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… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

● A seleção de Camarões havia sido uma grande surpresa em 1982, quando debutou na Copa do Mundo e terminou invicta. Oito anos depois, voltava a disputar um Mundial. Quatro eram os atletas remanescentes: os goleiros Thomas N’Kono e Joseph-Antoine Bell, o zagueiro Emmanuel Kundé e o atacante Roger Milla.

Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos Leões Indomáveis para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.

Com o objetivo de profissionalizar a seleção, a federação camaronesa montou uma eficiente estrutura, além de trazer o técnico soviético Valery Nepomnyashchy, ex-auxiliar do treinador da URSS Valeriy Lobanovskyi. Apreciador dos métodos de seu mestre, Nepomnyashchy tratou de misturar o talento natural dos africanos a um sistema tático mais rigoroso, mas sem deixar de potencializar a técnica.

Camarões foi líder do difícil e equilibrado Grupo B. Estreou vencendo por 1 x 0 a campeã mundial Argentina, de Diego Maradona. Depois, bateu a Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, por 2 x 1. Já classificado, foi goleado por 4 x 0 pela União Soviética, campeã olímpica dois anos antes. A Colômbia foi a adversária nas oitavas de final, em uma partida histórica. Roger Milla fez dois gols na prorrogação, um deles ao roubar a bola do goleiro René Higuita, que tentou sair driblando. O placar de 2 x 1 sobre os cafeteros garantiu Camarões como a primeira seleção africana da história a chegar às quartas de final da Copa do Mundo.

A seleção de Camarões era considerada o “segundo time” de todos os torcedores que assistiram à Copa do Mundo de 1990. Muito por ser novidade, mas mais ainda pelo futebol bonito que havia sido apresentado até então. Os otimistas acreditavam que os africanos pudessem surpreender o bom time da Inglaterra.

Embora jogasse bonito, os africanos também eram muito duros na marcação. Comumente, até apelavam para a violência. Por isso o time tinha quatro importantes desfalques para o duelo diante dos ingleses, todos por terem recebido o segundo cartão amarelo no Mundial: os zagueiros Victor N’Dip e Jules Onana, o volante André Kana-Biyik e o meia Émile Mbouh.

● A seleção inglesa chegava com uma grande invencibilidade pré-Copa – inclusive com uma vitória sobre o Brasil por 1 x 0. O experiente técnico Bobby Robson soube montar um time que acabou com a histórica desconfiança dos torcedores e era considerado um dos favoritos ao título.

Gary Lineker continuava sendo o responsável pelos gols, mas o grande queridinho da torcida era o meia Paul Gascoigne. Com tamanha elegância em campo, ele nem parecia um inglês. Mas Gazza não agradava totalmente ao técnico por usa indisciplina tática, embora compensasse com o seu talento. Ambos demonstravam na seleção o entrosamento que adquiriram jogando juntos no Tottenham.

Outro destaque era o meia driblador Chris Waddle, que atravessava excelente fase no Olympique de Marselha. A experiência em campo vinha do ótimo goleiro Peter Shilton e seus 40 anos. A surpresa na convocação foi o explosivo atacante Steve Bull, artilheiro do Wolverhampton, que estava na terceira divisão inglesa na época. A grande ausência era o capitão Bryan Robson, que ainda não havia se recuperado totalmente de uma cirurgia de hérnia.

Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas de final, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0).

O English Team se preparou para as oitavas de final sabendo o perigo que corria ao enfrentar os fortes e arrojados camaroneses.


Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Barnes e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.


No papel, o técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-4-2. Sem a bola, Emmanuel Kundé se transformava em líbero e o time se defendia no 4-5-1. Com a bola, os meias avançavam em velocidade e o time se formava no 4-3-3. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.

● Inglaterra e Camarões fizeram o melhor jogo da etapa das quartas de final da Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Mais de 55 mil expectadores se fizeram presentes no estádio San Paolo, em Nápoles.

Camarões teve a chance de abrir o placar e só não o fez porque Shilton salvou um chute cara a cara com François Omam-Biyik.

Aos 25 minutos de jogo, David Platt abriu o placar. Stuart Pearce avançou pela esquerda e cruzou pelo alto. Platt apareceu sozinho na pequena área e cabeceou firme para baixo. A bola passou entre as pernas do goleiro Thomas N’Kono, que havia saltado para fechar o ângulo. Foi o segundo gol do camisa 17 na Copa de 1990.

Mas, como era de praxe, Roger Milla entrou no intervalo para mudar o rumo da partida. O “vovô” camaronês era a arma secreta – nem tão secreta assim.

Aos 16′ da etapa final, ele recebeu passe dentro da área, protegeu com o corpo e foi derrubado por Gascoigne. O líbero Emmanuel Kundé bateu com precisão e a bola foi no ângulo esquerdo de Peter Shilton – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.

Quatro minutos depois, Milla viu a infiltração de Eugène Ekéké e fez o passe com precisão para o meio da área. Ekéké só deu um toque por cima para tirar o goleiro da jogada. Era a virada camaronesa.

Em sua ampla maioria, a torcida napolitana era para os azarões africanos.

Depois, os camaroneses passaram a abusar das firulas e jogadas de efeito, mas sem efetividade. “A bola pune”, como diria Muricy Ramalho.

A sete minutos do fim, Paul Parker interceptou um lançamento já na intermediária ofensiva e Mark Wright ajeitou para Gary Lineker. Dentro da área, o atacante inglês deu um corte em Benjamin Massing e foi derrubado. O próprio Lineker bateu o pênalti à meia altura no canto esquerdo, deslocando o goleiro Thomas N’Kono, que pulou para a direita.

Camarões ainda teve uma última chance. Ekéké tocou para Cyrille Makanaky. Ele invadiu a área, deixou Pearce no chão, mas foi travado em cima da hora por Trevor Steven.

Com o placar igual no tempo normal, o jogo foi definido na prorrogação.

O líbero Mark Wright se machucou em um choque de cabeça acidental com Roger Milla e voltou ao jogo com uma caixa amarrada na cabeça. Ele cortou o supercílio esquerdo.

Os Leões Indomáveis farejam sangue e foram para cima dos Three Lions. Makanaky fez boa jogada pelo lado direito, passou por Pearce e cruzou. Wright tirou a bola da cabeça de Ekéké. Ela subiu, François Omam-Biyik ganhou no alto de Des Walker e cabeceou, mas Shilton segurou firme.

