente no decepcionante 5º lugar em 1980/81. Já em 1981/82, foi o segundo artilheiro blaugrana, atrás de Quini, com 11 gols, e seu time foi vice-campeão nacional. Foi importante para seu time chegar à final da Recopa Europeia e marcou de cabeça o gol do título na vitória por 2 a 1 sobre o Standard Liège.
(Imagem: Cais da Memória)
Mas quando o Barcelona contratou Diego Armando Maradona, em 1982, a situação de Simonsen ficou mais difícil. Na época, La Liga restringia o número de jogadores estrangeiros e só dois poderiam ser titulares. Assim, ele deveria disputar essas vagas com Maradona e Bernd Schuster. Simonsen se sentiu humilhado e pediu a rescisão com o time espanhol. Forçou a barra para sair e rejeitou ofertas do Real Madrid e do Tottenham Hotspur, sendo vendido em outubro por 300 mil libras para o Charlton Athletic, que militava na 2ª divisão. O clube inglês teve dificuldade para pagar sua transferência e seu salário e Simonsen deixou o clube apenas três meses depois, com 9 gols em 16 partidas.
Com mais de 30 anos, Simonsen escolheu retornar ao seu clube de formação e de coração em 1983, o Vejle BK. Ele ficou fora de metade da temporada de 1984 devido a uma lesão sofrida na Euro84, mas o Vejle BK conseguiu conquistar o campeonato dinamarquês sem ele. Mesmo voltando ao seu país como uma estrela, infelizmente nunca mais conseguiu recuprar sua melhor forma. Se aposentou dos gramados em 1989, com 37 anos, disputando seu último jogo em novembro. Pelo Vejle BK, disputou 282 partidas, anotando 104 gols (sendo 89 gols em 208 jogos pela liga dinamarquesa).
● Allan Simonsen estreou na seleção da Dinamarca em julho de 1972, sob o comando do técnico Rudi Strittich e marcou logo dois gols, ajudando seu país a vencer a Islândia por 5 a 2. Foi convocado para os Jogos Olímpicos de 1972, marcando três gols nas três primeiras partidas. Depois, ele não manteve o nível e foi substituído no intervalo em dois dos últimos três jogos, e a Dinamarca foi eliminada na segunda fase.
Simonsen foi fundamental para a seleção sob o comando do técnico Sepp Piontek, na campanha nas eliminatórias da Euro84. A Dinamarca liderava seu grupo com um ponto de diferença sobre a Inglaterra, quando se enfrentaram em setembro de 1983, no mítico estádio Wembley. Simonsen marcou o gol mais importante da história de sua nação até então, convertendo um pênalti em cima do goleiro Peter Shilton. A vitória finalmente classificou o país para a primeira Eurocopa desde 1964. Ainda em 1983, ficou em 3º lugar na premiação da Bola de Ouro. Infelizmente Simonsen não guarda boas recordações da Euro84, pois quebrou a perna em uma dividida com o francês Yvon Le Roux logo na estreia. Mesmo sem o craque, a Dinamarca chegou às semifinais, caindo nos pênaltis para a Espanha.
Fez parte do elenco da Dinamáquina que encantou na Copa do Mundo de 1986, mas só jogou uma única partida, entrando no segundo tempo na vitória por 2 a 0 contra a Alemanha Ocidental. Naquele momento, ele percebeu que já tinha dado toda sua contribuição para seu país e estava sendo ultrapassado por outros jogadores, como, por exemplo, Michael Laudrup. Vestiu a camisa vermelha de seu país em 55 jogos, anotando 20 gols.
Após se retirar dos gramados, se tornou técnico do seu querido Vejle BK de 1991 a 1994, sendo rebaixado para a 2ª divisão nacional. Depois treinaria a seleção das Ilhas Faroe de 1994 a 2001 e de Luxemburgo de 2001 a 2004. Em 2011 se tornou diretor do FC Fredericia, de seu país. Em 08/04/2013, quando o técnico Thomas Thomasberg foi demitido, Simonsen e Steen Thychosen assumiram o comando técnico da equipe até o fim da temporada 2012/13.
É o único jogador a ter anotado gols na Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League), na Copa UEFA (atual Liga Europa) e na extinta Recopa Europeia. Desde 2008 faz parte do Hall da Fama do Futebol Dinamarquês.
● Feitos e premiações de Allan Simonsen:
Pelo Vejle Boldklub:
– Campeão do Campeonato Dinamarquês em 1971, 1972 e 1984.
– Campeão da Copa da Dinamarca em 1972.
Pelo Borussia Mönchengladbach:
– Tricampeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1974/75, 1975/76 e 1976/77.
– Campeão da Copa da UEFA em 1974/75 e 1978/79.
– Campeão da Copa da Alemanha em 1972/73.
Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1980/81.
– Campeão da Recopa Europeia em 1981/82.
Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football em 1977.
– Bola de Bronze da revista France Football em 1983 (3º lugar na Bola de Ouro).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1977/78 (5 gols).
– Artilheiro da Copa da UEFA em 1978/79 (9 gols).
– Eleito melhor ponta direita da história da Bundesliga.
– Membro do Hall da Fama do futebol da Dinamarca desde 2008.
Três pontos sobre… … Maradona: lenda na seleção Argentina
(Imagem: Pinterest)
● Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o técnico César Luis Menotti decidiu não convocá-lo para a Copa na própria Argentina. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).
“Poderia ter jogado no mundial de 1978. Estava afinado como nunca. Chorei muito, senti como uma injustiça. (…) Quando se deu a notícia [de que seria cortado] vieram alguns a me consolar: Luque, um grande tipo, o Tolo Gallego… e ninguém mais. Nesse momento eram demasiado grandes para gastar uma palavra com um garoto. (…) O pior foi quando voltei a minha casa. Parecia um velório. Chorava minha velha, meu velho, meus irmãos… esse dia, o mais triste da minha carreira, jurei que iria ter revanche. Foi a maior desilusão da minha vida, me marcou para sempre.”
No ano seguinte, foi o protagonista de sua seleção no título Mundial Sub-20 de 1979, marcando 6 gols e sento escolhido o melhor jogador do torneio. Disputou sua primeira Copa em 1982, mas a então campeã Argentina caiu na segunda fase, com derrotas para Itália (1 x 2, caçado impiedosamente por Claudio Gentile – que de gentil só tinha o nome) e Brasil (1 x 3, onde foi expulso por dar uma solada nos testículos do volante Batista, pensando ser em Falcão).
● Na Copa de 1986, o técnico Bilardo era questionado por dar a faixa de capitão a Diego, já que ele ainda não tinha provado seu valor no futebol nem em clubes e nem na seleção. Maradona “mandava” tanto na seleção, que o ídolo argentino Daniel Passarella não jogou um segundo sequer nessa Copa (era desafeto de Diego). Nas quartas de final, mostrou a todos a sua verdadeira grandeza. Argentina e Inglaterra tinham se enfrentado recentemente na Guerra das Malvinas, com derrota platina. No sexto minuto do segundo tempo, “El Diez” tocou para um companheiro, que perdeu a bola, mas o zagueiro inglês Steve Hodge chutou a bola para cima e ela foi em direção ao goleiro Peter Shilton. Maradona foi correndo de encontro ao goleiro (20 cm mais alto), cerrou o punho e socou a bola, encobrindo Shilton. Mesmo com protestos ingleses, o gol foi validado. Maradona mais tarde diria que “se houve mão na bola, foi a mão de Deus”. Com os adversários ainda revoltados com esse gol, a Argentina trocava passes no campo defensivo quando “El Pibe” pegou a bola. Ele estava de costas para o gol inglês e era marcado por três adversários (Steve Hodge, Peter Reid e Peter Beardsley). Assim que Beardsley se aproximou, Diego girou em sentido contrário, saindo de seu campo e avançando na intermediária adversária. Reid o perseguiu sem sucesso, enquanto Terry Butcher e Terry Fenwick foram facilmente deixados para trás. Diego seguiu (com a impressão que driblava todos os milhões de britânicos e vencia a Guerra das Malvinas), entrou na área, driblou o goleiro Shilton e mandou para as redes, sem chances para o carrinho desesperado de Butcher. Esse é chamado de “gol do século” e possivelmente é o gol mais lindo da história das Copas. Gary Lineker descontou, mas a Argentina venceu por 2 x 1. Na final contra a Alemanha Ocidental, liderou seu país ao segundo título mundial. Logicamente, foi escolhido como Bola de Ouro da Copa.
Na Copa de 1990, Diego já tinha seu talento mundialmente reconhecido, pois já tinha dado títulos inéditos para o Napoli e tinha carregado sua seleção na Copa anterior. Após uma primeira fase desastrosa, a Argentina enfrentou o rival Brasil nas oitavas de final. A equipe brasileira fez seu melhor jogo, mas desperdiçou inúmeras oportunidades. Maradona apenas caminhava na partida, devido às inúmeras pancadas recebidas em jogos anteriores. Mas nunca pode se descuidar com um gênio. Aos 35 minutos do segundo tempo, ele acelerou uma jogada, driblou quatro brasileiros e deixou Caniggia livre, para passar por Taffarel e fazer o gol. Venceria a Iugoslávia nos pênaltis. Na semifinal, enfrentaria os anfitriões italianos, mas jogaria em sua casa, Nápoles. Diego convocou os napolitanos a torcer por ele e não por seu país e a torcida ficou dividida. A Argentina venceu a Itália nos pênaltis, novamente com um show de defesas do goleiro Sergio Goycoechea. Na final, novamente contra a Alemanha Ocidental, em Roma, Diego foi vaiado do início ao fim do jogo. A Argentina já era mais fraca que a Copa anterior e esteve desfalcada de quatro titulares nessa final. Ainda perderia um jogador expulso no início do segundo tempo. A cinco minutos do fim, a Alemanha marca em um pênalti duvidoso e é campeã. Diego se recusa a apertar a mão do presidente da FIFA, João Havelange, e a torcida romana faz festa ao ver Maradona chorando.
Em 1994, surpreendeu ao mundo com a rápida recuperação de sua forma física. Fez um golaço na estreia contra a Grécia e demonstrou um fôlego incansável na segunda partida, contra a Nigéria, mas depois foi pego no exame antidoping e provado que utilizou efedrina para emagrecer. Mesmo aposentado, houve certa pressão para que o agora técnico Daniel Passarella o convocasse para a Copa do Mundo de 1998.
● Em outubro de 2008, após a demissão de Alfio Basile, Diego Armando Maradona foi nomeado técnico da seleção argentina. No período, teve desentendimentos com vários atletas, mas em especial com Juan Román Riquelme. Em 2009 sofreu uma acachapante e histórica derrota para a Bolvívia, na altitude de La Paz, por 6 a 1. Também perdeu para o Brasil em casa, por 3 x 1. Em menos de 20 jogos, ele utilizou 80 jogadores diferentes. Em 14/10/2009, se classificou para a Copa do Mundo de 2010 no sufoco, apenas na última rodada, em uma vitória por 1 a 0 contra o rival Uruguai, em pleno Estádio Centenário. A entrevista após o jogo foi mais uma polêmica para a sua biografia com a declaração: “Com o perdão das damas aqui presentes, que vocês (jornalistas) ’chupem’, continuem ’chupando’”. Pela atitude, foi punido pela FIFA com dois meses de suspensão e uma multa de 25 mil francos suíços. Não convocou para a Copa, dentre outros craques, Javier Zanetti e Esteban Cambiasso, que tinham acabado de conquistar a tríplice coroa na Itália. Na Copa, após uma primeira fase tranquila, venceu bem o México e foi eliminado nas quartas de final para a Alemanha, em uma goleada acachapante por 0 x 4. Felizmente, o resultado poupou a todos de ver o ex-jogador cumprir a promessa de correr pelado caso seu time vencesse a Copa. Foi demitido do cargo depois de 24 partidas, com 18 vitórias e 6 derrotas.