A Romênia voltava a disputar um Mundial 32 anos depois. Havia participado das três primeiras edições (1930, 1934 e 1938), mas não havia se classificado mais desde então. Na fase qualificatória, havia eliminado a ótima seleção de Portugal (sensação quatro anos antes), a tradicional Suíça e a Grécia.
A expressão “grupo da morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao Grupo 3, formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).
Na estreia, tanto romenos quanto tchecos tinham perdido.
Mas enquanto a Tchecoslováquia foi impiedosamente goleada pela Seleção Brasileira por 4 a 1, a Romênia tinha vendido caro a derrota por 1 a 0 para os ingleses, até então detentores do título mundial.
Eram duas seleções técnicas e ofensivas.
A única alteração na seleção romena em relação à estreia foi a troca de Gheorghe Tătaru II por Alexandru Neagu na ponta direita.
Por sua vez, o treinador da Tchecoslováquia, Jozef Marko, surpreendeu mudando meio time: tirou Ivo Viktor e colocou Vencel, no gol; mudou a defesa, com Zlocha no lugar de Hagara; trocou Hrdlička e František Veselý por Kvašňák e Bohumil Veselý no meio; e ainda alterou o comando de ataque, com Jurkanin substituindo Adamec.
As duas seleções atuavam no sistema 4-3-3
● A Tchecoslováquia começou melhor e Ladislav Petráš abriu o placar aos quatro minutos de partida, com uma linda cabeçada. Na comemoração, ele repetiu o sinal da cruz que havia feito no jogo contra o Brasil (e que havia levado o brasileiro Jairzinho a imitá-lo na sequência do Mundial).
No segundo tempo, os romenos tomaram conta do jogo. Neagu foi o destaque, marcando um gol e sofrendo um pênalti.
Aos oito, Radu Nunweiller rolou para Neagu, que driblou Horváth e chutou cruzado, no canto esquerdo do goleiro Vencel.
A virada veio aos 31′. Neagu recebeu um belo passe na entrada da grande área e foi agarrado por Zlocha. Pênalti bem marcado pelo árbitro mexicano Diego de Leo. Florea Dumitrache, o craque do time, cobrou no ângulo direito de Vencel e fez o gol da vitória.
O capitão romeno Mircea Lucescu finaliza, mas para na defesa do goleiro tcheco Alexander Vencel (Imagem: Getty Images)
● Esse resultado deixou a Tchecoslováquia praticamente eliminada. Os tchecos ainda perderiam para a Inglaterra por 1 a 0 no último jogo. Terminou em último lugar no Grupo 3, sem somar pontos; foram 2 gols marcados e 7 sofridos.
A Romênia ainda tinha chances de classificação, mas tinha que vencer o Brasil na última rodada.
(Imagem: Panini)
● FICHA TÉCNICA:
ROMÊNIA 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA
Data: 06/06/1970
Horário: 16h00 locais
Estádio: Jalisco
Público: 56.818
Cidade: Guadalajara (México)
Árbitro: Diego de Leo (México)
ROMÊNIA (4-3-4):
TCHECOSLOVÁQUIA (4-3-3):
21 StereAdamache (G)
22 Alexander Vencel (G)
2LajosSătmăreanu
2 KarolDobiaš
4MihaiMocanu
3Václav Migas
5CornelDinu
5AlexanderHorváth (C)
3NicolaeLupescu
15 JánZlocha
15 IonDumitru
9LadislavKuna
10 RaduNunweiller
6AndrejKvašňák
16 AlexandruNeagu
7BohumilVeselý
7EmerichDembrovschi
8LadislavPetráš
9FloreaDumitrache
19 Josef Jurkanin
11 MirceaLucescu (C)
11 KarolJokl
Técnico: AngeloNiculescu
Técnico: JozefMarko
SUPLENTES:
1RicăRăducanu (G)
1Ivo Viktor (G)
22 GheorgheGornea (G)
13 Anton Flešár (G)
12 MihaiIvăncescu
12 JánPivarník
6Dan Coe
14 Vladimír Hrivnák
13 Augustin Deleanu
4VladimírHagara
14 Vasile Gergely
17 Jaroslav Pollák
20 NicolaePescaru
16 Ivan Hrdlička
8NicolaeDobrin
18 FrantišekVeselý
17 GheorgheTătaru II
10 JozefAdamec
18 Marin Tufanac
20 Milan Albrecht
19 FlaviusDomide
21 JánČapkovič
GOLS:
5′ LadislavPetráš (TCH)
52′ AlexandruNeagu (ROM)
75′ FloreaDumitrache (ROM) (pen)
CARTÕES AMARELOS:
AndrejKvašňák (TCH)
RaduNunweiller (ROM)
SUBSTITUIÇÕES:
INTERVALO Josef Jurkanin (TCH) ↓
JozefAdamec (TCH) ↑
69′ Karol Jokl (TCH) ↓
FrantišekVeselý (TCH) ↑
69′ MirceaLucescu (ROM) ↓
Gheorghe Tătaru II (ROM) ↑
81′ Ion Dumitru (ROM) ↓
VasileGergely (ROM) ↑
Gols da partida:
Lances individuais do romeno Florea Dumitrache nessa partida:
Três pontos sobre… … 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal
Luís Figo em disputa de bola com Brian McBride (Imagem: Pinterest)
● Portugal voltava a disputar a Copa após 16 anos, com status de grande sensação. Tinha uma equipe de nível mundial, bastante qualificada. Foi semifinalista da Eurocopa dois anos antes e agora queria dar um passo além, no maior palco do mundo.
Onze anos depois de faturar pela segunda vez seguida o Mundial Sub-20, os lusos chegavam à Copa de 2002 tendo em sua constelação várias estrelas daquela geração vencedora: Luís Figo (melhor jogador do planeta em 2001), Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Abel Xavier e Nuno Capucho. Além deles, haviam outros jogadores experientes e vencedores, como: Vítor Baía, Fernando Couto, Paulo Sousa, Pauleta, Sérgio Conceição, e os jovens Jorge Andrade e Nuno Gomes. Eram atletas que tinham potencial para surpreender e até sonhar com o título mundial. Mas para muitos, seria a última Copa, devido à idade.
Os acontecimentos de 11 de setembro do ano anterior deixaram os Estados Unidos e seus cidadãos em alerta máximo. Os jogadores de futebol não eram exceção e medidas de segurança foram ainda mais intensificadas para a chegada da seleção americana à Coreia do Sul. Um pequeno exército cuidou de Bruce Arena e seus comandados durante toda sua estadia.
Após uma campanha digna em 1994, quando sediou o torneio, os Estados Unidos tinham decepcionado e terminado em último entre os 32 participantes na Copa de 1998. Agora, a missão dos americanos era fazer uma campanha digna e, com uma grande dose de sorte, passar de fase. Mas eles quase não nutriam esperanças em uma chave com o favorito Portugal, a co-anfitriã Coreia do Sul e a historicamente forte Polônia. Assim, ninguém esperava que os Estados Unidos fossem oferecer resistência.
Bruce Arena escalou os Estados Unidos em um 4-4-2, com duas linhas de quatro.
Portugal jogava também jogava em uma espécie 4-4-2 que se alternava. Quando se defendia, era um 4-1-4-1, com Petit fechando no meio e João Pinto recuando. Quando atacava, se tornava um 4-1-3-2, com Sérgio Conceição e Luís Figo avançando pelas pontas, Rui Costa armando pelo meio e João Pinto se tornando atacante.
● Os 37.306 presentes no estádio de Suwon viram um dos melhores confrontos do campeonato.
A verdade é que Portugal estreou contra os Estados Unidos pensando no primeiro lugar do grupo D. Mas enquanto os lusos pensavam, os americanos jogavam.
Quatro minutos depois que o árbitro equatoriano Byron Moreno deu o apito inicial, os Estados Unidos já anotavam o primeiro gol. O capitão Earnie Stewart cobra escanteio para a área. Brian McBride tenta de cabeça, o goleiro Vítor Baía faz boa defesa, mas dá rebote. A zaga fica parada e John O’Brien aproveita a sobra e completa para o gol.
O início desastroso dos tugas começava na incapacidade de segurar a bola, continuava nos erros de posicionamento da defesa e na falta de aproximação entre o meio campo e o atacante Pauleta. Figo e Rui Costa foram nulos durante todo o jogo.
Aos 29′, Jorge Costa faz tudo que não deveria fazer. Ele erra o passe ao sair jogando pela esquerda e dá a bola aos norte-americanos. O garoto Landon Donovan fica com ela e cruza. A bola bate na nuca do próprio Jorge Costa e entra no gol. Os Estados Unidos já tinham feito mais gols nesse jogo do que em toda a Copa passada.
Aos 36 minutos, Tony Sanneh cruza da direita e McBride mergulha e cabeceia para o gol, sem ser incomodado.
Brian McBride mergulha para fazer o segundo gol dos EUA (Imagem: Pinterest)
Para os lusos, a derrota ganhava ares de vexame. A defesa se esforçou muito em falhar e deu três gols de presente aos estadunidenses, que passaram a se fechar mais, dificultando a criação dos patrícios.
Mas apenas três minutos depois, Figo cobra o escanteio, Beto tenta de cabeça, Pablo Mastroeni afasta mal e Beto manda a sobra no ângulo do ótimo Brad Friedel.
Na sequência, Portugal teve inúmeras chances perdidas, principalmente pelo centroavante Pauleta.
Conseguiria diminuir só aos 26′ do segundo tempo. Pauleta ergue a bola na área. Jeff Agoos tenta cortar e joga a bola contra seu próprio patrimônio, mas isso não evitou o naufrágio português na estreia.
Foi a primeira (e, por enquanto, única) vez na história das Copas em que houveram dois gols contra na mesma partida, um para cada seleção.
Portugal teve mais posse de bola (57%, contra 43% dos adversários), mais chutes a gol (12 a 10) e mais oportunidades criadas. Um empate talvez deixasse o placar mais justo, mas quem joga tão mal e comete erros tão graves com os lusos fizeram no primeiro tempo, não merece um resultado melhor. A valentia dos ianques foi recompensada com a vitória.
O garoto Landon Donovan foi decisivo para a vitória de sua seleção, ao contrário do badalado Luís Figo (Imagem: EPA / Telegraph)
● “Entramos para o segundo tempo meio desanimados. Sofremos um gol logo antes do intervalo, depois de um escanteio, e ficou 3 a 1, mas achamos que a vantagem era boa, estando dois gols à frente. Eles não iam desistir facilmente.” ― Bruce Arena, técnico americano
“Foi inacreditável, uma noite confusa, nevoeiro asiático. Em 20 minutos, já estava 3 a 0 para nós. Nem parecia verdade, parecia um sonho. Só sei que vencemos por 3 a 2 e acho que isso vai nos trazer mais resultados bons nesta Copa.” ― John O’Brien.
E realmente aconteceram boas coisas para os EUA na sequência da competição. Após baterem os lusos, empataram com a Coreia do Sul por 1 x 1 e perderam para a Polônia por 3 x 1. Nas oitavas de final, venceram os arquirrivais mexicanos por 2 x 0. Nas quartas, jogaram bem e venderam caro a derrota para a Alemanha por 1 x 0, perdendo muitas chances de vencer, com um grande jogo e grandes defesas do goleiro alemão Oliver Kahn. Mas saíram de cabeça erguida, ao contrário dos portugueses.
Portugal caiu ainda na primeira fase. Após essa derrota para os EUA, goleou a Polônia por 4 a 0. Na última rodada, com a vitória dos poloneses sobre os americanos, Portugal jogava pelo empate com a co-anfitriã Coreia do Sul. Com dois jogadores a menos (João Pinto e Beto foram expulsos), os portugueses tentaram sinalizar para os sul-coreanos para que mantivessem o placar zerado, garantindo as duas equipes na próxima fase. Mas os asiáticos não entenderam ou não quiseram saber do empate, seguiram atacando e venceram por 1 a 0, eliminando os tugas e classificando os americanos.
John O’Brien aproveita a sobra e abre o placar (Imagem: Getty Images)
Um pouco antes, às 18h00, foi a vez dos japoneses entrarem na festa. A animação da torcida era enorme para enfrentar a experiente Bélgica, em confronto válido pelo Grupo H.
Era apenas a segunda Copa do Mundo que a seleção japonesa disputava. Em 1998, terminou em último lugar de seu grupo, com três derrotas (Argentina e Croácia, por 1 x 0, e Jamaica, por 3 x 1 – o primeiro e, até então, único gol feito pelos orientais no torneio, anotado pelo veterano atacante Masashi Nakayama).
O Japão era o atual campeão da Copa da Ásia. O técnico francês Philipp Troussier estava entusiasmado e vislumbrava uma vaga nas próxima fase. Grande ambição para um país sem história no futebol, mas que não queria ser o primeiro anfitrião da história a cair na primeira fase.
O Japão atuou no sistema 3-5-2. Kazuyuki Toda fechava mais no meio, dando liberdade para os avanços de Junichi Inamoto e Hidetoshi Nakata.
Robert Waseige escalou a Bélgica em um 4-4-2, com duas linhas de 4. O veterano Marc Wilmots era o destaque.
● Apesar do apoio maciço de quase todos os 55 mil presentes no Saitama Stadium, a seleção japonesa só conseguiu jogar bem no segundo tempo.
Antes disso, os torcedores viram um espetáculo sofrível, sem emoção, decepcionante para ambos os lados. Foram apenas quatro chances criadas, sendo uma cabeçada de Wilmots bem defendida pelo goleiro Narazaki e três finalizações para fora.
A maior decepção ficou por conta do craque japonês Hidetoshi Nakata, que não conseguiu criar nenhuma perigosa para sua equipe durante toda a partida.
Mas o jogo ferveu na etapa final.
Aos 12 minutos, Johan Walem ergue a bola para á área. A defesa japonesa tenta tirar por duas vezes, mas não consegue. A bola cai com Van Meir, que a joga de volta para a área. O capitão Marc Wilmots, no costado da zaga, acerta uma linda bicicleta e inaugura o marcador. Não era o início esperado para a Terra do Sol Nascente. E os japoneses, que tanto usam bicicletas no seu dia a dia, de repente viram uma dentro de campo. Mas dessa bike, eles não gostaram.
O capitão belga Marc Wilmots acerta uma linda bicicleta e abre o placar (Imagem: Pinterest)
O gol despertou os donos da casa que foram buscar a virada, comandados por Junichi Inamoto, meia do Arsenal, da Inglaterra.
Aos 14′, Shinji Ono faz lançamento longo. O volante Timmy Simons e o goleiro Geert De Vlieger ficam parados, indecisos, e Suzuki, de olhos bem abertos, surge entre os dois e toca para o gol.
Nove minutos depois, os belgas vacilam e oferecem o contra-ataque para os japoneses. Inamoto toma a bola no meio campo, tabela com Yanagisawa, recebe perto da área, passa por Van Meir, entra na área e bate na saída do goleiro.
A velocidade japonesa deixa os belgas atordoados. Mas justamente quando o Japão mandava na partida, a Bélgica empata.
Aos 30′, quando a defesa japonesa estava saindo para o fazer a linha de impedimento, Van Meir faz um lançamento para Van der Heyden, em posição legal. Já dentro da área, o belga dá um toque sutiu e encobre o goleiro Narazaki. Era a água no saquê dos japoneses.
Logo em seguida, o árbitro anula um gol de Inamoto, alegando falta no goleiro. Depois, não assinala um pênalti para a Bélgica. E as duas equipes tiveram que se contentar com o empate, que ficou de bom tamanho principalmente para os anfitriões, que somavam seu primeiro ponto em Copas do Mundo e já sonhavam com a inédita classificação.
Junichi Inamoto fez um belo gol e virou o jogo para o Japão (Imagem: Getty Images)
● Segundo o técnico Philipp Troussier, o Japão mereceu a vitória: “Eu creio que, no balanço final da partida, é justo dizer que foram dois pontos perdidos. Ao mesmo tempo, senti como se fosse um ponto ganho. É um ganho importante. O empate em 2 a 2 foi importante porque nos deu o primeiro ponto numa Copa e gerou uma onda de otimismo que nos carregou no segundo jogo”.
No jogo seguinte, diante da Rússia, o Japão obteve sua primeira vitória, por 1 x 0. E no terceiro jogo do grupo H, a inédita classificação para a próxima fase. Mas a Turquia foi a algoz nas oitavas de final, vendendo os anfitriões por 1 x 0. Muitos culparam a chuva, que teria prejudicado o toque de bola e a correria japonesa e beneficiado a maior força física dos turcos. O máximo que o Japão conseguiu foi uma bola na trave, em falta cobrada pelo brasileiro naturalizado japonês, Alex Santos.
O segundo lugar do grupo ficou com a Bélgica, que empatou os dois primeiros jogos, batendo o recorde de empates consecutivos em Mundiais, com cinco. Já vinha de três empates seguidos em 1998 (0 x 0 com a Holanda, 2 x 2 com o México e 1 x 1 com a Coreia do Sul). Em 2002, empatou com o Japão (2 x 2) e com a Tunísia (1 x 1). Na última rodada, enfim, venceu a Rússia por 3 x 2, quando os russos se classificariam com um empate. Nas oitavas de final, fez um jogo duríssimo contra o futuro campeão Brasil, mas perdeu por 2 x 0, em uma arbitragem muito controversa, que anulou um gol de Wilmots quando a partida ainda estava empatada sem gols, alegando falta do belga (que claramente não aconteceu).
Bart Goor avançando entre Toda e Daisuke Ichikawa (Imagem: Getty Images)
Muitos achavam que jogar contra os colombianos seria moleza para os soviéticos, já que estes eram considerados fortes favoritos inclusive para a conquista do título mundial.
A seleção colombiana debutava em Copas do Mundo. Tinha uma equipe técnica e ofensiva, mas era fraquíssima e desobediente taticamente.
A URSS vinha de excelentes resultados, como a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e a conquista do título da primeira Eurocopa, disputada em 1960. Era mesmo uma grande geração, com destaques como o goleiro Lev Yashin, os meias Igor Netto e Igor Chislenko e o atacante Valentin Ivanov. Essa mesma base ainda seria vice-campeã da Euro em 1964 e 4º lugar na Copa do Mundo de 1966.
Ambas seleções atuavam no sistema 4-2-4
● Apenas 8.040 pessoas assistiram à partida no estádio Carlos Dittborn, em Arica.
Os colombianos começam com uma incrível demonstração de técnica, com toques de efeito na bola, mas logo os soviéticos dominam o jogo.
Aos oito minutos, Óscar López tenta tirar a bola da área e joga nos pés de Ivanov, que chuta de primeira da entrada da área e fuzila o goleiro Sánchez.
Dois minutos depois, Ivanov lança para Chislenko, que entra na área, dribla um adversário e toca na saída do goleiro.
Tudo indicava uma enorme goleada, porque um minuto depois Ivanov chuta cruzado, do bico da área, e manda a bola no canto direiro de Sánchez. Com apenas 11 minutos de jogo, o placar já apontava 3 a 0 para a URSS.
Mas aos 21′, os colombianos furam a “Cortina de Ferro” soviética. Serrano toca para Germán Aceros, que gira e, com um toque, encobre o goleiro Yashin, que estava adiantado.
O gol parece dar vida nova aos colombianos e deixa os soviéticos sem saber o que esperar.
Na segunda etapa, os sul-americanos continuam pressionando e os europeus se postam bem na defesa.
Aos 11′, Ponedelnik recebe na área e chuta sem defesa para o goleiro. Agora, 4 a 1 para a URSS.
Aos 23 minutos, escanteio para a Colômbia. Marcos Coll cobra o corner. Chokheli se posiciona na primeira trave, mas deixa a bola passar e Yashin fica só olhando. Chokheli levou uma bronca de Yashin e os soviéticos não se entenderam mais em campo. Esse é o único gol olímpico da história das Copas.
Marcos Coll, autor do único gol olímpico na história das Copas (Imagem: Pinterest)
Aos 27′, Klinger toca para González na esquerda. Ele rola para o meio da área e Antonio Rada chega chutando de primeira.
O dramático empate veio aos 41 minutos do segundo tempo. Klinger recebe lançamento de Rada, ganha a dividida contra Yashin e toca para o gol vazio.
Uma incrível reação dos colombianos depois se estarem perdendo por 3 a 0.
(Imagem: Anotando Fútbol)
● Essa foi a partida com mais gols na Copa de 1962.
Por mais que a arbitragem não tivesse sido questionada em nenhum lance dessa partida, anos depois, o árbitro brasileiro João Etzel Filho confessou que deu uma “ajudinha” aos colombianos: “Fui eu que empatei aquele jogo. Sou descendente de húngaros e odeios os russos desde a invasão soviética na Hungria em 1956”.
A Colômbia já havia perdido para o Uruguai por 2 a 1. Depois, ainda perderia para a Iugoslávia por 5 a 0. Foi lanterna do Grupo 1. O único ponto conquistado foi esse empate com a URSS.
Já os soviéticos terminaram em primeiro do grupo. Além deste empate, venceram a Iugoslávia (2 x 0) e o Uruguai (2 x 1). Caíram para os anfitriões, chilenos, nas quartas de final, em derrota por 2 a 1.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Efraín “El Caimán” Sánchez e Igor Netto (Imagem localizada no Google)
Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Mauro Ramos de Oliveira e Ladislav Novák (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Assim como hoje, o segundo dia do mês de junho de 1962 era um sábado. O Brasil inteiro colou seus ouvidos nos transmissores de rádio para ouvir o jogo contra a forte Tchecoslováquia. Embora o som não fosse ainda totalmente ausente de ruídos, tinha melhorado muito se comparado à precariedade com que acompanhamos a Copa do Mundo de 1958.
A Tchecoslováquia também vinha para o jogo credenciada pela bela vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Puskas e Gento em sua estreia. Tinha jogadores respeitados em todo o mundo, como o goleiro Schrojf, os defensores Lála e Novák, além do grande meia Josef Masopust.
Aymoré Moreira mantinha o mesmo time brasileiro, com a esperança de que nessa segunda partida, o escrete canarinho mostrasse mais futebol do que na estreia.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
A Tchecoslováquia também jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust
● As duas equipes demoram um tempo para se acertar em campo. É um jogo equilibrado, com muitas faltas, muita correria e pouco futebol.
Os brasileiros dão a impressão de que perderam parte do brilho que o havia consagrado, jogando um futebol mais defensivo do que quatro anos antes. Mesmo assim, dá bastante trabalho a Schrojf.
Os tchecos também atacam, mas não chegam a incomodar a defesa brasileira.
A melhor chance do Brasil foi de Mané Garrincha. Ele arranca em diagonal, da direita para o meio e chuta da entrada da área. O ótimo goleiro Viliam Schrojf não consegue segurar e apenas desvia a bola, que ainda bate em sua trave direita.
Espera-se a qualquer momento a explosão do gênio Pelé, que é muito bem marcado por Masopust.
O lance que decide o jogo ocorre aos 27 minutos do primeiro tempo. Pelé recebe um passe de Djalma Santos, limpa a jogada e bate forte de pé esquerdo, da entrada da área. A bola passa por Schrojf e toca de leve na trave. Pelé faz careta, mas todos pensam ser apenas um lamento por não ter feito o gol. Mas, na sequência, o camisa 10 cai ao chão e coloca a mão na virilha esquerda. Todos os olhos do mundo se voltam apreensivos para o craque.
Pelé e Masopust: um duelo de respeito (Imagem: Getty Images / FIFA)
Ele é atendido fora do campo e, completamente sem condições de jogo, vai fazer número na ponta direita, já que as substituições não eram permitidas na época.
Assim, para melhor balanceamento no campo, o técnico Aymoré Moreira manda Garrincha fazer o papel de Pelé pelo meio. Mas depois de ver a equipe levar certo sufoco, Aymoré inverte: volta Garrincha para a ponta e pede para Zagallo recuar.
Pelé fica em campo, isolado. Mas em um determinado momento, passam-lhe a bola e ele domina com dificuldades. À sua frente, posta-se o severo, porém cavalheiro, Masopust. O craque tcheco fica esperando, respeitosamente, o que o Rei decidiria fazer com a bola, mas ele a tocou pela lateral. O gesto de respeito de Masopust foi elogiado no mundo inteiro.
“É muito triste se machucar no meio de uma Copa do Mundo, é uma frustração muito grande.” ― Pelé recordaria depois
Sem Pelé e com todos os jogadores preocupados com ele, a Seleção não consegue vencer a retranca dos europeus e a partida termina sem gols. De qualquer forma, um resultado mais do que justo.
Pelé se lesionou e não jogou mais na competição (Imagem: Pinterest)
● Se já não bastasse o inesperado empate, havia uma dúvida cruel: seria possível conquistar o bicampeonato mundial sem o Rei Pelé? A esperança de que ele voltasse contra a Espanha era pequena. No dia seguinte, ela foi soterrada pelo médico da delegação brasileira, o Dr. Hilton Gosling. Em meio a um batalhão de repórteres, ele deu o diagnóstico fatal: Pelé distendeu o músculo adutor da coxa esquerda. Em outras palavras: o Rei estava fora da Copa.
Incrivelmente, depois de apenas três dias de partidas no Mundial, já havia 34 jogadores machucados. No quarto dia, já eram 50. O balanço final dessa violenta Copa foi, além de incontáveis lesões musculares, três fraturas de pernas, uma de nariz e uma de quadril.
Infelizmente, essa foi a última vez em que atuaram juntos os craques da linha de frente que deram o primeiro título mundial ao Brasil, em 1958: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Para o lugar do ainda menino Pelé, seria escolhido outro jovem craque: Amarildo, atacante de 21 anos do Botafogo.
Três pontos sobre… … 01/06/1986 – Brasil 1 x 0 Espanha
Casagrande lutando pela bola contra a zaga espanhola (Imagem: Futebol Nostálgico)
● Em 1983, alegando dificuldades econômicas, a Colômbia passou ao México a honra e a responsabilidade de sediar a Copa do Mundo de 1986. Assim, dezesseis anos depois, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio. No Brasil, o sentimento era de nostalgia e superstição. Todos confiavam que a Seleção reencontraria o espírito vencedor de 1970, quando conquistou o tricampeonato no mesmo solo mexicano.
Após a derrota na Espanha em 1982, Telê Santana pediu demissão no fim daquele ano. Para substituí-lo, foi contratado Carlos Alberto Parreira, depois Edu Coimbra (irmão de Zico) e, por último, Evaristo de Macedo. Como nenhum deles alcançou os resultados esperados, a CBF atendeu aos apelos da torcida e convidou Telê para ser técnico novamente, às vésperas das eliminatórias.
Telê jamais teve o time definido, sob o pretexto de que sua equipe ideal ainda não estava completa. Ele ainda confiava no elenco de 1982, que, claramente, já não era mais o mesmo de antes. Seu time ideal era: Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates; Renato e Casagrande. Dirceu era o 12º homem.
Devido à indefinição da recuperação física de alguns atletas, foram 29 jogadores convocados para os treinamentos na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, com muita briga por posição. Foram pouco menos de quatro meses de treinamentos, com dezenas de times escalados sem que se definisse o time titular. Essa forte concorrência e a convivência por tanto tempo resultou em brigas, discussões, fuga para as baladas, desencontros dentro e fora de campo.
Sócrates, Casagrande e Careca: esperanças de gol da Seleção Canarinho em 1986 (Imagem: Pedro Martinelli / Veja)
Em uma noite de folga da concentração, oito jogadores estenderam a diversão madrugada adentro. No retorno, seis deles pularam o muro da Toca da Raposa e não foram flagrados. Mas o lateral Leandro era o mais embriagado e não conseguiu voltar, entrando pela porta da frente carregado por Renato Gaúcho. Três meses depois, na hora de definir os cortes finais no elenco, Renato foi excluído por Telê, enquanto Leandro foi perdoado. Em solidariedade ao companheiro, Leandro decidiu abandonar a seleção no dia do embarque para o México. Zico e Júnior ainda foram à sua casa e tentaram fazê-lo mudar de ideia, mas ele já estava decidido a não ir. Mas o motivo alegado por Leandro é que ele estava atuando como zagueiro no Flamengo e não queria atuar mais como lateral direito, pois esta posição exigia um maior esforço físico que seu corpo não conseguia mais realizar.
Havia ainda a incerteza em torno das condições físicas de Zico. Foi lhe dado tempo para se recuperar durante o Mundial, mas Dirceu e Toninho Cerezo foram cortados, o que foi traumático para o grupo.
A desconfiança com o escrete canarinho era tão grande, que dois meses antes da Copa, Pelé, então com 45 anos de idade, declarou à revista Veja: “Posso ajudar o Brasil. Se o Telê me der tempo para me preparar, eu jogo pelo menos 45 minutos”.
Por sua vez, a Espanha estava em grande fase, invicta a oito jogos. Contava com uma boa geração, que tinha sido vice-campeã da Eurocopa de 1984. Além disso, na época em que eram mais raros jogadores estrangeiros em times europeus, os craques locais provavam sua qualidade ao emplacarem três times entre os finalistas das três competições mais importantes do continente: o Barcelona foi vice-campeão da Copa da Europa (atual UEFA Champions League), o Real Madrid foi campeão da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) e o Atlético de Madrid foi vice-campeão da Recopa Europeia (torneio extinto em 1999).
Além de bons jogadores como o goleiro Zubizarreta, o defensor Camacho, o meia Míchel e os atacantes Julio Salinas e Butragueño, o apelido de “Fúria” se justificava também por outros “atributos” muito bem simbolizados pelo zagueiro Andoni Goikoetxea. O jogador do Athletic ganhou o apelido de “Açougueiro de Bilbao” depois de romper os ligamentos do tornozelo de Diego Armando Maradona em 1983, quando este jogava pelo Barcelona. Dois anos antes, Goikoetxea quase encerrou a carreira do meia alemão Bernd Schuster, também do Barça.
O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.
Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de 4 e os avanços dos meias Míchel e Julo Alberto. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.
No onze inicial, à exceção de Edinho, Sócrates e Júnior, a Seleção Brasileira era praticamente estreante em Copas do Mundo e a torcida temia que os atletas sentissem a pressão. Assim, pouco antes do jogo, o técnico Telê Santana cogitou sacar o goleiro Carlos e o zagueiro Júlio César, para entrar os mais experientes Leão e Oscar. Felizmente isso não foi feito.
Júlio César, de apenas 23 anos, anulou o badalado atacante Emilio Butragueño, destaque do Real Madrid. Carlos se agigantou no México e se tornou um dos melhores goleiros do Mundial.
Depois de um primeiro tempo equilibrado e sem grandes chances para nenhum dos dois lados, o Brasil levou um grande susto aos sete minutos da etapa final. O meia Francisco chutou de fora da área, a bola bateu no travessão e claramente cruzou a linha do gol, mas o árbitro australiano Christopher Bambridge e o bandeirinha holandês Jan Keizer não viram o gol legítimo e não validaram o lance.
No chute de Francisco, a bola claramente entrou no gol brasileiro (Imagem: Sebastião Marinho / O Globo)
Mas o travessão não ajudou o Brasil apenas na defesa. Foi fundamental também no ataque.
Aos 16 minutos do segundo tempo, Júnior conduziu a bola pela direita, entrou pelo meio e rolou para Careca. O camisa 9 limpou o lance e chutou com força, de dentro da área. A bola explodiu no travessão, tirando o goleiro Zubizarreta e toda a defesa espanhola da jogada, sobrando limpa para Sócrates, que só teve o trabalho de escorar de cabeça para o gol.
Depois da partida, o técnico espanhol Miguel Muñoz foi ácido ao dizer: “Este Brasil é inferior ao de 1982, porém mais aplicado taticamente. Marca melhor, atira-se com mais vitalidade à luta e pode ter em Sócrates um comandante mais livre para criar. Vai melhorar quando Zico se juntar a Sócrates. Aí vocês terão um grande time. Por enquanto é apenas razoável. Mas os juízes gostam”.
Foi uma atuação muito nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela estreia com vitória.
Sócrates aproveita o rebote e marca o gol da partida (Imagem: ESPN)
● Esses mesmos problemas se repetiram nas demais partidas. Contra a Argélia, foi um time desorganizado após a lesão que tirou o lateral direito Édson Abobrão da Copa, possibilitando uma pressão argelina na etapa final, até que Careca marcasse o gol da vitória por 1 a 0. Na terceira partida houve uma ingênua impressão de evolução, ao bater a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum.
Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas de final, o Brasil fez sua melhor partida na Copa, mas empatou com a França, de Michel Platini, por 1 a 1 e perdeu nos pênaltis (4 x 3). Nessa partida, Zico teve a chance de cobrar um pênalti a 17 minutos do fim, logo depois de entrar em campo. O Galo bateu no canto esquerdo e o goleiro francês Joël Bats espalmou. O tetra seria adiado mais uma vez. Assim como em 1978, o Brasil terminou a Copa invicto, mas sem o título.
A Espanha ficou com a segunda vaga do Grupo D, vencendo a Irlanda do Norte por 2 a 1 e a Argélia por 3 a 0. Nas oitavas de final, a Espanha atropelou a surpreendente Dinamarca por 5 a 1. Parou nas quartas, nos pênaltis, após empatar com a Bélgica por 1 a 1 no tempo normal.
Curiosamente, os mexicanos apresentaram a “olla” ao mundo no dia 03 de junho de 1986, na vitória dos anfitriões sobre a Bélgica por 2 x 1. “Olla” significa “onda” em espanhol. Criada pelos mexicanos e hoje praticada pelo mundo afora, é uma coreografia coletiva em que a torcida levanta o corpo e os braços de modo sincronizado, fazendo uma onda “varrer” as arquibancadas. Embora tenha se popularizado no México, seria uma invenção dos americanos.
Seleção Brasileira em formação para foto oficial na partida contra a Espanha (Imagem: CBN)
Seleção espanhola em formação para foto oficial na partida contra o Brasil (Imagem: Efeito Fúria)
Era a partida mais aguardada do campeonato até então. Talvez uma final antecipada. Mas o cenário não era dos mais favoráveis aos espanhóis, já que os italianos jogavam diante de sua torcida e sob o olhar atento do ditador Benito Mussolini, “Il Duce”. Eram mais de 35 mil expectadores ansiosos para ver a vitória do regime fascista sobre qualquer que fosse o adversário. Mas o que assistiram foi mais uma guerra do que um jogo de futebol.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Segundo Paulo Vinícius Coelho, autor do livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010), “em vez de súmula, o clássico Itália e Espanha poderia ter um boletim de ocorrência, com os nomes das vítimas”.
Em um duelo muito equilibrado, os espanhóis foram superiores técnica e psicologicamente, não dando ouvidos às arquibancadas do estádio Giovanni Berta, que entoavam o slogan fascista “Vitória ou morte”.
A Fúria abriu o placar aos 30 minutos de jogo, com o atacante Luis Regueiro.
Amedrontado, o árbitro belga Louis Baert não teve coragem de expulsar nenhum italiano – apesar muitos merecerem. Especialmente o ótimo centromédio Luisito Monti, que não se furtou a utilizar os mais baixos artifícios e abriu sua “caixa de ferramentas”.
Além disso, o gol italiano foi irregular: o atacante Angelo Schiavio tirou o goleiro espanhol Zamora do lance com uma cotovelada, enquanto a bola ficava livre para Giovanni Ferrari marcar o tento que igualou o placar, a um minuto do intervalo. O juiz fez vista grossa. Esse foi o primeiro e indiscutível grande roubo na história das Copas. Mas a Itália de Mussolini tinha que vencer a qualquer preço.
Na etapa final, a Itália distribuiu pancadas e a Espanha se segurou na defesa, graças ao machucado Zamora e à dupla de zaga Ciriaco e Quincoces (todos do Real Madrid).
Seleção italiana na primeira partida contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Combi, Monti, Guaita, Schiavio, Allemandi, Ferrari e Castellazzi;
Agachados: Pizziolo, Monzeglio, Meazza e Orsi.
Seleção espanhola na primeira partida contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Iraragorri, Ramón “Moncho” Encinas (assistente técnico), Quincoces, Zamora, Cilaurren, Fede, Lafuente e Regueiro;
Agachados: Ciriaco, Gorostiza e Muguerza.
● Já veterano, o lendário capitão Ricardo “El Divino” Zamora era considerado o melhor goleiro do mundo na época. Ainda hoje ele dá nome à premiação do goleiro menos vazado em cada edição do Campeonato Espanhol. A história conta que ele defendeu cinco bolas praticamente dentro do gol, impedindo a vitória italiana contra os bravos espanhóis.
O placar de 1 x 1 permaneceu no tempo normal. Na prorrogação, o máximo que as equipes conseguiram foi uma bola na trave para cada lado, obrigando a disputa de um jogo extra.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA:
ITÁLIA 1 X 1 ESPANHA
Data: 31/05/1934
Horário: 16h30 locais
Estádio: Giovanni Berta
Público: 35.000
Cidade: Florença (Itália)
Árbitro: Louis Baert (Bélgica)
ITÁLIA (2-3-5):
ESPANHA (2-3-5):
GiampieroCombi (G)(C)
Ricardo Zamora (G)(C)
Eraldo Monzeglio
CiriacoErrasti
Luigi Allemandi
Jacinto Quincoces
Mario Pizziolo
Leonardo Cilaurren
LuisMonti
José Muguerza
Armando Castellazzi
Fede
Enrique Guaita
Ramón de Lafuente
Giuseppe Meazza
José “Chato”Iraragorri
AngeloSchiavio
Isidro Lángara
Giovanni Ferrari
Luis Regueiro
Raimundo Orsi
Guillermo Gorostiza
Técnico: Vittorio Pozzo
Técnico: Amadeo García Salazar
SUPLENTES:
Guido Masetti (G)
Juan José Nogués (G)
Giuseppe Cavanna (G)
Ramón Zabalo
Umberto Caligaris
Hilario
VirginioRosetta
Pedro Solé
Luigi Bertolini
Luis Martín
AttilioFerraris IV
Martín Marculeta
Mario Varglien I
Chacho
Pietro Arcari
Campanal
Felice Borel II
Crisanto Bosch
AnfiloginoGuarisi
MartíVentolrà
AttilioDemaría
SimónLecue
GOLS:
30′ Luis Regueiro (ESP)
44′ Giovanni Ferrari (ITA)
… 01/06/1934 – Itália 1 x 0 Espanha (Partida de Desempate)
(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)
● A partida de desempate, marcada para apenas 24 horas depois, no mesmo estádio, começou com o resultado decidido. Era mera formalidade.
Desgastados pela partida anterior, os dois times estavam bem modificados. A Itália vinha com quatro alterações. A Espanha teve sete atletas “feridos”, já que em guerras não há lesionados (como disse Edgardo Martolio no livro “Glória Roubada”): Ciriaco, Fede, Lafuente, Iraragorri, Gorostiza, Lángara e Zamora, o mais machucado deles, com duas costelas fraturadas após uma didivida na qual o juiz belga nem falta marcou.
Agora havia um outro árbitro em campo, mas Mussolini continuava mandando no apito. Se não fosse capaz de vencer na bola, a “Azzurra” teria toda a ajuda “externa” possível.
A Itália teve quatro alterações em relação ao jogo anterior, mas permaneciam com as peças chave para seu estilo de jogo, especialmente o meia-atacante Giuseppe Meazza e os pontas Enrique Guaita e “Mumo” Orsi.
A seleção espanhola foi obrigada a fazer sete alterações em relação aos atletas que atuaram um dia antes. O sistema tático permaneceu o mesmo, o 2-3-5.
● Quem definiu o resultado foi o juiz suíço René Mercet. Ele deixou a pancadaria rolar solta. Ainda na primeira etapa, o ponta espanhol Crisanto Bosch foi violentamente atingido por Luisito Monti. Como as substituições não eram permitidas na época, ele permaneceu em campo apenas para fazer número.
O substituto de Zamora, Juan José Nogués, que jogava no Barcelona, era um goleiro valoroso, mas não imbatível como o titular. Ele não comprometeu, já que o gol de Giuseppe Meazza, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, foi indefensável. Enquanto Meazza marcava o gol, o argentino Demaría segurava Nogués, impedindo que ele pudesse ir na bola. Era uma artimanha muito utilizada pelos italianos, que não era coibida pela arbitragem.
O árbitro suíço, além de validar o gol irregular do italiano, ainda anulou dois tentos legítimos dos espanhóis no segundo tempo: um de Campanal, após marcar impedimento de Regueiro, que não estava no lance, e outro do próprio Regueiro, depois de ter voltado atrás em uma vantagem e apitado falta para a Espanha depois que a bola já estava nas redes. Dessa vez o roubo foi tão evidente que a FIFA e a federação suíça expulsaram o juiz de seus quadros. Mas nada modificaria a vitória italiana.
Apesar da derrota, os espanhóis foram recebidos como heróis em seu país. A população considerou que seus atletas foram bravos e valentes, enquanto os italianos venceram graças a um jogo sujo. Houve, inclusive, quem contribuísse para que os jogadores recebessem uma medalha de ouro e uma premiação em dinheiro como reconhecimento pelo bela competição que fizeram.
Seleção italiana na partida desempate contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Vittorio Pozzo (técnico), Combi, Ferraris IV, Allemandi, Monti, Guaita e Carlo Carcano (assistente técnico);
Agachados: Bertolini, Orsi, Monzeglio, Meazza, Borel II e Demaría.
Seleção espanhola na partida desempate contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Campanal, Vantoira, Nogués, Bosch, Zabalo, Muguerza, Chacho, Lecue, Cilaurren;
Agachados: Regueiro e Quincoces.
● Em 1934, a Itália se tornou a única seleção que disputou três jogos de Copa do Mundo em apenas quatro dias. Em 31/05/1934, empatou com a Espanha por 1 x 1. No dia seguinte, venceu o jogo desempate por 1 x 0. No dia 03/06, venceu a Áustria por 1 x 0 na semifinal – quando a arbitragem voltou a favorecer o time local.
Na decisão, outra vitória bastante controversa contra a Tchecoslováquia, de virada, por 2 x 1.
Benito Mussolini levou sua Itália fascista ao título da segunda Copa do Mundo. Festa para os “tifosi” (torcedores) e para “Il Duce”.
Todos temiam ao “Duce”. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:
“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”
(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça
O zagueiro chileno Raúl Sánchez pula para bloquear um chute de Charles “Kiki” Antenen, capitão da Suíça (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Depois de organizar duas Copas do Mundo seguidas na Europa, a FIFA não poderia escolher outro país europeu para sediar o evento. Por isso o torneio voltaria para a América do Sul, continente do novo campeão do mundo. Chile e Argentina disputaram o direito de sediar o Mundial. A escolha da FIFA acabou sendo o Chile.
Todos os jogos da Copa do Mundo de 1962 ocorreram às 15 horas, no horário local. Nessa quarta-feira, as ruas de Santiago estavam caóticas, com trânsito intenso.
Apesar de ter sido disputado simultaneamente com outras três partidas, este foi considerado o jogo de abertura do Mundial. Depois da marcha e desfile da banda da polícia militar, foram os políticos que roubaram a cena. Discursaram Jorge Alessandri, presidente do Chile, Juan Goñi, substituto do recém falecido Carlos Dittborn no comitê organizador, e Stanley Rous, presidente da FIFA. Só depois a bola rolou.
O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.
A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930. Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupava todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.
● Os jogadores chilenos treinaram juntos por três meses, com o objetivo de ter sucesso em sua terceira Copa do Mundo.
Mas, surpreendentemente, a foi a Suíça que abriu o placar aos sete minutos de jogo. Rolf Wüthrich recebeu fora da área, driblou um adversário e chutou no ângulo. Um verdadeiro golaço. Surpresa no estádio Nacional.
Depois, como já era esperado, os suíços se trancaram na defesa. Apesar do grande domínio, os chilenos ainda demoraram um tempo para se recuperarem do baque. A Suíça teve outras chances, mas não as aproveitou.
Um minuto antes do intervalo, após cruzamento da direita, Jorge Toro escorou de cabeça e Leonel Sánchez finalizou de dentro da pequena área. A bola ainda desviou em um adversário e morreu dentro do gol. Agora, o placar estava igual, com um tento para cada.
Os mais de 65 mil presentes empurravam a seleção anfitriã, com os sempre tradicionais gritos de “CHI-LE, CHI-LE, CHI-LE! CHI-CHI-CHI, LE-LE-LE, VIVA CHILE!”
Aos 7′ da etapa final, Jaime Ramírez avançou pela esquerda, entrou na área e chutou forte. O goleiro Karl Elsener espalmou para frente. Ramírez ficou com o rebote e tocou mansamente no canto direito. Era a virada.
Quatro minutos depois, o placar foi alterado pela última vez. Honorino Landa tabelou com Alberto Fouilloux e cruzou rasteiro. Na pequena área, Leonel Sánchez pegou o rebote da trave e escorou para as redes, dando ponto final ao placar de 3 a 1 para os locais.
(Imagem: Foto-net / FIFA)
● O austríaco Karl Rappan era o técnico da Suíça desde 1938 – exceto breves intervalos. Ele foi o criador do forte sistema tático, ultra-defensivo, que ficou conhecido como “Ferrolho Suíço”. Mas nessa Copa, o esquema não funcionou. A Suíça já não tinha mais a eficiência e o caráter de surpreender com seu ferrolho. Depois da derrota para o Chile na estreia, perdeu por 2 a 1 para a Alemanha Ocidental e por 3 a 0 para a Itália. A retranca levou oito gols, marcou apenas dois e terminou em último lugar no Mundial.
O Chile começou nervoso, mas estreou em “sua” Copa com essa vitória de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 a 0. A derrota por 2 a 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1. Na semifinal, parou no Brasil, de Garrincha, mesmo fazendo um jogo duro (derrota por 4 a 2). Ainda venceu a Iugoslávia (1 x 0) e terminou com um honroso 3º lugar, conquistado em casa.
Três pontos sobre… … 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos
Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)
● Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.
A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.
Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.
Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.
Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)
● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.
Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.
Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.
Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.
Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.
Final: 7 a 1 para a Itália.
Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.
“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino
Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)
Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)
Três pontos sobre… … Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958
(Imagem: Baú do Futebol)
● As cinco primeiras Copas do Mundo ofereceram uma experiência extraordinária para a Seleção Brasileira. Assim, para a Copa de 1958, na Suécia, a CBD organizou melhor a seleção dentro e fora de campo. Pela primeira vez, a delegação contava com supervisor (Carlos Nascimento, do Bangu), preparador físico (Paulo Amaral, do Botafogo), médico (Hilton Gosling, do Bangu), dentista (Mário Trigo de Loureiro, fundamental também por descontrair qualquer ambiente com suas piadas), massagista (Mário Américo) e até um psicólogo (João Carvalhaes).
O processo de escolha do técnico foi o resultado de um consenso entre João Havelange, presidente da CBD desde o início do ano, e Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Copa (e fundador da Rede Record). Vários nomes foram cogitados, como o paraguaio Fleitas Solich (técnico do Flamengo), Flávio Costa (técnico da Copa de 1950) e Zezé Moreira (técnico da Copa de 1954). Mas escolheram Vicente Feola, que era auxiliar técnico de Béla Guttmann no São Paulo, quando o húngaro implementou um inédito esquema tático com quatro zagueiros no clube paulista, semelhante à grande seleção da Hungria de 1954. Feola utilizaria também este sistema na Seleção.
Dr. Paulo encomendou um plano de preparação bem detalhado para a Copa, elaborado por três jornalistas da TV Record: Paulo Planet Buarque, Flávio Iazzetti e Ary Silva. Nele, foi traçado todo o roteiro de treinamento, dia a dia, desde a manhã da apresentação, no dia 07/04, o embarque para a Europa, no dia 24/05 e até a realização dos jogos amistosos.
A preparação toda foi cercada de muitos cuidados. A delegação levou carne e um cozinheiro para a concentração no Turist Hotel, na pacata cidade de Hindås, à beira de um belo lago. Para não correr nenhum risco, a comissão técnica escolheu o local um ano antes e conseguiu convencer a direção do hotel a substituir, naquele mês, 28 funcionárias mulheres (cozinheiras, garçonetes e arrumadeiras) por homens.
Para se ter uma noção da dificuldade de comunicação entre Brasil e Suécia na época (e também do rigor da concentração da Seleção), havia um dia específico marcado para cada um telefonar ao Brasil. Essa ligação poderia ocorrer só uma vez por semana e não deveria ultrapassar três minutos.
Os brasileiros introduziram uma novidade nos modelos esportivos usados na época: os calções curtos e camisas com modelos mais adequados para a prática do futebol. Em seu estágio primitivo, os calções chegavam aos joelhos e as camisas tinham até bolso.
Tudo foi planejado de forma inédita, da melhor maneira possível. Uma preparação de campeão. Essa enorme equipe técnica só falhou em um pequeno detalhe: esqueceu de informar à FIFA os números das camisas dos jogadores. Reza a lenda que, assim, coube ao uruguaio Lorenzo Villizio, integrante do comitê organizador da Copa, definir os números com base no que conhecia dos jogadores. E ele cometeu erros grosseiros, como dar a camisa 3 para o goleiro Gylmar e a 9 ao zagueiro reserva Zózimo. Por uma grande e feliz coincidência, a camisa 10 ficou com Pelé.
Pelé chora de emoção, amparado pelo grande goleiro Gylmar (Imagem: O Globo)
● O brasileiro sofria de “complexo de vira-lata”. Essa expressão foi criada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (irmão de Mário Filho, também jornalista, que dá nome ao estádio Maracanã). Ela refletia o sentimento que tomou conta do país depois da derrota na Copa de 1950. Mesmo quando a Seleção demonstrava um bom futebol, esse complexo fazia a torcida duvidar. Sempre tinha um “pé atrás”. Didi era um craque de reconhecido nível mundial, mas no Brasil era criticado por ser preguiçoso nos treinamentos. Essa “síndrome” só terminaria quando viesse uma grande conquista.
Desde a Copa de 1938, o jogador brasileiro sempre chamou a atenção por sua habilidade e irreverência. Mas a falta de um título mundial colocava nosso futebol em xeque. Para a maioria, faltava seriedade aos craques e técnica aos mais sérios. Sempre enxergamos isso mais como um problema do que como uma solução. Mas a Seleção de 1958 veio para mudar esse estigma, com o irreverente Garrincha e o carrancudo Didi.
O Brasil chegou à Suécia sem despertar maiores interesses da imprensa e do público de modo geral. Embora tivesse vários jogadores de qualidade reconhecida, era apenas mais uma boa equipe dentre tantas outras. A equipe passou pelas eliminatórias empatando com o Peru, em Lima (1 x 1) e vencendo o jogo de volta por 1 a 0, no Maracanã, com um gol de Didi cobrando falta, com sua famosa “folha-seca”. Mesmo com dificuldades, o Brasil estava pronto para disputar de verdade o título mundial.
De todos os 33 convocados da lista inicial, a ausência mais sentida foi do craque veterano Zizinho, que ainda jogava em altíssimo nível, mesmo aos 37 anos. Mas havia uma geração de craques a serviço do escrete canarinho. Formado por 12 atletas do Rio de Janeiro e 10 de São Paulo, era uma equipe equilibrada, que podia apostar também no vigor físico de seus atletas. Dos jogadores que entraram em campo, apenas Nílton Santos tinha mais que 30 anos. Os caçulas eram Pelé, com 17, e Mazzola, com 19. A média de idade era de 25 anos.
O elenco se apresentou no dia 07/04 e iniciou os treinamentos nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá. Para fazer os cortes necessários e fechar a lista nos 22 atletas, a Seleção fez alguns jogos preparatórios. Pelo torneio amistoso “Taça Oswaldo Cruz”, foram duas partidas contra o Paraguai: goleada por 5 x 1 e empate por 0 x 0. Depois, em dois amistosos contra a Bulgária, foram duas vitórias: 4 x 0 e 3 x 1.
Tiveram ainda dois jogos treino, com derrota por 1 x 0 para o Flamengo e vitória por 5 x 0 contra o Corinthians, a três dias da viagem para a Europa. Nessa última partida, veio o drama: Pelé sofreu uma entrada violenta do lateral corintiano Ari Clemente e teve torção de tornozelo. Se ele fosse cortado, Almir Pernambuquinho entraria em seu lugar. Mas a comissão técnica resolveu levar Pelé mesmo assim, pois acreditavam que ele estaria apto a entrar na terceira partida do Mundial. Pelé era o caçula da equipe. Por causa das dores no joelho que surgiram durante a preparação, ele pediu diversas vezes para ser mandado de volta para o Brasil. Mas Dr. Paulo se recusava: “Calma, garoto, você vai jogar nessa Copa e vai fazer muitos gols”. Um dia Pelé não aguentou a carga de exercícios e pediu novamente para ser desligado. Foi aí que o massagista Mário Américo provocou o moleque: “Você só não joga essa Copa se não for homem. Você é homem?”Pelé gritou que era muito macho e todos riram. E nesse momento, quando viu mexerem com seus “brios”, o menino começou a ganhar confiança.
(Imagem: Pinterest)
● A Seleção fez ainda mais dois amistosos em solo europeu: uma foi em 29/05, na partida de despedida de Julinho da Fiorentina, e outra contra a Internazionale de Milão, no dia 01/06. Em ambas, o Brasil goleou por 4 a 0.
Julinho é um caso a parte nessa história. Ele havia se firmado como titular indiscutível da ponta direita da Seleção, após as excelentes partidas na Copa de 1954. No ano seguinte, ele foi jogar na Fiorentina, da Itália. Mas na época, não era comum a convocação de jogadores que atuavam no exterior. Devido ao grande moral que tinha e sua enorme qualidade, uma exceção seria aberta para ele. Então, no início de 1958, João Havelange escreveu uma carta a Julinho perguntando quando terminaria seu contrato e se ele estaria disposto a defender o Brasil na Copa. Ele respondeu que seu contrato terminaria dia 30/05, às vésperas do Mundial, e que gostaria muito de representar a Seleção, pois estava em plena condição física. No entanto, com muito pesar, ele disse que recusaria a convocação em consideração aos colegas que haviam atuado na posição com a camisa da Seleção nos últimos anos. Um gesto de hombridade de um jogador deste tamanho. Possivelmente, Joel seria o reserva, caso Julinho tivesse ido para a Copa. Dessa forma, Garrincha ficaria de fora.
Garrincha também merece um parágrafo só para ele neste texto. Feola tinha uma dúvida na posição: Joel ou Garrincha. O Mané tinha desagradado à comissão técnica por uma molecagem no amistoso contra a Fiorentina. No lance do quarto gol brasileiro, ele driblou o goleiro e ficou esperando, pouco antes da risca; quando o zagueiro veio em sua direção, Garrincha o driblou e tocou de calcanhar para o gol. Agradou à torcida, mas não ao supervisor Carlos Nascimento e ao psicólogo João Carvalhaes. Eles disseram que o ponta tinha mentalidade de criança e poderia comprometer a Seleção. Uma grande irresponsabilidade, que poderia por tudo a perder em uma partida oficial. Feola teria escalado Garrincha mesmo assim, mas, segundo Ruy Castro, essa difícil decisão contou com a participação do observador Ernesto Santos.
Ernesto expôs à comissão técnica sobre a qualidade dos quatro meio campistas do WM austríaco e sugeriu que o Brasil reforçasse o setor para equilibrar as ações. Portanto, seria necessário que o ponta direita auxiliasse na recomposição, como Zagallo fazia com maestria pelo lado esquerdo. Feola argumentou que eles poderiam pedir a Garrincha para executar esse papel. Mas o preparador físico Paulo Amaral, que conhecia bem o ponta do Botafogo, foi taxativo ao afirmar que ele não conseguiria cumprir função tática nenhuma e que não seguiria o pedido de marcar pelo meio. Assim, Joel, ótimo ponta direita e mais disciplinado, foi o escolhido para a primeira partida do Mundial.
Nílton Santos era o jogador mais experiente do grupo, com 33 anos e iria para seu terceiro Mundial. Ele era o titular da lateral esquerda nos anos anteriores, mas havia uma pressão da imprensa paulista a favor de Oreco, que atuava no Corinthians. De acordo com Ruy Castro, Nílton estava definido como titular desde os amistosos na Itália, mas Péris Ribeiro (autor do livro “Didi – o gênio da folha-seca”) garante que Oreco é quem começaria o primeiro jogo de estreia. Mas, na véspera, o lateral do time paulista sofreu um afundamento de malar.
Na preparação para a Copa, notícias diziam que Moacir, do Flamengo, estava treinando melhor que Didi, que não se esforçava nos treinos. A imprensa logo pediu a troca no time titular. A responsa de Didi ficou na história: “Treino é treino, jogo é jogo”.
Garrincha passa por marcador soviético (Imagem: R7)
● Na primeira partida do Grupo 4, o Brasil bateu a forte Áustria por 3 a 0. Essa vitória contundente deixou a torcida brasileira esperançosa. Mas no jogo seguinte, o bom futebol não se repetiu e o Brasil empatou em 0 a 0 com a Inglaterra, com uma grande atuação do goleiro inglês Colin McDonald. Essa foi a primeira partida sem gols da história das Copas, depois de 116 jogos.
O resultado e o nível apresentado desagradaram Feola, que promoveu três alterações para a partida seguinte: saíram da equipe Dino Sani, Joel e Mazzola, e entraram Zito, Garrincha e Pelé. Zito entrou no time porque Dino Sani sentia dores. O menino Pelé se recuperou da contusão, como esperado, e tinha seu lugar no time titular. Joel sentiu dores e Garrincha foi escalado. Há também a lenda que diz sobre uma reunião sobre a escalação entre Feola, Nilton Santos e dois jornalistas, mas de qualquer forma Garrincha entraria.
Assim, com essas mudanças, o Brasil começou o jogo com tudo contra a União Soviética. O jornalista francês Gabriel Hanot (criador da UEFA Champions League) afirmou que aqueles foram os “três minutos mais incríveis da história do futebol”. Garrincha mostrou a que veio e o Brasil venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá.
Nas quartas de final, a Seleção Brasileira passou por País de Gales, que tinha uma equipe modesta, mas muito bem armada. A vitória foi por 1 a 0, com um gol espetacular de Pelé, seu primeiro em Copas do Mundo. Ele iniciava ali o seu longo reinado.
O adversário na semifinal foi a fortíssima seleção francesa, que vinha de resultados expressivos e tinha ótimos jogadores, como Robert Jonquet, Roger Piantoni, Raymond Kopa e Just Fontaine (o artilheiro do Mundial, com incríveis 13 gols em seis jogos). Mas a Seleção venceu por 5 a 2, com um gol de Vavá, um de Didi e três de Pelé (“hat trick”).
Bellini foi escolhido pelo técnico Feola depois da recusa de Didi e Nilton Santos. Mal sabiam que o zagueiro ficaria eternizado na história do futebol por isso… (Imagem: Baú do Futebol)
Todos os gols da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958: