Três pontos sobre… … Lucien Laurent: autor do primeiro gol em Copas do Mundo
(Imagem: O Gol)
● Eram jogados 19 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Aléxis Thépot jogou a bola para o meio campo. Após troca de passes, o ponta esquerda Marcel Langiller cruza para a marca do pênalti. O zagueiro Manuel Rosas fura a jogada e a bola sobra para Lucien Laurent que domina na direita da grande área. A 16 metros do gol, ele chuta forte e à meia altura, no canto direito em diagonal, sem chances para o goleiro Oscar Bonfiglio. Estava aberto o placar das Copas do Mundo.
Eram exatamente 15h19 do dia 13/07/1930, no acanhado Estádio Pocitos (antiga casa do Peñarol), em Montevidéu, onde 4.444 expectadores assistiram o feito. No fim, a França venceu o México por 4 x 1. Com esse seu gol inaugural das Copas, Laurent ficou conhecido como “Le 1er” (“o primeiro”). Essa foi a segunda partida de Laurent pela seleção francesa.
Ele se lesionou no segundo jogo contra a a Argentina (recebeu uma forte pancada de Luis Monti logo aos 2 minutos) e teve que sair de campo. Devido a essa lesão, também não atuou contra o Chile. A França perdeu esses dois jogos por 1 a 0 e foi eliminada ainda na primeira fase do torneio.
● Os primeiros jogos da Copa do Mundo de 1930 ocorreram antes mesmo da abertura do campeonato. França x México e Estados Unidos x Bélgica se enfrentavam ao mesmo tempo no dia 13, enquanto a abertura estava marcada para o dia 15, por atrasos na conclusão da obra do Estádio Centenário. Embora a FIFA (e todo o mundo, inclusive nós) considere seu gol como o pioneiro em Copas, documentos indicam o lance com o terceiro. Quando Laurent abriu o placar contra o México, os Estados Unidos já venciam a Bélgica por 2 a 0 no exato momento. Mas oficialmente, os EUA fizeram o primeiro gol aos 22 minutos de jogo. Essa confusão fez com que o feito de Laurent fosse ignorado pela FIFA por quarenta anos, mas a importância desse gol voltou à tona em 1970. A entidade reconheceu corretamente o gol como o primeiro da história das Copas, destronando o americano Bert McGhee (que abriu o placar na vitória por 3 x 0 contra os belgas em partida no Estádio Parque Central). Nem mesmo o próprio Laurent compreendia a importância de seu gol. Em uma época em que o futebol era completamente amador em todo o mundo (raras exceções), foi cumprimentado pelos companheiros timidamente e voltaram a a jogar normalmente.
● Lucien Laurent nasceu em Saint-Maur-des-Fossés, Val-de-Marne, perto de Paris, em 10/12/1907. Em tempos de amadorismo, Laurent trabalhava em uma gráfica quando estreou pelo Cercle Athlétique de Paris, ainda menino, em 1921. Depois, foi morar na cidade de Sochaux para trabalhar na Peugeot; atuou por dois anos na equipe do FC Sochaux, que era um time formado por empregados da montadora de automóveis. Treinava de manhã e trabalhava no turno da tarde. Em incríveis 25 anos de carreira, atuou pelos clubes: CA Paris (1921-1930 e 1933-1934), Sochaux (1930-1932 e 1935-1936)), Club Français (1932-1933), FC Mulhouse (1934-1935), Stade Rennais (1936-1937), Strasbourg (1937-1939), Toulouse (1939-1943) e Besançon (1943-1946). Era um meia esquerda baixinho (1,62 m) e discreto em campo. Era mais atuante na construção de jogadas e raramente chegava ao gol adversário. Nunca conquistou um título no futebol.
Fez sua estreia pela seleção francesa em 23/02/1930, em um amistoso com derrota para Portugal, por 2 a 0. Veio ao Uruguai para disputar a primeira Copa do Mundo, em 1930, embarcando no navio Conte Verde, junto de seus companheiros (inclusive seu irmão Jean, que era volante) e, após quatorze dias no mar, desembarcaram em Montevidéu.
Esteve entre os selecionados para a Copa do Mundo de 1934, mas não jogou devido a uma lesão no joelho. A França perdeu por 3 x 2 para a fortíssima Áustria e foi eliminada logo no primeiro jogo.
Jogou pela sua seleção até 1935 e, ao todo, marcou 2 gols em 10 jogos pelos “Les Bleus”. Seu outro gol foi em uma vitória histórica (a primeira na história) da França sobre a Inglaterra por 5 a 2, em amistoso disputado no Estádio Olímpico Yves-du-Manoir, na cidade francesa de Colombes, no dia 14/05/1931.
Parou de jogar para se integrar às forças armadas francesas durante a 2ª Guerra Mundial, onde foi capturado pelos alemães em 1942 e passou três anos como prisioneiro de guerra. Depois, foi encerrar a carreira no time do Besançon, onde se estabeleceu, na região leste da França. Quando se retirou definitivamente dos gramados, aos 39 anos, abriu um bar na cidade e a treinar jovens talentos locais até 1957.
Em 2000, foi homenageado com o Troféu Peugeot dos Campeões. Na final da Copa da França, entre Nantes e Monaco, no estádio do Sochaux, voltou a pisar nos gramados, com direito a pontapé inicial. Lucien Laurent faleceu aos 97 anos de idade, em 11/04/2005, no hospital Jean-Minjoz, em Besançon. Era o último jogador ainda vivo da seleção francesa que disputou a Copa de 1930 e o único que viu seu país se tornar campeão do mundo em 1998.
Um jovem operário da Peugeot que deixou de lado o anonimato para se transformar na primeira lenda do torneio esportivo mais importante do planeta.
Três pontos sobre… … Estrela Vermelha, campeão do mundo em 1991
(Imagem localizada no Google)
● Hoje o título mundial do Estrela Vermelha, da antiga Iugoslávia, completa mais um aniversário. O único título da Copa Intercontinental conquistado pelo Leste Europeu.
Na verdade, Estrela Vermelha e Colo Colo eram duas zebras. Na América do Sul, o mais forte naquele ano era o Boca Juniors, que sucumbiu nas semifinais ao poder do “Cacique” (apelido do Colo Colo). O então campeão Olimpia também não foi páreo e o Colo Colo de 1991 se tornou o primeiro (e até hoje único) time chileno a vencer a Copa Libertadores da América.
Já o Estrela Vermelha (Crvena Zvezda, no idioma local) era uma equipe excelente, mas jamais seria a favorita para vencer a Copa dos Clubes Campeões Europeus (atual UEFA Champions League). No Velho Continente, quem mandava era o Milan (último bicampeão do torneio 1989/90 e 1990/91). O Napoli (de Maradona), o Real Madrid e o Spartak Moscou eram muito fortes. Mas tudo estava preparado para o primeiro título europeu do Olympique de Marseille. O time francês vinha atropelando todos os adversários (bateu até o temido Milan). O Estrela Vermelha tinha uma campanha mais modesta, mas sem maiores sustos.
Na decisão, o Estrela enfrentaria seu maior ídolo, que tinha se mudado nesta temporada para o próprio Marseille: Dragan Stojković. O meia saiu do banco já na prorrogação, mas nada pôde (ou não quis) fazer. Na decisão, um empate sem gols levou a decisão para os pênaltis. Dizem as más línguas que Stojković se recusou a bater. Logo na primeira cobrança do OM, o excelente Manuel Amoros perdeu. Ninguém mais errou e o time iugoslavo se tornou campeão da Copa dos Campeões de 1991. Destaque para o zagueiro romeno Miodrag Belodedici, que converteu um dos pênaltis. Ele se tornou o primeiro jogador a vencer o maior torneio da Europa por dois clubes diferentes. Mas o caso de Belodedici é muito mais especial, pois ele venceu a competição também pelo Steaua Bucareste em 1986, ou seja, ainda é o único a vencer por dois clubes do Leste Europeu – curiosamente, ambas conquistas na decisão por pênaltis (marca que dificilmente será batida em um futuro próximo).
(Imagem: Imortais do Futebol)
● Assim, dia 08/12/1991, se enfrentaram no Estádio Nacional, de Tóquio, Estrela Vermelha x Colo Colo. O clube sul-americano era curiosamente treinado por um Iugoslavo: Mirko Jozić. Aos 19 minutos de jogo, o craque Vladimir Jugović tirou o zero do marcador. No fim do primeiro tempo, Dejan Savićević é expulso. Mesmo com um a menos, o time europeu continuou a dominar o jogo, se materializando em gols com o mesmo Jugović no 13º minuto da etapa complementar e com o centro-avante Darko Pančev no minuto 27.
