… 14/07/1930 – Iugoslávia 2 x 1 Brasil

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… 14/07/1930 – Iugoslávia 2 x 1 Brasil


Seleção Brasileira na estreia da Copa do Mundo de 1930 (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)
Em pé: Píndaro (técnico), Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando;
Agachados: Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo.

● O Brasil não viajou para disputar a primeira Copa do Mundo com o que tinha de melhor. Foi apenas com um “amontoado” de jogadores cariocas. Um pouco por falhas na comunicação entre a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos, órgão máximo dos esportes no estado de São Paulo). Outra parte por intransigência da própria CBD por não aceitar nenhum paulista entre os membros da comissão técnica da Seleção Brasileira.

Ainda assim, foram feitas várias tentativas de acordo, mas sem sucesso. Ninguém queria ceder e a APEA não liberou nenhum de seus jogadores filiados. Na primeira lista oficial, dos 23 atletas, 15 eram de São Paulo e apenas oito do Rio. Mas apenas um paulista viajou com a delegação: o centroavante Araken Patusca, que estava em litígio com seu clube, o Santos, e assinou um “contrato fantasma” com o Flamengo para ser convocado (mesmo sem nunca ter jogado no rubro-negro).

Assim, o escrete nacional partiu enfraquecido, sem contar com craques como Arthur Friedenreich, Feitiço, Filó (que seria campeão mundial pela Itália em 1934 após se naturalizar), Del Debbio e outros. Com isso, o Brasil se apresentou com jogadores de nível mais baixo, para suprir a ausência dos paulistas.

Nem os jornalistas de São Paulo viajaram. Na verdade, pareciam até dois países em guerra: enquanto a imprensa do Rio exaltava o patriotismo brasileiro, os jornais de SP antecipavam o iminente desastre que aguardava a Seleção.

Com um time montado às pressas, a delegação brasileira pegou carona no navio Conte Verde, o mesmo que trazia os europeus para o Uruguai. Como homenagem, o chefe da delegação brasileira foi Afrânio da Costa, o primeiro medalhista olímpico do país. Ele conquistou a medalha de prata no tiro, categoria de pistola livre, nos Jogos Olímpicos de 1920, em Antuérpia, na Bélgica.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.


O Brasil também jogou no 2-3-5, mas com um trio de ataque “torto” pelo lado esquerdo: tanto Nilo, quanto Araken, jogavam na meia esquerda, mesma posição de Preguinho. Por isso, eles foram improvisados como meia direita e centroavante, respectivamente.

● Para cativar a torcida, a Seleção Brasileira entrou em campo carregando flores e uma bandeira do Uruguai. Jogando de branco (como foi até 1953), a estreia do Brasil na primeira Copa do Mundo foi em uma segunda-feira, dia 14 de julho de 1930, no estádio Parque Central, em Montevidéu. Mesmo com um frio “atroz e ininterrupto” de 02º C, estavam presentes 24.059 expectadores, a maioria uruguaios, curiosos para ver como se portariam os rivais sul-americanos e os europeus. A alta arrecadação de 5.900 dólares, era uma amostra de que o futebol brasileiro estava sendo encarado com respeito.

No sorteio inicial, o capitão Preguinho ganhou o cara ou coroa e escolheu jogar contra o vento forte no primeiro tempo. O Brasil pressionou muito nos primeiros dez minutos, exigindo duas boas defesas do goleiro Milovan Jakšić. Mas logo a Iugoslávia equilibrou a partida e abriu o placar em um lance de sorte.

Aos 21 minutos de jogo, Đorđe Vujadinović chutou fraco. O goleiro Joel pulou, mas a bola desviou no zagueiro Itália, sobrando limpa para o ponta direita Aleksandar Tirnanić concluir para o gol vazio.

Nove minutos depois, a bola foi lançada para a área do Brasil. Era um lance aparentemente tranquilo, mas o zagueiro Brilhante rebateu mal e a bola sobrou para o centroavante Ivan Bek, sem marcação, que ampliou o marcador chutando no canto.

Ainda no fim do primeiro tempo, o árbitro uruguaio Aníbal Tejada anulou um gol de Vujadinović por impedimento. Em várias falhas defensivas clamorosas da defesa brasileira, a Iugoslávia marcou duas vezes e perdeu chances de fazer mais.

Já na etapa final, dessa vez com o vento a favor, o Brasil pressionou e chegou várias vezes na área adversária.

O gol de honra veio aos 17 minutos.

Hermógenes avançou e chutou, mas Arsenijević desviou para escanteio. Hermógenes cobrou o tiro de canto e Stefanović tirou de cabeça. Os iugoslavos tentaram puxar o contragolpe, mas Fausto recuperou a bola, passou por Vujadinović e cruzou alto para a área. Preguinho dividiu com o capitão Ivković e marcou o primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo.

Depois, a Seleção dominou amplamente a partida, mas não conseguiu o empate.

No Rio, várias pessoas se juntaram em frente ao jornal “A Noite“. O andamento do jogo era informado por cartazes, mas o telégrafo demorava cerca de duas horas para chegar de Montevidéu. Assim, quando os cariocas receberam a notícia de que o jogo acabara de começar, na verdade ele já tinha sido encerrado. E aos 40 minutos do segundo tempo, a torcida vibrou com o que seria o gol de empate. Estava escrito no cartaz: “Preguinho, 2 x 2”. Mas alguns minutos depois, veio a correção: houve apenas um gol do Prego e a Iugoslávia venceu por 2 a 1.


Teóphilo disputa bola com o zagueiro Ivković e o goleiro Jakšić (Imagem: RedStarBelgrade.info)

● Depois da partida, uma pequena multidão de paulistas se aglomerou em frente aos jornais da cidade para comemorar a derrota “dos cariocas” para a Iugoslávia.

Apesar da derrota, a imprensa uruguaia ficou impressionada com elegância em campo do centromédio brasileiro Fausto dos Santos, que lembrava, que alguns momentos, a elegância de Leandro Andrade (o que acabou lhe rendendo o mesmo apelido: “Maravilha Negra“). Fausto acabou eleito para a seleção do Mundial.

Fausto sempre foi polêmico e nunca teve “papas na língua”. O estilo “trombador” dos iugoslavos era uma novidade, o que levou Fausto a criticar publicamente a linha de ataque brasileira, dizendo: “A maioria tremeu de medo, não de frio. Preguinho foi o único que enfrentou corajosamente a defesa iugoslava. Jogaram como senhoritas”.

Mas a maior falha talvez tenha sido um erro cometido pela comissão técnica. O trio atacante escalado foi Nilo, Araken e Preguinho, mas todos atuavam pela meia esquerda. Assim, com dois jogadores improvisados, o Brasil criava, mas não concluía. Os dois centroavantes (Russinho e Carvalho Leite) ficaram de fora.

Preguinho, apelido de João Coelho Netto, foi o autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo. Ele era filho do escritor Coelho Netto. Falaremos mais sobre esse multi-atleta no próximo dia 20/07.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Preguinho e Milutin Ivković (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

IUGOSLÁVIA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 14/07/1930

Horário: 12h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 24.059

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Aníbal Tejada (Uruguai)

 

IUGOSLÁVIA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Milovan Jakšić (G)

Joel (G)

Milutin Ivković (C)

Brilhante

Dragan Mihajlović

Itália

Milorad Arsenijević

Hermógenes

Ljubiša Stefanović

Fausto dos Santos

Momčilo Đokić

Fernando Giudicelli

Aleksandar Tirnanić

Poly

Blagoje Marjanović

Nilo

Ivan Bek

Araken Patusca

Đorđe Vujadinović

Preguinho (C)

Branislav Sekulić

Teóphilo

 

Técnico: Boško Simonović

Técnico: Píndaro de Carvalho Rodrigues

 

SUPLENTES:

 

 

Milan Stojanović (G)

Velloso (G)

Dušan Marković

Zé Luiz

Dragomir Tošić

Oscarino

Teofilo Spasojević

Ivan Mariz

Branislav Hrnjiček

Fortes

Dragutin Najdanović

Pamplona

 

Benevenuto

 

Manoelzinho

 

Doca

 

Benedicto

 

Russinho

 

Carvalho Leite

 

Moderato Wisintainer

 

GOLS:

21′ Aleksandar Tirnanić (IUG)

30′ Ivan Bek (IUG)

62′ Preguinho (BRA)

Parte da reportagem do Esporte Espetacular sobre o gol de Preguinho:

Imagens diversas sobre a partida:

… 13/07/1930 – França 4 x 1 México

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Jules Rimet, desembarcando do transatlântico italiano Conte Verde (Imagem localizada no Google)

● No congresso da FIFA em Amsterdã, em 26 de maio de 1928, o então presidente da entidade, o advogado francês Jules Rimet, propôs uma competição de futebol internacional sem restrições, que seria realizada de quatro em quatro anos, nos anos pares entre os Jogos Olímpicos. Três anos antes dessa decisão, o embaixador uruguaio na Holanda já havia manifestado o interesse em sediar a primeira Copa do Mundo. Em 1930, o Uruguai estaria comemorando o centenário de sua independência. Além do mais, era o então bicampeão olímpico, conquistando a medalha de ouro em 1924 e 1928.

Em maio de 1929, faltando menos de um ano para o torneio, o Uruguai foi escolhido por aclamação para sediar o evento. De início, pela falta de concorrentes. Mas especialmente pela proposta financeira: além de construir um grande estádio, eles se dispunham a pagar todas as despesas de viagem e alimentação dos participantes, além de dar uma ajuda de custo de 75 dólares por pessoa, mais meio dólar por dia para pequenas despesas.

Apenas treze países aceitaram o convite para participar do primeiro Mundial. A maioria eram sul-americanos. Mas com a ajuda de Jules Rimet, quatro seleções europeias foram convencidas a fazer a difícil viagem transatlântica: França, Iugoslávia, Bélgica e Romênia. Assim, em 21/06/1930, todos embarcaram para a América do Sul no navio italiano Conte Verde. A preparação física era feita pelos atletas no convés. O jogador francês Edmond Delfour recordou certa vez:

“Foi uma viagem difícil, porque nessa época o único jeito de chegar a Montevidéu era de navio. Todo mundo tinha que conviver no navio. Calmon, o chefe da delegação no navio me disse ‘Momo, você tem que manter os jogadores em forma no navio’. Então, além de jogador, eu também era preparador físico. Foi uma viagem maravilhosa. Jogávamos futebol no convés, utilizando os mastros como trave. Um dos jogadores, Étienne Mattler, era o que mais se divertia. Um dia ele exagerou e acabou caindo na piscina do convés.”


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● O México chegou ao Uruguai pessimista. Parte da imprensa havia até feito uma campanha para que o país nem participasse da Copa, para evitar um vexame semelhante ao dos Jogos Olímpicos de 1928, quando a Seleção foi goleada pela Holanda por 7 x 1 e pelo Chile por 3 x 1. Sentindo o clima geral de apreensão, na véspera da estreia o técnico Juan Luque de Serrallonga fez um emocionante discurso misturando as graças da Virgem de Guadalupe como o espírito de bravura do povo mexicano, para dizer que não havia por que temer onze franceses de chuteiras. Animados, os mexicanos partiram com tudo para cima, mas não alcançaram o milagre.

Eram jogados 19 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Aléxis Thépot jogou a bola para o meio campo. Após troca de passes, o ponta esquerda Marcel Langiller cruza para a marca do pênalti. O zagueiro Manuel Rosas fura a jogada e a bola sobra para Lucien Laurent que domina na direita da grande área. A 16 metros do gol, ele chuta forte e à meia altura, no canto direito em diagonal, sem chances para o goleiro Oscar Bonfiglio. Estava aberto o placar das Copas do Mundo.

Eram exatamente 15h19 do dia 13/07/1930, no acanhado Estádio Pocitos (antiga casa do Peñarol), em Montevidéu, onde 4.444 expectadores assistiram o feito. No fim, a França venceu o México por 4 x 1. Com esse seu gol inaugural das Copas, Laurent ficou conhecido como “Le 1er” (“o primeiro”). Essa foi a terceira partida de Laurent pela seleção de seu país, anotando o primeiro gol. Ele era funcionário de uma fábrica de automóveis francesa, a Peugeot, como outros três jogadores de sua seleção no primeiro Mundial: seu irmão Jean Laurent, André Maschinot e Étienne Mattler.

Nem mesmo o próprio Laurent compreendia a importância de seu gol. Em uma época em que o futebol era completamente amador em todo o mundo (raras exceções), foi cumprimentado pelos companheiros timidamente e voltaram a a jogar normalmente.

“O jogo começou normal, com os dois times disputando a bola. Aconteceu comigo, como podia ter acontecido com um jogador do México. Mas uma honra para mim por ter sido eu. Ficamos muito felizes, mas naquela época, não trocávamos beijinhos.” – Lucien Laurent.

Curiosamente, aos 26 minutos do primeiro tempo, quando estava 1 a 0 para a França, o goleiro francês Alexis Thépot se chocou com o mexicano Nicho Mejía e teve de ser retirado de campo machucado. Como não eram permitidas substituições na época, o médio Augustin Chantrel assumiu a posição, tomando apenas um gol durante a partida, anotado por Juan Carreño, aos 25 minutos do segundo tempo.

Os demais gols franceses da vitória por 4 x 1 foram marcados por Marcel Langiller (40′) e André Maschinot (43′ e 87′).


Seleção francesa na Copa do Mundo de 1930 (Imagem localizada no Google)


Seleção mexicana na Copa do Mundo de 1930 (Imagem localizada no Google)

● Os primeiros jogos da Copa do Mundo de 1930 ocorreram antes mesmo da abertura do campeonato. França x México e Estados Unidos x Bélgica se enfrentavam ao mesmo tempo no dia 13, enquanto a abertura estava marcada para o dia 15, por atrasos na conclusão da obra do Estádio Centenário. Embora a FIFA (e todo o mundo, inclusive nós) considere seu gol como o pioneiro em Copas, documentos indicam o lance com o terceiro. Quando Laurent abriu o placar contra o México, os Estados Unidos já venciam a Bélgica por 2 a 0 no exato momento. Mas oficialmente, os EUA fizeram o primeiro gol aos 22 minutos de jogo. Essa confusão fez com que o feito de Laurent fosse ignorado pela FIFA por quarenta anos, mas sua importância voltou à tona em 1970. A entidade reconheceu corretamente o gol como o primeiro da história das Copas, destronando o americano Bert McGhee (que abriu o placar na vitória por 3 x 0 contra os belgas em partida no Estádio Parque Central).

O México terminou com a pior campanha da Copa, perdendo todas as três partidas: 4 a 1 para a França, 3 a 0 para o Chile e 6 a 3 para a Argentina.

A França teria um jogo de vida ou morte contra a Argentina, que vamos falar no próximo dia 15/07.

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 4 x 1 MÉXICO

 

Data: 13/07/1930

Horário: 15h00 locais

Estádio: Pocitos

Público: 4.444

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Domingo Lombardi (Uruguai)

 

FRANÇA (2-3-5):

MÉXICO (2-3-5):

Alexis Thépot (G)

Óscar Bonfiglio (G)

Marcel Capelle

Rafael Garza Gutiérrez (C)

Étienne Mattler

Manuel Rosas

Alexandre Villaplane (C)

Felipe Rosas

Marcel Pinel

Alfredo Sánchez

Augustin Chantrel

Efraín Amézcua

Ernest Libérati

Hilario López

Edmond Delfour

José Ruiz

André Maschinot

Dionisio “Nicho” Mejía

Lucien Laurent

Juan Carreño

Marcel Langiller

Luis Pérez

 

Técnico: Raoul Caudron

Técnico: Juan Luque de Serrallonga

 

SUPLENTES:

 

 

André Tassin (G)

Isidoro Sota (G)

Numa Andoire

Francisco Garza Gutiérrez

Célestin Delmer

Raymundo Rodríguez

Jean Laurent

Felipe Olivares

Émile Veinante

Jesús Castro

 

Roberto Gayón

 

GOLS:

19′ Lucien Laurent (FRA)

40′ Marcel Langiller (FRA)

43′ André Maschinot (FRA)

70′ Juan Carreño (MEX)

87′ André Maschinot (FRA)

… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

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Allez Le Bleus!”


Zinedine Zidane desfilou em campo. (Imagem: Globo Esporte)

● Era a final dos sonhos: França e Brasil. Considerados favoritos desde o início, era a primeira decisão entre o país sede e o então campeão mundial. Era a primeira decisão dos franceses e a quinta dos brasileiros. Até então, a melhor classificação da França em uma Copa do Mundo tinha sido o 3º lugar em 1958 e 1986 (eles não disputavam um Mundial desde então). Mesmo anfitriã, “Les Bleus” não eram favoritos diante do Brasil, que defendia o título e tinha uma camisa pesada, com quatro títulos mundiais.

A França mostrava a sinergia de um grupo heterogêneo ao cantar emocionadamente o hino nacional, a linda “Marselhesa“, repetida por 80 mil pessoas no Stade de France, em Saint-Denis. Ainda houve tempo para o zagueiro Laurent Blanc dar o tradicional beijo na careca de Barthez, como tinha feito antes de cada jogo. Blanc estava suspenso. Em seu lugar, entrou o (também) ótimo Frank Leboeuf.

Na escalação, uma surpresa: Edmundo jogaria na vaga de Ronaldo. Mas na entrada em campo, o “Fenômeno” estava lá no lugar do “Animal”. Haviam rumores de que Ronaldo tinha sofrido um mal-estar à tarde (leia sobre isso mais abaixo). Cafu, suspenso na semifinal contra a Holanda, estava de volta ao time.

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Mesmo com as críticas da torcida e da imprensa, o técnico francês Aimé Jacquet demonstrava total confiança em seu próprio trabalho e deu um “nó tático” no ultrapassado Zagallo. Um ano antes do Mundial aconteceu o Torneio da França, uma competição amistosa que reunia brasileiros, franceses, italianos e ingleses. Aquele mesmo torneio em que Roberto Carlos fez um gol de falta contra a França, em que a bola fez uma curva incrível, em um empate por 1 a 1. Naqueles dias, o esperto treinador francês tomou nota de tudo que viu em campo. Mas, principalmente uma sobre a Seleção Brasileira: era preciso impedir os avanços pelas laterais; se os laterais não jogassem, o time também não jogava. Assim, a estratégia estava bem definida: Karembeu foi escalado para marcar Rivaldo, mas fechava para ajudar Thuram a cercar Roberto Carlos. Da mesma forma era do outro lado: Petit marcava Leonardo, mas auxiliava Lizarazu a barrar Cafu. Foi uma marcação que não deu a mínima chance ao ataque brasileiro.


A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços do Brasil e apostando no contra-ataque.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.

● Logo aos 28 segundos, o péssimo atacante francês Stéphane Guivarc’h quase fez um gol de puxeta, na primeira das inúmeras falhas do zagueiro Júnior Baiano nessa final.

A primeira jogada do ataque canarinho foi aos 21 minutos, quando Ronaldo (mesmo com todos os problemas) cruzou fechado para o gol. O excêntrico e careca goleiro Barthez quase falhou, mas desviou para fora.

Aos 23′, Leonardo cobrou escanteio para a cabeçada de Rivaldo, mas Barthez foi seguro na defesa.

Quando o Brasil errava menos passes e parecia se encontrar no jogo, Roberto Carlos desarma Karembeu, mas deixa a bola escapar e concede um escanteio bobo no lado direito do ataque francês. Petit cobrou de pé trocado, de esquerda, e Zidane veio correndo da entrada da área para desviar de cabeça para o gol, se antecipando a Leonardo e marcando seu primeiro gol na Copa. O técnico Jacquet sabia que não teria marcação sobre Zidane, já que ele (apesar de alto) não era conhecido como um bom cabeceador (e normalmente, ele era o responsável por várias das bolas paradas). Assim, aos 26 minutos, a dona da casa abria o placar. Foi o primeiro gol de cabeça de Zizou pela seleção (e logo viria o segundo…).

Poucos minutos após o gol francês, um lance ilustrou o frágil estado emocional do time brasileiro. Ronaldo recebeu lançamento de Dunga na entrada da área adversária e se chocou com Barthez, caindo imóvel no chão. Os jogadores do Brasil se desesperaram, pensando que algo mais grave poderia ter acontecido. Mas, felizmente, foi um choque normal. Mas esse fato só deixou ainda mais clara a preocupação que todos os jogadores tinham com Ronaldo, com medo de que ele repetisse a crise.

Uma incessante troca de passes, que até fez a torcida gritar “olé“, terminou no pé direito de Petit, que perdeu a chance de ampliar o marcador.

No fim do tempo regulamentar, Guivarc’h recebeu lançamento livre, após nova falha de Júnior Baiano, e chutou cruzado para uma excelente defesa de Taffarel. Na sequência, novo escanteio. Dessa vez era do lado esquerdo e foi cobrado também de pé trocado por Djorkaeff. A bola foi fechada, Dunga caiu e Zidane se antecipou e entrou de cabeça. A bola passou entre as pernas de Roberto Carlos. Dois gols de Zidane de cabeça! Inédito!

O Brasil voltou melhor para o segundo tempo. Zagallo atirou o Brasil no ataque. No intervalo, tirou Leonardo e colocou Denílson aberto na ponta esquerda e abriu Bebeto na direita. Avançou Rivaldo para ajudar Ronaldo no centro do ataque. Em determinado momento, o Brasil teve, ao mesmo tempo, cinco atacantes em campo: Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Denílson e Edmundo. Mas não conseguiu produzir como precisava.

A primeira grande chance foi de Ronaldo, aos 11 minutos. Rivaldo cobrou falta ensaiada com Roberto Carlos, que cruzou para o segundo pau. O camisa 9 apareceu livre, na pequena área, mas chutou sem ângulo em cima de Barthez.

Aos 15′, Roberto Carlos alçou uma cobrança de arremesso lateral para a área. Barthez saiu “catando borboletas” e a bola sobrou para Bebeto finalizar e Desailly salvar quase em cima da linha.

A França passou todo o segundo tempo tocando a bola e esperando o fim do jogo, ajudado pela apatia do time brasileiro. Mas ainda teve suas chances.

Foi uma aula de futebol do maestro Zinedine Zidane, muito mais do que os dois gols de cabeça. No meio campo, ele era marcado à distância por Dunga e César Sampaio, jogando livre e tomando conta do jogo. No lado esquerdo, Djorkaeff caía pelo meio para ajudar a armar as jogadas ofensivas. Os laterais Thuram e Lizarazu não apoiavam, cumprindo estritamente seus papeis defensivos.

Na metade do segundo tempo, Desailly avançou em contra-ataque, perdeu a bola e fez falta dura em Cafu, recebendo o segundo cartão amarelo e, por consequência, sendo expulso.

Aos 18′, pela terceira vez no jogo, Guivarc’h apareceu livre e isolou a bola. Aos 37, Dugarry imitou o colega e “conseguiu” perder um gol feito, chutando de forma bisonha à direita de Taffarel. Poderia ter sido uma goleada histórica, se os atacantes franceses tivessem acertado alguma das muitas chances perdidas.

No minuto 45, Edmundo fez uma boa jogada e tocou para Denílson. De esquerda, o chute tocou no travessão e foi para fora.

No fim, uma discussão sem necessidade entre Edmundo e Rivaldo, quando o camisa 10 colocou uma bola para fora para que Zidane recebesse atendimento médico. Edmundo, com seu excesso de vontade, foi contra o “fair play” do camisa 10.

A Seleção Canarinho foi definitivamente destroçada aos 47 minutos do segundo tempo. Denílson cobrou escanteio, Rivaldo não dominou a bola e Dugarry puxou o contra-ataque. Ele tocou para Vieira, que lançou de primeira para Petit nas costas de Cafu. O cabeludo, camisa nº 17, tocou cruzado na saída de Taffarel. 3 a 0.

Festa em todo o país! Enfim, a França conquistava sua primeira Copa do Mundo. O presidente Jacques Chirac entregou a taça ao capitão Didier Deschamps, que, merecidamente, a levantou. Justíssimo!


Zizou abriu o placar de cabeça. (Imagem: Baú do Futebol)

● Não faltaram motivos para o Brasil perder a final da Copa de 1998 para a França por 3 a 0. Mas até hoje há diversas pessoas que acreditam piamente em teorias da conspiração. Uma delas diz que o Brasil “vendeu” o jogo em troca de ser a sede da Copa do Mundo de 2014. Outra diz que houve um acordo entre Nike (fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira) e a Adidas (fornecedora dos franceses), para que o título de 1998 ficasse na França e o de 2002 viesse para o Brasil (mas será que acertaram também com todas as seleções que jogaram em 2002?) Outra versão diz que Ronaldo foi envenenado por um cozinheiro francês na concentração. A mais pura verdade é que a França se preparou e fez um Copa do Mundo melhor do que o Brasil. Os franceses anularam Ronaldo e Rivaldo, as principais peças do Brasil até a final, e explorou os contra-ataques e as deficiências da defesa brasileira.

A França era o primeiro país sede a conquistar o título desde a Argentina em 1978. Foi o primeiro país campeão a terminar uma Copa com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (dois gols). Já o Brasil sofreu seu maior revés em Copas (0 x 3 contra a França) e terminou com a defesa mais vazada da competição (dez gols).


O mundo parou quando Ronaldo se chocou com Barthez. Felizmente, nada mais grave. (Imagem localizada no Google)

● Primeiro, falou-se em uma lesão no tornozelo. Depois, descobriu-se que o atacante havia sofrido um mal súbito na concentração durante a tarde. Existem várias versões: uma diz que foi um colapso nervoso, outra que foi o excesso de infiltrações de xilocaína no joelho (oito injeções em 32 dias) e até uma que diz que foi um ataque cardíaco.

Segue abaixo a reprodução do “Guia dos Curiosos das Copas do Mundo“, de Marcelo Duarte:

“No dia da decisão da Copa, por volta das 14 horas, Roberto Carlos levou o maior susto ao ver seu companheiro de quarto, Ronaldo, salivando, revirando os olhos, respirando com dificuldade. “Para com isso, Ronaldo, acorda!”, disse Roberto Carlos. Vendo que a coisa era séria, o jogador saiu do quarto correndo, pedindo ajuda. César Sampaio e Leonardo prestaram os primeiros socorros, enquanto Bebeto e Edmundo foram chamar o médico Lídio Toledo. Edmundo chegou a gritar pelos corredores que “Ronaldinho estava morrendo”. Quando o médico chegou, Ronaldo pediu para continuar a dormir. Ao acordar para o lanche, ele não se lembrava da crise convulsiva. Foi levado a uma clínica para fazer exames neurológicos completos, que nada acusaram. A convulsão, segundo uma das versões, teria sido causada por uma injeção de xilocaína aplicada no joelho do jogador. Mesmo assim, Edmundo foi escalado como titular. Ronaldo chegou ao estádio às 20h10, trocou-se rapidamente e pediu para ser escalado – o jogo começaria às 21 horas, no horário local. A comissão técnica fez uma reunião numa sala ao lado do vestiário:
– Estou bem, professor, ninguém me tira desse jogo – disse Ronaldo.
– Como é, Lídio? – perguntou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que desceu apressado das tribunas ao receber a escalação da equipe sem Ronaldo.
– Não vou assumir sozinho. É muita responsabilidade – respondeu Lídio.
– Está bem? Não sente nada? Então, pronto, está decidido: você vai jogar – disparou o técnico Zagallo.
– Então, bota o garoto – ordenou Ricardo Teixeira.”

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 X 0 BRASIL

 

Data: 12/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

 

FRANÇA (4-5-1):

BRASIL (4-3-1-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  Taffarel (G)

15 Lilian Thuram

2  Cafu

18 Frank Leboeuf

4  Júnior Baiano

8  Marcel Desailly

3  Aldair

3  Bixente Lizarazu

6  Roberto Carlos

7  Didier Deschamps (C)

5  César Sampaio

19 Christian Karembeu

8  Dunga (C)

17 Emmanuel Petit

18 Leonardo

10 Zinedine Zidane

10 Rivaldo

6  Youri Djorkaeff

20 Bebeto

9  Stéphane Guivarc’h

9  Ronaldo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Carlos Germano (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Dida (G)

5  Laurent Blanc

13 Zé Carlos

2  Vincent Candela

14 Gonçalves

14 Alain Boghossian

15 André Cruz

4  Patrick Vieira

16 Zé Roberto

11 Robert Pirès

17 Doriva

13 Bernard Diomède

11 Emerson

21 Christophe Dugarry

7  Giovanni

12 Thierry Henry

19 Denílson

20 David Trezeguet

21 Edmundo

 

GOLS:

27′ Zinedine Zidane (FRA)

45+1′ Zinedine Zidane (FRA)

90+3′ Emmanuel Petit (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Júnior Baiano (BRA)

39′ Didier Deschamps (FRA)

48′ Marcel Desailly (FRA)

56′ Christian Karembeu (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 68′ Marcel Desailly (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Leonardo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

57′ Christian Karembeu (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

66′ Stéphane Guivarc’h (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

73′ César Sampaio (BRA) ↓

Edmundo (BRA) ↑

 

74′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Patrick Vieira (FRA) ↑

VEJA OUTROS JOGOS DA COPA DE 1998:
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha
… 11/07/1998 – Croácia 2 x 1 Holanda
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


França campeã do mundo em 1998. (Imagem: AFP / Getty Images)

Gols da decisão:

Jogo completo:

… 11/07/2010 – Espanha 1 x 0 Holanda

Três pontos sobre…
… 11/07/2010 – Espanha 1 x 0 Holanda


A consagração de uma geração: Espanha, campeã da Copa do Mundo de 2010. (Imagem: Eduardo Nicolau / AE)

● Ninguém tinha mais dúvidas: Espanha e Holanda eram as duas melhores seleções do mundo e chegaram justamente à final. Era a primeira vez na história que os dois times se enfrentavam em um torneio internacional.

O belíssimo estádio Soccer City, em Johanesburgo, estava repleto, com 84.490 expectadores esperando ansiosamente para conhecer um campeão inédito, o oitavo da lista dos campeões mundiais. Era a primeira decisão com duas seleções sem título desde “Argentina x Holanda” em 1978.

