… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil


Piola passa pela defesa brasileira (Imagem: Pinterest)

● Nenhuma partida é fácil em uma Copa do Mundo. Em 1938, após a vitória na estreia sobre a Polônia por 6 a 5 na prorrogação, o Brasil enfrentou a Tchecoslováquia (vice-campeã da Copa anterior). Após um empate em 1 a 1, foi necessário o jogo desempate, vencido pelos brasileiros por 2 a 1. Nessa segunda partida, o técnico Ademar Pimenta escalou a equipe com nove alterações em relação à anterior. As exceções era o goleiro Walter e o centroavante Leônidas da Silva, que só foi escalado porque Niginho, seu reserva imediato, estava com a documentação irregular junto à FIFA.

Veja mais:
… 05/06/1938 – Brasil 6 x 5 Polônia
… 12/06/1938 – Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia

… Domingos da Guia: o maior zagueiro da história do Brasil
… Patesko: ponta esquerda craque e letal
… Luís Mesquita de Oliveira: ícone do futebol paulista nos anos 1930

Por ironia do destino, Leônidas (já combalido pelos pontapés do primeiro embate contra os tchecos) se exauriu no jogo seguinte e não pôde jogar a semifinal contra a Itália. Por muito tempo Ademar Pimenta foi acusado de ter poupado Leônidas contra a Itália para resguardá-lo para a final, o que não é verdade, pois ele era imprescindível para todos os jogos.

Sem Leônidas e sem Tim (melhor da segunda partida contra os tchecos), o Brasil perdeu seu encanto e se tornou um time comum. Romeu, que era meia, foi improvisado como centroavante. A linha de frente do Brasil foi formada por Lopes, Luisinho, Romeu, Perácio e Patesko. Esse ataque nunca havia atuado junto.

Campeões em 1934, os italianos renovaram e fortaleceram toda a seleção, especialmente no ataque, com a entrada de Silvio Piola na equipe. Ele foi o melhor jogador da Copa de 1938, na qual anotou cinco gols.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.

O Brasil também atuava no “sistema clássico”, o 2-3-5. Com Romeu improvisado como centroavante, ninguém atuou fixo na área. Por mais que o ataque tenha tido mais mobilidade, pois outro lado, faltou presença física na área adversária.

● O jogo começa com as duas seleções pressionando as defesas contrárias. O Brasil esteve bem no primeiro tempo, com tabelas rápidas e dribles imprevisíveis no ataque, mas sem criar chances claras de gols. Em uma etapa equilibrada, as duas defesas se sobressaiam aos ataques. Mas a situação foi bem diferente no segundo tempo.

Logo aos seis minutos, na primeira vez que conseguiu escapar da marcação, o atacante Piola se antecipou a Domingos da Guia e tocou na esquerda para Gino Colaussi, livre para chutar forte e rasteiro, à esquerda do goleiro Walter e fazer 1 a 0.

A Seleção Brasileira correu atrás do empate, mas aos 15 minutos houve o lance capital da partida. Do meio campo, o árbitro suíço Hans Wüthrich flagrou uma agressão de Domingos sobre Piola dentro da área e assinalou pênalti. O zagueiro brasileiro aproveitou que a bola estava longe da área e, fora do lance, deu um chute no joelho do atacante, revidando as inúmeras provocações feitas pelo italiano. Domingos jura que a partida estava paralisada, mas a verdade é que, naquele momento, a defesa brasileira havia rebatido uma bola para o meio campo e o jogo estava em andamento.

“O jogo estava parado. Piola vinha na corrida e me atingiu com um pontapé, que eu revidei. Admitiria que o juiz fosse rigoroso comigo. Mas não podia prejudicar o time com o jogo parado.” — Domingos da Guia, em sua versão sobre o pênalti.

Domingos da Guia, considerado por muitos como o melhor e mais técnico zagueiro brasileiro da história, cometeu três pênaltis em quatro partidas na Copa de 1938. Neste sobre Piola, Domingos foi irresponsável.

Mesmo com protestos brasileiros, a penalidade foi ratificada. Na hora de bater o pênalti, o italiano Giuseppe Meazza resolveu amarrar melhor o calção, mas acabou rompendo o cordão. Assim, com a mão na cintura para segurar o calção, ele converteu o pênalti, no ângulo direito. Ao comemorar o gol, Meazza levantou os dois braços e deixou o calção cair, em uma cena hilária. Depois do gol, ele finalmente trocou a vestimenta para terminar a partida.

Depois do segundo gol, a Itália se retraiu. No fim da partida, Romeu fez uma bela jogada individual e tocou no canto de Olivieri, para diminuir o marcador. Mas insuficiente para levar o Brasil à sua primeira decisão de Copa.

A Itália chegava em sua segunda final consecutiva, como favorita.


A defesa brasileira rechaça um cruzamento italiano (Imagem: FIFA)

● Horas após o jogo, a Rádio Tupi soltou o furo de reportagem de que a partida seria anulada e disputada novamente, por causa do erro da arbitragem na marcação do pênalti. Mas não era verdade. O médico brasileiro Castello Branco realmente fez uma reclamação formal, mas a verdade é que a FIFA nunca considerou a possibilidade da anulação.

O Brasil estava tão confiante na vitória sobre a Itália, que já havia comprado as passagens aéreas de Marselha para Paris, onde seria a final da Copa. Depois da derrota, por pura raiva, os brasileiros se recusaram a ceder as passagens aos italianos, obrigando-os a fazer essa viagem de trem.

A qualidade técnica dos jogadores brasileiros era bastante apreciada pela torcida e pelos jornais franceses, mas não repercutia bem no resto do mundo. A pecha de “artistas da bola” não era vista como uma coisa boa, pois não resultava em títulos. Assim, o Brasil foi aplaudido pelo bom futebol que demonstrou, mas era criticado por ser frágil tática e psicologicamente. Com excessivas trocas de passes curtos e laterais, o ataque brasileiro era muito lento, permitindo o melhor posicionamento das equipes adversárias. Era um estilo bonito, mas não dava resultados em campo.

A imprensa brasileira também via os defeitos da Seleção. Segundo o jornal Sport Ilustrado, a Itália mereceu vencer, pois tinha jogado melhor e que o Brasil tinha tido “um ataque inoperante e sem energia e uma linha média parada e pouco combatida, salvando-se apenas a defesa”.

Brasil e Itália certamente foram as duas melhores equipes da competição. Pena que se encontraram na semifinal e não na decisão.

A polícia brasileira teve que intervir em algumas capitais, detendo várias pessoas raivosas e frustradas pela derrota para a Itália.

Com Leônidas da Silva de volta, o Brasil fez história na decisão do 3º lugar. Após sair perdendo por 2 a 0, a Seleção virou o placar para 4 a 2 e fez a sua melhor campanha em Copas até então. Essa foi a maior virada do Brasil em uma Copa até hoje.

Leônidas da Silva foi o artilheiro do certame com sete gols, sendo o único brasileiro a marcar gols em todas as partidas que disputou em Copas (fez um gol também em 1934).

Aproveitando-se da popularidade de Leônidas, a Lacta lançou a barra de chocolate “Diamante Negro”, em referência ao apelido que o craque tinha recebido dos uruguaios em 1932.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Martim Silveira e Giuseppe Meazza (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 16/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Vélodrome

Público: 33.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Hans Wüthrich (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Walter (G)

Alfredo Foni

Domingos da Guia

Pietro Rava

Machado

Pietro Serantoni

Zezé Procópio

Michele Andreolo

Martim Silveira (C)

Ugo Locatelli

Afonsinho

Amedeo Biavati

Lopes

Giuseppe Meazza (C)

Luisinho Mesquita de Oliveira

Silvio Piola

Romeu Pellicciari

Giovanni Ferrari

Perácio

Gino Colaussi

Patesko

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Ademar Pimenta

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Batatais (G)

Carlo Ceresoli (G)

Jaú

Eraldo Monzeglio

Nariz

Bruno Chizzo

Britto

Aldo Donati

Brandão

Renato Olmi

Argemiro

Mario Genta

Roberto

Mario Perazzolo

Niginho

Sergio Bertoni

Leônidas da Silva

Pietro Ferraris

Tim

Pietro Pasinati

Hércules

 

GOLS:

51′ Gino Colaussi (ITA)

60′ Giuseppe Meazza (ITA) (pen)

87′ Romeu Pellicciari (BRA) 

Lances da partida:

Um comentário em “… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

  1. Pingback: ... Evolução tática e regressão técnica do futebol brasileiro - Três Pontos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *