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… Robert Enke: uma vida curta demais

Três pontos sobre…
… Robert Enke: uma vida curta demais


(Imagem: T-online)

● Robert Enke nasceu em 24/08/1977, na cidade alemã de Jena. Era o caçula dos três filhos de Gisela Enke e Dirk Enke, um psicólogo esportivo. Começou a jogar aos 8 anos de idade no BSG Jena Pharm, mas aos 9 já se encontrava como goleiro no Carl Zeiss Jena (clube fundado por funcionários da famosa empresa do ramo de óptica), assinando seu primeiro contrato como a equipe aos 17 anos, em 1995. Antes disso, em 1993, já era titular e fechava o gol da seleção alemã sub-15.

Sua única temporada no Carl Zeiss Jena foi a de 1995/96, disputando apenas três jogos. Já no verão de 1996, assinou com o Borussia Mönchengladbach, mas para atuar na equipe sub-23, nas divisões inferiores. Finalmente, começou a ser titular do time principal a partir de 15/08/1998, mas foi uma temporada ruim e sua equipe foi rebaixada na Bundesliga.

Se transferiu para o Benfica (POR) em junho de 1999, assinando por três anos. Robert tinha um histórico de ataques de pânico, surtando e mudando de ideia segundos depois de assinar seus contratos. Mas, recobrando a consciência, se convenceu que, por ter assinado o contrato, era obrigado a cumpri-lo. Nos lisboetas, chegou a ser capitão, quando o seu compatriota Jupp Heyckes era o técnico. Mas era uma fase em que a equipe trocou de técnico em todas as temporadas, com péssimos resultados na liga e dificuldades financeiras até para pagar salários aos jogadores. Mesmo com todos esses percalços, ganhou a admiração da torcida encarnada.

Ao fim do seu contrato, em 2002, foi para o Barcelona, em novo acordo de três anos. Mas essa se provou ter sido uma escolha errada, pois foi reserva de Roberto Bonano e Victor Valdés. Sua estreia pelos blaugranas foi uma derrota vexaminosa na Copa do Rei para o nanico Novelda, por 3 x 2, com três falhas dele, recebendo críticas até de Frank de Boer, seu companheiro de time. Na Liga Espanhola, disputou apenas 20 minutos contra o Osasuna, em março de 2003. Foi titular em dois jogos da UEFA Champions League, contra Galatasaray e Clube Brugges.

Na temporada seguinte foi emprestado para o Fenerbahçe, como moeda de troca para a contratação do goleiro Rüştü Reçber. Novamente foi uma decepção em sua estreia, na derrota por 3 x 0 para o Istanbulspor. Ainda dentro de campo, os torcedores turcos lhe xingaram e atiraram objetos, o que fez a diretoria dispensá-lo apenas 13 dias após contratá-lo. Esse episódio fez Enke ter sua primeira crise depressiva, pensando até em encerrar a carreira. No início de 2004 foi emprestado para o Tenerife, para disputar a segunda divisão espanhola, sendo destaque no time e observado para vôos maiores.

● Em julho de 2004 voltou para seu país para atuar no Hannover 96. Nesse momento sua carreira deu uma guinada, passando a ser titular e destaque da Bundesliga. Mesmo com diversas sondagens de outras equipes, decidiu permanecer e se tornou capitão do time a partir de 2007/08. Foi eleito o melhor goleiro da temporada 2008/09. Jogou sua última partida em 08/11/2009, dois dias antes de sua morte.

Estreou na seleção sub-21 em 1997, enquanto jogava nas divisões inferiores do Mönchengladbach. Dois anos depois, mesmo atuando pouco pelo time, o técnico da seleção, Erich Ribbeck, o convocou para a Copa das Confederações de 1999, mas o deixou todo o tempo no banco. Ficou sem ser selecionado pelo Nationalelf até 2006 e finalmente fez sua estreia em 28/03/2007. Foi um dos goleiros reservas na Euro 2008, quando a Alemanha foi vice-campeã. Com a aposentadoria de Jens Lehmann, Enke se tornou o goleiro titular da seleção, mas passou a sofrer muito com lesões e, consequentemente, nova depressão. Fez oito jogos pelo seu país, sendo o último uma vitória por 2 a 0 contra o Azerbaijão, em 12/08/2009. Era considerado nome certo para a Copa do Mundo de 2010 e o mais cotado para ser o goleiro titular.

● No dia 10/11/2009, logo após as 18h00, Robert parou sua Mercedes em uma rua secundária em Eilvese, Neustadt am Rübenberge, a 30 km de Hannover, deixou as chaves do carro e sua carteira no banco do passageiro, saiu na chuva em direção a um cruzamento ferroviário e se jogou embaixo das rodas de aço do trem expresso Bremen-Hannover 4427. A polícia encontrou uma carta de despedida, mas não divulgou seu conteúdo, por respeito a família e a memória do goleiro. Especula-se que ele tenha pedido perdão por sua decisão consciente de enganar a todos, fingindo que estava bem, escondendo sua depressão e seus planos de se matar.

O lugar não foi escolhido por acaso: a menos de 100 metros está o túmulo de sua filha Lara, falecida em setembro de 2006 aos 2 anos de idade. Essa foi uma tragédia familiar que Robert não conseguiu superar. A menina Lara morreu durante uma cirurgia de tentativa de correção de problemas cardíacos congênitos.

Robert era casado desde 2006 com Teresa Heim (ex-atleta de pentatlo moderno) e viviam em uma pequena fazenda em Empede, perto de onde morreu. A família sempre foi bastante envolvida em atividades a favor dos direitos dos animais, inclusive tendo o goleiro emprestado seu rosto para campanhas da PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais) contra a indústria de peles. O casal adotou uma menina chamada Leila em maio de 2009, mas Robert estava a todo tempo com medo de perder a guarda da criança se as autoridades descobrissem seus problemas depressivos. Ele fazia tratamento com o psiquiatra Valentin Markser, mas no dia que desistiu de viver, se recusou a comparecer à consulta, alegando se sentir bem e não precisar de tratamento.

Foi enterrado em 15/11, em uma cerimônia que reuniu cerca de 45 mil pessoas em Hannover, dentre elas familiares, amigos, colegas jogadores de futebol e torcedores. Seu corpo foi colocado no centro da ADW-Arena, estádio de sua equipe, onde as últimas homenagens foram prestadas. O presidente do clube, Martin Kind, declarou que “Enke foi um número um no melhor sentido da palavra. É por isso que hoje temos os corações tão pesados”. Seu caixão, coberto de rosas brancas, foi carregado por seis colegas de time. Foi enterrado junto de sua filha.

Na rodada seguinte, todos os jogos da Bundesliga tiveram um minuto de silêncio, assim como no jogo seguinte do Benfica e do Barcelona em seus campeonatos. Como forma de luto, a seleção alemã cancelou um jogo amistoso com o Chile, que seria realizado em 14 de novembro.

No restante da temporada 2009/10, os jogadores do Hannover 96 exibiram o número “1” em um círculo no peito do uniforme, como uma singela homenagem, homologada pela Bundesliga.
A Federação de Futebol da Alemanha, juntamente com a Bundesliga e o Hannover 96, criaram a “Fundação Robert Enke”, visando principalmente cuidar da saúde mental de jogadores de futebol. Seu amigo escritor Ronald Reng escreveu uma biografia do goleiro, intitulada “Uma vida curta demais”

… Luiz Felipe Scolari

Três pontos sobre…
… Luiz Felipe Scolari

(Imagem: Gazeta Press)

● Luiz Felipe Scolari nasceu em 09/11/1948 na cidade gaúcha de Passo Fundo. Zagueiro central, Luiz Felipe começou sua carreira no Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo, aos 17 anos de idade. Em 1973, foi jogar no Caxias, onde ficou mais sete anos. Esteve pouco mais de um ano no rival Juventude (1979-1980), passando pelo mesmo tempo no Novo Hamburgo (1980-81). No fim deste mesmo ano foi para sua primeira aventura fora do Rio Grande do Sul, no CSA, de Alagoas, levado pelo técnico do clube Valmir Louruz (também gaúcho e também ex-zagueiro).

Com apenas quatro meses na equipe, foi no CSA que Luiz Felipe conquistou o único título da carreira como jogador: o Campeonato Alagoano de 1981. Em uma fase final com quatro clubes, o jogo do título foi um empate por 1 x 1 com o CRB em 29/11/1981. Neste jogo, o CSA formou com: Zé Luiz; Flávio, Luiz Felipe, Jerônimo e Geraldo; Veiga (Josenilton), Ademir e Rommel; Freitas, Dentinho e Mug (Paraná). No fim, o capitão Luiz Felipe levantou a taça de campeão.

Logo após o título, já em 1982, o técnico Valmir Louruz precisou acompanhar sua esposa doente no Rio Grande do Sul. Aos 33 anos, Luiz Felipe foi nomeado técnico do CSA pelo presidente do clube: Fernando Collor de Mello. Isso mesmo! Foi Collor quem deu o primeiro emprego como treinador a Felipão! Já mostrando desde o começo um futebol duro (também de assistir), levou o CSA ao título estadual do ano.

Scolari tinha boa convivência com os políticos da diretoria do CSA: além de Fernando Collor, o usineiro e ex-senador João Lyra (pai de Thereza Collor) e o ex-deputado Augusto Farias (irmão de PC Farias). Na época da Guerra do Golfo, em 1990, o então Presidente da República ajudou na liberação dos brasileiros que moravam no país, inclusive e principalmente de Scolari, que já afirmou diversas vezes que nutre carinho e respeito pelo atual senador.

Após passagens por outros clubes, principalmente gaúchos e do Oriente Médio, Felipão foi treinar o Criciúma, que disputava a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele não quis nem saber e montou uma equipe competitiva, praticamente imbatível dentro de casa, com jogadores esforçados e todo o grupo muito unido. Assim, o bigodudo começou a marcar seu nome na história, levando o pequeno Criciúma ao título da Copa do Brasil de 1991.

Depois de nova aventura pelo mundo árabe, chegou ao Grêmio. Pareciam que tinham sido criados um para o outro, Felipão e Grêmio. Novamente com jogadores aguerridos, obediência tática e muitos cuidados defensivos, a equipe possuía jogadores de qualidade e acostumados a vencer, como o capitão Dinho. O time sabia aproveitar as oportunidades de gol, principalmente com o ataque formado por Paulo Nunes e Jardel, além de ídolos históricos como Danrlei, Arce, Rivarola, Luís Carlos Goiano, Roger, Émerson e outros. A soma de tudo isso só poderia ter um final: Grêmio campeão da Copa do Brasil de 1994, campeão da Libertadores de 1995 e campeão brasileiro de 1996, além de quatro campeonatos gaúchos (sendo um da sua primeira passagem pelo tricolor, em 1987). Por pouco também não conquista a Copa Intercontinental em 1995, perdendo para o forte Ajax apenas nos pênaltis, mesmo com um homem a menos desde os 11 minutos do segundo tempo.

● Em 1997 voltou do futebol japonês para o Palmeiras e “transplantou” o lado direito de seu Grêmio para o alviverde, com Arce e Paulo Nunes (além de Rivarola, que não se adaptou ao clube). Foi vice-campeão brasileiro naquela temporada. No ano seguinte, conquistou a Copa do Brasil e a Copa Mercosul (primeiro título sul-americano do clube). A cereja do bolo foi em 1999, quando levou o clube à conquista da Taça Libertadores da América, com destaques para Arce e Paulo Nunes (novamente), Cléber, Roque Júnior, Júnior, César Sampaio, Zinho, Evair e Oséas, além de São Marcos (“canonizado” neste torneio). Na Copa Intercontinental, jogou melhor que o o poderoso Manchester United, mas perdeu por 1 a 0. Em 2000, ainda conquistou o Torneio Rio-São Paulo e chegou na final da Libertadores, perdendo nos pênaltis para o Boca Juniors de Carlos Bianchi. Teve uma rápida passagem pelo Cruzeiro, mas vitoriosa, conquistando a Copa Sul-Minas em 2001, tendo como destaque o ídolo argentino Juan Pablo Sorín.

Ainda em 2001 assumiu a Seleção Brasileira, livrando a equipe canarinho da ameaça de ficar fora de uma Copa do Mundo. Na Copa América, passou vexame após ser eliminado por Honduras ainda nas quartas de final. Recebeu infinitas críticas por deixar de fora da Copa o artilheiro e ídolo mundial Romário. Outro motivo de discordância foi a manutenção de Rivaldo no time, mesmo machucado, e de Ronaldo, que estava há quase dois anos lesionado e sem nenhum ritmo de jogo. Montou seu esquema tático em um 3-5-2 defensivo no papel e ofensivo na prática, dando liberdade total aos alas Cafu e Roberto Carlos, apostando na criatividade de seus jogadores de frente. O resultado foi uma campanha perfeita, com sete vitórias em sete jogos, vencendo a Alemanha por 2 a 0 na decisão, tendo os contestados Rivaldo e Ronaldo como os melhores jogadores daquela Copa.

Com o sucesso, foi treinar a seleção de Portugal, levando o país à sua primeira final, na Eurocopa, jogando em casa, mas perdeu para a “zebra” Grécia por 1 x 0. Mesmo com esta derrota, foi agraciado pelo então presidente português, Jorge Sampaio, com o título de “Comendador da Ordem do Infante D. Henrique”, uma das maiores distinções do país. Na equipe lusa foi bastante contestado no começo por ir aos poucos retirando das convocatórias ídolos nacionais como o goleiro Vítor Baía, mas foi o primeiro treinador a convocar o rapazote Cristiano Ronaldo. Em 2006, levou Portugal novamente a uma semifinal de Copa do Mundo, mas ficou em 4º lugar. Com essa campanha, detém o recorde de treinador com mais vitórias consecutivas em Copa do Mundo, sendo 7 pelo Brasil em 2002 e 4 com Portugal em 2006. Na Euro 2008, não obteve sucesso, caindo logo nas quartas de final para a Alemanha.

Foi para o rico Chelsea em 01/07/2008 e em dezembro levou o clube a atingir 11 vitórias consecutivas fora de casa pela Premier League (recorde que durava 48 anos). Após alguns resultados ruins, especialmente em clássicos, foi demitido em 09/02/2009. Reza a lenda que “Big Phil” foi derrubado por problemas de relacionamento com alguns “senadores” dos Blues: especialmente Petr Cech, Frank Lampard e Didier Drogba. Logo em seguida foi para o Uzbequistão, treinar o Bunyodkor, de Rivaldo, conquistando a liga nacional do país por duas vezes.
Retornou ao Palmeiras depois da Copa de 2010 e conquistou nova Copa do Brasil pelo Palestra em 2012. Deixou o clube em setembro por maus resultados, que terminariam em rebaixamento do clube para a Série B no fim do ano.

● Como “prêmio” e pela esperança de seu espírito de campeão ajudar a conquistar a a Copa de 2014 em casa, foi novamente chamado para a Seleção Brasileira, conquistando merecidamente a Copa das Confederações em 2013. Mas quando realmente valia, na Copa do Mundo do ano seguinte, o Brasil teve campanha irregular até a “chacoalhada” histórica para a Alemanha, no malfadado 7 x 1. Mesmo com os observadores técnicos e a imprensa sugerindo para substituir o lesionado Neymar por outro homem de meio campo, que “casaria” melhor com o esquema adversário, Felipão preferiu escalar um atacante (que tem suas qualidades), mas que foi nulo na partida. Com todos com o emocional prejudicado e em outra trapalhada do técnico, o Brasil perdeu novamente na decisão do 3º lugar para a Holanda, em nova “bordoada”, por leves 3 x 0.

Todo brasileiro ama Felipão pelo título mundial de 2002, mas ele manchou um pouco desa imagem com o “Mineirazo”. Conseguiu fazer a mesma coisa no Grêmio, logo após a Copa. Não conquistou nada na nova passagem pelo tricolor gaúcho, saindo pela porta dos fundos menos de um ano depois. A única nota digna de passagem é a goleada de 4 a 1 no rival Internacional pelo Campeonato Brasileiro de 2014.

Foi treinar o Guangzhou Evergrande, da China, conquistando o título do Campeonato Chinês de 2015 e da Liga dos Campeões da Ásia do mesmo ano. No Mundial Interclubes, o Evergrande ficou em um honroso 4º lugar. Voltou a vencer a liga chinesa em 2016.

Felipão pertence a uma linha de treinadores que dão mais importância ao relacionamento interpessoal e à motivação do que a treinamentos específicos e montagem de esquemas táticos. Não é um demérito, mas como a maioria da “velha guarda” dos técnicos brasileiros, precisa se reciclar se quiser voltar a ter sucesso em alto nível. Mas nada jamais irá apagar a imagem vitoriosa que conseguiu em sua carreira.

… Heleno de Freitas: gênio e louco

Três pontos sobre…
… Heleno de Freitas: gênio e louco


(Imagem localizada no Google)

● Heleno de Freitas nasceu em São João Nepomuceno (MG) em 12/02/1920. Advogado (formou-se pela Faculdade Nacional de Niterói em 1946), fã de jazz e literatura russa, boêmio e bon vivant, foi descoberto aos 15 anos por Neném Prancha, massagista do Botafogo, jogando na praia de Copacabana. Entre idas e vindas, Heleno começou no Botafogo em 1939, assinando seu primeiro contrato profissional em 02/04/1940. Dois anos depois, já era titular indiscutível e destaque por ser goleador, indisciplinado e polêmico. Era amado pela sua torcida e odiado pelas demais e pelos adversários em campo e vivia uma relação de amor e ódio com seus colegas de clube.

Galã e boa pinta, não suportava quando alguém o chamava pelo apelido que ganhou na metade dos anos 40: “Gilda”. O filme com esse mesmo nome foi produzido pela Columbia Pictures em 1946 e era estrelado pela atriz Rita Hayworth, que era uma personagem linda e com temperamento explosivo. Assim, quem quisesse irritar Heleno, era só gritar o apelido, mas ele logo respondia em gritos: “Gilda é a mãe!”

Suas estatísticas foram aumentando ano a ano, até atingir o ápice: 42 gols em 39 partidas pelo alvinegro, em 1946. Conforme seus números cresciam, sua soberba também, minando completamente o relacionamento com os companheiros. Assim, sem conquistar nenhum título e sem mais clima no clube, foi para o Boca Juniors (ARG) em 1948, na maior transferência envolvendo um clube brasileiro até então. Deixou o Glorioso com 204 gols em 233 jogos, uma média de 0,87. O único relato digno dessa passagem na Argentina é um possível envolvimento com Eva Perón, a Evita.

De volta ao Brasil, foi para o Vasco da Gama, conquistando o seu único Campeonato Carioca, em 1949. Mas, novamente após desentendimentos (dessa vez com o técnico cruzmaltino Flávio Costa), foi jogar no Junior de Barranquilla (COL), inspirando diversas crônicas de Gabriel García Márquez. De volta ao Brasil, jogou no Santos entre 1951 e 1952, indo jogar pelo América em 1953. Pelo Mecão, Heleno disputou apenas uma partida, sendo expulso com 25 minutos da etapa inicial, por ofensas a seus próprios companheiros de equipe. Heleno saiu sob vaias em seu único jogo no Maracanã e decidiu encerrar a carreira. Tempos depois, por indicação do técnico de basquete Kanela, tentou voltar a jogar pelo Flamengo, mas se desentendeu com os jogadores rubro-negros em um jogo treino, não foi aceito no clube e desistiu de vez.

