Três pontos sobre…
… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai
(Imagem: Esporte Ilustrado)
Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. Então, nada mais justo que o Campeonato Sul-Americano de Futebol voltasse a ser sediado no Brasil após um longo hiato de 27 anos. Nas outras duas edições em que foi a dona da casa, a Seleção Brasileira havia se sagrado campeã: em 1919 e 1922.
O técnico Flávio Costa era unanimidade, um verdadeiro estrategista, criador do sistema “Diagonal”, utilizado pela Seleção desde 1944. A geração de craques era prolífica, se destacando o trio Zizinho, Ademir de Menezes e Jair Rosa Pinto.
Por tudo isso e muito mais, a Seleção Brasileira era a grande favorita. Se já não bastasse, esse protagonismo ficou mais latente com a ausência da Argentina (que estava com relações futebolísticas cortadas com o Brasil desde a Copa América de 1946). Por sua vez, o Uruguai mandou uma equipe repleta de amadores, que ficou em 6º entre os oito participantes. Cabe ressaltar que os dois países vizinhos viviam na época a maior greve da história do futebol sul-americano.
Flávio Costa: estrategista (Imagem: O Globo)
A fragilidade dos demais adversários era clara. O Brasil estreou massacrando Equador (9 x 1) e Bolívia (10 x 1). Depois, venceu o Chile por 2 x 1 com tranquilidade – por mais que o placar não mostre isso. Voltou às goleadas com 5 a 0 sobre a Colômbia, 7 a 1 no Peru e 5 a 1 no Uruguai. Na última rodada, bastando empatar para ficar com o título, perdeu de virada para o Paraguai por 2 x 1. (Seria premonição, sobre o que poderia vir na Copa do Mundo, contra outro rival sul-americano muito mais forte?)
O Paraguai terminou empatado em pontos com o Brasil (12 para cada), com seis vitórias (3 x 0 na Colômbia, 1 x 0 no Equador, 3 x 1 no Peru, 4 x 2 no Chile, 7 x 0 sobre a Bolívia) e uma derrota (2 x 1 para o Uruguai).
Com isso, agora seria necessária a disputa da partida desempate, novamente entre Brasil e Paraguai. Era uma verdadeira final.
O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Era quase a origem do 4-2-4 que a Hungria consagraria quatro anos depois.
A Seleção Paraguaia jogava no tradicional WM.
A derrota começou a causar desconfiança na torcida e, especialmente na imprensa carioca. Mas, em um estádio São Januário lotado com mais de 55 mil expectadores, se alguém tinha dúvida sobre capacidade do escrete nacional, ela começou a se dissipar aos 17 minutos, quando Ademir de Menezes, o “Queixada” abriu o placar.
Ele mesmo aumentou dez minutos depois.
O título já estava encaminhado. A vantagem já era enorme no intervalo. Tesourinha havia feito o terceiro aos 43′.
Logo no reinício, aos três, Ademir fazia seu “hat trick” ou “tripleta”, como se fala na América Latina.
O Paraguai não teve mais forças.
Tesourinha fez outro aos 70. Jair Rosa Pinto fechou o placar aos 72′ e aos 89′.
Trio fantástico: Zizinho, Ademir e Jair (Imagem: Os Gigantes da Colina)
Foi um troco com sobras! Um massacre por 7 a 0!
Zizinho deu um show! Ademir de Menezes foi eleito o melhor da competição. Jair Rosa Pinto foi o artilheiro, com nove gols.
Mesmo com a goleada sofrida, o goleiro Sinforiano García se destacou e foi contratado pelo Flamengo logo depois do torneio. O rubro-negro da Gávea também assinaria com o atacante Jorge Benítez em 1952. Após o título do Paraguai na edição de 1953 (e a vingança sobre a Seleção Brasileira), o Flamengo completou seu trio de guaranis contratando o técnico Fleitas Solich, por indicação do escritor José Lins do Rêgo.
(Imagem: Ficha do Jogo)
A 21ª edição do Campeonato Sul-Americano teve o número recorde de 135 gols, sendo 46 deles marcados pelo Brasil. Em 29 jogos, a absurda média de gols ficou em 4,66 por partida.
A expectativa era de que a Copa América fosse uma espécie de preparação para a Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo em casa no ano seguinte. A fragilidade dos adversários (principalmente pelo “time B” do Uruguai) enganou a todos quanto ao nível da equipe. Na Copa, o Brasil passou com tranquilidade contra o México (4 x 0), empatou com a Suíça (2 x 2) e sofreu para ganhar da Iugoslávia (2 x 0). No quadrangular final, goleou Espanha (6 x 1) e Suécia (7 x 1), mas perdeu de virada (2 x 1) para o Uruguai na última partida.
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 7 x 0 PARAGUAI |
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Data: 11/05/1949 Horário: 21h00 locais Estádio: São Januário Público: 55.000 Cidade: Rio de Janeio (Brasil) Árbitro: Cyril Jack Barrick (Inglaterra) |
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BRASIL (WM Diagonal): |
PARAGUAI (WM): |
Barbosa (G) |
Sinforiano García (G) |
Augusto (C) |
Alberto González “Gonzalito“ |
Mauro |
Casiano Céspedes |
Ely |
Manuel Gavilán |
Danilo Alvim |
Pedro Nardelli |
Noronha |
Sixto Castor Cantero |
Tesourinha |
Pedro Fernández |
Zizinho |
César López Fretes (C) |
Ademir de Menezes |
Dionisio Arce |
Jair Rosa Pinto |
Jorge Duilio Benítez |
Simão |
Félix Vázquez |
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Técnico: Flávio Costa |
Técnico: Manuel Fleitas Solich |
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SUPLENTES: |
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Osvaldo Baliza (G) |
Dionisio Maciel (G) |
Wilso |
Antonio Cabrera |
Nílton Santos |
Francisco Calonga |
Bauer |
Armando González |
Rui |
Rogelio Negri |
Bigode |
César Santomé |
Cláudio Christovam de Pinho |
Enrique Ávalos |
Nininho |
Sixto Noceda |
Octávio Moraes |
Santiago Rivas |
Orlando Pingo de Ouro |
Marcial Barrios |
Canhotinho |
Estanislao Romero |
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GOLS: |
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17′ Ademir de Menezes (BRA) |
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27′ Ademir de Menezes (BRA) |
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43′ Tesourinha (BRA) |
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48′ Ademir de Menezes (BRA) |
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70′ Tesourinha (BRA) |
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72′ Jair Rosa Pinto (BRA) |
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89′ Jair Rosa Pinto (BRA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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Pedro Fernández ↓ |
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Marcial Barrios ↑ |
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Félix Vázquez ↓ |
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Estanislao Romero ↑ |
Esse Selecionado Brasileiro, mesmo tendo ganhado o título sul-americano, tendo goleado várias vezes seus adversários, já prenunciava que poderia ser surpreendido na final de 1950. Mesmo na fase de classificação, o empate com a Suíça em São Paulo por 2 a 2, já revelava certa leviandade de Flávio Costa, priorizando determinados só por serem de São Paulo, já que o jogo foi no Pacaembú. Mas o problema maior foi ter jogado com Augusto quando já tinha Djalma Santos, com Juvenal quando tinha o próprio Mauro Ramos, o absurdo de ter colocado Bigode quando tinha em sua melhor fase o extraordinário Nilson Santos. Além disso, já que Tesourinha encontrava-se lesionado, poderia ter jogado na frente com Cláudio muito superior a Friaça, com Didi, deslocando Zizinho que era excelente também no comando do ataque e Ademir para ponta esquerda, onde jogava quando Heleno estava na plenitude de sua forma. Em síntese, uma equipe formada por
Barbosa, Djalma Santos, Mauro Ramos, Danilo e Nilton Santos; Bauer e Didi; Cláudio, Zizinho, Jair e Ademir, teria facilmente goleado o Uruguai no que se tornou a famigerada final de 50, no Maracanã.
Augusto era não só o capitão da Seleção como do Expresso da Vitória. Nenhum dos gols acontecerem pelo seu lado.