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… 05/07/1982 – Brasil 2 x 3 Itália

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… 05/07/1982 – Brasil 2 x 3 Itália

“A tragédia do Sarriá”


Gentile, que de “gentil” tinha só o nome, colou em Zico a partida toda (Imagem: Globo Esporte)

● Com certeza a Copa do Mundo de 1982 não faz parte das boas memórias de grande parte dos brasileiros, mas deixou saudades nos amantes do bom futebol.

Os dois últimos confrontos em Mundiais entre os multicampeões tinham sido favoráveis para o Brasil, a começar pela vitória na final da Copa de 1970. Na decisão do 3º lugar da Copa de 1978, o Brasil (que tinha um time pior que o de 1982) venceu a Itália (que por sua vez tinha uma equipe melhor que a de quatro anos depois) por 2 a 1. E tudo indicava nova vitória tranquila.

O retrospecto do técnico Telê Santana na Seleção Brasileira atestava o favoritismo brasileiro: em 31 partidas, foram 23 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, 75 gols marcados e 19 sofridos. Toda a fase de preparação foi usando o sistema 4-3-3, mas na Copa, com a chegada de Falcão ao grupo, Telê Santana mudou para o 4-4-2 para acomodar o “Rei de Roma” no time titular.

Na fase de grupos, a Itália se classificou como segunda colocada do Grupo 1, com três empates: Polônia (0 x 0), Peru (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Só se classificou porque fez um gol a mais que Camarões (que também empatou três vezes). Na primeira partida do grupo C das quartas de final, veio a primeira vitória: sobre Argentina por 2 a 1. Apesar da fraca primeira fase, a vitória contra os então campeões mundiais elevou o moral da Squadra Azzurra.

O Brasil foi líder do Grupo 6 com seis pontos. Estreou vencendo com dificuldades a União Soviética por 2 a 1, goleou a Escócia por 4 a 1 e a Nova Zelândia por 4 a 0. Ao fim da primeira fase, o Brasil era apontado como o provável campeão por 51% da imprensa internacional. No grupo das quartas de final, vitória convincente sobre a arquirrival Argentina por 3 a 1. Assim, por ter marcado um gol a mais nos “hermanos“, o Brasil jogaria por um empate contra a Itália.

O clima interno entre os italianos não era dos melhores. Alguns jogadores não se entendiam e, em uma tentativa de ficarem mais unidos, passaram a não dar entrevista para a imprensa de seu país. A exceção era o capitão e líder o grupo, o goleiro Dino Zoff, que era o porta voz de seus companheiros. O clima de guerra começou quando a imprensa italiana divulgou boatos de que rolavam orgias homossexuais na concentração da seleção. Todos os jogadores só voltaram a dar entrevista após a conquista do título.

Já do lado brasileiro, o clima era de festa. A trilha sonora que animava a galera era a música composta e gravada pelo lateral Júnior: “Voa, canarinho, voa“. O disco vendeu 600 mil cópias.


O Brasil atuava no 4-4-2, um sistema montado para acomodar os quatro destaques no meio campo. Os laterais eram bastante ofensivos e até o zagueiro Luizinho gostava de se aventurar no ataque. Faltava alguém na ponta direita, tanto para atacar, quanto para defender.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1.

● Mesmo com a obrigação de vencer do lado italiano, o técnico Telê Santana mandou o time atacar desde o início. Mas o Brasil se viu surpreendido por uma fortíssima marcação italiana, especialmente a marcação individual feita por Claudio Gentile em Zico (ele já havia marcado Maradona no jogo anterior e tinha obtido sucesso).

Mas antes que a partida tomasse forma, a Itália abriu o placar. Aos cinco minutos, Bruno Conti avançou quarenta metros sem ser incomodado, passou por dois brasileiros e virou o jogo para Cabrini. O lateral avançou sem marcação e cruzou no bico da pequena área. Paolo Rossi apareceu nas costas de Luizinho e Júnior e cabeceou por baixo, no canto direito de Waldir Peres.

A Seleção não se abateu e foi criando chances, especialmente com Zico. Primeiro, aos 10′, quando ele fez a jogada para si mesmo, mas foi atrapalhado por Serginho, que chutou bisonhamente para fora, mesmo já estando impedido.

Aos 12, o mesmo Zico recebeu de Sócrates na intermediária, passou pelo implacável Gentile e devolveu para Sócrates ganhar na corrida de Scirea e bater cruzado, em um pequeno espaço entre Dino Zoff e a trave. Jogo empatado.

Os brasileiros (e o universo inteiro) achavam que a virada sairia naturalmente, mas Paolo Rossi apareceu de novo.

Aos 25 minutos, Paolo Rossi voltava para a intermediária. Em uma saída de jogo brasileira, Cerezo tocou sem olhar e deu a bola no pé do camisa 20 italiano. O “carrasco” chutou de fora da área e marcou seu segundo gol.

Aos 42, Gentile agarrou Zico dentro da área, de forma tão acintosa, que rasgou feio a camisa 10 do “Galinho de Quintino”, mas o árbitro israelense Abraham Klein nada marcou.

No início do segundo tempo, pressão total do Brasil, enquanto a Itália se segurava e desafogava o jogo pelo lado esquerdo, com o ótimo lateral Cabrini. Ele se aproveitava por ter espaço, pois o Brasil não tinha ninguém fixo na ponta direita. Sócrates, Falcão e Cerezo deveriam se revezar na marcação por ali, mas Cabrini sempre aparecia livre, como no lance do primeiro gol.

O empate veio aos 23′ do segundo tempo. Júnior lançou de trivela para Falcão, que dominou de frente para a área. Cerezo passou pela direita e puxou a marcação de Tardelli e Scirea. Genial, Falcão cortou para o meio e chutou forte de esquerda, no canto direito de Zoff. Na comemoração, o mundo inteiro viu as veias pulsantes do camisa 15. Linda cena.

Só então Telê passou a gostar do empate e deixou a Seleção mais defensiva, tirando Serginho e colocando Paulo Isidoro na direita, avançando Sócrates como atacante pelo meio. Mas nem assim o Brasil deixou de atacar.

Mas apenas seis minutos depois de ter igualado o marcador, novo castigo. Antognoni cruzou e Cerezo recuou mal para o goleiro Waldir Peres, dando um escanteio de graça para o adversário. Bruno Conti cobrou, Sócrates e Oscar tentaram afastar em disputa pelo alto com Scirea e a bola caiu na meia-lua. De costas para o gol, Tardelli chuta para o meio e Paolo Rossi, livre, desvia para as redes. Júnior pediu impedimento, mas ele próprio, posicionado quase no pé da trave, dava condições ao carrasco brasileiro. No momento do escanteio, todos os 11 jogadores brasileiros estavam na área, se defendendo.

O gol exauriu as energias do Brasil e as investidas ofensivas foram ficando escassas. A Itália se sentia mais confortável, não só segurando o placar, mas também atacando. Depois de linda jogada de Conti e Oriali, Antognoni chegou a marcar o quarto gol italiano, mas o árbitro marcou um impedimento inexistente.

No total, foram 27 arremates a gol do Brasil, contra apenas nove da Itália (proporção de 3/1). Mas nos 15 minutos finais, os brasileiros, que até então somavam 25 finalizações à meta italiana, só arremataram mais duas vezes.

Uma delas, aos 43 minutos do segundo tempo, quando Éder cobrou falta no segundo pau e Oscar cabeceou de cima para baixo, como se manda o figurino. Mas o mágico Dino Zoff voou e fez a defesa sem dar rebote. Os brasileiros reclamaram que o goleiro italiano teria defendido já dentro do gol, mas isso não aconteceu.

Por incrível que pareça, era a ressurreição de dois heróis italianos. Dino Zoff foi bastante criticado não só pela idade elevada, mas por ter tomado um gol de Nelinho na decisão do 3º lugar da Copa de 1978, justamente contra o Brasil. Já Paolo Rossi, estava há dois anos sem jogar. Envolvido no escândalo da loteria esportiva italiana, em 1980, ele foi suspenso por três anos, mas teve a pena revogada em abril de 1982. Ou seja, ele voltou a jogar apenas dois meses antes da Copa, justamente para aniquilar a esperança do tetracampeonato mundial brasileiro na Espanha.


Falcão, comemorando o gol de empate, que até então dava a classificação ao Brasil (Imagem: Veja)

● Após a partida, o saguão do estádio ainda estava cheio, mas o que se viam eram rostos espantados e jornalistas pálidos, tentando encontrar alguma explicação para a derrota do Brasil. O estádio Sarriá, em Barcelona, foi desativado em 1997 e vendido para pagar dívidas do seu proprietário, o Club Espanyol. Ele foi demolido e hoje é uma área residencial.

Dia 05/07/1982 foi o dia em que a ingenuidade morreu. Foi a primeira grande vitória do sistema sobre o talento intuitivo. Essa sensação de derrotismo mostra o sentimento de superioridade exagerada que se instalou no futebol brasileiro à época. Cegos de arrogância e num delírio coletivo, ignoraram o fato de que a Itália jogou melhor e mereceu vencer naquele dia. Todos se lembram da partida como a derrota do Brasil, a derrota do futebol. Mas se esquecem que do outro lado tinha a Itália, bicampeã do mundo, de camisa pesada, com jogadores de altíssimo nível, tanto como os brasileiros. A Squadra Azzurra de 1982 merece seu lugar na história, pois foi campeã do mundo sem ficar atrás do placar em nenhum momento, de nenhum jogo (assim como a própria Itália de 1938 e a Alemanha Ocidental de 1990).

Ficar procurando culpados não irá mudar a história da partida. Existe também o boato dos patrocínios particulares para alguns jogadores comemorarem gols perto de placas de publicidade específicas, mas falaremos disso em outra oportunidade.

A Itália bateu a Polônia na semifinal (2 x 0) e a Alemanha Ocidental na decisão (3 x 1). Dino Zoff se tornou o jogador mais velho a vencer uma Copa do Mundo. Quando o capitão ergueu a taça, tinha quarenta anos e 133 dias.

Paolo Rossi terminou como artilheiro do torneio com seis gols. Ele só marcou o primeiro gol no quinto jogo de sua seleção, contra o Brasil (marcaria três nesse jogo). Depois, marcou mais dois sobre a Polônia na semifinal e um na final contra os alemães. Rossi é o único jogador até hoje que foi campeão, artilheiro e melhor jogador de uma Copa do Mundo.


Paolo Rossi fuzila Waldir Peres no terceiro gol italiano (Imagem: Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 3 ITÁLIA

 

Data: 05/07/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: Sarrià

Público: 44.000

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Waldir Peres (G)

1  Dino Zoff (G)(C)

2  Leandro

6  Claudio Gentile

3  Oscar

5  Fulvio Collovati

4  Luizinho

7  Gaetano Scirea

6  Júnior

4  Antonio Cabrini

5  Toninho Cerezo

13 Gabriele Oriali

15 Falcão

14 Marco Tardelli

10 Zico

9  Giancarlo Antognoni

8  Sócrates (C)

16 Bruno Conti

9  Serginho Chulapa

20 Paolo Rossi

11 Éder

19 Francesco Graziani

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Enzo Bearzot

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Sérgio (G)

12 Ivano Bordon (G)

22 Carlos (G)

22 Giovanni Galli (G)

13 Edevaldo

3  Giuseppe Bergomi

14 Juninho Fonseca

2  Franco Baresi

16 Edinho

8  Pietro Vierchowod

17 Pedrinho Vicençote

10 Giuseppe Dossena

18 Batista

11 Gianpiero Marini

7  Paulo Isidoro

15 Franco Causio

19 Renato Pé Murcho

21 Franco Selvaggi

20 Roberto Dinamite

17 Daniele Massaro

21 Dirceu

18 Alessandro Altobelli

 

GOLS:

5′ Paolo Rossi (ITA)

12′ Sócrates (BRA)

25′ Paolo Rossi (ITA)

68′ Falcão (BRA)

74′ Paolo Rossi (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

13′ Claudio Gentile (ITA)

78′ Gabriele Oriali (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

34′ Fulvio Collovati (ITA) ↓

Giuseppe Bergomi (ITA)

 

69′ Serginho Chulapa (BRA) ↓

Paulo Isidoro (BRA)

 

75′ Marco Tardelli (ITA) ↓

Gianpiero Marini (ITA)


A capa que entrou para a história. No dia 06/07/1982, o extinto Jornal da Tarde trazia a foto do garoto José Carlos Vilella Jr, que tinha dez anos na época. A imagem, feita pelo fotógrafo Reginaldo Manente, ganhou o “Prêmio Esso“, a maior honraria do jornalismo no país na época.

Reportagem especial do Globo Esporte sobre a partida:

… 04/07/1954 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria

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… 04/07/1954 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria

“O milagre de Berna”


Jogadores alemães comemoram o surpreendente título mundial (Imagem: Globo Esporte)

● Todos os 62.500 expectadores presentes no estádio Wankdorf, em Berna, estavam ansiosos para assistir mais um show da fantástica seleção da Hungria. A “Aranycsapat” (“Equipe de Ouro“, no idioma húngaro) estava invicta a 36 partidas (32 vitórias e 4 empates) e já tinha massacrado a própria Alemanha Ocidental na primeira fase da Copa por 8 a 3. Mas tudo era diferente agora. A começar pela própria escalação do time alemão.

O técnico Sepp Herberger era uma verdadeira raposa. Ele assistiu ao show no amistoso contra a Inglaterra em 1953 (6 a 3 para os magiares, na primeira derrota inglesa em casa para uma seleção não britânica). Não só assistiu, como gravou a partida e a estudou minuciosamente a forma de jogar do adversário. Ele sabia muito bem como eles jogavam, mas os húngaros nada sabiam sobre o time alemão. Principalmente porque na derrota na primeira fase, Herberger escalou apenas seis dos seus titulares, sendo que dois jogaram fora de posição.

