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… 19/07/1930 – Chile 1 x 0 França

Três pontos sobre…
… 19/07/1930 – Chile 1 x 0 França


(Imagem: commons.wikimedia.org)

● A primeira Copa do Mundo foi realizada no Uruguai. Eram dois os principais motivos das ausências das principais seleções da Europa. Um deles foi a distância e as dificuldades para atravessar o Atlântico. O outro era a grave crise econômica que ainda afetava toda a Europa. Por isso, apenas dois dos sete países fundadores da FIFA participaram do Mundial: França e Bélgica.

O Chile tinha certa experiência internacional por ter participado das primeiras edições da Copa América. As maiores esperanças eram os meias-atacantes Guillermo Subiabre e Carlos Vidal.

O forte da França era a defesa, com destaque para o goleiro Alexis Thépot e o zagueiro Étienne Mattler. O desfalque era o atacante Manuel Anatol – um basco/espanhol naturalizado francês, que jogou por Athletic Bilbao, Atlético de Madrid, Real Madrid e, na época, atuava no Racing Paris.

Ambos estavam no Grupo A da Copa. No jogo inaugural, a França venceu o México por 4 a 1. Depois, perdeu para a Argentina por 1 a 0, em um jogo duríssimo, que só foi resolvido a nove minutos do fim.

Na primeira rodada, o Chile havia vencido o México por 3 x 0. Em seu segundo jogo, precisava vencer a França para ter esperanças de passar para a fase seguinte.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Oficialmente o público foi de 2.000 pessoas, mas a quantidade real de expectadores foi muito maior. Não foi pelo prestígio de Chile ou França, mas porque eles fizeram a preliminar da partida entre Argentina x México. Os portenhos atravessaram em massa o Rio da Prata e invadiram Montevidéu para prestigiar sua seleção.

A França era favorita, mas não conseguiu provar isso em campo.

O primeiro pênalti da história das Copas foi anotado pelo árbitro uruguaio Anibal Tejada, aos 35 minutos do primeiro tempo. E esse também foi o primeiro pênalti perdido. O chileno Carlos “Zorro” Vidal bateu para fora.

Aos 19′ da segunda etapa, o capitão Carlos Schneeberger tocou para Vidal, que chutou de esquerda, de fora da área. O goleiro Thépot espalmou e Subiabre marcou de cabeça o gol que eliminou a França e colocou o Chile de vez na briga pela vaga nas semifinais.


(Imagem: Moviolagol / deviantart.com)

● Na sequência, o Chile perdeu para a Argentina por 3 x 1 e também estava eliminado. Terminou em um honroso 5º lugar.

O capitão francês no Mundial foi Alexandre Villaplane. O talentoso centromédio disputou as três partidas de sua seleção. Mas ele teria um fim trágico. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele cooperou com o nazismo, sendo um dos líderes da Brigada do Norte Africano – uma organização criminosa composta por imigrantes do norte da África (Villaplane era nascido em Argel), que colaborou com os nazistas através de atividades de anti-resistência. Ele foi condenado a morte em 01/12/1944 por participação direta em pelo menos dez assassinatos. Foi fuzilado 26 dias depois.


(Imagem: historiasdelfutbol.com)

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 1 x 0 FRANÇA

 

Data: 19/07/1930

Horário: 12h50 locais

Estádio: Centenário

Público: 2.000

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Anibal Tejada (Uruguai)

 

CHILE (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Roberto Cortés (G)

Alexis Thépot (G)

Ernesto Chaparro

Étienne Mattler

Guillermo Riveros

Marcel Capelle

Arturo Torres

Alexandre Villaplane (C)

Guillermo Saavedra

Marcel Pinel

Casimiro Torres

Augustin Chantrel

Tomás Ojeda

Ernest Libérati

Guillermo Subiabre

Edmond Delfour

Eberardo Villalobos

Célestin Delmer

Carlos Vidal

Émile Veinante

Carlos Schneeberger (C)

Marcel Langiller

 

Técnico: György Orth

Técnicos: Raoul Caudron / Gaston Barreau

 

SUPLENTES:

 

 

César Espinoza (G)

André Tassin (G)

Ulises Poirier

Numa Andoire

Víctor Morales

Jean Laurent

Arturo Coddou

André Maschinot

Humberto Elgueta

Lucien Laurent

Horacio Muñoz

 

Guillermo Arellano

 

Juan Aguilera

 

 

GOL: 64′ Guillermo Subiabre (CHI)

Imagens da partida:

… Fernando Giudicelli: primeiro brasileiro a jogar pelo Real Madrid

Três pontos sobre…
… Fernando Giudicelli: primeiro brasileiro a jogar pelo Real Madrid


Seleção Brasileira que entrou em campo para sua primeira partida em Copas do Mundo, na derrota para a Iugoslávia por 2 x 1. Em pé: Píndaro de Carvalho (técnico), Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando (em destaque). Agachados: Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo. (Imagem: Terceiro Tempo)

● Filho de pais italianos, Fernando Rubens Pasi Giudicelli nasceu no Rio de Janeiro em 01/03/1906 e faleceu na mesma cidade em 28/12/1968. Assim como várias personalidades do início do século XX, há controvérsias sobre sua data de nascimento. Luis Miguel González (jornalista especializado na história do Real Madrid) afirma que Giudicelli nasceu em 01/01/1906.

Mais conhecido simplesmente como Fernando, o talentoso meio-campista de origem italiana começou sua carreira no tradicional América Futebol Clube, do Rio de Janeiro, onde jogou de 1924 a 1926. Era conhecido por jogar usando um boné de marinheiro.

Segundo nosso leitor Fabiano Gouvêa, em 1927 Fernando defendeu o Jequiá, da Ilha do Governador, na Liga Graphica.

Em 1927, Fernando se transferiu para o Fluminense, ficando até junho de 1931. Pelo Tricolor Carioca, ele jogou 94 vezes, vencendo 51, empatando 16 e perdendo 27, com 5 gols marcados.

Estreou pela Seleção Brasileira em plena Copa do Mundo de 1930, sendo um dos poucos atletas a participarem dos dois jogos do Brasil no Mundial: derrota para a Iugoslávia por 2 x 1 e vitória sobre a Bolívia por 4 x 0.

Ainda em agosto de 1930, jogou um amistoso pela Seleção contra a Iugoslávia, vencido por 4 x 1 no Estádio São Januário (então melhor estádio da América do Sul, até a construção do Estádio Centenário), no Rio de Janeiro (essa partida não foi considerada oficial pela Federação Iugoslava de Futebol). Foram essas três as suas únicas partidas com a então camisa branca da Seleção Brasileira.

Entre junho e agosto de 1931, Fernando e vários jogadores do Botafogo, como Nilo e Carvalho Leite, reforçaram o Vasco da Gama em uma excursão para a Europa (apenas a segunda viagem feita por um clube brasileiro para a Europa desde o Clube Atlético Paulistano, em 1925). Em amistosos disputados em Portugal e na Espanha (contra fortes adversários, como Barcelona, Benfica, Sporting e Porto), o combinado que representava o Vasco venceu oito dos doze jogos.

Por ter se destacado, Fernando Giudicelli permaneceu na Europa para se tornar profissional (o esporte no Brasil ainda era amador na época) e atuar no Torino. Ele poderia fazer isso, pois era considerado “oriundo”, ou seja, um emigrante italiano que estava retornando para casa, aproveitando a abertura dada pelo “Duce” Benito Mussolini.

Fernando foi um dos primeiros a se transferir para o futebol europeu em busca de enriquecimento. Já sabendo que não voltaria ao Brasil, em sua última partida pelo Fluminense ele surpreendeu a todos e espancou dentro de campo o juiz, chamado Leandro Carnaval, se vingando da arbitragem carioca.


                                                  (Imagem: pesmitidelcalcio.com)

● Seu início no Torino foi bom, a ponto de ser elogiado pelo técnico da Azzurra, Vittorio Pozzo, que o queria como substituto de Luisito Monti na seleção italiana.

Mas ao mesmo tempo em que sua qualidade técnica era reconhecida, sua falta de espírito competitivo era extremamente criticada e ele não conseguiu ter vida longa no Calcio italiano da época, que tinha um estilo muito mais aguerrido (como quase sempre).

Mesmo assim, ficou em Turim de setembro de 1931 a abril de 1933. Na primeira temporada, o Toro terminou em 8º na Série A e Fernando disputou 28 partidas, anotando um gol. Já em 1932/33, o Torino ficou em 7º e Fernando jogou apenas 12 vezes. Sem o desempenho esperado, Fernando foi dispensado pelo clube italiano.

Entre as temporadas de 1931/32 e 1932/33, passou um tempo no Rio e acabou por se tornar um dos primeiros agentes de jogadores. Convenceu Demósthenes Magalhães (seu sucessor no meio campo do Fluminense) a se juntar a ele no Torino. Demósthenes mudou seu nome para Demostene Bertini e, assim, obteve a cidadania italiana, mesmo de forma muito controversa.

Também no intervalo entre as temporadas seguintes, Fernando recrutava jogadores sul-americanos para clubes europeus. O centroavante Attilio Bernasconi, do time argentino All Boys, se transferiu também para o Torino em 1933 por iniciativa de Giudicelli.

Fontes afirmam que, após ser dispensado do Torino, em 1933, Fernando recebeu proposta do River Plate. Mas, querendo ficar na Europa, ele assinou com o Young Fellows Zürich (clube onde também jogava Fausto dos Santos, seu parceiro de Seleção na Copa de 1930).

No inverno, Fernando retornou ao Rio tentando recrutar jogadores para o futebol suíço. Mas o próprio Fernando não voltou para Zurique e voltou a jogar rapidamente no América-RJ, ao lado de Heitor Canalli (que começou a temporada 1933/34 no Torino, mas ficou apenas nove jogos e voltou ao Rio, reclamando que o clima do norte italiano era uma “tortura”).

Passou a temporada 1934/35 no Bordeaux, da França. Ao fim da temporada, voltou novamente ao Brasil e convenceu o goleiro Jaguaré (então no Corinthians) e o zagueiro Vianinha (do Paulista) a irem jogar na Itália. Mas ao fazer escala em Lisboa, os jogadores brasileiros ficaram sabendo do início da Segunda Guerra Ítalo-Abissínia. Assim, preferiram ficar em Portugal e jogar no Sporting, onde foram os primeiros brasileiros na história do clube.

Mas Fernando jogou apenas duas partidas pelo clube sportinguista: uma amistosa e uma pelo Campeonato de Lisboa, onde foi expulso após discussão com o árbitro. Posteriormente ele afirmou que não ficou no Sporting porque o futebol português ainda era amador.


                                                                        (Imagem: As)

● Então Fernando se transferiu para o Real Madrid, se tornando o primeiro brasileiro da história do clube. A bem da verdade, na época o time era “apenas” Madrid C.F., pois havia perdido o título de Real na época da Segunda República Espanhola (1931-1939).

Ainda que fosse um jogador muito bom tecnicamente e com um ótimo passe, Fernando era considerado frio e lento, que não combinava bem com o estilo de velocidade que se jogava no futebol espanhol.

As dúvidas sobre o futebol do craque, juntamente com sua vontade de assinar por apenas uma temporada, fizeram com que os merengues desistissem dele.

Sabendo que o Madrid não aceitaria suas condições contratuais, Giudicelli pediu à diretoria do clube para atuar em, pelo menos, uma partida, para provar suas qualidades e mostrar que suas exigências valiam a pena.

Assim, aceitaram lhe dar uma chance de jogar. E então Fernando vestiu o manto branco naquela mesma noite. Ficou combinado que se a diretoria o considerasse útil para o time, deveriam aceitar suas condições. Caso contrário, ele sairia da Espanha no mesmo dia.

E então, no dia 15/12/1935, Fernando vestiu pela única vez a camisa do Real Madrid em confronto com o Racing Santander, em partida válida pela Liga Espanhola, no Estádio Chamartín.

Teve a sua chance. Mesmo sem condições físicas, discutivelmente substituiu Antonio Bonet na escalação.

O técnico Francisco “Paco” Bru escalou a equipe com: Gyula Alberty; Ciriaco e Jacinto Quincoces; Pedro Regueiro, Fernando Giudicelli e Leoncito; Fernando Sañudo, Méndez Vigo, Simón Lecue, Luis Regueiro e Emilín.

Pelo Racing, jogaram: Pedrosa; Ceballos e Illardía; Rioja, Farcía e Germán; Chas, Cuca, Larrinaga, Milucho e Pombo. O árbitro foi Armengol.

A equipe do Racing venceu por 4 a 2. O Real sempre esteve atrás no placar, chegando a empatar a partida por duas vezes. Milucho abriu o placar aos 12′ e Emilín empatou aos 35′. Pombo fez o segundo do Santander aos 43′, mas Luis Regueiro empatou para o Madrid aos 70′. Chas fez o terceiro e Milucho, de novo, fez o quarto gol do Racing, fechando o placar.

A partida foi vibrante, rápida, “lá e cá”. Um jornal local escreveu que foi um jogo próprio de uma “final de campeonato”. Fernando deu mostras de sua qualidade técnica, mas não demonstrou ter “sangue” quente o suficiente para um confronto com as características dessa partida e foi criticado pelo técnico Paco Bru. O Madrid não perdia em Chamartín havia um ano, quando tinha perdido para o Sevilla por 1 x 0. E essa invencibilidade perdida caiu em cima de Fernando, que não conseguiu dar o ritmo necessário em um duelo tão intenso. Para piorar, a derrota fez o time madridista perder a liderança da liga para o Athletic.

Depois da partida, o meio-campista carioca se declarou “incapaz” de jogar no Madrid, já que todas as partidas eram jogadas como se fossem uma final de Copa. Em janeiro de 1936, Giudicelli viajou para França e muito se especulou sobre reuniões com o time do Lille, mas acabou acertando com o FC Antibes, onde jogou até o fim da temporada 1936/37, quando encerrou a carreira.

Mas não saiu do meio do futebol. Continuou trabalhando como agente de jogadores e instigou uma série de transferências desses atletas da América do Sul para a Europa.

Fernando, que tinha talento para se tornar uma lenda do futebol, acabou não conseguindo desfilar todo seu talento nos gramados mundo afora. De qualquer forma, entrou para a história por ser o primeiro brasileiro a vestir a gloriosa camisa do Real Madrid.


Parte do elenco da Seleção Brasileira em 1930. Em pé: Brilhante, Fernando, Hermógenes, Nilo, Carvalho Leite, Itália, Fausto dos Santos e Santana. Agachados: Teóphilo, Benevenuto, Benedito, Velloso, Doca, Russinho e Preguinho. (Imagem: Terceiro Tempo)

● Clubes que Fernando defendeu durante sua carreira:

– 1924-1927 América Football Club (RJ)
– 1927-1931 Fluminense Football Club (RJ)
– 1931-1933 Torino Football Club (Itália)
– 1933 FC Young Fellows Zürich (Suíça)
– 1934 América Football Club (RJ)
– 1934-1935 FC Girondins de Bordeaux (França)
– 1935 Sporting Clube de Portugal (Portugal)
– 1935 Real Madrid Club de Fútbol (Espanha)
– 1936-1937 Football Club Antibes (França)

… 19/07/1930 – Argentina 6 x 3 México

Três pontos sobre…
… 19/07/1930 – Argentina 6 x 3 México


(Imagem: El Sol del México)

● Juntamente com o anfitrião Uruguai, a Argentina era uma das principais favoritas ao título da primeira Copa do Mundo de futebol. Àquela altura, já tinha uma camisa pesada, tendo conquistado quatro edições do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América). Além disso, havia conquistado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Amsterdã, em 1928, perdendo a decisão apenas no jogo desempate para o rival Uruguai.

A convocação do elenco argentino para a primeira edição do Mundial foi realizada através de uma votação popular. E, como diz o ditado, “a voz do povo é a voz de Deus”, uma equipe experiente foi montada, com nove vice-campeões olímpicos e outros atletas de renome no país. Era um time muito forte, em condições de realmente disputar o título.

Por outro lado, a falta de confiança dos mexicanos em sua seleção era tamanha que parte da imprensa do país começou uma campanha leve para que o México desistisse de disputar a Copa, para evitar um vexame.

E realmente os resultados em território uruguaio não foram muito bons. O duelo diante dos argentinos era o último jogo do México no Mundial de 1930. Sofreu o primeiro gol da história das Copas e perdeu para a França por 4 x 1. Depois, perdeu para o Chile por 3 x 0. Já chegava eliminado na terceira rodada e jogava apenas pela honra.

A Argentina ainda jogava pela classificação. Na estreia, venceu a França por 1 x 0. E a partida contra os mexicanos era a segunda na competição. A terceira rodada ainda seria disputada contra o Chile três dias depois.


(Imagem: Pinterest)

● Várias fontes indicam que o árbitro boliviano Ulises Saucedo marcou cinco pênaltis nessa partida. Então, esse seria o jogo com o maior número de penalidades máximas na história das Copas. Porém, segundo outras fontes, quatro dessas cobranças foram executadas de uma distância superior a 11 metros, pois não havia a marca do pênalti no gramado e o juiz teria errado na contagem da distância. Há também quem considere as batidas apenas faltas simples sem barreira, de dentro da área. E segundo os mexicanos, a única cobrança executada da distância correta foi a única que entrou, no gol de Manuel Rosas.

E, de acordo com relatos, o goleiro mexicano Óscar Bonfiglio defendeu dois desses tiros: o de Fernando Paternoster aos 23′ e o de Adolfo Zumelzú aos 30′. Por sua vez, o arqueiro portenho Ángel Bossio pegou dois chutes de Manuel Rosas.

Por outro lado, de acordo com a publicação oficial “Álbum Primer Campeonato Mundial de Football”, lançado no Uruguai em 1930, apenas uma penalidade foi marcada: a que resultou no primeiro gol mexicano. Todos os outros gols saíram de jogadas normais.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Independentemente desse festival de pênaltis ter acontecido ou não, a Argentina anotou seis gols e conquistou a vitória.

Guillermo Stábile abriu o placar aos oito minutos do primeiro tempo.

Quatro minutos depois, Zumelzú fez o segundo gol da Argentina.

Aos 17′, Stábile marcou de novo.

Aos 38 min, Manuel Rosas diminuiu para o México em uma cobrança de pênalti.

No oitavo minuto do segundo tempo, Francisco Varallo fez 4 x 1 para os albicelestes.

Logo na sequência, Zumelzú marcou de novo.

Aos 20′, Manuel Rosas bateu pênalti, o goleiro Bossio defendeu e Felipe Rosas pegou o rebote para diminuir para os mexicanos. Curiosamente, Manuel Rosas e Felipe Rosas não tinham nenhum grau de parentesco, embora tivessem o mesmo sobrenome e jogassem juntos no mesmo time, o Atlante.

Dez minutos depois, o México se aproximou ainda mais no marcador com um gol de Roberto Gayón. 5 a 3.

Mas logo a Argentina tratou de fechar o placar com Stábile, que chegou ao “há trick”. Final: Argentina 6, México 3.


(Imagem: Goal / Youtube)

● Na última rodada, a Argentina venceu o Chile por 3 x 1 e se classificou para as semifinais, onde goleou os Estados Unidos por 6 x 1. Na decisão, até jogou bem, mas não foi páreo para os donos da casa e perdeu de virada para o Uruguai por 4 x 2.

Curiosamente, o árbitro dessa partida, Ulises Saucedo, era também também o técnico da seleção da Bolívia durante o Mundial.

O atacante Manuel Ferreira era titular absoluto e capitão de sua seleção. E ele precisou desfrutar de um privilégio durante o torneio. Ele estava fazendo um curso de escrivão público e chegou a Montevidéu dias depois da delegação de seu país. Ele também precisou faltar à partida diante do México para voltar à Buenos Aires para fazer uma prova. Mas logo depois, retornou normalmente aos albicelestes e foi um dos destaques de sua seleção rumo à final.

Guillermo Stábile não havia jogado diante da França e estreou contra o México. Acabou conquistando definitivamente a vaga de titular para o restante da competição ao marcar três gols. Ele era conhecido como “El Infiltrador” pela facilidade que se infiltrava nas defesas adversárias. Sua velocidade vinha de sua experiência anterior no atletismo: fazia os cem metros rasos em cerca de 11 segundos.

Stábile foi o artilheiro da primeira Copa do Mundo, com oito gols em quatro jogos e também foi o primeiro jogador a marcar gols em todas as partidas que disputou. Foi o segundo a anotar um “hat trick” em Copas, apenas dois dias após o americano Bert Patenaude ter conseguido essa proeza diante do Paraguai. Ao encerrar a carreira, Stábile se tornou um técnico de sucesso, treinando a seleção Argentina por 21 anos (de 1939 a 1960) e conquistou seis edições da Copa América: 1941, 1945, 1946, 1947, 1955 e 1957.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 3 MÉXICO

 

Data: 19/07/1930

Horário: 15h00 locais

Estádio: Centenário

Público: 42.100

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Ulises Saucedo (Bolívia)

 

ARGENTINA (2-3-5):

MÉXICO (2-3-5):

Ángel Bossio (G)(C)

Óscar Bonfiglio (G)

José Della Torre

Rafael Garza Gutiérrez (C)

Fernando Paternoster

Manuel Rosas

Alberto Chividini

Felipe Rosas

Adolfo Zumelzú

Alfredo Sánchez

Rodolfo Orlandini

Raymundo Rodríguez

Carlos Peucelle

Francisco Garza Gutiérrez

Francisco Varallo

Juan Carreño

Guillermo Stábile

Felipe Olivares

Attilio Demaría

Roberto Gayón

Carlos Spadaro

Hilario López

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: Juan Luque de Serrallonga

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Botasso (G)

Isidoro Sota (G)

Ramón Muttis

Efraín Amézcua

Pedro Suárez

Jesús Castro

Juan Evaristo

José Ruiz

Edmundo Piaggio

Dionisio Mejía

Luis Monti

Luis Pérez

Natalio Perinetti

 

Roberto Cherro

 

Alejandro Scopelli

 

Manuel Ferreira

 

Mario Evaristo

 

 

GOLS:

8′ Guillermo Stábile (ARG)

12′ Adolfo Zumelzú (ARG)

17′ Guillermo Stábile (ARG)

42′ Manuel Rosas (MEX)

53′ Francisco Varallo (ARG)

55′ Adolfo Zumelzú (ARG)

65′ Manuel Rosas (MEX) (pen)

75′ Roberto Gayón (MEX)

80′ Guillermo Stábile (ARG)

Algumas imagens da partida:

Outras imagens desse jogo:

… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai

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… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● Dos treze participantes da primeira Copa do Mundo, sete eram da América do Sul. Um deles era o Paraguai, que se destacou pela sua ousada camisa listrada em vermelho e branco, em uma época que que, pela dificuldade da fabricação dos tecidos, quase todas as seleções usavam uniformes básicos, com apenas uma cor. Além dos guaranis, apenas a Argentina utilizava camiseta listrada – no caso, azul e branco. Até hoje o Paraguai faz parte de um seleto grupo de seleções que manteve o mesmo padrão da sua camisa principal com o passar dos anos, tornando seu uniforme um dos mais tradicionais e reconhecidos do futebol sul-americano e mundial.