Desde 2008, os holandeses ostentavam 25 jogos de invencibilidade, com seis empates e 19 vitórias, sendo seis delas na Copa: 2 a 0 na Dinamarca, 1 a 0 no Japão, 2 a 1 sobre Camarões, 2 a 1 na Eslováquia, 2 a 1 no Brasil e 3 a 2 no Uruguai. Se a Holanda vencesse essa final, superaria o Brasil de 1970, que venceu todos seus jogos nas eliminatórias e na Copa do Mundo (12 partidas). Já havia vencido 14 (oito nas eliminatórias). Faltava essa decisão. Mas essa Holanda fugia de sua escola tradicional: comumente ofensiva, a equipe treinada por Bert van Marwijk era tática e pragmática.

Mas a rival, Espanha, também tinha um excelente retrospecto: em 32 partidas, 30 vitórias e apenas duas derrotas (a semifinal da Copa das Confederações diante dos Estados Unidos e a estreia na própria Copa de 2010, com derrota por 1 a 0 para a Suíça). Depois do revés na primeira partida, se recuperou vencendo Honduras (2 x 0) e Chile (2 x 1). Nas fases de mata-mata, foram vitórias por 1 a 0 sobre Portugal (nas oitavas de final), Paraguai (nas quartas) e Alemanha (nas semi). Os espanhóis vinham de um título incontestável na Eurocopa de 2008 e de uma mudança drástica em sua característica de jogo.

Até 2010, o histórico espanhol em Copas do Mundo era medíocre. Em doze participações, sua melhor campanha havia sido o quarto lugar no Brasil em 1950, um campeonato cheio de desfalques, realizado enquanto a Europa ainda se reconstruía da Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, no quadrangular final, foi humilhada pelo Brasil por 6 a 1 em pleno Maracanã. Ou seja, mesmo quando foi bem, passou vergonha. Nas demais campanhas, a “Fúria” teve duas marcas comuns: o fracasso no momento decisivo e um estilo de muita força física e pouca técnica.

Até que, orientada pelo técnico Luis Aragonés (campeão da Euro 2008) e depois por Vicente Del Bosque (campeão da Copa de 2010 e da Euro 2012), a Espanha deixou de ser a “Fúria” e passou a ser a “Roja“. A mudança não foi só de apelido. Com uma rara obsessão pela posse de bola, troca de passes constante, consistência defensiva, redução de espaços e ruptura com o modelo consagrado no país, a equipe liderada por Xavi e Iniesta era capaz de tocar a bola por horas a fio até seu adversário se enfraquecer mentalmente e deixar algum espaço livre para Espanha fazer um gol. A melhor defesa era ter a bola em seus pés. Funcionou por seis anos ininterruptamente.


A Espanha jogava em um sistema bastante móvel: era escalada no 4-2-3-1, mas atacava no 4-3-3 e se defendia no 4-5-1.


A Holanda não honrou a tradição do 4-3-3. O pragmático técnico Bert van Marwijk preferia o sistema 4-2-3-1, com muita força física no meio campo e o talento de seus quatro homens mais avançados.

● A Espanha manteve a escalação que funcionou diante da Alemanha nas semifinais, com o ponta Pedro no lugar do atacante Fernando Torres. Com isso, David Villa ficou cercado pela marcação holandesa, mas a Espanha ganhou em posse de bola. A Holanda tinha os retornos do lateral direito Gregory van der Wiel e do volante Nigel de Jong, que voltavam de suspensão.

Os holandeses jogavam fechados. Quando os desarmes não saíam, inevitavelmente faziam a falta. Era aquela frase triste e clássica: “cada enxadada, uma minhoca”. “Não perdiam a viagem”, especialmente os volantes De Jong e Mark van Bommel (genro do treinador Van Marwijk desde 2001).

Em um jogo truncado e amarrado, a Espanha teve maior domínio territorial, com 57% de posse de bola ao todo. Teve três chances no início, duas com Sergio Ramos e uma com David Villa, mas não conseguiram abrir o placar.

Do outro lado, o velocíssimo Arjen Robben era quem levava perigo e criava as melhores chances da “Laranja“.

A cada minuto que se passava, a decisão foi ficando cada vez mais ríspida, com a conivência do árbitro inglês Howard Webb. Dentre outros, a principal “amarelada” do juiz foi relevar um golpe de “kung fu” do violento De Jong no peito de Xabi Alonso, aplicando apenas o cartão amarelo ao agressor. O correto seria vermelho e boletim de ocorrência.

Aos 16 minutos do segundo tempo, Sneijder lançou, Piqué falhou ao tentar cortar e Robben ficou livre, frente a frente com Casillas. O craque holandês finalizou mal e o capitão espanhol fez a defesa com o pé.

Oito minutos depois, Pedro chutou cruzado e a bola sobrou na pequena área para Villa, que chutou em cima de Stekelenburg.

No minuto 31, Sergio Ramos não aproveitou cobrança de escanteio e cabeceou para fora.

Aos 38 minutos, o mesmo Robben passou na corrida pelo lento zagueiro Puyol e teve nova oportunidade cara a cara com Casillas, mas o goleiro saiu aos seus pés e salvou de novo.

Com o empate sem gols entre dois timaços que insistiam em não perder, veio a prorrogação.

Aos dois minutos, Xavi foi calçado dentro da área por Heitinga, mas o árbitro não viu o pênalti. Depois disso, os espanhóis tiveram três chances claras de marcar.

Extenuada pela boa marcação frente ao incessante toque de bola espanhol, a Holanda começava a afrouxar e abrir espaços. Foram três chances perdidas pela “Roja“: uma com Villa, outra com Fàbregas e a terceira com Navas.

A situação dos neerlandeses piorou quando Heitinga puxou Iniesta na meia-lua e foi expulso pelo segundo cartão amarelo, aos quatro minutos da segunda etapa. Foi a partida mais violenta da Copa e a final com mais cartões na história: 14, sendo 9 apenas para a Holanda (além do vermelho).

Quando os holandeses já se davam como satisfeitos pelo empate e a chance de decidir nos pênaltis, a Espanha foi premiada pela insistência.

Aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação, Cesc Fàbregas iniciou um contra-ataque, ainda em seu campo de defesa. O camisa 10 tocou para Jesús Navas, que passou para Fernando Torres alçar para a área. Van der Vaart cortou, mas a bola caiu de novo com Fàbregas, que já estava posicionado na meia-lua. Com sua singular visão de jogo, ele encontrou Andrés Iniesta na direita, nas costas da defesa e de frente para o goleiro. O herói espanhol dominou e finalizou forte, indefensável, no canto direito do goleiro Stekelenburg. Os holandeses ainda reclamaram impedimento, mas o gol foi legal.

O maior mérito da Espanha foi não abandonar, em momento algum, a constante troca de passes, até acionar alguém que aparecesse na cara do gol. Deu certo.

Até que enfim uma geração espanhola estava marcada na história do futebol mundial e igualava os feitos da Alemanha de Franz Beckenbauer e da França de Zinedine Zidane como uma das únicas a vencer uma Copa do Mundo e uma Eurocopa de maneira consecutiva.


Iniesta ajeita a passada para chutar e fazer história. (Imagem: Luca Bruno / AP)


Depois, comemora e presta sua homenagem ao amigo Dani Jarque, zagueiro do Espanyol que havia falecido um ano antes. (Imagem: Martin Meissner / AP)

● Em sua décima terceira participação em Copas do Mundo, finalmente a Espanha conseguiu chegar em uma final e se sagrar campeã. Foi a primeira seleção campeã mundial com uma derrota em sua estreia na Copa. A “Roja” teve o pior ataque da história de um campeão: apenas oito gols marcados (média de 1,14 gols por jogo). No mata-mata, venceu os quatro jogos por 1 a 0. O menor número de gols assinalados por um vencedor de Copa, até então, havia sido o de 11 gols nas edições de 1938, 1966 e 1994. Por outro lado, com apenas dois gols sofridos, a “Roja” foi a equipe campeã que menos levou gols, ao lado da França de 1998 e da Itália de 2006.

No Mundial, a Espanha teve números estatísticos impressionantes, com médias de 62% de posse de bola, 502 passes trocados e acerto de 90% nesse fundamento. Teve, por partida, 17,29 finalizações a favor e seis contra o seu gol.

O goleiro e capitão espanhol Iker Casillas saiu bastante criticado após a derrota para a Suíça na estreia. Segundo a imprensa espanhola, pouco antes do gol sofrido, ele teria sido distraído pela namorada, a linda jornalista Sara Carbonero, que trabalhava para a rede de TV MediaSet e estava posicionada atrás de seu gol. Mas, como o goleiro foi um dos grandes heróis da conquista do título, foi entrevistado ao vivo pela própria namorada na zona mista. Para o mundo inteiro ver, ele interrompeu as perguntas e a beijou. Como o amor é lindo! Atualmente eles estão casados e são pais do pequeno Martín, de três anos e meio.

Já a Holanda viu seu sonho ruir na decisão pela terceira vez. Já havia perdido para a Alemanha Ocidental em 1974 e para a Argentina em 1978. Assim, sendo tri-vice, a “Laranja” deixa para trás os dois bi-vices: Hungria (1938 e 1954) e Tchecoslováquia (1934 e 1962).

Curiosamente, “Espanha x Holanda” foi a segunda final europeia seguida em Copas do Mundo, pois “Itália x França” haviam decidido em 2006. Isso só havia ocorrido antes uma única vez, nos Mundiais de 1934 e 1938. Também foi a primeira vez que a final não contou com nenhuma das quatro seleções mais tradicionais em Copas: Brasil, Itália, Alemanha e Argentina.

Nessa final, havia também uma batalha particular entre o batavo Wesley Sneijder e o ibérico David Villa. Com cinco gols cada, eles disputavam o posto de artilheiro e de melhor jogador da Copa entre si e contra o alemão Thomas Müller e o uruguaio Diego Forlán. Como nenhum deles marcou na decisão, todos empataram na artilharia e Forlán foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 2010.

Mas a grande injustiça do ano foi o fato de Sneijder não ter conquistado o prêmio “Bola de Ouro da FIFA” no fim do ano de 2010. Naquela temporada, Sneijder liderou seu clube, a Internazionale de Milão, na conquista da tríplice coroa: UEFA Champions League, Campeonato Italiano e Coppa Italia, além do Campeonato Mundial Interclubes no fim do ano. Pela seleção, foi vice-campeão da Copa do Mundo e um dos artilheiros. Nada seria mais justo que ele ser laureado com a premiação individual. Mas, devido às características midiáticas dessa eleição da FIFA, Lionel Messi ganhou o prêmio (mesmo vencendo “apenas” a liga espanhola e fazendo uma Copa sem destaque).


Espanhóis comemoram o gol do título. (Imagem: Cameron Spencer / Getty Images Europe)

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 1 x 0 HOLANDA

 

Data: 11/07/2010

Horário: 20h30 locais

Estádio: Soccer City (atual First National Bank Stadium)

Público: 84.490

Cidade: Johanesburgo (África do Sul)

Árbitro: Howard Webb (Inglaterra)

 

ESPANHA (4-2-3-1):

HOLANDA (4-2-3-1):

1  Iker Casillas (G)(C)

1  Maarten Stekelenburg (G)

15 Sergio Ramos

2  Gregory van der Wiel

3  Gerard Piqué

3  John Heitinga

5  Carles Puyol

4  Joris Mathijsen

11 Joan Capdevila

5  Giovanni van Bronckhorst (C)

16 Sergio Busquets

6  Mark van Bommel

14 Xabi Alonso

8  Nigel de Jong

8  Xavi

11 Arjen Robben

6  Andrés Iniesta

10 Wesley Sneijder

18 Pedro

7  Dirk Kuyt

7  David Villa

9  Robin van Persie

 

Técnico: Vicente del Bosque

Técnico: Bert van Marwijk

 

SUPLENTES:

 

 

12 Víctor Valdés (G)

16 Michel Vorm (G)

23 Pepe Reina (G)

22 Sander Boschker (G)

2  Raúl Albiol

12 Khalid Boulahrouz

4  Carlos Marchena

13 André Ooijer

17 Álvaro Arbeloa

15 Edson Braafheid

20 Javi Martínez

14 Demy de Zeeuw

10 Cesc Fàbregas

18 Stijn Schaars

13 Juan Mata

23 Rafael van der Vaart

21 David Silva

20 Ibrahim Afellay

22 Jesús Navas

17 Eljero Elia

19 Fernando Llorente

19 Ryan Babel

9  Fernando Torres

21 Klaas-Jan Huntelaar

 

GOL: 116′ Andrés Iniesta (ESP)

 

CARTÕES AMARELOS:

15′ Robin van Persie (HOL)

16′ Carles Puyol (ESP)

22′ Mark van Bommel (HOL)

23′ Sergio Ramos (ESP)

28′ Nigel de Jong (HOL)

54′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

57′ John Heitinga (HOL)

67′ Joan Capdevila (ESP)

84′ Arjen Robben (HOL)

111′ Gregory van der Wiel (HOL)

117′ Joris Mathijsen (HOL)

118′ Andrés Iniesta (ESP)

120+1′ Xavi (ESP)

 

CARTÃO VERMELHO: 109′ John Heitinga (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ Pedro (ESP) ↓

Jesús Navas (ESP) ↑

 

71′ Dirk Kuyt (HOL) ↓

Eljero Elia (HOL) ↑

 

87′ Xabi Alonso (ESP) ↓

Cesc Fàbregas (ESP) ↑

 

99′ Nigel de Jong (HOL) ↓

Rafael van der Vaart (HOL) ↑

 

INTERVALO DA PRORROGAÇÃO Giovanni van Bronckhorst (HOL) ↓

Edson Braafheid (HOL) ↑

 

INTERVALO DA PRORROGAÇÃO David Villa (ESP) ↓

Fernando Torres (ESP) ↑


Arjen Robben teve a vitória nos pés por duas vezes, mas um heroico Casillas evitou os dois gols. (Imagem: Kai Pfaffenbach / Reuters)

Melhores momentos da partida (narração de Milton Leite):

Gol de Iniesta (narração de Galvão Bueno):

Ótimo clipe da música oficial da Copa do Mundo de 2010, “Waka Waka (This Time for Africa)“, da linda colombiana Shakira:

… 10/07/1994 – Suécia 2 x 2 Romênia

Três pontos sobre…
… 10/07/1994 – Suécia 2 x 2 Romênia


O goleiro Prunea sobe mal e Kennet Anderson cabeceia para empatar o jogo na prorrogação, levando a partida para os pênaltis. (Imagem:  Pinterest)

● O confronto nas quartas de final da Copa do Mundo de 1994 entre Suécia e Romênia era de garantia que haveria pelo menos uma grande surpresa nas semifinais. Apesar de ambas seleções contarem com bons jogadores, consolidados nos grandes centros europeus, elas não eram favoritas a irem tão longe no Mundial. Mas os suecos tinham o ataque mais positivo da competição até então e os romenos apresentavam o futebol mais vistoso, liderados pelo maestro Gheorghe Hagi.

A Suécia contava com o veterano goleiro Ravelli, com o lateral direito e excelente cruzador Roland Nilsson, com o seguro zagueiro Patrik Andersson, os fortes volantes Klas Ingesson, Stefan Schwarz, Jonas Thern, Anders Limpar e Håkan Mild, os rápidos e habilidosos meias Tomas Brolin e Jesper Blomqvist, além dos vorazes atacantes Kennet Andersson, Martin Dahlin e do jovem Henrik Larsson. Na fase de grupos, os suecos terminaram em segundo lugar com cinco pontos. Empataram com Camarões (2 x 2), bateram a Rússia (3 x 1) e empataram com o Brasil (1 x 1). Nas oitavas, não deram chance à zebra e venceram a Arábia Saudita por 3 a 1.