No fim do primeiro tempo extra, Gascoigne fez um passe magistral. Lineker arrancou sozinho e foi derrubado dentro da área em dividida com Massing e N’Kono. Outra penalidade. Dessa vez, Lineker encheu o pé no meio do gol e N’Kono caiu para o lado esquerdo. Nova virada no marcador, dessa vez em definitivo, a favor dos ingleses.

De forma dramática, a Inglaterra segurou o 3 x 2 e se classificou.

O técnico Bobby Robson, que sempre tratou Paul Gascoigne como uma bomba relógio prestes a explodir – o que de fato era – se abraçou forte com o jogador após o apito final.

Com exceção dos ingleses, todos lamentavam a queda do time que ousou enfrentar seus adversários com criatividade e alegria – e uma pitada de irresponsabilidade, que acabou lhe custando a vaga nas semifinais.

Mas os camaroneses não se sentiram derrotados. Foram aplaudidos de pé e deram a volta olímpica no estádio San Paolo.

Roger Milla e seus companheiros já tinham entrado para a história das Copas.

● A arbitragem do mexicano Edgardo Codesal foi bastante elogiada pela imprensa internacional, principalmente pela coragem em marcar três pênaltis em um mesmo jogo (todos existentes), algo difícil de acontecer. Por causa dessa atuação, ele acabaria sendo indicado para apitar a final da Copa – quando não foi muito bem e apitou um pênalti bastante polêmico.

Na semifinal, a Inglaterra encontrou seus dois algozes que se tornariam históricos dali adiante: as decisões por pênaltis e a Alemanha Ocidental. O empate por 1 x 1 no tempo normal se manteve na prorrogação. Na decisão por penalidades, os erros de Stuart Pearce e Chris Waddle impediram que os britânicos voltassem a disputar uma final, com a derrota por 4 x 3. Na decisão do 3º lugar, a Inglaterra perdeu por 2 x 1 para a anfitriã Itália.

Curiosamente, o filho mais velho do goleiro italiano Gianluigi Buffon se chama Thomas, em homenagem ao goleiro camaronês Thomas N’Kono.

O antigo estádio San Paolo foi renomeado no fim de 2020 para estádio Diego Armando Maradona, maior ídolo da história do Napoli – clube que manda seus jogos no estádio.


(Imagens desse texto: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

INGLATERRA 3 x 2 CAMARÕES

 

Data: 01/07/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: San Paolo

Público: 55.205

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Edgardo Codesal (México)

 

INGLATERRA (3-6-1):

CAMARÕES (4-2-3-1):

1  Peter Shilton (G)

16 Thomas N’Kono (G)

12 Paul Parker

14 Stephen Tataw (C)

5  Des Walker

6  Emmanuel Kundé

14 Mark Wright

4  Benjamin Massing

6  Terry Butcher (C)

5  Bertin Ebwellé

3  Stuart Pearce

15 Thomas Libiih

8  Chris Waddle

21 Emmanuel Maboang

17 David Platt

13 Jean-Claude Pagal

19 Paul Gascoigne

10 Louis-Paul M’Fédé

11 John Barnes

20 Cyrille Makanaky

10 Gary Lineker

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Bobby Robson

Técnico: Valery Nepomnyashchy

 

SUPLENTES:

 

 

13 Chris Woods (G)

22 Jacques Songo’o (G)

22 Dave Beasant (G)

[22 David Seaman (G)]

1  Joseph-Antoine Bell (G)

2  Gary Stevens

17 Victor N’Dip

15 Tony Dorigo

3  Jules Onana

4  Neil Webb

12 Alphonse Yombi

16 Steve McMahon

2  André Kana-Biyik

18 Steve Hodge

8  Émile Mbouh

7  Bryan Robson

19 Roger Feutmba

20 Trevor Steven

11 Eugène Ekéké

9  Peter Beardsley

18 Bonaventure Djonkep

21 Steve Bull

9  Roger Milla

 

GOLS:

25′ David Platt (ING)

61′ Emmanuel Kundé (CAM) (pen)

65′ Eugène Ekéké (CAM)

83′ Gary Lineker (ING) (pen)

105′ Gary Lineker (ING) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Benjamin Massing (CAM)

70′ Stuart Pearce (ING)

104′ Thomas N’Kono (CAM)

120′ Roger Milla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO John Barnes (ING) ↓

Peter Beardsley (ING)

 

INTERVALO Emmanuel Maboang (CAM) ↓

Roger Milla (CAM)

 

62′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Eugène Ekéké (CAM)

 

73′ Terry Butcher (ING) ↓

Trevor Steven (ING)

Melhores momentos da partida (Band):

… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões


(Imagem: FIFA)

● Como já contamos aqui, com a desfragmentação da União Soviética poucos anos antes, muitos jogadores permaneceram representando a Rússia. Mas o clima era tenso e seis dos melhores atletas promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin.

Também com muitas brigas internas, a seleção de Camarões não eram nem sombra dos Leões Indomáveis de 1990. Era o mesmo time-base, mas quatro anos mais velhos e cansados. O ataque era forte, mas a defesa não inspirava a mínima confiança.

O técnico francês Henri Michel surpreendeu ao convocar o veteraníssimo Roger Milla para disputar a Copa do Mundo de 1994. O atacante esteve presente no Mundial de 1982, quando Camarões fez sua estreia no torneio e terminou invicto. Em 1990, Milla já tinha 38 anos, mas foi o líder de uma seleção que surpreendeu ao chegar nas quartas de final.

Nas duas primeiras rodadas, a Rússia havia perdido para o Brasil por 2 x 0 e para a Suécia por 3 x 1.

Por sua vez, Camarões empatou com a Suécia por 2 a 2 no primeiro jogo e perdeu para a Seleção Brasileira por 3 a 0 no segundo.

O goleiro titular de Camarões nas duas primeiras partidas foi Joseph-Antoine Bell. A população camaronesa elegeu Bell como o principal responsável pela má campanha de seu país no Mundial e sua casa chegou a ser incendiada durante o torneio.

Para o último jogo, Henri Michel resolveu trocar o goleiro. Bell era veterano, com quase 40 anos. Todos esperavam que jogasse o antigo titular, o também veterano Thomas N’Kono, de 38 anos. Mas quem jogou foi o mais novo dos três, Jacques Songo’o, de “apenas” 30 anos.

Pavel Sadyrin também trocou seu goleiro. Tirou Dmitri Kharine, seu capitão, para colocar Stanislav Cherchesov – o atual técnico da seleção russa.

Enquanto a Rússia estava praticamente eliminada, Camarões ainda tinha chances de se classificar, em caso de vitória nessa última rodada.


A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Tetradze e Tsymbalar bastante adiantados.


Camarões atuou no sistema 4-4-2.

● A enxurrada de gols começou aos 15 minutos. A defesa camaronesa travou o avanço de Omari Tetradze e a bola sobrou para Oleg Salenko bater entre as pernas do goleiro Songo’o. 1 a 0.

Camarões teve chance de empatar. François Omam-Biyik fez jogada individual pela esquerda e chutou no travessão.

Aos 41′, Ilya Tsymbalar recebeu nas costas da marcação – que pedia impedimento – avançou e rolou para o lado. Salenko, sozinho e sem goleiro, tocou para o gol vazio. O goleiro até tentou pular em seus pés, mas não teve chances. 2 a 0.

Um minuto antes do fim da etapa inicial, Victor N’Dip derrubou Tsymbalar dentro da área. Salenko bateu pênalti fraquinho no canto esquerdo, deslocando Songo’o, que pulou para o lado oposto. 3 a 0.

Em 1994, assim como em 1990, Roger Milla entrou no intervalo de todas as partidas dos Leões Indomáveis. Ele tinha acabado de entrar quando recebeu passe de David Embé dentro da área. Milla ganhou de Dmitri Khlestov no corpo e, mesmo caindo, finalizou cruzado, sem chances para o goleiro Cherchesov. 3 a 1.

Aos 27′, Tetradze arrancou pela direita, entrou dentro da área e cruzou rasteiro para trás. Salenko chegou batendo no alto, fazendo seu quarto gol na partida. 4 a 1.

Os africanos se arrastavam em campo. Os russos aproveitaram a incrível facilidade para consagrar o atacante Oleg Salenko.

Aos 30′, Salenko escapou da marcação, recebeu o passe perfeito de Khlestov em profundidade e só teve o trabalho de dar um toque por cima do goleiro. 5 a 1.

O último gol veio sete minutos depois. Vladimir Beschastnykh puxou jogada pela esquerda, desde seu campo e lançou Salenko. De cabeça, ainda na intermediária, ele serviu Dmitri Radchenko, que invadiu a área e bateu entre as pernas do goleiro. 6 a 1.


(Imagem: Lance!)

● Só depois foi descoberto o motivo da apatia dos africanos. Boa parte do elenco havia caído na farra durante a madrugada que antecedeu ao jogo. Eles achavam que não tinham mais chances de classificação.

Com a goleada, a Rússia mantinha viva a expectativa de terminar a fase de grupos como um dos melhores terceiros colocados – o que acabou não acontecendo. No fim, as duas seleções morreram abraçadas e ambas foram eliminadas na primeira fase.

Mesmo com a goleada sofrida, os camaroneses tiveram o que comemorar. Roger Milla estabeleceu dois recordes nessa partida. Ele se tornou o mais velho a marcar um gol em Copas do Mundo, marca que se mantém até os dias atuais. Mais que isso, ele também se tornou o mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo, com 42 anos e 39 dias. Esse recorde permaneceu até 2014, quando o goleiro colombiano Faryd Mondragón o quebrou, com 43 anos e 3 dias. Essa marca seria quebrada no Mundial seguinte, em 2018, quando o goleiro egípcio Essam El-Hadary foi titular e até defendeu pênalti diante da Arábia Saudita.

Também nessa partida, Oleg Salenko se tornou o primeiro jogador da história das Copas a marcar cinco gols em um mesmo jogo de Copa do Mundo. Somando esses cinco gols ao tento que ele havia anotado diante da Suécia, Salenko acabou como um dos artilheiros do Mundial, ao lado do búlgaro Hristo Stoichkov.

Nada mal para um jogador de uma seleção que acabou eliminada na primeira fase. Foi o ápice da carreira do medíocre Salenko, que nunca mais faria sucesso. Esse foi o último jogo dele pela seleção russa. Esses seis gols na Copa de 1994 foram os únicos dele pela seleção, em oito jogos. Ele teve que encerrar a carreira poucos anos depois devido à sequência de sérias lesões. Mas, enquanto jogou, Salenko jamais repetiu o que fez naquele verão americano. Nunca mais fez nem dois gols em uma mesma partida.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

RÚSSIA 6 x 1 CAMARÕES

 

Data: 28/06/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Stanford Stadium

Público: 74.914

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Jamal Al Sharif (Síria)

 

RÚSSIA (3-5-2):

CAMARÕES (4-4-2):

1  Stanislav Cherchesov (G)

22 Jacques Songo’o (G)

5  Yuriy Nikiforov

14 Stephen Tataw (C)

21 Dmitri Khlestov

13 Raymond Kalla

6  Vladislav Ternavsky

5  Victor N’Dip

12 Omari Tetradze

15 Hans Agbo

18 Viktor Onopko (C)

2  André Kana-Biyik

20 Igor Lediakhov

17 Marc-Vivien Foé

10 Valeri Karpin

6  Thomas Libiih

17 Ilya Tsymbalar

10 Louis-Paul M’Fédé

14 Igor Korneev

19 David Embé

9  Oleg Salenko

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Pavel Sadyrin

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dmitri Kharine (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

3  Sergei Gorlukovich

21 Thomas N’Kono (G)

2  Dmitri Kuznetsov

3  Rigobert Song

4  Dmitri Galiamin

4  Samuel Ekemé

8  Dmitri Popov

12 Paul Loga

7  Andrey Pyatnitsky

18 Jean-Pierre Fiala

19 Aleksandr Mostovoi

8  Émile Mbouh

13 Aleksandr Borodyuk

11 Emmanuel Maboang

11 Vladimir Beschastnykh

20 Georges Mouyémé

15 Dmitri Radchenko

16 Alphonse Tchami

22 Sergei Yuran

9  Roger Milla

 

GOLS:

15′ Oleg Salenko (RUS)

41′ Oleg Salenko (RUS)

44′ Oleg Salenko (RUS) (pen)

46′ Roger Milla (CAM)

72′ Oleg Salenko (RUS)

75′ Oleg Salenko (RUS)

81′ Dmitri Radchenko (RUS)

 

CARTÕES AMARELOS:

12′ André Kana-Biyik (CAM)

44′ Jacques Songo’o (CAM)

57′ Valeri Karpin (RUS)

87′ Dmitri Khlestov (RUS)

90′ Yuriy Nikiforov (RUS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Roger Milla (CAM) ↑

 

47′ David Embé (CAM) ↓

Alphonse Tchami (CAM) ↑

 

65′ Igor Korneev (RUS) ↓

Dmitri Radchenko (RUS) ↑

 

78′ Igor Lediakhov (RUS) ↓

Vladimir Beschastnykh (RUS) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões


Lauren e Holland disputavam a bola no meio campo (Imagem: Pinterest)

● Camarões tinha a expectativa de fazer uma campanha de destaque. Os mais delirantes otimistas sonhavam até com o título. Em franca evolução, muitos apostavam que os “Leões Indomáveis” seriam a primeira seleção africana a vencer uma Copa do Mundo. Nos últimos dois anos, haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, além do bicampeonato da Copa Africana das Nações (2000 e 2002).

Eram muitos os veteranos de Mundiais anteriores. De 1994, se mantinham no elenco o goleiro Jacques Songo’o, os zagueiros Rigobert Song e Raymond Kalla, além do volante Marc-Vivien Foé (que faleceria em campo na semifinal da Copa das Confederações de 2003). Dos convocados em 1998, ainda estavam os alas Pierre Womé e Pierre Njanka, os meias Lauren e Salomon Olembé e os atacantes Joseph-Désiré Job, Patrick Mboma e Samuel Eto’o. Dentre os novos nomes, destaque para o ala Geremi, do Real Madrid.

Possuía jogadores de qualidade técnica e experiência no futebol europeu. Como não poderia deixar de ser, a principal força ainda era a perigosa dupla de ataque formada pelo veterano Mboma e o jovem Eto’o.

Mas o ciclo até o Mundial foi tumultuado. De 1998 a 2002, cinco técnicos passaram pelo comando da equipe. Os últimos preparativos foram caóticos, com a viagem até o Japão demorando cinco dias.


Seleção de Camarões no Mundial de 2002 (Imagem: ESPN)

● O ex-zagueiro inglês Jack Charlton se tornou treinador da Irlanda em 1986 e adaptou o time às características de seus jogadores. Com isso, “The Boys in Green” (apelido da seleção) passaram a ser conhecidos pelo futebol em que a determinação tática e a força física se sobrepunham à técnica. Resumindo: normalmente eram poucos gols, tanto a favor quanto contra. Os especialistas consideravam um jogo chato, de futebol feio, mas que era muito difícil ser derrotado. Havia participado de dois Mundiais e passado de fase em ambos: chegou às quartas de final em 1990 (perdeu para a Itália por 1 x 0) e ficou nas oitavas em 1994 (caiu para a Holanda, 2 x 0).

Para o lugar de Charlton, foi escolhido o ex-zagueiro Mick McCarthy. O técnico irlandês havia disputado a Copa de 1990 e ainda se sentia como se estivesse dentro do campo: usava blusa, calções, meiões e chuteiras para comandar seu time à beira do campo. McCarthy assumiu a equipe em 1996 e se deparou com uma equipe envelhecida. Logo, tratou de renovar o elenco e deixar de fora figurinhas carimbadas como o lateral Denis Irwin e o zagueiro Phil Babb. O trabalho não deu resultados de imediato, ficando fora da Copa de 1998 e da Eurocopa 2000.

Nas eliminatórias para a Copa de 2002, a descrença foi enorme ao cair em um grupo com Holanda e Portugal, semifinalistas da Euro 2000. Mas a Irlanda surpreendeu e terminou invicta, com sete vitórias e três empates – eliminando a poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998 e com um elenco magnífico. Os verdes ficaram empatados com lusos na liderança do Grupo 2, perdendo apenas no saldo de gols. E por terem feito a melhor campanha entre os segundos colocados nos grupos da qualificatória europeia, se beneficiaram ao disputar a repescagem intercontinental contra o Irã. Vitória por 2 x 0 em Dublin e derrota por 1 x 0 em Teerã colocaram os gaélicos no Mundial.

Já em maio, às vésperas da estreia no Mundial, houve um discussão pública entre o experiente capitão Roy Keane e o técnico McCarthy. O volante do Manchester United fez fortes críticas à preparação da seleção e, principalmente à infraestrutura das instalações da cidade de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, no meio do Oceano Índico. O treinador considerou como um desrespeito e expulsou Keane da delegação, mantendo sua posição mesmo após o volante ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A federação irlandesa tentou substituir Roy Keane por Colin Healy na lista dos inscritos, mas a FIFA não autorizou. As regras dizem que a lista só pode ser alterada em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior, como, por exemplo, o falecimento de um familiar.

Com a saída de Roy Keane, o zagueiro Steve Staunton se tornou o capitão. Junto a ele, eram outros três remanescentes da Copa de 1994: o goleiro reserva Alan Kelly, o lateral direito Gary Kelly e o meia direita Jason McAteer. E ainda havia um remanescente de 1990, o veterano atacante grandalhão Niall Quinn (o mais pesado da Copa, com 100 kg – que ficou ausente de 1994 por lesão).

Mesmo com atacantes leves e habilidosos como Robbie Keane e Damien Duff, o time era adepto do estilo “kick and rush”, com foco nas bolas longas, lançamentos e cruzamentos. A técnica que faltava era compensada pela energia que sobrava. Os atletas sempre se doavam ao máximo.


A Irlanda jogava no 4-4-2 clássico, com dois atacantes leves.


O técnico alemão Winfried Schäfer formava sua equipe no sistema 3-5-2, com destaques individuais em todos os setores.

● A primeira partida do Grupo E foi na cidade japonesa de Niigata. Mais de 33 mil pessoas foram ver um duelo escolas de futebol bastante diferentes. E foram mesmo dois tempos muito desiguais, quase que dois jogos distintos. Cada seleção dominou uma etapa.

Considerado favorito, Camarões levou a melhor nos primeiros 45 minutos. Com um futebol mais habilidoso e rápido, conseguiu vencer a sempre bem postada defesa irlandesa.

Aos 39, Geremi abriu na ponta direita para Eto’o, que invadiu a área e passou a bola entre as pernas de Ian Harte. O goleiro irlandês Given se precipitou e saiu mal, deixando o gol livre. E Eto’o deixou a bola para Mboma, mesmo caído, chutar no canto e inaugurar o marcador.

Na etapa final, a Irlanda conseguiu equilibrar o jogo e se impor. O futebol simples e objetivo funcionou e o gol de empate veio aos sete minutos. Given cobrou o tiro de meta. Kevin Kilbane, o melhor em campo, dominou, avançou pela esquerda e cruzou para a área. A defesa africana escorou para o meio e, de fora da área, Matt Holland emendou um balaço de primeira, no cantinho direito do goleiro Alioum Boukar.

E pouco houve nos minutos seguintes. Nada digno de nota.

Por ser o jogo de estreia, o empate acabou sendo um bom resultado para os dois.


Salomon Olembé e Matt Holland disputam bola (Imagem: Masahide Tomikoshi)

Na segunda rodada, a Irlanda surpreendeu e conseguiu um bravo empate com a Alemanha por 1 x 1, no último minuto. Na terceira partida, não teve dificuldades para bater a fraca Arábia Saudita por 3 x 0, se classificando como segundo lugar no Grupo E. Mas oitavas de final, empatou com a Espanha em 1 x 1, mas perdeu nos pênaltis por 3 x 2. Juntamente com o campeão Brasil e com a Espanha (que foi eliminada também nos pênaltis nas quartas de final para a Coreia do Sul), a Irlanda terminou a Copa de 2002 invicta.

No extremo oriente, os “Leões” não foram tão “Indomáveis” assim. Os camaroneses não cumpriram as expectativas exageradamente criadas e ficaram ainda na primeira fase. Após o empate com a Irlanda por 1 x 1, ganhou da Arábia Saudita apenas por 1 x 0. Na rodada final, perdeu por 2 a 0 para a Alemanha em um jogo bastante truculento, chegando a ser violento em alguns momentos.

O principal destaque na quinta participação camaronesa seria fora de campo. Na Copa Africana de Nações de 2002, os atletas usaram uma camisa sem mangas. O modelo recebeu o nome em inglês de sleeveless (literalmente “sem mangas”, em português). O estilo foi utilizado tanto para o uniforme principal, camisa verde, quanto para o reserva, camisa branca. A justificativa da fabricante Puma para a criação do modelo foi a inspiração no basquete, como uma forma para tentar refrescar os atletas. A ideia revolucionária deu “pano pra manga” e não agradou à Fifa, que reprovou o uniforme e proibiu o uso da camisa em março de 2002, três meses antes do início do Mundial. A entidade máxima do futebol alegou que o uniforme fugia das regras de jogo e impossibilitava a colocação de um brasão de uso obrigatório nos jogos da Copa. E para não perder o trabalho de marketing, a Puma contornou a situação desenvolvendo uma camisa com mangas pretas, dando a impressão de que os jogadores estavam mesmo sem mangas.

Curiosamente, o ex-goleiro Thomas N’Kono (titular em 1982 e 1990) era o treinador de goleiros da seleção. Na semifinal da CAN, no começo de 2002, foi preso após praticar magia negra durante a semifinal, quando Camarões venceu Mali por 3 x 0.


Uniforme sem mangas utilizado por Camarões na CAN 2002 (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

IRLANDA 1 x 1 CAMARÕES

 

Data: 01/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Big Swan

Público: 33.679

Cidade: Niigata (Japão)

Árbitro: Ubaldo Aquino (Paraguai)

 

IRLANDA (4-4-2):

CAMARÕES (3-5-2):

1  Shay Given (G)

1  Alioum Boukar (G)

18 Gary Kelly

4  Rigobert Song (C)

14 Gary Breen

5  Raymond Kalla

5  Steve Staunton (C)

2  Bill Tchato

3  Ian Harte

8  Geremi Njitap

7  Jason McAteer

12 Lauren Etame

12 Mark Kinsella

17 Marc-Vivien Foé

8  Matt Holland

20 Salomon Olembé

11 Kevin Kilbane

3  Pierre Womé

9  Damien Duff

10 Patrick Mboma

10 Robbie Keane

9  Samuel Eto’o

 

Técnico: Mick McCarthy

Técnico: Winfried Schäfer

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dean Kiely (G)

22 Idriss Carlos Kameni (G)

23 Alan Kelly (G)

16 Jacques Songo’o (G)

2  Steve Finnan

13 Lucien Mettomo

15 Richard Dunne

6  Pierre Njanka

4  Kenny Cunningham

14 Joël Epalle

20 Andy O’Brien

15 Nicolas Alnoudji

21 Steven Reid

19 Eric Djemba-Djemba

22 Lee Carsley

23 Daniel Ngom Kome

6  Roy Keane (cortado da delegação)

7  Joseph Ndo

19 Clinton Morrison

21 Joseph-Désiré Job

13 David Connolly

11 Pius N’Diefi

17 Niall Quinn

18 Patrick Suffo

 

GOLS:

39′ Patrick Mboma (IRL)

52′ Matt Holland (IRL)

 

CARTÕES AMARELOS:

30′ Jason McAteer (IRL)

51′ Steve Finnan (IRL)

82′ Steven Reid (IRL)

89′ Raymond Kalla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Jason McAteer (IRL) ↓

Steve Finnan (IRL) ↑

 

69′ Patrick Mboma (CAM) ↓

Patrick Suffo (CAM) ↑

 

77′ Ian Harte (IRL) ↓

Steven Reid (IRL) ↑

Melhor momentos da partida:

… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina

Três pontos sobre…
… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina


Omam-Biyik deu um salto acrobático para marcar o gol camaronês (Imagem: UOL)

● A seleção argentina tinha vencido duas das três últimas Copas do Mundo, mas claramente não era a mesma de quatro anos antes. Fracassou na Copa América que sediou, em 1987, mesmo ainda tendo o time base de um ano antes. O novo fracasso na Copa América de 1989, organizada e vencida pelo Brasil, levou os argentinos a chegarem com menos cartaz na Itália, no Mundial de 1990. A bem da verdade, cada vez mais eles dependiam de Diego Armando Maradona. Entre o fim da Copa de 1986 e o início do Mundial de 1990, os portenhos jogaram 31 vezes e conseguiram apenas seis vitórias. Mas Diego motivou o time, dizendo: “vão ter que arrancar a Copa de nossas mãos”. Ao final das contas, aos trancos e barrancos, ainda era a Argentina.

No Mundial de 1990, dos 22 selecionados pelo técnico Carlos Bilardo, apenas sete eram remanescentes do título de 1986 e cinco deles entrariam em campo na estreia, contra Camarões: o goleiro Nery Pumpido, o zagueiro Oscar Ruggeri, o volante Sergio Batista, o meia Jorge Burruchaga e o gênio Maradona. Os dois reservas campeões eram os alas Ricardo Giusti e Julio Olarticoechea.

A única esperança argentina era em Maradona. Apenas 15 dias antes, ele havia deixado o sul da Itália em festa ao liderar o Napoli à conquista de seu segundo scudetto em quatro anos (os únicos na história dos partenopei). Sempre protagonista, a simples presença do camisa 10 poderia fazer a diferença para os hermanos. Mas ele não estava fisicamente bem e jogou a Copa toda com fortes dores nos tornozelos.

No mesmo dia 08 de junho, poucas horas antes da partida, o presidente argentino Carlos Menem se reuniu com os jogadores e o técnico Bilardo. Nesse encontro, Menem outorgou a Maradona um passaporte oficial e o nomeou assessor do governo para “assuntos desportivos e difusão da imagem argentina no exterior”. Diego aceitou e ficou emocionado com a nomeação. Mas, em março de 1991, ele foi pego no exame antidoping com cocaína em uma partida com o Napoli e foi suspenso do futebol até 30 de junho de 1992, em caso que gerou enorme repercussão mundial. Em 25/04/1991, Menem assinou um novo decreto que revogava o anterior e retirada a designação diplomática de Maradona.


Maradona não estava bem fisicamente e apanhou o jogo todo (Imagem: ESPN)

● O Grupo B era realmente o mais difícil a Copa. Era formado pela campeã mundial Argentina, a campeã olímpica União Soviética, a Romênia do craque Gheorghe Hagi e Camarões, vencedor da Copa Africana de Nações dois anos antes.

A campanha invicta de Camarões em 1982 ainda estava viva na memória dos amantes do futebol alternativo. Alguns veteranos permaneceram, como o goleiro Thomas N’Kono e o atacante Roger Milla.

Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos “Leões Indomáveis” para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.


O técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-2-3-1. Sem a bola, Victor N’Dip (o mais fraco do grupo) se transformava em líbero. Com a bola, os meias avançavam em velocidade. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.


Carlos Bilardo mandou sua equipe ao campo no 3-5-2, com forte proteção ao sistema defensivo e liberdade para Burruchaga e Maradona criarem.

● Um desfile de modas abriu a competição antes da partida inaugural, no estádio San Siro, em Milão – capital da moda. No jogo de abertura, a expectativa era de um duelo entre um dos favoritos ao Mundial contra um mero coadjuvante. Assim como na abertura da Copa de 1982, quando também defendia o título, a Argentina foi a campo como favorita. E, assim como em 1982 (1 a 0 para a Bélgica), também perderia a partida.

Em poucos minutos de bola rolando, os camaroneses mostraram que seriam adversários duros de serem batidos. Sua defesa era um misto de um pouco de ingenuidade e muito de violência. Com apenas nove minutos de jogo, o beque Benjamin Massing recebeu o primeiro cartão da Copa por dar um bico por trás no tornozelo já baleado de Maradona. Os “Leões Indomáveis” não eram nada dóceis.

Em compensação, o ataque dos africanos era ágil e liso e a defesa argentina também apelava para as faltas. Assim, enquanto as bordoadas se seguiam de lado a lado, os primeiros 45 minutos de passaram e nenhuma das equipes conseguiu criar chances reais de gol.

No intervalo, o técnico Carlos Bilardo desfez o sistema 3-5-2 argentino, colocando o rápido atacante Claudio Caniggia no lugar do veterano zagueiro Oscar Ruggeri.

E na etapa final, a situação ficou mais favorável aos sul-americanos quando o volante André Kana-Biyik foi expulso aos 16′ por derrubar Caniggia por trás e matar um contra-ataque argentino. Mas, mesmo com dez atletas, Camarões continuou correndo e batendo. E o jogo começava a ganhar cara de 0 x 0.


(Imagem: Globo)

Mas o gol saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Após cobrança de falta da esquerda para a área albiceleste, Makanaky disputou com Lorenzo e jogou a bola para cima. Sensini ficou só olhando e não viu a aproximação de Omam-Biyik. O camisa 7 se deslocou do meio para a esquerda e deu um salto acrobático, entortando o corpo no ar e conseguindo cabecear na direção do gol. A bola foi em cima de Pumpido e parecia fácil de ser defendida, mas o goleiro vacilou. A bola passou entre suas mãos e tocou seu joelho antes de entrar lentamente no canto direito.

Um gol estranhíssimo. Um verdadeiro frango. Mas a falha de Pumpido não tira o mérito do salto impressionante de Omam-Biyik. Com 1,84 m de altura, ele alcançou a bola a 2,60 do chão. Curiosamente, o autor do gol jogava no modestíssimo Stade Lavallois, 4º colocado da 2ª Divisão da França na temporada 1989/90. François Omam-Biyik é irmão de André Kana-Biyik, o volante expulso seis minutos antes do gol.

Nos 20 minutos restantes, a Argentina se lançou de vez ao ataque. O atacante Gabriel Calderón entrou no lugar do ala Roberto Sensini. Mas os hermanos não conseguiram acertar um mísero chute na direção do gol do lendário Thomas N’Kono.

Aos 42′, Massing também foi expulso por derrubar Caniggia. O argentino recebeu uma bola ainda em seu campo de defesa e disparou para o ataque. Camarões se postava de forma compacta, com o time quase todo no meio campo. Em uma corrida impressionante, “El Pájaro” Caniggia deixou dois marcadores para trás e já estava na intermediária ofensiva, quando Massing lhe acertou em cheio. A truculência foi tamanha que a chuteira do camaronês voou longe. O árbitro Michel Vautrot expulsou corretamente o infrator, pois – além da violência – Massing era o último defensor. Trocou uma chance de gol pela falta. De forma até engraçada, o atabalhoado juiz francês mostrou o cartão vermelho a Massing antes de mostrar o segundo amarelo.

Com nove jogadores, Camarões precisou resistir por mais três minutos para provocar a primeira grande “zebra” da Copa. A comemoração dos africanos é o reflexo da surpresa e alegria do time. Foi um resultado realmente inesperado.


(Imagem: Globo)

● No fim da partida, Maradona percebeu ter perdido no gramado um anel que havia ganhado de sua esposa Cláudia em seu último aniversário, e que valia cerca de US$ 5 mil. O anel foi encontrado pouco depois.

Após aprontar contra a Argentina, Camarões venceu também a Romênia por 2 a 1 com dois gols de Roger Milla. Já classificado, foi goleado pela já eliminada União Soviética por 4 a 0. Terminou como líder do grupo B com quatro pontos. Em um jogo empolgante e só decidido na prorrogação, venceu a forte Colômbia por 2 a 1 (com uma falha do goleiro colombiano René Higuita e dois gols de Milla). Nas quartas de final, deu muito trabalho para a Inglaterra, vendendo caro a derrota. Só perdeu na prorrogação, com um gol de pênalti de Gary Lineker (o placar foi 3 a 2). Mas ficou na história como (até então) a melhor campanha de uma seleção africana na história dos Mundiais. Foi a primeira equipe de seu continente a chegar às quartas de final. Seria igualada por Senegal em 2002 e por Gana em 2010.

A Argentina somente passou de fase por ter sido uma das melhores terceiras colocadas, com três pontos. No Grupo B, após perder para Camarões, venceu a União Soviética por 2 a 0 e empatou com a Romênia por 1 a 1. Nas oitavas de final, jogou pior, mas venceu o clássico com o Brasil graças a uma jogada mágica de Maradona e uma linda conclusão de Caniggia. Nas quartas, contou com a estrela do goleiro Goycochea, que pegou duas cobranças na vitória por pênaltis por 3 a 2 sobre a Iugoslávia. Nas semifinais, após um empate por 1 x 1 com a anfitriã Itália, Goycochea pegou outras duas cobranças e a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3. Na decisão, já no fim da partida, um pênalti polêmico resultou na derrota para a Alemanha Ocidental por 1 a 0 e no vice-campeonato.


Caniggia entrou bem e deu outra cara à Argentina. Se tornou titular nas partidas seguintes (Imagem: OCacifoDoRaúl)

FICHA TÉCNICA:

 

CAMARÕES 1 x 0 ARGENTINA

 

Data: 08/06/1990

Horário: 18h00 locais

Estádio: San Siro (Giuseppe Meazza)

Público: 73.780

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Michel Vautrot (França)

 

CAMARÕES (4-2-3-1):

ARGENTINA (3-5-2):

16 Thomas N’Kono (G)

1  Nery Pumpido (G)

17 Victor N’Dip

19 Oscar Ruggeri

14 Stephen Tataw (C)

20 Juan Simón

6  Emmanuel Kundé

11 Néstor Fabbri

4  Benjamin Massing

4  José Basualdo

5  Bertin Ebwellé

13 Néstor Lorenzo

2  André Kana-Biyik

2  Sergio Batista

8  Émile Mbouh

17 Roberto Sensini

10 Louis-Paul M’Fédé

7  Jorge Burruchaga

20 Cyrille Makanaky

10 Diego Armando Maradona (C)

7  François Omam-Biyik

3  Abel Balbo

 

Técnico: Valery Nepomnyashchy

Técnico: Carlos Bilardo

 

SUPLENTES:

 

 

22 Jacques Songo’o (G)

12 Sergio Goycochea (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

22 Fabián Cancelarich (G)

3  Jules Onana

5  Edgardo Bauza

12 Alphonse Yombi

15 Pedro Monzón

13 Jean-Claude Pagal

18 José Serrizuela

15 Thomas Libiih

21 Pedro Troglio

21 Emmanuel Maboang

16 Julio Olarticoechea

19 Roger Feutmba

14 Ricardo Giusti

11 Eugène Ekéké

6  Gabriel Calderón

18 Bonaventure Djonkep

9  Gustavo Dezotti

9  Roger Milla

8  Claudio Caniggia

 

GOL: 67′ François Omam-Biyik (CAM)

 

CARTÕES AMARELOS:

9′ Benjamin Massing (CAM)

23′ Victor N’Dip (CAM)

27′ Roberto Sensini (ARG)

54′ Émile Mbouh (CAM)

 

CARTÕES VERMELHOS:

61′ André Kana-Biyik (CAM)

88′ Benjamin Massing (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Oscar Ruggeri (ARG) ↓

Claudio Caniggia (ARG) ↑

 

66′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Thomas Libiih (CAM) ↑

 

69′ Roberto Sensini (ARG) ↓

Gabriel Calderón (ARG) ↑

 

81′ Cyrille Makanaky (CAM) ↓

Roger Milla (CAM) ↑

Gol da partida:

Partida completa:

Expulsão de Massing por falta violenta em Caniggia:

Abertura da Copa de 1990 na Rede Globo:

… 23/06/1990 – Camarões 2 x 1 Colômbia

Três pontos sobre…
… 23/06/1990 – Camarões 2 x 1 Colômbia


Roger Milla roubou a bola do goleiro Higuita no segundo gol de Camarões (Imagem localizada no Google)

● A Copa do Mundo de 1990 provavelmente foi a que teve o menor nível técnico na história. A maioria das seleções eram escaladas de forma muito defensiva, com três zagueiros ou com um líbero atrás dos demais defensores, o que resultou na menor média de gols dos mundiais (2,21).

O Brasil também entrou na moda do 3-5-2. Teve 100% de aproveitamento na fase de grupos, mas sucumbiu à Argentina de Maradona e Caniggia nas oitavas de final por 1 a 0. As estatísticas brasileiras no torneio foram medíocres: 4 gols marcados e 2 sofridos.

Camarões aprontou desde a estreia. Com um gol de François Omam-Biyik, venceu a então campeã do mundo, a Argentina de Maradona, por 1 a 0. Logo depois, venceu também a Romênia de Gheorghe Hagi por 2 a 1 com (dois gols de Roger Milla). Já classificado, foi goleado pela já eliminada União Soviética por 4 a 0. Terminou como líder do grupo B com quatro pontos.

Veja mais:
… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina
… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos
… Carlos “El Pibe” Valderrama
… René Higuita: o goleiro espetáculo

A Colômbia foi a terceira colocada do grupo D com três pontos. Venceu por 2 a 0 os Emirados Árabes Unidos em sua primeira partida. Depois, perdeu para a Iugoslávia por 1 a 0. Na última partida da primeira fase, a sofreu um gol nos minutos finais contra a Alemanha Ocidental e estava sendo eliminada. Mas aos 48 minutos do segundo tempo, após troca de passes pelo meio, Valderrama faz um lindo lançamento, deixando Freddy Rincón livre. Ele avança e toca entre as pernas do goleiro Illgner, empatando a partida em 1 a 1 e classificando a Colômbia  de fase pela primeira vez.

O técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-2-3-1. Sem a bola, Victor N’Dip (o mais fraco do grupo) se transformava em líbero. Com a bola, os meias avançavam em velocidade. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.


A Colômbia jogava no 4-4-2 com o meio campo em forma de losango, com Valderrama livre para criar. Rincón era atacante nessa época; só alguns anos depois ele se tornaria o grande volante que foi.

● Assim, Camarões e Colômbia chegavam às oitavas de final pela primeira vez, mas em situações muito diferentes. Os “Leões Indomáveis” vinham de uma goleada sofrida, enquanto os “Cafeteros” estavam com moral elevada por conseguir segurar a Alemanha e por se classificar nos acréscimos. A emoção estava à tona.

Mas não foi isso que se viu na partida. Foram 90 minutos fracos, com pouca criatividade de ambas as partes e o resultado não poderia ser outro: 0 a 0. A Colômbia entrou com “salto alto” e muita firula e Camarões se defendeu bem, mas sem aproveitar os contra-ataques.

Vindo do banco, como em todas as partidas, Roger Milla era a “arma secreta” dos camaroneses. Então com 38 anos, ele entrou no lugar de M’Fédé aos 9 minutos da etapa complementar e resolveu o jogo com dois lances épicos, mas apenas no tempo extra.

No primeiro minuto do segundo tempo da prorrogação, Milla recebe de Omam-Biyik, dribla Perea e Escobar na corrida e chuta forte e alta, no canto esquerdo de Higuita. Lindo gol.

Três minutos depois, o excêntrico goleiro René Higuita recebe a bola em sua intermediária. Mesmo sendo o último homem, ele protagonizou um lance bizarro ao tentar driblar Milla, que espertamente, desarmou o arqueiro, que ainda deu um carrinho para tentar recuperar a bola, sem sucesso. O camaronês arrancou para a área e concluiu para o gol completamente vazio, indo comemorar com sua tradicional “dancinha” junto à bandeirinha de escanteio.

Depois, o autor do gol soltou uma frase que se tornaria célebre: “Ele tentou me driblar e ninguém dribla o Milla”.

A Colômbia descontou apenas aos 10 minutos, quando Bernardo Redín tabelou com Valderrama e recebeu a bola dentro da área, para tocar na saída do goleiro N’Kono. Tarde demais para uma reação dos sul-americanos.

Final, Camarões classificado 2, Colômbia eliminada 1.


Roger Milla tinha 38 anos. Na Copa de 1994, aos 42 anos, ele se tornaria o jogador mais velho a disputar um Mundial. Perderia essa marca justamente para um colombiano, o goleiro Faryd Mondragón, que atuou nos minutos finais de uma partida da Copa de 2014. Em 2018, o goleiro egípcio Essam El-Hadary bateria esse recorde novamente. Mas Milla ainda ostenta a marca de jogar mais velho a marcar um gol em Copas – essa será difícil de ser batida.

● Após bater a Colômbia, Camarões deu muito trabalho para a Inglaterra, vendendo muito caro a derrota. Só perdeu na prorrogação, com um gol de pênalti de Gary Lineker (o placar foi 3 a 2). Mas ficou na história como (até então) a melhor campanha de uma seleção africana na história dos Mundiais. Foi a primeira equipe de seu continente a chegar às quartas de final. Seria igualada por Senegal em 2002 e por Gana em 2010.

Na final da Copa, a Alemanha Ocidental se vingou da decisão de 1986 e venceu a Argentina por 1 a 0, com um gol de pênalti de Andreas Brehme a cinco minutos do fim da partida. Resultado: Alemanha Ocidental, tricampeã mundial.

FICHA TÉCNICA:

 

CAMARÕES 2 x 1 COLÔMBIA

 

Data: 23/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: San Paolo

Público: 50.026

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Tullio Lanese (Itália)

 

CAMARÕES (4-4-2):

COLÔMBIA (4-4-2):

16 Thomas N’Kono (G)

1  René Higuita (G)

14 Stephen Tataw (C)

4  Luis Fernando Herrera

3  Jules Onana

15 Luis Carlos Perea

17 Victor N’Dip

2  Andrés Escobar

5  Bertin Ebwellé

3  Gildardo Gómez

2  André Kana-Biyik

14 Leonel Álvarez

8  Émile Mbouh

20 Luis Fajardo

21 Emmanuel Maboang

8  GabrielBarrabás” Gómez

10 Louis-Paul M’Fédé

10 Carlos Valderrama (C)

20 Cyrille Makanaky

19 Freddy Rincón

7  François Omam-Biyik

7  Carlos Estrada

 

Técnico: Valery Nepomnyashchy

Técnico: Francisco Maturana

 

SUPLENTES:

 

 

22 Jacques Songo’o (G)

12 Eduardo Niño (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

21 Alexis Mendoza

4  Benjamin Massing

5  León Villa

6  Emmanuel Kundé

6  José Ricardo Pérez

12 Alphonse Yombi

13 Carlos Hoyos

13 Jean-Claude Pagal

17 Geovanis Cassiani

15 Thomas Libiih

18 Wilmer Cabrera

19 Roger Feutmba

22 Rubén Darío Hernández

11 Eugène Ekéké

11 Bernardo Redín

18 Bonaventure Djonkep

9  Miguel Guerrero

9  Roger Milla

16 Arnoldo Iguarán

 

GOLS:

106′ Roger Milla (CAM)

109′ Roger Milla (CAM)

115′ Bernardo Redín (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

44′ André Kana-Biyik (CAM)

47′ Victor N’Dip (CAM)

68′ Émile Mbouh (CAM)

72′ Luis Carlos Perea (COL)

74′ Gabriel “Barrabás” Gómez (COL)

117′ Jules Onana (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Roger Milla (CAM)

 

63′ Luis Fajardo (COL) ↓

Arnoldo Iguarán (COL) ↑

 

69′ Cyrille Makanaky (CAM) ↓

Bonaventure Djonkep (CAM) ↑

 

79′ Gabriel “Barrabás” Gómez (COL) ↓

Bernardo Redín (COL) ↑

Melhores momentos da partida: