Três pontos sobre…
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
(Imagem: Multi Ciência)
● Como quase sempre, o Brasil chegou ao México sob grande desconfiança geral, trocando de treinador a três meses da competição – saiu o jornalista João Saldanha e entrou o inexperiente Zagallo. Com isso, várias “feras” ficaram de fora da convocação, como, por exemplo, Djalma Dias, Zé Carlos e Dirceu Lopes. O ponta-direita Rogério, do Botafogo, titular absoluto de Zagallo, teve que ser cortado por lesão (mas continuou na delegação com o cargo de “olheiro”, observando e analisando jogos dos adversários).
O comando da CBD entendeu que parte do fracasso de 1966 foi por falta de uma preparação física adequada. Por isso, dessa vez, os atletas sofreram bastante nas mãos do preparador físico Admildo Chirol e de seus auxiliares, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que colocaram em prática um plano elaborado em conjunto com a Escola de Educação Física do Exército. Foi feito também um cuidadoso programa de treinamento para enfrentar a altitude mexicana. A equipe se concentrou inicialmente em Guanajuato (2.050 metros acima do nível do mar). O Brasil foi o primeiro time a chegar ao México, quase um mês antes do início do torneio. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, dizia Zagallo. Com toda essa preparação, era visível o crescimento do Brasil no segundo tempo de cada jogo.
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A expressão “grupo de morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao grupo formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).
A Copa de 70 foi a primeira com transmissão ao vivo pela televisão, ainda em preto e branco. Nesse jogo (estreia brasileira no Mundial), às 19h00 do dia 3 de junho de 1970, foi registrado o recorde de audiência de um evento esportivo no Brasil. Todos os canais transmitiam a mesma imagem do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia. Seria o equivalente hoje a 100 pontos no Ibope.
Duas revoluções nesse Mundial: além da estreia dos cartões amarelos e vermelhos, foi também a primeira Copa em que foram permitidas até duas substituições durante a partida.
O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
Tchecoslováquia jogava entre o 4-3-3 e o 4-2-4.
● Foi um jogo bonito, sem violência, com demonstração de habilidade dos dois lados, dribles, chances criadas (o time tcheco perdeu várias oportunidades) e gols.
Pelé era tido como um mito “velho e acabado” pelos mexicanos. E deu razão a eles quando perdeu um gol feito no começo do jogo: em cruzamento de Rivellino, o Rei chutou para fora, sozinho e sem goleiro. A situação ficaria pior logo depois. Aos 11 minutos de jogo, Brito bateu um impedimento para Clodoaldo, que estava de costas e perdeu a bola. Ladislav Petráš dominou, avançou em velocidade entre Carlos Alberto e Brito, tocando na saída do goleiro Félix. Petráš ajoelhou-se e fez o sinal-da-cruz para agradecer o gol aos céus. Foi um ato político contra o governo comunista (e ateu) de seu país, mas foi também um dos gestos mais lindos da Copa – que depois seria copiado por Jairzinho.
O empate chegou aos 24 minutos. Pelé foi derrubado por Migas na meia-lua. A barreira foi formada por sete tchecos e Jairzinho. Rivelino chutou no rumo de Jairzinho, que saiu da frente e a bola passou no espaço vazio, justo onde ele estaria. Com esse gol, Rivellino ganhou o apelido de “Patada Atômica” da imprensa mexicana.
Aos 15 minutos do segundo tempo, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, faz um lançamento de 40 metros para Pelé, que amacia a bola no peito, escolhe o canto e chuta para o fundo do gol. A Tchecoslováquia partiu com tudo para cima e ofereceu todo o espaço para o Brasil contra-atacar.
Três minutos depois, de novo Gérson de 40 metros, lança Jairzinho, o “Furacão da Copa”, que, sozinho, dá um chapéu no goleiro Viktor, deixa a bola bater no peito e estufa as redes. Foi o gol mais bonito dessa Copa.
Aos 25, Gérson teve uma forte distensão e teve que ser substituído por Paulo Cézar Caju. Sem saber se adiantava o time ou se protegia de tomar mais gols, os tchecos ficaram perdidos em campo.
No fim da partida, aos 38 minutos, configurou-se a goleada. Jairzinho domina na intermediária, dribla Hagara e Horváth, de novo Hagara e chuta cruzado, no canto.
Jair encobre Viktor, no terceiro gol brasileiro (Imagem: El Universal)
● Apesar do placar elástico, o lance mais marcante da partida foi um “quase gol”. Aos 42 minutos da etapa inicial, percebendo o goleiro adversário adiantado, Pelé arriscou um chute de seu próprio campo, a bola encobriu o goleiro e acabou raspando o travessão, naquele que foi um lance surpreendente, demonstrando toda a genialidade do Rei. Além do mais, não foi contra qualquer goleiro. Ivo Viktor foi o 3º colocado na premiação da Bola de Ouro da Revista France Football em 1976 (a terceira melhor posição de um goleiro no prêmio – Lev Yashin foi o 1º em 1963 e Buffon o 2º em 2006). A transmissão da TV mostrou o desespero de Viktor tentando voltar, enquanto a bola passava a 40 centímetros da trave, em um lance até então inédito em Copas.
A Seleção Brasileira fazia sua estreia de forma arrasadora, dando mostras iniciais da altíssima qualidade de seu futebol naquela Copa.
Mesmo com uma equipe forte, a Tchecoslováquia caiu na fase de grupos, perdendo também os outros dois jogos (2 a 1 para a Romênia e 1 a 0 para a Inglaterra).
Trio de ataque comemora um dos gols (Imagem: Alchetron)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 4 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA |
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Data: 03/06/1970 Horário: 16h00 locais Estádio: Jalisco Público: 52.897 Cidade: Guadalajara (México) Árbitro: Ramón Barreto (Uruguai) |
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BRASIL (4-3-3): |
TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4): |
1 Félix (G) |
1 Ivo Viktor (G) |
4 Carlos Alberto Torres (C) |
2 Karol Dobiaš |
2 Brito |
3 Václav Migas |
3 Wilson Piazza |
5 Alexander Horváth (C) |
16 Everaldo |
4 Vladimír Hagara |
5 Clodoaldo |
16 Ivan Hrdlička |
8 Gérson |
9 Ladislav Kuna |
7 Jairzinho |
18 František Veselý |
9 Tostão |
8 Ladislav Petráš |
10 Pelé |
10 Jozef Adamec |
11 Rivellino |
11 Karol Jokl |
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Técnico: Zagallo |
Técnico: Jozef Marko |
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SUPLENTES: |
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12 Ado (G) |
13 Anton Flešár (G) |
22 Leão (G) |
22 Alexander Vencel (G) |
21 Zé Maria |
12 Ján Pivarník |
15 Fontana |
14 Vladimír Hrivnák |
14 Baldocchi |
15 Ján Zlocha |
17 Joel Camargo |
7 Bohumil Veselý |
6 Marco Antônio |
17 Jaroslav Pollák |
18 Paulo Cézar Caju |
6 Andrej Kvašňák |
13 Roberto |
19 Josef Jurkanin |
20 Milan Albrecht |
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19 Edu |
21 Ján Čapkovič |
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GOLS: |
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11′ Ladislav Petráš (TCH) |
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24′ Rivellino (BRA) |
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59′ Pelé (BRA) |
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61′ Jairzinho (BRA) |
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83′ Jairzinho (BRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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Tostão (BRA) |
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Gérson (BRA) |
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Alexander Horváth (TCH) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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46′ Ivan Hrdlička (TCH) ↓ |
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Andrej Kvašňák (TCH) ↑ |
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62′ Gérson (BRA) ↓ |
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Paulo Cézar Caju (BRA) ↑ |
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75′ František Veselý (TCH) ↓ |
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Bohumil Veselý (TCH) ↑ |
Melhores momentos da partida:
O melhor time da história de todas as Copas do Mundo. Um futebol de magia materializado nos pés e mentes de Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino. Ainda tinha no banco Leão, Marco Antônio, Paulo César Caju, Edu e o folclórico Dario. E olha que não foram convocados o goleiro Cláudio, zagueiros Djalma Dias e Scala, o lateral Rildo, meiocampistas Ademir da Guia, Evaldo, Zé Carlos e Dirceu Lopes e no ataque Paulo Borges e Toninho Guerreiro.
Obrigado pelas informações.
Assistirei o jogo hoje e deixarei depois meus comentários e dados sobre a partida.
Assistirei hoje, na época tinha 12 anos, será ótimo relembrar
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No caso, dois pontos, porque naquela época vitória valia dois.
Ah! Agora entendi. É o nome do blog. Falha minha