Três pontos sobre… … 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Para chegar na semifinal, a Argentina terminou com 100% de aproveitamento no Grupo A (única chave com quatro seleções, já que os demais só possuíam três equipes), vencendo a França (1 x 0), México (6 x 3) e Chile (3 x 1).
Os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar no grupo D, vencendo a Bélgica e o Paraguai pelo mesmo placar de 3 a 0. O principal trunfo dos norte-americanos era contar com cinco jogadores que haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América.
Na quarta-feira, dia 23 de julho, a FIFA promoveu um sorteio para definir os adversários das semifinais. Havia 33% de chances de a sonhada decisão entre Uruguai e Argentina ocorrer nas semifinais. Era um risco enorme.
As bolinhas foram numeradas da seguinte forma: 1 para a Argentina; 2 para os Estados Unidos; 3 para o Uruguai; 4 para a Iugoslávia. Jules Rimet, que presidia a cerimônia, convidou um jornalista presente para sortear a primeira bolinha, que foi a número 1, da Argentina.
A tensão era enorme. Sob intensa expectativa, outro jornalista tirou a bolinha número 2, dos Estados Unidos. Ufa! Todos respiraram aliviados.
Esse sorteio também definiu a ordem dos jogos: Argentina x Estados Unidos seria no sábado e Uruguai x Iugoslávia, no domingo. Em caso de empate, haveria uma prorrogação de 15 minutos, dividida em dois tempos de sete minutos e meio. Se o empate persistisse, haveria uma segunda prorrogação, nos mesmos moldes. Se mesmo assim não houvesse um vencedor, haveria um jogo extra. Se esse jogo também terminasse empatado, no tempo normal e nas prorrogações, o vencedor sairia por meio de sorteio.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Os norte-americanos suportaram razoavelmente bem a pressão argentina no primeiro tempo, mas o centromédio Ralph Tracey fraturou a perna ainda aos 19 minutos de jogo e não conseguiu retornar após o intervalo.
Luisito Monti abriu o placar logo no minuto seguinte, aproveitando que não tinha mais a marcação de Tracey.
Antes dos 15 minutos do segundo tempo, foi a vez de o goleiro Jimmy Douglas se lesionar, deslocando o ombro.
Daí para frente, praticamente com dois homens a mais e com o adversário sem um goleiro em plena forma, a Argentina não teve dificuldades para atropelar e anotar mais cinco gols em sequência.
Quando os americanos perdiam por 3 a 0, o médio esquerdo Andy Auld sofreu um profundo corte no lábio inferior. O técnico Robert Millar, que também fazia as vezes de médico, pegou a maleta de medicamentos e correu para o campo. Na pressa, a maleta se abriu e vários frascos de remédio se quebraram, inclusive a garrafa de clorofórmio, que vazou no gramado. Ao inalar o líquido entorpecente, Millar acabou desmaiando e teve que ser carregado para fora do gramado por seus jogadores. O atleta americano que tinha se contundido acabou se recuperando sozinho, sem qualquer atendimento.
Nada daria certo para os americanos naquele dia.
De forma incontestável, a Argentina garantia sua vaga para a final.
Para os EUA, ter chegado tão longe já era motivo de orgulho. É até hoje a melhor classificação dos ianques na história das Copas.
A tabela original não previa a disputa do terceiro lugar, mas o Comitê Organizador sugeriu a ideia.
Porém, ainda irritados com a arbitragem considerada “excessivamente parcial” do brasileiro Gilberto de Almeida Rego, os iugoslavos se recusaram a enfrentar os Estados Unidos.
Assim, como não houve decisão do 3º lugar, a Iugoslávia dividiu essa colocação na classificação com os Estados Unidos. Na verdade, os dois países que caíram nas semifinais ficaram rigorosamente empatados em tudo, exceto que a Iugoslávia sofreu um gol a mais no geral.
Em muitas publicações esportivas, os americanos aparecem sozinhos em terceiro lugar, com base no critério não oficial de saldo de gols.
Algumas fontes, como um boletim da FIFA de 1984, afirmam que houve, sim, uma partida pelo 3º lugar, vencida por 3 x 1 pela Iugoslávia. Essa informação nunca foi oficialmente confirmada.
Três pontos sobre… … 08/07/1990 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Argentina
(Imagem: Soccer 365)
● Desde a final da Copa de 1986, muita coisa havia mudado no esporte alemão. O futebol local passou por uma de suas crises mais sérias na segunda metade dos anos 1980. As arquibancadas se esvaziaram, o prestígio do futebol despencou e o tênis virou o esporte mais popular na TV, graças aos fenômenos Boris Becker e Steffi Graf, ambos nº 1 no ranking da ATP (Associação de Tenistas Profissionais).
O país ainda sediou a Eurocopa de 1988, mas parou nas semifinais diante da Holanda com um gol de Marco van Basten no último minuto. Nesse ano, os alemães já haviam aderido ao sistema da moda, o 3-5-2, mas sem grandes exibições ou resultados. Mas eles tinham diferenciais fantásticos. Andreas Brehme, o ala esquerdo, era um armador de origem. O líbero, Klaus Augenthaler, tinha classe e sabia jogar. O meio campista mais defensivo, Lothar Matthäus, era um craque completo e chegava no auge ao seu terceiro Mundial e à sua terceira final (era reserva em 1982).
A Nationalelf tinha uma maneira bem clara de jogar: além do trio de defesa, um lateral defensivo pela direita (Berthold) e um ofensivo pela esquerda (Brehme), um volante criativo (Matthäus), dois meias que carregavam a bola (Häßler na direita e Littbarski ou Uwe Bein na esquerda), além de uma dupla de ataque eficaz (Völler e Klinsmann).
A seleção argentina queria conquistar seu terceiro título em quatro edições disputadas desde 1978, mas também não era a mesma de quatro anos antes. Fracassou na Copa América que sediou, em 1987, mesmo ainda tendo o time base de um ano antes. Seis campeões mundiais ainda eram titulares. O novo fracasso na Copa América de 1989, organizada e vencida pelo Brasil, levou os argentinos a chegarem com menos cartaz na Itália, no Mundial de 1990. A bem da verdade, cada vez mais eles dependiam de Maradona. Entre o fim da Copa de 1986 e o início do Mundial de 1990, os portenhos jogaram 31 vezes e conseguiram apenas seis vitórias. Mas Diego motivou o time, dizendo: “vão ter que arrancar a Copa de nossas mãos”. Ao final das contas, aos trancos e barrancos, ainda era a Argentina.
A Alemanha se tornou o primeiro país a chegar em três finais de Copa consecutivas (seria igualada pelo Brasil nos três Mundiais seguintes). Vencer era mais que uma questão de honra para eles. Die Mannschaft foi a primeira do Grupo D com cinco pontos. Começou goleando a Iugoslávia por 4 a 1 e os Emirados Árabes Unidos por 5 a 1. Na última rodada, empatou por 1 x 1 com a Colômbia. Nas oitavas, venceu a grande rival Holanda por 2 a 1, em uma verdadeira batalha. Nas quartas, vitória simples por 1 a 0 sobre a Tchecoslováquia. Na semifinal, venceu a Inglaterra nos pênaltis por 4 a 3, após empate por 1 a 1 no tempo normal.
A Argentina somente passou de fase por ter sido uma das melhores terceiras colocadas, com três pontos. No Grupo B, perdeu para Camarões na estreia por 1 a 0. Depois, venceu a União Soviética por 2 a 0 e empatou com a Romênia por 1 a 1. Nas oitavas de final, jogou pior, mas venceu o clássico com o Brasil graças a uma jogada mágica de Maradona e uma linda conclusão de Caniggia. Nas quartas, contou com a estrela do goleiro Goycochea, que pegou duas cobranças na vitória por pênaltis por 3 a 2 sobre a Iugoslávia. Nas semifinais, após um empate por 1 x 1 com a anfitriã Itália, Goycochea pegou outras duas cobranças e a Argentina venceu na decisão por pênaltis por 4 a 3.
O técnico Franz Beckenbauer escalou sua equipe no sistema 3-5-2.
Carlos Bilardo também mandou sua equipe ao campo no 3-5-2, em uma versão mais defensiva que a alemã.
● Domingo, oito de julho. Um dia sempre histórico para os alemães. Depois de 51 partidas, só restava esta para decidir quem iria se consagrar. Até então, em 14 edições de Copa do Mundo, nunca havia acontecido de duas seleções repetirem uma final. Alemães e argentinos quebraram essa escrita. Finalistas em 1986, eles decidiram também o Mundial de 1990. Essa final também consagraria um novo tricampeão. Tanto os germânicos quanto os portenhos tinham dois títulos cada. Europeus tinham vencido em 1954 e 1974. Os sul-americanos foram campeões em 1978 e 1986.
Mas, ao contrário de quatro anos antes, desta vez era a Alemanha Ocidental quem entrava em campo como favorita, diante de um adversário que se arrastou durante todo o campeonato e que tinha seu maior craque em má forma física. Maradona começava a entrar em declínio.
Castigada pelo jogo bruto das fases anteriores, a Argentina entrou em campo sem quatro titulares, suspensos: Batista, Orlaticoechea, Giusti e Caniggia, que tinha marcado dois dos cinco gols de sua equipe até então.
Se não bastasse, no momento de execução dos hinos nacionais, a maior parte dos quase 75 mil presentes no estádio Olímpico de Roma vaiou insistentemente o hino argentino, ressentida com o comportamento de Maradona na semifinal em Nápoles, onde fez toda a cidade torcer e cantar seu nome por causa do Napoli, clube onde jogava. Perfilado, em vez de cantar o hino, Diego falava pausadamente, para que ficasse bem claro para as câmeras de TV: “Hijos de puta! Hijos de puta!”
● Mais forte que a Argentina, a Alemanha Ocidental começou melhor. Com vários jogadores atuando na liga italiana, os alemães pareciam estar jogando em casa. Mandava no jogo contra uma Argentina que, como se esperava, apenas se defendia.
Brehme cobra falta e a bola passa perto de Völler.
Littbarski arrisca de longe, mas a bola vai por cima do gol.
Brehme cruza, mas a bola passa por todo mundo e Goycochea segura firme.
Berthold cruza da direita, Völler escapa da forte marcação, mas cabeceia por cima.
Alheia a tudo isso, a Alemanha fez o que dela se esperava, pressionando um adversário inferior em busca do gol, mas perdeu todas as chances criadas no primeiro tempo.
Do outro lado, os argentinos nem ameaçavam. A impressão que dava é que eles queriam fazer um jogo que desgastasse os alemães, sem deixar o fluir. Quem não é melhor na técnica, tenta se igualar na garra. E isso o povo argentino tem de sobra.
A primeira chance dos portenhos só veio no último minuto do primeiro tempo. Basualdo toca para o meio e Maradona tromba com um adversário, caindo na meia lua. Ele pede falta, mas o árbitro mexicano Edgardo Codesal manda o jogo seguir.
A primeira etapa foi um retrato do Mundial da Itália: muito estudo, pouca emoção e nenhum gol. Só sono. A Alemanha parava nas faltas da Argentina. Os argentinos chegavam pouco ao ataque. Seu lance mais perigoso de gol nasceu de um erro alemão, um recuo de Brehme que quase resultou em gol contra. Ao ouvir o apito do árbitro anunciando o intervalo, os torcedores vaiaram.
(Imagem: O Tempo)
● O segundo tempo inteiro foi um duelo entre o ataque germânico e a defesa portenha. A Alemanha Ocidental voltou mais incisiva e disposta a vencer. Berthold e Völler chegaram a errar o gol em finalizações da pequena área.
Littbarski faz uma bela jogada, entra em diagonal da esquerda para o meio, mas chuta para fora.
Brehme cruzou da esquerda e Berthold cabeceou por cima, de dentro da pequena área.
O líbero Augenthaler avança, recebe livre na área, tenta driblar Goycochea e cai, na tentativa de cavar o pênalti, mas o juiz mexicano só ignorou. Na sequência, Monzón ainda salvou o gol em cima da linha.
O placar seguiu zerado. O gol teimava em não sair. Com o passar do tempo, esperava-se que os alemães ficassem nervosos pelo fato de sua ampla superioridade não ser traduzida em gols e, com isso, eles dessem brecha para os contra-ataques. Mas não foi o que aconteceu.
A Argentina apelava para as faltas. Aos 20 minutos, o Monzón derrubou Klinsmann. O atacante alemão exagerou na queda, mas realmente foi atingido com violência. Pedro Monzón se tornou o primeiro atleta a ser expulso em uma final de Copa do Mundo.
Com um homem a mais, o domínio germânico se tornou mais evidente. Matthäus conseguiu fazer o jogo fluir e liderou tecnicamente a Alemanha. Ao contrário de 1986, Maradona e Burruchaga foram neutralizados pela forte marcação alemã.
Maradona não estava fisicamente bem. Jogou com dores nos tornozelos a Copa toda. E foi muito bem marcado por Buchwald nessa partida.
A Argentina estava apenas esperando a decisão por pênaltis, apostando mais uma vez suas fichas na ótima fase do goleiro Goycochea, que passou a ser titular na segunda partida devido a lesão de Pumpido (leia mais abaixo). Com a alcunha de “Tapa Penales”, ele já havia defendido quatro pênaltis no Mundial.
A supremacia alemã em campo foi premiada aos 40 minutos. Rudi Völler é lançado pela direita, entra na área e cai ao levar um encontrão de Sensini. Pênalti bastante duvidoso marcado pelo árbitro mexicano.
O cobrador oficial de pênaltis da Alemanha era Lothar Matthäus (leia mais abaixo). Mas ele não se sentiu seguro e preferiu que outro jogador em melhores condições fizesse a cobrança. Brehme assumiu a responsabilidade e cobrou de forma perfeita. batendo colocado no canto direito, rente à trave. Goycochea ainda acertou o canto, mas não conseguiu defender. Era o gol do título.
A Argentina não tem forças para buscar o empate e dois minutos depois entra em desespero. Dezotti acha que Köhler está fazendo cera e resolve a questão no braço. O árbitro mostra o segundo cartão amarelo ao camisa 9 e, consequentemente, o vermelho. Edgardo Codesal estava tendo dificuldades no âmbito disciplinar, com muitas reclamações dos argentinos. E o último cartão amarelo fez a alegria da torcida italiana: foi para o reclamão Maradona.
Quatro anos depois de terem brilhado no Mundial do México, os argentinos sofriam a derrota merecida.
A Alemanha Ocidental era tricampeã do mundo, se igualando ao Brasil e à Itália. Era também a vingança contra dois rivais de uma só vez: venceu a Argentina na decisão (a algoz de 1986) jogando na Itália (que tinha lhe batido na final de 1982). Uma taça bastante simbólica para o país, que seria reunificado naquele mesmo ano.
Após a partida, já no ônibus da delegação argentina, Maradona declarou: “Esta é a maior decepção de minha carreira. O árbitro fez tudo para agradar aos alemães e aos italianos. Fomos derrotados pelo ‘homem de preto'”.
A vitória alemã trouxe justiça ao Mundial. A melhor equipe se sagrou campeã. Mas este jogo ficou marcado como a final de Copa com o futebol mais fraco na história.
(Imagem: IG)
● Curiosamente, apenas a Itália de 1938 e 1982 e a Alemanha Ocidental em 1990 foram campeãs do mundo sem ficar em nenhum momento atrás no marcador, em nenhuma partida.
A Argentina foi a finalista com pior campanha em uma Copa do Mundo, com apenas duas vitórias e cinco gols marcados em sete jogos. A equipe também se tornou a primeira a não marcar gols e a ter jogadores expulsos em uma final de Copa.
Até então, nunca uma decisão de Mundial havia terminado com somente um gol. As finais anteriores registraram pelo menos três. Mas a falta de gols vista na decisão era apenas um reflexo do que foi o torneio todo.
Na Copa do Mundo de 1990, 20 das 24 seleções atuavam no 3-5-2 (inclusive o Brasil, do técnico Sebastião Lazaroni). Na teoria descrita pelo alemão Sepp Piontek, criador do sistema tático, menos atletas na defesa resultaria em mais atletas atacando. Mas isso não se confirmou nesse Mundial. Na teoria, os laterais deveriam ser alas, apoiando o tempo todo. Na prática, eles voltavam até a linha de defesa, transformando o esquema em uma espécie de 5-3-2. Com isso, ao invés de um maior equilíbrio ou de equipes ofensivas, na verdade assistimos equipes que só se defendiam. Como consequência, 1990 foi a Copa com menor média de gols na história, com 2,21 por partida. O placar mais repetido foi 1 x 0 (16 vezes).
Essa Copa do Mundo deixou definitivamente a magia futebolística de lado e acabou por consagrar o estilo de aplicação tática. Nesse contexto, ninguém melhor que a Alemanha Ocidental para ser campeã. Mas os alemães não eram apenas força e disciplina. Tinha um grupo repleto de atletas de grande qualidade técnica, como Lothar Matthäus, Andreas Brehme, Thomas Häßler, Pierre Littbarski, Andreas Möller e Jürgen Klinsmann. Porém, como nada é perfeito, o grupo não era unido. O meia Matthäus e o atacante Klinsmann, dois destaques individuais, eram desafetos declarados.
Mas o título coroava de uma vez por todas essa grande geração do futebol do país e colocava Franz Beckenbauer no mais alto patamar de imortalidade. O Kaiser se tornou primeiro homem na história a levantar a Copa do Mundo como capitão e depois como técnico – e o segundo como jogador e treinador, depois do brasileiro Zagallo.
Em números, a Alemanha provou porque foi tão superior às demais equipes. Teve o melhor ataque, com 15 gols marcados. Deu 131 do total de 1.177 chutes a gol registrados na Copa (11% do total), em sete partidas disputadas. A Itália, segunda colocada nesse quesito, disputou o mesmo número de jogos teve 91 finalizações, mesmo jogando em casa. Além disso, os alemães tiveram 145 roubadas de bola, ou mais de 20 por jogo, número bastante superior ao de Argentina (99), vice-campeã, e Itália (106), 3º lugar no Mundial.
O meia alemão Lothar Matthäus disputava sua terceira Copa do Mundo seguida e era a peça chave da equipe. Naquele mesmo ano, foi eleito o melhor jogador do mundo pela revista inglesa World Soccer. Em 1991, se tornou o primeiro atleta eleito o melhor do mundo pela FIFA. “Nunca fui um artista da bola, apenas um obcecado pela eficiência”, chegou a dizer certa vez. Antes de se consagrar como o capitão que levantou a taça em 1990, ele já tinha sido vice-campeão em 1982 e 1986. Disputaria ainda os Mundiais de 1994 e 1998, quando completaria 25 jogos em Copas do Mundo, se tornando o jogador com mais partidas na competição, recorde que permanece até hoje.
Foram registradas 2.079 faltas no Mundial. A recordista de infrações foi a Argentina, com 178 em sete jogos, além de 23 cartões amarelos e três vermelhos. Curiosamente, o jogador que mais bateu foi também o que mais apanhou: Maradona, com 21 faltas cometidas e 53 sofridas.
O goleiro argentino Nery Pumpido, campeão do mundo na Copa anterior, quebrou a perna direita em uma trombada na área aos 11 minutos da segunda partida da competição, na vitória por 2 a 0 sobre a URSS. Assim, a FIFA autorizou, pela primeira vez de forma oficial, que se substituísse o goleiro no grupo de uma seleção. O convocado para herdar a camisa 1 foi Ángel Comizzo, que acabou nunca atuando em nenhum minuto sequer pela seleção, durante toda sua longa carreira.
O cobrador oficial de pênaltis da Alemanha era Lothar Matthäus, que havia inclusive batido o da vitória sobre a Tchecoslováquia por 1 x 0 nas quartas de final. Porém, quando o pênalti da final foi marcado, ele pegou a bola e a entregou a Andreas Brehme, pedindo que ele cobrasse. Foi uma surpresa enorme no mundo todo, que pensou que Matthäus tivesse feito isso porque havia tremido diante de Goycochea, um emérito defensor de pênaltis. Mas não foi isso. O camisa 10 utilizava um par de chuteiras havia muito tempo, já totalmente adaptadas a seus pés. Mas justamente durante a final, uma das chuteiras se rompeu e ele precisou usar um par reserva durante parte do jogo. Como ele não estava muito confortável com esse par, não se sentiu nas melhores condições para cobrar um pênalti tão importante. O mais curioso é que a chuteira que se rompeu tinha sido utilizada por Maradona dois anos antes, em um jogo beneficente, quando Matthäus a emprestou ao argentino e este acabou estreando o par. Quando Diego devolveu a chuteira, Matthäus percebeu que o argentino havia colocado os cadarços de maneira diferente e mais confortável, e passou a utilizar essa forma de amarração até o final de sua carreira.
(Imagem: UOL)
● FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 0 ARGENTINA
Data: 08/07/1990
Horário: 20h00 locais
Estádio: Olímpico
Público: 73.603
Cidade: Roma (Itália)
Árbitro: EdgardoCodesal (México)
ALEMANHA OCIDENTAL (3-5-2):
ARGENTINA (3-5-2):
1Bodo Illgner (G)
12 Sergio Goycochea (G)
6Guido Buchwald
18 José Serrizuela
5Klaus Augenthaler
20 Juan Simón
4 Jürgen Kohler
19 Oscar Ruggeri
14 Thomas Berthold
4José Basualdo
8ThomasHäßler
7JorgeBurruchaga
10 LotharMatthäus (C)
13 Néstor Lorenzo
7PierreLittbarski
21 Pedro Troglio
3 Andreas Brehme
17 Roberto Sensini
9Rudi Völler
10 Diego Armando Maradona (C)
18 Jürgen Klinsmann
9 Gustavo Dezotti
Técnico: Franz Beckenbauer
Técnico: Carlos Bilardo
SUPLENTES:
12 RaimondAumann (G)
22 FabiánCancelarich (G)
22 Andreas Köpke (G)
1ÁngelComizzo (G) (substituiu Nery Pumpido)
1NeryPumpido (G) (lesionado e dispensado pela delegação)
Três pontos sobre… … 30/06/2018 – França 4 x 3 Argentina
(Imagem: FIFA.com)
● Essa partida já entrou para a história das Copas do Mundo. Sete gols, sendo três golaços.
Foi o primeiro confronto entra campeões mundiais na Copa de 2018. E nas oitavas de final, quem perdesse cairia fora e embarcaria de volta para o seu país. Como esperado, a França venceu. Mas se enganou quem pensou que fosse fácil.
Foi uma prova de maturidade da seleção francesa. Se já era uma boa equipe, que foi vice-campeã da Eurocopa de 2016, agora subiu de nível. Com apenas 19 anos, Kylian Mbappé era o que faltava para subir essa França de nível. Um extra-classe. Um menino, que jogou como gente grande hoje.
Didier Deschamps escalou a França no 4-3-3. Sem a bola, Mbappé e Griezmann recuavam e o sistema se transformava no 4-2-3-1.
Jorge Sampaoli mandou sua equipe a campo com um 4-3-3 no papel. Na prática, tendo Messi como único atacante e com muita mobilidade, acabava sendo um 4-3-2-1.
● No comecinho do jogo, Griezmann cobrou uma falta no travessão. Era uma bela amostra do que queria a França.
Mas o favoritismo começou a se transformar em números aos onze minutos de jogo. Após uma roubada de bola, Mbappé avançou com a bola desde perto de sua área defensiva até a área adversária. Nesse trajeto de cerca de 70 metros, deixou quatro adversários para trás. Para evitar o gol certo, Rojo teve que pará-lo segurando-o dentro da área. Penalidade clara, que Griezmann cobrou no canto esquerdo, deslocando o goleiro Armani.
Pouco depois, Griezmann passou fácil por Rojo, foi à linha de fundo, bateu para o meio da área, mas Armani pegou. E isso seria uma das poucas coisas que Griezmann fez hoje com a bola rolando, ofuscado por Mbappé.
E a França não forçou o jogo para ampliar. Por muito tempo, deu a bola para a Argentina e esperou o contra-ataque que demorou a vir. E levou o empate.
Aos 41′, Pavón começou a jogada pela esquerda e Banega viu Di María sozinho na intermediária. Kanté deu um raro espaço no meio e o camisa 11 acertou um raro tiro, no canto esquerdo do e Lloris, sem chances para o goleiro. Um dentre os vários golaços desse jogo.
A virada albiceleste veio aos 3 min do segundo tempo. Banega cobrou falta para a área, Pogba desviou mal e a bola sobrou com Messi. Quando Ele pega a bola dentro da área, tende a sair algo bom. Ele girou sobre a marcação de Matuidi e chutou fraco, mas a bola desviou em Mercado no meio do caminho e tomou o rumo do gol. Agora, os hermanos estavam na frente!
Mas foi por pouco tempo, só por nove minutos. Para estragar o meu palpite no bolão, Matuidi lançou na ponta esquerda para Lucas Hernández que cruzou para a área. A bola passou por todo mundo e encontrou o outro lateral, Pavard, que emendou um chutaço de primeira e a bola foi rodopiando até ter seu caminho interrompido ao bater nas redes do ângulo esquerdo. Um dos mais belos gols da Copa.
Aos 19′, Hernández apareceu novamente bem no apoio cruzando rasteiro para o meio da área. Matuidi chutou em cima da zaga e a bola sobrou para Mbappé. O prodígio parisiense cortou para a esquerda, chutou a queima roupa e a bola passou por baixo de Armani. Era uma nova virada, dessa vez francesa.
(Imagem: FIFA.com)
E Les Bleus queriam mais. E conseguiram quatro minutos depois. Em um ataque muito veloz, a bola começou com o goleiro Lloris, passou com passes verticais por Kanté, Griezmann e Matuidi, até Giroud dar o último toque e deixar Mbappé em condições de chutar cruzado, fazendo o quarto gol francês. Em termos coletivos, foi o gol mais lindo desse mundial. Mbappé se tornou o segundo jogador mais jovem a fazer dois gols em um jogo de Copa. Só perde para um tal de Pelé, que tinha 17 anos em 1958.
Depois, Pogba limpou a marcação e abriu com Giroud na esquerda. O centroavante dominou, mas chutou na rede pelo lado de fora. Muita gente gritou gol no estádio.
Próximo ao fim do tempo regulamentar, Mascherano roubou a bola no campo de ataque e ela ficou com Messi. O camisa 10 arrancou do jeito que gosta, passou no meio de dois marcadores, mas finalizou fraco de direita, para a defesa fácil de Lloris.
Já nos acréscimos, aos 47′, Messi dominou na meia direita e cruzou na cabeça de Kun Agüero, que cabeceou forte no canto direito baixo, sem chances para o goleiro francês.
Mas era tarde demais. Ainda deu tempo de ter uma confusão entre os jogadores. Onde tem Argentina perdendo, costuma ter confusão. Mercado derrubou Pogba e Otamendi chutou a bola nas costas do francês, que estava caído no chão. Houve uma troca de empurrões dos dois lados e o árbitro iraniano Alireza Faghani conduziu bem a situação. Enquanto isso, o tempo foi se esgotando, junto com a chance dos argentinos.
No último lance do jogo, Pavón chutou cruzado para o meio da área, mas Di María desviou mal e perdeu a última chance de levar o jogo para a prorrogação.
(Imagem: FIFA.com)
● A cada erro dos colegas ou a cada gol sofrido por sua equipe, Messi só abaixava a cabeça. Nunca justificou o papel de liderança que a braçadeira de capitão lhe sugeria. É um dos maiores craques que o futebol já viu. É um dos grandes gênios dentre todos os segmentos na história da humanidade. Mas nunca foi líder. E se despede de uma Copa em que fez um golaço importante contra a Nigéria, mas é muito pouco perto do que ele é capaz de produzir. Culpa dele, que nos acostumou mal.
Mas Messi não é o culpado de tudo. A confusão na AFA (Associação de Futebol Argentina) existe desde sempre, mas ficou acentuada após a morte do ex-presidente Julio Grondona. Em 2015, uma eleição na entidade, que tinham 75 votantes, terminou empatada em 38 a 38. Nesse ciclo desde a última Copa, foram três técnicos e três rupturas de estilos de jogo: Gerardo “Tata” Martino, mais técnico; Edgardo Bauza, mais de marcação; e Jorge Sampaoli, um “bielsista” tão maluco quanto seu mestre.
É fato que Sampaoli não convocou bem e depositou confiança em quem não deveria. Com a lesão do goleiro Romero, deu chances a Caballero ao invés de escalar logo Armani. No meio, convocou Biglia machucado e manteve Mascherano como titular, mesmo que o “Jefecito” se mostrasse cada dia mais fora de forma. Levou a campo muitas vezes Mezza e Pavón, quando tinha Paulo Dybala no banco. Utilizou Messi de atacante, tendo no elenco Agüero e Higuaín – fora Mauri Icardi, que nem foi convocado.
Sem falar na mudança repentina dos sistemas táticos. Em quase todas as partidas das eliminatórias e em amistosos, Sampaoli escalou sua seleção no 3-4-3. Na Copa, optou pelo 4-4-2 na estreia, quando empatou com a Islândia por 1 a 1. Na segunda partida, voltou ao 3-4-3 e foi goleado pela Croácia por 3 a 0. Contra a Nigéria, regressou ao 4-4-2. Hoje, foi uma espécie de 4-3-2-1, com Messi isolado no ataque.
O universo todo sabe que a defesa argentina é frágil. E, desde a saída de Alejandro Sabella em 2014, nenhum técnico conseguiu dar consistência ao setor, independentemente dos jogadores. Esse conjunto de problemas levou a Argentina de volta para a casa precocemente. Pode ter sido o fim dessa geração talentosa, mas que não traduziu sua qualidade em títulos: Lionel Messi, Javier Mascherano, Ángel Di María, Kun Agüero, Gonzalo Higuaín e outros.
Três pontos sobre… … 29/06/1986 – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental
(Imagem: Telegraph / AP)
● Na Argentina, ou se é “menottista” ou se é “bilardista”. Vencer com um futebol de toque de bola envolvente ou vencer a qualquer custo?
César Luis Menotti, fumante inverterado, gostava do jogo coletivo, baseado no “toco e me voy”, com tabelas e ultrapassagens.
Carlos Salvador Bilardo, técnico da seleção entre 1983 e 1990, era a antítese do treinador campeão mundial em 1978. Bilardo era meio campista do Estudiantes de La Plata, tricampeão da Taça Libertadores da América (1968, 1969 e 1970), um time em que a catimba e o jogo sujo prevalecia. Valia tudo para ser campeão, até espetar os adversários com um prego, como Bilardo era acusado de agir. Não que ele tenha usado essas artimanhas em sua vitoriosa passagem pela seleção de seu país. Ele só queria vencer e tinha uma equipe disposta a lhe proporcionar isso. Eram estilos antagônicos.
Sem Maradona nas eliminatórias, a Argentina perdia para o Peru no Monumental de Núñez por 2 x 1 até os 30 do segundo tempo. O vexame da eliminação foi evitado no fim da partida, com um gol de Ricardo Gareca (técnico que levou o Peru à Copa de 2018, após 36 anos).
Poucos dias depois de sofrer para se classificar ao Mundial, a revista El Gráfico perguntou ao técnico qual era a melhor equipe do mundo. Bilardo, em um misto de premonição com presunção, respondeu: “Vejo a Alemanha na final da Copa”. “E a Argentina?”, questionou o repórter. O treinador afirmou: “Eu a vejo campeã do mundo”.
De qualquer forma, Bilardo, um médico de 47 anos, era quase unanimidade em seu país: 80% dos argentinos não confiavam em seu trabalho. Foi duramente criticado pelo antecessor, Menotti, que o chamou de “uma piada”, e até pelo presidente do país, Raúl Alfonsín.
(Imagem: Telegraph / Rex)
● A decisão que Bilardo previa ocorre no dia 29 de junho de 1986. A 13ª final de Copa do Mundo reúne a Argentina, campeã em 1978, e a Alemanha Ocidental, bicampeã mundial (1954 e 1974) e vice da última Copa. O chanceler alemão, Helmut Kohl, está entre os quase 115 mil expectadores no belíssimo estádio Azteca, para assistir a um confronto de gigantes. Era a terceira final da Argentina e a quinta da Alemanha. Embora inegavelmente possuíssem bons times, ambas não estavam entre os principais favoritos à conquista do Mundial e chegaram à decisão de maneiras distintas.
A Argentina estava invicta. No Grupo A da primeira fase, venceu a Coreia do Sul (3 x 1), empatou com a Itália (1 x 1) e bateu a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, bateu o Uruguai por 1 a 0, no clássico sul-americano. Nas quartas de final, venceu a Inglaterra por 2 a 1, na vingança da “Guerra das Malvinas”. Nas semifinais, contou com a genialidade de Maradona para passar pela surpreendente Bélgica por 2 a 0.
Os alemães não podiam contar com Rummenigge em sua melhor forma e se arrastaram em quase toda a Copa, sofrendo muito para chegar à decisão. Na primeira fase, se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0.
Por tudo isso, era muito difícil prever o desfecho final. Mas se as duas seleções e seus principais craques repetissem o futebol das partidas anteriores, a Argentina era favorita. Isso não ajudava em nada, pois nas finais anteriores a Alemanha Ocidental derrotou adversários muito melhores que ela (a Hungria, em 1954, e a Holanda, em 1974).
Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.
A Alemanha jogava no mesmo sistema, um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. Mas, ao contrário dos argentinos, o lateral esquerdo era o marcador que fazia o terceiro zagueiro, Briegel. Do lado direito, Berthold apoiava um pouquinho mais, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para o centroavante Klaus Allofs e para o craque Rummenigge.
● Maradona entrou no gramado do estádio Azteca com seu ritual: fazendo o sinal da cruz e dando pulos sobre a perna direita, com a mágica perna esquerda encolhida.
Rummenigge e Klaus Allofs deram a saída.
Ciciuffo ficou preso na lateral direita, marcando Klaus Allofs. Ruggeri ficou à esquerda, colado em Rummenigge. Com a bola, Valdano demonstrava toda sua inteligência tática, abrindo espaço para os que vinham de trás. Sem a bola, ele era o encarregado de não deixar o gigante Briegel avançar.
Thomas Berthold retornava de suspensão e entrou no lugar de Wolfgang Rolff. Com isso, coube a Matthäus a responsabilidade de marcar Maradona individualmente, da mesma forma que seu técnico Franz Beckenbauer tinha feito em Bobby Charlton na final de 1966, e Berti Vogts tinha sido a sombra de Johan Cruijff na decisão de 1974. E até conseguiu parcialmente. Mas ele também neutralizou Mattthäus. Às vezes, Maradona avançava tanto e arrastava Matthäus, de forma que parecia que a Alemanha tinha quatro defensores centrais. Com isso, os alemães perderam a criatividade e Magath ficou isolado, participando pouco do jogo.
Mas, ao contrário do que se dizia, a Argentina era mais do que apenas Maradona, e não se deixou intimidar. Todavia, nos primeiros minutos, foram os alemães que tomaram a iniciativa da partida, mas sem assustar.
Mesmo mais comprometida defensivamente, a Argentina passou a ser melhor na partida e mais ofensiva. O primeiro susto para o goleiro Schumacher foi um escanteio cobrado por Maradona, que Burruchaga desviou na primeira trave.
A Alemanha respondeu rápido. Eder entregou a bola a Briegel, que literalmente se jogou na entrada da área. Só o árbitro brasileiro Romualdo Arppi Filho viu a falta e marcou. Rummenigge rolou para Brehme chutar para o gol, mas Pumpido encaixou a bola com segurança.
Enquanto isso, Maradona só reclamava sem parar. Romualdo controlou o jogo ao advertir o capitão argentino com o cartão amarelo logo aos 17′. O camisa 10 sofreu sete faltas em toda a partida, sem contar outras três não apitadas pelo juiz. Mas foi marcado de forma leal e implacável. “Matthäus me marcou sem dar espaços nem patadas”, diria Diego depois.
Logo depois, Maradona dá um passe perfeito para Burruchaga, mas Brehme estava firme na marcação. Ele deu um carrinho e impediu a bola de chegar em condições para o portenho. A Argentina continuou controlando a posse de bola.
Cuciuffo engana Rummenigge e passa a Maradona. O capitão devolve de calcanhar e é derrubado por trás. Romualdo dá a vantagem, mas Cuciuffo leva uma rasteira de Matthäus na sequência. E foi nesse lance que a Argentina inaugurou o marcador. Burruchaga cobrou a falta pela ponta direita, em direção à pequena área. A Alemanha tinha sete jogadores dentro da área, mais o goleiro, contra quatro da Argentina, sendo um deles o baixinho Maradona. Contra todas as expectativas, Schumacher saiu “catando borboletas” e deixou o gol aberto para a cabeçada fulminante de Brown. O sucessor do legendário Daniel Passarella põe a Argentina na frente. Depois, ele deu um beijo na bola e agradeceu Burruchaga pela assistência perfeita. A Argentina abre o placar aos 23 minutos de jogo.
Ainda no primeiro tempo, Maradona teve duas boas chances para marcar seu gol. A primeira surgiu em uma cobrança de falta, defendida pelo goleiro. A segunda foi quando ele recebeu a bola na cara do gol e Schumacher saiu bem e o desarmou, em uma dividida com os pés.
O esquema cauteloso da Alemanha não funcionava. Agora, com a derrota parcial, os germânicos tinham que atacar e a final seria um jogo mais aberto, do jeito que Maradona e Burruchaga gostavam.
Em um lance no campo de ataque, Berthold toca de cabeça, mas Rummenigge chega atrasado e Pumpido segura.
Até o intervalo, nota-se um padrão. A Alemanha Ocidental, que nos jogos anteriores recorreu à bola parada e à decisão por pênaltis para avançar, apela para a interrupção das jogadas, tentando parar Maradona de qualquer forma. Mas estava com a desvantagem no placar e não conseguia nenhum ataque efetivo ao gol argentino. Próximo ao intervalo, os alemães reclamaram de um pênalti, mas o árbitro apontou de forma correta que a infração foi 10 cm fora da grande área.
Após 45 minutos, a Argentina vencia por 1 a 0. Não foi um bom primeiro tempo, com muitas faltas e poucas jogadas bonitas. Mas, felizmente, o que veríamos na etapa final seria muito diferente.
(Imagem: UOL)
● Beckenbauer voltou com Rudi Völler no lugar de Klaus Allofs, que tinha sido engolido pela marcação de Cuciuffo.
A Argentina voltou ainda melhor para a segunda etapa, começou com tudo e fez 2 a 0 aos 10 minutos. Maradona toca para Héctor Enrique. “El Negro”, puxa a jogada pelo meio e lança na medida para Jorge Valdano, livre de marcação. O atacante recebe, avança pela esquerda, entra na área e toca mansinho, na saída do goleiro Schumacher, fazendo a alegria da maioria da torcida presente no estádio.
Jogando com muita confiança na defesa, os sul-americanos não dão espaço para os atacantes rivais e ainda criam oportunidades de contra-ataque. Jorge Valdano teve uma outra chance, mas a cabeçada foi para fora.
Na metade do segundo tempo, Enrique partiu livre para marcar o terceiro, mas o bandeirinha costarriquenho Berny Ulloa assinalou um dos impedimentos mais absurdos da história.
Depois, achando que a partida já estava ganha, os argentinos amoleceram. Mas nunca se deve subestimar os metódicos alemães. Maradona diria depois: “Até que recebam o atestado de óbito, os alemães não se entregam. Não temem nada. Na entrada dos times, nós acostumávamos a gritar, bater no peito. Isso metia medo em todos os rivais. Menos neles”.