● Continuando a vida desregrada, sua saúde mental foi completamente minada, com o vício em éter e lança-perfume, além de ter contraído sífilis. Certa vez, já ruim da cabeça, tentou se eletrocutar na rede elétrica de General Severiano, em um treinamento do Botafogo. Foi internado pela primeira vez em 1952, em uma clínica na Tijuca. A doença avançou e deixou o craque louco. A insanidade e o estado precário de sua saúde o levaram ao ser internado em definitivamente em 1953, com o apoio da família, em um um sanatório em Barbacena (MG), onde veio a óbito no dia 08/11/1959.

Sua vida foi retratada no livro “Nunca houve um homem como Heleno”, do jornalista e escritor Marcos Eduardo Neves. Em 2012 Rodrigo Santoro estrelou um filme chamado “Heleno”, que conta a fantástica e triste história do craque.

● Heleno não foi tão grande quanto poderia ter sido não só por sua forte personalidade. Em seu período pelo Botafogo, os gols de Heleno poderiam ter levado o clube a conquistar vários títulos cariocas, mas certamente era muito difícil concorrer com o Vasco e seu Expresso da Vitória, liderado por Ademir de Menezes.

Estreou pela seleção em 1944, mas seu auge coincidiu justamente com o período que as Copas do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas devido a 2ª Guerra Mundial. Se os torneios fossem realizados, certamente Heleno de Freitas seria um dos destaques do Brasil. Já em 1950 não foi convocado pelo técnico Flávio Costa, seu desafeto, também devido à passagem pelo futebol colombiano, que não era reconhecida pela FIFA e, portanto, não poderia ter jogadores selecionados para uma competição organizada por ela. Fez 18 partidas pela Seleção Brasileira marcando 19 gols, tendo sido artilheiro do Copa América de 1945, com 6 gols.

Títulos de Heleno de Freitas:

Pela Seleção Brasileira:
– Copa Roca em 1945.
– Copa Rio Branco em 1947.
– Artilheiro da Copa América em 1945 com 6 gols.

Pelo Botafogo:
– Torneio Inicio do Campeonato Carioca em 1947.
– Campeonato Carioca de Aspirantes em 1944 e 1945.
– Campeonato Carioca de Amadores em 1944, 1943 e 1944.
– Copa Burgos (em 16/02/1941, com a vitória de 7 x 4 contra o España-MEX).
– Taça Prefeito Dr. Durval Neves da Rocha (em 15/01/1942, com a vitória de 3 x 1 contra o Bahia).
– Artilheiro do Campeonato Carioca de 1942 com 28 gols.

Pelo Vasco da Gama:
– Campeonato Carioca em 1949.
– Campeonato Carioca de Aspirantes em 1949.

Pelo Santos:
– Taça Santos em 1952.
– Torneio FPF em 1952.
– Quadrangular de Belo Horizonte em 1951.

… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”

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… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”


(Imagem localizada no Google)

● Luigi Riva nasceu em 07/11/1944, no vilarejo de Leggiuno, na província de Varese, localizado na região da Lombardia, norte da Itália. Foi concebido em uma família humilde. Sua mãe, Edis, era dona de casa e seu pai, Ugo, foi cabeleireiro e alfaiate. O menino perdeu o pai aos nove anos, em um acidente de trabalho em uma fábrica, quando um pedaço de metal se soltou de uma máquina e perfurou sua barriga. Sua mãe passou a trabalhar na indústria têxtil e complementava seus ganhos como faxineira. Luigi foi enviado para o colégio interno, mas sempre fugia dizendo que os pobres eram humilhados na instituição. Sua mãe morreu quando ele tinha 16 anos. Teve que cuidar sozinho das duas irmãs mais novas. Esse fato lhe acendeu a vontade, ou melhor, a necessidade de vencer: o salário de eletricista não bastava e ele complementava jogando pelo Laveno Mombello (1960-1962), uma equipe amadora, ganhando 3 dólares por partida, desde que vencesse o jogo. Apesar de seus esforços, uma das irmãs faleceu de leucemia e a outra ficou paralítica após um acidente automobilístico. Gigi nunca deixou transparecer seus problemas pessoais e, pela sua introspecção, ganhou também o apelido de “Homem do Lago”, já que também gostava de pescar às margens do Lago Maggiore.

Só pôde se dedicar exclusivamente ao esporte na temporada de 1962/63, quando foi aceito no time do Legnano, equipe profissional da Serie C1. Na temporada seguinte, foi contratado pelo Cagliari, que jogava a Serie B, por 37 milhões de liras. Mesmo com saudade de casa, pois na época Riva tinha ainda apenas 19 anos de idade, permaneceu no Cagliari porque sabia que ali seria o seu lugar. Fez sua estreia no time em uma derrota por 1 x 2 para a Roma, em 13/09/1964 e logo em sua primeira temporada, a equipe consegue o acesso para a Serie A pela primeira vez em sua história. No primeiro ano na elite, em 1964/65, conseguiu um honroso 6º lugar, com 9 gols de Riva. Imediatamente passou a fazer parte da seleção.

Na temporada 1966/67 marcou incríveis 18 gols em 23 jogos, levando o time novamente à 6ª colocação, a apenas 9 pontos da campeã Juventus.

Em 1967/68, solidificou sua posição na seleção e venceu a Euro68. No ano seguinte, foi novamente o goleador e levou seu time ao vice-campeonato. Recebeu uma proposta da Internazionale, que pagaria US$ 2 milhões e ainda financiaria a construção de um moderno hospital na cidade, para esfriar uma eventual fúria da torcida. A recusa da proposta foi explicada por um dirigente: “até agora, só o atum nos deu fama. Com Riva, a Sardenha tem a admiração de toda a Itália”. Gigi Riva não teria outra forma melhor de retribuir o carinho. Na temporada seguinte à oferta, foi novamente o artilheiro e levou o Cagliari ao título da Serie A 1969/70. Mesmo com o Scudetto, novamente fraturou a perna e mesmo assim teve moral o suficiente para ser chamado para a Copa do Mundo de 1970.

Na UEFA Champions League de 1970/71, Riva marcou 3 gols nas 4 partidas do time. Após eliminar o Saint-Étienne, caiu frente ao Atlético de Madrid na fase seguinte.
Nos anos seguintes, o Cagliari continuou em boas posições no campeonato. Em 1973, Riva recusou nova proposta de um gigante, dessa vez da Juventus.

Mas em 1976 ele sofreu a lesão que abreviaria sua carreira, ao machucar o tendão direito. Infelizmente, o Cagliari não conseguiu se virar sem seu craque e foi lanterna e rebaixado na Serie A de 1975/76. Riva ficou dois anos sem jogar até assumir que não poderia voltar e anunciou o fim da carreira. O corpo arrebentado por lesões o obrigou a encerrar a carreira com apenas 32 anos, com o saldo de 156 gols marcados em 289 partidas disputadas na Serie A, um enorme feito na época de grandes retrancas do país (“Cattenaccio”). Após encerrar a carreira, continuou morando em Cagliari, inclusive fundando uma escolinha de futebol com o seu nome, em 1976 (primeira escolinha de futebol na Sardenha). Foi presidente do clube em 1986/87 e foi dirigente da Federação Italiana de 1990 a 2013. Em 05/01/2005, o Cagliari aposentou a camisa nº 11 em sua homenagem. Foi laureado como cidadão honorário da cidade em 09/02/2005. O cantor e compositor Piero Marras, de Nuoro, na Sardenha, lhe dedicou a canção “Quando Gigi Riva tornerà” (Quando Gigi Riva retornará).

● Estreou na seleção em 27/06/1965, em amistoso contra a Hungria, perdendo por 2 a 1, logo após sua primeira temporada na Serie A, sendo o primeiro jogador de sua equipe a defender a seleção. Poderia ter jogado a Copa do Mundo de 1966, ainda mais porque um grande concorrente não poderia ser convocado. José João Altafini (o brasileiro Mazzola, campeão do mundo em 1958) não poderia mais defender a Squadra Azzurra, pois a FIFA passou a proibir estrangeiros que já tivessem atuado pelo seu país de origem. Mas uma fratura na perna e, principalmente, a inexperiência impediu Riva de ser convocado. Foi para a Inglaterra apenas como um jogador extra, para completar o time em treinamentos. Nos treinos, voava baixo, deixando o técnico Edmondo Fabbri bastante arrependido por não tê-lo inscrito na competição.

“Prefiro não saber porque Fabbri não me chamou. Por outro lado, eu me esforçava para valer nos rachões, que era a única maneira que eu tinha para extravasar. Eu marcava um gol atrás do outro. Estava em plena forma e furioso!” — Gigi Riva

Foi um dos heróis do título da Itália na Eurocopa de 1968, jogando apenas o replay da final contra a Iugoslávia, mas marcando o gol que abriu o placar e encaminhou o título italiano. Foi escolhido para a seleção do torneio, mesmo tendo disputado apenas uma partida.

Nas eliminatórias, marcou 7 dos 10 gols que garantiram a Azzurra na Copa de 1970. No torneio, passou toda a primeira fase sem marcar, mas fez 2 mas quartas de final, contra os anfitriões mexicanos, na virada por 4 x 1. Faria outro gol no 4 x 3 da lendária prorrogação na semifinal, contra a Alemanha Ocidental. Na final contra o Brasil, Riva desdenhou do adversário, dizendo que iria acabar com as pretensões da “ridícula Seleção Brasileira”. Mesmo com a goleada sofrida por 4 a 1, enquanto os colegas de equipe demonstravam claro esgotamento, Riva foi um dos poucos italianos a lutar até o fim da partida, mas nada pôde fazer. Mesmo com a condição física já prejudicada, ainda se despediu de sua seleção disputando a Copa de 1974, mas não marcou nenhum gol e a Itália caiu ainda na primeira fase.

É considerado um dos melhores jogadores da história da Itália, sendo um atacante completo, oportunista e com faro de gol. Era muito bom na conclusão das jogadas. Começou jogando como ponta esquerda, mas posteriormente foi adiantado para ser centroavante, se destacando mais. Por sua velocidade, potência e precisão na frente do gol, o jornalista Gianni Brera o apelidou de “Rombo di Tuono” (Estouro do Trovão). Chutava preferencialmente com a perna esquerda e tinha um chute muito forte e preciso. Segundo o técnico Manlio Scopigno, campeão com o Cagliari em 1970, “o pé direito de Gigi Riva só servia para entrar no bonde”. Mas ele provou que também era capaz de marcar gols com o pé direito e de cabeça, devido à sua presença física e bom posicionamento. Apesar de ser forte, tinha muita habilidade, drible e bom passe. Também era muito veloz, se destacando com grandes arrancadas a gol. Era um excelente cobrador de pênaltis.

Na eleição da Bola de Ouro da revista France Football, Gigi Riva foi o 13º em 1967, 6º em 1968 e em 1969, foi o segundo melhor jogador do ano, perdendo para Gianni Rivera por apelas 4 pontos. Em 1970, foi o terceiro melhor, atrás de Gerd Müller e Bobby Moore.

VEJA MAIS:
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Feitos e premiações de Gigi Riva:

– Campeão da Serie A da temporada 1969/70 com o Cagliari.
– Campeão da Eurocopa de 1968 com a Itália.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1970 pela Itália.
– Artilheiro da Serie A por três vezes: 1966/67 (18 gols), 1968/69 (20 gols) e 1969/70 (21 gols).
– Artilheiro da Coppa Italia também por três vezes: 1964/65 (3 gols), 1968/69 (9 gols) e 1972/73 (8 gols).
– Maior artilheiro da história da Squadra Azzurra com 35 gols em 42 jogos (média de 0,8 gols por partida).
– Um dos seis jogadores a marcar 4 gols no mesmo jogo pela seleção italiana.
– Maior Artilheiro da História do Cagliari: 164 gols em 315 jogos (na Serie A) e 213 gols em 392 jogos (no total).
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1968.
– Eleito o 33º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 24º Maior Jogador do Século XX pelo Guerín Sportivo em 1999.
– Eleito o 74º Melhor Jogador do Século XX pela revista World Soccer.
– Eleito o 43º Melhor Jogador Europeu do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 8º Melhor Jogador Italiano do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 87º Melhor Jogador da História das Copas pela revista Placar em 2006.
– Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Desde 2005 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Em 2011 entrou para o Hall da Fama do futebol italiano, sendo o primeiro homenageado como “veterano”.
– Eleito para o Hall da Fama dos esportes na Itália em 2015.
– Foi nomeado duas vezes como “Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana”, por iniciativa dos respectivos presidentes da Itália, em 30/09/1991 e 12/07/2000.
– Ganhou também a homenagem do Comitê Olímpico Italiano, de “Estrela de Ouro do Mérito Esportivo”, em 23/10/2006, por ser dirigente da seleção durante o título da Copa do Mundo de 2006.
– Em 03/11/2016, em Roma, ganhou a “Medalha de Ouro do Mérito Esportivo”.

“Não entro em campo para outra coisa que não seja marcar meus gols. Prefiro jogar mal e marcar do que jogar apenas muito bem.” — Gigi Riva

… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães

Três pontos sobre…
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães


(Imagem: Hamburgo)

● Terceiro filho de Anny e Erwin Seeler (ex-jogador do Hamburgo), Uwe nasceu em Hamburgo, norte da Alemanha, em 05/11/1936 (exatamente 80 anos atrás). Na sua carreira, defendeu apenas duas camisas: Hamburger SV (clube de sua cidade natal) e a seleção da Alemanha Ocidental. A cidade retribuiu e o transformou em uma celebridade e cidadão honorário desde 2003. É considerado o melhor jogador da história do Hamburgo e um verdadeiro símbolo. Começou nas divisões de base aos dez anos e toda a vida recusou diversas propostas de transferência, tanto de clubes alemães, quanto de equipes estrangeiras. Pagou um preço por essa lealdade, conquistando apenas dois títulos em dezenove temporadas no clube (1953 a 1972). Foi campeão alemão da temporada 1959/60 (vice em 1957 e 1958) e conquistou a Copa da Alemanha em 1962/63 (3 x 0 no Borrussia Dortmund, com Seeler fazendo os três gols – foi vice em 1956 e 1967). Na Liga dos Campeões de 1960/61, ao lado de seu irmão Dieter Seeler, foi até as semifinais onde perdeu para o Barcelona (que seria vice). Teve a chance de um título continental, mas perdeu a final da Recopa Europeia de 1968 para o Milan (foi artilheiro da competição).

Pelo Hamburgo, marcou 764 gols em 810 jogos (ambos recordes difíceis de serem batidos no clube). Foi oito vezes o artilheiro do campeonato alemão (1955: 28 gols; 1956: 32 gols; 1957: 31 gols; 1959: 29 gols; 1960: 36 gols; 1961: 29 gols; 1962: 28 gols), sendo o primeiro goleador da Bundesliga (criada em 1963/64) com 30 gols. Foi o artilheiro da Copa da Alemanha em 1956 e 1963 e três vezes eleito como o jogador alemão do ano (1960, 1964 e 1970). No total da Liga Alemã, anotou 404 gols em 476 partidas, sendo 137 gols em 239 jogos pela Bundesliga. Recebeu um único cartão vermelho na carreira, em 1970. Foi eleito o terceiro melhor jogador do ano de 1960 pela Bola de Ouro da revista France Football (primeiro alemão no pódio do prêmio). Pelé o nomeou para a polêmica lista “FIFA 100” (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).

Era um centroavante baixo para os padrões alemães, ainda mais para a época. Tinha só 1,69 m, mas muita força física. É considerado o precursor do homem de área germânico, o primeiro dos “Panzer” (tanques de guerra do país). Seeler tinha muita potência, brigava por espaço na área adversária e o conquistava, chegando com relativa facilidade ao gol. Seus gols eram simples, sem dribles, classe, efeitos, mas no duelo por espaço e na bola aérea (apesar de não ser alto) ele era imbatível. Era chamado pelos compatriotas de “Rei dos 18 metros” (o tamanho da grande área). Sua raça e sua dedicação em campo eram contagiantes e sua eficiência impressionava. Ele acabou ensinando às gerações futuras de atacantes que o jogo de corpo e a proteção da bola era a saída para quem não nasceu craque. Olivier Bierhoff e Miroslav Klose, dentre outros, aprenderam direitinho.

Seis anos após ter se aposentado, em 23/04/1978, disputou uma partida pelo Cork Celtic, a convite da Adidas, de seu amigo Adi Dassler. Marcou os dois gols na derrota por 2 x 6 contra o Shamrock Rovers, pelo campeonato da Irlanda.

● Na seleção, lhe faltou um pouco de sorte, pois a Alemanha Ocidental venceu as Copas de 1954 e 1974 e Uwe Seeler disputou como titular quatro Copas do Mundo (1958, 1962, 1966 e 1970 – 21 partidas no total), ou seja, todas as Copas entre um título e outro. Sua melhor classificação foi o vice-campeonato em 1966, quando perdeu na prorrogação para a anfitriã Inglaterra. Foi 3ª colocado na Copa de 1970 e 4º em 1958. Curiosamente, possui o recorde de marcar gols em quatro Copas do Mundo diferentes, em todas que disputou, juntamente com Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo. Era o capitão em 1966 e em 1970. Quando se aposentou, em 1972, a Federação de Futebol Alemã lhe concedeu a honraria de “capitão honorário da seleção”. É o único com tal honraria que nunca conquistou títulos pelo seu país.

Em fevereiro de 1965 sofreu uma ruptura do tendão de aquiles da perna direita e chegou a ter o fim da carreira anunciada. Mas ele voltou a jogar em agosto, às vésperas da convocação da seleção para o jogo contra a Suécia, para as eliminatórias da Copa de 1966. Foi selecionado, jogou e fez o gol da vitória dos alemães. Na Copa de 1970, fez 3 gols, mas foi obrigado a jogar fora de suas características, chamando a marcação e abrindo espaço para que surgisse um novo matador e artilheiro à sua altura: Gerd Müller.

Em 1987, na primeira Copa Pelé de Masters, a Alemanha tinha um “pequeno barril” no ataque, causando o riso de todos. Quando o “tiozinho” tocou na bola, todos ficaram estupefatos e viram que o velhote sabia das coisas. Sua equipe não foi muito longe no torneio, mas ele foi um dos destaques. No total, pela Alemanha Ocidental, fez 72 jogos e marcou 43 gols. O total da carreira foi 815 gols em 882 jogos.

● Uwe se casou em 18/02/1959 com Ilka (que conheceu no réveillon de 1953) e tem três filhas e sete netos. Um deles, Levin Öztunalı, de apenas 20 anos, é um meia que atua no Mainz 05.

Em 1972, Uwe interpretou a si mesmo em um filme de comédia alemã chamado “Willi wird das Kind schon schaukeln” (algo como “Willi vai fazer alguma coisa certa”). No fim do filme, um time de futebol chamado Jungborn faz uma contratação espetacular: o próprio Seeler. Todo mundo está em festa, mas o técnico do time, Willi Kuckuck (Heinz Erhardt), fica perplexo e pergunta: “Quem diabos é esse cara?”. Piada pronta, pois Seeler era um dos rostos mais conhecidos do país na época.

Em 1995, assumiu a presidência do Hamburgo, renunciando ao mandato em 1998 devido a um escândalo financeiro. Seeler não estava envolvido, mas assumiu a responsabilidade, pois funcionários indicados por ele foram responsáveis pelas irregularidades.

Em 24/08/2005 foi inaugurada uma escultura de seu pé direito, orçada em 250 mil euros e doada por um empresário alemão. Situada em frente a o estádio do Hamburgo, o Imtech Arena (antigo Volksparkstadion), com quatro toneladas, 5,15 metros de largura e 3,50 de altura, o monumento mostra um pé ferido e calejado por tantos esforços.

Publicou sua autobiografia em 2003, chamada “Obrigado, Futebol!”. Atualmente, vive em Norderstedt, perto de Hamburgo.

… Luís Figo

Três pontos sobre…
… Luís Figo


(Imagem localizada no Google)

● No dia 04/11/1972 nascia em Lisboa o craque Luís Filipe Madeira Caeiro Figo, ou, simplesmente, Luís Figo. Vindo de uma família pobre, começou a dar seus primeiros passos no União Futebol Clube “Os Pastilhas”, um time do bairro da freguesia da Cova da Piedade. Logo depois, se mudou para a freguesia do Laranjeiro e chamou a atenção de olheiros do Sporting Clube de Portugal, que o contratou. Começou a jogar nos “leões” aos 17 anos, em 1989 e venceu apenas a Taça e a Supertaça em 1995. Nesse ano, Figo decidiu sair do Sporting por problemas na renovação contratual. o Campeonato Italiano ainda estava no auge e vários clubes estavam atrás do português. Mas enquanto o clube o vendeu para a Juventus, ele já tinha assinado com o Parma. Foi punido pela Federação Italiana de Futebol e proibido de jogar no futebol do país por dois anos. Assim, o Barcelona entrou no negócio e contratou o meia. Na Catalunha, chegou com a responsabilidade de substituir Michael Laudrup e cativou a exigente torcida do Barça e foi bicampeão espanhol (1997/98 e 1998/99), venceu a Supercopa da Espanha em 1996 e a Recopa Europeia em 1996/97. Curiosamente, sua formação no Sporting foi como meio-campista e só passou a jogar pelos lados no Barcelona.

Em 2000 foi protagonista de uma das transferências mais controversas da história, trocando o Barcelona onde era o craque (ao lado de Rivaldo), líder, capitão e ídolo, pelo maior rival, o Real Madrid. Dizia se sentir desvalorizado pelos dirigentes do Barça e o presidente merengue Florentino Pérez pagou a cláusula de rescisão de Figo, com 60 milhões de euros, recorde de valor mais alto pago por um jogador naquela época. A torcida do Barça se sentiu traída e alguns meses depois (23/10/2000), em visita do Real Madrid ao estádio Camp Nou, a cada escanteio batido pelo ex-ídolo (foram cinco), a torcida blaugrana atirava objetos em campo, como: moedas, celulares, bolas de golfe e até mesmo cabeças assadas de um galo e de um porco. Posteriormente, o craque disse: “Talvez eu tenha sido o único jogador do mundo que jogou com mais de 100 mil pessoas contra. Senti medo em vários momentos da partida, pois estava assustado e com medo de que algum louco perdesse a cabeça”.

Com a camisa 10 dos “blancos”, enfim conquistou a UEFA Champions League em 2001/02, além da Copa Intercontinental e da Supercopa Europeia em 2002, do Campeonato Espanhol em 1997/98 e 2002/03 e da Supercopa da Espanha em 2001 e 2003. Figo foi o primeiro dos “Galacticos”, apelido dado à equipe na época em que jogavam juntos estrelas como o próprio Figo, Zinedine Zidane, Ronaldo, David Beckham, Roberto Carlos e Raúl. Essa equipe ficou marcada na história pelos craques, mas infelizmente não conquistou nenhum título relevante com todas as feras juntas.

Deixou o Real após pequenas desavenças com o então técnico, o brasileiro Vanderlei Luxemburgo. Em 2005 foi para a Internazionale de Milão, onde voltou a usar a camisa nº 7. Mesmo não atuando em um grande número de jogos, foi importante para a equipe. No clube “nerazzurri” foi tetracampeão italiano (2005/06 a 2008/09), campeão da Coppa Italia de 2006 e da Supercopa Italiana em 2005, 2006 e 2008. Se aposentou em 31/05/2009, jogando no estádio Giuseppe Meazza contra a Atalanta, com a Inter já campeã italiana. Nesse jogo, Javier Zanetti entregou a braçadeira de capitão a Luís Figo, como homenagem.

● Foi o líder de uma geração dourada da seleção de Portugal, campeã do Europeu Sub-17 em 1989, campeã do Mundial Sub-20 em 1991 e vice-campeão do Europeu Sub-21 em 1994, ao lado dos parceiros Rui Costa e João Pinto. Ainda em 1991, estreou pela seleção principal em um amistoso empatado em 1 a 1 com Luxemburgo. Jogou pelo seu país nas Eurocopas de 1996, 2000 (3º lugar) e 2004 (vice) e nas Copas do Mundo de 2002 e 2006 (4º lugar). Após a Euro 2004, na qual Portugal perdeu a final por 1 a 0 para a Grécia, Figo chegou a anunciar que não mais jogaria pela seleção. Mas quando a nação lusa precisou dele, nas rodadas finais das eliminatórias para a Copa de 2006, ele voltou e ajudou sua equipe na qualificação para o torneio. Foi o capitão de Portugal nessa Copa, levando a equipe às semifinais (algo que eles não conseguiam desde 1966), mas perderam para a França por 1 x . Na decisão do terceiro lugar, foi poupado pelo técnico Luiz Felipe Scolari, mas entrou aos 32 minutos do segundo tempo e ainda deu a assistência para o gol de honra do seu time, na derrota para a Alemanha por 3 x 1. Fez 125 jogos pela seleção de Portugal (por enquanto perde apenas para Cristiano Ronaldo) e marcou 32 gols (quarto maior artilheiro).

● Jogou profissionalmente por 20 anos (1989 a 2009) e se aposentou em 31/05/2009. Em 19 anos atuando nas equipes principais de seus clubes, a pior classificação final jogando nas ligas foi o 4º lugar (apenas 2 vezes). Conquistou a Bola de Ouro da revista France Football em 2000 e foi eleito o Melhor do Mundo pela FIFA em 2001. Pelé o nomeou para a polêmica lista FIFA 100 (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004). Foi eleito o jogador português do ano em 1995, 1996, 1997, 1998, 1999 e 2000 e só não foi mais porque esse prêmio deixou de existir em 2000. Ficou em 30º lugar na lista dos 100 maiores portugueses de todos os tempos, feita no programa “Os Grandes Portugueses”. Seus ídolos são Diego Maradona, Zico, Fernando Chalana e Paulo Futre. Seus marcadores mais difíceis, segundo ele, foram Roberto Carlos e Bixente Lizarazu.

É embaixador da UNICEF e em 05/07/2004 se tornou “Oficial da Ordem do Infante D. Henrique”, por prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no exterior, com a expansão da cultura portuguesa, sua história e seus valores. Na curiosa modalidade automobilística “A1 Grand Prix” (que ocorria nas férias da Fórmula 1 e durou de 2005 a 2009), em que cada país tinha uma equipe com “padrinhos”, os padrinhos da equipe portuguesa “A1 Team Portugal” eram Luís Figo e o técnico Carlos Queiroz. Uma de suas grandes paixões é colecionar relógios. É embaixador dos relógios IWC, uma das marcas mais exclusivas de relógios de luxo do mundo. Fez uma participação especial como ator no filme português “Second Life” (2009), de Miguel Gaudêncio e Alexandre Valente. Após se aposentar, o ex-craque cuida de sua fundação para crianças carentes e faz alguns trabalhos como modelo. Em janeiro de 2015, Figo anunciou sua intenção de se candidatar a presidente da FIFA, mas desistiu e nem se inscreveu na disputa.

Certa vez Figo confessou que aprendeu a falar inglês para conquistar sua atual esposa. Apesar de nunca ter morado em um país de língua inglesa, quando jogava no Barcelona ele fez aulas do idioma para aprender a seduzir a linda modelo sueca Helen Svedin, com quem é casado desde 2001 e tem três filhas: Daniela (nascida em 29/03/1999), Martina (23/02/2002) e Stella (09/12/2004). Pep Guardiola é padrinho de uma delas, devido à grande amizade que se formou entre ele e Figo na época do Barça.

… Maradona e algumas curiosidades

Três pontos sobre…
… Maradona e algumas curiosidades


(Imagem: Pinterest)

● Seus apelidos mais comuns são “D10S”, “El 10”, “Maradó”, “El Pelusa”, “El Pibe de Oro” e “Barrilete Cósmico”.

● Todo jogador promissor que é revelado na Argentina é chamado de “novo Maradona”, dentre eles Ariel Ortega, Marcelo Gallardo, Juan Román Riquelme, Leandro Romagnoli, Javier Saviola, Pablo Aimar, Andrés D’Alessandro e até Lionel Messi.

● Em entrevista em janeiro de 2005, Maradona confessou aos risos que na Copa de 1990, o lateral esquerdo brasileiro Branco tomou uma água oferecida pelo massagista da equipe argentina nas oitavas de final. Porém, a garrafa também continha tranquilizando, deixando o brasileiro abatido em campo. Debochando, Diego falou que também ofereceu a mesma água ao meia Valdo e se desesperou quando seu companheiro Julio Olarticoechea estava prestes a beber na mesma garrafa. Esse caso ficou conhecido como o episódio da “água batizada”.

● Em parte das décadas de 1970 e 80, a seleção argentina inscrevia nas competições os jogadores por ordem alfabética. Por exemplo, o goleiro Ubaldo Fillol foi o número 5 na Copa de 1978 e 7 em 1982. Assim, em duas partidas da Copa América de 1979, Maradona jogou com a camisa nº 6. Aos 19 anos, ainda não possuía status na seleção e foram as únicas vezes em sua carreira que não jogou com a camisa 10.

● Maradona começou o namoro ainda adolescente com Claudia Villafañe, uma garota que morava do lado da sua casa, quando já havia ganhado dinheiro o suficiente para levar sua família do bairro de Villa Fiorito para uma casa em La Paternal, perto do estádio do Argentino Juniors. O estádio hoje leva seu nome. Viveram juntos durante muitos anos antes de se casarem. Em 1987 nasce sua filha Dalma (atriz, cantora e ex-mulher do acessor de imprensa do pai, Fernando Molina), batizada com o mesmo nome da mãe de Diego. Em 1989, casam-se em uma cerimônia luxuosa no Luna Park, um estádio de Buenos Aires que é palco de lutas de boxe. No mesmo ano nasce sua segunda filha, Gianinna. Diego e Claudia se separaram há alguns anos, mas ela ainda segue encarregada de alguns negócios dele.

● Em setembro de 1986, a ex-empregada de Diego, Cristina Sinagra, denunciou que ele é o pai do filho que ela teve. A paternidade é confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais seria assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003. Nascido em Nápoles e hoje com 30 anos, Diego Jr. começou jogando nas divisões de base do Napoli e se transferiu para o Genoa ainda nas divisões de base. Mas só foi ter algum sucesso depois de passar a jogar futebol de areia (joga na seleção italiana da modalidade). Ao contrário do pai, ele é destro e torcedor do River Plate.

● A quarta filha de Diego é Jana Maradona. “El Pibe” conheceu sua mãe, Valeria Sabalain, quando ela era bar-woman de um estabelecimento. Ela deu a luz à Jana e, quando a menina tinha 12 anoz, entrou na justiça e ganhou o caso. Mas a menina disse em raras entrevistas que não quer apenas ser reconhecida pelo pai e que ele lhe pague as contas, como faz. Quer que ele esteja presente na vida dela, o que ele não faz.

● Com pouco mais de três anos, Diego Fernando Maradona Ojeda é o filho mais novo de “El Diez”, cuja mãe é Verónica Ojeda. A criança tem alguns problemas de saúde e já foi até operada. A mãe reclama que o pai se esqueceu do menino, enquanto sua irmã Gianinna sempre dá todo apoio ao irmão caçula.

● Na parte superior do braço direito, Maradona fez uma tatuagem do revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara, o que foi amplamente copiado pelos seus fãs. Também tem uma tatuagem do líder cubano Fidel Castro em sua perna esquerda e disse que quer fazer uma do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, outro líder de esquerda da América Latina (também é amigo do presidente boliviano Evo Morales). Também tem nos braços os nomes de suas duas filhas, Dalma e Gianina, e do seu neto Benjamín.

● Os brincos de diamante são uma peculiaridade no estilo de Maradona. Mas em 2009, quando o ex-jogador foi à Itália para se submeter a um tratamento de emagrecimento, as autoridades confiscaram um brinco para pagar uma dívida de milhões de euros em impostos que ele devia desde quando jogava no Napoli, na década de 1980. Posteriormente, o ex-atacante do Palermo e grande admirador de Maradona, Fabrizio Miccoli, através de um agente, comprou o brinco em um leilão por 36.400 dólares (mais de três vezes seu valor). O atacante o leva como amuleto nos jogos, mas disse que se alguma vez se encontrasse com Maradona, lhe devolveria sua joia.

● Maradona estreou em 15/08/2005 como apresentador de televisão. Ele assumiu o comando do talk show “La Noche Del Diez” (“A Noite do Dez”), exibido pelo Canal 13 na Argentina. O programa durou todo o segundo semestre. Nas 13 edições, recebeu figuras midiáticas de todo o mundo, como Xuxa, Mike Tyson e Fidel Castro. Mas seu convidado de honra no primeiro programa foi o desafeto Pelé. A noite foi marcada por um inesperado bom humor e amistosidade entre ambos, que cantaram juntos e terminaram trocando passes de cabeça, emocionando a plateia. Como curiosidade, foi nos bastidores do programa que sua filha Giannina conheceria pessoalmente Sergio Agüero, com quem iniciaria um relacionamento amoroso e teria um filho, chamado Benjamín.

● Em 1982, antes de se consagrar mundialmente, Diego procurou o brasileiro Maurício de Sousa, interessado em ter um personagem de histórias em quadrinhos, inspirado no sucesso da Turma do Pelezinho. Empolgado, Maradona até rascunhou o personagem. Ainda antes da Copa de 1982, se encontrou com o cartunista, pediu que o personagem chamasse “Dieguito” ao invés de “Maradoninha” e contou passagens de sua infância para servirem de inspiração para as histórias. Maurício criou ainda outros onze personagens da “Turma do Dieguito” e séries inteiras para jornais, revistas e até desenho animado, mas foram engavetados com sucessiva mudança de clubes de Maradona nos anos seguintes, o que obrigaria uma revisão nas histórias. As notícias do envolvimento do ídolo com as drogas fez Maurício de Sousa desistir de vez do projeto e entregar todo o material à então esposa de Diego, Claudia Villafañe. Em 2005, no programa televisivo “La Noche del Diez”, “Dieguito” apareceu novamente, batento bola com “Pelezinho”, assim como os dois gênios que os inspiraram fizeram no programa.

● Maradona e Pelé têm se enfrentado historicamente na preferência dos torcedores para eleger o melhor jogador de todos os tempos. Em 2000, a FIFA elegeu o melhor do século XX. Para os torcedores, Maradona foi escolhido. Mas entre os especialistas, Pelé venceu. Maradona deixou a premiação da FIFA antes de Pelé receber o prêmio. Pelé já disse mais de uma vez: “Se ele acredita que é o melhor jogador do século, o problema é dele”.

● Em 2005, foi lançado o filme “Amando a Maradona” – Una película sobre el amor incondicional”, uma homenagem de Javier Vásquez que reúne imagens pouco conhecidas, testemunhos de pessoas próximas a Diego, de adeptos da Igreja Maradoniana e de diversos outros fãs. O cartaz do filme mostra uma seleção argentina composta por onze “Maradonas”, com fisionomias de diferentes épocas de sua vida. Já em 2007, foi lançado um filme dirigido pelo diretor italiano Dino Risi, com o nome de “Maradona – La Mano de Dios”. O cineasta sérvio Emir Kusturica também produziu o documentário biográfico do craque “Maradona by Kusturica”, que estreou em 2007, em Cannes. Diego também já foi homenageado em diversas canções, com destaque para composições do cantor franco-espanhol Manu Chao, que compôs “Santo Maradona” e “La Vida Tómbola” (essa segunda é a favorita de Diego e faz parte da trilha sonora do filme de Kusturica).

● O fundo poço da vida de “El Pibe” foi em 2003, quando o maior ídolo do futebol argentino esteve entre a vida e a morte por causa de uma overdose – até hoje não confirmada pelos médicos. De acordo com especialistas apenas 40% de seu coração tem funcionamento normal devido aos anos de consumo de cocaína.

● Em 2005, fez uma cirurgia de redução de estômago na cidade colombiana de Cartagena. O ex-craque ficou com 75 kg, perdendo cerca de 50 kg após a cirurgia.

● Em fevereiro de 2010, Maradona voltou a um hospital, mas não por motivo de drogas, álcool ou cirurgia para perder peso. Sua cadela de estimação (uma shar-pei chamada Bella) mordeu seu lábio superior e ele teve de ser submetido a uma cirurgia plástica para reconstruir seu lábio superior. Foi preciso lhe dar 10 pontos no local. Mais tarde, disse que era tudo culpa sua, por tentar dar um beijo de boa noite na cachorra enquanto ela dormia. Depois da mordida, Maradona passou a ter um novo visual, deixando crescer a barba.

… Maradona: lenda na seleção Argentina

Três pontos sobre…
… Maradona: lenda na seleção Argentina


(Imagem: Pinterest)

● Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o técnico César Luis Menotti decidiu não convocá-lo para a Copa na própria Argentina. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).

“Poderia ter jogado no mundial de 1978. Estava afinado como nunca. Chorei muito, senti como uma injustiça. (…) Quando se deu a notícia [de que seria cortado] vieram alguns a me consolar: Luque, um grande tipo, o Tolo Gallego… e ninguém mais. Nesse momento eram demasiado grandes para gastar uma palavra com um garoto. (…) O pior foi quando voltei a minha casa. Parecia um velório. Chorava minha velha, meu velho, meus irmãos… esse dia, o mais triste da minha carreira, jurei que iria ter revanche. Foi a maior desilusão da minha vida, me marcou para sempre.”

No ano seguinte, foi o protagonista de sua seleção no título Mundial Sub-20 de 1979, marcando 6 gols e sento escolhido o melhor jogador do torneio. Disputou sua primeira Copa em 1982, mas a então campeã Argentina caiu na segunda fase, com derrotas para Itália (1 x 2, caçado impiedosamente por Claudio Gentile – que de gentil só tinha o nome) e Brasil (1 x 3, onde foi expulso por dar uma solada nos testículos do volante Batista, pensando ser em Falcão).

● Na Copa de 1986, o técnico Bilardo era questionado por dar a faixa de capitão a Diego, já que ele ainda não tinha provado seu valor no futebol nem em clubes e nem na seleção. Maradona “mandava” tanto na seleção, que o ídolo argentino Daniel Passarella não jogou um segundo sequer nessa Copa (era desafeto de Diego). Nas quartas de final, mostrou a todos a sua verdadeira grandeza. Argentina e Inglaterra tinham se enfrentado recentemente na Guerra das Malvinas, com derrota platina. No sexto minuto do segundo tempo, “El Diez” tocou para um companheiro, que perdeu a bola, mas o zagueiro inglês Steve Hodge chutou a bola para cima e ela foi em direção ao goleiro Peter Shilton. Maradona foi correndo de encontro ao goleiro (20 cm mais alto), cerrou o punho e socou a bola, encobrindo Shilton. Mesmo com protestos ingleses, o gol foi validado. Maradona mais tarde diria que “se houve mão na bola, foi a mão de Deus”. Com os adversários ainda revoltados com esse gol, a Argentina trocava passes no campo defensivo quando “El Pibe” pegou a bola. Ele estava de costas para o gol inglês e era marcado por três adversários (Steve Hodge, Peter Reid e Peter Beardsley). Assim que Beardsley se aproximou, Diego girou em sentido contrário, saindo de seu campo e avançando na intermediária adversária. Reid o perseguiu sem sucesso, enquanto Terry Butcher e Terry Fenwick foram facilmente deixados para trás. Diego seguiu (com a impressão que driblava todos os milhões de britânicos e vencia a Guerra das Malvinas), entrou na área, driblou o goleiro Shilton e mandou para as redes, sem chances para o carrinho desesperado de Butcher. Esse é chamado de “gol do século” e possivelmente é o gol mais lindo da história das Copas. Gary Lineker descontou, mas a Argentina venceu por 2 x 1. Na final contra a Alemanha Ocidental, liderou seu país ao segundo título mundial. Logicamente, foi escolhido como Bola de Ouro da Copa.

Na Copa de 1990, Diego já tinha seu talento mundialmente reconhecido, pois já tinha dado títulos inéditos para o Napoli e tinha carregado sua seleção na Copa anterior. Após uma primeira fase desastrosa, a Argentina enfrentou o rival Brasil nas oitavas de final. A equipe brasileira fez seu melhor jogo, mas desperdiçou inúmeras oportunidades. Maradona apenas caminhava na partida, devido às inúmeras pancadas recebidas em jogos anteriores. Mas nunca pode se descuidar com um gênio. Aos 35 minutos do segundo tempo, ele acelerou uma jogada, driblou quatro brasileiros e deixou Caniggia livre, para passar por Taffarel e fazer o gol. Venceria a Iugoslávia nos pênaltis. Na semifinal, enfrentaria os anfitriões italianos, mas jogaria em sua casa, Nápoles. Diego convocou os napolitanos a torcer por ele e não por seu país e a torcida ficou dividida. A Argentina venceu a Itália nos pênaltis, novamente com um show de defesas do goleiro Sergio Goycoechea. Na final, novamente contra a Alemanha Ocidental, em Roma, Diego foi vaiado do início ao fim do jogo. A Argentina já era mais fraca que a Copa anterior e esteve desfalcada de quatro titulares nessa final. Ainda perderia um jogador expulso no início do segundo tempo. A cinco minutos do fim, a Alemanha marca em um pênalti duvidoso e é campeã. Diego se recusa a apertar a mão do presidente da FIFA, João Havelange, e a torcida romana faz festa ao ver Maradona chorando.
Em 1994, surpreendeu ao mundo com a rápida recuperação de sua forma física. Fez um golaço na estreia contra a Grécia e demonstrou um fôlego incansável na segunda partida, contra a Nigéria, mas depois foi pego no exame antidoping e provado que utilizou efedrina para emagrecer. Mesmo aposentado, houve certa pressão para que o agora técnico Daniel Passarella o convocasse para a Copa do Mundo de 1998.

● Em outubro de 2008, após a demissão de Alfio Basile, Diego Armando Maradona foi nomeado técnico da seleção argentina. No período, teve desentendimentos com vários atletas, mas em especial com Juan Román Riquelme. Em 2009 sofreu uma acachapante e histórica derrota para a Bolvívia, na altitude de La Paz, por 6 a 1. Também perdeu para o Brasil em casa, por 3 x 1. Em menos de 20 jogos, ele utilizou 80 jogadores diferentes. Em 14/10/2009, se classificou para a Copa do Mundo de 2010 no sufoco, apenas na última rodada, em uma vitória por 1 a 0 contra o rival Uruguai, em pleno Estádio Centenário. A entrevista após o jogo foi mais uma polêmica para a sua biografia com a declaração: “Com o perdão das damas aqui presentes, que vocês (jornalistas) ’chupem’, continuem ’chupando’”. Pela atitude, foi punido pela FIFA com dois meses de suspensão e uma multa de 25 mil francos suíços. Não convocou para a Copa, dentre outros craques, Javier Zanetti e Esteban Cambiasso, que tinham acabado de conquistar a tríplice coroa na Itália. Na Copa, após uma primeira fase tranquila, venceu bem o México e foi eliminado nas quartas de final para a Alemanha, em uma goleada acachapante por 0 x 4. Felizmente, o resultado poupou a todos de ver o ex-jogador cumprir a promessa de correr pelado caso seu time vencesse a Copa. Foi demitido do cargo depois de 24 partidas, com 18 vitórias e 6 derrotas.

… Maradona: ídolo de três clubes

Três pontos sobre…
… Maradona: ídolo de três clubes

Quem é o melhor jogador de futebol nascido em outubro? Muitos e muitos craques nasceram no 10º mês do ano. Só pra citar alguns: Falcão, Careca, Didi e Lev Yashin. Além dos já homenageados nessa coluna (Zlatan Ibrahimovic, Zvonimir Boban, Pelé e Garrincha). Mas no dia 30/10/1960, na cidade argentina de Lanús, na região metropolitana de Buenos Aires, nasceu Diego Armando Maradona. Provavelmente o melhor jogador de todos os tempos (Pelé é “hors-concours“).


(Imagem: Pinterest)

● Conta a lenda que com apenas um aninho de idade, Maradona já chutava sua primeira bola. Aos nove anos iniciou nas divisões de base do Argentinos Junior, na geração conhecida como “Los Cebollitas”. Aos 10, apareceu nos jornais pela primeira vez: “um menino com porte e classe de craque”, dizia a manchete do diário “Clarín”. Sua estreia na primeira divisão foi em 20/10/1976, aos 15 anos, em uma derrota do Argentinos Juniors para o Talleres por 1 a 0. Sua primeira jogada foi uma “caneta” contra um adversário. Segundo Diego, “nesse dia, toquei o céu com as mãos”. Em 1978 foi o maior goleador do campeonato argentino. No ano seguinte, foi artilheiro dos campeonatos nacional e metropolitano, além de ter sido eleito o melhor jogador sul-americano. Em 1980 voltou a ser artilheiro dos dois campeonatos e novamente melhor da América do Sul, além de levar o Argentino Juniors ao vice-campeonato nacional (melhor resultado do clube na história até 1984).

Se transferiu para o clube de coração em 1981, o Boca Juniors, realizando um sonho. Seu contrato tinha uma cláusula que proibia que jogasse contra o Argentinos Juniors. Logo no primeiro ano, o Boca Juniors quebrou um tabu de cinco anos sem títulos, vencendo o metropolitano. Sua primeira passagem pelo Boca foi rápida e intensa, com muitos gols no Superclássico contra o River Plate.

● Em 04/09/1982, estreou no Barcelona, em uma derrota por 2 a 1 para o Valencia. O Barça estava num longo jejum na liga, pois após o título em 1960, venceu apenas em 1974. Diego não conseguiu quebrar esse tabu. No total, jogou 58 vezes pelo Barça e marcou 38 gols, conquistando a Copa do Rei, a Copa da Liga e a Supercopa da Espanha em 1983. Foi nesse tempo, na cidade catalã, que ele começou a usar drogas. Na final da Copa do Rei de 1984, protagonizou uma batalha campal com Miguel Ángel Sola, do Athletic Bilbao e foi suspenso por três meses na Liga Espanhola, o que provocou sua transferência para o Napoli, que era uma equipe tradicional, mas pequena, com apenas dois títulos da Copa da Itália.

Conseguiu um verdadeiro milagre ao conquistar o título da Série A da temporada 1986/87. O bi escapou na temporada seguinte, mas Diego foi artilheiro com 15 gols (seu parceiro Careca marcou 13). Maradona conseguiu dar ao Napoli também o inédito título da Copa da UEFA de 1989/89, na final contra o Stuttgart. Na temporada seguinte, conquista o segundo título italiano do clube. Em março de 1991 foi suspenso do futebol por 15 meses devido ao resultado positivo de seu exame antidoping, escancarando o vício nas drogas. Posteriormente, o então presidente do clube, Corrado Ferlaino, admitiu que por diversas vezes que Diego era sorteado para o antidoping, o exame era burlado com a urina de jogadores “limpos”.

● Após uma batalha judicial contra o clube, se transferiu para o Sevilla. Após desentender com o técnico Carlos Billardo, abandona o clube e volta para atuar no seu país natal, no Newell’s Old Boys, mas diversas lesões o atrapalham a ter uma sequência se jogos. Cada vez mais fora de forma e afundado nas drogas, em fevereiro de 1994 atira com uma espingarda de ar comprimido em jornalistas que fazem plantão na porta de sua casa. Incrivelmente, apareceu em excelente forma física na Copa de 1994, mas de novo antidoping deu positivo, dessa vez na segunda partida da Copa, contra a Nigéria. Novamente foi punido por 15 meses pela FIFA. Sem poder jogar, se tornou técnico do inexpressivo Textil Mandiyú, mas durou apenas poucas semanas, 12 jogos e apenas uma vitória. Assume como treinador do Racing, mas sai em março de 1995, com 11 partidas e 2 vitórias. Com o fim de sua punição, voltou ao seu amado Boca Juniors e descoloriu uma faixa dourada do lado superior direito de seu cabelo, simbolizando a faixa dourada do uniforme xeneize. O clube também contrata seu amigo Claudio Caniggia. O Boca estava em novo jejum desde 1992 e continuou. Memorável foi apenas uma goleada por 4 a 1 contra o River Plate, em que após o terceiro gol de Caniggia, ele e Maradona se beijam na boca na comemoração. Em 25/10/1997 joga sua última partida, um Superclássico e anuncia sua aposentadoria, após rumores de novo antidoping positivo.

… Mané Garrincha: frases, citações, música e poesias

Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: frases, citações, música e poesias


(Imagem: Botafogo)

Frases de Garrincha

“Tá legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos”
— após o técnico brasileiro na Copa de 1958, Vicente Feola, fazer a preleção detalhada de como seria cada lance da partida contra a URSS

“Mas por que todo mundo está chorando? Não ganhamos o jogo?”
— após a final da Copa de 1958

“Campeonatinho mixuruca. Não tem nem segundo turno!”
— novamente após a final da Copa de 1958

“Você viu, Didi? O São Cristóvão está de uniforme novo!”
— antes das quartas de final da Copa de 1962, reparando no uniforme da Inglaterra

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“É muito bom jogar por ali. A gente recebe um monte de bola.”
— após o mesmo jogo contra a Inglaterra, em que descobriu como é bom jogar no meio de campo

“Viu? Não é só você que sabe chutar assim.”
— brincou com Didi após marcar o terceiro gol contra a Inglaterra no mesmo jogo

“A bola veio para a esquerda e eu não chuto bem de esquerda, mas não dava pra trocar de pé. Então chutei de esquerda fazendo de conta que era de direita.”
— explicando como foi o gol contra o Chile, na semifinal da Copa de 1962

“O goleiro deles não queria abrir as pernas. Fiquei esperando.”
— falou depois de um gol em que ficou ameaçando chutar e não chutava

“O único crioulo neste país que levou vantagem com a Lei Áurea foi Pelé. Os outros continuam na mesma.”
— vendo a forma como todos sempre bajulavam Pelé, inclusive os racistas

“Fui como Cristo, na vida particular e também no futebol. Já sei que, quando os dirigentes tentam passar os jogadores para trás, eles chiam e dizem: ‘vocês pensam que eu sou um Garrincha?’ É isso aí, gente boa, virei um símbolo do que não se deve ser na vida.”
— concluindo de forma correta sobre si mesmo

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Frases sobre Garrincha

“Garrincha era um jogador incrível, um dos melhores que já existiu. Ele podia fazer coisas com a bola que nenhum outro jogador conseguiu.”
— Pelé

“Ele tinha um espírito infantil. Garrincha foi a resposta de futebol para Charlie Chaplin.”
— Djalma Santos, também bicampeão mundial em 1958 e 1962

“Ele me deu um baile. Pedi que o contratassem e o pusessem entre os titulares. Eu não queria enfrentá-lo de novo.”
— Nilton Santos, companheiro de Garrincha no Botafogo e na Seleção

“É um primitivo, um matuto, meio índio, meio selvagem, criado num submundo de miséria e ignorância, um lugar atrasado onde nem o trem parava”.
— João Saldanha, técnico do Botafogo em 1957

“Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio.”
— Armando Nogueira, jornalista e botafoguense

“Driblar e driblar com tanta graça e neutralidade – eis um mistério de Garrincha que só Deus pode explicar.”
— Armando Nogueira

“Eu digo: não há no Brasil, não há no mundo ninguém tão terno, ninguém tão passarinho como o Mané.”
— Nelson Rodrigues, dramaturgo e jornalista

“Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.”
— Nelson Rodrigues

“Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.”
— Carlos Drummond de Andrade, poeta

“Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.”
— Carlos Drummond de Andrade

“Não há comparações possíveis. Pelé fazia coisas que um ser humano faz. Garrincha certamente veio de outro planeta… Jamais houve e certamente jamais haverá um outro Garrincha”
— Gabriel Hanot, jornalista francês e idealizador da Liga dos Campeões da Europa

“Manuel Francisco dos Santos. Ou simplesmente Mané Garrincha. Um diabólico e inesquecível gênio. Um inocente passarinho.”
— José Roberto Malia, jornalista

“Pelé e Maradona foram geniais, Puskas e Cruyff sensacionais, mas o maior de todos foi o ‘homem das pernas tortas’ – Garrincha. Nunca vi ninguém fazer com uma bola o que ele fazia”
— Alfredo Di Stéfano, numa reportagem, questionado quem seria melhor entre Pelé, Maradona, Puskas, Cruyff ou ele mesmo

“Vicente da seleção portuguesa, Trapattoni, da italiana, Delacha da esquadra argentina, foram capazes de marcar Pelé. Nunca vi nenhum jogador capaz de marcar Garrincha”
— Nestor Rossi, meia argentino da década de 1960

“Gol, gol, gol… Garrincha, Garrincha, Garrincha… O Anjo das Pernas Tortas!!!” Guardo no fundo do meu coração um beijo querido que recebi da querida Elza Soares com sabor de Mané!!!”
— Paulo Soares, locutor

“Eu fazia o lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão. Em fila, disciplinadamente.”
— Didi, sobre Garrincha na Copa de 1958

“Garrincha era mais perigoso do que Pelé. Para mim, ele era um fenômeno, capaz de pura magia. Era difícil saber qual o caminho ele estava indo, por causa de suas pernas e porque ele era bom com os dois pés, tanto driblando para dentro ou para fora.”
— Mel Hopkins, zagueiro do País de Gales, que enfrentou Garrincha em 1958

“Eles começaram marcando no mano a mano. Tsarev contra Garrincha. De repente, passaram a amontoar vários outros naquele lado esquerdo do campo. Era hilariante o desmanche que Mané fazia por ali.”
— Nílton Santos, sobre Garrincha na partida contra a URSS, pela Copa de 1958

“Garrincha é um verdadeiro assombro. Não pode ser produto de nenhuma escola de futebol. É um jogador como jamais vi igual.”
— Gavril Katchalin, técnico da URSS na Copa de 1958

“O Garrincha foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.”
— Nelson Rodrigues, sobre o jogo Brasil 2 x 0 URSS, em 1958

“Estávamos em pânico pensando no que Garrincha poderia fazer. Não existia marcador no mundo capaz de neutralizá-lo.”
— Nils Liedholm, meia da Suécia na Copa de 1958

“Em cinqüenta anos de futebol jamais apareceu um jogador como Garrincha.”
— Jornal inglês Daily Mirror

“Se ele é considerado meio burro, não posso fazer a menor idéia do que, para os brasileiros, é ser inteligente.”
— disse um cronista esportivo de Londres

“Garrincha foi a maior figura do jogo, a maior figura da Copa do Mundo e, vamos admitir a verdade última e exasperada: a maior figura do futebol brasileiro desde Pedro Álvares Cabral.”
— Nelson Rodrigues, depois da semifinal Brasil 4 x 2 Chile, da Copa de 1958

“De que planeta veio Garrincha?”
— Jornal El Mercurio, do Chile, na Copa de 1962


(Imagem localizada no Google)

Poesias e música

— O anjo das pernas tortas
(Vinícius de Moraes)
Rio de Janeiro, 1962

A Flávio Porto

“A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé-de-vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: – Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um 1. É pura dança!”

 

— Poema para Garrincha
(Affonso Romano de Sant’Anna)

“Ave! Garrincha

Ave humana
lépida
discreta
pés de brisa
corpo dúbio
finta certa.

Garrincha é como a aragem
Garrincha é como o vento
Garrincha é como a brisa

Que ora avança
na cancha
com graça
e elegância
e rebate
o arremesso
e remata
no peito
e rechaça
a ameaça
da caça
que o caça
e enfim a embaraça
no drible-trapaça
que a prostra no chão
pés de brisa
corpo dúbio finta certa.

Garrincha é a ave
certa de seu voo
Garrincha é a seta
certa de seu alvo
Garrincha é o homem
certo de sua meta.

Tendo as pernas curvas
e uma candura esquiva
no teu silêncio puro
a tua alma asinha
sabe sofrer na neve
o frio da andorinha

Garrincha
ave incontida
e mal retida
nas gaiolas
do gramado.

Com endiabrados
dribles e disparos
com diabices raras
sobre a cancha

Avança
a dança
e pula
e aduba
e açula

a alma do infeliz
que o perseguiu:

parou
pisou
passou
voltou
driblou
chutou

– GOL DO BRASIL

pés de brisa
corpo dúbio
finta certa
Garrincha doravante
é ave nacional.”

Balada nº 7 – Mané Garrincha
(Alberto Luiz e Moacyr Franco)

“Sua ilusão entra em campo no estádio vazio
Uma torcida de sonhos aplaude talvez
O velho atleta recorda as jogadas felizes
Mata a saudade no peito driblando a emoção

Hoje outros craques repetem as suas jogadas
Ainda na rede balança seu último gol
Mas pela vida impedido parou
E para sempre o jogo acabou
Suas pernas cansadas correram pro nada
E o time do tempo ganhou

Cadê você, cadê você, você passou
O que era doce, o que não era se acabou
Cadê você, cadê você, você passou
No vídeo tape do sonho, a história gravou

Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho
Que o craque do tempo chutou

Cadê você, cadê você, você passou
O que era doce, o que não era se acabou
Cadê você, cadê você, você passou
No vídeo tape do sonho, a história gravou”

Originalmente a música “Balada nº 7” foi composta para o craque Ipojucã, ex-meia da Portuguesa e do Vasco, mas ficou mais conhecida como se fosse para o Mané. A tal ponto, que Moacyr Franco a cantou ao vivo no estádio Serra Dourada, em Goiânia, e Garrincha e Elza Soares entravam em campo para saudarem a torcida, em uma homenagem para o Mané.