Outra diferença era o capitão Ferenc Puskás, que era dúvida até a véspera, devido a uma contusão causada por uma entrada criminosa do zagueiro alemão Werner Liebrich, no já citado jogo da primeira fase. Desde então, Puskás não tinha entrado em campo e ficou apenas fazendo tratamento (hidroterapia, eletrochoques, …) para se recuperar para uma eventual decisão. Ela chegou e Puskás jogou. Mesmo estando com apenas 50% de seu potencial, ele era o melhor jogador do mundo. Além do mais, desde sua saída do time, Kocsis tinha sempre dois marcadores em sua marcação. Com a volta de Puskás, o camisa 8 poderia ter mais espaço para continuar brilhando como fez a Copa toda. Kocsis foi o artilheiro do torneio, com 11 gols (era o recorde até ser batido por Just Fontaine em 1958).

A Alemanha vinha de partidas relativamente fáceis (7 a 2 na Turquia, 2 a 0 na Iugoslávia e 6 a 1 na Áustria), enquanto A Hungria vinha de uma verdadeira batalha contra o Brasil nas quartas de final. Na semifinal, os magiares precisaram da prorrogação para impor aos uruguaios sua primeira derrota na história das Copas. O desgaste físico era claramente maior do lado húngaro.

Na ponta direita, László Budai ainda estava completamente esgotado pelo jogo contra os uruguaios e József Tóth estava contundido desde o jogo contra o Brasil. Assim, o comandante técnico Gusztáv Sebes (o técnico em campo era Gyula Mandi) escalou Zoltán Czibor na direita. Apesar de Czibor nunca ter ocupado antes essa posição na seleção, já tinha jogado assim no início de carreira, no Komárom. A estratégia de Sebes era usar a velocidade de seu camisa 11 contra o lento zagueiro esquerdo alemão Werner Kohlmeyer.

Os húngaros dormiram muito mal na noite que antecedeu à decisão. Em frente ao hotel onde estavam hospedados, ocorreu o campeonato nacional de fanfarras da Suíça, com desfile até as duas horas da madrugada. Após uma pausa, as fanfarras voltaram a tocar logo após o almoço do domingo, justamente na hora que os jogadores gostam de tirar um cochilo.

Para piorar as coisas, a multidão nos arredores do estádio dificultou a chegada da delegação. O ônibus alemão tinha passado pouco antes e quando o veículo que levava a Hungria se aproximou, não teve sua entrada autorizada pela polícia suíça. Os campeões olímpicos tiveram que estacionar do lado de fora e andar no meio da multidão, já de desgastando física e mentalmente.

Trinta mil alemães que haviam atravessado a fronteira suíça empurravam sua seleção. Do outro lado, dava para contar nos dedos a torcida da Hungria. Na época, devido ao rígido regime comunista, os húngaros não tinham permissão do governo para viajar para o exterior, com medo de uma deserção em massa.

A chuva não ajudou. Ela castigou o gramado e o deixou pesado, atrapalhando o toque de bola húngaro (especialmente o recém recuperado Puskás) e facilitando o jogo de força alemão. Para o capitão e cérebro da Alemanha Ocidental, Fritz Walter, o tempo nublado e úmido e a temperatura na faixa dos 20º C era uma verdadeira bênção, já que seu rendimento caía em dias de sol e calor, por ter contraído malária na juventude. Por falar nele, Fritz Walter foi paraquedista e lutou pelo exército nazista na Segunda Guerra Mundial; depois do conflito, nunca mais entrou em um avião. Sepp Herberger também trabalhou para o regime nazista.

Outro grande fator que contribuiria para o sucesso alemão foram as chuteiras com travas cambiáveis, desenvolvida por Adolf “Adi” Dassler, que havia fundado a Adidas em 1949. Ele tinha tanto prestígio com o técnico Herberger, que era uma espécie de auxiliar informal. Vendo a situação do gramado antes da decisão, Dassler pôde aparafusar travas altas nas chuteiras de seus compatriotas. Enquanto eles usavam material próprio para gramados encharcados, os húngaros escorregavam em campo.


A Alemanha Ocidental atuava no sistema WM. Diferentemente da primeira fase, dessa vez escalou seus onze melhores.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Como Budai e József Tóth não estavam em condições de jogo, Czibor foi improvisado na ponta direita e Mihály Tóth continuou na ponta esquerda.

● Logo no primeiro minuto, a Alemanha surpreendeu e chegou ao ataque com Hans Schäfer. Os húngaros deram o troco na sequência, em um contra-ataque concluído por Sándor Kocsis e defendido pelo bom goleiro Toni Turek. Mas com o pioneiro aquecimento antes das partidas, a Hungria rapidamente abriu 2 a 0.

Aos seis minutos de jogo, Kocsis cortou por dentro e chutou em cima de Eckel. A bola sobrou na esquerda para Puskás, que ementou de primeira para o gol, sem chances para Turek.

Dois minutos depois, Kohlmeyer recuou mal para Turek, que saiu todo atrapalhado e soltou a bola. Czibor aproveitou o presente, se livrou dos dois trapalhões e mandou para o gol vazio.

Logo na sequência, a Hungria perdeu várias chances de anotar o terceiro gol. Então, o time relaxou e passou a tentar manter a bola no meio campo para cansar os alemães. Mas nada disso funcionou. A Alemanha sabia exatamente o que fazer para neutralizar as jogadas adversárias.

Aos dez minutos, Helmut Rahn dominou a bola na esquerda e chutou de longe, despretensioso. Zakariás tentou cortar, mas apenas amaciou a bola para Max Morlock, que vinha na corrida. De carrinho, ele tocou no canto direito, se antecipando ao goleiro Grosics.


Primeiro gol alemão, marcado por Max Morlock (Imagem localizada no Google)

O empate veio ainda aos 18 minutos do primeiro tempo. Fritz Walter cobrou escanteio. Hans Schäfer disputou na pequena área pelo alto Grosics, em um lance comum na época, mas que atualmente seria marcada falta clara. A bola passou pelos dois e sobrou para Rahn, que emendou de primeira para as redes, mesmo sem ângulo.

Logo em seguida, Hidegkuti passou por Karl Mai e chutou no pé da trave de Turek.


Com a marcação individual, Hidegkuti ficou preso na marcação do excelente Eckel.

Nesse momento o estrategista Sepp Herberger agiu de novo: ele recuou o experiente Fritz Walter para ajudar na saída de bola e colocou o meia defensivo Horst Eckel grudado em Hidegkuti, o cérebro e principal criador de jogadas da Hungria. Um sistema idealizado para liberar o centroavante de seu marcador caiu por terra quando o marcador foi deslocado para perto dele.

Mas ainda assim os húngaros conseguiam jogar melhor e criaram as melhores chances do segundo tempo: o próprio Hidegkuti acertou a trave esquerda, Kocsis cabeceou uma bola no travessão, Kohlmeyer salvou uma bola de Puskás em cima da linha e Turek fez uma inspirada sequência de grandes defesas.

Com inteligência, os alemães jogavam no contra-ataque, por apenas uma bola. E ela apareceu a seis minutos do fim. Schäfer ganhou a bola na intermediária, avançou e levantou para a área. Lantos cortou pelo alto e a bola rebatida caiu nos pés de Rahn. O camisa 12 driblou Lantos com a perna direita e, cercado por mais dois adversários, chutou rasteiro de perna esquerda. A bola pegou velocidade no gramado molhado e entrou no canto direito do goleiro Grosics. Helmut Rahn, o ponta direita ambidestro, era o herói da inacreditável virada alemã.

A Hungria partiu com tudo em busca do empate. Turek fez mais uma defesa magistral em um chute de Czibor.

Nos últimos momentos da partida, Puskás recebeu nas costas de Liebrich, avançou pela esquerda e bateu entre as mãos de Turek e a trave direita, empatando a partida. O árbitro inglês Bill Ling estava pronto para confirmar o gol, mas o bandeirinha galês Benjamin Griffiths assinalou impedimento, já alguns segundos depois. Pela única imagem disponível, a posição de Puskás parecia legal, mas não é possível observar o momento exato do lançamento para ele.

Uma questão a ser considerada é que os árbitros britânicos eram comumente escalados para apitar jogos daquela Hungria. Justamente os britânicos, que passaram a ter um ódio mortal pelos magiares depois das duas goleadas sofridas pela seleção inglesa (6 x 3 e 7 x 1).

A última chance de empate esteve nos ótimos pés de Czibor, mas Turek fez um novo e derradeiro milagre.

Ao fim dos noventa minutos, a Alemanha Ocidental chutou oito vezes a gol e marcou três gols; já a Hungria deu 25 chutes e marcou duas vezes, além do tento anulado.

Além da vaidade e da má sorte, a Hungria pagou também pela fragilidade defensiva. Para os padrões da época, a defesa jogava muito avançada e os jogadores da linha defensiva não eram tão qualificados quanto os demais, especialmente Gyula Lóránt e Mihály Lantos.

Para assombro geral, a Hungria perdia sua invencibilidade justamente quando não podia. A pragmática Alemanha conseguiu um verdadeiro milagre e, merecidamente, se sagrou campeã do mundo pela primeira vez.

O capitão Fritz Walter recebeu a taça das mãos do presidente da FIFA, Jules Rimet, e a entregou ao treinador Sepp Herberger. Depois, todos ouviram o hino nacional alemão de mãos dadas, com a mesma humildade de um país que começava a se reconstruir depois da derrota na Segunda Guerra Mundial.


O capitão Fritz Walter segura a taça. (Imagem: AP Photo)

● Os onze jogadores alemães que disputaram essa final nunca mais atuaram juntos.

Uma semana depois da decisão, alguns jogadores foram para uma clínica de repouso, o que levantou suspeitas de que teriam sido dopados. O então médico da delegação, Franz Logan, confessou que tinha injetado vitamina C e glicose nos atletas para prevenir contra uma gripe que poderia ser causada pela chuva na final. Mas nenhuma dessas substâncias nunca foi e nem é considerada doping. O que foi realmente provado é que os alemães jogaram “dopados” com a autoconfiança e autocontrole que só eles possuem; estavam “dopados” com uma vontade única de vencer e de provar ao mundo que não eram os derrotados como foram nas duas grandes guerras. Eles queriam provar a si e ao mundo que eram verdadeiros vencedores. E conseguiram.

Fritz Walter e Ottmar Walter foram os primeiros irmãos a vencerem uma final de Copa do Mundo.


A revolucionária “Equipe de Ouro” da Hungria.
Em pé: Lóránt, Buzánszky, Hidegkuti, Kocsis, Zakariás, Czibor, Bozsik e Budai.
Sentados: Lantos, Puskás e Grosics.

A impressão na época era que a imprensa mundial estava farta do sucesso dos magiares e todos queriam vê-los derrotados. Mas com 27 gols no total, a Hungria de 1954 detém o recorde de gols marcados em uma única edição de Copa do Mundo. A “Seleção de Ouro” só voltaria a perder outra partida em 1956. Foram mais 18 jogos de invencibilidade. Ou seja, de 55 partidas entre 1950 e 1956, a Hungria perdeu apenas a que não podia: a final da Copa de 1954.

Aos 27 anos, Ferenc Puskás foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1954, mesmo tendo atuado em apenas três das cinco partidas possíveis. Por ter abandonado seu país por causa do levante húngaro de 1956 (que vamos abordar em outro momento), foi suspenso do futebol pela FIFA por 18 meses. Em 1958, ele acertou com o poderoso Real Madrid, naturalizou-se espanhol e disputou a Copa de 1962 pela Espanha, mas sem o mesmo desempenho.

Essa partida é tema central de um dos melhores filmes de ficção sobre Copas do Mundo. “Das Wunder von Bern” (“O milagre de Berna“), lançado em 2003, é um drama de uma família que tenta recomeçar a vida na Alemanha no pós-Guerra. Ele mostra a história de um garoto alemão que vai até Berna assistir à final da Copa do Mundo de 1954, entre seu país e a Hungria. Os alemães depositavam as poucas esperanças em sua seleção, para recuperar um pouco do moral perdido com a Segunda Guerra Mundial, que havia acabado apenas nove anos antes. Merecem destaque as reconstituições de alguns lances da final, com incrível perfeição, mesmo sendo difíceis de fazer.

“No final, levamos o que merecemos. Não deveríamos nunca ter relaxado depois de estar com dois gols de vantagem; devíamos tê-los pressionado e ido atrás do terceiro para liquidar o jogo. A derrota não se deveu a qualquer aspecto de nosso treinamento ou preparação. A culpa foi toda nossa: achamos que tínhamos ganho o jogo, perdemos dois gols estupidamente e deixamos que eles revertessem a situação.” “No final, perdemos porque esquecemos que o jogo dura noventa minutos.” — Ferenc Puskás, tentando explicar a inexplicável derrota.

“Aquele jogo foi perdido por nós, não ganho pelos alemães.” — Gyula Grosics, o número 1 da Equipe de Ouro.


Protocolos iniciais da decisão, com o polêmico trio de arbitragem e os capitães Fritz Walter e Ferenc Puskás (Imagem: DPA)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 X 2 HUNGRIA

 

Data: 04/07/1954

Horário: 17h00 locais

Estádio: Wankdorf

Público: 62.500

Cidade: Berna (Suíça)

Árbitro: William Ling (Inglaterra)

 

ALEMANHA (WM):

HUNGRIA (4-2-4):

1  Toni Turek (G)

1  Gyula Grosics (G)

7  Josef Posipal

2  Jenő Buzánszky

10 Werner Liebrich

3  Gyula Lóránt

3  Werner Kohlmeyer

4  Mihály Lantos

6  Horst Eckel

5  József Bozsik

8  Karl Mai

6  József Zakariás

12 Helmut Rahn

11 Zoltán Czibor

13 Max Morlock

8  Sándor Kocsis

15 Ottmar Walter

9  Nándor Hidegkuti

16 Fritz Walter (C)

10 Ferenc Puskás (C)

20 Hans Schäfer

20 Mihály Tóth

 

Técnico: Sepp Herberger

Técnico: Gusztáv Sebes

 

SUPLENTES:

 

 

22 Heinz Kwiatkowski (G)

21 Sándor Gellér (G)

21 Heinz Kubsch (G)

22 Géza Gulyás (G)

4  Hans Bauer

12 Béla Kárpáti

5  Herbert Erhardt

13 Pál Várhidi

2  Fritz Laband

14 Imre Kovács

11 Karl-Heinz Metzner

15 Ferenc Szojka

19 Alfred Pfaff

16 László Budai

14 Bernhard Klodt

17 Ferenc Machos

17 Richard Herrmann

18 Lajos Csordás

18 Ulrich Biesinger

19 Péter Palotás

9  Paul Mebus

7  József Tóth

 

GOLS:

6′ Ferenc Puskás (HUN)

8′ Zoltán Czibor (HUN)

10′ Max Morlock (ALE)

18′ Helmut Rahn (ALE)

84′ Helmut Rahn (ALE)


Gol do título, marcado pelo ponta direita Helmut Rahn (Imagem localizada no Google)

Gols da partida:

Alguns momentos da final (o gol anulado de Puskás está a partir de 4:36):

Filme “Das Wunder von Bern” (“O milagre de Berna“) completo, dublado em português:

… 03/07/1974 – Polônia 0 x 1 Alemanha Ocidental

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… 03/07/1974 – Polônia 0 x 1 Alemanha Ocidental


Vários homens trabalharam na tentativa de deixar o gramado mais propício ao jogo (Imagem: Porta Polonica)

● Tudo estava programado para um grande jogo entre a anfitriã Alemanha Ocidental e Polônia. Era a última rodada da segunda fase, disputada em dois grupos de quatro, que classificaria a campeã de cada grupo para a final. Como ambas tinham vencido os dois jogos anteriores, a partida era, na prática, a semifinal da Copa do Mundo de 1974.

A Alemanha jogava pelo empate (por ter melhor saldo de gols) e jogava o futebol sólido, pragmático e vitorioso de sempre, com craques como Franz Beckenbauer, Paul Breitner e Gerd Müller. Já a Polônia continuava a surpreender o mundo, após conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, eliminar a Inglaterra nas eliminatórias e vencer todos seus jogos no Mundial até então (Argentina, Haiti, Itália, Suécia e Iugoslávia).

Tudo pronto para um jogo histórico, entre duas equipes míticas. Faltou combinar com o tempo. Todos esperavam um clima chuvoso, mas não tempestade que precedeu à partida em Frankfurt naquele 03 de julho. A chuva torrencial encharcou o gramado. Os bombeiros tentaram drenar a água com rolo de sucção e mangueiras. O técnico polonês Kazimierz Górski pediu o adiamento da partida, mas de nada adiantou. Meia hora após o horário programado, o temporal dá um tempo e o jogo começou.

As circunstâncias eram estranhas. No meio da partida, há uma paralisação, sendo respeitado um minuto de silêncio pela morte do presidente da Argentina, Juan Domingo Perón.


A Polônia atuava no 4-3-3, com destaque para o “todo-campista” Kazimierz Deyna e o ponta direita Grzegorz Lato.


A Alemanha jogava no 4-3-3, tendo Franz Beckenbauer como líbero e os avanços constantes pelo meio do lateral esquerdo Paul Breitner.

● A primeira ameaça de gol foi polonesa. Em uma rara falha de posicionamento do “Kaiser” Franz Beckenbauer, Grzegorz Lato finalizou e Sepp Maier saiu magnificamente do gol, na hora certa, evitando uma chance clara de gol da Polônia.

Mesmo dominando todo o primeiro tempo, pelo andamento do jogo, a Polônia está em clara desvantagem. Os ágeis pontas Grzegorz Lato e Robert Gadocha têm a velocidade prejudicada pela água que segura a bola nas laterais do gramado.

A Polônia sente falta do Wlodzimierz Lubanski, que ficou fora da Copa por ter se lesionado. Andrzej Szarmach era um dos artilheiros do torneio, mas ficou no banco pela primeira vez. Em seu lugar, jogou Jan Domarski, em sua primeira partida como titular, mas o camisa nº 19 não conseguiu concluir nenhuma jogada em gol.

Aos sete minutos do segundo tempo, Zmuda derruba Hölzenbein dentro da área, em pênalti indiscutível. Uli Hoeneß cobra e o ótimo goleiro Jan Tomaszewski acerta o canto, mergulha para a direita e defende seu segundo pênalti na Copa (já havia pegado da mesma forma um pênalti batido por Staffan Tapper, na vitória sobre a Suécia por 1 a 0).

Enquanto a Polônia não conseguia fazer valer o seu jogo de toque de bola, a Alemanha parecia dosar o ritmo até atacar com tudo nos 20 minutos finais.

Aos 31 minutos do segundo tempo, Rainer Bonhof recebe dentro da área, dá um passe em diagonal e deixa Gerd Müller em condições de marcar. “Der Bomber” chuta rasteiro, junto à trave, no canto direito do goleiro Tomaszewski.

Mas os poloneses caem lutando. Nos minutos finais o, capitão Kazimierz Deyna força outra defesa espetacular de Sepp Maier. O final é tenso.


O matador Gerd Müller marcou o único gol da partida (Imagem: Storie di Calcio)

● A Polônia era considerada melhor tecnicamente, mas com as adversidades, foi a República Federal da Alemanha que se classificou para disputar a final em casa, quando venceria outra equipe lendária: o Carrossel Holandês, de Johan Cruijff (que veremos no dia 07/07).

Mesmo com a derrota, a Polônia não se abateu, saiu de cabeça erguida por ter jogado melhor que os alemães e ainda mostraram força ao vencer o Brasil na decisão do 3º lugar.

Em uma partida que tinha tudo para ser fantástica, o grande destaque foi mesmo a chuva.

“Se eu pensar na Copa de 1974, sobre o melhor time, eu não acho que ele esteve na final. É claro que nós ganhamos e os holandeses foram vices. Os holandeses acham que eles eram melhores, eles acreditam que eles eram melhores que nós e que mereciam ter ganhado. O que eles estão esquecendo é que, do meu ponto de vista, o melhor time perdeu nas semifinais. Ele era a Polônia”. — Paul Breitner, em entrevista ao site oficial da FIFA em 2007.


Lato e Breitner travaram uma disputa muito interessante pelo lado esquerdo alemão. (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

POLÔNIA 0 X 1 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 03/07/1974

Horário: 17h00 locais

Estádio: Waldstadion (atual Commerzbank-Arena)

Público: 62.000

Cidade: Frankfurt (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Erich Linemayr (Áustria)

 

POLÔNIA (4-3-3):

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

2  Jan Tomaszewski (G)

1  Sepp Maier (G)

4  Antoni Szymanowski

2  Berti Vogts

9  Władysław Żmuda

4  Hans-Georg Schwarzenbeck

6  Jerzy Gorgoń

5  Franz Beckenbauer (C)

10 Adam Musiał

3  Paul Breitner

12 Kazimierz Deyna (C)

16 Rainer Bonhof

14 Zygmunt Maszczyk

14 Uli Hoeneß

13 Henryk Kasperczak

12 Wolfgang Overath

16 Grzegorz Lato

9  Jürgen Grabowski

19 Jan Domarski

13 Gerd Müller

18 Robert Gadocha

17 Bernd Hölzenbein

 

Técnico: Kazimierz Górski

Técnico: Helmut Schön

 

SUPLENTES:

 

 

1  Andrzej Fischer (G)

21 Norbert Nigbur (G)

3  Zygmunt Kalinowski (G)

22 Wolfgang Kleff (G)

5  Zbigniew Gut

6  HorstDieter Höttges

8  Mirosław Bulzacki

20 Helmut Kremers

7  Henryk Wieczorek

19 Jupp Kapellmann

11 Lesław Ćmikiewicz

7  Herbert Wimmer

15 Roman Jakóbczak

8  Bernhard Cullmann

20 Zdzisław Kapka

15 Heinz Flohe

22 Marek Kusto

10 Günter Netzer

17 Andrzej Szarmach

18 Dieter Herzog

21 Kazimierz Kmiecik

11 Jupp Heynckes

 

GOL: 76′ Gerd Müller (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

80′ Henryk Kasperczak (POL) ↓

Lesław Ćmikiewicz (POL) ↑

 

80′ Zygmunt Maszczyk (POL) ↓

Kazimierz Kmiecik (POL) ↓


Mesmo com todas as tentativas, o gramado ainda estava encharcado. O jogo ficou conhecido como “A Batalha das Águas”. (Imagem: Porta Polonica)

Veja o único gol da partida:

Partida completa:

… 02/07/2010 – Uruguai 1 x 1 Gana

Três pontos sobre…
… 02/07/2010 – Uruguai 1 x 1 Gana


O lateral Fucile até tentou defender com a mão, mas foi Luiz Suárez quem fez a “defesa” da Copa e se tornou herói uruguaio (Imagem: UOL)

● O Uruguai entrava em campo para enfrentar não apenas a seleção adversária. Gana era a última representante do continente na primeira Copa do Mundo disputada na África. Assim, todos os outros 53 países uniam suas vuvuzelas em um único som, torcendo pelos ganeses. Pela boa fase de vários de seus jogadores e por jogar “em casa”, os “Estrelas Negras” eram favoritos. Mas a Celeste é sempre uma camisa pesada, cheia de histórias, acostumada a se superar e a calar adversários.

Gana era o terceiro país africano a chegar nas quartas de final de um Mundial, após Camarões em 1990 e Senegal em 2002.

Na primeira fase, o Uruguai foi líder do Grupo A, empatando com a França (0 x 0), goleando a anfitriã África do Sul (3 x 0) e vencendo o México (1 x 0). Nas oitavas de final, passou pela Coreia do Sul (2 x 1), e chegava embalada pelo seu trio de ataque: Diego Forlán, Edinson Cavani e Luis Suárez.

Gana se classificou como segunda colocada do Grupo D com quatro pontos, vencendo a Sérvia por 1 a 0, empatando com a Austrália em 1 a 1 e perdendo da Alemanha por 1 a 0. Na segunda fase, precisou de um gol de Asamoah Gyan na prorrogação para vencer os Estados Unidos por 2 a 1.


O Uruguai jogava no 4-3-3, apostando na força de sua defesa, na dura marcação de seus ótimos volantes e no ótimo trio de ataque.


Gana tinha jogadores em ótima fase, consolidados no futebol europeu. Jogava no 4-1-4-1, com um meio campo muito móvel, apoiando Asamoah Gyan no ataque.

● Na partida que se tornaria um verdadeiro drama, o Uruguai começou melhor, com três finalizações bem defendidas pelo goleiro Richard Kingson. Só depois da primeira metade da etapa inicial que Gana foi equilibrar as ações e até passou a mandar no jogo.

Para piorar para os sul-americanos, o capitão Diego Lugano saiu lesionado aos 38 minutos, com uma torção no tornozelo. A faixa passou para o camisa 10, Diego Forlán. Ele era o craque do time, correndo o campo inteiro e orientando seus companheiros.

Mas quem abriu o placar foi Gana, mas com uma clara ajuda dos conhecidos efeitos venenosos da bola Jabulani. Aos 47 minutos do primeiro tempo, Sulley Muntari limpa o lance e chuta da intermediária. A bola pega um efeito e entra no canto esquerdo do goleiro Fernando Muslera. As vuvuzelas começaram a soar cada vez mais alto.

Na segunda etapa, o Uruguai voltou melhor e empatou a partida aos dez minutos, em uma falta perto do bico esquerdo da área. Forlán cobrou bem e mandou a bola no ângulo esquerdo de Kingson. Tudo igual no estádio Soccer City.

Dois minutos depois, Gyan quase marcou, mas Muslera defendeu. Depois, Suárez teve duas chances, mas chutou uma vez para fora e a outra nas mãos de Kingson.

O Uruguai parecia mais perto do gol e mais inteiro fisicamente. Aos 36, Maxi Pereira perdeu uma grande oportunidade em um contra-ataque, mas chutou por cima do gol.

Após o empate em 1 a 1 no tempo normal e um primeiro tempo de prorrogação muito truncado, tudo mudaria nos últimos 15 minutos. A ótima seleção de Gana partiu para cima e criou muitas oportunidades não concluídas, mas também deu o contra-ataque para o Uruguai, que também não aproveitou.

A igualdade persistiu até o minuto final de bola rolando, quando ganhou um contorno dramático jamais visto. Em uma blitz dos “Estrelas Negras“, Luisito Suárez tirou em cima da linha um gol certo de Stephen Appiah e, na sequência, o camisa 9 meteu a mão na bola e impediu o gol em uma cabeçada de Dominic Adiyiah. Foi uma defesa difícil e linda. Mas Suárez não era o goleiro. Penalidade máxima e expulsão do craque.

Suárez saía de campo desconsolado e chorando muito a provável eliminação de sua seleção, mas sua feição mudou nos segundos seguintes, ainda antes de entrar no túnel que dá acesso ao vestiário. Ele viu o principal jogador do time rival, Asamoah Gyan, cobrar o pênalti e a bola explodir no travessão. Festa uruguaia e esperanças renovadas. O castigo para Gana viria a galope, na decisão por pênaltis.

Forlán, Victorino e Scotti acertaram os três primeiros para os uruguaios. Gyan e Appiah também converteram para Gana. Mas na terceira cobrança, o capitão John Mensah bateu à esquerda e Muslera acertou o canto. Na sequência, Maxi Pereira perdeu a oportunidade de ampliar a vantagem, batendo para fora. Mas Muslera apareceu de novo e defendeu o pênalti cobrado no canto esquerdo pelo garoto Adiyiah.

Coube ao então botafoguense (e maior “andarilho” da história do futebol mundial) Loco Abreu converter a cobrança decisiva com uma linda cavadinha, matando o goleiro Kingson e relembrando o que tinha feito poucos meses antes contra o Flamengo na decisão do Campeonato Carioca.


Loco Abreu converte o último pênalti uruguaio com uma linda cavadinha e coloca sua seleção entre os quatro primeiros da Copa de 2010 (Imagem localizada no Google)

● Enquanto a última equipe africana se despedia do Mundial, o Uruguai resgatava seu orgulho e chegava às semifinais após 40 anos, cheia de moral para enfrentar a Holanda.

Depois da partida, Luis Suárez recebeu um SMS em seu celular: “Você é o melhor goleiro do mundo”. Quem enviou a mensagem foi o goleiro holandês Maarten Stekelenburg, que jogava junto com ele no Ajax. O Uruguai estava classificado e iria enfrentar justamente a Holanda em uma das semifinais, mas Suárez estava suspenso pelo cartão vermelho recebido contra Gana.


Jogadores charruas comemoram a classificação (Imagem: Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

URUGUAI 1 x 1 GANA

 

Data: 02/07/2010

Horário: 20h30 locais

Estádio: Soccer City (atual First National Bank Stadium)

Público: 84.017

Cidade: Johanesburgo (África do Sul)

Árbitro: Olegário Benquerença (Portugal)

 

URUGUAI (4-3-3):

GANA (4-1-4-1):

1  Fernando Muslera (G)

22 Richard Kingson (G)

16 Maxi Pereira

4  John Paintsil

2  Diego Lugano (C)

15 Isaac Vorsah

6  Mauricio Victorino

5  John Mensah (C)

4  Jorge Fucile

2  Hans Sarpei

15 Diego Pérez

6  Anthony Annan

17 Egidio Arévalo Ríos

7  Samuel Inkoom

20 Álvaro Fernández

21 Kwadwo Asamoah

7  Edinson Cavani

23 Kevin-Prince Boateng

10 Diego Forlán

11 Sulley Muntari

9  Luis Suárez

3  Asamoah Gyan

 

Técnico: Óscar Tabárez

Técnico: Milovan Rajevac

 

SUPLENTES:

 

 

12 Juan Castillo (G)

1  Daniel Agyei (G)

23 Martín Silva (G)

16 Stephen Ahorlu (G)

3  Diego Godín

8  Jonathan Mensah

19 Andrés Scotti

19 Lee Addy

22 Martín Cáceres

17 Ibrahim Ayew

5  Walter Gargano

9  Derek Boateng

8  Sebastián Eguren

10 Stephen Appiah

11 Álvaro Pereira

20 Quincy Owusu-Abeyie

18 Ignacio González

13 André Ayew

14 Nicolás Lodeiro

14 Matthew Amoah

21 Sebastián Fernández

12 Prince Tagoe

13 SebastiánLoco” Abreu

18 Dominic Adiyiah

 

GOLS:

45+2′ Sulley Muntari (GAN)

55′ Diego Forlán (URU)

 

CARTÕES AMARELOS:

20′ Jorge Fucile (URU)

48′ Egidio Arévalo Ríos (URU)

54′ John Paintsil (GAN)

59′ Diego Pérez (URU)

77′ Hans Sarpei (GAN)

93′ John Mensah (GAN)

 

CARTÃO VERMELHO: 120+1′ Luis Suárez (URU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

38′ Diego Lugano (URU) ↓

Andrés Scotti (URU) ↑

 

INTERVALO Álvaro Fernández (URU) ↓

Nicolás Lodeiro (URU) ↑

 

74′ Samuel Inkoom (GAN) ↓

Stephen Appiah (GAN) ↑

 

76′ Edinson Cavani (URU) ↓

Sebastián “Loco” Abreu (URU) ↑

 

88′ Sulley Muntari (GAN) ↓

Dominic Adiyiah (GAN) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

URUGUAI 4

GANA 2

Diego Forlán (gol, no canto esquerdo)

Asamoah Gyan (gol, no ângulo esquerdo)

Mauricio Victorino (gol, no ângulo direito)

Stephen Appiah (gol, no ângulo direito)

Andrés Scotti (gol, no meio do gol)

John Mensah (perdeu, à esquerda defendido por Muslera)

Maxi Pereira (perdeu, acima do ângulo esquerdo)

Dominic Adiyiah (perdeu, à esquerda defendido por Muslera)

“Loco” Abreu (gol, de cavadinha – “estilo Panenka” – no meio do gol)

 

Melhores momentos da partida:

Para assistir a partida completa, clique aqui.

… 01/07/2014 – Bélgica 2 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 01/07/2014 – Bélgica 2 x 1 Estados Unidos


Kevin de Bruyne comemora o primeiro gol do jogo (Imagem: Globo Esporte)

● Na primeira fase, a Bélgica foi líder do Grupo H com 9 pontos, vencendo Argélia (2 x 1), Rússia (1 x 0) e Coreia do Sul (1 x 0). Liderada por destaques de alguns dos maiores centros europeus (como, por exemplo, Eden Hazard, do Chelsea e Vincent Kompany, do Manchester City), a “ótima geração belga” fez jogos tecnicamente fracos não empolgou, como se esperava. Mas foi eficiente, com 100% de aproveitamento. De cotada a ser a grande surpresa do Mundial, estava começando a se tornar decepção.

Por sua vez, os Estados Unidos têm todos os méritos por ser superado o famigerado “Grupo da Morte”, o Grupo G. Na estreia, vitória sobre a forte seleção de Gana por 2 a 1. Na segunda rodada, vencia Portugal de Cristiano Ronaldo por 2 a 1 até os 50 do segundo tempo, mas sofreu o empate (gol de Silvestre Varela). Na última partida da fase, perdeu para a Alemanha por 1 a 0. Terminou empatado com Portugal com 4 pontos, mas levou vantagem no saldo de gols (0 contra -3).

Incluindo jogos amistosos, esse confronto já tinha se repetido outras cinco vezes na história, com quatro vitórias belgas. A vitória americana aconteceu justamente no único encontro em Mundiais, em 1930, pelo placar de 3 a 0.

Agora, essa era a última partida da fase de oitavas de final. Os ianques estavam com o time completo. A Bélgica tinha o desfalque de Steven Defour, expulso no jogo anterior contra os sul-coreanos.

A Arena Fonte Nova, pródiga em número de gols e bons jogos nessa Copa, viveria mais épico.


A Bélgica atuava no 4-2-3-1, com laterais mais fixos na defesa. Entre os meias avançados, a constante movimentação e troca de posições poderia confundia a marcação adversária.


Os EUA jogaram em um misto de 4-1-4-1 e 3-6-1. O bom zagueiro Geoff Cameron foi improvisado como volante e fazia essa balanço defensivo. No ataque, o capitão Clint Dempsey ficava muito isolado.

● Como já era esperado, a Bélgica finalmente mostrou a que veio, dominando a posse de bola e as ações ofensivas, especialmente com Hazard e Kevin de Bruyne. A defesa americana estava compacta e bem posicionada, apostando no contra-ataque com o isolado atacante Clint Dempsey e com o apoio de Michael Bradley e Jermaine Jones pelo meio. O primeiro tempo foi truncado, com as defesas se sobressaindo aos ataques.

A segunda etapa consagrou o goleiro americano Tim Howard. Com brilhantes defesas (e também a sorte, com uma bola de Divock Origi que tocou no travessão), ele literalmente fechou o gol. Em determinado momento, passou a ser, na prática, um ataque contra defesa.

Mas a chance mais clara de gol nos 90 minutos foi perdida pelos EUA já nos acréscimos. Em um cruzamento para a área, Jones cabeceou e o atacante Chris Wondolowski chutou para fora, da linha da pequena área.

Assim, o placar zerado resultou na quinta partidas das oitavas de final que chegava a uma prorrogação. O tempo extra seria eletrizante, como virou marca registrada nesse Mundial.

Logo no início, o técnico belga Marc Wilmots colocou o centroavante Romelu Lukaku em campo. Mesmo sem fazer um bom Mundial, Lukaku certamente é o melhor atacante belga desse século. E ele começou a corresponder às expectativas dois minutos depois de entrar. Lukaku ganhou uma dividida na força, avançou em velocidade e cruzou para a pequena área. O zagueiro Besler não conseguiu cortar. De Bruyne dominou, cortou a marcação e chutou cruzado, sem chances para o excepcional Howard. Enfim, ele fora batido. Foram mais de 30 finalizações antes dos “Diable Rouge” conseguirem o primeiro gol.

A Bélgica continuou no ataque e Howard fez outras quatro defesas. Mas, no último minuto da primeira etapa, Lukaku arrancou em um contra-ataque pela esquerda, passou para Hazard, que tocou para De Bruyne, que devolveu o presente para Lukaku. O herói da partida mandou para o fundo do gol.

Vencendo por 2 a 0, a Bélgica recuou naturalmente. Aos Estados Unidos só restava atacar e eles tentaram pressionar na segunda etapa. Aos 2 minutos, Julian Green aproveitou um ótimo passe por elevação de Michael Bradley e, sem deixar a bola cair, fez o gol de honra americano. O ótimo goleiro Thibaut Courtois chegou a tocar na bola, mas não conseguiu impedir que ela entrasse. Green foi o jogador mais jovem a anotar um gol na Copa de 2014.

A parte ianque dos 51.227 expectadores passaram a gritar incessantemente “USA“. O time se lançou ao ataque, criou outras chances reais, mas não conseguiu empatar a partida. Na melhor das oportunidades, Dempsey apareceu na cara de Courtois em uma cobrança de falta ensaiada, mas o goleiro impediu o gol. A Bélgica também não aproveitou os vários contra-ataques e o jogo terminou mesmo em 2 a 1.


Howard, em uma de suas numerosas defesas na partida (Imagem: Época)

● O goleiro americano Tim Howard (com uma aula de bom posicionamento e reflexos) fez 16 defesas na partida e de tornou recordista no quesito desde que a FIFA começou a acompanhar essa estatística, em 1966. No total, os belgas finalizaram 38 vezes (recorde nessa edição), contra 15 dos ianques.

No fim, os Estados Unidos caíram de pé, mostrando uma clara evolução em seu futebol e gerando expectativas de resultados melhores no futuro.

Com essa vitória belga, a Copa do Mundo de 2014 foi a primeira edição onde todos os primeiros colocados na fase de grupos venceram nas oitavas de final e conseguiram avançar às quartas.

A Bélgica se classificou para as quartas de final pela primeira vez desde 1986, mas parou na Argentina. Com um gol de Gonzalo Higuaín logo no início, os argentinos dominaram a partida e não deram chance aos belgas.


Romelu Lukaku sobrou fisicamente na prorrogação e decidiu a partida (Imagem: Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

BÉLGICA 2 X 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 01/07/2014

Horário: 17h00 locais

Estádio: Arena Fonte Nova

Público: 51.227

Cidade: Salvador (Brasil)

Árbitro: Djamel Haimoudi (Argélia)

 

BÉLGICA (4-2-3-1):

ESTADOS UNIDOS (4-1-4-1):

1  Thibaut Courtois (G)

1  Tim Howard (G)

2  Toby Alderweireld

23 Fabian Johnson

15 Daniel van Buyten

3  Omar Gonzalez

4  Vincent Kompany (C)

5  Matt Besler

5  Jan Vertonghen

7  DaMarcus Beasley

6  Axel Witsel

20 Geoff Cameron

8  Marouane Fellaini

19 Graham Zusi

7  Kevin de Bruyne

4  Michael Bradley

14 Dries Mertens

13 Jermaine Jones

10 Eden Hazard

11 Alejandro Bedoya

17 Divock Origi

8  Clint Dempsey (C)

 

Técnico: Marc Wilmots

Técnico: Jürgen Klinsmann

 

SUPLENTES:

 

 

12 Simon Mignolet (G)

12 Brad Guzan (G)

13 Sammy Bossut (G)

22 Nick Rimando (G)

3  Thomas Vermaelen

2  DeAndre Yedlin

18 Nicolas Lombaerts

6  John Anthony Brooks

23 Laurent Ciman

21 Timothy Chandler

21 Anthony Vanden Borre

15 Kyle Beckerman

19 Moussa Dembélé

14 Brad Davis

16 Steven Defour

16 Julian Green

20 Adnan Januzaj

10 Mikkel “Mix” Diskerud

22 Nacer Chadli

18 Chris Wondolowski

11 Kevin Mirallas

9  Aron Jóhannsson

9  Romelu Lukaku

17 Jozy Altidore

 

GOLS:

93′ Kevin de Bruyne (BEL)

105′ Romelu Lukaku (BEL)

107′ Julian Green (EUA)

 

CARTÕES AMARELOS:

18′ Geoff Cameron (EUA)

42′ Vincent Kompany (BEL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

32′ Fabian Johnson (EUA) ↓

DeAndre Yedlin (EUA) ↑

 

60′ Dries Mertens (BEL) ↓

Kevin Mirallas (BEL) ↑

 

72′ Graham Zusi (EUA) ↓

Chris Wondolowski (EUA) ↑

 

ANTES DA PRORROGAÇÃO Divock Origi (BEL) ↓

Romelu Lukaku (BEL) ↑

 

105+2′ Alejandro Bedoya (EUA) ↓

Julian Green (EUA) ↑

 

111′ Eden Hazard (BEL) ↓

Nacer Chadli (BEL) ↑

Belgas comemoram a classificação (Imagem: Globo Esporte)

Veja todas as 16 defesas de Tim Howard:

Para assistir aos gols da partida, clique aqui.

… 30/06/2002 – Brasil 2 x 0 Alemanha

Três pontos sobre…
… 30/06/2002 – Brasil 2 x 0 Alemanha


Capitão Cafu levanta a Taça FIFA e celebra o amor (Imagem: FolhaPress)

● Com quatro técnicos em pouco mais de três anos, a Seleção Brasileira teve dificuldades durante toda a fase eliminatória, a mais sofrida da história. Mas atingiu o sucesso.

O Mundial de 2002 ficou comprovadamente marcado como o mais imprevisível de todos. Mas depois de tantas zebras e erros grosseiros da arbitragem, a decisão foi entre as duas maiores potências do futebol mundial: Brasil e Alemanha. Curiosamente, elas nunca haviam se enfrentado em uma partida de Copa do Mundo, embora concentrassem a maior quantidade de títulos (quatro para os brasileiros e três para os alemães), o maior número de finais (seis para cada lado) e até jogos na história da competição (86 para o Brasil e 84 para a Alemanha). Se o Brasil vencesse, se tornaria o único pentacampeão mundial. Se a Alemanha ganhasse, igualaria o tetra brasileiro; se perdesse, seria “tetra-vice”. O Brasil estava na decisão pela terceira vez consecutiva, feito somente alcançado pela própria Alemanha entre 1982 e 1990.

Ambas seleções chegavam invictas na final. O Brasil venceu todas as partidas anteriores: Turquia (2 x 1), China (4 x 0) e Costa Rica (5 x 2) na primeira fase, Bélgica (2 x 0) nas oitavas de final, Inglaterra (2 x 1) nas quartas de final e novamente a Turquia (1 x 0) nas semifinais. Já a Alemanha, com uma equipe limitada, sofreu um pouquinho mais. Na primeira fase, estraçalhou a Arábia Saudita (8 x 0), empatou com a Irlanda (1 x 1) e bateu Camarões (2 x 0). Nas fases de mata-mata, a segurança defensiva e o placar de 1 a 0 a favor sobressaiu em todos os jogos: Paraguai (nas oitavas), Estados Unidos (nas quartas) e Coreia do Sul (nas semi).

Até a pouco tempo, a FIFA tinha o hábito de eleger o melhor jogador da Copa antes da final. Em 2002, o escolhido excepcional goleiro alemão Oliver Kahn, imprescindível para levar sua equipe à decisão. Mas Kahn, presunçoso como sempre, provocou: “Para ser campeão, o time deles terá que fazer gol em mim primeiro”.

Mas o favoritismo brasileiro ia muito além do nível de futebol apresentado. Enquanto Ronaldinho Gaúcho voltava de suspensão e o Brasil jogaria com seu time principal, a Alemanha estava desfalcada do seu melhor jogador de linha: Michael Ballack, suspenso pelo segundo cartão amarelo recebido na semifinal.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


A Alemanha também atuava no 3-5-2, porém mais rígido que o esquema do Brasil.

● Diante de 69.029 expectadores no estádio de Yokohama, a Seleção Brasileira mostrou sua força, mesmo contra os disciplinados e fortes alemães. Ambos fizeram um duelo digno da grandeza dos dois países. As equipes se respeitavam e marcavam muito forte. Nos primeiros minutos, o Brasil tinha muitas dificuldades na criação. Mas aos poucos a Seleção foi se soltando.

O primeiro tempo de jogo cumpriu o que era esperado. O Brasil foi para cima e o goleiro Kahn foi se tornando a figura do jogo, ao impedir que Ronaldo abrisse o placar. Contou também com a sorte em um chute de Kléberson no travessão.

Na segunda etapa, a Alemanha voltou melhor e quase abriu o placar. Oliver Neuville cobrou uma falta de longe, com muita força, mas Marcos fez uma linda defesa no canto esquerdo.

O placar foi inaugurado aos 22 minutos do segundo tempo por mérito de Ronaldo (e também dos treinos do técnico Felipão). Após perder a bola no ataque para Hamann, o “Fenômeno” pressionou e a tomou do volante alemão, rolando para Rivaldo antes da chegada de Metzelder. O mágico camisa 10 brasileiro chutou com efeito de fora da área, Oliver Kahn não conseguiu segurar e Ronaldo tocou para dentro. O erro nesse lance não diminui o mérito do alemão na competição, mas o pune pela declaração infeliz na véspera. Posteriormente soube-se que o alemão jogou com uma torção no ligamento do dedo anelar da mão direita, o que pode ter sido fatal para ele não ter segurado o chute de Rivaldo.

Sem outra saída, a Alemanha partiu com tudo para o ataque em busca do empate. E o Brasil, com inteligência, passou a jogar no contra-ataque.

No minuto 34, veio o golpe definitivo. Kléberson arrancou em velocidade pela direita e rolou para a meia lua. Rivaldo fez um lindo corta-luz e Ronaldo finalizou no canto esquerdo do goleiro.

Com 56%, a Alemanha até tinha mais posse de bola e tentou mostrar sua força, mas “São” Marcos defendeu uma boa finalização do veterano Oliver Bierhoff.

Estava garantido o pentacampeonato brasileiro, com a melhor campanha da história: sete vitórias em sete jogos, um índice jamais alcançado em Mundiais.


Ronaldo marca seu segundo gol na partida (Imagem localizada no Google)

● Após a final e a falha de Oliver Kahn no primeiro gol, ficou a sensação que o prêmio de melhor jogador da Copa poderia ter sido dado a outro jogador. Ronaldo, decisivo com seus dois gols, era o mais indicado. Na opinião do técnico Luiz Felipe Scolari (e também deste que vos escreve), Rivaldo foi o craque da Copa, pois foi de seus pés que saíram as melhores jogadas da seleção no torneio, tanto armando quanto finalizando – com destaque especial para os gols contra Bélgica e Inglaterra.

Rivaldo vinha de uma temporada com muitas lesões, jogando pouco no Barcelona. Mas o técnico Scolari apostou em sua recuperação e no poder de um ataque com ele e Ronaldo.

Mas o destaque foi mesmo a ressurreição do “Fenômeno“, que ainda tinha viva na memória a convulsão que mexeu com o emocional de toda a equipe na decisão de 1998. E também a volta por cima depois de praticamente dois anos de inatividade do futebol, depois de um rompimento total do tendão patelar e duas cirurgias delicadíssimas. Para uma pessoa comum, seria o fim. Para Ronaldo, era a chance de um recomeço. E, com os dois gols na final, ele se tornou o artilheiro do Mundial com oito gols (primeiro goleador a passar dos seis gols desde 1974).

Falando de Ronaldo, ele apresentou um estranho corte de cabelo nas duas últimas partidas do Mundial. Logo ganhou o apelido de “corte Cascão“, em referência ao personagem de Maurício de Sousa. No começo, o centroavante disse que tinha apanhado a máquina e cortado desse jeito apenas para brincar um pouco. Tempos depois, Ronaldo confidenciou que havia tomado a decisão por outro motivo. Ele soube que seu filho, Ronald (então com dois anos), estava vendo a partida entre Brasil e Inglaterra e, sempre que via Roberto Carlos (também careca) na TV, ele dizia “Papai, papai”. Então, o camisa 9 decidiu ficar “um pouco diferente” para que a criança não o confundisse mais. E esse corte de cabelo virou febre no Brasil e no mundo na época, a ponto de diversas pessoas cortarem o cabelo nesse estilo “Cascão(inclusive este que vos escreve…).

Esse título também foi o auge do técnico gaúcho Luiz Felipe Scolari, que mostrou novamente seu futebol de resultados e títulos. No comando da seleção desde junho de 2001, Felipão chegou com a missão de classificar o Brasil, ameaçado de ficar fora de uma Copa pela primeira vez. Formou a “Família Scolari” e deixou Romário de fora do grupo, apesar dos apelos da torcida, da mídia e do próprio “Baixinho“.

Curiosamente, Cafu nasceu em um dia histórico para o futebol brasileiro: 07/06/1970, quando o Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0 na Copa de 1970. Diz a lenda que um parente seu teria dito, de forma profética: “Vamos nascer logo essa criança, para que ela assista ao jogo. Esse aqui vai ser um campeão”. E Cafu repetiu o gesto de Bellini, Mauro, Carlos Alberto Torres e Dunga, mas foi além. Ao levantar a Taça FIFA, o capitão (e único jogador a disputar três finais de Copas do Mundo), improvisou um pedestal. Em sua camisa, uma homenagem ao bairro paulistano onde se criou: “100% Jardim Irene”. E também celebrou o amor, ao gritar para um bilhão de pessoas ao redor do mundo: “Regina, eu te amo!”

Chico Xavier, o mais famoso médium da história do país dizia que queria morrer em um dia em que o país estivesse em festa. Cerca de 9 horas depois que o Brasil se sagrou pentacampeão, ele faleceu na cidade mineira de Uberaba, aos 92 anos.


O “Fenômeno” comemora um de seus gols (Imagem: Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 ALEMANHA

 

Data: 30/06/2002

Horário: 20h00 locais

Estádio: International Stadium Yokohama (atual Nissan Stadium)

Público: 69.029

Cidade: Yokohama (Japão)

Árbitro: Pierluigi Collina (Itália)

 

BRASIL (3-5-2):

ALEMANHA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Oliver Kahn (G)(C)

3  Lúcio

2  Thomas Linke

5  Edmílson

5  Carsten Ramelow

4  Roque Júnior

21 Christoph Metzelder

2  Cafu (C)

22 Torsten Frings

8  Gilberto Silva

8  Dietmar Hamann

15 Kléberson

16 Jens Jeremies

6  Roberto Carlos

19 Bernd Schneider

11 Ronaldinho Gaúcho

17 Marco Bode

10 Rivaldo

7  Oliver Neuville

9  Ronaldo

11 Miroslav Klose

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Rudi Völler

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Jens Lehmann (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Hans-Jörg Butt (G)

13 Belletti

3  Marko Rehmer

14 Ânderson Polga

4  Frank Baumann

16 Júnior

15 Sebastian Kehl

18 Vampeta

6  Christian Ziege

7  Ricardinho

18 Jörg Böhme

19 Juninho Paulista

13 Michael Ballack

23 Kaká

10 Lars Ricken

17 Denílson

14 Gerald Asamoah

20 Edílson

9 Carsten Jancker

21 Luizão

20 Oliver Bierhoff

 

GOLS:

67′ Ronaldo (BRA)

79′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

6′ Roque Júnior (BRA)

9′ Miroslav Klose (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

74′ Miroslav Klose (ALE) ↓

Oliver Bierhoff (ALE) ↑

 

77′ Jens Jeremies (ALE) ↓

Gerald Asamoah (ALE) ↑

 

84′ Marco Bode (ALE) ↓

Christian Ziege (ALE) ↑

 

85′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Juninho Paulista (BRA) ↑

 

90′ Ronaldo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

Rivaldo foi um dos grandes destaques do Mundial (Imagem: Antonio Scorza / AFP)

Melhores momentos da partida, com narração em português:

… 29/06/1958 – Suécia 2 x 5 Brasil

Três pontos sobre…
… 29/06/1958 – Suécia 2 x 5 Brasil


(Imagem: Baú do Futebol)

● As duas seleções mais charmosas chegaram à final da Copa do Mundo de 1958: o Brasil, por suas exibições exuberantes, e a Suécia, por ser a dona da casa, cumprindo bem o seu papel de anfitriã. Na primeira fase a Suécia foi líder do Grupo 3 com 5 pontos, vencendo México (3 x 0) e Hungria (2 x 1), além de um empate sem gols contra o País de Gales. Bateu a União Soviética nas quartas de final (2 x 0) e a então campeã Alemanha Ocidental nas semifinais (3 x 1). O time sueco era bom e contava com os veteranos Lennart Skoglund e Tore Svensson, que enfrentaram o Brasil em 1950 e terminaram aquela Copa com o honroso 3º lugar. Dessa vez, chegava forte para decidir em casa, mas o Brasil era favorito pelo futebol que mostrou nos jogos anteriores.

Na fase de grupos, a Seleção Brasileira bateu a Áustria por 3 a 0, empatou sem gols com a Inglaterra e venceu a URSS por 2 a 0. Nas quartas de final, vitória por 1 a 0 sobre o defensivo Gales, com um golaço de Pelé. Na semifinal contra a França, o Brasil fez uma partida irrepreensível e goleou por 5 a 2.

Como os dois finalistas usavam camisas amarelas, a FIFA realizou um sorteio dois dias antes da partida para decidir qual equipe jogaria de amarelo. Esse sorteio foi realizado sem a presença dos dirigentes e o Comitê Organizador apenas comunicou que o Brasil perdeu e teria que jogar com outra cor. Como a delegação brasileira não tinha levado uniforme reserva, o roupeiro Francisco de Assis saiu à procura de camisas azuis (por sugestão do chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho). Só encontrou as benditas camisas na cidade de Borås, a 20 km da concentração, e pagou 200 coroas (35 dólares) por elas. Durante a noite, Francisco teve muito trabalho, despregando os escudos da CBD das camisas oficiais para colocar nas novas, enquanto o tecido das camisas amarelas foi recortado e se transformou nos números.

O problema maior era a superstição dos jogadores. Como o Brasil chegou à final usando amarelo, mudar de cor na última hora não parecia um bom presságio. Mas nesse momento o Dr. Paulo Machado de Carvalho entrou em cena, aplicando um golpe psicológico nos atletas: “A cor azul vai dar sorte, pois é a mesma do manto de Nossa Senhora da Aparecida, a padroeira do Brasil”, ressaltando que a decisão de usar azul partiu dele mesmo, mostrando o manto em uma imagem da santa e enchendo o elenco de confiança.

O técnico da Suécia, George Raynor, acreditava que o uso de camisas azuis faria mal aos supersticiosos brasileiros. Ele também torcia por uma boa chuva antes do jogo e dizia que um gol sueco logo no início poderia encaminhar o título para eles. De fato, choveu bastante, mas apenas antes da partida. E os gentis suecos secaram o campo.

Na escalação, o Brasil entrou com uma alteração na lateral direita. De Sordi, titular nas cinco primeiras partidas, não jogaria. Especulou-se que ele estivesse com medo de entrar em campo e essa impressão foi reforçada depois que ele foi flagrado passando a noite em claro e fumando um cigarro atrás do outro na madrugada que antecedeu a final. A verdade é que De Sordi ainda sentia um leve estiramento na coxa direita, sofrido na semifinal contra a França. Talvez tudo fosse resolvido com uma simples massagem, mas o médico Hilton Gosling achou temerário escalá-lo e correr o risco de o time ficar com dez homens no decorrer da decisão. Ele chamou Djalma Santos e o perguntou como ele se sentiria se tivesse que jogar. O negão, com aquela tranquilidade que lhe era peculiar, respondeu: “Tranquilo, doutor. Estou preparado, estou treinando”. Djalma não só jogou, como foi apontado como o melhor lateral direito da Copa, mesmo tendo participado de apenas uma partida.


A Suécia jogava em uma espécia de “WW” com destaque para os dois meias avançados: Gunnar Gren e Nils Liedholm.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.

● Naquela tarde de domingo, com um lindo céu azul de verão, o estádio Råsunda recebeu 49.737 expectadores. Quase a totalidade, claro, suecos.

Quatro minutos após o árbitro francês Maurice Guigue apitar o início de jogo, gol dos donos da casa. Na meia lua, o capitão Nils Liedholm envolveu toda a defesa, aplicando dribles curtos em Bellini e Orlando e chutou no canto direito de Gylmar, abrindo o marcador. Foi a primeira vez nesse Mundial que o Brasil saiu atrás no placar. Diz a lenda que Bellini pegou a bola dentro do gol e a entregou para Didi. E enquanto o “Craque da Copa” caminhava firmemente com a bola embaixo do braço, enchia seus companheiros de brios gritando: “Vamos encher esses gringos de gols”. A tranquilidade e a técnica de Didi foram primordiais na conquista da Copa do Mundo de 1958.

A atitude funcionou. Mesmo cautelosa, a Seleção jogou o seu futebol sem medo. Nem o gol precoce marcado pelos suecos tirou a confiança dos jogadores brasileiros. Logo na saída de bola, o próprio Didi lançou para Garrincha, que passou na corrida por Axbom (cena recorrente nesta final) e chutou na rede pelo lado de fora.

Aos oito minutos, Garrincha avança pela ponta direita, dribla Axbom e Liedholm, que fazia a cobertura, e cruza rasteiro para a pequena área. A bola desvia de leve em Parling, passa por Pelé e Gustavsson e chega a Vavá. O “Peito de Aço” desvia e empata o confronto.


Gol de empate, marcado por Vavá (Imagem localizada no Google)

O duelo estava equilibrado. No minuto 21, Pelé chutou de longe e acertou na junção da trave com o travessão. Dois minutos depois, Skoglund finalizou e a bola encobriu Gylmar, mas Zagallo evitou o gol tirando de cabeça em cima da linha.

A Seleção só passou a jogar com tranquilidade a partir dos 32. Foi quase um replay do primeiro gol brasileiro: Garrincha passa por Axbom e Parling pela direita e cruza rasteiro para Vavá escorar para o gol de carrinho e virar o placar. 2 a 1, e assim terminou o primeiro tempo.

O domínio brasileiro passou a ser total e continuou na segunda etapa, atropelando os metódicos suecos. Enquanto no Brasil o torcedor sofria com a qualidade ruim do som dos aparelhos de rádio, com a voz do locutor indo e voltando em ondas, no gramado o futebol da Seleção era sólido, limpo e virtuoso. O célebre ataque formado por Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo protagonizou um verdadeiro espetáculo. A torcida sueca aplaudia as jogadas de Garrincha, que deixava os marcadores incrédulos e perdidos com suas jogadas.

Aos 10 minutos da etapa complementar, Nilton Santos lança a bola para a área. Pelé se antecipa a Parling, mata no peito, dá um chapéu em Gustavsson e, sem deixar a bola cair, chuta por baixo do goleiro Svensson, que tentava fechar o ângulo. O gol mais lindo do Mundial e um dos mais bonitos da história do futebol.

Pouco depois, Garrincha quase fez um gol por cobertura, mas o goleiro Svensson salvou e a bola ainda pegou no travessão antes de sair para escanteio.

Zagallo deixou sua marca aos 23. Ele mesmo cobrou escanteio, a zaga afastou e a bola ficou com Didi. Ele lançou na ponta esquerda, onde o próprio Zagallo ganhou a dividida com Börjesson e tocou entre as pernas do goleiro, que saía no lance.

A Suécia, que tinha uma boa equipe, jogando com dignidade e fidalguia reais. Ainda teve tempo de descontar aos 35, com o centroavante Agne Simonsson em posição bastante duvidosa. Ele recebeu livre na área e tocou na saída de Gylmar.

Depois disso, cada equipe reclamou de um pênalti não assinalado. Orlando dividiu de carrinho com Simonsson dentro da área brasileira e Börjesson agarrou Garrincha na área sueca. O francês Guigue não viu nenhuma das infrações.

Mas o Rei Pelé, se coroando mais do que definitivamente com apenas 17 anos, marcou no último minuto de jogo, encerrando o espetáculo. Zagallo levantou a bola para a área e Pelé cabeceia mesmo marcado. A bola sobe e encobre o goleiro Svensson, que no desespero para defender acabou se abraçando à trave direita. É o gol do título. Deitado no chão, o camisa 10 ouviu o apito final do árbitro.

Vitória maiúscula na final: Brasil 5, Suécia 2. Brasil campeão do mundo!


Pelé chora de emoção, amparado pelo grande goleiro Gylmar (Jmagem: O Globo)

● Pela primeira vez a taça não ficou no continente que a promoveu.

Aos nove anos de idade, Pelé teria visto seu pai, Dondinho, chorar depois de o Brasil perder a final da Copa do Mundo de 1950 e teria dito: “Chora não, pai. Um dia eu vou ganhar uma Copa para o senhor”. Oito anos depois, ele cumpriria a promessa. Ele ainda é o jogador mais novo a conquistar uma Copa, com 17 anos e 249 dias.

A Copa da Suécia consagrou Pelé e Garrincha, mas o craque do torneio foi Didi, o “Príncipe Etíope”, com sua elegância única nos gramados.

Questionado se o título foi perfeito, o técnico Vicente Feola respondeu: “Perfeito só Deus. Mas estivemos perto da perfeição. Tão perto como ninguém esteve antes”.

Os alto-falantes do estádio declaravam o Brasil campeão do mundo. Os jogadores choravam de alegria, perfilados no meio do campo durante a execução do hino nacional brasileiro.

Na volta olímpica, os jogadores brasileiros carregaram a bandeira da Suécia, em homenagem à linda torcida local, que soube reconhecer a superioridade adversária e aplaudiram os legítimos campeões.

O capitão Hideraldo Luiz Bellini subiu ao palanque de madeira. A taça passou pelas mãos do sueco Holger Bergérus (chefe do Comitê Organizador) e de Paulo Machado de Carvalho. Segundo relato do jornalista Ney Bianchi, da extinta revista Manchete Esportiva, Bellini a aconchegou no peito antes de beijá-la e teria murmurado a ela: “Vem cá que agora você é nossa!”

Mas Bellini estava diante de um batalhão de fotógrafos e jornalistas que registravam a cena. Em uma posição nada privilegiada, um fotógrafo gritava para que o capitão levantasse o troféu: “Levanta mais! Levanta mais!” E aí aconteceu o momento histórico: Bellini segurou a Taça Jules Rimet com as duas mãos e a ergueu sobre a cabeça, em um gesto nunca antes visto. Essa simples ação que passou a ser repetida por todos os capitães campeões de qualquer torneio desde então.


Bellini foi escolhido pelo técnico Feola depois da recusa de Didi e Nilton Santos. Mal sabiam que o zagueiro ficaria eternizado na história do futebol por isso… (Imagem: Baú do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 2 X 5 BRASIL

 

Data: 29/06/1958

Horário: 15h00 locais

Estádio: Råsunda

Público: 49.737

Cidade: Estocolmo (Suécia)

Árbitro: Maurice Guigue (França)

 

SUÉCIA (WW):

BRASIL (4-2-4):

1  Kalle Svensson (G)

3  Gylmar (G)

2  Orvar Bergmark

4  Djalma Santos

3  Sven Axbom

2  Bellini (C)

15 Reino Börjesson

15 Orlando

14 Bengt Gustavsson

12 Nilton Santos

6  Sigge Parling

19 Zito

7  Kurt Hamrin

6  Didi

8  Gunnar Gren

11 Garrincha

9  Agne Simonsson

20 Vavá

4  Nils Liedholm (C)

10 Pelé

11 Lennart Skoglund

7  Zagallo

 

Técnico: George Raynor

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

12 Tore Svensson (G)

1  Castilho (G)

16 Ingemar Haraldsson (G)

14 De Sordi

5  Åke Johansson

16 Mauro

13 Prawitz Öberg

9  Zózimo

17 Olle Håkansson

8  Oreco

21 Bengt Berndtsson

5  Dino Sani

10 Arne Selmosson

13 Moacir

18 Gösta Löfgren

17 Joel

19 Henry Källgren

18 Mazzola

20 Bror Mellberg

21 Dida

22 Ove Olsson

22 Pepe

 

GOLS:

4′ Nils Liedholm (SUE)

9′ Vavá (BRA)

32′ Vavá (BRA)

55′ Pelé (BRA)

68′ Zagallo (BRA)

80′ Agne Simonsson (SUE)

90′ Pelé (BRA)

Cumprimentos iniciais entre os capitães Bellini e Nils Liedholm (Imagem: Veja)

Gols da partida em português, com comentários dos jogadores:

Jogo completo, com narração em português:

Imagens coloridas da partida:

… 28/06/1958 – França 6 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 28/06/1958 – França 6 x 3 Alemanha Ocidental


Just Fontaine, festejado pelos companheiros, foi o artilheiro da Copa com incríveis 13 gols em seis partidas (Imagem: FIFA)

● Eram duas grandes seleções. A Alemanha Ocidental era a então campeã do mundo e mantinha seus principais destaques. A França vinha fazendo uma campanha marcante e goleadora na Copa de 1958, tendo como base o forte time do Stade de Reims, vice-campeão da Copa dos Campeões das temporadas 1955/56 e 1958/59.

Na primeira fase, a Alemanha Ocidental ficou em segundo lugar no Grupo 1, com cinco pontos. Venceu a Argentina na estreia (3 x 1) e empatou com Tchecoslováquia e Irlanda do Norte (ambas por 2 x 2). Bateu a Iugoslávia nas quartas de final por 1 a 0. Nas semifinais, não foi páreo para os anfitriões suecos e perdeu por 3 a 1.

Já a França, surpreendeu o mundo com uma equipe extremamente técnica, anotando muitos gols. Estreou na fase de grupos goleando o Paraguai por 7 a 3. Depois, perdeu para a dura Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1. Nas quartas de final, bateu a Irlanda do Norte por 4 a 0. Mesmo empolgados, os franceses foram goleados pela Seleção Brasileira por 5 a 2 nas semifinais. Neste jogo, aos 34 minutos, perdeu o zagueiro e capitão Robert Jonquet, que sofreu uma fratura na fíbula em uma dividida com Vavá, deixando a França com um homem a menos (no segundo tempo, foi fazer número na ponta esquerda).


A França jogava em um misto de WM e 4-3-3, com o recuo de Kaelbel pela direita. O craque Raymond Kopa (multicampeão pelo Real Madrid e eleito segundo melhor jogador da Copa) dominava todas as ações no meio de campo.


A Alemanha Ocidental atuava no sistema WM, como era comum na época.

● Como toda decisão do 3º lugar, o clima é de velório, pois ambas as equipes já perderam a chance de ser campeãs do mundo. Ainda mais pela grande quantidade de desfalques. A França, além de Jonquet, também não contou com o ótimo meia esquerda Roger Piantoni.

Já pela Alemanha, apenas metade do time que enfrentou a Suécia estava apto a jogar. O defensor Erich Juskowiak cumpria suspensão, pois foi expulso na partida anterior. Além disso, o goleiro Fritz Herkenrath, o médio Horst Eckel, o meia Fritz Walter e o atacante Uwe Seeler estavam machucados.

Mais completa, a França se aproveitou do desentrosamento adversário.

A Alemanha Ocidental até começou melhor no início, quando o centroavante Kelbassa marcou um gol de carrinho, mas o árbitro argentino Juan Brozzi anulou, marcando falta no goleiro francês Claude Abbes.

Em seguida, a França abriu o placar, aos 16 minutos de partida. Wisnieski recebeu a bola na ponta direita e rolou para Just Fontaine desviar para dentro do gol.

A Alemanha até conseguiu empatar dois minutos depois, quando Cieslarczyk recebeu de Sturm, na meia lua, driblou Lafont e chutou no canto direito do goleiro Abbes.

Mas a defesa alemã não estava bem e Erhardt cometeu pênalti em Yvon Douis (o substituto de Piantoni), aos 27 minutos. O craque Raymond Kopa, eleito segundo melhor jogador da Copa (atrás apenas do brasileiro Didi), cobrou no canto direito e fez 2 a 1 para “Le Bleus“.

A partir daquele momento, o que se viu foi uma avalanche francesa.

Aos 36, após cobrança de escanteio, Kwiatkowski afastou mal pelo alto e, na sobra, Lerond finalizou. A bola bateu na perna de Fontaine e sobrou para ele mesmo marcar novamente.

Aos 5 minutos do segundo tempo, Douis finalizou de dentro da área e a bola desviou em um defensor, entrando no canto direito do goleiro. 4 a 1.

A Alemanha descontou aos 7. Rahn recebeu na área, driblou Lerond e, quase da linha de fundo, bateu forte, no ângulo, deixando o placar provisoriamente em 4 a 2.

Aos 33, Fontaine dominou a bola pela direita e chutou cruzado, antes da chegada do zagueiro Erhardt, mandando a bola no canto direito.

Helmut Rahn (sempre ele), o destaque do lado alemão, cruzou para a área e Hans Schäfer, mesmo marcado, conseguiu desviar para dentro. Eram 39 minutos passados. 5 a 3.

Mas a fome de gols de Fontaine nunca acabava. Ele fechou definitivamente o placar aos 44 minutos do segundo tempo, quando entrou na área sem marcação e tocou cruzado na saída do goleiro.

Com a maiúscula vitória por 6 a 3, a França terminou a Copa do Mundo de 1958 em 3º lugar.


O goleiro alemão Kwiatkowski sofre mais um gol (Imagem: FIFA)

● O pobre goleiro alemão Heinz Kwiatkowski era o mesmo que havia tomado oito gols em um único jogo contra a Hungria em 1954. Assim, Kwiatkowski entrou para a história como o arqueiro com pior média de gols sofridos nos Mundiais, pois tomou 14 gols em 2 partidas (média de 7 gols sofrido por jogo).

Just Fontaine nasceu em 18 de agosto de 1933 em Marrakesh, no Marrocos. É filho de mãe espanhola e pai francês. Foi batizado como “Justo” e teve o nome afrancesado ao se mudar para a França. Convocado às pressas do Mundial para o lugar do contundido Thadée Cisowski, ele foi o artilheiro da Copa do Mundo de 1958. Com os quatro gols anotados contra a Alemanha Ocidental, ele chegou a incríveis 13 gols marcados em seis jogos (média de 2,17), batendo o recorde absoluto que era do húngaro Sandor Kocsis (11 gols em 1954). Até hoje ele detém a marca de maior goleador em um único Mundial (algo que provavelmente jamais será superado). Pela seleção francesa, foram 30 gols em 21 partidas. Só não fez ainda mais sucesso devido a duas fraturas seguidas na tíbia e a aposentaria precoce dos gramados, aos 27 anos.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Armand Penverne e Hans Schäfer (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 6 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 28/06/1958

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 32.483

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Juan Brozzi (Argentina)

 

FRANÇA (2-3-5):

ALEMANHA OCIDENTAL (WM):

1  Claude Abbes (G)

22 Heinz Kwiatkowski (G)

4  Raymond Kaelbel

7  Georg Stollenwerk

11 Maurice Lafont

2  Herbert Erhardt

5  André Lerond

17 Karl-Heinz Schnellinger

13 Armand Penverne (C)

5  Heinz Wewers

12 Jean-Jacques Marcel

6  Horst Szymaniak

22 Maryan Wisnieski

8  Helmut Rahn

16 Yvon Douis

16 Hans Sturm

17 Just Fontaine

15 Alfred Kelbassa

18 Raymond Kopa

14 Hans Cieslarczyk

21 Jean Vincent

11 Hans Schäfer (C)

 

Técnico: Albert Batteux

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

2  Dominique Colonna (G)

1  Fritz Herkenrath (G)

3  François Remetter (G)

21 Günter Sawitzki (G)

6  Roger Marche

3  Erich Juskowiak

7  Robert Mouynet

18 Rudi Hoffmann

10 Robert Jonquet

20 Hermann Nuber

8  Bernard Chiarelli

4  Horst Eckel

9  Kazimir Hnatow

10 Alfred Schmidt

14 Raymond Bellot

9  Fritz Walter

15 Stéphane Bruey

13 Bernhard Klodt

19 Célestin Oliver

19 Wolfgang Peters

20 Roger Piantoni

12 Uwe Seeler

 

GOLS:

16′ Just Fontaine (FRA)

18′ Hans Cieslarczyk (ALE)

27′ Raymond Kopa (FRA) (pen)

36′ Just Fontaine (FRA)

50′ Yvon Douis (FRA)

52′ Helmut Rahn (ALE)

78′ Just Fontaine (FRA)

84′ Hans Schäfer (ALE)

89′ Just Fontaine (FRA)

Gols da partida:

… 27/06/1954 – Hungria 4 x 2 Brasil

Três pontos sobre…
… 27/06/1954 – Hungria 4 x 2 Brasil

“A Batalha de Berna”


A defesa brasileira foi bastante bombardeada na partida, mas contou com a segurança de Castilho (Imagem: CBF)

● Brasil e Hungria se enfrentavam nas quartas de final. Era um confronto cercado de muita expectativa, pois eram duas das melhores seleções do mundo. Eram as vice-campeãs das duas últimas Copas; Hungria em 1938 e Brasil em 1950.

O técnico Zezé Moreira inovou e implantou a marcação por zona na Seleção – na época, praticamente todas as equipes marcavam individualmente. Ele não convocou Zizinho, grande ídolo do país na época e melhor jogador da Copa de 1950, mas tínhamos uma geração de craques: Castilho, Djalma Santos, Nilton Santos, Bauer, Didi e Julinho Botelho. Também havia a estreia do novo uniforme com camisa amarela e calção azul, escolhido em concurso nacional vencido pelo publicitário gaúcho Aldyr Schlee. A nova vestimenta deu “sorte”, pois foi usada nas eliminatórias, rendendo quatro vitórias em quatro jogos.

O Brasil estreou na Copa goleando os fregueses mexicanos por 5 a 0. No segundo e último jogo da primeira fase, empatou em 1 a 1 com a Iugoslávia no tempo normal e a partida foi para a prorrogação. Como as duas seleções tinham vencido na primeira rodada, o que os iugoslavos sabiam e os brasileiros não tinham conhecimento, é que o empate na prorrogação classificaria as duas seleções. Foi com esse desnecessário desespero que a Seleção Canarinho disputou o tempo extra. Os iugoslavos tentavam fazer mímica para explicar, mas os brasileiros entendiam como uma provocação. Foi um desgaste dispensável.

O regulamento confuso dessa edição da Copa do Mundo não tinha emparelhamento previamente estabelecido para as quartas de final. Seria feito um sorteio para definir os confrontos. Zezé Moreira e Luiz Vinhais (supervisor) foram a Zurique assistir ao sorteio, deixando os jogadores incomunicáveis no hotel. Já tarde da noite, Seu Zezé chegou pálido, aflito e só conseguiu balbuciar três palavras: “É a Hungria!” A comunicação foi feita como se tivesse anunciado um desastre, deixando todos atônitos.

Tamanho era o medo de enfrentar os húngaros, que um jogador da linha de frente brasileira tentou de tudo para fugir do jogo. Nas vésperas da partida, ele comia tubos e mais tubos de pasta de dente para ter uma disenteria e não ser obrigado a entrar em campo. Há quem afirme que os três atacantes ausentes nessa partida (Baltazar, Pinga e Rodrigues Tatu) tenham comido pasta de dente. Mas esse fato nunca foi completamente esclarecido.

De qualquer forma, a Hungria era bastante respeitável. Era a melhor seleção do mundo, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1952 e invicta a 32 partidas. Na primeira fase da Copa, tinha atropelado a Coreia do Sul (9 x 0) e a Alemanha Ocidental (8 x 3). Mas jogava sem o capitão Ferenc Puskás, que ainda estava mancando pela falta criminosa sofrida no jogo anterior contra os alemães, cometida por Werner Liebrich. Puskás não conseguiu nem treinar. Por causa disso, o ambiente na concentração estava tenso, pois todos tinham convicção de que partidas importantes se aproximavam e sabiam o quanto o “Major Galopante” era fundamental para o sucesso da equipe.

Pelo lado brasileiro, antes do início da partida, o dirigente João Lira Filho invadiu o vestiário histérico, fazendo um discurso motivacional maluco, comparando os jogadores aos inconfidentes mineiros e os húngaros a Silvério dos Reis. Depois, desfraldou a bandeira da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial e, aos prantos, obrigou os jogadores a beijá-la e declarou que naquele jogo contra a Hungria, os brasileiros deveriam se empenhar para “vingar os mortos de Pistoia” (cemitério italiano onde foram enterrados os pracinhas brasileiros que morreram na guerra). Ele só se esqueceu que os húngaros nada tinham a ver com essa história…


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Sem Puskas, Czibor foi jogar mais no meio e Mihály Tóth entrou na ponta esquerda.


O Brasil atuou no sistema “WM Diagonal” , criado pelo técnico carioca Flávio Costa. Nesta variação do WM, um dos meias defensivos recua ligeiramente e um dos meias atacantes avançam um pouco.

● Naquela tarde chuvosa, quarenta mil pessoas lotaram o estádio Wankdorf, em Berna. A Hungria, como sempre, partiu para cima logo no início. O placar foi inaugurado aos quatro minutos. O zagueiro Pinheiro tentou o drible dentro da área e perdeu a bola para Hidegkuti. Ele tocou para Kocsis, que chutou à queima roupa e Castilho defendeu com um de seus milagres. Mas Hidegkuti pegou a sobra e mandou no ângulo. Foi uma falha lamentável de Pinheiro.

Os magiares levam perigo ao gol brasileiro por várias vezes. Em uma delas, Nilton Santos tirou uma bola em cima da linha. Mas é muito difícil segurar um adversário com tanta disposição e qualidade.

Aos sete minutos, a bola foi lançada para a área brasileira. A defesa ficou parada e Kocsis cabeceou sozinho para as redes. O jogo recém começava e os húngaros já venciam por dois gols.

Aos 18, o centroavante Índio avançou para a área e foi derrubado por Buzánszky. Pênalti, que Djalma Santos cobrou no canto direito, sem chances de defesa para o goleiro Gyula Grosics, que sequer se mexeu. O Brasil tentou forçar o empate, mas sem sucesso.

Nisso, no meio campo, Hidegkuti e Brandãozinho trocaram agressões, longe das vistas do árbitro, fato que incitou as duas equipes a privilegiar o contato físico e a violência. No fim do primeiro tempo, Pinheiro e Nilton Santos derrubaram e pisaram em József Tóth, lhe rompendo o músculo. O ponta direita ficou mancando até o fim da partida e não teve mais condições de atuar nos demais jogos da Copa.

O ritmo não diminuiu na segunda etapa. As faltas foram ficando cada vez mais duras.

Aos 15 minutos, saiu o terceiro gol dos europeus. Cercado por Kocsis, Pinheiro tentou dominar dentro da área e tocou com a mão na bola. O olhar de reprovação de Castilho denunciou a falta. Mihály Lantos cobrou o pênalti com tranquilidade, no ângulo direito. Castilho foi na bola, mas não alcançou. Os brasileiros protestaram muito e alguns até tentaram invadir o gramado para agredir o árbitro inglês Arthur Ellis.

Mas o Brasil não desistiu. Aos 20, Julinho Botelho marcou o gol mais bonito da partida, em uma jogada genial. Ele recebeu no bico da área, dominou e chutou com efeito de três dedos, mandando a bola no canto direito, indefensável para Grosics.

A partir daí o jogo ficou ainda vez mais violento. Aos 26 minutos, Nilton Santos e József Bozsik trocaram empurrões e pontapés e foram expulsos por Mr. Ellis.

Pouco depois, a melhor chance dos sul-americanos: Djalma Santos bateu cruzado para a área e a bola sobra para o meia esquerda Humberto Tozzi quase dentro da pequena área. Ele bate cruzado, mas para fora.

Aos 34 minutos do segundo tempo, Humberto deu uma voadora na perna do zagueiro Gyula Lóránt e também foi expulso. Menino de apenas 20 anos de idade, Humberto chegou a se ajoelhar na frente do árbitro pedindo para não ser expulso, mas de nada adiantou. No total, foram 42 faltas assinaladas, em uma época em que metade disso já poderia ser considerado um jogo violento.

Com nove homens em campo, o Brasil não resistiu. A dois minutos do fim, Kocsis aparou cruzamento da esquerda junto à trave e marcou de cabeça. Os brasileiros pediram impedimento, mas o lance foi legal.


A pancadaria foi generalizada, incluindo a polícia suíça e jornalistas brasileiros (Imagem: CBF)

● No fim, o jogo acabou se degenerando em pura pancadaria. O incidente não durou mais que quatro minutos, mas foi bastante violento.

Puskás, que nem havia jogado, desceu das arquibancadas e provocou Pinheiro na entrada dos vestiários. Diz a lenda que Puskás atingiu Pinheiro com uma garrafada. Mas segundo uma entrevista de Djalma Santos, foi apenas um mal entendido. Quando os dois times estavam deixando o campo rumo aos vestiários (que ficavam lado a lado), o médico brasileiro Newton Paes pegou uma garrafa de água (na época as garrafas eram apenas de vidro) e atirou no rumo de Puskás. Mas ele errou e acabou acertando a testa de Pinheiro. E quando o brasileiro se virou para ver quem o tinha atingido, alguém gritou: “Foi o Puskás!” Todos os jogadores se envolveram na confusão que se seguiu.

Ainda no túnel, Maurinho deu um soco em Czibor, usando como desculpa o fato dele ter se recusado a apertar a mão de Djalma Santos. Maurinho também deu uma cusparada em Lantos e se atracou com Buzánszky. Didi, com seus dotes de capoeirista, mandava rabos de arraias em quem passasse pela frente.

Um policial suíço, que correu para tentar apartar a briga, tomou uma rasteira do radialista brasileiro Paulo Planet Buarque e caiu estatelado no chão. A polícia revidou e jornalistas e dirigentes acabaram se envolvendo em uma confusão generalizada.

O treinador brasileiro Zezé Moreira viu um gringo de terno correndo e o atingiu na cabeça com um par de chuteiras que Didi trocara durante o jogo. O agredido era Gusztáv Sebes, coordenador técnico húngaro (e vice-ministro de esportes de seu país), que precisou levar quatro pontos no ferimento.

João Lira Filho, tresloucado e com os nervos à flor da pele desde o inflamado discurso no vestiário, começou a correr pelo gramado com a bandeira da Força Expedicionária, a mesma que ele obrigou todo o elenco a beijar antes.

No setor reservado às estações de rádio, o árbitro brasileiro Mário Vianna não conteve suas emoções e gritava aos microfones que o juiz inglês Arthur Ellis “fazia parte de um complô comunista” e que “a FIFA era uma camarilha de ladrões”. A entidade não deixou barato e baniu Vianna de seu quadro. Como punição, o Brasil não pôde levar nenhum árbitro para a Copa do Mundo seguinte, em 1958.

A torcida carioca que acompanhou pelo rádio, ficou insuflada pelas acusações de Mário Vianna e, indignada, resolveu agir com violência aqui também. Procurou a embaixada da Hungria no Rio de Janeiro e não encontrou. A primeira que viu, foi a da Suécia. No calor as emoções, quebrou a embaixada sueca mesmo…


(Imagem: CBF)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 4 x 2 BRASIL

 

Data: 27/06/1954

Horário: 17h00 locais

Estádio: Wankdorf

Público: 40.000

Cidade: Berna (Suíça)

Árbitro: Arthur Ellis (Inglaterra)

 

HUNGRIA (4-2-4):

BRASIL (WM Diagonal):

1  Gyula Grosics (G)

1  Castilho (G)

2  Jenő Buzánszky

2  Djalma Santos

3  Gyula Lóránt

5  Pinheiro

4  Mihály Lantos

3  Nilton Santos

5  József Bozsik (C)

6  Bauer (C)

6  József Zakariás

4  Brandãozinho

7  József Tóth

7  Julinho Botelho

8  Sándor Kocsis

8  Didi

9  Nándor Hidegkuti

19 Índio

20 Mihály Tóth

18 Humberto Tozzi

11 Zoltán Czibor

17 Maurinho

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Zezé Moreira

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

21 Veludo (G)

22 Géza Gulyás (G)

22 Cabeção (G)

12 Béla Kárpáti

15 Mauro

13 Pál Várhidi

13 Alfredo Ramos

14 Imre Kovács

12 Paulinho de Almeida

15 Ferenc Szojka

14 Ely

16 László Budai

16 Dequinha

17 Ferenc Machos

20 Rubens

18 Lajos Csordás

9  Baltazar

19 Péter Palotás

10 Pinga

10 Ferenc Puskás

11 Rodrigues Tatu

 

GOLS:

4′ Nándor Hidegkuti (HUN)

7′ Sándor Kocsis (HUN)

18′ Djalma Santos (BRA) (pen)

60′ Mihály Lantos (HUN) (pen)

65′ Julinho Botelho (BRA)

88′ Sándor Kocsis (HUN)

 

EXPULSÕES:

71′ József Bozsik (HUN)

71′ Nilton Santos (BRA)

79′ Humberto Tozzi (BRA)

O perigoso Sándor Kocsis (camisa 8 da Hungria) marcou dois gols na “Batalha de Berna” (Imagem: CBF)

Gols da partida:

Compacto da partida (com narração em português):

… 26/06/1954 – Suíça 5 x 7 Áustria

Três pontos sobre…
… 26/06/1954 – Suíça 5 x 7 Áustria


Theodor Wagner marca um de seus três gols (Imagem: The Young Journalist Academy)

● Áustria e Suíça são vizinhas e o alemão é o idioma mais falado nas duas nações. Mas enquanto a Suíça ficou neutra por diversos motivos que não nos cabe aqui, a Áustria foi invadida e anexada pelo Terceiro Reich da Alemanha Nazista na época da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, por ser um dos poucos países europeus não afetados pela grande guerra, a Suíça foi escolhida como sede da 5ª Copa do Mundo, em 1954.

Na fase de grupos, a anfitriã venceu a Itália por 2 a 1 e perdeu para a Inglaterra por 2 a 0. Assim, foi necessário um jogo-desempate novamente contra os italianos. Dessa vez os suíços não deram margem e venceram por 4 a 1. A Áustria se classificou no grupo 3 com duas vitórias em dois jogos (1 a 0 na Escócia e 5 a 0 na Tchecoslováquia).

Cada país tem seus métodos de treinamento, mas a Suíça mostrou ao mundo seus métodos pouco ortodoxos de preparação, que incluíam embaixadinhas com a cabeça, controle de bola, finalizações, vôlei, pular corda e até praticar arco e flecha (o esporte nacional desde os tempos de Guilherme Tell).


A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930.  Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupar todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.


A Áustria atuava no sistema WM, como era comum em todo centro evoluído na época.

● O estádio Olímpico de La Pontaise, em Lausanne, estava lotado, com 35 mil torcedores, que viriam a assistir uma partida que se tornaria singular na história das Copas.

O “Ferrolho Suíço” foi um sistema tático ultradefensivo criado pelo técnico austríaco Karl Rappan, que consistia em uma forte retranca e raros avanços ofensivos, com muita velocidade no contra-ataque. Treinando a seleção suíça, ele utilizou o esquema em três Copas do Mundo: 1938, 1954 e 1962. Mas foi na Copa de 54 que ele conseguiu seu melhor resultado, chegando às quartas de final. Desse modo, os placares das partidas envolvendo sua seleção era normalmente “econômicos”.

Assim, foi uma estranha surpresa quando a Suíça começou de forma fantástica e abriu 3 a 0 na metade do primeiro tempo. Foi um início formidável. Não percamos as contas.

Aos 16, Robert Ballaman aproveitou uma falha de um defensor adversário, dominou e bateu de fora da área. O goleiro Schmied nem se mexeu. 1 a 0 para a Suíça.

No minuto seguinte, bola na área da Áustria. A zaga não cortou e Josef Hügi se antecipou a um zagueiro e tocou para o gol. 2 a 0.

Seis minutos depois, um cruzamento da ponta direita encontrou Hügi na risca da pequena área e ele mandou a bola no alto do gol. 3 a 0.

Os austríacos estavam embasbacados e provavelmente estavam se perguntando o que estava acontecendo. Nem o mais fanático torcedor suíço esperava um começo tão perfeito, mas o que viria depois seria ainda mais surpreendente.

O time de branco acordou. A reação da Áustria começou no minuto 24, com uma tabela entre Theodor Wagner e Robert Körner, que Wagner chutou cruzado e rasteiro, diminuindo o marcador. 3 a 1 para a Suíça.

O gol mais bonito foi aos 26, quando Alfred Körner chutou de primeira de fora da área, com efeito, colocando a bola no ângulo do goleiro Parlier. 3 a 2.

O empate aconteceu um minuto depois. Wagner recebeu na ponta direita, perto do bico da área. Ele passou por dois marcadores e finalizou fraco, mas a bola entrou no canto direito do goleiro. 3 a 3. Jogo empatado. E era apenas o começo de uma das partidas mais dramáticas (e legais) da história das Copas.

A virada viria aos 32. Wagner rolou para Alfred Körner, que cruzou da direita para o meio da área, onde o capitão Ernst Ocwirk emendou lindamente de primeira, bem no cantinho direito. Os visitantes estavam na frente pela primeira vez, 4 a 3.

O famoso ferrolho suíço não se encontrava em campo e, após confusão na pequena área, Alfred Körner passou pelo goleiro e desviou para dentro. 5 a 3 aos 34 minutos. Inédito, incrível, fantástico e sensacional: o time austríaco marcou 5 gols em apenas 10 minutos.

E agora é a vez dos suíços se perguntarem o que estava acontecendo. E até conseguiram diminuir aos 39. Roger Vonlanthen engatou contra-ataque e lançou para Ballaman, que vinha na corrida, tocar para dentro.

A etapa inicial terminou com o inacreditável placar de 5 a 4 para os austríacos, que ainda se deram ao luxo de perder um pênalti aos 42, com Alfred Körner chutando para fora. Um recorde de nove gols em 45 minutos. Mas viriam mais.

No segundo tempo a técnica continuou fazendo a diferença para a Áustria. Aos oito minutos, Wagner interceptou um cruzamento alto que veio da esquerda e mandou para as redes. 6 a 4. Foi o sétimo “hat trick” dessa Copa.

Cinco minutos depois, Hügi chutou com eleito de fora da área; o goleiro tocou na bola, mas não evitou o gol. “Hat trick” também de Seppe Hügi. 6 a 5 para a Áustria, e a Suíça tentava a qualquer custo empatar esse épico confronto.

Mas aos 31 minutos do segundo tempo o placar foi alterado pela última vez. Erich Probst arrancou em velocidade desde a intermediária, entrou na área e tocou por cima do goleiro Parlier, que saía no lance. Probst desferiu o golpe final e acabou com as esperanças suíças.

Nos minutos finais, ambas as equipes começaram a “derreter” com o calor daquele dia. A Suíça estava ainda mais desgastada fisicamente, por ter disputado um jogo desempate. Mas os austríacos também foram afetados.


Eugène Parlier sai nos pés de Stojaspal. Poderia ter sido ainda maior a chuva de gols (Imagem: Pinterest)

● A partida ficou conhecida pelo nome alemão “Hitzeschlacht von Lausanne“, algo como “A Quente Batalha de Lausanne“, devido à alta temperatura em que foi jogada, aos 40º C.

Algumas fontes indicam que o calor tenha atrapalhado a Suíça, depois do início avassalador. Mas a Áustria talvez tenha sido mais prejudicada. Devido também à intensidade do duelo, o goleiro Kurt Schmied sofreu hipertermia logo no início, o que fez com que ele não oferecesse resistência aos primeiros gols adversários. Schmied chegou a desmaiar em campo e foi atendido pelo massagista. Ele ficou parte do segundo tempo agarrado a uma das traves. Ao final da partida, ele chegou a perguntar a um companheiro quem tinha vencido.

Após o jogo, o árbitro escocês Charlie Faultless foi agredido por um torcedor suíço ao deixar o estádio. Sua atuação foi criticada pela torcida local, que o acusou de favorecer os rivais. Ele foi salvo de outras agressões por dois dirigentes suíços, que o acompanharam até o hotel onde ele estava hospedado.

O capitão suíço de nome engraçado, Roger Bocquet, participou de todos os sete jogos de sua seleção nas Copas de 1950 e 1954. Na Copa de 1954, quando tinha 33 anos, teve diagnosticado um tumor no cérebro. Ele precisava de uma cirurgia e foi proibido de jogar por seu médico. Contrariando todas as recomendações, jogou a Copa em casa imaginando que não sobreviveria à operação e que talvez aquelas fossem suas últimas partidas. Depois da Copa, foi operado e felizmente viveu bem por mais 40 anos (faleceu em 1994, aos 73 anos de idade).

Esse jogo estabeleceu o recorde de gols em uma única partida de Copa do Mundo, com doze gols no total. Foi também a maior virada da história das Copas e a primeira em que uma equipe reverteu uma derrota parcial por três gols, igualada somente no jogo Portugal 5 x 3 Coreia do Norte, em 1966.

A Áustria não teve a mesma sorte nas semifinais. Foi devorada pela faminta Alemanha Ocidental por 6 a 1. Como prêmio de consolação veio o merecido 3º lugar, com vitória sobre os então campeões do mundo, Uruguai, por 3 a 1. Uma campanha histórica.


Ernst Happel disputa a jogada. Ele seria um dos maiores técnicos da história. Dentre diversas outras conquistas, foi campeão da Copa dos Campeões com o Feyenoord em 1969/70 e com o Hamburger em 1982/83, além de vice-campeão da Copa do Mundo de 1978 com a Holanda.

FICHA TÉCNICA:

 

SUÍÇA 5 X 7 ÁUSTRIA

 

Data: 26/06/1954

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olympique de La Pontaise

Público: 35.000

Cidade: Lausanne (Suíça)

Árbitro: Charlie Faultless (Escócia)

 

SUÍÇA (FERROLHO SUÍÇO):

ÁUSTRIA (WM):

2  Eugène Parlier (G)

1  Kurt Schmied (G)

7  André Neury

2  Gerhard Hanappi

10 Oliver Eggimann

3  Ernst Happel

4  Roger Bocquet (C)

4  Leopold Barschandt

14 Willy Kernen

5  Ernst Ocwirk (C)

9  Charles Casali

6  Karl Koller

16 Robert Ballaman

7  Robert Körner

15 Charles Antenen

9  Theodor Wagner

22 Roger Vonlanthen

21 Ernst Stojaspal

18 Josef “Seppe” Hügi

10 Erich Probst

17 Jacques Fatton

11 Alfred Körner

 

Técnico: Karl Rappan

Técnico: Walter Nausch

 

SUPLENTES:

 

 

1  Walter Eich (G)

15 Franz Pelikan (G)

3  Georges Stuber (G)

16 Walter Zeman (G)

5  Marcel Flückiger

12 Karl Stotz

6  Roger Mathis

13 Walter Kollmann

12 Gilbert Fesselet

20 Paul Halla

8  Heinz Bigler

14 Karl Giesser

11 Norbert Eschmann

17 Alfred Teinitzer

13 Ivo Frosio

18 Johann Riegler

20 Eugen Meier

19 Robert Dienst

19 Marcel Mauron

22 Walter Haumer

21 Ferdinando Riva

8  Walter Schleger

 

GOLS:

16′ Robert Ballaman (SUÍ)

17′ Josef Hügi (SUÍ)

23′ Josef Hügi (SUÍ)

24′ Theodor Wagner (ÁUT)

26′ Alfred Körner (ÁUT)

27′ Theodor Wagner (ÁUT)

32′ Ernst Ocwirk (ÁUT)

34′ Alfred Körner (ÁUT)

39′ Robert Ballaman (SUÍ)

53′ Theodor Wagner (ÁUT)

58′ Josef Hügi (SUÍ)

76′ Erich Probst (ÁUT)

Gols da partida:

Segue um compacto mais completo da da partida: