… 11/05/1988 – KV Mechelen 1 x 0 AFC Ajax

Três pontos sobre…
… 11/05/1988 – KV Mechelen 1 x 0 AFC Ajax


(Imagem: Getty Images)

● Em toda a história, apenas duas equipes belgas se sagraram campeãs europeias: o gigante local RSC Anderlecht (com cinco) e o KV Mechelen (com dois títulos). E foi justamente o clube da cidade de Malinas que foi o último clube de seu país a se sagrar vencedor em âmbito continental, em um futebol que já começava a enxergar no horizonte a futura “Lei Bosman”, que tornariam periféricas várias ligas nacionais (como a da Bélgica), ao mesmo tempo em que beneficiaria alguns poucos clubes de países mais midiáticos.

Fundado em 1904, “De Kakkers” (os estudantes, devido ao clube ter sido fundado por universitários) já havia conquistado três títulos nacionais em meio aos bombardeiros da época da Segunda Guerra Mundial. Mas desde então oscilava entre as duas principais divisões. Porém, em 1982, John Cordier, empresário do ramo da tecnologia da informação (proprietário da empresa Telindus) e futuro político, decidiu investir no clube e se tornou presidente.

O futebol belga vivia seu auge, com o vice-campeonato na Eurocopa de 1980 e o 4º lugar na Copa do Mundo de 1986, além dos títulos europeus do Anderlecht na década anterior.

Em 1986/87, os Malinois foram vice-campeões da liga, ficando a apenas dois pontos do Anderlecht. Mas conquistaram a Copa da Bélgica, vencendo o RFC Liège na final. Esse título foi o passaporte para a primeira aventura continental do clube, a disputa da Recopa Europeia.

E na competição continental, o Mechelen foi evoluindo e vencendo: Dinamo Bucaresti (Romênia) na primeira fase (1×0 e 2×0); Saint Mirren (Escócia) nas oitavas de final (0x0 e 2×0); Dinamo Minsk (União Soviética) nas quartas de final (1×0 e 1×1); e Atalanta (Itália) na semifinal (2×1 e 2×1).

Muito bem treinado pelo holandês Aad de Mos (ex-Ajax), o Mechelen misturava os talentos dos belgas Michel Preud’homme e Lei Clijsters (o capitão do time e pai da tenista Kim Clijsters, ex-nº 1 da ATP), com os ótimos holandeses Erwin Koeman, Piet den Boer e Graeme Rutjes, além do excelente ponta esquerda israelense Eli Ohana. De Mos era adepto de um futebol ofensivo, na contramão do defensivismo que começava a imperar no mundo todo.


Ambas equipes atuavam no 4-3-3, no estilo ofensivo do futebol holandês.

● A final foi disputada em partida única, no Stade de la Meinau, na cidade de Estrasburgo, na França.

Do outro lado estava o poderoso Ajax, tricampeão da Copa dos Campeões da Europa nos anos 1970, que defenderia seu título, pois era o então campeão da Recopa. O gigante holandês só havia sofrido um gol nos oito jogos anteriores pela competição e era amplamente favorito, enquanto o Mechelen já podia se dar por satisfeito por ter chegado tão longe.

Foi a primeira decisão europeia na história entre um clube holandês e um clube belga, países vizinhos de grande rivalidade no futebol.

E a partida já começou em alta velocidade. Marc Emmers começou um ótimo contra-ataque em seu campo de defesa, tabelou com Den Boer, que o deixou cara a cara com o gol. Só havia o goleiro Stanley Menzo na frente. Mas o zagueiro Danny Blind deu um carrinho criminoso, por trás, e acertou o tornozelo de Emmers, matando o contragolpe que poderia ser fatal. O árbitro alemão Dieter Pauly não teve outra escolha a não ser apresentar o cartão vermelho direto ao holandês. Blind estava expulso e o Ajax jogaria mais 74 minutos com um homem a menos.

Apesar disso, os “Godenzonen” se defenderam bem, mas não tiveram forças para atacar. Mas até demorou um pouco para que a superioridade dos belgas fosse demonstrada no placar.

Depois de muita pressão dos Malinois, o único gol da partida saiu aos oito minutos do segundo tempo, quando Eli Ohana passou como quis por Frank Verlaat na esquerda e cruzou à meia altura na primeira trave para o centroavante Piet den Boer desviar de cabeça.

Apesar de ter tido mais quarenta minutos para buscar o ataque, o Ajax não teve forças. Nem com o talento do jovem Dennis Bergkamp, que entrou pouco depois do gol sofrido. Pelo contrário, foi o goleiro Menzo que se destacou, evitando uma derrota mais elástica.

Enquanto isso, o ótimo Preud’homme nem precisava mostrar seus predicados, com uma rara e perigosa exceção: desviou um chute violento de Bosman, nos minutos finais.

Foi a coroação de uma temporada dos sonhos para o (até então) desconhecido clube belga e festa para os dez mil torcedores que viajaram até a França.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Lei Clijsters e John van’t Schip (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

KV MECHELEN 1 x 0 AFC AJAX

 

Data: 11/05/1988

Horário: 20h15 locais

Estádio: Stade de la Meinau

Público: 39.446

Cidade: Estrasburgo (França)

Árbitro: Dieter Pauly (Alemanha Ocidental)

 

KV MECHELEN (4-3-3):

AFC AJAX (4-3-3):

1  Michel Preud’homme (G)

1  Stanley Menzo (G)

6  Koen Sanders

2  Danny Blind

3  Lei Clijsters (C)

3  Frank Verlaat

4  Graeme Rutjes

6  Jan Wouters

9  Geert Deferm

4  Peter Larsson

5  Wim Hofkens

8  Arnold Scholten

2  Marc Emmers

5  Aron Winter

8  Erwin Koeman

10 Arnold Mühren

7  Pascal De Wilde

7  John van’t Schip (C)

11 Piet den Boer

9  John Bosman

10 Eli Ohana

11 Rob Witschge

 

Técnico: Aad de Mos

Técnico: Barry Hulshoff

 

SUPLENTES:

 

 

16 Pierre Drouguet (G)

12 Lloyd Doesburg (G)

12 Paul De Mesmaeker

13 Ally Dick

13 Paul Theunis

14 Richard Witschge

14 Joachim Benfeld

15 Dennis Bergkamp

15 Raymond Jaspers

16 Henny Meijer

 

GOL: 53′ Piet den Boer (MECH)

 

CARTÕES AMARELOS:

61′ Koen Sanders (MECH)

81′ Piet den Boer (MECH)

90′ Jan Wouters (AJAX)

 

CARTÃO VERMELHO: 16′ Danny Blind (AJAX)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ John van ‘t Schip (AJAX) ↓

Dennis Bergkamp (AJAX) ↑

 

60′ Pascal De Wilde (MECH) ↓

Paul De Mesmaeker (MECH) ↑

 

73′ Wim Hofkens (MECH) ↓

Paul Theunis (MECH) ↑

 

73′ Frank Verlaat (AJAX) ↓

Henny Meijer (AJAX) ↑

Gol e melhores momentos da partida:

Alguns lances do jogo:

● Meses depois, no inicío da temporada seguinte, “De Kakkers” voltariam a vencer uma equipe da vizinha Holanda em uma decisão continental. Reforçados por John Bosman (ex-Ajax) e pelo jovem Marc Wilmots, dessa vez a vítima seria o PSV Eindhoven, que havia vencido a Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League). Com um placar agregado de 3 a 1, o Mechelen se tornou também campeão da Supercopa Europeia.

E na mesma temporada venceria o Campeonato Belga depois de 41 anos de jejum, além do Troféu Joan Gamper (batendo o Sochaux por 2 x 1 na final). Chegaria novamente às semifinais da Recopa, mas não passaria pela Sampdoria de Toninho Cerezo.

Os astros de vermelho e amarelo estavam “na crista da onda”. Mas assim como o sucesso veio, ele se foi de forma efêmera.

Após o time não conquistar títulos em 1990, Cordier começou a retirar seus investimentos gradualmente, também em virtude de uma crise financeira em sua empresa. Mesmo assim os Malinois chegaram às quartas de final da Copa dos Campeões de 1989/90 e só perderam na prorrogação para o futuro campeão, o Milan.

As fortes crises financeiras e os consequentes rebaixamentos abalaram o Mechelen. Após a falência no início do século XXI, o clube se reestruturou e está há onze anos na primeira divisão, onde é o verdadeiro lugar de um baluarte histórico como os Malinois.


(Imagem: Getty Images)

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