Mas a situação financeira da federação era ruim. A seleção paraguaia ameaçou não ir ao Mundial por causa de dinheiro, mas o congresso do país resolveu esse problema. O craque do time era o capitão Luis Vargas Peña.

Ao chegar no Uruguai, a seleção norte-americana era uma verdadeira incógnita. O grupo contava com seis jogadores eram nascidos na Grã-Bretanha (Alexander Wood, George Moorhouse, Jimmy Gallagher, Andy Auld, Jim Brown e Bart McGhee) e cinco haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América. Quase todos estavam estreando na seleção e, por isso, os EUA eram considerados pela imprensa como franco-atiradores. Mas, mesmo com pouco entrosamento, o alto nível desses jogadores acabou por fazer a diferença a favor do time.

Na primeira partida do Grupo 4, os americanos venceram a Bélgica por 3 x 0, com gols de McGhee, Tom Florie e Patenaude.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Ventava muito no estádio Parque Central, durante o segundo confronto da chave, entre EUA e Paraguai. E o time norte-americano não teve nenhuma dificuldade na partida.

O placar foi aberto logo aos dez minutos de partida. Andy Auld se livrou de Lino Nessi na esquerda e tocou para Patenaude. Da marca do pênalti, ele bateu no canto direito do goleiro Modesto Denis.

Cinco minutos depois, Tom Florie dominou a bola pelo lado esquerdo da área e tocou para o meio. Patenaude chutou, a bola desviou em Aurelio González e foi para o fundo das redes. EUA 2 a 0.

Aos 5′ do segundo tempo, Auld avançou pela esquerda e cruzou para o meio. Patenaude fez o terceiro dos Estados Unidos e fechou o placar.


Bert Patenaude sobe para cabecear (Imagem: Pinterest)

● No segundo gol americano, a bola iria para fora, mas tomou o rumo do gol ao desviar no paraguaio. Originalmente o tento foi atribuído a González contra. Porém, em 1994, a US Soccer (federação norte-americana de futebol) solicitou que a autoria do gol fosse revista. A insistência tinha razão de ser. Já com os atuais critérios de gol contra, a FIFA concedeu a autoria aos estadunidenses. Mas a súmula oficial da entidade dava o gol a Tom Florie, embora os historiadores afirmasse que a finalização tenha sido feita por Patenaude. Súmulas e outros documentos foram novamente revisitados e Patenaude teve o gol creditado para si.

E, como ele havia anotado os outros dois tentos do jogo, Bertram “Bert” Albert Patenaude passou a ser considerado o primeiro atleta a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo. Esse é um feito muito valorizado em todo mundo, especialmente em países de língua inglesa. E, como se sabem, os americanos adoram recordes e marcas históricas.

Até 10/11/2006, a FIFA considerava Guillermo Stábile como o primeiro a marcar três gols em Mundiais. Mas o fato é que Stábile marcou sua “tripleta” dois dias depois do “hat trick” de Patenaude.


O goleiro americano Jimmy Douglas sobe para segurar um cruzamento (Imagem: Pinterest)

● A partida final do Grupo foi apenas para cumprir tabela. O Paraguai venceu a Bélgica pelo placar de 1 x 0, com um gol de Vargas Peña aos 40 minutos de partida, resultando no nono lugar na classificação geral do primeiro Mundial.

Com a vitória sobre os paraguaios, os EUA garantiram vaga nas semifinais da primeira Copa do Mundo. O selecionado ianque enfrentou a Argentina e perdeu por 6 x 1.

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 0 PARAGUAI

 

Data: 17/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 18.306

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: José Macías (Argentina)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

PARAGUAI (2-3-5):

Jimmy Douglas (G)

Modesto Denis (G)

Alexander Wood

Quiterio Olmedo

George Moorhouse

José Miracca

Jimmy Gallagher

Eusebio Díaz

Ralph Tracey

Lino Nessi

Andy Auld

Romildo Etcheverry

Billy Gonsalves

Diógenes Domínguez

Tom Florie (C)

Aurelio González

Bert Patenaude

Delfín Benítez Cáceres

Jim Brown

Luis Vargas Peña (C)

Bart McGhee

Francisco Aguirre

 

Técnico: Robert Millar

Técnico: José Durand Laguna

 

SUPLENTES:

 

 

Frank Vaughn

Pedro Benítez (G)

James Gentle

Eustacio Chamorro

Philip Slone

Salvador Flores

Arnie Oliver

Diego Florentín

Mike Bookie

Santiago Benítez

 

Tranquilino Garcete

 

Saguier Carreras

 

Amadeo Ortega

 

Bernabé Rivera

 

Jacinto Villalba

 

Gerardo Romero

 

GOLS:

10′ Bert Patenaude (EUA)

15′ Bert Patenaude (EUA)

50′ Bert Patenaude (EUA)

Imagens da partida:

… 14/07/1930 – Romênia 3 x 1 Peru

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… 14/07/1930 – Romênia 3 x 1 Peru


(Imagem: RomaniaBalls / Whoeateallthepies.tv)

● Após convencer franceses e belgas a viajarem para o Uruguai para a disputa da primeira Copa do Mundo de futebol, Jules Rimet tomou um trem de Paris a Bucareste para tentar convencer os romenos. Aos 36 anos, o rei Carol II havia acabado de assumir o trono do país. A Romênia era uma equipe do segundo escalão no contexto do futebol europeu, mas o rei era um entusiasta do esporte. Em seus tempos de príncipe, ele havia sido secretário-geral da federação. Sua Majestade convocou e escalou pessoalmente os atletas, entregando à comissão técnica do time uma lista com os nomes de todos os jogadores, titulares e reservas. Ele também conseguiu com os patrões dos jogadores uma licença remunerada de dois meses (quase todos eram empregados de empresas britânicas de petróleo).

Como era comum nas primeiras décadas do século XX, o comando técnico da seleção romena era dividido entre Constantin Rădulescu e Octav Luchide (secretário-geral da federação). Curiosamente, Rădulescu também era árbitro e foi bandeirinha nas partidas “Argentina 1 x 0 França” e “Argentina 6 x 3 México”.

Além dos romenos, o Grupo 3 era composto também pelo anfitrião Uruguai e pelo Peru.

Do lado peruano, os dois melhores jogadores disputavam posição e concorriam por apenas uma vaga no time titular: os goleiros Jorge Pardón e Juan “El Mago” Valdivieso.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Romênia e Peru protagonizaram a partida com o menor plateia da história das Copas. Oficialmente, 2.459 expectadores assistiram o jogo, mas o número de pagantes girou em torno de 300.

E esse pequeno público não demoraria a ver um gol. Apenas 50 segundos haviam passado quando os romenos tiraram o zero do placar, no primeiro “gol-relâmpago” da história dos Mundiais. O capitão Emerich Vogl tocou na meia direita para Adalbert Deșu, ele se livrou da marcação de Galindo e chutou alto. Embora a FIFA credite o gol a Deșu, alguns historiadores afirmam que Constantin Stanciu foi o autor.

Depois de sofrer um gol tão precoce, os atletas peruanos perderam a cabeça e começaram a apelar para o jogo violento. Os romenos não ficaram atrás e devolveram na mesma moeda. O jogo ficou feio.

Aos 33′, o zagueiro romeno Adalbert Steiner sofreu a primeira fratura na perna na história das Copas. Por falta de registros precisos, há controvérsias sobre o autor da agressão, mas o mais citado é Mario de las Casas.


O lesionado Steiner espera por tratamento (Imagem: RomaniaBalls / WorldCup1930Project)

O Peru tinha um homem a mais, mas não conseguiu aproveitar a superioridade numérica.

Aos nove minutos do segundo tempo, o capitão peruano Plácido Galindo discordou de uma marcação, empurrou o árbitro chileno Alberto Warnken com uma peitada e foi expulso. Mas ele não aceitou a decisão e se recusou a deixar o campo. Os dirigentes de seu país demoraram dez minutos para convencê-lo a sair. Nesse período, os peruanos até tentaram tirar um jogador e colocar outro em campo, mas a fraude foi percebida, já que não eram permitidas substituições na época.

Eram dez atletas para cada lado.

Foi a primeira expulsão da história das Copas e seria a única no Mundial de 1930.

O Peru conseguiu o empate aos 29′. Juan Alfonso Valle escapou pela ponta direita, passando por Vogl e Rudolf Bürger e cruzando para a área. Luis de Souza Ferreira foi o responsável por mandar a bola para as redes do goleiro Ion Lăpuşneanu.

Mas, aos 40′, Alfred Eisenbeisser abriu com Ştefan Barbu na esquerda e ele tocou para o meio. Rudolf Wetzer dominou e mandou para a área. Miklós Kovács viu Stanciu sozinho e tocou para seu colega fazer o segundo tento romeno.

O placar foi fechado a um minuto do fim. Wetzer deixou com Kovács no meio. Ele passou por Domingo García, avançou pela ponta direita e chutou cruzado, na saída do goleiro Valdivieso. Placar final: 3 a 1 para a Romênia.


(Imagem: RomaniaBalls / Dechalaca.com)

● De acordo com os relatos dos historiadores, essa partida teve dois gols impedidos, mas não informam quais.

Na segunda partida do Grupo 3, o Peru perdeu por 1 x 0 para o Uruguai. No jogo derradeiro, a Romênia também foi derrotada pela Celeste Olímpica por 4 x 0.

Como prêmio pela participação, mesmo com a Romênia sendo eliminada na primeira fase, os atletas ganharam dez dias de folga em Nova York, com todas as despesas pagas pelo rei Carol II. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o rei abdicou do trono e, em 1947, já exilado, se casou pela terceira vez, no Rio de Janeiro, com a romena Elena “Magda” Lupescu. Ele morreu no exílio em Estoril, Portugal, em 04/04/1953, aos 59 anos de idade.


À esquerda, o goleiro Lăpuşneanu se antecipa ao atacante peruano Julio Flores (Imagem: O Craiovano)

FICHA TÉCNICA:

 

ROMÊNIA 3 x 1 PERU

 

Data: 14/07/1930

Horário: 14h50 locais

Estádio: Pocitos

Público: 2.549

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Alberto Warnken (Chile)

 

ROMÊNIA (2-3-5):

PERU (2-3-5):

Ion Lăpuşneanu (G)

Juan Valdivieso (G)

Adalbert Steiner

Mario de las Casas

Rudolf Bürger

Alberto Soria

Ladislau Raffinsky

Plácido Galindo (C)

Emerich Vogl (C)

Domingo García

Alfred Eisenbeisser

Juan Alfonso Valle

Miklós Kovács

Julio Flores

Adalbert Deșu

Alejandro Villanueva

Rudolf Wetzer

Alberto Denegri

Constantin Stanciu

Demetrio Neyra

Ştefan Barbu

Luis de Souza Ferreira

 

Técnico: Constantin Rădulescu / Octav Luchide

Técnico: Francisco Bru

 

SUPLENTES:

 

 

Samuel Zauber (G)

Jorge Pardón (G)

Iosif Czako

Antonio Maquilón

Rudolf Steiner

Arturo Fernández Meyzán

Corneliu Robe

Eduardo Astengo

Alexandru Borbely

Julio Gilberto Quintana

Petre Steinbach

Carlos Cillóniz

Andrei Glanzmann

Jorge Góngora

Elemer Kocsis

Pablo Pacheco

Ilie Subăşeanu

Lizardo Rodríguez Nue

 

Jorge Sarmiento

 

José María Lavalle

 

GOLS:

50” Adalbert Deșu (ROM)

75′ Luis de Souza Ferreira (PER)

79′ Constantin Stanciu (ROM)

89′ Miklós Kovács (ROM)

 

EXPULSÃO: 54′ Plácido Galindo (PER)

Algumas imagens da partida:

Outras imagens:

 

… 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos


(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)

● Para chegar na semifinal, a Argentina terminou com 100% de aproveitamento no Grupo A (única chave com quatro seleções, já que os demais só possuíam três equipes), vencendo a França (1 x 0), México (6 x 3) e Chile (3 x 1).

Os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar no grupo D, vencendo a Bélgica e o Paraguai pelo mesmo placar de 3 a 0. O principal trunfo dos norte-americanos era contar com cinco jogadores que haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América.

Na quarta-feira, dia 23 de julho, a FIFA promoveu um sorteio para definir os adversários das semifinais. Havia 33% de chances de a sonhada decisão entre Uruguai e Argentina ocorrer nas semifinais. Era um risco enorme.

As bolinhas foram numeradas da seguinte forma: 1 para a Argentina; 2 para os Estados Unidos; 3 para o Uruguai; 4 para a Iugoslávia. Jules Rimet, que presidia a cerimônia, convidou um jornalista presente para sortear a primeira bolinha, que foi a número 1, da Argentina.

A tensão era enorme. Sob intensa expectativa, outro jornalista tirou a bolinha número 2, dos Estados Unidos. Ufa! Todos respiraram aliviados.

Esse sorteio também definiu a ordem dos jogos: Argentina x Estados Unidos seria no sábado e Uruguai x Iugoslávia, no domingo. Em caso de empate, haveria uma prorrogação de 15 minutos, dividida em dois tempos de sete minutos e meio. Se o empate persistisse, haveria uma segunda prorrogação, nos mesmos moldes. Se mesmo assim não houvesse um vencedor, haveria um jogo extra. Se esse jogo também terminasse empatado, no tempo normal e nas prorrogações, o vencedor sairia por meio de sorteio.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Os norte-americanos suportaram razoavelmente bem a pressão argentina no primeiro tempo, mas o centromédio Ralph Tracey fraturou a perna ainda aos 19 minutos de jogo e não conseguiu retornar após o intervalo.

Luisito Monti abriu o placar logo no minuto seguinte, aproveitando que não tinha mais a marcação de Tracey.

Antes dos 15 minutos do segundo tempo, foi a vez de o goleiro Jimmy Douglas se lesionar, deslocando o ombro.

Daí para frente, praticamente com dois homens a mais e com o adversário sem um goleiro em plena forma, a Argentina não teve dificuldades para atropelar e anotar mais cinco gols em sequência.

Quando os americanos perdiam por 3 a 0, o médio esquerdo Andy Auld sofreu um profundo corte no lábio inferior. O técnico Robert Millar, que também fazia as vezes de médico, pegou a maleta de medicamentos e correu para o campo. Na pressa, a maleta se abriu e vários frascos de remédio se quebraram, inclusive a garrafa de clorofórmio, que vazou no gramado. Ao inalar o líquido entorpecente, Millar acabou desmaiando e teve que ser carregado para fora do gramado por seus jogadores. O atleta americano que tinha se contundido acabou se recuperando sozinho, sem qualquer atendimento.

Nada daria certo para os americanos naquele dia.

De forma incontestável, a Argentina garantia sua vaga para a final.


(Imagem: FIFA)

● Na decisão, os argentinos fizeram um jogo duro, mas perderam para os anfitriões e arquirrivais uruguaios por 4 x 2, de virada.

Para os EUA, ter chegado tão longe já era motivo de orgulho. É até hoje a melhor classificação dos ianques na história das Copas.

A tabela original não previa a disputa do terceiro lugar, mas o Comitê Organizador sugeriu a ideia.

Porém, ainda irritados com a arbitragem considerada “excessivamente parcial” do brasileiro Gilberto de Almeida Rego, os iugoslavos se recusaram a enfrentar os Estados Unidos.

Assim, como não houve decisão do 3º lugar, a Iugoslávia dividiu essa colocação na classificação com os Estados Unidos. Na verdade, os dois países que caíram nas semifinais ficaram rigorosamente empatados em tudo, exceto que a Iugoslávia sofreu um gol a mais no geral.

Em muitas publicações esportivas, os americanos aparecem sozinhos em terceiro lugar, com base no critério não oficial de saldo de gols.

Algumas fontes, como um boletim da FIFA de 1984, afirmam que houve, sim, uma partida pelo 3º lugar, vencida por 3 x 1 pela Iugoslávia. Essa informação nunca foi oficialmente confirmada.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 26/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Centenário

Público: 72.886

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Jan Langenus (Bélgica)

 

ARGENTINA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Juan Botasso (G)

Jimmy Douglas (G)

José Della Torre

Alexander Wood

Fernando Paternoster

George Moorhouse

Juan Evaristo

Jimmy Gallagher

Luis Monti

Ralph Tracey

Rodolfo Orlandini

Andy Auld

Carlos Peucelle

Billy Gonsalves

Alejandro Scopelli

Tom Florie (C)

Guillermo Stábile

Bert Patenaude

Manuel Ferreira (C)

Jim Brown

Mario Evaristo

Bart McGhee

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: Robert Millar

 

SUPLENTES:

 

 

Ángel Bossio (G)

Frank Vaughn

Alberto Chividini

James Gentle

Ramón Muttis

Philip Slone

Pedro Suárez

Arnie Oliver

Edmundo Piaggio

Mike Bookie

Adolfo Zumelzú

Carlos Spadaro

Natalio Perinetti

Roberto Cherro

Attilio Demaría

Francisco Varallo

 

GOLS:

20′ Luis Monti (ARG)

56′ Alejandro Scopelli (ARG)

69′ Guillermo Stábile (ARG)

80′ Carlos Peucelle (ARG)

85′ Carlos Peucelle (ARG)

87′ Guillermo Stábile (ARG)

89′ Jim Brown (EUA)

Algumas imagens da partida:

… 17/07/1930 – Iugoslávia 4 x 0 Bolívia

Três pontos sobre…
… 17/07/1930 – Iugoslávia 4 x 0 Bolívia


(Imagem: Mantos do Futebol)

● Três dias antes, a Iugoslávia tinha vencido por 2 a 1 o “amontoado” de jogadores cariocas, que representavam a Seleção Brasileira na primeira Copa do Mundo. Assim, só precisava vencer a Bolívia na segunda rodada para garantir a classificação para as semifinais.

Antes da partida, a Bolívia tentou ganhar a simpatia e o apoio da torcida uruguaia. Cada jogador trazia uma letra gigante costurada na camisa e quando fizessem a formação do time para a clássica foto antes do jogo, seria escrita a frase “Viva Uruguay”. A ideia era que os quatro atletas agachados formassem a palavra “VIVA” e os sete dispostos em pé formassem “URUGUAY”.

Todavia, no momento de entrar em campo, um dos três que portavam a letra “U” teve uma indisposição gástrica e ficou um tempo a mais no vestiário.

Mesmo assim a foto foi tirada, mostrando seis bolivianos em pé e a palavra “URUGAY. Na época, foi um fato pitoresco. Se fosse atualmente, talvez aquele “gay” resultasse em um incidente diplomático.

Pouco depois foi feita a fotografia com a formação completa.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Apesar da gafe, a Bolívia começou bem a partida, resistindo à qualidade do ataque da Iugoslávia. Mas, no final do primeiro tempo, com a partida ainda empatada sem gols, o ponta direita Gumersindo Gómez, o melhor do time, fraturou a perna direita.

Jogando toda a segunda etapa com dez, os sul-americanos foram massacrados. Além de sofrerem quatro gols, ainda viram a bola bater quatro vezes em suas traves.

Aos 15 minutos, Ivan Bek fez o primeiro. Aos 20′, Blagoje Marjanović ampliou. Dois minutos depois, Bek fez seu segundo no jogo e o terceiro dos europeus. O placar foi fechado a cinco minutos do fim, com gol de Đorđe Vujadinović.


(Imagem: Mantos do Futebol)

● Três dias depois, a Bolívia perdeu para o Brasil por 4 a 0 e morreram abraçados. A Iugoslávia, que já havia vencido o Brasil por 2 a 1, se classificou para as semifinais, mas foi goleada pelos anfitriões uruguaios por 6 a 1. Não houve disputa pelo 3º lugar e Iugoslávia e Estados Unidos dividiram essa colocação.

Curiosamente, o técnico da seleção boliviana, Ulises Saucedo (que era treinador na Inglaterra) também trabalhou árbitro na Copa. Ele apitou Argentina 6 x 3 México. Outro técnico, Constantin “Costel”, da Romênia, foi bandeirinha na mesma partida e também no jogo entre Argentina 1 x 0 França.


(Imagem: Mantos do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

IUGOSLÁVIA 4 x 0 BOLÍVIA

 

Data: 17/07/1930

Horário: 12h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 18.306

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Francisco Mateucci (Uruguai)

 

IUGOSLÁVIA (2-3-5):

BOLÍVIA (2-3-5):

Milovan Jakšić (G)

Jesús Bermúdez (G)

Milutin Ivković (C)

Casiano José Chavarría

Dragan Mihajlović

Segundo Durandal

Milorad Arsenijević

Diógenes Lara

Ljubiša Stefanović

Jorge Luis Valderrama

Momčilo Đokić

Juan Argote

Aleksandar Tirnanić

Gumersindo Gómez

Blagoje Marjanović

José Bustamante

Ivan Bek

Mario Alborta

Đorđe Vujadinović

Rafael Méndez (C)

Dragutin Najdanović

René Fernández

 

Técnico: Boško Simonović

Técnico: Ulises Saucedo

 

SUPLENTES:

 

 

Milan Stojanović (G)

Miguel Murillo (G)

Dušan Marković

Luis Reyes Peñaranda

Dragomir Tošić

Renato Sáinz

Teofilo Spasojević

Miguel Brito

Branislav Hrnjiček

Constantino Noya

Branislav Sekulić

Eduardo Reyes Ortíz

 

GOLS:

60′ Ivan Bek (IUG)

65′ Blagoje Marjanović (IUG)

67′ Ivan Bek (IUG)

85′ Đorđe Vujadinović (IUG)

Imagens da partida:

… Lucien Laurent: autor do primeiro gol em Copas do Mundo

Três pontos sobre…
… Lucien Laurent: autor do primeiro gol em Copas do Mundo


(Imagem: O Gol)

● Eram jogados 19 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Aléxis Thépot jogou a bola para o meio campo. Após troca de passes, o ponta esquerda Marcel Langiller cruza para a marca do pênalti. O zagueiro Manuel Rosas fura a jogada e a bola sobra para Lucien Laurent que domina na direita da grande área. A 16 metros do gol, ele chuta forte e à meia altura, no canto direito em diagonal, sem chances para o goleiro Oscar Bonfiglio. Estava aberto o placar das Copas do Mundo.

Eram exatamente 15h19 do dia 13/07/1930, no acanhado Estádio Pocitos (antiga casa do Peñarol), em Montevidéu, onde 4.444 expectadores assistiram o feito. No fim, a França venceu o México por 4 x 1. Com esse seu gol inaugural das Copas, Laurent ficou conhecido como “Le 1er” (“o primeiro”). Essa foi a segunda partida de Laurent pela seleção francesa.

Ele se lesionou no segundo jogo contra a a Argentina (recebeu uma forte pancada de Luis Monti logo aos 2 minutos) e teve que sair de campo. Devido a essa lesão, também não atuou contra o Chile. A França perdeu esses dois jogos por 1 a 0 e foi eliminada ainda na primeira fase do torneio.

● Os primeiros jogos da Copa do Mundo de 1930 ocorreram antes mesmo da abertura do campeonato. França x México e Estados Unidos x Bélgica se enfrentavam ao mesmo tempo no dia 13, enquanto a abertura estava marcada para o dia 15, por atrasos na conclusão da obra do Estádio Centenário. Embora a FIFA (e todo o mundo, inclusive nós) considere seu gol como o pioneiro em Copas, documentos indicam o lance com o terceiro. Quando Laurent abriu o placar contra o México, os Estados Unidos já venciam a Bélgica por 2 a 0 no exato momento. Mas oficialmente, os EUA fizeram o primeiro gol aos 22 minutos de jogo. Essa confusão fez com que o feito de Laurent fosse ignorado pela FIFA por quarenta anos, mas a importância desse gol voltou à tona em 1970. A entidade reconheceu corretamente o gol como o primeiro da história das Copas, destronando o americano Bert McGhee (que abriu o placar na vitória por 3 x 0 contra os belgas em partida no Estádio Parque Central). Nem mesmo o próprio Laurent compreendia a importância de seu gol. Em uma época em que o futebol era completamente amador em todo o mundo (raras exceções), foi cumprimentado pelos companheiros timidamente e voltaram a a jogar normalmente.

VEJA MAIS:
… 13/07/1930 – França 4 x 1 México – Primeiro jogo em uma Copa do Mundo

● Lucien Laurent nasceu em Saint-Maur-des-Fossés, Val-de-Marne, perto de Paris, em 10/12/1907. Em tempos de amadorismo, Laurent trabalhava em uma gráfica quando estreou pelo Cercle Athlétique de Paris, ainda menino, em 1921. Depois, foi morar na cidade de Sochaux para trabalhar na Peugeot; atuou por dois anos na equipe do FC Sochaux, que era um time formado por empregados da montadora de automóveis. Treinava de manhã e trabalhava no turno da tarde. Em incríveis 25 anos de carreira, atuou pelos clubes: CA Paris (1921-1930 e 1933-1934), Sochaux (1930-1932 e 1935-1936)), Club Français (1932-1933), FC Mulhouse (1934-1935), Stade Rennais (1936-1937), Strasbourg (1937-1939), Toulouse (1939-1943) e Besançon (1943-1946). Era um meia esquerda baixinho (1,62 m) e discreto em campo. Era mais atuante na construção de jogadas e raramente chegava ao gol adversário. Nunca conquistou um título no futebol.

Fez sua estreia pela seleção francesa em 23/02/1930, em um amistoso com derrota para Portugal, por 2 a 0. Veio ao Uruguai para disputar a primeira Copa do Mundo, em 1930, embarcando no navio Conte Verde, junto de seus companheiros (inclusive seu irmão Jean, que era volante) e, após quatorze dias no mar, desembarcaram em Montevidéu.
Esteve entre os selecionados para a Copa do Mundo de 1934, mas não jogou devido a uma lesão no joelho. A França perdeu por 3 x 2 para a fortíssima Áustria e foi eliminada logo no primeiro jogo.

Jogou pela sua seleção até 1935 e, ao todo, marcou 2 gols em 10 jogos pelos “Les Bleus”. Seu outro gol foi em uma vitória histórica (a primeira na história) da França sobre a Inglaterra por 5 a 2, em amistoso disputado no Estádio Olímpico Yves-du-Manoir, na cidade francesa de Colombes, no dia 14/05/1931.

Parou de jogar para se integrar às forças armadas francesas durante a 2ª Guerra Mundial, onde foi capturado pelos alemães em 1942 e passou três anos como prisioneiro de guerra. Depois, foi encerrar a carreira no time do Besançon, onde se estabeleceu, na região leste da França. Quando se retirou definitivamente dos gramados, aos 39 anos, abriu um bar na cidade e a treinar jovens talentos locais até 1957.

Em 2000, foi homenageado com o Troféu Peugeot dos Campeões. Na final da Copa da França, entre Nantes e Monaco, no estádio do Sochaux, voltou a pisar nos gramados, com direito a pontapé inicial. Lucien Laurent faleceu aos 97 anos de idade, em 11/04/2005, no hospital Jean-Minjoz, em Besançon. Era o último jogador ainda vivo da seleção francesa que disputou a Copa de 1930 e o único que viu seu país se tornar campeão do mundo em 1998.

Um jovem operário da Peugeot que deixou de lado o anonimato para se transformar na primeira lenda do torneio esportivo mais importante do planeta.


(Imagem localizada no Google)

… Héctor “Manco” Castro: primeiro craque aleijado

Três pontos sobre…
… Héctor “Manco” Castro: primeiro craque aleijado


(Imagem localizada no Google)

● Héctor Castro nasceu em Montevidéu em 29/11/1904 e faleceu na mesma cidade em 15/09/1960. Era filho de pais galegos e começou a jogar futebol nas ruas da capital uruguaia, como a maioria dos jogadores sul-americanos. Começou a trabalhar aos dez anos de idade. Quando tinha treze anos, ele cortou seu antebraço direito com uma serra elétrica em um acidente de trabalho, o que lhe rendeu o apelido de “El Divino Manco“.

Em condições normais, seu sonho no futebol acabaria ali. Mas o jovem não aceitou o destino e seguiu adiante. Com 1,69 m e 69 quilos, era um jogador muito útil por mostrar bom rendimento nas cinco posições do ataque, graças a força, a velocidade e habilidade que possuía. Castro se tornou famoso não só por suas façanhas futebolísticas, mas também por causa de sua deficiência. Em vez de considerar uma desvantagem, ele fazia de sua deficiência uma vantagem, usando seu braço mutilado com frequência no rosto dos rivais.

Assim, em 1921, antes de completar os 17 anos já jogava no atualmente desaparecido Club Atlético Lito e se tornava o primeiro aleijado a atuar no país. Bastaram dois anos para chamar a atenção de um grande clube. Aos 20 anos, na temporada 1923/24, iniciou sua aventura no Club Nacional de Football e foi campeão da liga logo de cara. Suas grandes atuações lhe valeram a convocação para a seleção uruguaia que venceu a Copa América de 1926. Ele passou a fazer parte de um grupo com verdadeiras lendas vivas, que haviam sido campeões olímpicos dois anos antes. Voltou a vencer o Campeonato Uruguaio em 1933 e 1934, antes de se aposentar, em 1936. Foram 145 gols em 231 jogos pelos “Bolsos”. Em 1932, foi jogar no Estudiantes de La Plata, da Argentina, mas voltou uma temporada depois ao Nacional.


(Imagem: Extracampo)

● Na estreia do país anfitrião na Copa do Mundo de 1930, contra o Peru, Castro anotou o único tento, aos 20 minutos do segundo tempo, com um chute forte a 16 metros do gol. Foi o primeiro gol marcado no mítico Estádio Centenário, de Montevidéu. Mesmo com a marca histórica, não jogou bem e foi sacado do time nas duas partidas seguintes. Mas pela influência do capitão José Nasazzi, que apostava na dedicação total de Castro no jogo, o “Manco” voltou na final, substituindo Peregrino Anselmo. No dia da final, Castro recebeu um telefonema anônimo, que dizia que se o Uruguai perdesse, ele receberia 50 mil pesos; se ganhasse, ele seria morto. Ele não se fez de rogado. Assim, foi dele o último gol do torneio. Faltava um minuto para o fim da grande final, em que o seu Uruguai vencia a Argentina por 3 a 2, quando Castro finalizou de cabeça um cruzamento do ponta Pablo Dorado. Sua seleção se tornou a primeira campeã do mundo.

Atuou pela seleção do Uruguai entre 1923 e 1935, disputando 25 partidas e anotando 18 gols (30 gols em 54 jogos, contando também partidas extra-oficiais). Além da Copa de 1930, Castro conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, quando seu país venceu a mesma Argentina por 2 a 1 na partida desempate da final. Venceu também a Copa América em duas oportunidades, em 1926 e 1935.

Em 1939, Castro foi trabalhar na comissão técnica do Nacional, conquistar o único pentacampeonato consecutivo do clube: 1939 (como auxiliar técnico), 1940, 1941, 1942 e 1943 (já como treinador). Ficou alguns anos sem trabalhar na área, mas voltou em 1952 para dar outro título ao Nacional.

Em 1959 se tornou técnico da seleção de seu país e tinha total apoio da imprensa e da torcida mas, misteriosamente, renunciou ao cargo meses depois.

Em 15/09/1960, com 55 anos de idade, um infarto do miocárdio tirou a vida de um menino de Montevidéu, que nem uma serra elétrica impediu de se tornar uma lenda do futebol.

VEJA TAMBÉM:
… 30/07/1930 – Uruguai 4 x 2 Argentina – Manco Castro anotou o gol do título

Feitos e premiações de Héctor Castro:

Como jogador, pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1928.
– Campeão da Copa América em 1926 e 1935.
– Vice-campeão da Copa América em 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1929.

Como jogador, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1924, 1933 e 1934.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.

Como técnico, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1940, 1941, 1942, 1943 e 1952.
– Tetracampeão do Torneio de Honor em 1940, 1941, 1942 e 1943.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1940 e 1942.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 7º maior artilheiro da história da primeira divisão do Campeonato Uruguaio com 107 gols em 181 jogos.


(Imagem localizada no Google)

… Héctor Scarone: lenda olímpica e campeão do mundo

Três pontos sobre…
… Héctor Scarone: lenda olímpica e campeão do mundo


(Imagem: UOL)

● Héctor Pedro Scarone Beretta nasceu em Montevidéu em 24/11/1898 e faleceu na mesma cidade em 04/04/1967. Tinha um irmão atacante, dez anos mais velho, também muito famoso na mesma época, chamado Carlos “Rasqueta” Scarone, que também jogava no Nacional e na seleção uruguaia.

Era conhecido como “El Mago”, pelas maravilhas que fazia em campo. Tinha também o apelido de “La Borelli” (uma artista do cinema italiano), por ser muito caprichoso e exigente fora de campo – era genial em campo e genioso fora dele. Também era chamado de “Gardel do Futebol”, pois jogava como se tivesse cantando em um show. Era um jogador completo, considerado o melhor jogador do mundo em seu tempo (décadas de 1920 e 1930) e por vezes considerado o melhor jogador da história do futebol uruguaio. Tinha uma excelente finalização, bom passe, exímio em lançamentos longos e cobranças de faltas. Batia escanteios dos dois lados, com qualquer das pernas (era ambidestro). Tinha agilidade e bom drible. Com apenas 1,70 m de altura, fazia muitos gols de cabeça. Era praticamente imparável em cobrança de pênaltis, sendo que cobrou 117 e errou apenas um. Criou a chamada “tabelinha” (um-dois, chamada no Uruguai de “pared”), com seu colega Pedro Petrone. Sua grande qualidade era reconhecida também por adversários. O italiano Giuseppe Meazza dizia que Scarone era o jogador mais fantástico que já viu. O goleiro espanhol Ricardo Zamora se referiu a ele como “o símbolo do futebol”. Por sua vez, a imprensa argentina dizia que era o rival mais temido pela sua seleção.

Jogou a maior parte de sua carreira no Nacional, se tornando uma lenda do clube. Estreou na equipe em 1916 e se despediu em 1939, jogando depois uma temporada no Montevideo Wanderers para encerrar de vez sua carreira. Antes disso, jogou por três temporadas no futebol europeu: em 1926, jogando pelo Barcelona; entre 1931 e 1932, pela Società Sportiva Ambrosiana (atual Internazionale de Milão – foi o primeiro estrangeiro da Inter e o segundo uruguaio a jogar na Europa, depois de Julio Bavasto, que passou pelo Milan em 1910) e entre 1932 e 1934, pelo Palermo, também da Itália. Seu compromisso com os Bolsos (apelido do Nacional) e com sua pátria, refletiu em suas atitudes enquanto jogava pelo Barcelona em 1926. Com o advento do profissionalismo na Espanha, Scarone decidiu abandonar o clube catalão porque, se assinasse um contrato profissional, complicaria sua situação na preparação junto a seleção para os Jogos Olímpicos de 1928 e também nunca voltaria a jogar no seu Nacional.

“Eu pensei em meu país, que logo viriam as Olimpíadas de 1928, na qual eu devia vestir a camisa celeste, pensei no Nacional também, no qual eu não voltaria a jogar, e não quis assinar. Poucos dias antes de embarcar, me fizeram a última proposta: 30 mil pesos em dinheiro por um contrato de cinco anos e também não aceitei. Eu voltei para jogar de novo pela Celeste e pelo meu Nacional.” — Héctor Scarone, sobre sua saída do Barcelona.

Decisões como essa ganharam para sempre o coração da torcida uruguaia, que ainda se lembra dele como um dos maiores expoentes da história do futebol local. Em sua homenagem, uma das tribunas populares do Estádio Parque Central leva o seu nome.

● Teve uma extensa trajetória profissional, com 24 anos jogando. No Nacional, possui o recorde de maior quantidade de anos jogando pelo clube (20 anos) e é o terceiro maior artilheiro do Campeonato Uruguaio, com 163 gols. Ainda é o segundo maior goleador da história do Club Nacional de Football, com 301 gols em 369 jogos, incluindo amistosos (atrás apenas de Atilio García, com 468 gols).

Pela seleção do Uruguai, com 19 anos e apenas na quarta partida com a camisa celeste, fez o gol do título da Copa América de 1917, na final contra a Argentina. Venceu a Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926. Ainda foi vice em 1919 e 1927. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 e a Copa do Mundo de 1930. Disputou 51 partidas oficiais e anotou 31 gols. Se contar amistosos não reconhecidos pela FIFA, fez 52 gols em 70 jogos. Era o maior artilheiro da história da seleção até 11/10/2011, quando foi superado por Diego Forlán (e posteriormente, por Luis Suárez e Edinson Cavani). Na Copa América de 1926, fez cinco gols na Bolívia, na vitória por 6 x 0 e se tornou o único jogador a anotar cinco gols pela seleção uruguaia. Foi eleito o melhor jogador da Copa América de 1917 e foi o artilheiro da Copa América de 1927, com três gols. É o quinto maior artilheiro da história da competição, com 13 gols em 21 jogos.

Héctor Scarone é um dos cinco campeões da Copa do Mundo que nasceram no século XIX, mas ele é o mais velho, nascido em 1898 (Domingo Tejera veio ao mundo em 1899, enquanto Lorenzo Fernández, Pedro Cea e Santos Urdinarán somente em 1900).

Depois de se retirar dos gramados, Scarone se tornou treinador. Foi o segundo técnico da história do Millonarios (Colômbia) desde sua fundação, entre 1946 e 1947, enquanto o clube ainda era amador. Dentre outros, treinou o próprio Nacional (1954), o Deportivo Quito (Equador) e o Real Madrid. Na temporada 1951/52, os merengues estavam a ponto de cair para a segunda divisão espanhola, mas Héctor a salvou. Posteriormente, o presidente Santiago Bernabéu lhe presenteou com um anel de ouro muito valioso, pela sua façanha de evitar a queda do Real Madrid.

(Imagem: Pinterest)

Feitos e premiações de Héctor Scarone:

Pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928.
– Campeão da Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926.
– Vice-campeão da Copa América em 1919 e 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1921, 1922 e 1929.

Pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1916, 1917, 1919,1920, 1922, 1923, 1924 e 1934.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1916, 1919 e 1920.
– Campeão da Copa Competencia em 1919, 1921 e 1923.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão da Copa de Honor em 1916 e 1917.
– Campeão da Copa de Honor Cousenier em 1916 e 1917.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935, 1938 e 1939.
– Campeão da Copa León Peyrou em 1920, 1921 e 1922.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.

Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1926.
– Campeão da Copa da Catalunha em 1926.

Distinções e premiações individuais:
– Melhor jogador da Copa América de 1917.
– Artilheiro da Copa América de 1927 (3 gols).
– Maior artilheiro histórico da seleção do Uruguai em partidas oficiais entre 1931 e 2011.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 40º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 21º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– 4º lugar na lista dos melhores jogadores uruguaios do século XX pela IFFHS.