Com o 3 a 0, o mundo era vermelho. O Estrela Vermelha era campeão europeu e mundial, eternizando no Olimpo do futebol o clube e craques como Stevan Stojanović, Miodrag Belodedici, Siniša Mihajlović, Vladimir Jugović, Robert Prosinečki, Dejan Savićević e Darko Pančev.
● No ano seguinte, a Iugoslávia começou a se esfacelar em múltiplas nações e o próprio sucesso de seu maior clube fez com que aumentasse o êxodo dessas figuras históricas. Nunca mais nenhum clube da Europa Oriental chegou à decisão da UEFA Champions League. Mas fica a história de uma equipe espetacular, que dominou o ano de 1991.
Três pontos sobre… … Grêmio, campeão da Copa do Brasil 2016
Grêmio 1 x 1 Atlético-MG
● Foi uma noite marcante. A primeira vez que a bola rolou desde a tragédia envolvendo o avião da Chapecoense. Os dois times fizeram valer a pena e fizeram um jogo bastante disputado, mas praticamente definido no jogo de ida, quando o Tricolor gaúcho bateu o Galo no Mineirão por 3 a 1. O jejum de 15 anos sem títulos nacionais foi quebrado, merecidamente.
(Imagens localizadas no Google)
– Homenagens – Nota 10 – Emocionante. Tanto a organização do jogo, quanto as torcidas e os jogadores. Sem palavras.
● Grêmio
– Marcelo Grohe – Nota 6 – Após o jogo, fez uma bela homenagem para seus colegas da Chapecoense, Danilo, Follman, Giménez e Matheus Biteco. Na partida, foi seguro quando precisou. Apenas uma falha: estava muito adiantado no gol de Cazares.
– Edilson – Nota 6 – Não avançou muito, mas fechou muito bem o seu lado do campo.
– Pedro Geromel – Nota 8 – Não convocá-lo para a Seleção Brasileira atualmente é insanidade; hoje, tem que ser um dos quatro zagueiros. Fez uma partida excelente. Devemos também lembrar da assistência no último gol do jogo passado, que abriu consideravelmente a vantagem gremista.
– Kannemann – Nota 7,5 – Completou uma zaga perfeita Geromel e anulou Lucas Pratto.
– Marcelo Oliveira – Nota 5 – Idem a Edilson. Não atacou, mas defendeu bem.
– Walace – Nota 7,5 – Meio campista moderno, esse é outro selecionável. Não bastasse ter dado equilíbrio para a Seleção Olímpica na conquista da medalha de ouro, em quase todos os jogos é um dos melhores em campo. É incrível como esse primeiro volante do Grêmio poderia ser o “camisa 10” de muitos times por aí.
– Ramiro – Nota 6 – Ele foi a principal mudança do time de Renato Gaúcho em relação à equipe que era escalada antes por Roger Machado. Ramiro marca muito bem e sabe jogar com a bola. Nessa final, foi mais retraído, como todo o time.
– (Jailson) – Sem nota – O sósia de Will Smith entrou apenas no fim, para dar fôlego ao time.
– Maicon – Nota 6 – O capitão se reinventou no Grêmio e tem jogado muito bem. Foi um dos grandes destaques do primeiro jogo, mas hoje foi mais discreto.
– Douglas – Nota 6,5 – O camisa 10 comeu a bola no primeiro tempo. Cansou no segundo.
– (Miller Bolaños) – Sem nota – Não deu prazo de avaliar a sua partida. Fez um gol de rebote, o gol do título, mas quase estraga a festa no fim do jogo, fazendo cera e irritando os adversários em um momento desnecessário para isso.
– Everton – Nota 7 – Ninguém sentiu falta de Pedro Rocha (o craque da decisão). Infernizou a vida de Marcos Rocha e ainda recompôs bem no lado esquerdo.
– (Fred) – Sem nota – Entrou apenas para ganhar o bicho, como se dizia antigamente.
– Luan – Nota 6,5 – Não apareceu muito, mas é o melhor jogador do time e um dos melhores do país.
– Renato Gaúcho – Nota 7 – O maior ídolo do clube em todos os tempos escreve mais um capítulo vitorioso em sua história. Escalou bem o time, jogou com o regulamento e fez seu time ser campeão. Se quisesse, poderia ser mais ousado e fazer o time dar outra aula de bola ao Galo.
– Victor – Nota 7 – Emocionou a todos no momento do minuto de silêncio. Em campo, foi o responsável por seu time não ter perdido o jogo, com (pelo menos) uma grande defesa. Ainda tentou impedir o gol gremista, mas sem sucesso.
– Marcos Rocha – Nota 4,5 – Não é nem sombra do jogador que foi. Sofreu ao ser atacado e não conseguiu atacar. Só merece destaque os seus arremessos de lateral na área adversária.
– Gabriel – Nota 4,5 – Os atleticanos choram a ausência de Leo Silva. O Galo que venceu a Libertadores de 2013 e a Copa do Brasil de 2014 era um time muito desequilibrado, mas tinha zagueiros como o próprio Leo Silva e Réver (depois Jemerson). Atualmente sofre sem grandes opções.
– Erazo – Nota 3 – Poderíamos traduzir o nome dele para o português como “Erraço“. Fui bonzinho na nota. Ele marca mais ou menos bem e é bom na bola aérea. Mas é muito lento e, talvez seja o pior jogador do mundo com a bola nos pés. Até ele torce pra não receber a bola. Realmente dá dó.
– Fábio Santos – Nota 5,5 – O Grêmio quase não atacou pelo seu lado, pois ele sabe cuidar do que é seu. Só se soltou no fim do jogo, sem resultar em maiores perigos.
– Rafael Carioca – Nota 5 – Conseguiu se acertar na marcação no segundo tempo. Apareceu menos do que é acostumado nos seus chutes de média distância.
– Leandro Donizete – Nota 5 – O volante jogou seu futebol aguerrido de sempre, sem comprometer, mas também sem auxiliar na construção de jogo.
– (Cazares) – Nota 5,5 – Não tem como ser banco desse time. Apesar de inconstante, o baixinho é muito bom. Jogou cerca de 20 minutos, o suficiente para fazer a bola chegar mais no ataque e se eternizar com um gol maravilhoso, em chute de seu próprio campo. Gol de placa.
– Júnior Urso – Nota 4 – Perdido no primeiro tempo, nem voltou para o segundo.
– (Maicosuel) – Nota 3 – Ele jogou? Só lembro de tê-lo visto entrando em campo no intervalo. Nulo.
– Luan – Nota 5 – Correu, correu e correu. Cansou no segundo tempo.
– (Lucas Cândido) – Sem nota – Jogou poucos minutos, mas ninguém entendeu sua entrada em campo.
– Robinho – Nota 3 – Para um jogador de sua categoria (e salário), é inadmissível que só apareça quando vai bater as bolas paradas (faltas e escanteios).
– Lucas Pratto – Nota 4 – Sempre aparecia e pedia a bola, mas sempre perdia para o compatriota Kannemann. Todos esperavam mais dele.
– Diogo Giacomini – Nota 4 – O técnico interino escalou bem o time, mas poderia ter entrado com Cazares no lugar de Júnior Urso, logo de cara. As alterações foram horríveis. Maicosuel nada fez. Colocar o Lucas Cândido em um time que precisa de gols, é tentar acender fogo embaixo d’água.
Três pontos sobre… … São Paulo de 2008: inédito e único tricampeão brasileiro
(Imagem: Globo Esporte)
● Hoje completa exatos oito anos do último título brasileiro do São Paulo Futebol Clube.
O Tricolor venceu o Campeonato Brasileiro de 1991, as Copas Libertadores de 1992 e 1993 e as Copas Intercontinentais também de 1992 e 1993. Exceto alguns torneios regionais, o tricolor só voltou a se destacar em níveis maiores com o título da Libertadores e Mundial de 2005. Logo depois emendou um inédito tricampeonato Brasileiro, entre 2006 e 2008.
O SPFC foi dos primeiros a tirar vantagem da Lei Pelé, contratando excelentes jogadores no fim de seus contratos. Vários ídolos recentes do clube chegaram com passe livre ou vieram com preço relativamente barato. Assim, o time montou um verdadeiro esquadrão em nível continental, com um elenco de vastas opções e era candidato a tudo que disputava. Uma gestão exemplar e um time forte, que disputava sempre para ganhar, era uma motivação extra para novos contratados. Era um círculo virtuoso.