E então Matthäus foi parcialmente dispensado de suas obrigações ofensivas e a Alemanha Ocidental começou a jogar, tentando reagir a qualquer custo. Aos 17′, Beckenbauer trocou o apagado meia Magath (que foi muito bem marcado por Giusti) pelo atacante Dieter Hoeneß, bom nas bolas altas.
As bolas aéreas deveriam ser a especialidade argentina. Bilardo se preocupava tanto com a bola parada defensiva que entrou no quarto de Oscar Ruggeri às quatro horas da manhã do dia da final e perguntou ao defensor, meio dormindo e desorientado, quem ele deveria marcar nos escanteios. Ruggeri respondeu: “Rummenigge”, provando ao técnico que ele estava suficientemente focado.
Porém, aos 29′, com Brown sentindo dores por uma pancada no ombro, Ruggeri não conseguiu cumprir sua função. Brehme bate um escanteio, Völler desvia de cabeça para a pequena área e Rummenigge aparece entre os zagueiros e completa de carrinho para as redes. Com 2 a 1 no marcador, o jogo ganha nova vida.
Dois minutos depois, Maradona domina a bola de chaleira, mas chuta sem direção. O “Pibe” tenta controlar mais a bola, mas Matthäus é a sua sombra. Rummenigge recua para o meio de campo, para armar as jogadas.
E o inimaginável acontece aos 35′. Matthäus avança e cruza na cabeça de Dieter Hoeneß, mas Pumpido espalma, cedendo novo escanteio. Brehme cobra e ergue para a área. Berthold apara pelo alto e Rudi Völler se antecipa a Pumpido e cabeceia para o gol. Völler, que já tinha sido fundamental no gol anterior, agora marcava o seu. Ele entrou no segundo tempo e mudou a partida.
A Alemanha empatou em duas cobranças de escanteio nas quais a zaga portenha serviu apenas de plateia.
(Imagem: Pinterest)
● A dez minutos do fim, o jogo estava empatado em 2 a 2 e havia no estádio o temor de que o melhor futebol não fosse premiado com a taça. Visivelmente desgastada pelo sol de rachar do México, a Alemanha tentava diminuir o ritmo. Maradona diria: “Até fiquei com receio da prorrogação depois do gol de empate. Mas quando olhei aquele touro do Briegel com as pernas vermelhas, falei pro Burruchaga que era só fazer a bola correr que a gente ganhava”.
A decisão se encaminhava para a prorrogação, mas, entusiasmados pela reação, os alemães afrouxaram a marcação e acabaram deixando espaço atrás de sua linha de defesa.
Aos 38′, Maradona recebeu a bola em seu próprio campo e, cercado por dois alemães, viu Burruchaga escapar em condição legal por trás da defesa alemã, que estava incrivelmente adiantada. Foi um belo lançamento do camisa 10. Burruchaga avançou, ganhou na velocidade do ex-decatla Briegel, e tocou com muito sangue frio para o gol, na lenta saída de Schumacher.
O camisa 7 Burruchaga emulou o Jairzinho de 16 anos antes, se ajoelhou para comemorar o gol e o título no estádio Azteca. “Foi o pique mais longo e emocionante de minha vida. Achei que não aguentaria. Mas tive a sorte de ver claramente o Schumacher, que estava todo de uniforme amarelo, brilhando. Vi o quanto estava longe da meta quando recebi a bola, e pude mais facilmente definir o lance. O plano era encobri-lo, mas acabei tocando entre suas pernas. Eu não vi que Valdano estava correndo ao meu lado pelo meio, nem ouvi Briegel atrás de mim. Estava esgotado demais para perceber tantas coisas.”
Era o gol do título! Era o gol da justiça com Maradona e com o próprio futebol.
Nos instantes finais, o talentoso trio Valdano, Maradona e Burruchaga ainda infernizava a vida dos alemães.
No finzinho, Maradona passa por dois adversários e é atingido por Schumacher dentro da área. Romualdo não marca pênalti, mas apenas falta para a Argentina. Maradona cobra forte, rasteiro, na esquerda do goleiro, que espalma para a lateral.
Burruchaga foi substituído para ser ovacionado pela torcida e festejar antes com os companheiros do banco.
A essa altura, tudo estava decidido. Oito anos depois de sua primeira conquista, os argentinos são novamente campeões do mundo. Dessa vez, de maneira incontestável.
A loucura toma conta do estádio Azteca, como 16 anos antes, no tricampeonato da Seleção Brasileira de Pelé. O gramado estava tão lotado, que Maradona e seus companheiros nem conseguiram dar a volta olímpica.
Enquanto todos os argentinos comemoravam, com a taça nas mãos, o perfeccionista Bilardo ficou horas chateado, se perguntando como seu time tinha levado dois gols de estanteio depois de treinar tanto.
Na tribuna, um cumprimento seco entre Maradona e João Havelange, o eterno presidente da FIFA. Diego recebeu a taça das mãos do presidente do México, Miguel de la Madrid, a beijou e a levantou para a posteridade.
(Imagem: Pinterest)
● O alemão Rummenigge é até hoje o único capitão de uma seleção nacional a perder duas finais de Copa, diante da Itália em 1982 e da Argentina em 1986.
O prêmio dos argentinos, campeões mundiais, foi de 50 mil dólares. Se ficassem com a taça, os brasileiros receberiam 130 mil dólares.
“Todos estavam contra a gente. O governo, muitos argentinos, os rivais. Éramos visitantes até no Estádio Azteca. A torcida era maior pelos alemães. No fim do jogo, só os argentinos no estádio berravam. Em nosso país, sabia que tínhamos virado o jogo. E os que mais nos criticavam seriam os primeiros a subir no carro da vitória na Argentina. Pena que um título mundial não baixe o preço do pão. Se pudéssemos resolver os problemas do nosso país com dribles…” — Maradona
Maradona foi fundamental para que a Argentina conquistasse o título. Muitos dizem que ele “ganhou o título sozinho”, o que é impossível em um esporte coletivo como o futebol. Mas é fato que nenhum jogador desequilibrou tanto em um Mundial desde Garrincha, que liderou o Brasil na conquista de 1962. Pela sua liderança e singularidade, com o título, Maradona entrou de vez no “Olimpo do futebol”.
Dieguito não teve desempenho semelhante nas outras três Copas que disputou. Não fez parte do elenco campeão em 1978, segundo o técnico Menotti, por ser “jovem demais” (tinha 17 anos e 7 meses). Em 1982, ainda um garoto, chegou com status de craque e decepcionou, sendo expulso depois de um coice no brasileiro Batista. Em 1990, liderou sua seleção até a final. Mas, com dores no tornozelo, esteve irregular e até perdeu um pênalti. Em 1994, fez duas belas partidas antes de ser flagrado em um exame antidoping.
O capitão da Copa de 1978, Daniel Passarella, estava presente no elenco campeão em 1986, mas ele prefere não colocar esse título no seu currículo, por não ter jogado um minuto sequer na campanha, devido à desavenças e conflito de egos com Maradona, que não queria sequer a convocação do desafeto. De qualquer forma, Passarella é o único jogador presente nos dois títulos mundiais dos portenhos.
A seleção argentina fez sua preparação em Tilcara, um povoado de seis mil habitantes, que fica na província de Jujuy, extremo norte do país, nas fronteiras com o Chile e com a Bolívia. O local foi escolhido por ser uma região de clima árido e altitude considerável, um pouco semelhante ao que veriam no México. Alguns jogadores fizeram uma promessa à Virgem de Punta Corral, padroeira do vilarejo: caso conquistassem o Mundial, esses atletas voltariam ao lugar para agradecer à santa. O título aconteceu, mas eles não cumpriram sua promessa. Alguns fanáticos creditam a seca atual de títulos da seleção ao não cumprimento da promessa.
Três pontos sobre… … 26/06/2018 – O melhor do 13º dia da Copa
(Imagem: Getty Images)
A Argentina sofre muito e consegue sua classificação a poucos minutos do fim.
França e Dinamarca não quiseram jogar e protagonizaram a primeira partida sem gols da Copa.
A Croácia mostra a força de seu elenco e, mesmo com o time reserva, vence a Islândia.
O Peru volta para casa com a sensação de dever cumprido.
… Dinamarca 0 x 0 França
(Imagem: FIFA.com)
O empate era um bom resultado para ambos. A Dinamarca se classificava independentemente do resultado entre “Austrália x Peru”. A França garantiria o primeiro lugar do Grupo C. E em uma partida que ninguém precisa vencer, não há como ser diferente: foi o primeiro jogo sem gols da Copa do Mundo de 2018.
Pouco aconteceu durante a partida. Mesmo sem levar perigo, a França foi mais perigosa.
Aos 15 minutos do primeiro tempo, Nzonzi abre na esquerda e Hérnández faz tabela com Giroud dentro da área. O centroavante francês finaliza fraco e Schmeichel espalma.
Aos 29′, Delaney lança na ponta esquerda para Cornelius, que cruza para o meio da área. Christian Eriksen vinha na corrida, mas não alcança a bola. Ele pede pênalti, mas o árbitro ignora.
Quatro minutos depois, Dembélé arrisca da intermediária e a bola passa assustando o arqueiro dinamarquês.
Aos 9 min do segundo tempo, Eriksen cobra falta de muito longe e Mandanda defende em dois tempos.
No minuto 25, Lemar toca para Fekir e ele chuta forte, mas a bola bate nas redes pelo lado de fora.
Aos 37′, Mbappé toca para Fekir que, de novo, chuta bem, mas Schmeichel espalma para o lado.
Nos acréscimos, Mbappé avança pela direita e toca para o meio da área, mas a zaga dinamarquesa afasta o perigo.
No segundo tempo, a torcida presente no estádio Luzhniki vaiou as equipes, que pouco faziam.
Nas oitavas de final, a França vai enfrentar a Argentina, enquanto a Dinamarca encara a Croácia. Um bom castigo para as duas seleções que não quiseram nada hoje, mas agora vão precisar jogar muito.
Devido ao bom futebol que exibia nos amistosos dos últimos meses, o Peru prometia ser uma das sensações da Copa do Mundo. Mas foram duas derrotas nos dois primeiros jogos e a frustrante eliminação precoce. Perdeu, mesmo tento sido melhor que a Dinamarca e encarando a França em boa parte do tempo.
Mas a vitória que não vinha há 36 anos, veio hoje.
Eram jogados 18 minutos quando Guerrero, já dentro da área, faz a inversão da esquerda para a direita. André Carrillo emenda de primeira, com a bola ainda no ar, e faz um golaço. Primeiro gol peruano em Copas do Mundo desde 1982.
Aos 27′, Rogić fez fila dentro da área e chuta firme, mas Gallese defendeu com os pés.
Sete minutos depois, Rogić tocou para Kruse, que entrou na área e cruzou para o meio. Mas Advíncula estava lá para impedir que a bola chegasse a Leckie.
Aos cinco minutos do segundo tempo, Cueva fez das suas e encontrou Guerrero dentro da área. O capitão peruano virou chutando e fez o segundo de sua seleção. Um gol muito emblemático, se lembrarmos toda a trama e o trauma que Paolo Guerrero tem sofrido nos últimos meses, suspenso por doping. Mas ele teve a punição suspendida para jogar essa Copa do Mundo e fez o gol que dele se esperava. A bola ainda desviou no zagueiro Miligan antes de entrar.
Depois, a Austrália passou a assustar em cobranças de escanteio, mas não conseguiu seu gol. Em uma delas, Tim Cahill teve a chance de marcar o gol e se tornar o primeiro australiano a anotar gols em quatro Copas do Mundo diferentes, mas a defesa peruana não permitiu que essa lenda alcançasse esse feito.
Mesmo sendo a lanterna do Grupo C, a Austrália merece os parabéns por ter vendido caro a derrota para a França e por ter empatado com a Dinamarca, embora merecesse vencer. Em uma chave difícil, acabou saindo de cabeça erguida.
Ao Peru, fica a euforia pela vitória e a frustração pela não classificação. E se Christian Cueva tivesse convertido aquele pênalti na primeira partida, contra a Dinamarca quando o placar ainda estava zerado?! Provavelmente os incas estariam em festa hoje, ao invés de estarem voltando para casa.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — Austrália 0 x 2 Peru
Data: 26/06/2018 — Horário: 17h00 locais
Estádio: Olímpico de Fisht (Fisht Stadium) — Cidade: Sóchi (Rússia)
Público: 44.073
Árbitro: Sergei Karasev (Rússia)
Gols: 18′ André Carrillo (PER); 50′ Paolo Guerrero (PER)
Cartões Amarelos: 10′ Mile Jedinak (AUS); 45′ Yoshimar Yotún (PER); 60′ Daniel Arzani (AUS); 66′ Tom Rogić (AUS); 79′ Paolo Hurtado (PER); 88′ Mark Miligan (AUS)
Austrália (4-2-3-1): 1.Mathew Ryan; 19.Joshua Risdon, 20.Trent Sainsbury, 5.Mark Miligan e 16.Aziz Behich; 15.Mile Jedinak (C) e 13.Aaron Mooy; 7.Matthew Leckie, 23.Tom Rogić (22.Jackson Irvine ↑72′) e 10.Robbie Kruse (17.Daniel Arzani ↑58′); 9.Tomi Jurić (4.Tim Cahill ↑53′). Técnico: Bert van Marwijk
Peru (4-2-3-1): 1.Pedro Gallese; 17.Luis Advíncula, 15.Christian Ramos, 4.Anderson Santamaría e 6.Miguel Trauco; 13.Renato Tapia (7.Paolo Hurtado ↑63′) e 19.Yoshimar Yotún (23.Pedro Aquino ↑INTERVALO); 18.André Carrillo (16.Wilder Cartagena ↑79′), 8.Christian Cueva e 20.Edison Flores; 9.Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca
… Nigéria 1 x 2 Argentina
(Imagem: FIFA.com)
Em um sinal de desespero, segundo a imprensa argentina, o técnico Jorge Sampaoli seguiu o pedido dos jogadores e não inventou. Escalou uma equipe parecida com a finalista do Mundial quatro anos atrás, com Lionel Messi partindo da ponta direita para o meio, como rende mais.