A seleção romena tinha como base o lendário time do Steaua Bucarești, campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) em 1985/86 e vice em 1987/88. Tinha como destaques o ótimo lateral direito Dan Petrescu, o experiente e multicampeão zagueiro Miodrag Belodedici, os bons volantes Gheorghe Popescu, Ioan Lupescu e Constantin Gâlcă, o célere ponta esquerda Dorinel Munteanu e os infernais atacantes Ilie Dumitrescu e Florin Răducioiu, além do gênio Gheorghe Hagi, claro. Na primeira fase, a Romênia foi líder do equilibrado Grupo A com seis pontos. Na estreia, venceu a favorita Colômbia por 3 a 1. Depois, foi goleada pela Suíça por 4 a 1. No terceiro jogo, venceu os anfitriões Estados Unidos por 1 a 0. Nas oitavas de final, surpreendeu apenas os que não conheciam sua força, ao vencer a Argentina de Redondo, Caniggia e Batistuta (já sem Maradona, suspenso por doping) por 3 a 2.

As duas seleções usavam camisas amarelas. Mas nessa partida, nenhuma utilizaria seu uniforme principal. A Suécia jogou toda de branco e a Romênia toda de vermelho.


A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.


Após utilizar o 4-5-1 contra a Argentina quando Răducioiu cumpriu suspensão, o técnico Anghel Iordănescu voltou a utilizar o sistema 4-4-2, aumentando o poder de fogo da equipe do leste europeu.

● O primeiro tempo das duas seleções foi bastante cauteloso. Parecia uma partida de xadrez bastante equilibrada. Os suecos tentavam preencher os espaços e impedir o avanço dos romenos. Hagi foi muito bem cercado pelos nórdicos, que o deixava isolado e marcava individualmente os demais jogadores de frente da Romênia, impossibilitando que o capitão pensasse e lançasse como nas partidas anteriores. Com as rápidas investidas de Dahlin e Brolin, a Suécia levava mais perigo ao gol romeno do que o contrário.

Mas foram 78 minutos sem gols, em parte por respeito mútuo, em parte pelo calor de 35º C com o sol a pino na tarde de San Francisco, na Califórnia. A partida viria a deslanchar apenas no fim da segunda etapa.

Aos 32′ do segundo tempo, Prodan fez falta no atacante sueco Dahlin. Na jogada ensaiada, Schwarz passou pela bola e Mild fez o passe no costado da zaga para Tomas Brolin chutar cruzado, no ângulo, e inaugurar o marcador. Era o segundo gol no Mundial anotado pelo “Boneco Assassino“, apelido de Brolin.

Faltavam apenas doze minutos para os suecos confirmarem o seu lugar nas semifinais, mas bastou um erro de concentração e posicionamento para tudo ir por água abaixo.

O empate foi heroico, também de bola parada, a dois minutos do fim. Falta para a Romênia na intermediária. O mágico pé esquerdo de Hagi lançou para a área, a bola desviou na defesa e sobrou dentro da pequena área para Răducioiu chutar alto, sem chances para Ravelli.

Sem mais gols, era a quarta partida do Mundial que iria para a prorrogação. Por mais que se refrescassem do forte calor, iriam ter que jogar por mais trinta minutos.

Após 11 minutos do tempo extra, Mild cometeu uma falta no meio campo. Hagi, sempre ele, lançou para Dumitrescu. A zaga cortou, mas a bola ficou nos pés de Răducioiu, que chutou da entrada da área, no canto esquerdo do goleiro. Florin Răducioiu, atacante do Milan, estava suspenso na partida anterior contra os argentinos e fez muita falta à sua seleção. Agora, de volta, mostrava o quanto era importante no esquema do técnico Anghel Iordănescu.

Na sequência, Schwarz foi expulso. Faltavam apenas 20 minutos e a Suécia estava com um jogador a menos. Seria muito difícil conseguir empatar.

Mas, aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Roland Nilsson cruzou para a área a o gigante sueco (1,95 m) Kennet Andersson subiu mais alto que o goleiro Prunea e empatou de cabeça.

Nos últimos segundos, a Suécia teve a chance de virar o jogo. Dahlin lançou em profundidade na direita para Kennet Anderson, que chutou cruzado para grande defesa de Prunea. No rebote, Larsson chutou e Prunea pegou de novo, se redimindo da falha grotesca no segundo gol escandinavo.

Após 120 minutos, a vaga seria decidida nos pênaltis.

A Suécia começaria batendo. Logo na primeira cobrança, Håkan Mild chutou por cima.

Depois, todos converteram: Răducioiu, Kennet Andersson, Hagi, Brolin, Lupescu e Klas Ingesson, o “Gigante Branco“, que faleceu em outubro de 2014 devido a um câncer.

No quarto pênalti romeno, Petrescu bateu na esquerda, à meia altura e sem força. O excêntrico goleiro Ravelli acertou o canto e igualou tudo. 3 a 3 até então.

Roland Nilsson e Dumitrescu converteram suas cobranças.

Na série alternada, Larsson marcou.

Belodedici, um dos mais experientes e campeões do time, precisaria converter para empatar a série. Ele cobrou de forma idêntica a Petrescu e Ravelli também pegou, se tornando o herói da classificação.


Ravelli defendeu o quarto pênalti romeno, batido por Dan Petrescu. (Imagem localizada no Google)

● A Suécia estava na semifinal 36 anos após a derrota na decisão em casa, na Copa de 1958, quando perdeu por 5 a 2 para o Brasil. Agora, teria a chance de se vingar nas semifinais contra a mesma Seleção Brasileira, em gramados norte-americanos.

Terminava assim, de forma precoce, a campanha da melhor seleção romena de todos os tempos. Foi o bastante para eternizar aqueles jogadores na história das Copas. A Romênia tinha, finalmente e para sempre, marcando seu lugar na história do futebol mundial, devido ao futebol vistoso e ofensivo.

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Depois da façanha de Popescu, Hagi, Dumitrescu e Răducioiu, a seleção amarela jamais brilhou de maneira tão intensa em outra Copa. Desde então, disputou apenas o Mundial de 1998, com a mesma equipe base de quatro anos antes. Se saiu bem na primeira fase, mas caiu nas oitavas de final para a Croácia de Davor Šuker.


Răducioiu comemora um de seus dois gols contra a Suécia. (Imagem: Planet World Cup)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 2 x 2 ROMÊNIA

 

Data: 10/07/1994

Horário: 12h30 locais

Estádio: Stanford

Público: 83.500

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Philip Don (Inglaterra)

 

SUÉCIA (4-4-2):

ROMÊNIA (4-4-2):

1  Thomas Ravelli (G)

1  Florin Prunea (G)

2  Roland Nilsson (C)

2  Dan Petrescu

3  Patrik Andersson

3  Daniel Prodan

4  Joachim Björklund

4  Miodrag Belodedici

5  Roger Ljung

13 Tibor Selymes

6  Stefan Schwarz

6  Gheorghe Popescu

18 Håkan Mild

5  Ioan Lupescu

8  Klas Ingesson

7  Dorinel Munteanu

11 Tomas Brolin

10 Gheorghe Hagi (C)

10 Martin Dahlin

11 Ilie Dumitrescu

19 Kennet Andersson

9  Florin Răducioiu

 

Técnico: Tommy Svensson

Técnico: Anghel Iordănescu

 

SUPLENTES:

 

 

12 Lars Eriksson (G)

12 Bogdan Stelea (G)

22 Magnus Hedman (G)

22 Ștefan Preda (G)

13 Mikael Nilsson

14 Gheorghe Mihali

14 Pontus Kåmark

8  Iulian Chiriță

15 Teddy Lučić

18 Constantin Gâlcă

20 Magnus Erlingmark

19 Corneliu Papură

17 Stefan Rehn

20 Ovidiu Stîngă

9  Jonas Thern

15 Basarab Panduru

16 Anders Limpar

16 Ion Vlădoiu

21 Jesper Blomqvist

21 Marian Ivan

7  Henrik Larsson

17 Viorel Moldovan

 

GOLS:

78′ Tomas Brolin (SUE)

88′ Florin Răducioiu (ROM)

101′ Florin Răducioiu (ROM)

115′ Kennet Andersson (SUE)

 

CARTÕES AMARELOS:

7′ Klas Ingesson (SUE)

21′ Gheorghe Popescu (ROM)

34′ Tibor Selymes (ROM)

43′ Stefan Schwarz (SUE)

108′ Basarab Panduru (ROM)

 

CARTÃO VERMELHO: 101′ Stefan Schwarz (SUE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

84′ Dorinel Munteanu (ROM) ↓

Basarab Panduru (ROM)

 

84′ Joachim Björklund (SUE) ↓

Pontus Kåmark (SUE)

 

INTERVALO DA PRORROGAÇÃO Martin Dahlin (SUE) ↓

Henrik Larsson (SUE) ↑

DECISÃO POR PÊNALTIS:

SUÉCIA 5

ROMÊNIA 4

Håkan Mild (perdeu, por cima do travessão)

Florin Răducioiu (gol, no canto esquerdo)

Kennet Andersson (gol, no ângulo esquerdo)

Gheorghe Hagi (gol, à esquerda deslocando o goleiro)

Tomas Brolin (gol, fraco no canto direito)

Ioan Lupescu (gol, à direita à meia altura)

Klas Ingesson (gol, no meio do gol)

Dan Petrescu (perdeu, à esquerda defendido por Ravelli)

Roland Nilsson (gol, alto no meio do gol)

Ilie Dumitrescu (gol, no meio do gol)

Henrik Larsson (gol, no canto esquerdo)

Miodrag Belodedici (perdeu, à esquerda defendido por Ravelli)


Gheorghe Hagi, o maestro da melhor Romênia de todos os tempos. (Imagem: Pinterest)

Gols da partida:

O pênalti da classificação, cobrado por Belodedici e defendido por Ravelli:

… 09/07/2006 – Itália 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 09/07/2006 – Itália 1 x 1 França


O capitão Fabio Cannavaro levanta a taça da Copa do Mundo (Imagem: UOL)

● A rivalidade entre italianos e franceses estava à flor da pele desde a final da Eurocopa de 2000, disputada entre eles e vencida de virada pela França por 2 x 1. A Itália ganhava por 1 a 0 até o último minuto de partida, quando Sylvain Wiltord empatou. E com um gol de ouro de David Trezeguet aos 13 minutos do primeiro tempo da prorrogação, a França conquistaria seu segundo título na competição (venceu também em 1984).

Vários personagens de 2000 estavam presentes também em 2006. Pelo lado italiano: Fabio Cannavaro, Alessandro Del Piero e Francesco Totti. Do lado francês: Fabien Barthez, Lilian Thuram, Patrick Vieira, Zinedine Zidane, Sylvain Wiltord, Thierry Henry e o herói (que se tornaria vilão em 2006) David Trezeguet. Essa derrota estava ainda fresca na memória dos italianos, que queriam vingança.

A “Squadra Azzurra” se classificou como líder na fase de grupos com sete pontos, vencendo Gana por 2 a 1, empatando com os Estados Unidos em 1 a 1 e vencendo a República Tcheca por 2 a 0. Nas oitavas de final, precisou de um pênalti duvidoso aos 50 minutos do segundo tempo para eliminar a Austrália. Nas quartas de final, passou sem sustos pela Ucrânia, com um convincente 3 a 0. Nas semifinais, um jogaço: após um empate sem gols no tempo normal, a Itália marcou dois gols no tempo extra, sendo um aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação e o segundo dois minutos depois.

O capitão francês Zinedine Zidane chegou à Copa do Mundo de 2006 declarando que encerraria sua gloriosa carreira após a competição. Na primeira fase, sua seleção foi apenas a segunda colocada do Grupo G com cinco pontos. Sem vencer nos dois primeiros jogos, a França empatou com a Suíça por 0 a 0 e com a Coreia do Sul por 1 a 1. Zizou levou dois cartões amarelos e não jogou na última rodada, quando a França bateu a fraquíssima seleção de Togo por 2 a 0. Daí para frente, viria o show de Zinedine, que liderou os “Bleus” em vitórias sobre a Espanha (3 x 1) nas oitavas, Brasil (1 x 0) nas quartas e Portugal (1 x 0) na semifinal.

As duas equipes chegaram à final atuando de forma semelhante: apostando as fichas em uma defesa forte e bem postada, um meio campo recheado e apenas um atacante de ofício. Previsão de que seria um duelo duríssimo, como de fato foi.


A Itália era composta no 4-4-1-1, se defendendo com duas linhas de quatro.


A França jogava no 4-2-3-1 armado pelo polêmico treinador Raymond Domeneh, um homem de estranhas convicções, como a de não convocar jogadores nascidos sob o signo de escorpião.

● Logo aos cinco minutos de jogo, Malouda caiu dentro da área italiana em disputa com Materazzi e o árbitro argentino Horacio Elizondo marcou um pênalti muito controverso. Zidane cobrou com uma cavadinha bem forte e a bola tocou o travessão, pingou dentro do gol, tocou no travessão de novo e voltou para o campo. 1 a 0 para a França.

Até então, a Itália não tinha saído em desvantagem em nenhuma partida do Mundial. Mas aos poucos, a “Azzurra” se reorganizou a passou a mostrar sua principal arma: as cobranças de escanteio. Cada bola erguida pelo maestro Andrea Pirlo era um “Deus nos acuda”.

Aos 19 minutos da etapa inicial, em um desses tiros de canto, Materazzi (1,93 m) ganhou no alto de Vieira (1,94 m) e fuzilou de cabeça, empatando o duelo. Foi a terceira assistência de Pirlo na Copa do Mundo, líder dessa estatística na competição.

Materazzi teria outra oportunidade pouco depois, salva embaixo do gol por Thuram. Em outra chance, Luca Toni cabeceou e acertou o travessão.

Mas na segunda etapa, inexplicavelmente, os italianos abandonaram o artifício da bola alta na área. Os franceses passaram a controlar o jogo, mas tinham muitas dificuldades de entrar na área adversária e finalizar. O capitão e comandante da defesa, Fabio Cannavaro, fez 35 desarmes e não errou passes na final. Materazzi também fechou bem o seu lado. Os laterais, priorizaram a marcação. Os volantes Pirlo e Gattuso marcavam bem a entrada da área. E o goleiro Buffon pegava as raras bolas que escapavam dos seus defensores.

No ataque, a “Azzurra” teve apenas duas chances. Em uma delas, Luca Toni chegou a marcar um gol de cabeça após uma falta cobrada por Pirlo, mas o árbitro assinalou impedimento de Iaquinta, que corria no lance. Depois, o próprio Pirlo quase fez um gol, de falta.

Bem montados do ponto de vista defensivo, os dois times impediam os ataques adversários de jogar e conseguiram transformar uma final de Copa do Mundo em um jogo sem emoção. E como o placar não foi mais alterado, o jogo foi para a prorrogação. A França continuou mandando no jogo e só não empatou porque Buffon fez um milagre em uma cabeçada à queima roupa de Zidane.

Porém, aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação, Zidane caiu em uma provocação de Materazzi e foi expulso (detalharemos a situação mais abaixo). Sem ele, a França passou a se defender, achando que seria mais vantagem arrastar o jogo para que ele fosse desempatado pelos tiros livres diretos da marca do pênalti. Os italianos estavam esgotados fisicamente pela tensa prorrogação contra os alemães e também gostavam da ideia de decidir nas penalidades máximas.

E assim se sucedeu. Com Zidane em campo, a França teria mais um cobrador de excelente qualidade. Sem ele, Treguet acabou sendo escalado para bater.

Pirlo e Wiltord acertaram suas cobranças: 1 x 1.

Na segunda batida, Materazzi acertou o seu. Trezeguet mandou uma pancada na trave.

Vantagem italiana, que se seguiria até o fim, com as conversões de De Rossi, Abidal, Del Piero e Sagnol.

A última cobrança cabia ao lateral esquerdo Fabio Grosso. Ele, que havia feito o primeiro gol sobre a Alemanha na semifinal, na prorrogação. Fabio Grosso converteu e deu o quarto título mundial à Itália.

A Itália vencia, finalmente, seu drama (que parecia eterno) em decisões por pênaltis. O histórico era péssimo. Em 1990, jogando em casa, perdeu nas semifinais para a Argentina o goleiro Sergio Goycoechea, o “Tapa Penales“. Em 1994, caiu na final contra o Brasil, com um último pênalti perdido pelo genial Roberto Baggio. Em 1998, os próprios franceses foram os algozes, eliminando a Itália nas quartas de final. Até então, os italianos nunca haviam vencido uma decisão por pênaltis em Copas do Mundo. Agora, era tetracampeã justamente nos pênaltis!


Azzurra campeã do mundo em 2006. (Imagem: mCalcio)

● Em uma competição que consagrou a marcação, os volantes e os sistema 4-5-1, o zagueiro e capitão italiano Fabio Cannavaro foi o grande destaque. No fim do ano, ele foi eleito o “Bola de Ouro” pela revista France Football e o melhor jogador do mundo pela FIFA.

Curiosamente, o atacante reserva italiano, Alberto Gilardino, nasceu em 05/07/1982, poucos minutos depois que a Itália eliminou o Brasil na Copa do Mundo daquele ano.

O argentino Horacio Elizondo tornou-se o primeiro árbitro que apitou a partida inaugural e a final de uma mesma Copa do Mundo. Ele ainda bateu outro recorde nessa Copa: junto com o mexicano Benito Archundia tornou-se o primeiro a apitar cinco jogos em um mesmo Mundial.

Inegavelmente, Zidane e Materazzi foram os protagonistas desse jogo. Materazzi fez o pênalti em Malouda, fez o gol de empate, teve chances de virar a partida, provocou a expulsão de Zizou e ainda converteu seu pênalti na decisão.

Por sua vez, Zidane estava sempre “usando a cabeça” em finais de Copa do Mundo. Em 1998, contra o Brasil, anotou os dois primeiros gols de cabeça. Agora, em 2006, primeiro ele usou sua genialidade para converter o pênalti no tempo normal, de cavadinha, em cima de Buffon. Depois, quase marcou o gol em uma cabeçada à queima roupa, bem defendida pelo goleiro italiano. Por último, perdeu a cabeça, agredindo Materazzi.


Os últimos segundos de Zidane como jogador profissional. (Imagem: UOL)

● A expulsão de Zidane gerou mais repercussão mundial do que o tetracampeonato italiano. Aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação, Zidane e Materazzi caminhavam em direção ao campo de defesa da França, quando o craque francês estranhamente virou-se para o zagueiro, caminhou três passos e desferiu-lhe uma violenta cabeçada no meio do peito. Materazzi caiu e o trio de arbitragem não viu. Supostamente, o quarto árbitro viu o lance e alertou o árbitro argentino.

É mais provável que alguém fora do gramado, assistindo à jogada pela televisão, tenha denunciado a agressão. Dias depois da final, a FIFA admitiu que havia um quinto membro da comissão de arbitragem postado para rever os lances por um monitor de TV. Esse quinto elemento não estaria autorizado, de acordo com a FIFA, a informar o trio de arbitragem sobre seus supostos equívocos, especialmente no caso de levá-los a tomar uma decisão pelo que não viram e que apenas o olhar eletrônico foi capaz de notar. O fato é que Zidane recebeu o cartão vermelho segundos depois e até hoje não se tem certeza sobre quem foi o autor da denúncia contra o francês.

No dia seguinte à final, todos queriam saber quais palavras Materazzi teria dito para tirar o francês do sério. A FIFA até apurou o caso. Os dois protagonistas confirmaram tratar-se de palavras de baixo calão referentes à família de Zizou. A entidade, então, aplicou multas e suspensões ao francês (não cumprida, já que ele encerrara a carreira) e ao italiano.

A agressão não foi gratuita: segundo a leitura labial realizada na época, o defensor teria chamado a irmã de Zizou, Lila Zidane, de prostituta por duas vezes.

Zidane nunca confirmou e nem desmentiu: “Eram coisas muito pessoais, que envolviam minha mãe e minha irmã”.

Materazzi, no entanto, defendeu-se anos depois, quando contou sua versão da história: “Segurei a camisa dele e ele me olhou com arrogância e disse: ‘Se você quiser a minha camisa, eu te dou depois do jogo’. Eu respondi que preferia a irmã dele”.

Em setembro de 2012, a cena seria imortalizada com uma estátua de cinco metros localizada em frente ao museu de arte moderna no Centre Pompidou, na cidade de Paris. Com o nome de “Coup de tête” (em português, “cabeçada”), a obra do artista argelino Adel Abdessemed foi comprada pelo Museu do Catar em 2013, mas pouco depois teve de ser retirada do calçadão em que estava por razões religiosas.

Na última e melancólica partida de sua carreira, Zidane entrava nos livros de história por quatro feitos marcantes. Com o gol de pênalti, se tornava o quarto jogador a fazer gols em duas finais de Copa do Mundo diferentes (os outros eram Pelé, Vavá e o alemão Paul Breitner). Também se igualou como o maior artilheiro de finais de Copas, com três gols, ao lado de Pelé, Vavá e do inglês Geoff Hurst. O cartão vermelho o transformou em um dos jogadores mais punidos com cartões na história dos Mundiais (em 12 jogos, levou quatro cartões amarelos e dois vermelhos). Finalmente, ele se tornou o quarto homem em todos os tempos a ser expulso de uma decisão de Copa do Mundo (os outros foram os argentinos Pedro Monzón e Gustavo Dezotti, em 1990, e o francês Marcel Desailly, em 1998).

A expulsão foi muito infantil, mas não manchou a carreira do astro. Sua última cena nos gramados foram os melancólicos passos rumo ao vestiário, antes do fim da prorrogação. Mas devido às grandes partidas que fez nas fases de mata-mata, o francês foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 2006.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Cannavaro e Zidane (Imagem: Alamy)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 09/07/2006

Horário: 20h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 69.000

Cidade: Berlim (Alemanha)

Árbitro: Horacio Elizondo (Argentina)

 

ITÁLIA (4-4-1-1):

FRANÇA (4-2-3-1):

1  Gianluigi Buffon (G)

16 Fabien Barthez (G)

19 Gianluca Zambrotta

19 Willy Sagnol

5  Fabio Cannavaro (C)

15 Lilian Thuram

23 Marco Materazzi

5  William Gallas

3  Fabio Grosso

3  Éric Abidal

8  Gennaro Gattuso

6  Claude Makélélé

21 Andrea Pirlo

4  Patrick Vieira

20 Simone Perrotta

22 Franck Ribéry

16 Mauro Camoranes

10 Zinedine Zidane (C)

10 Francesco Totti

7  Florent Malouda

9  Luca Toni

12 Thierry Henry

 

Técnico: Marcello Lippi

Técnico: Raymond Domenech

 

SUPLENTES:

 

 

12 Angelo Peruzzi (G)

23 Grégory Coupet (G)

14 Marco Amelia (G)

1  Mickaël Landreau (G)

2  Cristian Zaccardo

2  Jean-Alain Boumsong

6  Andrea Barzagli

17 Gaël Givet

13 Alessandro Nesta

13 Mikaël Silvestre

22 Massimo Oddo

21 Pascal Chimbonda

4  Daniele De Rossi

18 Alou Diarra

17 Simone Barone

8  Vikash Dhorasoo

7  Alessandro Del Piero

9  Sidney Govou

15 Vincenzo Iaquinta

11 Sylvain Wiltord

11 Alberto Gilardino

14 Louis Saha

18 Filippo Inzaghi

20 David Trezeguet

 

GOLS:

7′ Zinedine Zidane (FRA) (pen)

19′ Marco Materazzi (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Gianluca Zambrotta (ITA)

12′ Willy Sagnol (FRA)

76′ Claude Makélélé (FRA)

111′ Florent Malouda (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 110′ Zinedine Zidane (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

56′ Patrick Vieira (FRA) ↓

Alou Diarra (FRA) ↑

 

61′ Simone Perrotta (ITA) ↓

Daniele De Rossi (ITA) ↑

 

61′ Francesco Totti (ITA) ↓

Vincenzo Iaquinta (ITA) ↑

 

86′ Mauro Camoranesi (ITA) ↓

Alessandro Del Piero (ITA) ↑

 

100′ Franck Ribéry (FRA) ↓

David Trezeguet (FRA) ↑

 

INTERVALO DA PRORROGAÇÃO Thierry Henry (FRA) ↓

Sylvain Wiltord (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

ITÁLIA 5

FRANÇA 3

Andrea Pirlo (gol, alto no meio do gol; Barthez cai à direita)

Sylvain Wiltord (gol, à esquerda deslocando Buffon)

Marco Materazzi (gol, forte à esquerda)

David Trezeguet (perdeu, no travessão)

Daniele De Rossi (gol, no ângulo direito)

Éric Abidal (gol, à direita deslocando Gianluigi Buffon)

Alessandro Del Piero (gol, à direita; Barthez pula para o outro lado)

Willy Sagnol (gol, à esquerda; Buffon erra o canto)

Fabio Grosso (gol, no ângulo esquerdo)

 

Reportagens iniciais pré-jogo e melhores momentos da partida:

… 08/07/2014 – Brasil 1 x 7 Alemanha

Três pontos sobre…
… 08/07/2014 – Brasil 1 x 7 Alemanha

Mineiratzen


(Imagem localizada no Google)

● Em toda edição, a Copa das Confederações consegue enganar muitas seleções, especialmente a equipe campeã. Mas parece uma espécie de “maldição”. Assim aconteceu (de novo) com a Seleção Brasileira, que venceu a competição de 2013 em seus domínios e se preparava para a “vingança do Maracanazzo“. O Brasil tinha sido campeão em todas as competições oficiais que disputou em casa (quatro Copas América e uma Copa das Confederações), com exceção da Copa do Mundo de 1950. Era a hora da turma liderada por Júlio César, Thiago Silva, David Luiz, Daniel Alves, Neymar e Fred ir à forra, se sagrando campeões do mundo em pleno estádio Maracanã. Tudo certinho e planejado. Só faltou combinar com a Alemanha.

Na primeira fase, o Brasil se classificou em primeiro lugar do Grupo A, com sete pontos. Estreou vencendo a Croácia de virada por 3 a 1, empatou sem gols com o México e goleou Camarões por 4 a 1. Empatou com o freguês Chile por 1 a 1 e contou com a vitória por 3 a 2 nas cobranças de pênaltis (além de sorte na prorrogação) para se classificar nas oitavas de final. Nas quartas, venceu a Colômbia por 2 a 1. Mesmo passando tranquilamente de fase, o Brasil não demonstrava o mesmo futebol de um ano antes. Passou um certo sufoco em todas as partidas, exceto contra os fracos camaroneses. O primeiro grande adversário seria a Alemanha.

Líder do Grupo G na fase inicial, a Alemanha goleou Portugal por 4 a 0, empatou com Gana por 2 a 2 e venceu os Estados Unidos por 1 a 0. Nas oitavas de final, enfrentou a Argélia, um adversário duríssimo, que deu muitos sustos aos alemães, mas venceu por 2 a 1 na prorrogação. Nas quartas de final, em outro jogo bastante equilibrado, a Alemanha venceu a França por 1 a 0. Os alemães estavam com seu futebol em plena evolução e precisava se provar justamente contra os anfitriões.

Para a semifinal, a Seleção Canarinho não podia contar com Thiago Silva, seu capitão, que estava suspenso pelo segundo cartão amarelo. Neymar também não tinha condições de jogo, por estar com uma fratura na vértebra, fruto de uma joelhada criminosa do lateral colombiano Camilo Zúñiga. Com o mesmo discurso motivacional que (às vezes) funcionava antigamente, o técnico Luiz Felipe Scolari escolheu Bernard para a vaga de Neymar. Mesmo orientado pelos observadores e pela comissão técnica de que deveria escalar outro jogador de meio campo para dar mais sustentabilidade ao time. Scolari preferiu não dar ouvidos e apostou na “alegria nas pernas” do menino Bernard. Ali o Brasil começou a perder a partida. Na verdade, foi uma sucessão de erros. O lento e péssimo zagueiro Dante entrou na vaga de Thiago Silva.

Na entrada dos times em campo, os brasileiros carregavam a camisa de Neymar, tratando de lembrar a todos que jogaria sem seu único craque. O hino nacional cantado “à capela” por todo estádio voltou a emocionar e a deixar os atletas nervosos e ansiosos.

No histórico preliminar, as seleções principais de Brasil e Alemanha haviam se enfrentado 21 vezes, com doze vitórias para os brasileiros, quatro para os alemães e cinco empates. Em Copas do Mundo, era o segundo duelo. O anterior havia acontecido na final do Mundial de 2002, quando o Brasil venceu por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo. O técnico em 2002 também era Luiz Felipe Scolari.


O Brasil atuou no sistema 4-2-3-1. Sem Neymar, Bernard jogou aberto na direita e Hulk “torto” pela esquerda.


A Alemanha jogou no 4-3-3. Com a bola, Lahm avançava e Höwedes recuava, formando um 3-4-3.

● No início da partida, o Brasil tentou mostrar que jogaria de igual para igual. Mas isso durou apenas dez minutos, até a Alemanha descobrir que não teria adversário na partida. Tudo começou com um erro de passe de Marcelo, que na sequência cedeu o escanteio. Toni Kroos cobrou o tiro de canto e encontrou Thomas Müller livre dentro da área, para escorar para as redes e inaugurar o placar em BH. David Luiz, que estava marcando Müller, parou em uma barreira feita por Klose. Foi o gol de nº 2.000 da história da “Nationalmannschaft“.

Aos 23 minutos do primeiro tempo começou uma sequência inacreditável de gols. Em uma troca de passes que começa na direita, Klose tabela com Müller dentro da área e finaliza. Júlio César ainda fez uma grande defesa, mas a bola voltou para o próprio Klose emendar para o fundo do gol. Com esse gol, Miroslav Klose passou a ter 16 gols em Copas do Mundo, se tornando o maior artilheiro da história da competição, superando o brasileiro Ronaldo, que tem 15. Enquanto toda a defesa estava desesperada sem saber o que fazer, o capitão David Luiz ficou na marca do pênalti, apenas olhando a jogada se desenvolver. Mas não percamos as contas: Alemanha, 2 a 0.

Os alemães não menosprezaram os brasileiros e continuaram jogando seu próprio futebol. Os (muitos) gols saíram de forma natural. Aos 25′, Mesut Özil abriu o jogo na direita para Phillip Lahm, que cruzou para o meio. Müller furou, mas Toni Kroos emendou bonito de esquerda, no canto direito do goleiro brasileiro. Alemanha, 3 a 0. As imagens de parte da torcida deixando o Mineirão já dava o tom de dramaticidade, que pioraria (e muito) na sequência.

Logo no reinício de jogo, Dante toca na fogueira para Fernandinho. Toni Kroos rouba a bola dele, avança, tabela com Sami Khedira dentro da área, tirando Júlio César do lance, e finaliza de novo. Alemanha, 4 a 0. Como o Brasil estava saindo para o jogo no momento em que a bola foi roubada de Fernandinho, ficaram apenas Dante e o próprio Fernandinho na defesa, contra os dois meio campistas alemães, que avançaram para marcar a saída de jogo. David Luiz já tinha se mandado para frente. O narrador Galvão Bueno na transmissão da Rede Globo foi taxativo: “Virou passeio!”

E, como disse Galvão Bueno, “lá vem eles de novo”! Três minutos depois, Mats Hummels ganha uma dividida no meio campo. A bola fica com Khedira, que tabela com Özil dentro da área. Khedira ainda teve muito tempo para pensar e bater no canto direito. A bola ainda passou entre as pernas de Maicon. Já era desespero: o goleiro Júlio César estava na linha da pequena área e o lateral esquerdo Marcelo estava dentro do gol. David Luiz nem estava na jogada; já tinha se mandado para o ataque. Alemanha, 5 a 0.

E a Alemanha continuou criando chances. Kroos chutou uma bola que desviou e levou perigo.

No segundo tempo, o Brasil conseguiu criar chances, especialmente com Ramires e Paulinho, que entraram no intervalo, provando que o mais sensato seria que Scolari tivesse entrado com mais um jogador no meio campo, como lhe foi sugerido. E começou a brilhar o “goleiro ciborgue” Manuel Neuer. Ele fez quatro defesas difíceis, mantendo seu gol intacto.

Desde o quinto gol, os alemães tinham “tirado o pé”. Mas o técnico Löw colocou em campo o atacante André Schürrle, tão cruel quanto os nazistas, que assassinou de vez o amor próprio da Seleção Brasileira.

Aos 24 minutos da segunda etapa, Lahm abre na direita para Khedira, que devolve para Lahm já dentro da área. O capitão alemão tocou para a entrada da pequena área e Schürrle chegou batendo rasteiro, fazendo o sexto gol alemão. David Luiz, que estava marcando o camisa 9, afrouxou a marcação e deixou Schürrle livre para finalizar.

Aos 34′, lateral cobrado para Müller na ponta e ele deu um ótimo passe para Schürrle, de novo, avançar (justamente na posição onde deveria estar David Luiz) e encher o pé esquerdo. A bola entrou no ângulo de Júlio César, chegando a bater na trave, só para trazer mais beleza ao gol. Aplausos dos 58.141 expectadores do Mineirão para a apresentação de gala dos alemães.

Pouco depois, Özil teve a chance de fazer o seu, mas sua finalização tirou tinta da trave esquerda.

Já nos acréscimos, veio o único gol brasileiro. Me recuso a chamá-lo de “gol de honra”. Marcelo lança para Oscar. O camisa 11 corta para o meio, tirando o zagueiro Boateng, e chuta na saída de Neuer. Um absurdo é que a Alemanha, mesmo vencendo por 7 a 0, ainda levou um gol no contra-ataque.

● No fim, foram vários recordes quebrados:

— a pior derrota da história da Seleção Brasileira;

— a pior derrota da Seleção em Copas do Mundo, superando a derrota para a França na final de 1998 (3 x 0);

— a partida de Copa em que o Brasil mais sofreu gols;

— a maior goleada em semifinais de Copa, superando outros três duelos que haviam terminado em 6 a 1;

— a maior goleada em um jogo entre campeões mundiais, superando Alemanha 4 x 0 Uruguai de 1966;

— a pior derrota de um anfitrião da Copa;

— nunca antes da história dos Mundiais uma equipe tinha feito cinco gols em 18 minutos, tampouco quatro gols em seis minutos;

— a Alemanha foi a terceira seleção a conseguir marcar cinco gols ou mais em um só tempo. As outras foram Iugoslávia (marcou seis gols no primeiro tempo), na goleada de 9 a 0 sobre o Zaire em 1974, e a Polônia (marcou cinco gols no primeiro tempo), nos 7 a 0 sobre o Haiti, também em 1974;

— Miroslav Klose marcou o 16º gol em Copas do Mundo, se tornando o maior artilheiro da história da competição, superando o brasileiro Ronaldo, que tem 15 gols.


Miroslav Klose, maior goleador de todos os tempos em Copas do Mundo. (Imagem: Globo Esporte)

● A Seleção Brasileira era muito frágil emocionalmente. O ídolo alemão Lothar Matthäus resumiu bem, em entrevista ao jornal francês “Le Journal du Dimanche“, no dia 12 de julho de 2014:

“Não entendo por que um jogador de futebol chora. Brasileiros sempre choram. Toca o hino, choram; eliminam o Chile, choram; perdem para a Alemanha, choram. Eles têm de mostrar que são fortes. Nunca vi nada tão nefasto como a linguagem corporal dessa equipe.”

Foi uma vitória da humildade. No decorrer do torneio, o técnico Joachim Löw abriu mão de seus conceitos, voltando o capitão Phillip Lahm do meio campo para a lateral direita, sua posição de origem. Também deixou de lado o “falso nove” e escalou um centroavante verdadeiro, Miroslav Klose. Já Felipão nunca desceu e nem descerá do salto. Preferiu morrer com suas convicções em vez de dar ouvidos às orientações da comissão técnica e da imprensa.

Foi a premiação de um trabalho iniciado a mais de uma década pela federação alemã. A Alemanha era uma equipe muito bem treinada por Joachim Löw e tinha jogadores de destaque e talento em todas as posições. A Alemanha jogou como o Brasil de seus melhores tempos e o Brasil jogou como meninos de cinco anos.

Do meio para a frente, o Brasil não apareceu em momento algum. Oscar, a maior esperança brasileira sem Neymar, foi omisso o jogo todo. Marcou o gol, é verdade, mas foi omisso. Hulk não fez nada, como na Copa toda. Bernard não deveria estar em campo e não sabia nem o que estava fazendo. E Fred… ficou imóvel, no meio dos dois zagueiros alemães. Um time medíocre, sem alma e sem nenhuma organização tática. Realmente contou com a sorte para chegar nas semifinais.

Para completar a vergonha, o Brasil perdeu para a Holanda por 3 x 0 na decisão do 3º lugar.

Na final contra a forte Argentina de Lionel Messi e cia., a Alemanha venceu com um gol de Mario Götze aos oito minutos do segundo tempo da prorrogação. Nada mais justo: Alemanha, tetracampeã da Copa do Mundo!


Thomas Müller abre o placar no Mineirão. (Imagem: Folha)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 7 ALEMANHA

 

Data: 08/07/2014

Horário: 17h00 locais

Estádio: Mineirão

Público: 58.141

Cidade: Belo Horizonte (Brasil)

Árbitro: Marco Rodríguez (México)

 

BRASIL (4-2-3-1):

ALEMANHA (4-3-3):

12 Júlio César (G)

1  Manuel Neuer (G)

23 Maicon

16 Phillip Lahm (C)

4  David Luiz (C)

20 Jérôme Boateng

13 Dante

5  Mats Hummels

6  Marcelo

4  Benedikt Höwedes

17 Luiz Gustavo

6  Sami Khedira

5  Fernandinho

7  Bastian Schweinsteiger

7  Hulk

18 Toni Kroos

11 Oscar

8  Mesut Özil

20 Bernard

13 Thomas Müller

9  Fred

11 Miroslav Klose

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Joachim Löw

 

SUPLENTES:

 

 

1  Jefferson (G)

22 Roman Weidenfeller (G)

22 Victor (G)

12 Ron-Robert Zieler (G)

2  Daniel Alves

3  Matthias Ginter

3  Thiago Silva

17 Per Mertesacker

15 Henrique

21 Shkodran Mustafi

14 Maxwell

15 Erik Durm

8  Paulinho

2  Kevin Großkreutz

18 Hernanes

23 Christoph Kramer

16 Ramires

14 Julian Draxler

19 Willian

19 Mario Götze

10 Neymar

9  André Schürrle

21 Jô

10 Łukas Podolski

 

GOLS:

11′ Thomas Müller (ALE)

23′ Miroslav Klose (ALE)

25′ Toni Kroos (ALE)

26′ Toni Kroos (ALE)

29′ Sami Khedira (ALE)

69′ André Schürrle (ALE)

79′ André Schürrle (ALE)

90+1′ Oscar (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: 68′ Dante (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Hulk (BRA) ↓

Ramires (BRA) ↑

 

INTERVALO Fernandinho (BRA) ↓

Paulinho (BRA) ↑

 

INTERVALO Mats Hummels (ALE)↓

Per Mertesacker (ALE) ↑

 

58′ Miroslav Klose (ALE) ↓

André Schürrle (ALE) ↑

 

69′ Fred (BRA) ↓

Willian (BRA) ↑

 

77′ Sami Khedira (ALE) ↓

Julian Draxler (ALE) ↑

Melhores (ou piores?) momentos da partida:


Jogadores brasileiros participaram do protocolo inicial da partida segurando uma camiseta de Neymar. Seria uma homenagem ao craque, mas, na verdade, apenas lembrou ao mundo que o Brasil tinha perdido grande parte de sua criatividade e poder ofensivo sem o camisa 10. (Imagem: Jefferson Bernardes/ Vipcomm)

P.S.: Sou um grande admirador do futebol de David Luiz. Reconheço todas as qualidades técnicas, táticas e físicas de seu futebol. Se a Seleção Brasileira é um prêmio para os melhores jogadores em melhor fase, eu defendo sua convocação atualmente.
Não digo que ele tenha falhado nos sete gols alemães. Mas, quem entende o mínimo de futebol, percebe que em todos os gols sofridos, David Luiz poderia ter feito melhor do que fez.

… 07/07/1974 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 07/07/1974 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda

● Não existia uma seleção holandesa até duas semanas antes da Copa do Mundo de 1974. No princípio de tudo, era um grupo rachado, formado pela base de dois times multicampeões: o Ajax, tricampeão europeu (1970/71, 1971/72 e 1972/73) e o Feyenoord, campeão europeu em 1969/70. Com a rivalidade à flor da pele, os jogadores desses dois times não se combinavam fora e nem dentro de campo. Coube ao grande técnico do século XX transformar esse amontoado de bons jogadores em um time inesquecível.

Rinus Michels era o arquiteto daquele Ajax encantador. Depois do primeiro título europeu, foi treinar o Barcelona, tirando o time de uma fila de 14 anos sem títulos nacionais. Ele ainda era treinador dos “Culés” quando foi treinar a seleção holandesa, a apenas três meses da Copa. E Michels contou com a liderança do capitão Johan Cruijff para implementar um novo estilo de jogo.

Sobre os conceitos do “Futebol Total“, falaremos de forma profunda futuramente. É um tema tão encantador, que merece seu próprio espaço. Mas resumindo rapidamente, trata-se de um sistema em que todos os jogadores são capazes de defender e atacar (às vezes até ao mesmo tempo), sempre avançando em “triângulos”. Ou seja, o jogador que está com a bola sempre tem (pelo menos) duas opções de passe progressivo, uma de cada lado.

A escalação titular que se tornou célebre só foi jogar junta, nas mesmas posições, apenas na Copa do Mundo, na estreia contra o Uruguai. Aliás, que estreia! O “Carrossel Holandês” surpreendeu a todos (e até a si mesmo) e venceu os experientes uruguaios, 4º colocados no Mundial anterior. O placar foi 2 a 0, mas poderia ter sido 7, se não fosse o goleirão Ladislao Mazurkiewicz.

Na segunda rodada, um empate em 0 x 0 com a Suécia provou que uma partida não precisa ter gols para ser excelente; zero no placar e nota dez para o futebol de ambos. O último jogo da primeira fase foi uma goleada por 4 x 1 sobre a Bulgária. Na segunda fase, o grande espetáculo da “Laranja Mecânica“, com três vitórias bastante convincentes: 4 x 0 na Argentina, 2 a 0 na Alemanha Oriental e 2 a 0 no Brasil (campeão do mundo quatro anos antes).

A Alemanha Ocidental era um verdadeiro esquadrão. Além de ser a anfitriã, tinha um histórico recente muito bom, depois de ser vice-campeã da Copa de 1966, 3º lugar em 1970 e campeã da Eurocopa em 1972. Tinha como base o Bayern de Munique, campeão europeu em 1973/74 (e que seria tricampeão, vencendo em 1974/75 e 1975/76) e o Borussia Mönchengladbach, que venceu cinco títulos nacionais naquela década.

Na fase de grupos, a Alemanha venceu o Chile (1 x 0) e a Austrália (3 x 0). Na rodada final, perdeu para a “irmã” Alemanha Oriental por 1 x 0. Especulou-se que a Alemanha Ocidental entregou o jogo de propósito para pegar uma chave mais fácil na fase seguinte, escapando de Brasil e Holanda. Mas há quem diga que é só especulação, pois a equipe atacou o adversário durante toda a partida. Na segunda fase, os alemães venceram a Iugoslávia por 2 a 0, a Suécia por 4 a 2 e a Polônia por 1 a 0, se classificando para a final.


A Alemanha jogava no 4-3-3, tendo Franz Beckenbauer como líbero e os avanços constantes pelo meio do lateral esquerdo Paul Breitner.


Devido à alta rotação de posições, é quase impossível definir o “Futebol Total” do “Carrossel Holandês“, mas teoricamente era um 4-3-3.

● A final da Copa foi marcada por um discurso do presidente da FIFA, Stanley Rous, que passou o cargo a João Havelange. E começou com alguns minutos de atraso por um problema inusitado: as bandeiras de escanteio não estavam nos devidos lugares, e isso só foi percebido quando os times já estavam em campo.

Na decisão, os primeiros 54 segundos foi uma mostra única de qualidade e autoconfiança da Holanda. Assim que foi dada a saída de jogo, o “Carrossel Holandês” começou a girar e tocou na bola ininterruptamente 36 vezes, com 17 troca de passes entre oito jogadores. Todos estavam acima da linha do meio do campo, onde Johan Cruijff recebeu a bola. O maestro arrancou, passou pelo seu marcador e por outros três jogadores até ser atingido por Uli Hoeneß e sofrer o pênalti. Johan Neeskens bateu com segurança, forte, no meio do gol, e abriu o placar. A Alemanha nem tinha tocado na bola e já perdia a final em casa por 1 a 0, com um minuto e 20 segundos de jogo. Provavelmente, esse foi o início mais extraordinário de uma final de Copa. Os 78.200 expectadores do estádio Olímpico de Munique estavam em choque, especialmente a grande maioria de torcedores locais.

Aos 4 minutos de jogo, Cruijff arranca novamente e é derrubado por Berti Vogts, que leva o cartão amarelo e tem que jogar o resto da final pendurado. Vogts tinha um papel fundamental. O técnico Helmut Schön desprezou a marcação por zona e escalou o lateral direito, nº 2, como um cão de guarda permanente em cima de Cruijff. Assim que encaixou a marcação, ele desempenhou esse papel muito bem, isolando o holandês da zona de perigo.

Aos 25′ do primeiro tempo, Beckenbauer interceptou um cruzamento de Neeskens, passou para Overath, que avançou e lançou Hölzenbein. O ponta entrou na área e foi derrubado por Wim Jansen. Pênalti, que Paul Breitner cobrou com maestria, no canto direito do goleiro holandês, empatando a partida.

A Alemanha passou a controlar mais o jogo e chegou a perder gols. Primeiro com Uli Hoeneß. Depois, em uma cobrança de falta de Beckenbauer, defendida por Jongbloed (único goleiro do Mundial que não usava luvas). A Holanda recuou muito depois de abrir o placar.

Aos 29 minutos do primeiro tempo, em um rápido contra-ataque, Bernd Hölzenbein lança Vogts sozinho na cara do gol, mas o excêntrico goleiro Jan Jongbloed salvou de forma brilhante. Quase que Vogts, o melhor em campo, fez o gol do título. O foco da batalha seguia entre ele e o camisa 14 laranja. Ele já tinha marcado Cruijff outras vezes e o gênio holandês foi ficando muito irritado com a marcação individual do “Buldogue Alemão”, reclamando muito com a arbitragem, a tal ponto de ter levado o cartão amarelo no intervalo e quase sendo expulso depois por divididas desleais. Dizem as más línguas, que Vogts seguiu Cruijff até para o vestiário adversário, como gêmeos siameses.

O craque holandês recebeu uma única bola com um mínimo de liberdade, quando tocou para Johnny Rep chutar à queima-roupa, para defesa de Maier.

Mas a dois minutos do fim da etapa inicial, Sepp Maier iniciou a jogada, repondo a bola para Jürgen Grabowski. O ponta direita tabelou com Hoeneß, recuou atraindo Ruud Krol, e lançou no espaço vazio da meia direita para a arrancada de Rainer Bonhof, que passou por Haan, foi ao fundo e tocou para o meio da área. Gerd Müller aproveitou a hesitação de Rijsbergen e, com apenas um toque, ajeitou para girar batendo cruzado. Era o gol da virada. A superioridade alemã finalmente se traduziu no segundo gol.

A Alemanha em momento algum temeu a Holanda. Na Copa de 1974, nunca a Holanda foi tão atacada. O time holandês recuou porque foi pressionado. E tentava contra-atacar na base da bola longa para Johnny Rep e Rob Rensenbrink.

No intervalo, Rinus Michels tirou o excelente Rensenbrink, que sentiu uma lesão no início da partida, e colocou René van de Kerkhof. O segundo tempo começaria forte, mas logo cairia em um ritmo mais lento.

Aos dois minutos, Uli Hoeneß cobrou escanteio e Rainer Bonhof desperdiçou sozinho, cabeceando para fora.

Aos seis, em cobrança de escanteio que Sepp Maier saiu errado do gol, Paul Breitner tirou a bola em cima da linha.

A Holanda tinha a bola, mas não conseguia pressionar a Alemanha. A maior posse de bola deu a falsa impressão que o time laranja dominou o jogo e por pouco não empatou. Mas era Wolfgang Overath quem ditava o jogo no meio campo.

A Alemanha, porém, tinha espaço para contra-atacar e fazia isso com frequência. Só não ampliou o marcador porque o árbitro inglês John Taylor anulou um gol legal de Müller por impedimento, em um lance que Rijsbergen dava condições de jogo ao camisa 13.

A 20 minutos do fim, já no desespero, Michels tira o zagueiro Rijsbergen e põe o atacante Theo de Jong.

Já no fim do jogo, Cruijff finalmente passou por Vogts e sofreu falta dura de Overath. O próprio capitão cobrou e Sepp Maier evitou o gol de cabeça de Van Heneggen.

Nos lances finais, René van de Kerkhof cruza e Neeskens pega com um lindo voleio, para grande defesa de Sepp Maier. O goleiro alemão foi eleito o melhor de sua posição no Mundial. Por ser bastante ágil, seu apelido era “Der Katze” (o Gato, em alemão).

Em um dos últimos ataques, a zaga alemã rebate um lançamento e Neeskens arremata para fora, à direita, pertinho do gol alemão.


Johan Neeskens enche o pé para converter o pênalti e inaugurar o marcador. (Imagem: Staff/AFP Photo/Getty Images)

● Fim de jogo! A Alemanha Ocidental era bicampeã do mundo!

A Holanda não perdeu para uma equipe qualquer. Perdeu para uma Alemanha que jogou melhor e mereceu vencer. Se não tinha a mesma plástica, técnica ou beleza do futebol holandês, tinha uma competitividade extrema e contava com a melhor e mais técnica geração alemã na história.

O capitão Franz Beckenbauer foi o primeiro a levantar a Taça FIFA, já que a Taça Jules Rimet tinha sido entregue definitivamente ao Brasil em 1970. O “Kaiser” é considerado o melhor defensor de todos os tempos e popularizou a função de líbero. Ele é até hoje o único jogador da história eleito para as seleções ideais de três Copas do Mundo diferentes (1966, 1970 e 1974).

Durante 32 anos, o atacante Gerd Müller foi o jogador que mais havia marcado gols em Copas: 14 (10 em 1970 e 4 em 1974). Esse recorde foi superado em 2006 por Ronaldo Fenômeno, com 15 gols. Em 2014, essa honraria voltou para um alemão, quando Miroslav Klose chegou aos 16 gols em Mundiais.

Apesar da derrota na final, o holandês Cruijff foi considerado o melhor jogador da Copa, em um caso raro de jogador que obtém tal feito mesmo sem conseguir conquistar o título. Quem o via correr por todo o campo nem imaginava que ele tinha dificuldades para andar na infância, chegando a usar aparelhos ortopédicos até os dez anos. A ideia de colocá-lo no futebol para ajudar a desenvolver as pernas foi da mãe, que trabalhava como faxineira do Ajax. Cruijff era conhecido por ser bastante politizado fora dos campos. Graças a ele, os holandeses conseguiram da federação do país um prêmio em dinheiro superior ao dos alemães, mesmo com o vice-campeonato.

Falando em dinheiro, os holandeses se sentiram “estrelas” demais e começaram a cobrar por entrevistas exclusivas a partir da fase final da Copa, seguindo o exemplo do capitão Cruijff. Havia até uma tabela informal: cem dólares para jornais, 150 para rádios e quatrocentos para a televisão.

O apelido “Laranja Mecânica” era uma referência ao filme de Stanley Kubrick, de 1971, que por sua vez foi uma adaptação de “A Clockwork Orange“, um romance escrito por Anthony Burgess.


Gerd Müller, o matador, fez o gol que deu o segundo título mundial ao seu país. (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 2 x 1 HOLANDA

 

Data: 07/07/1974

Horário: 16h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 78.200

Cidade: Munique (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Jack Taylor (Inglaterra)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

HOLANDA (4-3-3):

1  Sepp Maier (G)

8  Jan Jongbloed (G)

2  Berti Vogts

20 Wim Suurbier

4  Hans-Georg Schwarzenbeck

17 Wim Rijsbergen

5  Franz Beckenbauer (C)

2  Arie Haan

3  Paul Breitner

12 Ruud Krol

16 Rainer Bonhof

6  Wim Jansen

14 Uli Hoeneß

13 Johan Neeskens

12 Wolfgang Overath

3  Willem van Hanegem

9  Jürgen Grabowski

16 Johnny Rep

13 Gerd Müller

14 Johan Cruijff (C)

17 Bernd Hölzenbein

15 Rob Rensenbrink

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Rinus Michels

 

SUPLENTES:

 

 

21 Norbert Nigbur (G)

18 Piet Schrijvers (G)

22 Wolfgang Kleff (G)

21 Eddy Treijtel (G)

6  HorstDieter Höttges

4  Kees van Ierssel

20 Helmut Kremers

5  Rinus Israël

19 Jupp Kapellmann

19 Pleun Strik

7  Herbert Wimmer

22 Harry Vos

8  Bernhard Cullmann

7  Theo de Jong

15 Heinz Flohe

1  Ruud Geels

10 Günter Netzer

11 Willy van de Kerkhof

18 Dieter Herzog

10 René van de Kerkhof

11 Jupp Heynckes

9  Piet Keizer

 

GOLS:

2′ Johan Neeskens (HOL) (pen)

25′ Paul Breitner (ALE) (pen)

43′ Gerd Müller (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

3′ Berti Vogts (ALE)

22′ Willem van Hanegem (HOL)

39′ Johan Neeskens (HOL)

45′ Johan Cruijff (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Rob Rensenbrink (HOL) ↓

René van de Kerkhof (HOL) ↑

 

69′ Wim Rijsbergen (HOL) ↓

Theo de Jong (HOL) ↓


Johan Cruijff arranca para sofrer o pênalti que abriu o placar, com apenas 54 segundos de jogo. (Imagem localizada no Google)


O “Kaiser” Franz Beckenbauer levanta a Taça FIFA (Imagem localizada no Google)

… 06/07/2010 – Holanda 3 x 2 Uruguai

Três pontos sobre…
… 06/07/2010 – Holanda 3 x 2 Uruguai


Arjen Robben comemora o segundo gol holandês (Imagem: FIFA)

● Diferente de seu histórico, a Holanda vinha apresentando um futebol mais pragmático. Ao trocar seu tradicional 4-3-3 pelo 4-2-3-1 da moda, o treinador Bert van Marwijk acumulou críticos em profusão, especialmente em seu país. Mas os resultados davam razão ao técnico. A Laranja estava com 100% de aproveitamento na Copa, com cinco vitórias em cinco jogos. No Grupo E, venceu a Dinamarca (2 x 0), o Japão (1 x 0) e Camarões (2 x 1). Bateu a Eslováquia por 2 a 1 nas oitavas de final. Nas quartas, liderada por Wesley Sneijder e Arjen Robben, venceu o Brasil de virada, também por 2 a 1. O moral estava lá em cima.

Eram duas seleções em alta. O Uruguai tinha vencido Gana nos pênaltis, após conseguir um milagre no último minuto da prorrogação. Chegava às semifinais pela primeira vez desde a Copa de 1970. Mas os desfalques nessa semifinal eram justamente dois dos jogadores essenciais para o bom funcionamento do jogo da Celeste. O capitão Diego Lugano sofreu uma entorse no tornozelo na partida anterior e não se recuperou a tempo, sendo substituído por Diego Godín. Luisito Suárez estava suspenso pelo cartão vermelho recebido ao salvar com a mão um gol claro de Gana, em cima da linha. Com a ausência de seu camisa 9, o “Maestro” Óscar Tabárez escalou sua equipe no 4-4-2, colocando Walter Gargano para fechar o meio.


A Holanda jogava no sistema 4-2-3-1, com muita força ofensiva concentrara em seus quatro homens mais avançados. Destaque para Wesley Sneijder, autor de cinco gols na Copa.


Desfalcado de Lugano e Suárez, o Uruguai atuou nessa partida no 4-4-2, com uma trinca de volantes marcadores. Sem aproximação do meio campo, Cavani e Forlán ficaram muito isolados no ataque.

● Logo aos três minutos, a primeira chance da partida. Sneijder cruza e Dirk Kuyt cabeceou por cima do gol.

Durante o primeiro tempo, a Holanda ficou mais com a posse de bola e tentando infiltrar na fechada defesa adversária. O Uruguai conseguia marcar bem, mas não conseguia contra-atacar. Diego Forlán e Edinson Cavani estavam muito isolados no ataque.

Mas aí começou a aparecer os (d)efeitos da Jabulani, a bola com “vida própria”.

Aos 18 minutos, após uma paciente troca de passes holandeses, Robben passou para Kuyt, que viu a aproximação do lateral esquerdo Van Bronckhorst. O capitão dominou e mandou um foguete com destino ao ângulo esquerdo. O goleiro Muslera chegou a encostar nela, mas a bola foi na junção das duas traves. Em 36 metros, o chute pegou a velocidade de 109 km/h. Talvez seja o mais belo gol dessa Copa.

Com o recuo voluntário do lateral esquerdo Martín Cáceres e o apoio constante de Maxi Pereira pela direita, formou-se um 3-5-2 naturalmente no Uruguai.

Aos 41 minutos, Diego Forlán passou por Mathijsen e chutou forte de pé esquerdo, de fora da área. O goleiro Stekelenburg vai na bola, mas não consegue impedir o lindo gol do capitão uruguaio nessa noite (com nova ajuda da Jabulani).

No segundo tempo, a Holanda veio com Rafael van der Vaart, meia criativo, no lugar de Demy de Zeeuw, um volante marcador. Passou a jogar no 4-1-4-1, tendo apenas Mark van Bommel na proteção à defesa. Mas com um armador a mais, a qualidade de Sneijder começou a aparecer, com trocas de passes cada vez mais envolventes.

No início da segunda etapa, quase a virada dos sul-americanos. Álvaro Pereira tentou um gol por cobertura, mas Van Bronckhorst salvou pouco antes da linha. Pouco depois, Forlán exigiu uma boa defesa de Stekelenburg em cobrança de falta venenosa.

Mas, em um intervalo de quatro minutos, a Holanda liquidou a fatura.

Aos 25 minutos, Robben cruzou da direita, Sneijder dominou e bateu. A bola desviou em Maxi Pereira e entrou no canto esquerdo, chegando a tocar na trave. Os uruguaios reclamaram muito da arbitragem, pois Van Persie estava em posição de impedimento, mas não chegou a tocar na bola. Gol validado e 2 a 1 no placar.

A Celeste nem tinha se recuperado e já tomava outro gol. Aos 28′, Kuyt cruzou a bola da esquerda e Robben cabeceou livre no canto direito de Muslera. Nos três gols holandeses a bola tocou na trave antes de entrar.

Mas, como já conhecemos, o Uruguai sempre luta até o fim. A pressão no “abafa” deu resultado aos 47 minutos do segundo tempo. Gargano cobrou falta rápida para Maxi Pereira. O lateral direito cortou o marcador e bateu de esquerda, no cantinho do goleiro holandês.

O gol incendiou o jogo e os sul-americanos partiram com tudo ao ataque, na esperança de empatar no finzinho, mas não obteve sucesso. O árbitro Ravshan Irmatov, do Uzbequistão, tinha dado três minutos de acréscimo, mas deixou a partida beirar os 50, para desespero dos holandeses.


Diego Forlán chuta para marcar o gol de empate uruguaio, ainda no primeiro tempo (Imagem: Gatty Images)

● No fim, tristeza em azul e comemoração eufórica dos laranjas. Os uruguaios dizem que empatariam se tivessem mais cinco minutos a serem jogados. Também afirmam que não perderiam, se tivessem contado com o capitão Lugano.

A Holanda volta a uma final após ser vice-campeã em 1974 e 1978. A geração de Sneijder, Robben e Van Persie se iguala ao mítico time de Ruud Krol, Johan Neeskens e Rob Rensenbrink (Johan Cruijff só jogou em 1974). Enfrentará a Espanha, campeã da Eurocopa de 2008 e que conta com a melhor geração de sua história. Falaremos dessa final no próximo dia 11/07.


Giovanni van Bronckhorst abriu o placar. (Imagem: Carlos Barria/Reuters)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 3 x 2 URUGUAI

 

Data: 06/07/2010

Horário: 20h30 locais

Estádio: Green Point Stadium (Cape Town Stadium)

Público: 62.479

Cidade: Cidade do Cabo (África do Sul)

Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão)

 

HOLANDA (4-2-3-1):

URUGUAI (4-4-2):

1  Maarten Stekelenburg (G)

1  Fernando Muslera (G)

12 Khalid Boulahrouz

16 Maxi Pereira

3  John Heitinga

3  Diego Godín

4  Joris Mathijsen

6  Mauricio Victorino

5  Giovanni van Bronckhorst (C)

22 Martín Cáceres

6  Mark van Bommel

15 Diego Pérez

14 Demy de Zeeuw

5  Walter Gargano

11 Arjen Robben

17 Egidio Arévalo Ríos

10 Wesley Sneijder

11 Álvaro Pereira

7  Dirk Kuyt

10 Diego Forlán (C)

9  Robin van Persie

7  Edinson Cavani

 

Técnico: Bert van Marwijk

Técnico: Óscar Tabárez

 

SUPLENTES:

 

 

16 Michel Vorm (G)

12 Juan Castillo (G)

22 Sander Boschker (G)

23 Martín Silva (G)

2  Gregory van der Wiel

2  Diego Lugano

13 André Ooijer

19 Andrés Scotti

15 Edson Braafheid

4  Jorge Fucile

8  Nigel de Jong

8  Sebastián Eguren

18 Stijn Schaars

18 Ignacio González

23 Rafael van der Vaart

20 Álvaro Fernández

20 Ibrahim Afellay

14 Nicolás Lodeiro

17 Eljero Elia

21 Sebastián Fernández

19 Ryan Babel

13 Sebastián “Loco” Abreu

21 Klaas-Jan Huntelaar

9  Luis Suárez

 

GOLS:

18′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

41′ Diego Forlán (URU)

70′ Wesley Sneijder (HOL)

73′ Arjen Robben (HOL)

90+2′ Maxi Pereira (URU)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Maxi Pereira (URU)

29′ Martín Cáceres (URU)

29′ Wesley Sneijder (HOL)

78′ Khalid Boulahrouz (HOL)

90+5′ Mark van Bommel (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Demy de Zeeuw (HOL) ↓

Rafael van der Vaart (HOL) ↑

 

78′ Álvaro Pereira (URU) ↓

Sebastián “Loco” Abreu (URU) ↑

 

84′ Diego Forlán (URU) ↓

Sebastián Fernández (URU) ↑

 

89′ Arjen Robben (HOL) ↓

Eljero Elia (HOL) ↑

Melhores momentos da partida, com narração de Milton Leite:

… 05/07/1982 – Brasil 2 x 3 Itália

Três pontos sobre…
… 05/07/1982 – Brasil 2 x 3 Itália

“A tragédia do Sarriá”


Gentile, que de “gentil” tinha só o nome, colou em Zico a partida toda (Imagem: Globo Esporte)

● Com certeza a Copa do Mundo de 1982 não faz parte das boas memórias de grande parte dos brasileiros, mas deixou saudades nos amantes do bom futebol.

Os dois últimos confrontos em Mundiais entre os multicampeões tinham sido favoráveis para o Brasil, a começar pela vitória na final da Copa de 1970. Na decisão do 3º lugar da Copa de 1978, o Brasil (que tinha um time pior que o de 1982) venceu a Itália (que por sua vez tinha uma equipe melhor que a de quatro anos depois) por 2 a 1. E tudo indicava nova vitória tranquila.

O retrospecto do técnico Telê Santana na Seleção Brasileira atestava o favoritismo brasileiro: em 31 partidas, foram 23 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, 75 gols marcados e 19 sofridos. Toda a fase de preparação foi usando o sistema 4-3-3, mas na Copa, com a chegada de Falcão ao grupo, Telê Santana mudou para o 4-4-2 para acomodar o “Rei de Roma” no time titular.

Na fase de grupos, a Itália se classificou como segunda colocada do Grupo 1, com três empates: Polônia (0 x 0), Peru (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Só se classificou porque fez um gol a mais que Camarões (que também empatou três vezes). Na primeira partida do grupo C das quartas de final, veio a primeira vitória: sobre Argentina por 2 a 1. Apesar da fraca primeira fase, a vitória contra os então campeões mundiais elevou o moral da Squadra Azzurra.

O Brasil foi líder do Grupo 6 com seis pontos. Estreou vencendo com dificuldades a União Soviética por 2 a 1, goleou a Escócia por 4 a 1 e a Nova Zelândia por 4 a 0. Ao fim da primeira fase, o Brasil era apontado como o provável campeão por 51% da imprensa internacional. No grupo das quartas de final, vitória convincente sobre a arquirrival Argentina por 3 a 1. Assim, por ter marcado um gol a mais nos “hermanos“, o Brasil jogaria por um empate contra a Itália.

O clima interno entre os italianos não era dos melhores. Alguns jogadores não se entendiam e, em uma tentativa de ficarem mais unidos, passaram a não dar entrevista para a imprensa de seu país. A exceção era o capitão e líder o grupo, o goleiro Dino Zoff, que era o porta voz de seus companheiros. O clima de guerra começou quando a imprensa italiana divulgou boatos de que rolavam orgias homossexuais na concentração da seleção. Todos os jogadores só voltaram a dar entrevista após a conquista do título.

Já do lado brasileiro, o clima era de festa. A trilha sonora que animava a galera era a música composta e gravada pelo lateral Júnior: “Voa, canarinho, voa“. O disco vendeu 600 mil cópias.


O Brasil atuava no 4-4-2, um sistema montado para acomodar os quatro destaques no meio campo. Os laterais eram bastante ofensivos e até o zagueiro Luizinho gostava de se aventurar no ataque. Faltava alguém na ponta direita, tanto para atacar, quanto para defender.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1.

● Mesmo com a obrigação de vencer do lado italiano, o técnico Telê Santana mandou o time atacar desde o início. Mas o Brasil se viu surpreendido por uma fortíssima marcação italiana, especialmente a marcação individual feita por Claudio Gentile em Zico (ele já havia marcado Maradona no jogo anterior e tinha obtido sucesso).

Mas antes que a partida tomasse forma, a Itália abriu o placar. Aos cinco minutos, Bruno Conti avançou quarenta metros sem ser incomodado, passou por dois brasileiros e virou o jogo para Cabrini. O lateral avançou sem marcação e cruzou no bico da pequena área. Paolo Rossi apareceu nas costas de Luizinho e Júnior e cabeceou por baixo, no canto direito de Waldir Peres.

A Seleção não se abateu e foi criando chances, especialmente com Zico. Primeiro, aos 10′, quando ele fez a jogada para si mesmo, mas foi atrapalhado por Serginho, que chutou bisonhamente para fora, mesmo já estando impedido.

Aos 12, o mesmo Zico recebeu de Sócrates na intermediária, passou pelo implacável Gentile e devolveu para Sócrates ganhar na corrida de Scirea e bater cruzado, em um pequeno espaço entre Dino Zoff e a trave. Jogo empatado.

Os brasileiros (e o universo inteiro) achavam que a virada sairia naturalmente, mas Paolo Rossi apareceu de novo.

Aos 25 minutos, Paolo Rossi voltava para a intermediária. Em uma saída de jogo brasileira, Cerezo tocou sem olhar e deu a bola no pé do camisa 20 italiano. O “carrasco” chutou de fora da área e marcou seu segundo gol.

Aos 42, Gentile agarrou Zico dentro da área, de forma tão acintosa, que rasgou feio a camisa 10 do “Galinho de Quintino”, mas o árbitro israelense Abraham Klein nada marcou.

No início do segundo tempo, pressão total do Brasil, enquanto a Itália se segurava e desafogava o jogo pelo lado esquerdo, com o ótimo lateral Cabrini. Ele se aproveitava por ter espaço, pois o Brasil não tinha ninguém fixo na ponta direita. Sócrates, Falcão e Cerezo deveriam se revezar na marcação por ali, mas Cabrini sempre aparecia livre, como no lance do primeiro gol.

O empate veio aos 23′ do segundo tempo. Júnior lançou de trivela para Falcão, que dominou de frente para a área. Cerezo passou pela direita e puxou a marcação de Tardelli e Scirea. Genial, Falcão cortou para o meio e chutou forte de esquerda, no canto direito de Zoff. Na comemoração, o mundo inteiro viu as veias pulsantes do camisa 15. Linda cena.

Só então Telê passou a gostar do empate e deixou a Seleção mais defensiva, tirando Serginho e colocando Paulo Isidoro na direita, avançando Sócrates como atacante pelo meio. Mas nem assim o Brasil deixou de atacar.

Mas apenas seis minutos depois de ter igualado o marcador, novo castigo. Antognoni cruzou e Cerezo recuou mal para o goleiro Waldir Peres, dando um escanteio de graça para o adversário. Bruno Conti cobrou, Sócrates e Oscar tentaram afastar em disputa pelo alto com Scirea e a bola caiu na meia-lua. De costas para o gol, Tardelli chuta para o meio e Paolo Rossi, livre, desvia para as redes. Júnior pediu impedimento, mas ele próprio, posicionado quase no pé da trave, dava condições ao carrasco brasileiro. No momento do escanteio, todos os 11 jogadores brasileiros estavam na área, se defendendo.

O gol exauriu as energias do Brasil e as investidas ofensivas foram ficando escassas. A Itália se sentia mais confortável, não só segurando o placar, mas também atacando. Depois de linda jogada de Conti e Oriali, Antognoni chegou a marcar o quarto gol italiano, mas o árbitro marcou um impedimento inexistente.

No total, foram 27 arremates a gol do Brasil, contra apenas nove da Itália (proporção de 3/1). Mas nos 15 minutos finais, os brasileiros, que até então somavam 25 finalizações à meta italiana, só arremataram mais duas vezes.

Uma delas, aos 43 minutos do segundo tempo, quando Éder cobrou falta no segundo pau e Oscar cabeceou de cima para baixo, como se manda o figurino. Mas o mágico Dino Zoff voou e fez a defesa sem dar rebote. Os brasileiros reclamaram que o goleiro italiano teria defendido já dentro do gol, mas isso não aconteceu.

Por incrível que pareça, era a ressurreição de dois heróis italianos. Dino Zoff foi bastante criticado não só pela idade elevada, mas por ter tomado um gol de Nelinho na decisão do 3º lugar da Copa de 1978, justamente contra o Brasil. Já Paolo Rossi, estava há dois anos sem jogar. Envolvido no escândalo da loteria esportiva italiana, em 1980, ele foi suspenso por três anos, mas teve a pena revogada em abril de 1982. Ou seja, ele voltou a jogar apenas dois meses antes da Copa, justamente para aniquilar a esperança do tetracampeonato mundial brasileiro na Espanha.


Falcão, comemorando o gol de empate, que até então dava a classificação ao Brasil (Imagem: Veja)

● Após a partida, o saguão do estádio ainda estava cheio, mas o que se viam eram rostos espantados e jornalistas pálidos, tentando encontrar alguma explicação para a derrota do Brasil. O estádio Sarriá, em Barcelona, foi desativado em 1997 e vendido para pagar dívidas do seu proprietário, o Club Espanyol. Ele foi demolido e hoje é uma área residencial.

Dia 05/07/1982 foi o dia em que a ingenuidade morreu. Foi a primeira grande vitória do sistema sobre o talento intuitivo. Essa sensação de derrotismo mostra o sentimento de superioridade exagerada que se instalou no futebol brasileiro à época. Cegos de arrogância e num delírio coletivo, ignoraram o fato de que a Itália jogou melhor e mereceu vencer naquele dia. Todos se lembram da partida como a derrota do Brasil, a derrota do futebol. Mas se esquecem que do outro lado tinha a Itália, bicampeã do mundo, de camisa pesada, com jogadores de altíssimo nível, tanto como os brasileiros. A Squadra Azzurra de 1982 merece seu lugar na história, pois foi campeã do mundo sem ficar atrás do placar em nenhum momento, de nenhum jogo (assim como a própria Itália de 1938 e a Alemanha Ocidental de 1990).

Ficar procurando culpados não irá mudar a história da partida. Existe também o boato dos patrocínios particulares para alguns jogadores comemorarem gols perto de placas de publicidade específicas, mas falaremos disso em outra oportunidade.

A Itália bateu a Polônia na semifinal (2 x 0) e a Alemanha Ocidental na decisão (3 x 1). Dino Zoff se tornou o jogador mais velho a vencer uma Copa do Mundo. Quando o capitão ergueu a taça, tinha quarenta anos e 133 dias.

Paolo Rossi terminou como artilheiro do torneio com seis gols. Ele só marcou o primeiro gol no quinto jogo de sua seleção, contra o Brasil (marcaria três nesse jogo). Depois, marcou mais dois sobre a Polônia na semifinal e um na final contra os alemães. Rossi é o único jogador até hoje que foi campeão, artilheiro e melhor jogador de uma Copa do Mundo.


Paolo Rossi fuzila Waldir Peres no terceiro gol italiano (Imagem: Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 3 ITÁLIA

 

Data: 05/07/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: Sarrià

Público: 44.000

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Waldir Peres (G)

1  Dino Zoff (G)(C)

2  Leandro

6  Claudio Gentile

3  Oscar

5  Fulvio Collovati

4  Luizinho

7  Gaetano Scirea

6  Júnior

4  Antonio Cabrini

5  Toninho Cerezo

13 Gabriele Oriali

15 Falcão

14 Marco Tardelli

10 Zico

9  Giancarlo Antognoni

8  Sócrates (C)

16 Bruno Conti

9  Serginho Chulapa

20 Paolo Rossi

11 Éder

19 Francesco Graziani

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Enzo Bearzot

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Sérgio (G)

12 Ivano Bordon (G)

22 Carlos (G)

22 Giovanni Galli (G)

13 Edevaldo

3  Giuseppe Bergomi

14 Juninho Fonseca

2  Franco Baresi

16 Edinho

8  Pietro Vierchowod

17 Pedrinho Vicençote

10 Giuseppe Dossena

18 Batista

11 Gianpiero Marini

7  Paulo Isidoro

15 Franco Causio

19 Renato Pé Murcho

21 Franco Selvaggi

20 Roberto Dinamite

17 Daniele Massaro

21 Dirceu

18 Alessandro Altobelli

 

GOLS:

5′ Paolo Rossi (ITA)

12′ Sócrates (BRA)

25′ Paolo Rossi (ITA)

68′ Falcão (BRA)

74′ Paolo Rossi (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

13′ Claudio Gentile (ITA)

78′ Gabriele Oriali (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

34′ Fulvio Collovati (ITA) ↓

Giuseppe Bergomi (ITA)

 

69′ Serginho Chulapa (BRA) ↓

Paulo Isidoro (BRA)

 

75′ Marco Tardelli (ITA) ↓

Gianpiero Marini (ITA)


A capa que entrou para a história. No dia 06/07/1982, o extinto Jornal da Tarde trazia a foto do garoto José Carlos Vilella Jr, que tinha dez anos na época. A imagem, feita pelo fotógrafo Reginaldo Manente, ganhou o “Prêmio Esso“, a maior honraria do jornalismo no país na época.

Reportagem especial do Globo Esporte sobre a partida: