Três pontos sobre… … Wolfgang Feiersinger: o leão de Salzburg
(Imagem: Salzburg24)
● Wolfgang “Sali” Feiersinger nasceu no dia 30/01/1965, na cidade de Saalfeden, no noroeste da Áustria, quase divisa com a Alemanha (a 150 km de Munique).
Aos 16 anos de idade, iniciou no futebol nas divisões de base do 1.Saalfeldner SK, onde se profissionalizou aos 18 anos de idade. Nessa época, também trabalhava como guarda civil.
Em 1986, deu um salto na carreira ao se transferir para o SV Austria Salzburg, se tornando titular logo de cara e participando de um dos períodos mais bem sucedidos da história do clube. Três anos depois, ajudou a equipe a subir para a primeira divisão do Campeonato Austríaco. Mesmo com o time tendo a melhor campanha na primeira fase, foi vice-campeão da liga local em 1991/92 e 1992/93.
Mas esse segundo vice foi importante, pois qualificou o clube para a disputa da Copa da UEFA de 1993/94, na qual Austria Salzburg foi crescendo e passando pelos adversários, um a um, e chegou na final. Mas a decisão foi contra a Internazionale de Milão – um adversário forte, no nível que o Salzburg ainda não havia enfrentado na competição. A Inter venceu os dois jogos por 1 a 0. Mas de qualquer forma, o time austríaco já havia feito história.
Com a criação da Bundesliga da Áustria (campeonato de pontos corridos), enfim a melhor campanha resultou nos dois primeiros títulos nacionais da história do Austria Salzburg, em 1993/94 e 1994/95. O time que tinha sido bi-vice, se tornou bicampeão. Os destaques eram o goleiro Otto Konrad, o meia-atacante Heimo Pfeifenberger e o próprio Feiersinger.
Quando tudo levava a crer que se tornaria uma hegemonia no país, na temporada seguinte o Salzburg teve uma campanha desastrosa e terminou em um péssimo 8º lugar entre 10 times.
(Imagem: Alchetron)
● Após dez anos como titular do Salzburg, no início da temporada 1996/97, o gigante alemão Borussia Dortmund contratou Feiersinger, para ocupar o lugar do capitão e ídolo Matthias Sammer, que começava sua série interminável de lesões.
Foi titular durante quase toda a temporada e conquistou a UEFA Champions League já em seu primeiro ano, disputando as duas partidas semifinais contra o Manchester United. Na decisão, perdeu seu lugar no time titular para Sammer. Ficou a mágoa com o técnico Ottmar Hitzfeld. De qualquer forma, o austríaco já estava na história do clube. Ainda venceria como titular a Copa Intercontinental no final do ano, quando o Dortmund bateu o Cruzeiro por 2 a 0.
Em seus dois últimos anos no BVB09, com cerca de 35 anos de idade, Feiersinger se tornou um reserva contumaz, até o fim de seu contrato.
Em sua única temporada atuando pelo LASK Linz, em 2000/01, o zagueiro marcou um gol em 25 partidas, mas o clube foi rebaixado na Bundesliga.
Logo depois, voltou ao Austria Salzburg, mas a equipe fez um campeonato de meio de tabela em 2001/02.
Disputou as duas temporadas seguintes pelo PSV Salzburg, na Liga Regional Oeste (equivalente à 3ª divisão), onde encerrou a carreira em 2004.
Em 2006, vestiu por uma única vez a camisa de um time amador de sua cidade natal, o SPG Saalfelden.
De 2006 até maio de 2008, foi treinador e supervisor do time Sub-17 do Salzburg, já rebatizado com o nome de Red Bull Salzburg.
Em 2009, ele criou uma pousada nas montanhas em Tirol, perto de sua cidade natal, o “Hochwildalmhütte” (algo como “Cabana dos Animais Silvestres”, em tradução livre).
(Imagem: Kurier)
Em 11/12/2013, ele sofreu uma arritmia cardíaca muito forte enquanto esquiava, mas foi levado ao hospital e a emergência cuidou dele a tempo, sem deixar sequelas.
Coincidentemente, sua filha, Laura Feiersinger, também é uma jogadora de futebol profissional. Ela é meio campista e atua no SC Sand, da Alemanha, além de representar a seleção austríaca.
● Estreou pela seleção a Áustria em um amistoso contra a Suíça, 21/08/1990. Desde então, disputou 46 partidas e não marcou gols. Seu último jogo pelo “Wunderteam” foi uma goleada de 7 a 0 sobre San Marino, em 28/04/1999, válido pelas eliminatórias para a Eurocopa 2000.
Na Copa do Mundo de 1998, foi titular da equipe treinada por Herbert Prohaska, disputando as três partidas, mas a Áustria caiu na primeira fase, com dois empates (1 a 1 contra Camarões e Chile) e uma derrota (1 a 2 para a Itália).
Tanto atuando como líbero, zagueiro e até como meio campista ofensivo, o adjetivo que mais caracterizava o seu estilo de jogo era a regularidade e a facilidade de se adaptar a várias posições em campo. Mesmo sendo defensor a maior parte de sua carreira, ele tinha um toque de bola refinado, como na pequena amostra abaixo.
● Feitos e premiações de Wolfgang Feiersinger:
Pelo Austria Salzburg:
– Bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1993/94 e 1994/95.
– Bicampeão da Supercopa Austríaca em 1994 e 1995.
Pelo Borussia Dortmund:
– Campeão da UEFA Champions League em 1996/97.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1997.
Três pontos sobre… … Sávio, o “Anjo Loiro da Gávea”
(Imagens localizadas no Google)
● Me lembro como se fosse hoje. Foi a primeira vez que eu assisti futebol por iniciativa própria. A inesquecível Copa do Mundo de 1994 já tinha me encantado, mas, até então, meu contato com o mundo do futebol era através de meu pai; se ele assistia, eu estava lá ao seu lado.
E então, naquele sábado à tarde, dia 22/10/1994, quando eu liguei a TV, vi na tela “Flamengo x Palmeiras”. Uniformes marcantes que se constrastavam: um era rubro-negro na horizontal; o outro era alvi-verde na vertical.
Eu sabia que eram dois grandes times do futebol brasileiro, mas, em meus oito anos de idade, não tinha a dimensão de que se tratava do confronto entre os dois últimos campeões brasileiros (Flamengo em 1992 e Palmeiras em 1993).
Eu também sabia que o Palmeiras (time do coração de meu pai) era uma verdadeira seleção, com: Vellloso, Cláudio, Antonio Carlos Zago, Cléber e Roberto Carlos; Flávio Conceição (Amaral), César Sampaio, Zinho e Rivaldo; Edmundo e Evair. Só depois fui saber que aquele esquadrão tinha sido montado com o dinheiro da Parmalat – o que não tira o mérito do time.
O Flamengo tinha o veterano goleiro Gilmar Rinaldi, o paraense Charles Guerreiro, o ótimo meia Marquinhos, o camisa 10 Nélio e o uberabense Rodrigo Mendes. Mas um jogador chamou minha atenção nessa partida: o camisa 11 do Flamengo, Sávio.
Naquele jogo, ele fez os dois gols, acabou com o jogo e com a invencibilidade do Palmeiras no Campeonato Brasileiro daquele ano. O primeiro gol saiu no primeiro tempo, com Sávio aproveitando um rápido contra-ataque, disparando pela esquerda e soltando um petardo cruzado, só parando ao ver a bola estufar as redes. O segundo saiu na etapa complementar, quando o camisa 11 foi derrubado por Antonio Carlos dentro da área. Sávio mesmo converteu o pênalti e fechou o placar em 2 a 0.
● Desde aquele momento passei a admirar capixaba de Vila Velha.
No ano seguinte, ele veio a fazer parte do “melhor ataque do mundo”, com Sávio, Romário e Edmundo (que na verdade foi um fiasco). Mas conquistou seus títulos e deixou seu legado no Flamengo, onde atuou de 1992 a 1997.
Mas minha admiração cresceu mesmo quando ele foi vestir a camisa merengue do Real Madrid. Lá ele venceu, entre outros títulos, três UEFA Champions League. Não era tão consistente e por muitas vezes foi reserva, mas fez parte da história de um dos períodos épicos do clube, entre 1998 e 2002.
Depois de Madrid, Sávio se tornou um cigano da bola, rodando por Bordeaux (2002/03), Zaragoza (2003-2006, onde conquistou a Copa do Rei de 2003/04 em cima do próprio Real), teve uma volta relâmpago ao Flamengo (2006), Real Sociedad (2007), Levante (2007), Desportiva Ferroviária (2008), Anorthosis Famagusta (2008/09) e encerrou a carreira no Avaí, em 2010.
Pela Seleção Brasileira, foi destaque no Pré-Olímpico e conquistou a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.
Na seleção principal, foram 32 jogos e seis gols, entre 1994 e 2000.
Com o fim de sua carreira, ficou a impressão de que Sábio poderia ter sido muito maior do que foi. Mas ainda assim foi grande. O “Anjo Loiro da Gávea”.
● Feitos e premiações de Sávio Bortolini Pimentel:
Pela seleção Brasileira:
– Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de 1996.
– Campeão do Torneio Pré-Olímpico em 1996.
– Vice-Campeão da Copa Ouro da CONCACAF em 1996.
Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1992.
– Campeão do Campeonato Carioca em 1996.
– Bicampeão da Taça Guanabara em 1995 e 1996.
– Campeão da Taça Rio em 1996.
– Campeão da Copa Ouro Sul-Americana em 1996.
– Campeão da Copa dos Campeões Mundiais em 1997.
Pelo Real Madrid:
– Campeão da UEFA Champions League em 1997/98, 1999/2000 e 2001/02.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1998.
– Campeão do Campeonato Espanhol em 2000/01.
– Campeão da Supercopa da Espanha em 2001.
– Campeão da Supercopa da Europa em 2002.
– Tricampeão do Troféu Santiago Bernabéu em 1998, 1999 e 2000.
Pelo Real Zaragoza:
– Campeão da Copa do Rei em 2003/04.
– Vice-Campeão da Copa do Rei em 2005/06.
– Campeão da Supercopa da Espanha em 2004.
Pela Desportiva Ferroviária:
– Campeão da Copa do Espírito Santo em 2008.
Pelo Avaí:
– Campeão do Campeonato Catarinense em 2010.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito o melhor jogador do Campeonato Carioca em 1996.
– Artilheiro da Copa do Brasil em 1995 (7 gols).
– Artilheiro da Copa Ouro Sul-Americana em 1996 (3 gols).
Três pontos sobre… … 11/05/1988 – KV Mechelen 1 x 0 AFC Ajax
(Imagem: Getty Images)
● Em toda a história, apenas duas equipes belgas se sagraram campeãs europeias: o gigante local RSC Anderlecht (com cinco) e o KV Mechelen (com dois títulos). E foi justamente o clube da cidade de Malinas que foi o último clube de seu país a se sagrar vencedor em âmbito continental, em um futebol que já começava a enxergar no horizonte a futura “Lei Bosman”, que tornariam periféricas várias ligas nacionais (como a da Bélgica), ao mesmo tempo em que beneficiaria alguns poucos clubes de países mais midiáticos.
Fundado em 1904, “De Kakkers” (os estudantes, devido ao clube ter sido fundado por universitários) já havia conquistado três títulos nacionais em meio aos bombardeiros da época da Segunda Guerra Mundial. Mas desde então oscilava entre as duas principais divisões. Porém, em 1982, John Cordier, empresário do ramo da tecnologia da informação (proprietário da empresa Telindus) e futuro político, decidiu investir no clube e se tornou presidente.
O futebol belga vivia seu auge, com o vice-campeonato na Eurocopa de 1980 e o 4º lugar na Copa do Mundo de 1986, além dos títulos europeus do Anderlecht na década anterior.
Em 1986/87, os Malinois foram vice-campeões da liga, ficando a apenas dois pontos do Anderlecht. Mas conquistaram a Copa da Bélgica, vencendo o RFC Liège na final. Esse título foi o passaporte para a primeira aventura continental do clube, a disputa da Recopa Europeia.
E na competição continental, o Mechelen foi evoluindo e vencendo: Dinamo Bucaresti (Romênia) na primeira fase (1×0 e 2×0); Saint Mirren (Escócia) nas oitavas de final (0x0 e 2×0); Dinamo Minsk (União Soviética) nas quartas de final (1×0 e 1×1); e Atalanta (Itália) na semifinal (2×1 e 2×1).
Muito bem treinado pelo holandês Aad de Mos (ex-Ajax), o Mechelen misturava os talentos dos belgas Michel Preud’homme e Lei Clijsters (o capitão do time e pai da tenista Kim Clijsters, ex-nº 1 da ATP), com os ótimos holandeses Erwin Koeman, Piet den Boer e Graeme Rutjes, além do excelente ponta esquerda israelense Eli Ohana. De Mos era adepto de um futebol ofensivo, na contramão do defensivismo que começava a imperar no mundo todo.
Ambas equipes atuavam no 4-3-3, no estilo ofensivo do futebol holandês.
● A final foi disputada em partida única, no Stade de la Meinau, na cidade de Estrasburgo, na França.
Do outro lado estava o poderoso Ajax, tricampeão da Copa dos Campeões da Europa nos anos 1970, que defenderia seu título, pois era o então campeão da Recopa. O gigante holandês só havia sofrido um gol nos oito jogos anteriores pela competição e era amplamente favorito, enquanto o Mechelen já podia se dar por satisfeito por ter chegado tão longe.
Foi a primeira decisão europeia na história entre um clube holandês e um clube belga, países vizinhos de grande rivalidade no futebol.
E a partida já começou em alta velocidade. Marc Emmers começou um ótimo contra-ataque em seu campo de defesa, tabelou com Den Boer, que o deixou cara a cara com o gol. Só havia o goleiro Stanley Menzo na frente. Mas o zagueiro Danny Blind deu um carrinho criminoso, por trás, e acertou o tornozelo de Emmers, matando o contragolpe que poderia ser fatal. O árbitro alemão Dieter Pauly não teve outra escolha a não ser apresentar o cartão vermelho direto ao holandês. Blind estava expulso e o Ajax jogaria mais 74 minutos com um homem a menos.
Apesar disso, os “Godenzonen” se defenderam bem, mas não tiveram forças para atacar. Mas até demorou um pouco para que a superioridade dos belgas fosse demonstrada no placar.
Depois de muita pressão dos Malinois, o único gol da partida saiu aos oito minutos do segundo tempo, quando Eli Ohana passou como quis por Frank Verlaat na esquerda e cruzou à meia altura na primeira trave para o centroavante Piet den Boer desviar de cabeça.
Apesar de ter tido mais quarenta minutos para buscar o ataque, o Ajax não teve forças. Nem com o talento do jovem Dennis Bergkamp, que entrou pouco depois do gol sofrido. Pelo contrário, foi o goleiro Menzo que se destacou, evitando uma derrota mais elástica.
Enquanto isso, o ótimo Preud’homme nem precisava mostrar seus predicados, com uma rara e perigosa exceção: desviou um chute violento de Bosman, nos minutos finais.
Foi a coroação de uma temporada dos sonhos para o (até então) desconhecido clube belga e festa para os dez mil torcedores que viajaram até a França.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Lei Clijsters e John van’t Schip (Imagem: Getty Images)
● FICHA TÉCNICA:
KV MECHELEN 1 x 0 AFC AJAX
Data: 11/05/1988
Horário: 20h15 locais
Estádio: Stade de la Meinau
Público: 39.446
Cidade: Estrasburgo (França)
Árbitro: Dieter Pauly (Alemanha Ocidental)
KV MECHELEN (4-3-3):
AFC AJAX (4-3-3):
1 Michel Preud’homme (G)
1 Stanley Menzo (G)
6Koen Sanders
2Danny Blind
3Lei Clijsters (C)
3Frank Verlaat
4 Graeme Rutjes
6Jan Wouters
9Geert Deferm
4Peter Larsson
5Wim Hofkens
8 Arnold Scholten
2Marc Emmers
5Aron Winter
8Erwin Koeman
10 Arnold Mühren
7 Pascal De Wilde
7John van’t Schip (C)
11 Piet den Boer
9John Bosman
10 Eli Ohana
11 Rob Witschge
Técnico: Aad de Mos
Técnico: Barry Hulshoff
SUPLENTES:
16 Pierre Drouguet (G)
12 Lloyd Doesburg (G)
12 Paul De Mesmaeker
13 Ally Dick
13 Paul Theunis
14 Richard Witschge
14 Joachim Benfeld
15 Dennis Bergkamp
15 Raymond Jaspers
16 Henny Meijer
GOL: 53′ Piet den Boer (MECH)
CARTÕES AMARELOS:
61′ Koen Sanders (MECH)
81′ Piet den Boer (MECH)
90′ Jan Wouters (AJAX)
CARTÃO VERMELHO: 16′ Danny Blind (AJAX)
SUBSTITUIÇÕES:
57′ John van ‘t Schip (AJAX) ↓
Dennis Bergkamp (AJAX) ↑
60′ Pascal De Wilde (MECH) ↓
Paul De Mesmaeker (MECH) ↑
73′ Wim Hofkens (MECH) ↓
Paul Theunis (MECH) ↑
73′ Frank Verlaat (AJAX) ↓
Henny Meijer (AJAX) ↑
Gol e melhores momentos da partida:
Alguns lances do jogo:
● Meses depois, no inicío da temporada seguinte, “De Kakkers” voltariam a vencer uma equipe da vizinha Holanda em uma decisão continental. Reforçados por John Bosman (ex-Ajax) e pelo jovem Marc Wilmots, dessa vez a vítima seria o PSV Eindhoven, que havia vencido a Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League). Com um placar agregado de 3 a 1, o Mechelen se tornou também campeão da Supercopa Europeia.
E na mesma temporada venceria o Campeonato Belga depois de 41 anos de jejum, além do Troféu Joan Gamper (batendo o Sochaux por 2 x 1 na final). Chegaria novamente às semifinais da Recopa, mas não passaria pela Sampdoria de Toninho Cerezo.
Os astros de vermelho e amarelo estavam “na crista da onda”. Mas assim como o sucesso veio, ele se foi de forma efêmera.
Após o time não conquistar títulos em 1990, Cordier começou a retirar seus investimentos gradualmente, também em virtude de uma crise financeira em sua empresa. Mesmo assim os Malinois chegaram às quartas de final da Copa dos Campeões de 1989/90 e só perderam na prorrogação para o futuro campeão, o Milan.
As fortes crises financeiras e os consequentes rebaixamentos abalaram o Mechelen. Após a falência no início do século XXI, o clube se reestruturou e está há onze anos na primeira divisão, onde é o verdadeiro lugar de um baluarte histórico como os Malinois.
Três pontos sobre… … Claudio Maldonado: campeão por onde passou
(Imagem: Emol.com)
● Claudio Andrés del Tránsito Maldonado Rivera nasceu em 03/01/1980, na cidade de Curicó, na região central do Chile.
Começou sua carreira no Colo-Colo, onde se profissionalizou aos 18 anos. Foi campeão chileno pelo clube logo na primeira temporada, em 1998.
Após se destacar no Pré-Olímpico de 2000, quando fez parte do elenco que levou o futebol do Chile às Olimpíadas de Sidney, assinou com o São Paulo. Maldonado foi destaque no Tricolor Paulista por três anos, conquistando um título por temporada.
No Colo-Colo era um zagueiro promissor e na seleção sub-23 era lateral direito, mas no Brasil foi escalado como volante, se destacando pela segurança, técnica apurada e a lealdade nas roubadas de bola. Fazendo uma comparação simbólica, era o “Makélélé das Américas”.
Em abril de 2003 foi para o Cruzeiro, treinado por Vanderlei Luxemburgo, seu futuro sogro (Maldonado era namorado de uma das filhas de Luxa). Naquele ano, a Raposa já tinha conquistado o Campeonato Mineiro (ainda sem o chileno) e viria a vencer a Copa do Brasil e o Brasileirão, conquistando a inédita “Tríplice Coroa”. Viria ainda a ser campeão estadual em 2004.
Em 2006, foi para o Santos, que naquela altura tinha Luxemburgo como técnico (tinha voltado recentemente do Real Madrid). No Peixe, ajudou a quebrar um jejum de 22 anos sem títulos estaduais e emendou logo um bicampeonato, vencendo também o Paulista de 2007.
(Imagem: Twitter do Cruzeiro)
● Apesar de ter tido propostas anteriores de gigantes do futebol europeu, como Ajax, Real Madrid e Milan (todas prontamente rechaçada pelo Santos), em janeiro de 2008 Maldonado foi atuar no Fenerbahçe, da Turquia, onde teve Zico como seu treinador. Recheado de brasileiros, Maldonado estava “em casa”, mas o Fener não conquistou nenhum título relevante, embora tenha feito uma excelente campanha na UEFA Champions League, chegando às quartas de final na temporada 2008/09. Mas foi na Europa que começou seu calvário com as constantes e graves lesões.
Ao fim de seu contrato, no meio de 2009, Maldonado foi para o Flamengo. Em uma belíssima arrancada no fim do Brasileirão, o Mengão ultrapassou seus principais adversários e se sagrou campeão. Mas o volante chileno se lesionou em um amistoso com a seleção de seu país e desfalcou seu clube nos últimos jogos. Entre lesões sérias e boas partidas, foram mais três anos na Gávea.
Em 2013, usou o CT Joaquim Grava (do Corinthians) para se tratar de outra lesão no joelho. E no meio do ano o Timão resolveu dar uma oportunidade de recomeço para o chileno, mas os problemas físicos novamente o atrapalhou. Foram apenas oito partidas pelo clube.
No ano seguinte, sem muitas perspectivas, voltou para onde tudo começou e encerrou a carreira no Colo-Colo em 2015.
Serviu à seleção principal do Chile entre 2000 e 2010, atuando em 44 partidas e anotando um único gol, em um amistoso contra o Equador em 2005 (vitória por 3 x 0).
(Imagem: (AP Photo / Tom Hevezi)
● Feitos e premiações de Claudio Maldonado:
Pela seleção do Chile:
– Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney em 2000.
Pelo Colo-Colo:
– Campeão do Campeonato Chileno em 1998.
Pelo São Paulo:
– Campeão do Campeonato Paulista em 2000.
– Campeão do Supercampeonato Paulista em 2002.
Pelo Santos:
– Campeão do Torneio Rio-São Paulo em 2001.
Pelo Cruzeiro:
– Campeão do Campeonato Mineiro em 2004.
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 2003.
– Campeão da Copa do Brasil em 2003.
Pelo Santos:
– Bicampeão do Campeonato Paulista em 2006 e 2007.
Pelo Fenerbahçe:
– Campeão da Supercopa da Turquia em 2009.
Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 2009.
– Campeão da Taça Guanabara em 2011.
– Campeão da Taça Rio em 2011.
– Campeão do Campeonato Carioca em 2011.
Pelo Corinthians:
– Campeão da Recopa Sul-Americana em 2013.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito Bola de Prata pela Revista Placar em 2003.
– Eleito melhor volante do Campeonato Brasileiro de 2004, no prêmio “Craque do Brasileirão”.
Três pontos sobre… … Ladislao Mazurkiewicz: muito mais do que um drible de Pelé
(Imagem: O Gol)
● Era a vingança do “Maracanazo”. Brasil e Uruguai se enfrentavam no estádio Jalisco, em Guadalajara, valendo uma vaga para a final da Copa do Mundo de 1970.
A partida já entrava nos acréscimos da segunda etapa quando aconteceu um lance mágico. Um lançamento primoroso de Tostão deixou Pelé cara a cara com o goleiro. Com apenas um drible de corpo, o Rei deixou a bola passar por dentro e correu por fora, como se fosse uma meia-lua (ou um drible da vaca) sem tocar na bola. Apanhou o esférico no bico direito da pequena área e chutou cruzado. Por um pecado, a bola foi para fora. Seria discutivelmente o gol mais lindo das Copas.
Pelé estava anos luz na frente de qualquer adversário e, por isso, fazia coisas que ninguém imaginava. Ressaltemos também que o goleiro driblado nesse lance estava longe de ser qualquer um. Era o grande Ladislao Marzukiewicz.
Dotado de excelente posicionamento, segurança, agilidade, sangue frio e reflexos excepcionais, é considerado um dos melhores goleiros de seu país e um dos grandes da história do futebol.
(Imagem: Pinterest)
● Filho de pai polonês e mãe espanhola, Ladislao Mazurkiewicz Iglesias nasceu em 14/02/1945 na cidade-balneário de Piriápolis, no litoral sul do Uruguai. Começou a carreira aos treze anos de idade, no Racing Club Montevideo.
Logo em seu primeiro ano no gigante Peñarol, era reserva de seu ídolo Luis Maidana quando este se lesionou justamente no jogo-desempate da semifinal da Taça Libertadores da América de 1965, em confronto do aurinegro uruguaio contra o poderoso Santos de Pelé. O “Polaco” fechou o gol e o Peñarol bateu o Peixe por 2 a 1. Era o início de sua afirmação e consagração dentre os grandes arqueiros do futebol, com apenas 20 anos de idade.
Seu auge foi mesmo em seu início pelo Peñarol. Se todo grande time começa com um grande goleiro, o melhor Peñarol de todos os tempos tinha o “Polaco” como o seu nº 1. Os aurinegros venceram com muita autoridade a Libertadores e o Mundial de 1966, batendo River Plate e Real Madrid, respectivamente. Nessa época, era o sonho de consumo de diversos clubes pelo mundo.
Mesmo tendo sua transferência anunciada para o Ajax (Holanda), acabou vindo jogar no Brasil. Com pompa de estrela, se transferiu para o Clube Atlético Mineiro, recém consagrado Campeão Brasileiro de 1971, ao mesmo tempo em que era xingado pela torcida do seu ex-clube, acusado de ser um traidor. Após alguns impasses contratuais e doze horas de negociação, enfim, assinou com o Galo. Apesar de não conquistar nenhum título em seus anos no Brasil, se tornou ídolo da parte alvinegra de Minas Gerais. Devido ao nome estrangeiro e difícil de ser pronunciado, aqui ele se tornou “Mazurka”, apelido criado pelo narrador esportivo Hélio Câmara, que distribuía alcunhas aos craques de todas as origens.
Foi jogar no Granada, da Espanha, depois da Copa do Mundo de 1974. Após quatro anos na Europa, passou rapidamente pelo Cobreloa (Chile) em 1979 e pelo América de Cali (Colômbia) em 1980, até voltar ao seu Peñarol e encerrar a carreira como campeão uruguaio em 1981.
Vestiu a camisa da seleção uruguaia em 36 oportunidades, entre 1965 e 1974. Disputou três Copas do Mundo como titular (1966, 1970 e 1974). É mais lembrado pelo gol que não sofreu de Pelé, descrito no primeiro parágrafo deste texto. Em outro lance desta mesma partida, aos 21 minutos do segundo tempo, Mazurkiewicz cobrou mal um tiro de meta que o mesmo Pelé emendou de primeira, sem deixar a bola cair, mas o goleiro se recuperou e fez uma boa defesa.
Defendeu por duas vezes a “Seleção do Mundo”, em partidas festivas muito comuns na época. No jogo de despedida de Lev Yashin, o grande “Aranha Negra” da União Soviética, Mazurkiewcz o substituiu no segundo tempo, recebendo dele as suas luvas, passando simbolicamente ao uruguaio o título informal de melhor goleiro do mundo.
Após pendurar as chuteiras (e as luvas), foi treinador de goleiros do Peñarol entre 1988 e 1989 e depois entre 2002 e 2012. Mas infelizmente algumas doenças foram aparecendo até que, em dezembro de 2012, sua saúde piorou definitivamente e ele teve que ser colocado em coma induzido. Faleceu há exatos cinco anos, às 04h15 da madrugada do segundo dia do ano de 2013, devido a problemas respiratórios e renais. Está enterrado no Cemitério “Parque del Recuerdo”, na capital uruguaia.
(Imagem: Tenfield.com)
● Feitos e premiações de Ladislao Mazurkiewicz:
Pela seleção do Uruguai:
– 4° lugar na Copa do Mundo de 1970.
– Campeão da Copa América de 1967.
– Campeão do Campeonato Sul-Americano Sub-20 de 1964.
Pelo Peñarol:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1965, 1967, 1968 e 1981.
– Campeão da Taça Libertadores da América em 1966.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1966.
– Campeão da Recopa dos Campeões Intercontinentais de 1969.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito o melhor goleiro da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito o 12° melhor goleiro do século XX pela IFFHS.
– É até hoje o goleiro que ficou mais tempo sem sofrer gols na história do Campeonato Uruguaio, com 987 minutos (11 partidas) em 1968.
Três pontos sobre… … Roberto Rivellino, a “Patada Atômica”
(Imagem: Instagram oficial do Estádio Maracanã)
O gênio da bola nasceu no primeiro dia do ano de 1946 e faz 72 anos hoje. Como homenagem, reproduzimos abaixo partes de algumas de suas respostas em entrevista para outro craque, Maurício Noriega (esse jornalista também é um dos meus ídolos), publicada no livro “Rivellino” ¹*:
● “Nunca pensei assim: ‘Sou craque’. Mas eu sabia que era bom e ia para cima mesmo.”
● “Para cabecear, eu era horrível. Marcar? No meu tempo, o craque nunca marcava. O principal era a ocupação de espaço, pois eu sabia que uma hora a bola chegaria para mim. O pé direito eu poderia ter treinado mais. O Gérson enxergava o jogo mais do que eu. Quem joga mais atrás tem mais visão de jogo, eu era mais ofensivo, queria sempre chutar para o gol.”
● “Nunca tive contusão séria, lesão muscular. Nunca levantei um peso na minha vida. Tive minhas lesões, mas por pancada, a maioria nos tornozelos, porém nada sério. Tive meus problemas disciplinares, claro. Fui muito expulso porque achavam que eu estava reclamando quando eu estava orientando. É do meu temperamento. Mas eu sei que era tinhoso. Se eu pudesse tirar o cara do jogo, tirava. Se eu tirasse o Dudu do Palmeiras, facilitava para mim. Ele era chato, marcava muito bem. O Pelé, quando jogava contra o Dudu, a primeira coisa que ele fazia era dar uma caneta nele para deixá-lo nervoso. Era competitividade. Não gosto de perder. Era perfeccionista, me cobrava demais, achava que tinha que acertar tudo.”
● “Eu cavava muita falta perto da área. Tinha juiz que não dava, achava que era manha minha. O futebol de salão me ajudou muito nisso. Eu tinha a intuição, sabia que iam me pegar, sabia cair, escorar. E antigamente os caras sabiam dar porrada. O Paraná [ponta que fez fama no São Paulo] só dava no tornozelo, pô. Eu me defendia. Quebrei a perna de um garoto, também chamado Roberto, da Portuguesa. Dominei e toquei, pegou sem querer. Não foi maldade. Às vezes você toma uma porrada e não acontece nada. Em outras, uma jogada despretenciosa quebra.”
● “Além do Dino Sani, que jogava muito, mas também era danado para bater, tinha que ficar esperto com o Fontana. Moisés [zagueiro que cunhou a famosa frase ‘zagueiro que se preza não ganha Belfort Duarte’, que era um prêmio para jogadores disciplinados] era terrível. A primeira ele dava pra valer; dizia que na primeira o juiz nunca expulsava. Com o Forlán [Pablo, uruguaio que jogou no São Paulo, pai do Diego Forlán] não podia bobear, jogava duro; se pudesse dar pra tirar, ele dava. O Paranhos quase me arrebentou; já o Pelé, quando dava, era para se defender. Não tinha tanta câmera de TV naquela época, então o couro comia. Hoje quem tem habilidade tem a vantagem do cartão. Ele se aproveitava do fato de antes de 1970 não ter cartão amarelo no futebol.”
● “Em 1969, disputamos um jogo com a seleção em Manaus. Acertei o zagueiro do time adversário, e ele saiu do jogo. Em um amistoso contra a Tunísia, em 1973, dei uma varada que quebrou o braço do cara. O Fischer, do Botafogo, uma vez estava na barreira contra o Corinthians, coitado, teve que sair de campo. Mas de sacanagem eu fiz apenas uma vez. Foi contra o Tiradentes. O cara fez uma falta em mim, foi para a barreira e disse: ‘Você não é metido a chutar forte? Então chuta no meu peito’. Pedi a Deus que me ajudasse, caprichei na mira e a bola foi em direção do peito dele. Mas ele abriu a barreira, tirou o corpo e a bola foi para o gol. Aí eu não aguentei e provoquei: ‘Por que você não ficou?’ Levei cartão amarelo.”
¹*Bibliografia:
NORIEGA, Maurício. Rivellino. São Paulo: Contexto, 2015. p. 186-189.
Três pontos sobre… … “Futebol Contra a Fome” 2017, em Uberlândia
● Novamente estávamos presente nesse espetáculo que é feito dentro e fora de campo.
Nesta terça-feira, 26/12/2017, no Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia, grandes estrelas midiáticas se privaram de ficar com suas famílias e foram fazer o show, que tem o intuito principal de arrecadar alimentos não perecíveis para serem doados a instituições beneficentes da região.
● Ídolos de parte a parte. Na equipe de Fernando Pires, o “Time da Solidariedade”, que jogou de lilás, estavam, dentre outros, o goleiro Felipe (ex-Corinthians e Flamengo, que defenderá o Uberlândia nesta temporada), Gabriel (ex-lateral direito, filho de Wladimir), Roberto Carlos, Jorge Wagner, Elias, Elano, Emerson Sheik e Diego Tardelli.
Pelo lado contrário (mas não adversário), jogaram de branco o time de Alexandre Pires, o “Time do Amor”, com Rafinha (lateral do Bayern de Munique), Amaral, Dante, Neto (do futsal), Gabriel Medina (do surfe), Fred (youtuber do canal “Desimpedidos”) Lucas Lima (do Palmeiras), Pedrinho (o anãozinho), Nenê, Denílson e Neymar Jr.
A merecida homenagem da vez foi para Neto, o craque do futsal, por ter representado tão bem o Brasil e por tudo que fez pelo seu esporte.
● Em campo, os times começaram tímidos em relação aos gols. Mas no segundo tempo, principalmente nos últimos minutos, o placar foi feito com tranquilidade.
O marcador final foi 12 a 12. Empate em campo, mas todos saem ganhando, principalmente as entidades que serão atendidas pelas doações dos alimentos. Ainda não se tinha a confirmação da quantidade, mas já se sabe que é o recorde.
Na 17ª edição do “Futebol Contra a Fome”, um verdadeiro golaço dos “Irmãos Pires”, mais uma vez.
Três pontos sobre… … Alcides Ghiggia: 91 anos do carrasco brasileiro
(Imagens localizadsa no Google)
● Por ironia do destino, o último sobrevivente da final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu de virada em casa para o Uruguai por 2 a 1, fosse ele. Mais ainda, que ele morresse aos 88 anos em um 16 de julho, dia exato em que faria 65 anos do Maracanazzo. Ele, que construiu e deu a assistência para o primeiro gol uruguaio e fez ele próprio o gol do título. Ele, que ficou amigo dos brasileiros e será para sempre querido no mundo inteiro. Ele, Alcides Ghiggia, que nasceu em Montevidéu em 22/12/1926 e faria 91 anos hoje se estivesse vivo.
● Sobre o maior momento de Ghiggia ¹*, reproduzimos abaixo partes de sua entrevista para o repórter Geneton Moraes Neto, no livro “Dossiê 50” ²*:
“Já sonhei diversas vezes [com o Maracanã]. Porque a gente sonha com algo que parece ser incrível. Meus sonhos, então, sempre tiveram o Maracanã como personagem.”
“O silêncio [da torcida brasileira após o segundo gol uruguaio] causou um impacto muito grande, porque eu achava que a torcida brasileira iria encorajar a seleção, para que o Brasil pudesse empatar. Mas o que a torcida vez foi um silêncio enorme. Isso me causou um impacto muito grande.”
“Poucas vezes [ouvi a narração do gol que fiz no Maracanã], porque minha mulher não deixa. Quando escuto a gravação, fico emocionado… Por essa razão, ela não deixa.”
“A maior tristeza que tive foi ver que, enquanto os jogadores do Brasil saíam de campo chorando, os torcedores, na arquibancada, estavam chorando também. Aquilo teve um impacto muito forte.”
“Nós sabíamos que o Brasil estava jogando muito bem e goleando todas as seleções. Conhecíamos o Brasil e sabíamos que teríamos que jogar contra ele. Conhecíamos o Brasil e sabíamos que teríamos que jogar contra ele. Conhecíamos os pontos fortes e os pontos fracos. Isso nos ajudou.”
“Quando vamos jogar uma partida de futebol, não temos que ter medo de nenhuma seleção! Nós, por exemplo, não tínhamos medo do Brasil. Por isso, deu tudo certo. Conseguimos ganhar. Talvez esse seja o fator principal quando se vai disputar uma partida com uma seleção: não se pode ter medo! Senão, não se pode competir.”
“[Se eu pudesse me dirigir aos jogadores brasileiros de 1950], eu diria a eles que tivessem confiança em si mesmos e não dessem importância à torcida. Porque o entusiasmo dos torcedores antes do jogo pode fazer mal. Eu lhes diria que não tivessem confiança em excesso. É preciso ter confiança na própria equipe, sim – mas sem depreciar o adversário.”
“O que aconteceu foi que muitos não acreditavam que tínhamos uma amizade de irmãos. Visitávamos uns aos outros com frequência. Estive com Zizinho, com Jair, com Ademir. Éramos muito amigos. Quando íamos ao Brasil, eles nos recebiam. Quando eles vinham ao Uruguai, nós os recebíamos. Entre nós, existia uma amizade em que muita gente não acreditava…”
“Quando terminou o primeiro tempo, fui falar com nosso técnico, Juan López. Pedi que ele dissesse a Julio Pérez que não fizesse lançamentos longos para mim. Eu conseguiria me livrar de Bigode, mas, do outro lado, apareceria Juvenal para me tirar a bola. Em vez de receber lançamentos longos, eu precisaria receber a bola no pé, para fazermos uma tabela. Com velocidade, eu conseguiria alcançar. É o que fizemos no segundo tempo. Deu tudo certo.”
“Essa jogada [do segundo gol] foi parecida com a do primeiro gol. Passei por três da defesa. Barbosa achou que eu iria tentar a mesma coisa. Ou seja: que eu iria tocar a bola para trás, para outro jogador uruguaio. Resolveu, então, ir para o lado. Assim, deixou o gol desprotegido: deixou uma brecha para mim. Eu só tinha um segundo para decidir! Quando vi a brecha, decidi chutar a gol. Chutei a bola justamente entre a trave e Barbosa. Quando ele tentou pegar, a bola já havia entrado.”
“Fiquei [amigo do Barbosa]. Estive com Barbosa depois de alguns anos. Neste encontro, ele me contou que, para ele, a vida tinha ficado muito difícil, impossível. Eu disse a ele que, no futebol, a culpa termina indo para alguém. A posição de goleiro é ingrata. Um goleiro pode ter boa atuação durante noventa minutos. Se um jogador fizer um gol bobo, o goleiro será sempre culpado. Porque não culparam Bigode – que era quem poderia me parar? Quando perdemos, a culpa é de todos, não de um. Quando ganhamos, todos ganham.”
¹*Nota Três Pontos: “Ghiggia” se pronuncia “Guídja” e não “Jígia“, comos nos acostumamos a falar no Brasil.
²* Bibliografia:
MORAES NETO, Geneton. Dossiê 50: Um repórter em busca dos onze jogadores que entraram em campo para serem campeões do mundo em 1950, mas se tornaram personagens do maior drama do futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Maquinária, 2013. p. 151-157
Três pontos sobre… … Preocupante diferença técnica entre europeus e sul-americanos
(Imagem: Globo Esporte)
● O Grêmio foi valente e imortal, mas se valeu de uma partida épica dos seus três homens do meio da defesa para sair batido pelo placar magro. Marcelo Grohe, Geromel e Kannemann se doaram ao máximo, mas não puderam evitar a derrota.
Arthur fez muita falta para que o Grêmio pudesse trocar mais do que três passes no jogo. Luan (o melhor jogador do Brasil no ano) errou todo o pouco que tentou criar. Ramiro e Fernandinho foram nulos e Barrios ficou sem função no ataque. O único chute a gol do Tricolor Gaúcho foi uma cobrança de falta de Edílson, de muito longe, que passou por cima do gol.
No meio, Michel e Jailson foram engolidos pelo melhor meio campo do mundo. Casemiro, Kroos, Modrić e Isco controlaram a partida (como costumam fazer contra quase todos os times do mundo). Benzema foi “um nada“, como tem sido nessa temporada. E Cristiano Ronaldo fez pouco. Só o gol: uma cobrança de falta na qual ele contou com a sorte e a bola passou no meio da barreira, justamente no espaço e na fração de segundos em que Lucas Barrios estava se virando de costas.
Depois, o Madrid continuou controlando o jogo a seu bel-prazer até o fim do tempo regulamentar.
Em uma final na qual havia um favorito destacado e outro time disposto a surpreender, a surpresa não se concretizou e o favorito jogou de forma burocrática, apenas protocolar. Muito pouco futebol.
● FICHA TÉCNICA:
REAL MADRID 1 x 0 GRÊMIO
Data: 16/12/2017
Horário: 21h00 locais
Estádio: Zayed Sports City Stadium
Público: 41.064
Cidade: Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos)
Árbitro: César Arturo Ramos (México)
REAL MADRID (4-4-2):
GRÊMIO (4-2-3-1):
1 Keylor Navas (G)
1 Marcelo Grohe (G)
2 Daniel Carvajal
2 Edílson
5Raphaël Varane
3Pedro Geromel (C)
4Sergio Ramos (C)
4Walter Kannemann
12 Marcelo
12 Bruno Cortez
14 Casemiro
25 Jailson
8Toni Kroos
5Michel
10 Luka Modrić
17 Ramiro
22 Isco
7Luan
9Karim Benzema
21 Fernandinho
7 Cristiano Ronaldo
18 Lucas Barrios
Técnico: Zinédine Zidane
Técnico: Renato Portaluppi
SUPLENTES:
13 Kiko Casilla (G)
48 Paulo Victor (G)
35 Moha Ramos (G)
30 Bruno Grassi (G)
19 Achraf Hakimi
6 Leonardo Gomes
6Nacho
14 Bruno Rodrigo
15 Theo Hernández
15 Rafael Thyere
18 Marcos Llorente
22 Bressan
23 Mateo Kovačić
26 Marcelo Oliveira
24 Dani Ceballos
28 Kaio
17 Lucas Vázquez
8 Maicon
20 Marco Asensio
88 Léo Moura
11 Gareth Bale
11 Everton
21 Borja Mayoral
9Jael
GOL: 53′ Cristiano Ronaldo (MAD)
CARTÃO AMARELO: 26′ Casemiro (MAD)
SUBSTITUIÇÕES:
63′ Lucas Barrios (GRE) ↓
Jael (GRE) ↑
71′ Ramiro (GRE) ↓
Everton (GRE) ↑
73′ Isco (MAD) ↓
Lucas Vázquez (MAD) ↑
79′ Karim Benzema (MAD) ↓
Gareth Bale (MAD) ↑
84′ Michel (GRE) ↓
Maicon (GRE) ↑
● Há cinco anos um time sul-americano não anota um gol na final do Campeonato Mundial de Clubes. O último foi o gol solitário do Corinthians sobre o Chelsea em 2012. Está cada vez mais discrepante a diferença técnica entre os clubes da Europa e os da América do Sul.
O abismo é tão grande que talvez seja melhor comemorar perder por míseros 1 a 0 e enaltecer a garra e a solidez do sistema defensivo.
Todos nós que acompanhamos futebol sabemos que é muito mais fácil montar uma boa defesa do que um bom ataque. Na defesa os times de nosso continente conseguem se dar bem. Mas não conseguem criar e, por consequência, não fazem gols em confrontos com grandes clubes europeus.
Antigamente as partidas intercontinentais tinham mais equilíbrio, principalmente devido à limitação de estrangeiros em clubes da Europa e a manutenção de grandes jogadores na América do Sul. Mas com a criação da Lei Bosman e o aumento de patrocínios e valores recebidos por direitos de transmissão na TV, os clubes do “Velho Mundo” se tornaram verdadeiras seleções mundiais. E, por consequência, esvaziam de talentos os demais times.
Esses números absurdos retratam bem essa diferença técnica. Poderia ser qualquer outra partida entre grandes clubes dos dois continentes, que provavelmente seriam estatísticas semelhantes. Infelizmente.