No primeiro título da sequência, a base do time ainda era a campeã mundial um ano antes (e vice da Libertadores de 2006), com: Rogério Ceni; Fabão, André Dias (Edcarlos) e Miranda (Alex Silva); Ilsinho (Souza), Mineiro, Josué (Richarlyson), Danilo (Lenílson) e Júnior; Leandro (Thiago Ribeiro) e Aluísio Chulapa (Alex Dias). Era um time que sofria poucos gols, com meio campo marcador e criativo, com um ataque que aproveitava as chances criadas. Armando tudo isso estava um técnico histórico: Muricy Ramalho. Era o quarto título do Campeonato Brasileiro.
● Em 2007, as projeções para o clube não eram muito boas, pois perdeu, dentre outros, o lateral direito Ilsinho e a dupla Mineiro-Josué (siameses do meio campo, como os blaugranas Xavi-Iniesta, guardadas as devidas proporções, claro). Mas incrivelmente a diretoria conseguiu repor as peças e até ampliar o portfólio disponível para o Professor Muricy: os atacantes Dagoberto e Borges, Hernanes (de volta de empréstimo), o meia-ala Jorge Wágner e o zagueiro Breno, promissor e revelado nas divisões de base do clube, de apenas 17 anos. Com um time compacto e oportunista, foi constante em todo o campeonato. Entre a 17ª e a 25ª rodada, o time sequer levou gols. Como resultado, tem o menor número de gols sofridos da história do torneio, com 19 em 38 partidas (média de 0,5). o time base era: Rogério Ceni; Breno, André Dias e Miranda; Souza, Hernanes, Richarlyson, Leandro e Jorge Wágner; Dagoberto e Borges (Aloísio Chulapa).
(Imagem: SPFC.net)
● Já em 2008, a reestruturação foi maior. Adriano Imperador voltou ao Brasil para jogar a Libertadores no primeiro semestre e logo foi embora. Também chegaram: o lateral Joílson, o atacante Éder Luís e o zagueiro Rodrigo. Mas saíram destaques como Leandro, Souza, Aloísio e Breno. Na Copa Libertadores, a terceira eliminação consecutiva para um time brasileiro (Inter em 2006, Grêmio em 2007 e Fluminense, nas quartas de final de 2008). No Paulista, queda na semifinal para o futuro campeão, Palmeiras.
Sem confiança alguma, o SPFC começou o Brasileirão ainda nocauteado, perdendo do Grêmio em casa por 1 a 0 e empatando com Atlético-PR e Coritiba por 1 a 1. Diferentemente dos anos anteriores, o Tricolor do Morumbi demorou a engrenar e não se aproximou da liderança no primeiro turno. Depois de quatro jogos sem vitória, o time goleou o Galo por 5 x 1 em casa e bateu o Flamengo por 4 a 0 no Maracanã. Ao fim de um primeiro turno irregular, estava atrás de Grêmio, Cruzeiro e Palmeiras.
Logo na primeira rodada do returno, perdeu novamente para o Grêmio (dessa vez fora de casa) por 1 a 0. Com isso, os gaúchos abriram 11 pontos na dianteira e eram os favoritos destacados a quebrarem um jejum de 12 anos. Depois dessa derrota, o São Paulo ganhou um ritmo heroico, ultrapassou o Grêmio na 33ª rodada e não perdeu mais. Foram 11 vitórias e 6 empates até a penúltima rodada. O Tricolor precisava apenas vencer em casa e, diante de 66.888 pagantes no Morumbi, apenas empatou com o Fluminense. O Grêmio goleou o fraco Ipatinga e manteve chances de título.
Na rodada final (07/12/2008), bastaria ao um empate com o Goiás, enquanto o Grêmio precisava vencer o Galo em casa e torcer por derrota do São Paulo. Houve diversos boatos de suborno de arbitragem e polêmicas extra-campo que atrapalharam um pouco o andamento do jogo. Aos 22 minutos de jogo, Borges marcou em posição de impedimento, mas o árbitro validou o gol. Este seria o gol do título, do único time a vencer por três vezes consecutiva o Campeonato Brasileiro desde sua concepção como tal, em 1971. O time base de 2008 foi: Rogério Ceni; Rodrigo, André Dias e Miranda; Joílson, Zé Luís (Richarlyson), Hernanes, Hugo e Jorge Wágner; Dagoberto e Borges.
O Brasil teve esquadrões formidáveis desde 1971, mas só um clube se tornou tricampeão consecutivo. O maior mérito do time no período, foi perceber que a vitória (tanto em casa, quanto fora) na 1ª, na 17ª ou na última rodada, valia a mesma coisa: 3 valiosíssimos pontos. Muricy soube se reinventar, tomou consciência das fraquezas do time e otimizou suas forças, como a bola parada (a principal). Não existe gol feio; feio é não fazer e, pior ainda, sofrer gol.
Agora, esperamos que o São Paulo saia logo dessa atual estagnação e resignação, olhando para o futuro. Para um clube dessa grandeza, é inadmissível que seja apenas como o hino, onde “as tuas glórias vêm do passado”.
Três pontos sobre… … Alberto Spencer: Senhor Libertadores
(Imagem: Fox Sports)
● Alberto Pedro Spencer Herrera nasceu em 06/12/1937 na cidade de Ancón, no Equador. Era filho da equatoriana América Herrera e do jamaicano de origem britânica Walter Spencer (o que justifica seu sobrenome inglês). Perdeu o pai aos nove anos de idade. Deu seus primeiros passos no campo de terra do Club Los Andes, na cidade onde nasceu. Em 1954 foi levado por seu irmão, Marcos, que também era jogador (jogou também no Panamá de Guayaquil), para fazer um teste no Círculo Deportivo Everest, também de Guayaquil. No ano seguinte já estava na equipe principal do clube. Estreou profissionalmente em 29/06/1955, contra o Emelec. Anotou seu primeiro gol na semana seguinte, de cabeça, em 07/07/1955, aos 33 minutos do segundo tempo, contra o 9 de Octubre. Seu primeiro gol fora do Equador também foi de cabeça, contra o Deportes Tolima, da Colômbia.
Em janeiro de 1958, participou de um torneio amistoso com a camisa do Emelec, cedido pelo Everest, e se sagrou campeão. De volta ao seu clube, na inauguração do Estádio Modelo, de Guayaquil, em 24/07/1959, Spencer marcou duas vezes contra o time argentino Huracán. Dois dias depois, arrebentou contra o uruguaio Peñarol, chamando a atenção do técnico Hugo Bagnulo. Assim, coube a Spencer trocar o futebol equatoriano pelo Peñarol. Sua despedida foi em um amistoso entre Everest x Palmeiras, em 17/02/1960. Marcou 3 vezes logo em sua estreia pelo novo clube, em 08/03/1960, em vitória por 6 a 3 contra a equipe argentina Atlanta. Dias depois, fez dois gols contra o Tigre, também da Argentina. Em 1960, foi o principal destaque do primeiro campeão da Copa Libertadores da América. O Peñarol venceu o Olimpia na final, com um gol seu. Ele também fez o único gol do Peñarol na Copa Intercontinental, mas seu time perdeu o título para o Real Madrid. Em 1961, foi bicampeão da Libertadores (anotando um gol na final sobre o Palmeiras) e enfim conquistou o título da Copa Intercontinental. No agregado, fez dois gols sobre o Benfica, ajudando o Peñarol a conquistar o título pela primeira vez, na segunda tentativa. Em 1966, voltou a vencer a Libertadores (com três gols na final sobre o River Plate) e o Mundial de Clubes (com três gols), se vingando do Real Madrid, que o tinha vencido em 1960. Foi oito vezes campeão uruguaio pelos “Carboneros”.
A partir de 1967, nem Spencer e nem o Peñarol conseguiu manter o ritmo frenético de conquistas e “só” faturaram os campeonatos nacionais de 1967 e 1968 e a Supercopa dos Campeões Mundiais em 1969. Em 1970, Alberto Spencer voltou à sua terra natal para jogar no Barcelona de Guayaquil. Pelo clube, venceu ainda o Campeonato Equatoriano de 1971. Se aposentou no Barcelona sem partida de despedida. Fez parte da “Façanha de La Plata”, quando os canários venceram o Estudiantes. Em sua homenagem, o Estádio Modelo de Guayaquil atualmente tem o seu nome. Encerrou a carreira no ano seguinte, com um total absurdo de 528 gols marcados em sua carreira.
(Imagem: Globo Esporte)
● Era um atacante nato, rápido, matador e habilidoso com a bola nos pés. Era ambidestro e pelo seu excelente jogo aéreo, ganhou o apelido de “Cabeza Mágica” (cabeça mágica). Pelé não o incluiu na lista FIFA 100, o que causou indignação a muitos na América do Sul. Mas reconheceu sua principal qualidade:
“Um jogador que cabeceava melhor que eu era o Spencer. Eu era bom, mas Spencer era espetacular cabeceando ao gol. Ele tinha uma explosão incrível.”
É o maior artilheiro da história da Libertadores da América com 54 gols assinalados e o segundo maior goleador da Copa Intercontinental, com seis gols (atrás apenas de Pelé, com sete). É considerado o melhor jogador do futebol equatoriano de todos os tempos. É o único equatoriano que ganhou oito títulos de liga no exterior (Álex Aguinaga ganhou 3 e Édison Méndez, 2). Também é o único de seu país a disputar seis finais de Copa Libertadores e o único que ganhou três Copas Libertadores (1960, 1961 e 1966) e em todas as finais marcou gols. Também é o único equatoriano a vencer duas Copas Intercontinentais. É o jogador nascido no Equador que mais gols marcou por equipes do exterior, com 326 gols, todos pelo Peñarol.
Após se aposentar dos gramados, foi técnico da Universidad Católica de Quito, Emelec, Liga de Portoviejo, Técnico Universitario, Huracán Buceo, Liverpool de Uruguay e Guaraní. Nunca foi campeão, mas foi vice-campeão do Campeonato Equatoriano, com a Católica, em 1973. Teve sua biografia oficial escrita por um conterrâneo. Freddy Álava escreveu “Sr. Spencer”, que teve uma edição especial para o Uruguai, contando com o selo do jornal El País, de Montevidéu e prólogo do ex-presidente Julio María Sanguinetti, fanático pelo Peñarol. Em seus últimos anos de vida, Spencer trabalhou como cônsul-geral do Equador no Uruguai. Sofria de problemas cardíacos e, por isso, em outubro foi fazer uma cirurgia em Denver (EUA). Em 03/11/2006, no meio de um tratamento, um infarto fulminante o tirou a vida e o levou apenas e definitivamente para a história.
Pela seleção do Equador, marcou quatro vezes em 11 partidas: quatro pelo Campeonato Sul-Americano Extra de 1959 (atual Copa América), quatro pelas eliminatórias das Copas do Mundo (um para 1962 e três para 1966) e três jogos pela Copa Independência (que comemorava 150 anos de independência do Brasil, em 1972). Spencer nunca aceitou se naturalizar uruguaio enquanto era jogador. Quando jogava no Peñarol, lhe ofereceram essa opção, mas ele não quis. Só jogou pela seleção do Uruguai em alguns amistosos e fez um gol na Inglaterra, em Wembley. Pela Celeste, foram seis jogos e dois gols.
● Feitos e premiações de Alberto Spencer:
Pelo Peñarol:
– Campeão da Copa Intercontinental (Mundial Interclubes) em 1961 e 1966.
– Campeão da Copa Libertadores da América em 1960, 1961 e 1966.
– Campeão da Supercopa dos Campeões Intercontinentais em 1969.
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968.
– Campeão do Torneio de 25º Aniversário do Estadio Monumental de Núñez, do River Plate, em 1963.
– Campeão do Troféu Cidade de Guayaquil em 1964.
Pelo Barcelona (Equador):
– Campeão do Campeonato Equatoriano em 1971.
Pelo Emelec (Equador):
– Campeão do Troféu Cervejaria Nacional em 1958, no Equador.
Distinções e premiações individuais:
– Maior artilheiro da história da Copa Libertadores da América (54 gols).
– Artilheiro da Copa Libertadores América em 1960 (3 gols) e 1962 (6 gols).
– Artilheiro do Campeonato Uruguaio em 1961 (18 gols), 1962 (17 gols), 1967 (11 gols) e 1968 (8 gols).
– Incluído pela CONMEBOL em sua seleção histórica de todos os tempos.
– 20º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador equatoriano na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 5º maior artilheiro da história da primeira divisão do Campeonato Uruguaio (113 gols em 166 jogos, média de 0,68).
– 2º maior artilheiro da história do Peñarol (326 gols).
– É o primeiro a marcar um hat-trick (três gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (19/04/1960, Peñarol 7 x 1 Jorge Wilstermann-BOL).
– É o primeiro a marcar um pôquer (quatro gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (19/04/1960, Peñarol 7 x 1 Jorge Wilstermann-BOL).
– É o primeiro a marcar um re-pôquer (cinco gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (07/07/1963, Peñarol 9 x 1 Everest-EQU).
Três pontos sobre… … Héctor “Manco” Castro: primeiro craque aleijado
(Imagem localizada no Google)
● Héctor Castro nasceu em Montevidéu em 29/11/1904 e faleceu na mesma cidade em 15/09/1960. Era filho de pais galegos e começou a jogar futebol nas ruas da capital uruguaia, como a maioria dos jogadores sul-americanos. Começou a trabalhar aos dez anos de idade. Quando tinha treze anos, ele cortou seu antebraço direito com uma serra elétrica em um acidente de trabalho, o que lhe rendeu o apelido de “El Divino Manco“.
Em condições normais, seu sonho no futebol acabaria ali. Mas o jovem não aceitou o destino e seguiu adiante. Com 1,69 m e 69 quilos, era um jogador muito útil por mostrar bom rendimento nas cinco posições do ataque, graças a força, a velocidade e habilidade que possuía. Castro se tornou famoso não só por suas façanhas futebolísticas, mas também por causa de sua deficiência. Em vez de considerar uma desvantagem, ele fazia de sua deficiência uma vantagem, usando seu braço mutilado com frequência no rosto dos rivais.
Assim, em 1921, antes de completar os 17 anos já jogava no atualmente desaparecido Club Atlético Lito e se tornava o primeiro aleijado a atuar no país. Bastaram dois anos para chamar a atenção de um grande clube. Aos 20 anos, na temporada 1923/24, iniciou sua aventura no Club Nacional de Football e foi campeão da liga logo de cara. Suas grandes atuações lhe valeram a convocação para a seleção uruguaia que venceu a Copa América de 1926. Ele passou a fazer parte de um grupo com verdadeiras lendas vivas, que haviam sido campeões olímpicos dois anos antes. Voltou a vencer o Campeonato Uruguaio em 1933 e 1934, antes de se aposentar, em 1936. Foram 145 gols em 231 jogos pelos “Bolsos”. Em 1932, foi jogar no Estudiantes de La Plata, da Argentina, mas voltou uma temporada depois ao Nacional.
(Imagem: Extracampo)
● Na estreia do país anfitrião na Copa do Mundo de 1930, contra o Peru, Castro anotou o único tento, aos 20 minutos do segundo tempo, com um chute forte a 16 metros do gol. Foi o primeiro gol marcado no mítico Estádio Centenário, de Montevidéu. Mesmo com a marca histórica, não jogou bem e foi sacado do time nas duas partidas seguintes. Mas pela influência do capitão José Nasazzi, que apostava na dedicação total de Castro no jogo, o “Manco” voltou na final, substituindo Peregrino Anselmo. No dia da final, Castro recebeu um telefonema anônimo, que dizia que se o Uruguai perdesse, ele receberia 50 mil pesos; se ganhasse, ele seria morto. Ele não se fez de rogado. Assim, foi dele o último gol do torneio. Faltava um minuto para o fim da grande final, em que o seu Uruguai vencia a Argentina por 3 a 2, quando Castro finalizou de cabeça um cruzamento do ponta Pablo Dorado. Sua seleção se tornou a primeira campeã do mundo.
Atuou pela seleção do Uruguai entre 1923 e 1935, disputando 25 partidas e anotando 18 gols (30 gols em 54 jogos, contando também partidas extra-oficiais). Além da Copa de 1930, Castro conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, quando seu país venceu a mesma Argentina por 2 a 1 na partida desempate da final. Venceu também a Copa América em duas oportunidades, em 1926 e 1935.
Em 1939, Castro foi trabalhar na comissão técnica do Nacional, conquistar o único pentacampeonato consecutivo do clube: 1939 (como auxiliar técnico), 1940, 1941, 1942 e 1943 (já como treinador). Ficou alguns anos sem trabalhar na área, mas voltou em 1952 para dar outro título ao Nacional.
Em 1959 se tornou técnico da seleção de seu país e tinha total apoio da imprensa e da torcida mas, misteriosamente, renunciou ao cargo meses depois.
Em 15/09/1960, com 55 anos de idade, um infarto do miocárdio tirou a vida de um menino de Montevidéu, que nem uma serra elétrica impediu de se tornar uma lenda do futebol.
Como jogador, pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1928.
– Campeão da Copa América em 1926 e 1935.
– Vice-campeão da Copa América em 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1929.
Como jogador, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1924, 1933 e 1934.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.
Como técnico, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1940, 1941, 1942, 1943 e 1952.
– Tetracampeão do Torneio de Honor em 1940, 1941, 1942 e 1943.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1940 e 1942.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 7º maior artilheiro da história da primeira divisão do Campeonato Uruguaio com 107 gols em 181 jogos.
Três pontos sobre… … Cinco anos sem Doutor Sócrates
(Imagens localizadas no Google)
● Sócrates faleceu às 04h30 da manhã do dia 04 de dezembro de 2011 (há exatos cinco anos), com falência múltipla dos órgãos em decorrência do choque séptico, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo.
Em agosto de 2011, Sócrates foi internado na UTI do Hospital Albert Einstein devido a uma hemorragia digestiva causada por hipertensão portal (na veia porta, que drena o sangue do sistema digestivo). Após essa primeira internação, o craque admitiu que tinha problemas de alcoolismo. No mês seguinte voltou a ser internado pelos mesmos problemas. Já no início de dezembro de 2011, ele foi internado novamente devido a uma suporta intoxicação alimentar, que se transformou em um quadro grave de choque séptico em razão da condição debilitada de sua saúde, que o levou a óbito.
No mesmo dia 04/12/2011, o seu querido Corinthians se sagrou campeão brasileiro pela quinta vez. No início da partida, os jogadores e a comissão técnica do alvinegro prestaram uma homenagem a Sócrates, repetindo o gesto utilizado por ele na comemoração de seus gols (punho cerrado e mão ao ar, como na foto, o que foi prontamente repetido pela torcida. Botafogo, Corinthians e Fiorentina decretarem luto oficial. Sua morte repercutiu em redes sociais de quase todos as pessoas ligadas ao esporte e amigos do Magrão. Foi também destaque na imprensa esportiva mundial, como nos jornais espanhóis “As” e “Marca”, os britânicos “The Sun”, “BBC” e “The Economist”, os italianos “Gazzetta dello Sport”, “Guerin Sportivo” e “La repubblica”, os portugueses “A Bola” e “Record”, os argentinos “El Gráfico” e “Olé”, os americanos “CNN” e “New York Times” e os franceses “France Football” e “Le Monde.” Foi sepultado no mesmo dia, no cemitério Bom Pastor, na cidade de Ribeirão Preto. Ele tinha 57 anos e era pai de seis filhos.
● Sócrates Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém, no dia 19/02/1954. Era conhecido também como Dr. Sócrates ou Magrão. Era irmão mais velho de Raí, ídolo do São Paulo e pai de Gustavo Vieira de Oliveira, diretor de futebol que passou pelo SPFC em 2016. Ingressou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP aos 17 anos, mas já jogava pelo Botafogo. Se profissionalizou no esporte em 1973, mas sem abandonar o curso, que seguiu concomitantemente com o futebol até se formar, em 1977.
Se fez notar também pela sua militância política, especialmente nos anos 1980, quando fez parte do movimento pelas Diretas Já e liderou a chamada “Democracia Corintiana” (que não tinha nada de democracia, de acordo com o Guia Politicamente Incorreto do Futebol, de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior). Era conhecido por seu estilo altivo e elegante. Sua principal característica era sua habilidade no uso do calcanhar, que se justificava por ser muito alto e não ter o equilíbrio de um jogador mais baixo; por ter seu centro de gravidade mais alto, os toques de calcanhar foi a forma que encontrou para permanecer mais em pé. Mas seu futebol era completo. Dominava todos os fundamentos. Arrematava bem de todas as formas, incluindo gols de falta, de cabeça e de fora da área, além das várias assistências. Um dos maiores (senão o maior) ídolos do Corinthians e do Botafogo de Ribeirão Preto, é uma das lendas do futebol mundial. Em 28/07/2012, o Corinthians inaugurou um busto em homenagem a Sócrates no Parque São Jorge.
Pelo Botafogo, jogou de 1973 a 1978, com 274 tentos anotados em 269 jogos. Pelo Corinthians, entre 1978 a 1984, fez 172 gols em 298 partidas. Jogou na Fiorentina apenas na temporada 1984/85 (13 gols em 28 jogos). Jogou no Flamengo de 1986 a 1987, marcando 8 vezes em 45 partidas disputadas. Passou pelo Santos em 1988, com 7 gols nas 23 partidas em que atuou. Encerrou a carreira ainda em 1988, no mesmo Botafogo que o projetou, com sete jogos e um gol. Em 1988, em amistoso com ídolos corintianos em campo, jogou 15 minutos com a camisa do Corinthian-Casuals. Em 2004, aos 50 anos de idade, atendendo a um convite de um amigo, participou de uma partida festiva com a camisa do Garfoth Town, equipe da oitava divisão da Inglaterra.
Após deixar os gramados, foi um técnico sem sucessos no Botafogo-SP em 1990, na LDU Quito (Equador) em 1996 e na Cabofriense-RJ em 1999.
Estreou na Seleção Brasileira em 1979, em amistoso contra o Paraguai. Era líder e capitão de uma Seleção de estrelas na Copa do Mundo de 1982, mas o destino não quis laureá-lo como campeão do mundo, saindo do torneio na fase quartas de final, contra a Itália. Mas Sócrates foi destaque da competição. Teve também excelente atuação na Copa América de 1983, mas o Brasil foi vice-campeão, perdendo para o Uruguai no placar agregado das finais em ida e volta. Jogou também a Copa do Mundo de 1986, mas já estava fora de sua forma ideal e não foi tão exuberante quanto quatro anos antes. Não usava mais a faixa de capitão (era do zagueiro Edinho), mas ainda era o líder natural do time. Na decisão por pênaltis nas quartas de final contra a França, perdeu o seu. Ao todo pela Seleção Canarinho, disputou jogou 69 vezes e marcou 25 gols.
● Em fevereiro de 2015, o jornal britânico The Guardian, em seu quadro “The Joy of Six”, elegeu Sócrates como um dos seis esportistas mais inteligentes da história, sendo o único futebolista da lista. Para isso, o periódico levou em conta currículos que extrapolam a linha esportiva, com atuação preponderante em suas áreas e fora delas. Sócrates fez de tudo enquanto viveu:
– Em parceria com o jornalista Ricardo Gozzi, escreveu o livro “Democracia Corinthiana: A utopia em jogo” (2002), onde conta sua experiência de democracia interna no clube durante o período de 1982-1984.
– Gravou um disco solo, de música sertaneja, chamado “Canto de caboclo” (1980), pela gravadora RCA, em tiragem de 50.000 exemplares rapidamente vendidos.
– Participou do disco “Aquarela” de seu amigo Toquinho, em 1982.
– No teatro, produziu a peça “Perfume de Camélia” (1983), com a atriz Maria Isabel de Lisandra. A peça foi exibida no teatro Ruth Escobar.
– Participou do documentário “Ser campeão é detalhe” (2011) sobre a Democracia Corintiana, realizado pelos alunos da disciplina Projeto de Cinema do curso de Midialogia da Unicamp.
– Ao lado de Zico, fez uma participação especial na novela “Feijão Maravilha”, da Rede Globo, em 1979, contracenando com os atroes Ivon Cury, Grande Otelo e Olney Cazarré.
– Em 1992, inaugurou em Ribeirão Preto, com um investimento de US$ 300 mil, a “Medicine Sócrates Center”, uma clínica médica destinada a atender profissionais de diversas modalidades esportivas, além de pacientes comuns.
– Era comentarista esportivo no programa esportivo “Cartão Verde”, da TV Cultura, desde 2008 até sua morte.
Feitos e premiações de Sócrates:
Pelo Botafogo-SP:
– Campeão da Taça Cidade de São Paulo (1º turno do Campeonato Paulista) em 1977.
Pelo Corinthians:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1979, 1982 e 1983.
– Campeão da Taça Governador do Estado de São Paulo em 1984.
– Campeão da Copa dos Campeões SP x RJ em 1984.
– Campeão da Taça Cidade de Porto Alegre em 1983.