E foi assim que ele abriu o placar aos 14 minutos. Éver Banega fez um ótimo lançamento para Messi. O gênio dominou, trouxe para a perna direita e chutou cruzado no alto, sem chances para o goleiro Uzoho. Primeiro gol de Messi na Copa.
No minuto 34, Di María foi derrubado na entrada da área. Messi bateu bem, mas a bola tocou na trave e saiu.
A Nigéria voltou para o segundo tempo assustando. Logo aos cinco munitos, Mascherano agarrou Balogun dentro da área. Pênalti marcado por Cüneyt Çakır e confirmado pelo VAR. Victor Moses nem tomou distância e bateu com enorme categoria, no canto esquerdo do goleiro Armani.
Depois, a Argentina ficava com a bola, mas não sabia o que fazer. O experiente Javier Mascherano, líder inconstestável da equipe, estava colocando tudo a perder. Mas Sampaoli seguiu o exemplo de Joachim Löw na Alemanha: foi tirando lateral e meio campistas, lançando atacantes em campo.
Mas o caldo quase entornou de vez aos 30 minutos, quando Musa recebeu um lançamento e avançou na esquerda. Quando ele cruzou, a bola desviou no carrinho de Mascherano e subiu. Tagliafico tentou cabecear para trás e a bola bateu em seu braço esquerdo. Mas dessa vez o árbitro se acovardou e não marcou o segundo pênalti para as “Super Águias”. Na sobra, Ighalo perdeu uma chance claríssima ao finalizar para fora, com muito perigo.
Àquela altura, a Argentina estava sendo eliminada. Mas aos 41′, Mercado cruzou da direita e Rojo emendou um torpedo de pé direito para o gol. Um zagueiro que joga pelo lado esquerdo, canhoto, finalizou de pé direito, e estufou as redes de Uzoho. Seria e foi o gol da classificação!
Agora, a Argentina vai encarar a França nas oitavas de final e as dificuldades tendem a ser maiores. A chance dos argentinos é a genialidade de Messi. Caso contrário, já pode comprar a passagem de volta no próximo sábado.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — Nigéria 1 x 2 Argentina
Data: 26/06/2018 — Horário: 21h00 locais
Estádio: Krestovsky Stadium (Saint Petesburg Stadium) — Cidade: São Petesburgo (Rússia)
Público: 64.468
Árbitro: Cüneyt Çakır (Turquia)
Gols: 14′ Lionel Messi (ARG); 51′ Victor Moses (NIG)(pen); 86′ Marcos Rojo (ARG)
Cartões Amarelos: 32′ Leon Balogun (NIG); 49′ Javier Mascherano (ARG); 64′ Éver Banega (ARG); 90+1′ John Obi Mikel (NIG); 90+4′ Lionel Messi (ARG)
Nigéria (3-5-2): 23.Francis Uzoho; 6.Leon Balogun, 5.William Troost-Ekong e 22. Kenneth Omeruo (18.Alex Iwobi ↑90′); 11.Victor Moses, 8.Oghenekaro Etebo, 10.John Obi Mikel (C), 4.Wilfred Ndidi e 2.Brian Idowu; 7.Ahmed Musa (13.Simeon Nwankwo ↑90+2′) e 14’Kelechi Iheanacho (9.Odion Ighalo ↑INTERVALO). Técnico: Gernot Rohr
Argentina (4-4-2): 12.Franco Armani; 2.Gabriel Mercado, 17.Nicolás Otamendi, 16.Marcos Rojo e 3.Nicolás Tagliafico (19.Sergio Agüero ↑80′); 14.Javier Mascherano, 15.Enzo Pérez (22.Cristian Pavón ↑61′), 7.Éver Banega e 11.Ángel Di María (13.Maximiliano Meza ↑72′); 10.Lionel Messi (C) e 9.Gonzalo Higuaín. Técnico: Jorge Sampaoli
… Islândia 1 x 2 Croácia
(Imagem: FIFA.com)
A Croácia poupou nove de seus titulares. Apenas Luka Modrić e Ivan Perišić começaram jogando hoje. Apenas um desastre tiraria a primeira colocação dos croatas e ele não aconteceu. Pelo contrário: terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento.
E os reservas de Zlatko Dalić mostraram um nível muito bom, conseguindo envolver o adversário com trocas de passes, embora não conseguisse furar o bloqueio defensivo com facilidade.
E a Islândia, uma boa equipe, mas que possui claras limitações, sonhava com a classificação. Precisaria vencer e torcer ao menos para um empate da Argentina contra a Nigéria.
No minuto 40′, Guðmundsson roubou uma bola na intermediária, tabelou com Gylfi Sigurðsson e chutou para fora, assustando o goleiro Kalinić.
Nos acréscimos da etapa inicial, Guðmundsson avançou pela direita e rolou para trás. O capitão Gunnarsson chegou batendo com muito perigo e Kalinić defendeu bem.
Aos sete minuto do segundo tempo, Badelj arriscou de longe e a bola ainda tocou no travessão antes de sair.
No minuto seguinte, o camisa 19 da Croácia não perdoou. Ele mesmo começou a jogada, abrindo na esquerda para Pivarić. O lateral esquerdo cruzou, a bola desviou em um adversário e subiu, ficando na medida para Badelj chutar bonito, de cima para baixo.
Aos dez minutos, Gunnarsson cobrou lateral para o meio da área. Hallfreðsson subiu para dividir com o goleiro croata e Ingason cabeceou sozinho, para boa defesa do goleiro. Na sequência, Gylfi Sigurðsson cobrou o escanteio e o mesmo Ingason cabeceou a bola no travessão.
Aos 30′, Guðmundsson e Gylfi Sigurðsson tabelam na área e a bola bate no braço de Lovren. O próprio Gylfi foi para a cobrança para não repetir seu erro contra a Nigéria. Ele cobrou alta, no meio do gol, devolvendo as esperanças de classificação à Islândia.
Mas no derradeiro minuto, Perišić recebeu a bola na esquerda e chutou cruzado, anotando o segundo tento da Croácia.
A seleção da Islândia deixa um legado de simpatia à Copa. Embora seja eliminada na primeira fase, fez uma ótima partida diante da Argentina. O mundo do futebol torce para que a Islândia esteja na Copa de 2022, no Qatar.
A Croácia está no auge de seu potencial e vem forte para enfrentar a Dinamarca. Será um belo duelo entre os envolventes croatas e os pragmáticos dinamarqueses.
Três pontos sobre… … 21/06/2018 – O melhor do oitavo dia da Copa
(Imagem: FIFA.com)
Dinamarca e Austrália empatam, França classificada e Peru eliminado.
Argentina decepciona, leva um “chocolate” do bom time Croácia e agora corre sérios riscos para se classificar às oitavas de final.
Veja os detalhes das partidas, inclusive nossa opinião sobre o fiasco da seleção argentina e de Lionel Messi.
… Dinamarca 1 x 1 Austrália
(Imagem: FIFA.com)
A Dinamarca começou com tudo, mostrando o que tem de melhor. Logo aos sete minutos, Jørgensen preparou bem a bola dentro da área e Christian Eriksen pegou de primeira, de perna esquerda, em finalização plástica, com alto grau de dificuldade. Mas não para quem é craque. Primeiro gol de Eriksen na Copa. Já havia dado a assistência contra o Peru. Ele é a alma e o bastião de qualidade do time.
Doze minutos depois, após cobrança de escanteio, Leckie cabeceia a bola na mão de Poulsen, que saltou mesmo com o braço esquerdo aberto. Com a ajuda do VAR, o árbitro espanhol Mateu Lahoz assinalou a penalidade máxima. Especialista em cobranças de pênalti, o capitão Mile Jedinak (e sua barba estilo “lenhador”) bateu bem no canto esquerdo, deslocando o goleiro Schmeichel e empatando o jogo.
Aos 27 da etapa final, Tom Rogić se livrou da marcação e chutou bem da meia lua, mas Schmeichel pegou.
O empate não fez justiça à partida, já que a Austrália dominou a partida após sofrer o gol. Só não venceu por falta de qualidade técnica dos meias e atacantes. Por outro lado, a Dinamarca foi pior que o adversário na segunda partida seguida (foi assim também contra o Peru). Enquanto os resultados estiverem vindo, tudo bem. O time tem potencial (e tem Eriksen), mas demonstra em poucos momentos. Mas será difícil passar das oitavas de final atuando dessa forma.
O primeiro lance de perigo foi da França, aos doze minutos. Pogba dominou e girou na intermediária e arriscou de muito longe. A bola passou muito perto, assustando o goleiro Gallese.
Na sequência, Griezmann cobrou escanteio e Varane apareceu para desviar na primeira trave, mas a bola foi para fora.
Pouco depois, Varane lançou de seu campo de defesa, Giroud escora e Griezmann bate forte de direita, para boa defesa do goleiro peruano.
A melhor chance do Peru veio aos 31′, com seu melhor jogador. Cueva carregou pela ponta esquerda e encontrou Guerrero na área. O centroavante do Flamengo girou sobre a marcação de Umtiti e chutou de esquerda, mas a bola foi em cima do goleiro Lloris, que fez uma ótima e importante defesa.
Dois minutos depois, Pogba fez um ótimo lançamento na área para Mbappé, mas o prodígio do PSG errou o calcanhar na bola. Seria um golaço. Mas logo ele teria outra chance de marcar.
No lance seguinte, Pogba rouba a bola de Guerrero e toca para Giroud dentro da área. O centroavante chuta, a bola bate em Rodríguez e sobe, tirando o goleiro da jogada. Ela cai na linha de gol para Mbappé completar para o gol vazio. A camisa 10 de Platini e Zidane parece não pesar para o jovem francês.
Les Bleus continuaram atacando. Mbappé começou a jogada pela direita, passou para Kanté, que deixou para Griezmann tocar de primeira para Lucas Hernández. O lateral esquerdo dominou e chutou forte de esquerda. Gallese defendeu e no rebote Hernández chutou mascado para fora.
Aos cinco minutos do segundo tempo, Farfán ajeitou para Aquino arriscar da intermediária. A bola pegou um efeito contrário e tocou na trave antes de sair. Seria um lindo gol.
Do lado francês, destaque para as alterações promovidas no time titular por Didier Deschamps. A entrada de Matuidi no lugar de Tolisso deu mais marcação, transição e velocidade pelo lado esquerdo. Giroud entrou na vaga de Dembélé e provou o quanto um centroavante fez falta no jogo anterior, contra a Austrália. Isso acabou dando liberdade a Griezmann, o deixando jogar livre, na posição em que mais produz.
A França dominou o primeiro tempo e perdeu oportunidades para fazer um placar maior. No segundo tempo, levou o jogo em “banho-maria”, esperando o apito final. O Peru até tentou pressionar. Teve mais posse de bola, sobrou vontade, mas faltou qualidade. Enquanto os franceses garantiram classificação antecipada, os peruanos estão eliminados.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — França 1 x 0 Peru
Data: 21/06/2018 — Horário: 20h00 locais
Estádio: Estádio Central (Ekaterinburg Arena) — Cidade: Ecaterimburgo (Rússia)
Público: 32.789
Árbitro: Mohammed Abdulla Hassan Mohamed (Emirados Árabes Unidos)
Gol: 34′ Kylian Mbappé (FRA)
Cartões Amarelos: 16′ Blaise Matuidi (FRA); 23′ Paolo Guerrero (PER); 81′ Pedro Aquino (PER); 86′ Paul Pogba (FRA)
França (4-3-3): 1.Hugo Lloris (C); 2.Benjamin Pavard, 4.Raphaël Varane, 5.Samuel Umtiti e 21.Lucas Hernández; 13.N’Golo Kanté, 6.Paul Pogba (15.Steven Nzonzi ↑89′) e 14.Blaise Matuidi; 10.Kylian Mbappé (11.Ousmane Dembélé ↑75′), 7.Antoine Griezmann (18.Nabil Fékir ↑80′) e 9.Olivier Giroud. Técnico: Didier Deschamps
Peru (4-2-3-1): 1.Pedro Gallese; 17.Luis Advíncula, 15.Christian Ramos, 2.Alberto Rodríguez (4.Anderson Santamaría ↑INTERVALO) e 6.Miguel Trauco; 23.Pedro Aquino e 19.Yoshimar Yotún (10.Jefferson Farfán ↑INTERVALO); 18.André Carrillo, 8.Christian Cueva (11.Raúl Ruidíaz ↑82′) e 20.Edison Flores; 9.Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca
… Argentina 0 x 3 Croácia
(Imagem: FIFA.com)
Em cerca de um ano de trabalho, nem o técnico Jorge Sampaoli sabe qual sistema tático usar na seleção e nem quais jogadores escalar. É um “bielsista”, mas só herdou as manias ruins de seu professor. Na primeira partida, um 4-4-2 quase em duas linhas de quatro. No segundo jogo, uma espécie do 3-4-3 de Bielsa, com apenas um zagueiro de ofício. No meio, dois alas lentos na recomposição, além de dois volantes prestes a se aposentar: Mascherano e Enzo Pérez. No ataque, Meza e Agüero ao lado de Messi.
Nem preciso dizer que não deu certo. A Croácia é uma seleção entrosada e com muita qualidade, e se aproveitou das fragilidades do sistema. Quem poderia equilibrar a partida pelo lado argentino seria Messi. Mas ele nem apareceu.
A primeira oportunidade de gol apareceu após meia hora de jogo. Acuña acreditou em uma bola perdida dentro da área, ganhou de Lovren e cruzou para o meio da área. Vida tirou mal e Enzo Pérez chutou para fora, já sem goleiro. Não se pode perder um gol feito como esse.
Três minutos depois, Perišić faz um lançamento para a área tentando achar Mandžukić. Ele desvia de cabeça, mas a bola acaba passando perto da trave, chegando a assustar.
Aos oito minutos do segundo tempo, Mercado atrasa a bola para Caballero. O goleiro tenta devolver por cima, mas repõe a bola fraca e ela fica fácil para Ante Rebić emendar o voleio. Um erro simplório e infantil para um goleiro de uma seleção como a Argentina.
Os albicelestes estiveram muito perto do empate onze minutos depois. Enzo Pérez encontra Higuaín dentro da área. Ele vai até a linha de fundo e cruza. Mas Meza finaliza em cima do goleiro Subašić. No rebote, Messi é travado por Vida, que evita o gol certo.
Aos 35′, Luka Modrić dominou com liberdade pouco antes da meia lua e cortou para os dois lados, fazendo Otamendi dançar. Depois, chutou forte, de longe, sem chances para Caballero. Um golaço.
O caixão foi fechado já nos acréscimos. A primeira tentativa de Rakitić foi uma cobrança de falta magistral, que tocou na junção da trave e do travessão. Um pecado.
Mas logo depois, em um contra-ataque mortal, Rakitić chuta e Caballero espalma. Na sobra, Kovačić devolve para Rakitić, já sem goleiro, só completar para o gol. Causou espanto ver a defesa argentina parada reclamando um impedimento não existente, ao invés de ir na disputa da jogada. Placar de 3 a 0 humilhante para a Argentina.
Sergio Romero seria o goleiro titular, mas se lesionou. Faz muita falta. Franco Armani é o melhor goleiro à disposição, mas Sampaoli preferiu Caballero incrivelmente por ser mais hábil com os pés. Não se podia prever uma falha horrorosa como essa do goleiro reserva do Chelsea.
Pelo que demonstraram na temporada, Paulo Dybala e Gonzalo Higuaín não podem ser reserva dessa Argentina, que escala Meza e Agüero.
O capitão Lionel Messi, ao invés de aparecer para decidir (ou ao menos para buscar jogo), se escondeu. O capitão, o melhor do mundo não pode ser covarde como foi. Nunca será Maradona! Ele não apareceu nem para tentar “arribar”, dar forças ao seu time e ao seu goleiro. Uma decepção nessa Copa, por enquanto. Espero queimar minha língua na próxima partida.
O camisa 10 do Real Madrid fez o jogo que se esperava do camisa 10 do Barcelona.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — Argentina 0 x 3 Croácia
Data: 21/06/2018 — Horário: 21h00 locais
Estádio: Nizhny Novgorod Stadium — Nizhny Novgorod (Rússia)
Público: 43.319
Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão)
Gols: 53′ Ante Rebić (CRO); 80′ Luka Modrić (CRO); 90+1′ Ivan Rakitić (CRO)
Cartões Amarelos: 39′ Ante Rebić (CRO); 51′ Gabriel Mercado (ARG); 58′ Mario Mandžukić (CRO); 67′ Šime Vrsaljko (CRO); 85′ Nicolás Otamendi (ARG); 87′ Marcos Acuña (ARG); 90+4′ Marcelo Brozović (CRO)
Argentina (3-4-3): 23.Willy Caballero; 2.Gabriel Mercado, 17.Nicolás Otamendi e 3.Nicolás Tagliafico; 18.Eduardo Salvio (22.Cristian Pavón ↑56′), 14.Javier Mascherano, 15.Enzo Pérez (21.Paulo Dybala ↑68′) e 8.Marcos Acuña; 13.Maximiliano Meza, 10.Lionel Messi (C) e 19.Sergio Agüero (9.Gonzalo Higuaín ↑54′). Técnico: Jorge Sampaoli
Croácia (4-2-3-1): 23.Danijel Subašić; 2.Šime Vrsaljko, 6.Dejan Lovren, 21.Domagoj Vida e 3.Ivan Strinić; 7.Ivan Rakitić e 11.Marcelo Brozović; 18.Ante Rebić (9.Andrej Kramarić ↑57′), 10.Luka Modrić (C) e 4.Ivan Perišić (8.Mateo Kovačić ↑82′); 17.Mario Mandžukić (5.Vedran Ćorluka ↑90+3′). Técnico: Zlatko Dalić
Três pontos sobre… … 16/06/2018 – O melhor do terceiro dia da Copa
Messi cobra pênalti e Halldórsson defende (Imagem: FIFA.com)
Foi uma maratona com quatro jogos.
O VAR e a Islândia debutaram em Copas do Mundo e se saíram vitoriosos.
França e Argentina deixaram a desejar e o Peru pagou pelo que não fez.
Veja abaixo como foram todas as partidas de hoje.
… França 2 x 1 Austrália
Griezmann ficou devendo hoje… (Imagem: FIFA.com)
A França venceu a Austrália “no piloto automático”. Com uma atuação ruim, Les Bleus não conseguiram trabalhar como um time e contaram com lances isolados para conseguir a vitória.
Dentro de suas limitações, a Austrália foi brava. Soube se fechar muito bem, mas faltou poder de fogo no ataque.
Mas quem foi realmente decisiva foi a tecnologia. O VAR marcou pênalti em Griezmann e ele mesmo converteu, aos 13′ do segundo tempo. Quatro minutos depois, o VAR confirmou que Umtiti meteu a mão na bola. Pênalti para os australianos, que o capitão Mile Jedinak mandou para as redes. Finalmente, a nove minutos do fim, Pogba fez tabela pelo meio e dividiu com Behich. A bola bateu no travessão e pingou dentro do gol. A tecnologia da linha do gol confirmou o tento e a vitória francesa.
É muito pouco para uma seleção tão talentosa e cotada como uma das favoritas ao título. Pogba e Griezmann (autores dos gols hoje) já provaram mais de uma vez que não são confiáveis para liderar essa geração. Mbappé já mostrou capacidade, mas é muito novo para isso. Mesmo com todas as polêmicas extracampo, a França vai sentir muita falta de alguém como Karim Benzema, acostumado a ser importante coletivamente no Real Madrid.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — França 2 x 1 Austrália
Data: 16/06/2018 — Horário: 13h00 locais
Estádio: Arena Kazan — Cidade: Kazan (Rússia)
Público: 41.279
Árbitro: Andrés Cunha (Uruguai)
Gols: 58′ Antoine Griezmann (FRA)(pen); 62′ Mile Jedinak (AUS)(pen); 81′ Aziz Behich (FRA)(gol contra)
Cartões Amarelos: 13′ Matthew Leckie (AUS); 57′ Joshua Risdon (AUS); 76′ Corentin Tolisso (FRA); 87′ Aziz Behich (AUS)
França (4-3-3): 1.Hugo Lloris (C); 2.Benjamin Pavard, 4.Raphaël Varane, 5.Samuel Umtiti e 21.Lucas Hernández; 13.N’Golo Kanté, 12.Corentin Tolisso (14.Blaise Matuidi ↑78′) e 6.Paul Pogba; 11.Ousmane Dembélé (18.Nabil Fékir ↑70′), 10.Kylian Mbappé e 7.Antoine Griezmann (9.Olivier Giroud ↑70′). Técnico: Didier Deschamps
Austrália (4-2-3-1): 1.Mathew Ryan; 19.Joshua Risdon, 5.Mark Miligan, 20.Trent Sainsbury e 16.Aziz Behich; 15.Mile Jedinak (C) e 13.Aaron Mooy; 7.Matthew Leckie, 23.Tom Rogić (22.Jackson Irvine ↑72′) e 10.Robbie Kruse (17.Daniel Arzani ↑84′); 11.Andrew Nabbout (9.Tomi Jurić ↑64′). Técnico: Bert van Marwijk
… Argentina 1 x 1 Islândia
Messi tentou, tentou e tentou. Mas não conseguiu passar pelos guerreiros vikings (Imagem: FIFA.com)
A Argentina é outra favorita que decepcionou. Até começou bem quando, aos 19′ de jogo, Kun Agüero aproveitou uma bola na área, girou bem e chutou forte de esquerda, no ângulo. Tudo no script até aí.
Mas quatro minutos depois, Finnbogason pega o rebote do goleiro Caballero e marca o primeiro gol da Islândia na história das Copas e empata o jogo.
Depois disso, a partida se tornou ataque contra defesa. E, incrivelmente, a defesa se sobressaiu. Em vários momentos, eram os onze atletas atrás da linha da bola. Liderada pelos volantes Gunnarsson e Hallfreðsson, a marcação em cima de Lionel Messi foi muito forte. Ele até teve suas chances, mas não conseguiu marcar.
A chance mais clara para o camisa 10 albiceleste foi em um pênalti, cometido por Magnússon em cima de Meza. Messi bateu à meia altura no canto esquerdo, mas o goleiro Halldórsson pulou certo e fez a defesa.
Messi participou muito do jogo, mas não estava em seus melhores dias. Ele, e toda a Argentina, insistiram muito pelo meio. Meza e Di María foram escalados para jogarem abertos, mas afunilavam demais. Pelo meio, a “parede de gelo” da Islândia resistiu aos ataques. E os vikings debutaram em Copas do Mundo com um empate contra a poderosa Argentina de Messi.
A Islândia não é surpresa e muito menos zebra. Quem acompanha mais de perto o futebol tem visto a evolução de seus jogadores e, consequentemente, de sua seleção.
Na próxima partida, contra a Croácia, a Argentina necessita da vitória. Caso contrário, pode ficar próxima de repetir o pesadelo de 2002.
Enquanto o Peru ficava com a bola e tentava criar chances para abrir o placar, os dinamarqueses pareciam ter o jogo sob controle. O goleiro Kasper Schmeichel honrou o sobrenome e fechou o gol nas melhores chances dos sul-americanos.
No finalzinho do primeiro tempo, o VAR apareceu, ajudando o árbitro gambiano Bakary Gassama a apitar um pênalti sofrido por Christian Cueva. O meia do São Paulo deslocou o goleiro, mas a bola foi por cima do gol. Goleiro bom tem que ter sorte, também.
Aos 14 minutos do segundo tempo, a Dinamarca saiu em um contra-ataque bem armado, até que a bola caiu nos pés de Christian Eriksen, o craque do time. Ele sabe o que faz. E fez de forma perfeita, ao conduzir a bola pelo meio e deixar Poulsen na cara do gol, para anotar o único tento da partida.
Paolo Guerrero (anistiado de suspensão apenas para jogar a Copa) entrou pouco depois. Até teve suas oportunidades, mas não conseguiu empatar. Mas mostrou que está em forma. Tecnicamente, é muito superior aos seus companheiros e deve ser titular nos próximos jogos.
A Dinamarca venceu o confronto direto mais importante. Deve vencer também a Austrália e, praticamente, se garantir na próxima fase.
Mesmo jogando melhor, o Peru perde a partida e se complica para a sequência da competição. Os pontos perdidos agora terão que ser recuperados contra a França, se quiserem continuar sonhando em avançar para as oitavas de final. Pelo que os franceses mostraram mais cedo, não é impossível.
Pra variar, Modrić foi o destaque do jogo (Imagem: FIFA.com)
E a maratona de futebol deste sábado terminou com o pior dos quatro jogos. Confesso que fiquei com sono em grande parte do tempo. É incrível como a Nigéria consegue fazer jogos chatos. Foi assim também contra o Irã em 2014. Mas a culpa não é só dos africanos. O árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci pensou que estava no Brasil e não deixou o jogo correr, apitando tudo e tornendo o jogo mais feio ainda.
O técnico croata escalou uma equipe super ofensiva no papel e desentrosada na prática, com Rakitić e Modrić de volantes, Perišić na esquerda, Rebić na direita e Kramarić pelo meio se aproximando de Mandžukić.
A Nigéria é muita correria e nada mais. Uma decepção, se lembrarmos daquele time de 1998, com Okocha, Ikpeba, Amokachi e outros.
A dupla Modrić e Mandžukić decidiram a partida. Aos 32′, o camisa 10 do Real Madrid cobrou um escanteio, Mandžukić cabeceou e a bola bateu nas pernas do volante Etebo e morreu no fundo do gol de Uzoho. Gol contra.
Já aos 26 do segundo tempo, o zagueirão Troost-Ekong abraçou Mandžukić e o árbitro Sandro Meira Ricci apitou pênalto. Modrić cobrou com perfeição, para marcar pela primeira vez em Copas do Mundo.
Se jogar como estava treinando, com o meio mais fechado e Modrić se aproximando mais do ataque, a Croácia tem time para dificultar as coisas para a Argentina. Veremos na próxima quinta feira.
Melhores momentos da partida:
● Ficha Técnica — Croácia 2 x 0 Nigéria
Data: 16/06/2018 — Horário: 21h00 locais
Estádio: Arena Baltika (Kaliningrado Stadium) — Cidade: Kaliningrado (Rússia)
Público: 31.136
Árbitro: Sandro Meira Ricci (Brasil)
Gols: 32′ Oghenekaro Etebo (CRO)(gol contra); 71′ Luka Modrić (CRO)(pen)
Cartões Amarelos: 30′ Ivan Rakitić (CRO); 70′ William Troost-Ekong (NIG); 89′ Marcelo Brozović (CRO)
Croácia (4-2-3-1): 23.Danijel Subašić; 2.Šime Vrsaljko, 6.Dejan Lovren, 21.Domagoj Vida e 3.Ivan Strinić; 7.Ivan Rakitić e 10.Luka Modrić (C); 18.Ante Rebić (8.Mateo Kovačić ↑78′), 9.Andrej Kramarić (11.Marcelo Brozović ↑60′) e 4.Ivan Perišić; 17.Mario Mandžukić (20.Marko Pjaca ↑86′). Técnico: Zlatko Dalić
Nigéria (4-2-3-1): 23.Francis Uzoho; 12.Abdullahi Shehu, 5.William Troost-Ekong, 6.Leon Balogun e 2.Brian Idowu; 4.Wilfred Ndidi e 8.Oghenekaro Etebo; 11.Victor Moses, 10.John Obi Mikel (C) (13.Simeon Nwankwo ↑88′) e 18.Alex Iwobi (7.Ahmed Musa ↑62′); 9.Odion Ighalo (14.Kelechi Iheanacho ↑72′). Técnico: Gernot Rohr
Três pontos sobre… … 07/06/2002 – Inglaterra 1 x 0 Argentina
(Imagem: AP Photo / Ricardo Mazalan)
● Argentina e Inglaterra era o jogo mais esperado da primeira fase da Copa do Mundo de 2002. Era o reencontro das duas grandes rivais históricas, em confrontos que extrapolam o futebol (como em 1966 e 1986).
O último duelo oficial tinha sido nas oitavas de final da Copa anterior, em 1998. Naquela ocasião, a Inglaterra teve de jogar todo o segundo tempo e a prorrogação com um homem a menos, já que David Beckham foi expulso por chutar Diego Simeone, revidando uma entrada violenta e a provocação do argentino. Mesmo assim, o English Team segurou o empate por 2 x 2 e levou a partida para os pênaltis, mas perdeu por 4 x 3, com uma grande atuação do goleiro albiceleste Carlos Roa. Beckham foi responsabilizado pela derrota de 1998, mas agora era o capitão que liderava seu país à revanche.
Quatro anos depois, ingleses e argentinos renovam sua rivalidade sob os olhos atentos do melhor árbitro do mundo, o italiano Pierluigi Collina. Beckham e Simeone estavam mais uma vez cara a cara. Era visível a animosidade entre os dois, mas claramente eles queriam vencer na bola e não de outra forma.
O sueco Sven Gorän Eriksson, técnico da Inglaterra, tinha várias preocupações antes do Mundial, principalmente de ordem médica. No dia 10 de abril, David Beckham sofreu uma falta feia em um jogo do Manchester United e fraturou um osso metatarso do pé esquerdo (lesão semelhante à de Neymar em 2018) e se tornou dúvida para a Copa. Duas semanas depois, foi a vez do lateral Gary Neville, que sofreu a mesma lesão. Para completar, dez dias antes do início da Copa, o meio campista Danny Murphy teve a mesma fratura no amistoso entre Inglaterra e Coreia do Sul. Beckham fez uma terapia de reconstrução óssea (também aplicada em cavalos de corrida) e conseguiu se recuperar a tempo. Já os outros dois jogadores ficaram mesmo fora da lista final para o Mundial.
A seleção argentina era a grande favorita à conquista do Mundial de 2002. Estava invicta há quase dois anos e tinha quebrado o recorde de melhor campanha da história das eliminatórias sul-americanas. Se já não bastasse, contava com craques de nível mundial como Gabriel Batistuta, Hernán Crespo, Juan Sebastián Verón, Ariel Ortega, Javier Zanetti, Pablo Aimar e outros. O técnico Marcelo “Loco” Bielsa se deu ao luxo de desprezar Juan Román Riquelme, um dos melhores armadores das últimas décadas.
Claramente o Grupo F era o temido “Grupo da Morte”. A Argentina vinha de uma vitória tranquila por 1 a 0 sobre a Nigéria e precisava apenas de uma vitória para se garantir na próxima fase. A Inglaterra tinha empatado com a Suécia por 1 x 1 e precisava vencer.
A Inglaterra jogava no 4-4-2 ao seu estilo mais tradicional.
A Argentina atuava no 3-4-3 consagrado por Marcelo “Loco” Bielsa.
● A partida começou disputada, com muitas bolas divididas. A Argentina abusava das faltas duras no meio campo, impedindo a criação de jogadas do adversário.
Logo aos sete minutos, o lateral Juan Pablo Sorín invadiu a área pela esquerda, puxou a marcação e tocou de calcanhar para Kily González chutar forte de primeira, mas a bola saiu à esquerda do goleiro inglês David Seaman.
Apesar do domínio territorial argentino, quem esteve mais perto do gol foi o time inglês.
Aos 17′, Hargreaves driblou Javier Zanetti e lançou Michael Owen na entrada da grande área. O zagueiro Walter Samuel foi mais rápido e controlou bem a jogada.
Beckham era o mestre das bolas paradas inglesas, que levavam perigo a qualquer adversário, mas o jogador inglês mais temido era mesmo Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”). Na Copa de 1998, ele já tinha infernizado a zaga argentina e feito um gol de placa, arrancando da intermediária e passando por dois adversários antes de finalizar.
Agora, aos 24 minutos ele apareceu pela primeira vez. Emile Heskey roubou a bola de Verón e Hargreaves fez um belo lançamento rasteiro, pegando Owen de frente para a defesa. Ele entrou na área e chutou rasteiro, cruzado. A bola foi na trave direita do goleiro Cavallero.
No minuto seguinte, a Argentina voltou a pressionar. Kily González cruzou e Gabriel Batistuta cabeceou para uma boa defesa de Seaman.
Aos 43′, Michael Owen mostrou que estava mesmo inspirado. Ele entrou na área pelo lado esquerdo e driblou Pochettino, que o derrubou. Collina assinalou pênalti. Beckham bateu forte, no meio do gol, fazendo o que seria o único gol do jogo.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
Enquanto isso, o técnico argentino “El Loco” Bielsa caminhava inquieto de um lado para outro no banco de reservas. No intervalo, ele trocou o burocrático Verón pelo arisco Pablo Aimar, que passou a ser a peça central em busca do empate.
O English Team manteve o ritmo na etapa final. Logo aos 4′, Paul Scholes chutou forte de fora da área, mas Cavallero defendeu bem.
Scholes era o principal responsável pela armação das jogadas no meio campo inglês. Ele fez lançamento longo para a área e o veterano Teddy Sheringham recebeu livre, emendando um sem-pulo que obrigou Cavallero a fazer uma defesa dificílima.
Com a vantagem, os britânicos passaram a jogar somente nos contra-ataques, aproveitando principalmente a precisão dos passes de Scholes e a velocidade de Trevor Sinclair (que tinha entrado no lugar do lesionado Hargreaves na primeira etapa).
A Argentina insistia em jogadas aéreas improdutivas. Quando a zaga inglesa não afastava, o goleiro Seaman pegava.
Aos 32′, a albiceleste perdeu sua melhor chance. Após a cobrança de um escanteio da direita, Mauricio Pochettino subiu mais que a zaga inglesa e cabeceou forte, no meio do gol. David Seaman fez uma grande defesa.
Mas a Argentina já estava sem forças para reagir.
Após o apito final, David Beckham foi quem mais comemorou a vitória, como uma espécie de vingança pessoal diante do que lhe aconteceu em 1998.
O resultado deixou os argentinos em situação delicada, precisando ganhar da Suécia para passar para a próxima fase.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● Essa era a primeira vitória inglesa sobre a Argentina em Copas do Mundo desde 1966.
Era também o fim da invencibilidade de 18 jogos do técnico argentino Marcelo Bielsa. A última derrota dos portenhos havia sido no dia 26 de julho de 2000, pelas Eliminatórias, quando o Brasil venceu por 3 a 1.
A Inglaterra fez uma campanha digna. Empatou com a Suécia por 1 a 1, venceu a Argentina por 1 a 0 e empatou com a Nigéria por 0 a 0. Nas oitavas de final, fez um ótimo primeiro tempo e venceu a Dinamarca por 3 a 0. Nas quartas, parou no Brasil, com um show de Ronaldinho Gaúcho, e perdeu de virada por 2 a 1.
A Argentina acabou caindo mesmo na primeira fase. Após vencer a Nigéria por 1 a 0, perdeu para os ingleses por 1 a 0. No empate com a Suécia por 1 x 1, os argentinos não conseguiram a classificação mesmo com a ajuda da arbitragem no gol de empate. O juiz emiradense Ali Bujsaim não marcou uma falta clara em Henrik Larsson, deu um pênalti inexistente para os albicelestes e ainda ignorou o gol irregular de Hernán Crespo, que tinha invadido a área antes da cobrança, na sequência do lance. Ao final do jogo, os argentinos choraram a eliminação ainda em campo.
Curiosamente, juntamente com a delegação da seleção inglesa, viajou também um famoso cabeleireiro de Londes para acompanhar os atletas no Mundial: Scott Warren. Para atender a todos, ele veio acompanhado de mais três cabeleireiros de sua equipe. O único que não utilizou os serviços de Warren foi David Beckham, que tinha seu cabeleireiro particular, Aidan Phelan.
Três pontos sobre… … 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda
● A Argentina era um país em seu período mais crítico da ditadura militar, sob o comando do general Jorge Rafael Videla. Era um país sem confiança e baixa autoestima. Ainda bem que existe o futebol, para dar alguma alegria ao povo.
Sem o gênio Johan Cruijff (que não viajou para a Copa de 78), a Holanda fez uma primeira fase bastante irregular. Estreou bem, vencendo o Irã por 3 a 0, mas na sequência empatou com o Peru por 0 a 0 e perdeu por 3 a 2 para a Escócia. Na fase seguinte mostrou sua força ao golear a Áustria por 5 a 1, empatar com a Alemanha por 2 a 2 e vencer a Itália por 2 a 1.
Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1) e perdendo para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, se classificando para a final.
A polêmica em torno da goleada de 6 x 0 sobre o Peru continuou sendo o assunto principal até o dia da final. Os jogadores argentinos passaram três dias explicando, como se fosse necessária alguma explicação por ter vencido. O goleiro Fillol resumiu bem: “O Brasil fez 3 a 0 no Peru e teve chances de fazer mais; acontece que nós aproveitamos todas as chances”.
Mas essa controvérsia foi útil para o Ente Autárquico Mundial (EAM, uma entidade criada pela ditadura argentina para organizar a Copa do Mundo de 1978). Com o foco das atenções voltado para o jogo anterior, a entidade agiu na surdina e “escolheu” o árbitro da final. Foi vetado o israelense Abraham Klein (que apitou a única derrota argentina no torneio, 1 a 0 contra a Itália) e indicou o italiano Sergio Gonella, mais suscetível a pressões.
A polêmica começou antes mesmo do jogo começar. Os argentinos fizeram de tudo para catimbar a partida, entrando em campo com dez minutos de atraso. Depois, o capitão Daniel Passarella reclamou com o juiz sobre o gesso que René van de Kerkhof usava no braço. O árbitro ordenou que o holandês molhasse o braço para que o gesso ficasse mais mole. Já se foram mais cinco minutos passados.
Antes do apito inicial, a torcida argentina já tinha transformado o estádio Monumental de Núñez em um caldeirão, com uma chuva infindável de papel picado.
A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.
A Holanda também no 4-3-3, mas com Krol como líbero, com liberdade para avançar e inicar as jogadas.
● Com a bola rolando, a Argentina estava acuada, como se tivesse com medo tanto de perder quanto de vencer. A Holanda dominou o jogo, sendo a responsável pelas jogadas mais agudas. Gonella amarrou o jogo no meio campo, invertendo faltas e punindo apenas a Holanda. Só durante os primeiros 90 minutos, foram mais de 50 faltas apitadas contra os holandeses. Sem contar em duas vezes que o ataque dos europeus foi parado diante do gol por impedimentos bastante duvidosos.
Mesmo assim, a “Laranja” (que não era mais a “Mecânica, mas ainda assim era ótima) criava as jogadas mais perigosas. Na melhor delas, Johnny Rep chutou da marca do pênalti, à queima roupa, mas Fillol defendeu bem, mandando para escanteio.
Os argentinos eram só catimba e provocação, mas aos poucos foram se acalmando e cresceram na partida.
Aos 38 minutos da etapa inicial, o placar foi aberto. O centroavante Luque recebeu de Ardiles e tocou para Kempes, na entrada da área. Ele dominou, passou rapidamente entre Krol e Haan e, mesmo caindo, chutou por baixo, na saída do veterano goleiro Jongbloed.
Na etapa final, a Holanda era melhor. Foi premiada com o empate aos 37 minutos, quando Arie Haan lançou René van de Kerkhof pela direita e o camisa 10 cruzou para a área de primeira. Dick Nanninga apareceu nas costas de Galván e Olguín e cabeceou firme, a direita de Fillol.
Nos últimos segundos do tempo normal, a Holanda perdeu a chance de se sagrar campeã mundial. Ruud Krol levantou a bola para a área, Neeskens ganhou pelo alto de Passarella e Rensenbrink, cara a cara com Fillol, chutou na trave e a bola voltou para dentro de campo.
Pela terceira vez o título da Copa do Mundo seria decidido na prorrogação. A Holanda continuou buscando mais o jogo. Mas foi ali que o misto de raça e qualidade da Argentina se sobressaiu.
No último minuto do primeiro tempo, Mario Kempes dominou a bola na intermediária, deu uma arrancada de 20 metros, escapou dos carrinhos e Haan e Krol ao entrar na área, dividiu com o goleiro no chão e teve sorte, pois a bola sobrou livre para ele concluir a gol antes da chegada de Suurbier e Poortvliet. Kempes contou com a sorte nas divididas, mas foi um lindo gol, digno de um camisa 10 argentino.
Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Kempes arrancou de novo e tabelou com Bertoni. A bola bateu no braço de Kempes, mas Bertoni chuta cruzado antes da chegada de Jongbloed, marcando o gol do título. Os holandeses reclamaram toque de mão, mas o árbitro italiano validou o gol.
Mesmo com suspeita de favorecimentos nessa e em outras partidas, os albicelestes tinham seus méritos e foram campeões. Festa da torcida em casa, que via a Argentina conquistar uma Copa do Mundo após 48 anos de sonhos frustrados.
O craque Mario Kempes comemora o segundo gol argentino (Imagem: Getty Images)
● A Holanda conquistou um feito inglório: foi a primeira seleção com dois vice-campeonatos mundiais consecutivos. (Seria vice novamente em 2010, como veremos no dia 11/07.)
Ao fim da partida, o holandês Johnny Rep foi ácido em sua declaração: “Não sentimos falta de Cruijff. E o senhor Rensenbrink comportou-se como uma galinha medrosa. Nenhum time é campeão do mundo com covardes”.
Já o técnico campeão César Luis Menotti alfinetou o brasileiro Cláudio Coutinho: “Eu felicito meu colega Coutinho por seu campeonato moral e desejaria, também, que ele me felicitasse por meu campeonato real”.
Por sua vez o técnico austríaco Ernst Happel, da Holanda, nem teve chances de participar da conferência de imprensa depois da final. Ele tentou entrar no salão, mas o militar que vigiava a porta não o conhecia e retrucava: “Esta é uma conferência de imprensa e só passam Menotti, o treinador da Holanda, e os jornalistas”. Happel nada pôde fazer, a não ser ir embora. A conferência ocorreu sem ele.
Mario Kempes se tornou artilheiro da Copa marcando apenas gols decisivos. Depois de passar em branco na primeira fase, raspou o bigode e parece que essa “mandinga” funcionou. Ele anotou dois gols sobre a Polônia, dois no Peru e mais dois na final contra a Holanda. Assim, passou o ponta holandês Rob Rensenbrink, que tinha cinco gols (sendo quatro de pênalti). Foi a primeira vez que o artilheiro do torneio pertenceu à seleção campeã. Kempes também foi eleito o melhor jogador do Mundial.
Curiosamente, o dia da polêmica goleada da Argentina sobre o Peru coincidiu com a data de estreia nos teatros de Londres do musical “Evita” (“Don’t cry for me Argentina…”), de produzido pelo britânico Andrew Lloyd-Weber.
Passarella levanta a primeira Copa do Mundo conquistada pela Argentina (Imagem: Daily Mail)
● FICHA TÉCNICA:
ARGENTINA 3 x 1 HOLANDA
Data: 25/06/1978
Horário: 15h00 locais
Estádio: Monumental AntonioVespucio Liberti (Monumental de Núñez)
Público: 71.483
Cidade: Buenos Aires (Argentina)
Árbitro: Sergio Gonella (Itália)
ARGENTINA (4-3-3):
HOLANDA (4-3-3):
5UbaldoFillol (G)
8Jan Jongbloed (G)
15 Jorge Olguín
6Wim Jansen
7Luis Galván
22 Ernie Brandts
19 Daniel Passarella (C)
2Jan Poortvliet
20 Alberto Tarantini
5Ruud Krol (C)
2Osvaldo Ardiles
9ArieHaan
6AméricoGallego
13 Johan Neeskens
10 Mario Kempes
11 Willy van de Kerkhof
4DanielBertoni
10 René van de Kerkhof
14 Leopoldo Luque
16 Johnny Rep
16 Oscar Alberto Ortiz
12 Rob Rensenbrink
Técnico: César Luis Menotti
Técnico: Ernst Happel
SUPLENTES:
3HéctorBaley (G)
19 PimDoesburg (G)
13 Ricardo La Volpe (G)
1PietSchrijvers (G)
18 Rubén Pagnanini
17 Wim Rijsbergen
11 Daniel Killer
4Adrie van Kraaij
8Rubén Galván
20 Wim Suurbier
12 Omar Larrosa
7PietWildschut
17 Miguel Oviedo
15 Hugo Hovenkamp
21 José Daniel Valencia
3DickSchoenaker
1Norberto Alonso
14 Johan Boskamp
22 Ricardo Villa
18 Dick Nanninga
9RenéHouseman
21 Harry Lubse
GOLS:
38′ Mario Kempes (ARG)
82′ Dick Nanninga (HOL)
105′ Mario Kempes (ARG)
115′ Daniel Bertoni (ARG)
CARTÕES AMARELOS:
15′ Ruud Krol (HOL)
40′ Osvaldo Ardiles (ARG)
93′ Omar Larrosa (ARG)
94′ Wim Suurbier (HOL)
96′ Jan Poortvliet (HOL)
SUBSTITUIÇÕES:
58′ Johnny Rep (HOL) ↓
Dick Nanninga (HOL) ↑
66′ Osvaldo Ardiles (ARG) ↓
Omar Larrosa (ARG) ↓
75′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓
René Houseman (ARG) ↓
75′ Wim Jansen (HOL) ↓
Wim Suurbier (HOL) ↓
Os capitães Ruud Krol e Daniel Passarella disputam uma jogada (Imagem: Globo Esporte)
Três pontos sobre… … 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra
Maradona comemora gol sobre a Inglaterra (Imagem localizada no Google)
● Para entender a atmosfera que tomava conta do estádio Azteca era preciso voltar quatro anos antes, quando a Inglaterra derrotou ferozmente a Argentina na Guerra das Malvinas. Os dois países lutaram pela soberania nas Ilhas Malvinas (como é chamada pelos argentinos) ou Falklands (como é conhecida pelos britânicos). Poucos tinham esquecido desse confronto, principalmente os portenhos mais nacionalistas, que estavam ávidos pela vitória no futebol para “vingar” a derrota no conflito militar. Foi com esse espírito de vingança que a Argentina entrou em campo, liderada por Diego Armando Maradona.
Além do motivo político, teve também o futebolístico. A Argentina ainda tinha mágoas por ter sido prejudicada pela arbitragem em um confronto com os ingleses na Copa de 1966, quando o capitão Antonio Rattín acabou expulso por não entender o que a arbitragem falava (falaremos dessa partida dia 23/07).
Na primeira fase, a seleção albiceleste foi líder do grupo A, vencendo a Coreia do Sul (3 x 1), empatando com a Itália (1 x 1) e vencendo a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, venceu o rival Uruguai por 1 a 0.
Já os ingleses terminaram o grupo F em segundo lugar, perdendo na estreia para Portugal por 2 a 1, empatando sem gols com o Marrocos e vencendo a Polônia por 3 a 0. Nas oitavas, nova vitória por 3 a 0, mas agora diante do Paraguai.
Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.
A Inglaterra era escalada no tradicional 4-4-2, com todo o time trabalhando para criar oportunidades para o matador Gary Lineker.
● Foi um primeiro tempo feio e com poucas chances de gol. Na melhor delas, Glenn Hoddle fez um longo lançamento, Pumpido saiu do gol todo desajeitado e Beardsley o driblou e o encobriu, batendo sem ângulo para fora.
Depois, Maradona cobrou falta perigosa, que passou a centímetros da trave esquerda de Peter Shilton. Maradona estava mais “endiabrado” do que nunca, fazendo fila na defesa inglesa, que só o conseguia parar com faltas violentas.
O camisa 10 era sempre destaque. Ainda no primeiro tempo, ao ir cobrar um escanteio, reclamou da falta de espaço e arrancou o mastro com a bandeirinha. O auxiliar costarriquenho Berny Ulloa Morera lhe deu uma grande bronca e o obrigou a colocar o mastro no lugar, mas a flâmula ainda estava caída. Após nova reprimenda, o argentino a colocou de qualquer jeito. Apenas na terceira bronca, Dieguito ajeitou a bandeirinha do jeito que estava antes. Lance hilário.
No segundo tempo, o astro queria colocar fogo no jogo. Logo aos cinco minutos da etapa complementar, Maradona arrancou em direção à área, passou por dois marcadores e tocou para Burruchaga. Fenwick interceptou o passe com um chute para cima, em direção a Peter Shilton. Maradona percebeu, correu e subiu junto com o goleiro. O baixinho não alcançaria, mas com um leve soco na bola, conseguiu encobrir o rival e desviar a bola para as redes. Os ingleses reclamaram bastante do toque de mão. Diego saiu comemorando com discretas olhadinhas de lado para o juiz. O árbitro tunisiano Ali Bin Nasser não viu a infração e validou o gol após consultar o bandeirinha búlgaro Bogdan Dotchev.
La mano de Díos (Imagem localizada no Google)
Aproveitando o nervosismo dos adversários, Maradona ampliou o marcador. Ele recebeu ainda em seu campo e manteve a bola grudada em seu pé esquerdo. Com um giro, tirou Reid e Beardsley da jogada. O argentino arrancou em velocidade, passou por Butcher e Fenwick, driblou o goleiro Shilton e tocou para as redes antes de ser derrubado por Fenwick. Diego demorou 10,9 segundos para percorrer os sessenta metros que o separava da baliza. Foi um lance antológico, considerado por muitos o mais belo gol da história das Copas, demonstrando toda a técnica e a genialidade do capitão albiceleste.
Só então a Inglaterra passou a atacar com mais afinco, mas não conseguia criar chances claras para finalizar. Apenas aos 30 minutos o técnico Bobby Robson colocou o atacante John Barnes em campo. Foram os únicos 15 minutos do jamaicano naturalizado no Mundial, mas ele infernizou a defesa argentina e criou duas oportunidades de gol.
Na primeira, ele recebeu no bico da área passou por dois marcadores, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda, encontrando Gary Lineker livre dentro da pequena área. O centroavante só escorou para as redes, anotando seu sexto gol e se sagrando artilheiro da competição.
Nos últimos lances da partida, a mesma jogada se repetiu: Barnes vai até a linha de fundo e cruza para Lineker, mas dessa vez o camisa 10 não alcançou a bola, perdendo a última chance de empatar e forçar a prorrogação.
No último lance de perigo, Maradona faz outra jogada genial e lança Tapia, que dribla um zagueiro e chuta na trave direita do goleiro Shilton.
Fim de jogo. Inglaterra eliminada, Argentina classificada. Era a única seleção sul-americana que permanecia viva na Copa.
Diego tenta passar pela marcação de Terry Butcher (Imagem localizada no Google)
● Maradona vingou seu país, fazendo justiça com as próprias mãos, literalmente.
Nos dias que se seguiram, Maradona era constantemente questionado sobre a forma que marcou o primeiro gol. E ele “mitou” com a seguinte frase: “O gol foi marcado com a minha cabeça e com a mão de Deus”. Para os fanáticos, era questão de lógica: se Diego diz que fez o gol com “la mano de Díos“, e a imagem mostra ele fazendo o gol com a mão, então… Maradona é deus”. Doze anos depois, seus fiéis fundaram a Igreja Maradoniana.
Na sequência da Copa, Maradona continuou liderando sua seleção, fazendo os dois gols na vitória sobre a Bélgica (2 x 0) nas semifinais. Na decisão, ele não marcou, mas criou tudo que se passou na emocionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 3 a 2. Assim, a Argentina se sagrou bicampeã da Copa do Mundo.
Muitos dizem que Maradona “ganhou a Copa de 1986 sozinho”. O time argentino não era realmente muito bom, mas estava longe de ser uma baba. Mas independente disso, a atuação de Diego no Mundial o elevou a “status de deus“. Independente de seus futuros problemas pessoais como, por exemplo, o vício em drogas, Maradona é uma lenda viva do futebol e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Para o bem e para o mal, um gênio.
Cumprimentos iniciais entre os capitães Maradona e Peter Shilton (Imagem: Globo Esporte)