– Campeão da Copa da Feira de Hidalgo em 1981, no México.
– Campeão da Copa Cidade de Turim em 1983, na Itália.
Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca em 1986.
– Campeão da Taça Rio em 1986.
Pela Seleção Brasileira:
– Vice-campeão do Mundialito de Montevidéu em 1980.
– Vice-campeão da Copa América de 1983.
– 3º lugar na Copa América de 1979.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1982.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1986.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1982.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1986.
– Campeão da Taça da Inglaterra em 1981.
– Campeão da Taça da França em 1981.
Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Paulista de 1976 (27 gols).
– Artilheiro da Taça Cidade de Porto Alegre de 1983 (7 gols).
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o melhor jogador sul-americano pelo jornal El Mundo em 1983.
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1980.
– Eleito o 5º melhor jogador do mundo pela revista World Soccer em 1982.
– Eleito o 21º melhor jogador brasileiro do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 6º melhor jogador da Copa do Mundo de 1982.
– Convocado para a Seleção da FIFA em 1982.
– Eleito para a lista dos 100 craques do Século XX pela revista World SOccer em 1999.
– Eleito para a lista dos 100 craques das Copas do Mundo pela CNN Sports em 2002.
– Craque do ano de 1982 da Revista Placar, eleito pela crítica e pelos leitores.
– Craque do ano de 1983 da Revista Placar, eleito pela crítica.
– 4º maior craque do Brasil na década de 1970 da Revista Placar, eleito pela crítica em 1979.
Três pontos sobre… … Edmundo 4 x 1 Flamengo, em 1997
(Imagem: Mantos do Futebol)
● Em 03/12/1997, uma quarta-feira, em jogo válido pela 5ª rodada do Grupo A da fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1997, Flamengo e Vasco se enfrentavam em um Maracanã lotado. Naquele ano, a fase semifinal foi disputada em dois grupos com quatro times. O líder Vasco tinha 10 pontos, enquanto o Flamengo tinha 7 e, se vencesse, iria a 10 e ambos ainda teriam uma partida por jogar. Ou seja, se o rubro-negro vencesse, ainda teria chances; se o cruzmaltino empatasse um dos dois jogos (o outro seria contra o Juventude), estaria matematicamente classificado.
Logo aos 16 minutos, Edmundo (o melhor jogador do campeonato disparado) passou pelo goleiro Clemer e abriu o placar. O Vasco ficaria com um a menos ainda na etapa inicial, aos 35, com a expulsão do volante Nelson “Patola”.
Mas o camisa 10 vascaíno estava infernal e ampliou aos 9 do segundo tempo, quando recebeu lançamento de Juninho e contou com a sorte quando a bola bateu em suas costas, tirando Júnior Baiano e Clemer da jogada.
Já no fim, aos 39, Júnior Baiano diminuiu cobrando pênalti para o Flamengo e deu esperanças à torcida.
Mas por pouco tempo. Aos 44, Edmundo recebeu a bola na área e colocou a defesa adversária para dançar: driblou logo dois em um único corte! Sensacional! E, de perna esquerda, fez seu “hat-trick”, batendo o recorde de artilharia em uma mesma edição do Brasileirão, com 29 gols marcados (superando Reinaldo, do Atlético-MG, que anotou 28 em 1977).
Como último prego no caixão do rival, ainda deu tempo para o lateral Maricá fechar a goleada nos acréscimos. Final: 4 x 1, Vasco.
● Foi um dos maiores shows individuais de um jogador na história recente do Brasileirão.
Foi uma verdadeira noite de gala, que nunca sairá da memória de todos os torcedores do Vasco da Gama e dos amantes do futebol em geral.
O Vasco jogou tanto contra o Flamengo, que nem precisou marcar gols na final. Com dois empates por 0 x 0 com o Palmeiras, por ter melhor campanha, o Vasco se tornou campeão brasileiro de 1997.
● FICHA TÉCNICA
Flamengo 1 x 4 Vasco
FLAMENGO
Clemer; Leandro Silva, Júnior Baiano, Juan e Gilberto; Jamir, Bruno Quadros (Renato Gaúcho), Iranildo (Lê) e Athirson; Lúcio e Sávio. Técnico: Paulo Autuori.
VASCO
Carlos Germano; Filipe Alvim (Maricá), Alex Pinho, Mauro Galvão e César Prates; Nasa, Nelson, Juninho Pernambucano (Moisés) e Ramon; Edmundo e Evair (Fabrício Carvalho). Técnico: Antônio Lopes.
Data: 03/12/1997
Local: Estádio Maracanã
Público: 75.493
Árbitro: Paulo César de Oliveira
Gols:
16′ Edmundo (VAS)
54′ Edmundo (VAS)
84′ Júnior Baiano (FLA)
89′ Edmundo (VAS)
90’+ 1′ Maricá (VAS)
Cartão Vermelho: Nelson (VAS)
Três pontos sobre… … Castilho: sua sorte não foi o suficiente
(Imagens localizadas no Google)
● Carlos José Castilho nasceu em 27/11/1927, no Rio de Janeiro, então capital federal. Iniciou a carreira como atacante no Tupã Futebol Clube, de Brás de Pina, subúrbio do Rio. Certa vez, o goleiro titular não apareceu para uma partida e Castilho atuou em seu lugar, mas sem se fixar na posição. Com 17 anos, em 1944, foi levado aos juvenis do Olaria por Menezes, pai de Ademir de Menezes, craque do Vasco na época. Fez seus primeiros treinos como ponta esquerda, mas pediu ao treinador para ser testado no gol. Assim ficou por dois anos, sem nunca atuar em nenhuma partida, nem entre os aspirantes.
Em 1946, quando o técnico Gentil Cardoso pediu Ademir para o Flu, seu pai, que o representava, mais uma vez levou Castilho e o apresentou a Gentil. O goleiro fez testes no tricolor carioca e foi aprovado pelo ranzinza Gentil. Com apenas 19 anos, Castilho assinou com os aspirantes do Flu, recebendo três mil cruzeiros de luvas e um salário mensal de 800 cruzeiros. Estreou em 06/10/1946, em um amistoso na cidade mineira de Pouso Alegre, contra o Fluminense local. o time carioca venceu por 4 a 0, com Castilho defendendo seu primeiro pênalti na carreira. A partir de 1947 se tornou titular da equipe principal.
Entrou para a história como um goleiro “milagreiro”, com defesas consideradas quase impossíveis. Além de bom posicionamento e reflexo, se tornou mais lendário por sua inesgotável sorte. Em um Fla x Flu que seu time venceu por 1 a 0, chegou a levar cinco bolas na trave, além de defender um pênalti. Passou a ser chamado pela imprensa carioca de “Leiteria”, que significava “homem de sorte”, na época. O apelido tinha relação não só com a infância de Castilho, quando ele foi entregador de leite, mas também à fama alcançada por um leiteiro do bairro das Laranjeiras, que por duas vezes teve seu bilhete premiado pela Loteria Federal. Então, no Rio dos anos 1950, “leiteiro” se tornou sinônimo de “sujeito de sorte”. Os torcedores do Flu o chamavam de “São Castilho”. Foi o primeiro goleiro “canonizado” pelos torcedores, devido aos milgres debaixo das traves.
Vestiu o manto tricolor de 1946 a 1965. É o recordista de atuações pelo Fluminense, com 698 partidas. Sofreu 764 gols (incrível média de 1,09) e saiu invicto em 255 partidas. Estreou contra o Fluminense de Pouso Alegre (MG) pelo time de aspirantes. Se firmou como titular em 1948. É considerado o melhor goleiro do clube em todos os tempos. Tinha 1,81 m e 75 kg, padrão baixo atualmente, mas bom para a época. Se destacava também em defesas de pênaltis (só em 1952 defendeu 6). Foi o pioneiro em se posicionar com os braços abertos no momento em que o adversário se prepara para a cobrança; ele percebeu que esse ato aumentava seu tamanho diante do cobrador.
Castilho observou também que as cores das camisas dos goleiros da época facilitavam a vida dos artilheiros, pois as cores escuras que vestiam servia de ponto de referência para os adversários: eles podiam entrar na área com a bola dominada, que com o canto do olho já sabiam onde estava o goleiro. Assim, ele passou a vestir uniformes de cores mais neutras, como cinza claro, para que se camuflasse com as cores das arquibancadas ou com as redes dos gols. Era daltônico e enxergava as cores trocadas. Da mesma forma que acreditava que era favorecido por ver como vermelhas as bolas amarelas, era prejudicado pelas bolas brancas a noite.
Na época, os goleiros jogavam sem luvas. Era comum eles quebrarem dedos após defesas, tendo que até mesmo encerrar suas carreiras devido a essas contusões. No Torneio Rio-São Paulo de 1953, fraturou o dedo mínimo da mão esquerda pela primeira vez, ficando fora do gol tricolor em várias oportunidades. Em 1955, teve que extrair os meniscos e passou a se revezar no gol com o parceiro Veludo; assim, nesse ano jogou apenas 19 vezes, sua pior marca, já que ficou mais de um ano sem jogar, voltando apenas em abril do ano seguinte. Em 1957, ficou novamente fora dos gramados por 45 dias após fraturar o mindinho esquerdo pela quinta vez. Avaliado pelo Dr. Newton Paes Barreto, descobriu que a lesão era proveniente de uma destruição óssea e que ele deveria passar por outros três meses de tratamento ou até mesmo parar de jogar. Como profissional, Castilho era um obcecado. Foi ao mesmo tempo um exemplo de estoicismo e uma mostra de sua loucura quando ele resolveu amputar a metade do dedo para retornar mais rápido aos jogos decisivos da temporada. Duas semanas depois da amputação, ele já havia voltado a jogar pelo Fluminense contra o Flamengo. Um gesto extremo de amor ao seu ofício.
“O fato concreto é que, no meu entendimento, meu dedo continuaria imóvel, e isso me roubava a autoconfiança. Foi quando pensei na amputação parcial. Só com ela eu me sentiria novamente confiante. Dr. Paes Barreto foi contrário à operação. Ficou então determinado que, para que houvesse a operação eu teria de assinar um termo de responsabilidade. Vivi um drama durante 48 horas. De um lado a minha convicção de que só a amputação resolveria o meu problema. No outro lado minha senhora e os médicos não concordavam. Telefonei para o Dr. Paes Barreto e fui franco. Se não houver operação não poderei mais continuar jogando, assim não confio mais em mim. No dia seguinte dei entrada na Casa de Saúde. Eram oito horas. Paes Barreto já me esperava. Antes da anestesia, ainda ouvi sua última frase: ‘Castilho, você é louco!’.” ¹*
Pelo Fluminense, ainda em 1952, venceu a Taça Rio, uma espécie de Campeonato Mundial Interclubes, que reunia os principais campeões do mundo. O Flu venceu grandes times, entre eles o Peñarol, que tinha a base da fortíssima seleção uruguaia.
Em 1965 ele já estava desgastado no clube e queria mudar de ares. A diretoria “pó-de-arroz” não permitiu que ele fosse para o Vasco, mas o liberou por empréstimo para o Paysandu. No clube paraense, foi campeão estadual e encerrou a carreira. Na comemoração dos 98 anos do Paysandu, Castilho foi eleito o melhor goleiro da história do clube, em eleição organizada por cem eleitores ilustres e coordenada pelo jornalista e historiador Ferreira da Costa.
“Não se deve parar de olhar a bola nem quando ela está nas mãos do gandula. Ela é nossa maior inimiga, e só vigiando-a o tempo todo que nós deixaremos de tomar o ‘frango do fotógrafo’, aquele que levamos por uma distração, por estarmos conversando.” – Castilho.
● Pela Seleção Brasileira, conquistou o primeiro título relevante fora do Brasil: o Campeonato Pan-Americano de 1952, em Santiago. A final contra o Uruguai foi conturbada, terminando com uma série de agressões e confusões. O Brasil minimizou a dor da derrota na final da Copa de 1950, já que boa parte do elenco uruguaio ainda era o mesmo. Disputou quatro Copas do Mundo: 1950 (reserva de Barbosa, foi vice-campeão em casa), 1954 (única como titular), 1958 e 1962 (bicampeão, na reserva de Gylmar). Esteve na Copa América em 1953 e 1959, além de vários torneios e partidas amistosas. Disputou 29 jogos e sofreu 30 gols.
Após parar, Castilho adiou o sonho de ser treinador após o nascimento de seu primeiro filho homem. Em 1967, começou a nova carreira no mesmo Paysandu, sendo campeão paraense em 1967 e 1969. Esteve no Vitória entre 1973 e 1974 e até setembro de 2009 era o técnico que mais tinha dirigido e vencido pelo clube na Série A do Campeonato Brasileiro (foi ultrapassado por Vágner Mancini). Passou pelo Sport Recife e foi para o Operário, do Mato Grosso, onde conquistou o tricampeonato estadual em 1976/77/78 e levou a equipe ao terceiro lugar da série A do Campeonato Brasileiro em 1977. Passou pelos rivais gaúchos Grêmio e Inter, até chegar ao Santos, onde conquistou o Campeonato Paulista de 1984. Em 1986, foi treinar a seleção da Arábia Saudita e participou da Copa Asiática de Seleções. Voltaria ao Brasil no ano de 1987 com o sonho de ser técnico do seu Fluminense.
Castilho cometeu suicídio em 02/02/1987, aos 59 anos, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele foi visitar sua ex-esposa e, inesperadamente, saiu correndo pela sala e se atirou pela janela do apartamento, que ficava no sétimo andar do prédio. Ele não deixou explicações e nem carta de despedida, mas passava por problemas particulares. Pessoas próximas a ele indicam que ele sofria de depressão pelo esquecimento do público, mas o motivo exato é desconhecido por todos, até por sua família. Uma versão é que o ex-goleiro sofria de transtorno bipolar. Outra possibilidade é alguma enfermidade incurável que pudesse ter, pois sentiu fortes dores no mês de janeiro, na Arábia Saudita, e ele não revelou o conteúdo de seu exame a ninguém. Muitos falam em crise amorosa, já que ele vivia com a segunda mulher, Evelyna, que se recusou a viajar com ele para os Emirados Árabes Unidos dias antes. Essa separação brusca pode ter ocasionado seus distúrbios emocionais.
Castilho deixou cinco netos e dois filhos, um homem (Carlos) e uma mulher (Shirley), ambos de seu primeiro casamento. Sua primeira esposa (Vilma Lopes de Castilho) está viva e reside no Rio de Janeiro. O filho de Castilho, Carlos Roberto Lopes de Castilho, é executivo da Diretoria de Empresas da Cielo, líder do setor de pagamentos eletrônicos com máquinas de cartões de crédito e débito.
Sua história foi destacada em vários livros: “Castilho – Bicampeão Mundial de Futebol”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Os goleiros do Fluminense – De Marcos de Mendonça a Fernando Henrique”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Fluminense Football Club, história, conquistas e glórias no futebol” de Antônio Carlos Napoleão (2003); “O último homem da defesa”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2005); “Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1”, de Paulo Guilherme (2006); “Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro”, de Luís Augusto Simon (2010). O vestiário do departamento de futebol profissional do Fluminense tem o seu nome. Em 2007, o Tricolor das Laranjeiras inaugurou um busto de Castilho na entrada da sede social do clube, como agradecimento pelos serviços prestados, muito acima do que se pode esperar de um jogador profissional, pelas enormes e cegas demonstrações de amor pelo clube. Será sempre o maior ídolo dos tricolores em todos os tempos. Um dos grandes goleiros brasileiros na história.
● Feitos e premiações de Castilho:
Como jogador, pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962.
– Vice-campeão da Copa do Mundo em 1950.
– Campeão do Campeonato Pan-Americano em 1952.
– Campeão da Copa Roca em 1957.
– Campeão da Taça Bernardo O’Higgins em 1955.
– Campeão da Taça Oswaldo Cruz em 1950 e 1962.
Como jogador, pelo Fluminense:
– Campeão da Copa Rio em 1952 (equivalente a um Campeonato Mundial de Clubes, na época).
– Campeão do Campeonato Carioca em 1951, 1959 e 1964.
– Campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960.
– Campeão do Torneio Municipal do Rio de Janeiro em 1948.
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1954 e 1956.
– Campeão Regional Taça Brasil – Zona Sul em 1960.
– Campeão do Torneio José de Paula Júnior em 1952, em Minas Gerais.
– Campeão da Copa das Municipalidades do Paraná em 1953.
– Campeão da Taça Casa Nemo em 1949.
– Campeão da Taça Embajada de Brasil em 1950, no Peru (Sucre x Fluminense).
– Campeão da Taça Comite Nacional de Deportes em 1950, no Peru (Alianza Lima x Fluminense).
– Campeão da Taça General Manuel A. Odria em 1950, no Peru (Seleção de Arequipa x Fluminense).
– Campeão da Taça Adriano Ramos Pinto em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Cinquentenário do Fluminense em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Milone em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Ramon Cool J em 1960, na Costa Rica (Deportivo Saprissa x Fluminense).
– Campeão da Taça Canal Collor em 1960, no México (San Lorenzo-ARG x Fluminense).
– Campeão da Taça Embotelladora de Tampico SA em 1960, no México (Deportivo Tampico x Fluminense).
– Campeão da Taça Dínamo Moscou x Fluminense em 1963.
– Campeão da Taça Benemérito João Lira Filho em 1947 (inauguração do estádio do Olaria, entre Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça V.C Borba em 1947 (Atlético-PR x Fluminense).
– Campeão da Taça Folha da Tarde em 1949 (Internacional x Fluminense).
– Campeão do Troféu Prefeito Acrisio Moreira da Rocha em 1949 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Secretário da Viação de Obras Públicas da Bahia em 1951 (Bahia x Fluminense).
– Campeão da Taça Madalena Copello em 1951 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Desafio em 1954 (Fluminense x Uberaba Sport Club).
– Campeão da Taça Presidente Afonsio Dorázio em 1956 (Seleção de Araguari-MG x Fluminense).
– Campeão da Taça Vice-Presidente Adolfo Ribeiro Marques em 1957 (Combinado de Barra Mansa x Fluminense).
– Campeão da Taça Cidade do Rio de Janeiro em 1957 (Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça Movelaria Avenida em 1959 (Ceará x Fluminense).
– Campeão da Taça CSA x Fluminense em 1959.
Como jogador, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1965.
Como técnico, pelo Santos:
– Campeão do Campeonato Paulista de 1984.
Como técnico, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1967 e 1969.
Como técnico, pelo Operário:
– Tricampeão do Campeonato Mato-Grossense em 1976, 1977 e 1978.
– 3º lugar na Série A do Campeonato Brasileiro de 1977.
Distinções e premiações individuais:
– Prêmio Belfort Duarte em 1955 (premiação individual que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso de campo, tendo jogado pelo menos 200 partidas).
¹* Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006.
● Quando Ladislav Petráš fez o sinal da cruz, o mundo ficou chocado. Como poderia um comunista repetir esse gesto cristão? Comunistas comem criancinhas! Foi o que pensaram os telespectadores em sua pueril ignorância. Esse fato ocorreu quando ele marcou o primeiro gol de sua seleção na Copa. O Brasil viraria e golearia a Tchecoslováquia por 4 x 1, com Jairzinho passando a imitar Petráš, e desde então, fazendo o sinal da cruz em cada gol seu.
Aos 11 minutos de jogo no estádio Jalisco, Petráš arrancou pela intermediária passando pelo zagueiro Brito e chutou da entrada da área, na diagonal, no canto direito de Félix. Correu junto à bandeirinha de escanteio, fez o sinal da cruz e juntou as mãos, como se fosse uma oração. Era uma comemoração raríssima, quase única, para a época. Apenas dois anos antes, seu país tinha sido lançado em forte regime comunista, com a Primavera de Praga, forçada pela União Soviética, em um comunismo que perseguia as religiões, especialmente a católica. Com o ato, Petráš não apenas expressou sua fém mas também seu descontentamento político com profundo significado. Uma pena que depois milhões de jogadores até medíocres banalizariam o mesmo sinal cristão.
Petráš tinha menos de 24 anos nesse jogo e, se era desconhecido fora de seu país, já era um ídolo na Tchecoslováquia. Dotado de talento com a bola nos pés, era de uma personalidade difícil. Sempre tinha problemas disciplinares e era expulso frequentemente pelos árbitros. Logo após a Copa de 70, quebrou sem dó nem piedade a perda do zagueiro Václav Migas, seu colega de seleção. O regime da “Cortina de Ferro” decidiu que enquanto Migas não se recuperasse de sua fratura exposta, Petráš também não jogaria. Assim, ambos ficaram 14 meses sem jogar.
Laci-Baci (como era chamado em seu país) começou a carreira aos 17 anos no FK Baník Prievidza e aos 21 se transferiu para o FK Dukla Banska Bystrica, sendo artilheiro da liga nacional com 20 gols. No ano seguinte, em 1969, foi para o FK Inter Bratislava, onde ficou até 1980, se tornando um mito para os aurinegros. Dizem que certa vez ele fugiu do hospital para disputar uma partida, retornando ao leito após o jogo. Foi artilheiro do campeonato novamente em 1974/75, também com 20 gols. Nesse mesmo torneio, fez cinco gols no mesmo jogo contra o poderoso AC Sparta Praha (a partida foi 7 x 4 para o Inter). Virou lenda quando em uma partida, Petráš marcou três gols na sequência e, após o terceiro, simplesmente saiu de campo sorrindo, como que dizendo que já tinha feito sua parte no jogo. Pela liga tchecoslovaca, fez 85 gols em 239 partidas. Ainda jogou no WAC Viena, da Áustria, até 1983. Curiosamente nunca ganhou um título nacional em campo, mas foi campeão como auxiliar técnico do campeonato eslovaco pelo seu Inter. Foi técnico da seleção eslovaca sub-21 em 2006.
Pela seleção da Tchecoslováquia, Petráš jogou apenas 19 vezes e marcou 6 gols (entre 1969 e 1977), mas entrou para a história com grandes momentos.
Ladislav Petráš nasceu na cidade de Prievidza, em 01/12/1946 e completa 70 anos hoje.
(Imagem: Alchetron)
● Antonín Panenka nasceu em Praga, em 02/12/1948 (exatamente dois anos e um dia após Petráš, seu então conterrâneo). Começou com apenas dez anos na divisão de base do Bohemians Praha, ficando até 1981, com 318 gols em 678 partidas. A legislação do regime socialista do país só permitia o êxodo de jogadores maiores de 30 anos e entre 1981 e 1985, Panenka foi atuar no austríaco SK Rapid Wien (63 tentos em 127 jogos), sendo bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1981/82 e 1982/83. Foi também tricampeão da Copa da Áustria, entre 1983 e 1985. Chegou na final da Recopa Europeia em 1984/85, mas perdeu para o Everton por 3 x 1. Ainda passaria por outros times da Áustria: VSE St. Pölten (1985-1987), SK Slovan Wien (1987-1989), ASV Hohenau (1989-1991) e Kleinwiesendorf (1991-1993), onde encerrou definitivamente a carreira, aos 45 anos de idade. Depois, voltou a seu país natal e se tornou presidente do Bohemians, cargo que ocupa atualmente.
Meia-armador talentoso, bom passador, com excelente visão de jogo, era especialista na bola parada, tanto em faltas quanto em pênaltis. É considerado o maior jogador da Tchecoslováquia entre Josef Masopust e Pavel Nedvěd. Pela seleção da Tchecoslováquia, marcou 17 vezes em 59 partidas, entre 1973 e 1982. Disputou as Eurocopas de 1976 e 1980 (3º lugar) e a Copa do Mundo de 1982, caindo na primeira fase.
● As carreiras de Petráš e Panenka se encontraram da seleção da Tchecoslováquia, especialmente na Eurocopa de 1976, na Iugoslávia. Petráš era reserva, mas Panenka era o craque do time.
Na prorrogação, os tchecos venceram o Carrossel Holandês por 3 a 1. Após passar pelo vice-campeão da última Copa do Mundo, eles enfrentaram os campeões na final. Após empate por 2 a 2 entre Tchecoslováquia e Alemanha Ocidental, essa foi a primeira final importante a ser decidida nos pênaltis. Todos os jogadores vinham convertendo as cobranças, até que o craque alemão Uli Hoeneß chutasse por cima. Coube a Antonín Panenka decidir o título, mas ele não “apenas” converteu o chute. Mesmo com a pressão de ter no gol adversário o lendário Sepp Maier, o meia tcheco cobrou tranquilamente: enquanto o goleiro caía no canto esquerdo, o camisa 7 chutou de “cavadinha” no centro do gol. Foi a primeira vez que se cobrou um pênalti assim. Até hoje na Europa o estilo é chamado de “Panenka“. Assim, Panenka inventou moda e entrou para a história da Eurocopa e do futebol por um lance simples e genial.
Antonín Panenka e Ladislav Petráš entraram na história, no plantel da Tchecoslováquia campeã da Eurocopa de 1976, único título da história do país (e dos países que viriam a se formar em 1992, Tchéquia e Eslováquia).