Muitos achavam que jogar contra os colombianos seria moleza para os soviéticos, já que estes eram considerados fortes favoritos inclusive para a conquista do título mundial.
A seleção colombiana debutava em Copas do Mundo. Tinha uma equipe técnica e ofensiva, mas era fraquíssima e desobediente taticamente.
A URSS vinha de excelentes resultados, como a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e a conquista do título da primeira Eurocopa, disputada em 1960. Era mesmo uma grande geração, com destaques como o goleiro Lev Yashin, os meias Igor Netto e Igor Chislenko e o atacante Valentin Ivanov. Essa mesma base ainda seria vice-campeã da Euro em 1964 e 4º lugar na Copa do Mundo de 1966.
Ambas seleções atuavam no sistema 4-2-4
● Apenas 8.040 pessoas assistiram à partida no estádio Carlos Dittborn, em Arica.
Os colombianos começam com uma incrível demonstração de técnica, com toques de efeito na bola, mas logo os soviéticos dominam o jogo.
Aos oito minutos, Óscar López tenta tirar a bola da área e joga nos pés de Ivanov, que chuta de primeira da entrada da área e fuzila o goleiro Sánchez.
Dois minutos depois, Ivanov lança para Chislenko, que entra na área, dribla um adversário e toca na saída do goleiro.
Tudo indicava uma enorme goleada, porque um minuto depois Ivanov chuta cruzado, do bico da área, e manda a bola no canto direiro de Sánchez. Com apenas 11 minutos de jogo, o placar já apontava 3 a 0 para a URSS.
Mas aos 21′, os colombianos furam a “Cortina de Ferro” soviética. Serrano toca para Germán Aceros, que gira e, com um toque, encobre o goleiro Yashin, que estava adiantado.
O gol parece dar vida nova aos colombianos e deixa os soviéticos sem saber o que esperar.
Na segunda etapa, os sul-americanos continuam pressionando e os europeus se postam bem na defesa.
Aos 11′, Ponedelnik recebe na área e chuta sem defesa para o goleiro. Agora, 4 a 1 para a URSS.
Aos 23 minutos, escanteio para a Colômbia. Marcos Coll cobra o corner. Chokheli se posiciona na primeira trave, mas deixa a bola passar e Yashin fica só olhando. Chokheli levou uma bronca de Yashin e os soviéticos não se entenderam mais em campo. Esse é o único gol olímpico da história das Copas.
Marcos Coll, autor do único gol olímpico na história das Copas (Imagem: Pinterest)
Aos 27′, Klinger toca para González na esquerda. Ele rola para o meio da área e Antonio Rada chega chutando de primeira.
O dramático empate veio aos 41 minutos do segundo tempo. Klinger recebe lançamento de Rada, ganha a dividida contra Yashin e toca para o gol vazio.
Uma incrível reação dos colombianos depois se estarem perdendo por 3 a 0.
(Imagem: Anotando Fútbol)
● Essa foi a partida com mais gols na Copa de 1962.
Por mais que a arbitragem não tivesse sido questionada em nenhum lance dessa partida, anos depois, o árbitro brasileiro João Etzel Filho confessou que deu uma “ajudinha” aos colombianos: “Fui eu que empatei aquele jogo. Sou descendente de húngaros e odeios os russos desde a invasão soviética na Hungria em 1956”.
A Colômbia já havia perdido para o Uruguai por 2 a 1. Depois, ainda perderia para a Iugoslávia por 5 a 0. Foi lanterna do Grupo 1. O único ponto conquistado foi esse empate com a URSS.
Já os soviéticos terminaram em primeiro do grupo. Além deste empate, venceram a Iugoslávia (2 x 0) e o Uruguai (2 x 1). Caíram para os anfitriões, chilenos, nas quartas de final, em derrota por 2 a 1.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Efraín “El Caimán” Sánchez e Igor Netto (Imagem localizada no Google)
Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Mauro Ramos de Oliveira e Ladislav Novák (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Assim como hoje, o segundo dia do mês de junho de 1962 era um sábado. O Brasil inteiro colou seus ouvidos nos transmissores de rádio para ouvir o jogo contra a forte Tchecoslováquia. Embora o som não fosse ainda totalmente ausente de ruídos, tinha melhorado muito se comparado à precariedade com que acompanhamos a Copa do Mundo de 1958.
A Tchecoslováquia também vinha para o jogo credenciada pela bela vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Puskas e Gento em sua estreia. Tinha jogadores respeitados em todo o mundo, como o goleiro Schrojf, os defensores Lála e Novák, além do grande meia Josef Masopust.
Aymoré Moreira mantinha o mesmo time brasileiro, com a esperança de que nessa segunda partida, o escrete canarinho mostrasse mais futebol do que na estreia.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
A Tchecoslováquia também jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust
● As duas equipes demoram um tempo para se acertar em campo. É um jogo equilibrado, com muitas faltas, muita correria e pouco futebol.
Os brasileiros dão a impressão de que perderam parte do brilho que o havia consagrado, jogando um futebol mais defensivo do que quatro anos antes. Mesmo assim, dá bastante trabalho a Schrojf.
Os tchecos também atacam, mas não chegam a incomodar a defesa brasileira.
A melhor chance do Brasil foi de Mané Garrincha. Ele arranca em diagonal, da direita para o meio e chuta da entrada da área. O ótimo goleiro Viliam Schrojf não consegue segurar e apenas desvia a bola, que ainda bate em sua trave direita.
Espera-se a qualquer momento a explosão do gênio Pelé, que é muito bem marcado por Masopust.
O lance que decide o jogo ocorre aos 27 minutos do primeiro tempo. Pelé recebe um passe de Djalma Santos, limpa a jogada e bate forte de pé esquerdo, da entrada da área. A bola passa por Schrojf e toca de leve na trave. Pelé faz careta, mas todos pensam ser apenas um lamento por não ter feito o gol. Mas, na sequência, o camisa 10 cai ao chão e coloca a mão na virilha esquerda. Todos os olhos do mundo se voltam apreensivos para o craque.
Pelé e Masopust: um duelo de respeito (Imagem: Getty Images / FIFA)
Ele é atendido fora do campo e, completamente sem condições de jogo, vai fazer número na ponta direita, já que as substituições não eram permitidas na época.
Assim, para melhor balanceamento no campo, o técnico Aymoré Moreira manda Garrincha fazer o papel de Pelé pelo meio. Mas depois de ver a equipe levar certo sufoco, Aymoré inverte: volta Garrincha para a ponta e pede para Zagallo recuar.
Pelé fica em campo, isolado. Mas em um determinado momento, passam-lhe a bola e ele domina com dificuldades. À sua frente, posta-se o severo, porém cavalheiro, Masopust. O craque tcheco fica esperando, respeitosamente, o que o Rei decidiria fazer com a bola, mas ele a tocou pela lateral. O gesto de respeito de Masopust foi elogiado no mundo inteiro.
“É muito triste se machucar no meio de uma Copa do Mundo, é uma frustração muito grande.” ― Pelé recordaria depois
Sem Pelé e com todos os jogadores preocupados com ele, a Seleção não consegue vencer a retranca dos europeus e a partida termina sem gols. De qualquer forma, um resultado mais do que justo.
Pelé se lesionou e não jogou mais na competição (Imagem: Pinterest)
● Se já não bastasse o inesperado empate, havia uma dúvida cruel: seria possível conquistar o bicampeonato mundial sem o Rei Pelé? A esperança de que ele voltasse contra a Espanha era pequena. No dia seguinte, ela foi soterrada pelo médico da delegação brasileira, o Dr. Hilton Gosling. Em meio a um batalhão de repórteres, ele deu o diagnóstico fatal: Pelé distendeu o músculo adutor da coxa esquerda. Em outras palavras: o Rei estava fora da Copa.
Incrivelmente, depois de apenas três dias de partidas no Mundial, já havia 34 jogadores machucados. No quarto dia, já eram 50. O balanço final dessa violenta Copa foi, além de incontáveis lesões musculares, três fraturas de pernas, uma de nariz e uma de quadril.
Infelizmente, essa foi a última vez em que atuaram juntos os craques da linha de frente que deram o primeiro título mundial ao Brasil, em 1958: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Para o lugar do ainda menino Pelé, seria escolhido outro jovem craque: Amarildo, atacante de 21 anos do Botafogo.
Três pontos sobre… … 01/06/1986 – Brasil 1 x 0 Espanha
Casagrande lutando pela bola contra a zaga espanhola (Imagem: Futebol Nostálgico)
● Em 1983, alegando dificuldades econômicas, a Colômbia passou ao México a honra e a responsabilidade de sediar a Copa do Mundo de 1986. Assim, dezesseis anos depois, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio. No Brasil, o sentimento era de nostalgia e superstição. Todos confiavam que a Seleção reencontraria o espírito vencedor de 1970, quando conquistou o tricampeonato no mesmo solo mexicano.
Após a derrota na Espanha em 1982, Telê Santana pediu demissão no fim daquele ano. Para substituí-lo, foi contratado Carlos Alberto Parreira, depois Edu Coimbra (irmão de Zico) e, por último, Evaristo de Macedo. Como nenhum deles alcançou os resultados esperados, a CBF atendeu aos apelos da torcida e convidou Telê para ser técnico novamente, às vésperas das eliminatórias.
Telê jamais teve o time definido, sob o pretexto de que sua equipe ideal ainda não estava completa. Ele ainda confiava no elenco de 1982, que, claramente, já não era mais o mesmo de antes. Seu time ideal era: Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates; Renato e Casagrande. Dirceu era o 12º homem.
Devido à indefinição da recuperação física de alguns atletas, foram 29 jogadores convocados para os treinamentos na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, com muita briga por posição. Foram pouco menos de quatro meses de treinamentos, com dezenas de times escalados sem que se definisse o time titular. Essa forte concorrência e a convivência por tanto tempo resultou em brigas, discussões, fuga para as baladas, desencontros dentro e fora de campo.
Sócrates, Casagrande e Careca: esperanças de gol da Seleção Canarinho em 1986 (Imagem: Pedro Martinelli / Veja)
Em uma noite de folga da concentração, oito jogadores estenderam a diversão madrugada adentro. No retorno, seis deles pularam o muro da Toca da Raposa e não foram flagrados. Mas o lateral Leandro era o mais embriagado e não conseguiu voltar, entrando pela porta da frente carregado por Renato Gaúcho. Três meses depois, na hora de definir os cortes finais no elenco, Renato foi excluído por Telê, enquanto Leandro foi perdoado. Em solidariedade ao companheiro, Leandro decidiu abandonar a seleção no dia do embarque para o México. Zico e Júnior ainda foram à sua casa e tentaram fazê-lo mudar de ideia, mas ele já estava decidido a não ir. Mas o motivo alegado por Leandro é que ele estava atuando como zagueiro no Flamengo e não queria atuar mais como lateral direito, pois esta posição exigia um maior esforço físico que seu corpo não conseguia mais realizar.
Havia ainda a incerteza em torno das condições físicas de Zico. Foi lhe dado tempo para se recuperar durante o Mundial, mas Dirceu e Toninho Cerezo foram cortados, o que foi traumático para o grupo.
A desconfiança com o escrete canarinho era tão grande, que dois meses antes da Copa, Pelé, então com 45 anos de idade, declarou à revista Veja: “Posso ajudar o Brasil. Se o Telê me der tempo para me preparar, eu jogo pelo menos 45 minutos”.
Por sua vez, a Espanha estava em grande fase, invicta a oito jogos. Contava com uma boa geração, que tinha sido vice-campeã da Eurocopa de 1984. Além disso, na época em que eram mais raros jogadores estrangeiros em times europeus, os craques locais provavam sua qualidade ao emplacarem três times entre os finalistas das três competições mais importantes do continente: o Barcelona foi vice-campeão da Copa da Europa (atual UEFA Champions League), o Real Madrid foi campeão da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) e o Atlético de Madrid foi vice-campeão da Recopa Europeia (torneio extinto em 1999).
Além de bons jogadores como o goleiro Zubizarreta, o defensor Camacho, o meia Míchel e os atacantes Julio Salinas e Butragueño, o apelido de “Fúria” se justificava também por outros “atributos” muito bem simbolizados pelo zagueiro Andoni Goikoetxea. O jogador do Athletic ganhou o apelido de “Açougueiro de Bilbao” depois de romper os ligamentos do tornozelo de Diego Armando Maradona em 1983, quando este jogava pelo Barcelona. Dois anos antes, Goikoetxea quase encerrou a carreira do meia alemão Bernd Schuster, também do Barça.
O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.
Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de 4 e os avanços dos meias Míchel e Julo Alberto. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.
No onze inicial, à exceção de Edinho, Sócrates e Júnior, a Seleção Brasileira era praticamente estreante em Copas do Mundo e a torcida temia que os atletas sentissem a pressão. Assim, pouco antes do jogo, o técnico Telê Santana cogitou sacar o goleiro Carlos e o zagueiro Júlio César, para entrar os mais experientes Leão e Oscar. Felizmente isso não foi feito.
Júlio César, de apenas 23 anos, anulou o badalado atacante Emilio Butragueño, destaque do Real Madrid. Carlos se agigantou no México e se tornou um dos melhores goleiros do Mundial.
Depois de um primeiro tempo equilibrado e sem grandes chances para nenhum dos dois lados, o Brasil levou um grande susto aos sete minutos da etapa final. O meia Francisco chutou de fora da área, a bola bateu no travessão e claramente cruzou a linha do gol, mas o árbitro australiano Christopher Bambridge e o bandeirinha holandês Jan Keizer não viram o gol legítimo e não validaram o lance.
No chute de Francisco, a bola claramente entrou no gol brasileiro (Imagem: Sebastião Marinho / O Globo)
Mas o travessão não ajudou o Brasil apenas na defesa. Foi fundamental também no ataque.
Aos 16 minutos do segundo tempo, Júnior conduziu a bola pela direita, entrou pelo meio e rolou para Careca. O camisa 9 limpou o lance e chutou com força, de dentro da área. A bola explodiu no travessão, tirando o goleiro Zubizarreta e toda a defesa espanhola da jogada, sobrando limpa para Sócrates, que só teve o trabalho de escorar de cabeça para o gol.
Depois da partida, o técnico espanhol Miguel Muñoz foi ácido ao dizer: “Este Brasil é inferior ao de 1982, porém mais aplicado taticamente. Marca melhor, atira-se com mais vitalidade à luta e pode ter em Sócrates um comandante mais livre para criar. Vai melhorar quando Zico se juntar a Sócrates. Aí vocês terão um grande time. Por enquanto é apenas razoável. Mas os juízes gostam”.
Foi uma atuação muito nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela estreia com vitória.
Sócrates aproveita o rebote e marca o gol da partida (Imagem: ESPN)
● Esses mesmos problemas se repetiram nas demais partidas. Contra a Argélia, foi um time desorganizado após a lesão que tirou o lateral direito Édson Abobrão da Copa, possibilitando uma pressão argelina na etapa final, até que Careca marcasse o gol da vitória por 1 a 0. Na terceira partida houve uma ingênua impressão de evolução, ao bater a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum.
Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas de final, o Brasil fez sua melhor partida na Copa, mas empatou com a França, de Michel Platini, por 1 a 1 e perdeu nos pênaltis (4 x 3). Nessa partida, Zico teve a chance de cobrar um pênalti a 17 minutos do fim, logo depois de entrar em campo. O Galo bateu no canto esquerdo e o goleiro francês Joël Bats espalmou. O tetra seria adiado mais uma vez. Assim como em 1978, o Brasil terminou a Copa invicto, mas sem o título.
A Espanha ficou com a segunda vaga do Grupo D, vencendo a Irlanda do Norte por 2 a 1 e a Argélia por 3 a 0. Nas oitavas de final, a Espanha atropelou a surpreendente Dinamarca por 5 a 1. Parou nas quartas, nos pênaltis, após empatar com a Bélgica por 1 a 1 no tempo normal.
Curiosamente, os mexicanos apresentaram a “olla” ao mundo no dia 03 de junho de 1986, na vitória dos anfitriões sobre a Bélgica por 2 x 1. “Olla” significa “onda” em espanhol. Criada pelos mexicanos e hoje praticada pelo mundo afora, é uma coreografia coletiva em que a torcida levanta o corpo e os braços de modo sincronizado, fazendo uma onda “varrer” as arquibancadas. Embora tenha se popularizado no México, seria uma invenção dos americanos.
Seleção Brasileira em formação para foto oficial na partida contra a Espanha (Imagem: CBN)
Seleção espanhola em formação para foto oficial na partida contra o Brasil (Imagem: Efeito Fúria)
Era a partida mais aguardada do campeonato até então. Talvez uma final antecipada. Mas o cenário não era dos mais favoráveis aos espanhóis, já que os italianos jogavam diante de sua torcida e sob o olhar atento do ditador Benito Mussolini, “Il Duce”. Eram mais de 35 mil expectadores ansiosos para ver a vitória do regime fascista sobre qualquer que fosse o adversário. Mas o que assistiram foi mais uma guerra do que um jogo de futebol.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Segundo Paulo Vinícius Coelho, autor do livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010), “em vez de súmula, o clássico Itália e Espanha poderia ter um boletim de ocorrência, com os nomes das vítimas”.
Em um duelo muito equilibrado, os espanhóis foram superiores técnica e psicologicamente, não dando ouvidos às arquibancadas do estádio Giovanni Berta, que entoavam o slogan fascista “Vitória ou morte”.
A Fúria abriu o placar aos 30 minutos de jogo, com o atacante Luis Regueiro.
Amedrontado, o árbitro belga Louis Baert não teve coragem de expulsar nenhum italiano – apesar muitos merecerem. Especialmente o ótimo centromédio Luisito Monti, que não se furtou a utilizar os mais baixos artifícios e abriu sua “caixa de ferramentas”.
Além disso, o gol italiano foi irregular: o atacante Angelo Schiavio tirou o goleiro espanhol Zamora do lance com uma cotovelada, enquanto a bola ficava livre para Giovanni Ferrari marcar o tento que igualou o placar, a um minuto do intervalo. O juiz fez vista grossa. Esse foi o primeiro e indiscutível grande roubo na história das Copas. Mas a Itália de Mussolini tinha que vencer a qualquer preço.
Na etapa final, a Itália distribuiu pancadas e a Espanha se segurou na defesa, graças ao machucado Zamora e à dupla de zaga Ciriaco e Quincoces (todos do Real Madrid).
Seleção italiana na primeira partida contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Combi, Monti, Guaita, Schiavio, Allemandi, Ferrari e Castellazzi;
Agachados: Pizziolo, Monzeglio, Meazza e Orsi.
Seleção espanhola na primeira partida contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Iraragorri, Ramón “Moncho” Encinas (assistente técnico), Quincoces, Zamora, Cilaurren, Fede, Lafuente e Regueiro;
Agachados: Ciriaco, Gorostiza e Muguerza.
● Já veterano, o lendário capitão Ricardo “El Divino” Zamora era considerado o melhor goleiro do mundo na época. Ainda hoje ele dá nome à premiação do goleiro menos vazado em cada edição do Campeonato Espanhol. A história conta que ele defendeu cinco bolas praticamente dentro do gol, impedindo a vitória italiana contra os bravos espanhóis.
O placar de 1 x 1 permaneceu no tempo normal. Na prorrogação, o máximo que as equipes conseguiram foi uma bola na trave para cada lado, obrigando a disputa de um jogo extra.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA:
ITÁLIA 1 X 1 ESPANHA
Data: 31/05/1934
Horário: 16h30 locais
Estádio: Giovanni Berta
Público: 35.000
Cidade: Florença (Itália)
Árbitro: Louis Baert (Bélgica)
ITÁLIA (2-3-5):
ESPANHA (2-3-5):
GiampieroCombi (G)(C)
Ricardo Zamora (G)(C)
Eraldo Monzeglio
CiriacoErrasti
Luigi Allemandi
Jacinto Quincoces
Mario Pizziolo
Leonardo Cilaurren
LuisMonti
José Muguerza
Armando Castellazzi
Fede
Enrique Guaita
Ramón de Lafuente
Giuseppe Meazza
José “Chato”Iraragorri
AngeloSchiavio
Isidro Lángara
Giovanni Ferrari
Luis Regueiro
Raimundo Orsi
Guillermo Gorostiza
Técnico: Vittorio Pozzo
Técnico: Amadeo García Salazar
SUPLENTES:
Guido Masetti (G)
Juan José Nogués (G)
Giuseppe Cavanna (G)
Ramón Zabalo
Umberto Caligaris
Hilario
VirginioRosetta
Pedro Solé
Luigi Bertolini
Luis Martín
AttilioFerraris IV
Martín Marculeta
Mario Varglien I
Chacho
Pietro Arcari
Campanal
Felice Borel II
Crisanto Bosch
AnfiloginoGuarisi
MartíVentolrà
AttilioDemaría
SimónLecue
GOLS:
30′ Luis Regueiro (ESP)
44′ Giovanni Ferrari (ITA)
… 01/06/1934 – Itália 1 x 0 Espanha (Partida de Desempate)
(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)
● A partida de desempate, marcada para apenas 24 horas depois, no mesmo estádio, começou com o resultado decidido. Era mera formalidade.
Desgastados pela partida anterior, os dois times estavam bem modificados. A Itália vinha com quatro alterações. A Espanha teve sete atletas “feridos”, já que em guerras não há lesionados (como disse Edgardo Martolio no livro “Glória Roubada”): Ciriaco, Fede, Lafuente, Iraragorri, Gorostiza, Lángara e Zamora, o mais machucado deles, com duas costelas fraturadas após uma didivida na qual o juiz belga nem falta marcou.
Agora havia um outro árbitro em campo, mas Mussolini continuava mandando no apito. Se não fosse capaz de vencer na bola, a “Azzurra” teria toda a ajuda “externa” possível.
A Itália teve quatro alterações em relação ao jogo anterior, mas permaneciam com as peças chave para seu estilo de jogo, especialmente o meia-atacante Giuseppe Meazza e os pontas Enrique Guaita e “Mumo” Orsi.
A seleção espanhola foi obrigada a fazer sete alterações em relação aos atletas que atuaram um dia antes. O sistema tático permaneceu o mesmo, o 2-3-5.
● Quem definiu o resultado foi o juiz suíço René Mercet. Ele deixou a pancadaria rolar solta. Ainda na primeira etapa, o ponta espanhol Crisanto Bosch foi violentamente atingido por Luisito Monti. Como as substituições não eram permitidas na época, ele permaneceu em campo apenas para fazer número.
O substituto de Zamora, Juan José Nogués, que jogava no Barcelona, era um goleiro valoroso, mas não imbatível como o titular. Ele não comprometeu, já que o gol de Giuseppe Meazza, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, foi indefensável. Enquanto Meazza marcava o gol, o argentino Demaría segurava Nogués, impedindo que ele pudesse ir na bola. Era uma artimanha muito utilizada pelos italianos, que não era coibida pela arbitragem.
O árbitro suíço, além de validar o gol irregular do italiano, ainda anulou dois tentos legítimos dos espanhóis no segundo tempo: um de Campanal, após marcar impedimento de Regueiro, que não estava no lance, e outro do próprio Regueiro, depois de ter voltado atrás em uma vantagem e apitado falta para a Espanha depois que a bola já estava nas redes. Dessa vez o roubo foi tão evidente que a FIFA e a federação suíça expulsaram o juiz de seus quadros. Mas nada modificaria a vitória italiana.
Apesar da derrota, os espanhóis foram recebidos como heróis em seu país. A população considerou que seus atletas foram bravos e valentes, enquanto os italianos venceram graças a um jogo sujo. Houve, inclusive, quem contribuísse para que os jogadores recebessem uma medalha de ouro e uma premiação em dinheiro como reconhecimento pelo bela competição que fizeram.
Seleção italiana na partida desempate contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Vittorio Pozzo (técnico), Combi, Ferraris IV, Allemandi, Monti, Guaita e Carlo Carcano (assistente técnico);
Agachados: Bertolini, Orsi, Monzeglio, Meazza, Borel II e Demaría.
Seleção espanhola na partida desempate contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Campanal, Vantoira, Nogués, Bosch, Zabalo, Muguerza, Chacho, Lecue, Cilaurren;
Agachados: Regueiro e Quincoces.
● Em 1934, a Itália se tornou a única seleção que disputou três jogos de Copa do Mundo em apenas quatro dias. Em 31/05/1934, empatou com a Espanha por 1 x 1. No dia seguinte, venceu o jogo desempate por 1 x 0. No dia 03/06, venceu a Áustria por 1 x 0 na semifinal – quando a arbitragem voltou a favorecer o time local.
Na decisão, outra vitória bastante controversa contra a Tchecoslováquia, de virada, por 2 x 1.
Benito Mussolini levou sua Itália fascista ao título da segunda Copa do Mundo. Festa para os “tifosi” (torcedores) e para “Il Duce”.
Todos temiam ao “Duce”. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:
“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”
(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça
O zagueiro chileno Raúl Sánchez pula para bloquear um chute de Charles “Kiki” Antenen, capitão da Suíça (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Depois de organizar duas Copas do Mundo seguidas na Europa, a FIFA não poderia escolher outro país europeu para sediar o evento. Por isso o torneio voltaria para a América do Sul, continente do novo campeão do mundo. Chile e Argentina disputaram o direito de sediar o Mundial. A escolha da FIFA acabou sendo o Chile.
Todos os jogos da Copa do Mundo de 1962 ocorreram às 15 horas, no horário local. Nessa quarta-feira, as ruas de Santiago estavam caóticas, com trânsito intenso.
Apesar de ter sido disputado simultaneamente com outras três partidas, este foi considerado o jogo de abertura do Mundial. Depois da marcha e desfile da banda da polícia militar, foram os políticos que roubaram a cena. Discursaram Jorge Alessandri, presidente do Chile, Juan Goñi, substituto do recém falecido Carlos Dittborn no comitê organizador, e Stanley Rous, presidente da FIFA. Só depois a bola rolou.
O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.
A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930. Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupava todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.
● Os jogadores chilenos treinaram juntos por três meses, com o objetivo de ter sucesso em sua terceira Copa do Mundo.
Mas, surpreendentemente, a foi a Suíça que abriu o placar aos sete minutos de jogo. Rolf Wüthrich recebeu fora da área, driblou um adversário e chutou no ângulo. Um verdadeiro golaço. Surpresa no estádio Nacional.
Depois, como já era esperado, os suíços se trancaram na defesa. Apesar do grande domínio, os chilenos ainda demoraram um tempo para se recuperarem do baque. A Suíça teve outras chances, mas não as aproveitou.
Um minuto antes do intervalo, após cruzamento da direita, Jorge Toro escorou de cabeça e Leonel Sánchez finalizou de dentro da pequena área. A bola ainda desviou em um adversário e morreu dentro do gol. Agora, o placar estava igual, com um tento para cada.
Os mais de 65 mil presentes empurravam a seleção anfitriã, com os sempre tradicionais gritos de “CHI-LE, CHI-LE, CHI-LE! CHI-CHI-CHI, LE-LE-LE, VIVA CHILE!”
Aos 7′ da etapa final, Jaime Ramírez avançou pela esquerda, entrou na área e chutou forte. O goleiro Karl Elsener espalmou para frente. Ramírez ficou com o rebote e tocou mansamente no canto direito. Era a virada.
Quatro minutos depois, o placar foi alterado pela última vez. Honorino Landa tabelou com Alberto Fouilloux e cruzou rasteiro. Na pequena área, Leonel Sánchez pegou o rebote da trave e escorou para as redes, dando ponto final ao placar de 3 a 1 para os locais.
(Imagem: Foto-net / FIFA)
● O austríaco Karl Rappan era o técnico da Suíça desde 1938 – exceto breves intervalos. Ele foi o criador do forte sistema tático, ultra-defensivo, que ficou conhecido como “Ferrolho Suíço”. Mas nessa Copa, o esquema não funcionou. A Suíça já não tinha mais a eficiência e o caráter de surpreender com seu ferrolho. Depois da derrota para o Chile na estreia, perdeu por 2 a 1 para a Alemanha Ocidental e por 3 a 0 para a Itália. A retranca levou oito gols, marcou apenas dois e terminou em último lugar no Mundial.
O Chile começou nervoso, mas estreou em “sua” Copa com essa vitória de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 a 0. A derrota por 2 a 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1. Na semifinal, parou no Brasil, de Garrincha, mesmo fazendo um jogo duro (derrota por 4 a 2). Ainda venceu a Iugoslávia (1 x 0) e terminou com um honroso 3º lugar, conquistado em casa.
Três pontos sobre… … 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos
Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)
● Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.
A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.
Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.
Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.
Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)
● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.
Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.
Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.
Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.
Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.
Final: 7 a 1 para a Itália.
Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.
“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino
Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)
Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)
Três pontos sobre… … 24/05/1934 – Estados Unidos 4 x 2 México
(Imagem: AP / The Guardian)
● Como já dissemos aqui, a Copa do Mundo de 1930 foi disputada por treze nações convidadas. Dentre elas, as incipientes seleções de Estados Unidos e México.
Devido ao sucesso da edição inicial, dos 45 países filiados à FIFA na época, 32 se inscreveram para a disputa do Mundial de 1934. Mas segundo o regulamento firmado em 1931, seriam apenas 16 vagas. Assim, coube à entidade promover uma competição qualificatória, em que os inscritos foram divididos em 12 grupos, definidos por critérios geográficos, conforme abaixo:
GRUPO
CLASSIFICADO(S)
ELIMINADO(S)
Grupo 1
Suécia
Lituânia e Estônia
Grupo 2
Espanha
Portugal
Grupo 3
Itália
Grécia
Grupo 4
Hungria e Áustria
Bulgária
Grupo 5
Tchecoslováquia
Polônia
Grupo 6
Suíça e Romênia
Iugoslávia
Grupo 7
Holanda e Bélgica
Irlanda
Grupo 8
Alemanha e França
Luxemburgo
Grupo 9
Brasil
Peru
Grupo 10
Argentina
Chile
Grupo 11
México
Cuba e Haiti
Grupo 12
Egito
Palestina e Turquia
Mas o nosso foco mesmo é no Grupo 11, que foi dividido em três fases. Na primeira, Cuba passou pelo Haiti com duas vitórias (3 x 1 e 6 x 0) e um empate (1 x 1). Na segunda etapa, o México venceu Cuba por três vezes (3 x 2, 5 x 0 e 4 x 1). Com isso, o México havia conseguido sua vaga para o Mundial. Mas…
Delegação norte-americana embarcando para a Itália (Imagem: U.S. Soccer)
● No início da década de 1930, a Depressão ainda assolava os EUA e tinha reflexo até mesmo no futebol. Devido à situação financeira incerta, a USFA (antiga Federação de Futebol dos Estados Unidos) se atrasou em apresentar sua inscrição para disputar as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1934, que aconteceria na Itália. Porém, os semifinalistas da Copa anterior acabaram voltando atrás quando faltavam menos de quatro meses para a competição.
Para evitar um eventual incidente diplomático, devido a importância política dos EUA, a FIFA decidiu agradá-los. As partidas do Grupo ainda estavam em andamento e daria prazo de uma reinscrição, mas os cartolas se renderam aos norte-americanos e agendaram uma partida apenas três dias antes da abertura da Copa, entre os EUA e o vencedor do Grupo 11, que foi o México.
Esse confronto direto foi chamado de “Pré-Copa” e nunca mais se repetiria. O México, que havia assegurado a classificação no campo, seguindo todas as regras das eliminatórias, teve que dar o braço a torcer e enfrentar seu vizinho rico do norte.
Em um cenário que não ousaria ser repetido nos dias atuais, a partida final das eliminatórias foi realizada apenas três dias antes da Copa do Mundo, já em pleno solo italiano, no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. Quem perdesse, nem participaria efetivamente da Copa do Mundo. A derrota significaria ter atravessado o Oceano Atlântico em vão. Vale lembrar que naquela época, a viagem entre América e Europa duravam cerca de 15 dias de navio.
Tom Florie, Aldo Donelli e Joe Martinelli (Imagem: U.S. Soccer)
● Essa foi a primeira partida de futebol na história disputada entre os dois vizinhos, Estados Unidos e México. Foi o princípio de uma das maiores rivalidades do mundo.
Ambos ainda eram muito inexperientes em nível internacional. Era apenas a nona partida da seleção mexicana e a 15ª da norte-americana (que não jogou nenhuma vez entre 1931 e 1933).
Quem vencesse teria o direito de enfrentar a anfitriã Itália (o sorteio havia sido realizado dia 03/05/1934) três dias depois, pela primeira fase, equivalente às oitavas de final. Era um verdadeiro “presente de grego”.
Os Estados Unidos tinham sido semifinalistas quatro anos antes e convocaram quatro atletas da equipe de 1930: os zagueiros Jimmy Gallagher e George Moorhouse, o meio campista Billy Gonsalves e o atacante Tom Florie. No entanto, outro jogador seria o destaque da seleção e dessa partida.
O novato Aldo “Buff” Donelli era treinador de futebol americano da Duquesne University e jogador de “soccer” apenas nas horas vagas. Mesmo assim, suas qualidades com a bola no pé foram reconhecidas. Ele foi convidado para se juntar à seleção nacional um mês antes do Mundial e se tornou titular graças à insistência do tarimbado e respeitado meio campista Billy Gonsalves.
“Havia uma ‘panelinha’ entre os jogadores de New England e de St. Louis e eles me queriam fora do time. Só mais tarde me disseram que Billy Gonsalves falou ao dirigente Elmer Schroeder: ‘Se Donelli não jogar, eu também não jogo'”. ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino
Deu tudo certo e Donelli foi o destaque. Antes que a seleção americana tivesse história, ele fez história.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Depois de participarem em uma audiência especial com o Papa Pio XI um dia antes, os atletas estadunidenses entraram em campo dispostos a conseguirem a vaga para o Mundial. Eram 10.000 expectadores no Estádio PNF, incluindo o ditador italiano Benito Mussolini e o embaixador americano Breckinridge Long.
O México abriu o placar aos 23 minutos da etapa inicial, com o atacante Manuel Alonso.
Aos 28, começou o show particular de Donelli. O zagueiro direito Ed Czerkiewicz interceptou a bola e deu um passe longo para centroavante. Ele driblou um adversário e deixou outro no chão, antes de chutar sem defesa para o goleiro Rafael Navarro.
Quatro minutos depois, o ponta esquerda Bill McLean passou a bola para Donelli, que chutou rasteiro para virar o jogo.
Aos 7′ do segundo tempo, o zagueiro mexicano Antonio Azpiri foi expulso ao segurar o infernal Donelli quando este corria em direção ao gol. Com um homem a mais, os Estados Unidos aproveitaram a vantagem e mantiveram o controle do jogo.
Aos 29′, Werner Nilsen abriu na direita para Donelli, que passou por dois zagueiros e disparou para o gol, sem chances para o goleiro mexicano. Era o “hat trick”.
Os mexicanos ainda tentaram voltar para o jogo ao marcar o segundo gol no minuto seguinte, com o centroavante Dionisio Mejía.
Mas Donelli (sempre ele!) estava impossível e imparável. A três minutos do fim, fez seu quarto gol e fechou o placar. Ele recebeu de Tom Florie e chutou entre dois adversários, enganando o goleiro.
Incrivelmente, ele poderia ter chegado aos cinco gols, mas teve um pênalti defendido pelo goleiro Navarro aos 21 minutos do segundo tempo.
“O México tinha uma equipe do mesmo nível que a nossa. Mas eles não eram rápidos. Eles tinham um estilo de jogo bem definido. Não havia muita criatividade; era um ataque previsível. E se você fizesse alguma coisa diferente, se você se movimentasse um pouco, isso os desiquilibrava. Eu era capaz de passar pelos meus marcadores com muita facilidade.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino
O jornal “The New York Times” resumiu muito bem: “Os jogadores mexicanos pareciam ser tecnicamente superiores aos americanos, mas eles eram todos muito mais fracos fisicamente e não conseguiram superar o estilo de jogo mais vigoroso de seus oponentes, que eram mais fortes”.
Aldo Donelli (Imagem: U.S. Soccer)
● Com essa vitória, os Estados Unidos ganharam o direito de enfrentar a Itália na primeira fase da Copa do Mundo de 1934. Donelli, em sua segunda e última partida pela seleção, marcaria o único gol dos EUA.
É impossível falar nessa partida sem protagonizar Aldo “Buff” Donelli. Tony Cirino, em seu livro “U.S. Soccer vs The World”, descreve as características do jogador: “Normalmente ele se movimentava em toda a linha de ataque, se mexendo para a direita e para a esquerda e também voltando para o meio. Seu estilo era incomum para um centroavante, que, de acordo o que preconizava o sistema tático da época, o 2-3-5, deveria se posicionar permanentemente na grande área”.
Apesar de várias ofertas da Itália após o torneio, Donelli deixou o “soccer” e voltou a ser assistente técnico de futebol americano, na Duquesne University. Depois, ainda foi treinador principal dos Pittsburgh Steelers, Cleveland Rams, Boston University e Columbia University. Foi o único a treinar um time da NFL (liga profissional) e da NCAA (liga universitária) simultaneamente, em 1941. Mas ele admitiria posteriormente que o “soccer” era sua verdadeira paixão. Ele continuou jogando em ligas amadoras nos anos 1930.
Apenas outros três jogadores marcaram quatro gols por jogo vestindo a camisa da seleção masculina dos Estados Unidos. Além de Donelli, o lendário Archie Stark já havia realizado a façanha em uma vitória sobre o Canadá por 6 x 1 em 1925. Depois, somente Joe-Max Moore (7 x 0 sobre El Salvador, em 1993) e Landon Donovan (5 x 0 sobre Cuba, em 2003) conseguiram o feito.
E essa seria a única vitória dos EUA sobre o México nos próximos 46 anos. “La Tri” ficou invicta contra seus vizinhos por 26 partidas, até 23/11/1980, quando perdeu por 2 x 1, em jogo válido pelas eliminatórias para a Copa de 1982.
Por causa do início dessa série histórica, o México tem melhor retrospecto contra os rivais, com 37 vitórias, 14 empates e 19 derrotas. Porém, os EUA passaram a escrever um novo capítulo no século XXI, invertendo a freguesia, com 11 vitórias, 6 empates e 7 derrotas.
Seleção dos EUA que enfrentou o México em 1934 (Imagem: U.S. Soccer History)
Três pontos sobre… … 30/07/1930 – Uruguai 4 x 2 Argentina
● Como era esperado, os favoritos Uruguai e Argentina se encontravam na final da primeira Copa do Mundo de futebol, repetindo a decisão da medalha de ouro olímpica em Amsterdã, em 1928. Naquela ocasião, o Uruguai venceu por 2 a 1 na partida desempate (o primeiro jogo foi 1 x 1).
A rivalidade entre os dois vizinhos já era muito forte nessa época. Montevidéu e Buenos Aires são separadas apenas pelo estuário do Rio da Prata. Essa proximidade fez com que as seleções dos dois países se enfrentassem frequentemente no início do século XX. Desde primeiro duelo (em 16/05/1901) até a decisão da primeira Copa do Mundo, já tinham disputado 94 jogos entre si, com 38 vitórias argentinas, 26 empares e 30 vitórias uruguaias, com 139 gols da “albiceleste” e 120 dos “charruas“.
Eram duas das melhores seleções do mundo na época. Segundo relatos, a vantagem do Uruguai era manter a disciplina defensiva, enquanto o individualismo dos argentinos provocava eventuais momentos de desorganização. De acordo com o que o jornalista italiano Gianni Breda relatou na época, “a Argentina joga futebol com muita imaginação e elegância, mas a superioridade técnica não pode compensar o total abandono da tática. Entre as duas seleções nacionais rio-platenses, os uruguaios são as formigas e os argentinos as cigarras”.
Protocolos iniciais entre os capitães e o trio de arbitragem. (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)
Na antevéspera da decisão, o famoso cantor de tango Carlos Gardel, apaixonado por futebol, visitou as concentrações primeiro do Uruguai e depois da Argentina. Esse simpático gesto causou revolta na Argentina, onde Gardel era o artista mais famoso do país na época e era considerado “patrimônio nacional”. Os uruguaios amaram a visita do artista, porque o tango também é música tradicional no país. Embora francês de nascimento, morava em Buenos Aires desde os dois anos de idade e sua mãe era uruguaia.
Naquele quarta-feira, dia 30/07/1930, os portões do Estádio Centenário foram abertos às oito da manhã. Ao meio dia, duas horas antes da partida, as arquibancadas já estavam lotadas. Embora o público oficial seja de 68.346 expectadores, calculam que entre 80 mil e 90 mil tenham visto a final, porque muita gente entrou sem pagar, burlando o policiamento. Por isso, embora tenha sido o jogo com o maior público, não foi o de maior renda. A bilheteria oficial foi US$ 30.200,00, enquanto a semifinal entre Uruguai x Iugoslávia rendeu US$ 35.207.
Ainda pela manhã, o argentino Francisco “Pancho” Varallo (o mais jovem de sua equipe, com 20 anos) procurou a comissão técnica para informar que seu tornozelo estava machucado (ainda resquícios de uma pancada recebida contra o Chile), sugerindo que ele fosse substituído na final por outro atleta em melhor forma. Como a delegação portenha não tinha médico, mandaram chamar às pressas o Dr. Julio Campistaguy, médico da seleção uruguaia (e filho do presidente do país). Após um exame pouco minucioso, ele recomendou que o atacante não atuasse, provocando suspeitas do adversário. E então, os argentinos não acreditaram e resolveram examinar Varallo “de outra maneira”, na prática, com chutes em uma parede. E decidiram que ele estava em condições de atuar. Segundo o jogador, ele não podia sequer se mexer.
Varallo foi o último sobrevivente da final de 1930. Nascido em 05/02/1910, faleceu seis meses depois de comemorar 100 anos, em 30/08/2010. Ele admitiu, muitos anos depois, que seu time sentiu medo na decisão de 1930. “No vestiário, no intervalo (quando a Argentina ganhava por 2 a 1), escutei coisas raras: ‘Se ganhamos aqui, nos matam’, disse um dos meus companheiros. ‘El Conejo’ Scopelli não queria jogar, tinha medo. E outros também”, relatou Varallo à revista El Gráfico em 1995.
Cumprimentos iniciais entre os capitães José Nasazzi e Manuel Ferreira. (Imagem: Popperfoto / Getty Images / FIFA)
Dez navios deveriam levar milhares de torcedores argentinos através do Rio da Prata, de Buenos Aires até Montevidéu, para assistir à final. Mas, por causa de uma pesada neblina, oito embarcações não conseguiram partir a tempo. Apenas cerca de 3.000 torcedores chegaram ao estádio, mas apenas quando o segundo tempo já estava em andamento. Eles chegavam aos gritos: “Victoria o muerte!” Contam alguns relatos que todos os argentinos que desembarcavam das barcas do rio da Prata eram revistados, e que a polícia chegou a encontrar gente armada.
A final foi apitada pelo árbitro belga Langenus. Ele era chefe de gabinete do governador da província de Antuérpia e veio à Montevidéu com uma dupla função: foi também o jornalista correspondente da revista alemã “Kicker“; após as partidas em que atuava, ele passava a crônica de cada jogo à revista por telefone. Langenus tinha 39 anos na época e um porte físico avantajado, com quase 1,90 m de altura. Temendo o sangue quente dos latinos, ele impôs três condições para arbitrar a tensa decisão: que fosse protegido por cem policiais, que a FIFA lhe fizesse um seguro de vida e que o navio “Duílio” tivesse a partida atrasada em duas horas para ele sair do estádio direto para embarcar rumo à Europa. Entretanto, a forte neblina adiou a viagem para a manhã seguinte. Langenus ainda apitou nas Copas de 1934 e 1938, completando 84 partidas internacionais. Faleceu em 1952, aos 61 anos.
Langenus era um árbitro discreto. Apitava de terno, gravata e uma boina em tom claro. Teve trabalho antes mesmo de a bola rolar. E o problema era exatamente esse: a bola! A partida começou com 15 minutos de atraso, porque nenhuma das duas equipes queria abrir mão de usar a “sua bola”. A argentina era mais leve; a uruguaia, mais pesada. A Comissão Organizadora, com uma sabedoria salomônica, resolveu que uma bola seria usada no primeiro tempo e outra no segundo. Houve um sorteio, vencido pelos visitantes. Eles usaram sua “pelota” na primeira etapa e os anfitriões jogaram com a sua no segundo tempo.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Nenhum lance de grande perigo havia ocorrido quando, aos 12 minutos de jogo, o uruguaio Pedro Cea recebeu uma bola na meia direita, quase na linha da grande área. Mesmo perseguido pela marcação, o craque conduziu a bola para o centro e se preparou para chutar. Mas Manco Castro foi mais esperto, percebeu que Pablo Dorado escapava livre e deu um toque para o arisco ponta direita. Dorado recebeu e, mesmo sem ângulo, chutou cruzado. A bola passou entre as pernas do goleiro Juan Botasso.
Aos 20 minutos do primeiro tempo, o meia Manuel Ferreira, capitão da Argentina, recebeu a bola perto da área uruguaia e tocou de primeira para Carlos Peucelle, que corria de frente para o gol. Com um toque rápido, Paucelle driblou a marcação de Álvaro Gestido e acertou um chute alto e forte, no canto esquerdo do goleiro Enrique Ballesteros.
Aos 38′, o centromédio argentino Luisito Monti fez um ótimo lançamento da linha de meio campo até a área uruguaia. O artilheiro Guillermo Stábile ganhou dos zagueiros na corrida e chegou antes da cobertura de Andrade, tocando a bola na saída do goleiro Ballesteros. O capitão Nasazzi reclamou aos berros que tanto Stábile quanto Ferreira estavam impedidos, mas o árbitro confirmou o gol, após consultar o bandeirinha Henry Cristophe. No intervalo, Nasazzi foi ao vestiário do juiz e chegou a rabiscar um diagrama na parede para tentar provar seu ponto de vista, inutilmente.
No fim do primeiro tempo, quando a Argentina vencia por 2 x 1, o já lesionado Varallo tomou uma entrada ríspida do uruguaio Gestido e deixou o campo se arrastando. Como não havia substituições, o jovem passou a segunda etapa só fazendo número.
Na etapa final, com a superioridade numérica e a “sua bola”, os uruguaios cresceram.
Aos 13 minutos, Héctor Scarone dominou a bola de fora da área, pela meia esquerda, marcado por dois argentinos. Ao ver a aproximação de Pedro Cea pelo centro, Scarone rolou a bola e Cea mandou para o gol de carrinho, na saída do goleiro.
Segundo gol uruguaio, marcado por Pedro Cea. (Imagem: Popperfoto / Getty Images / FIFA)
Aos 23′, o ponta esquerda Santos Iriarte se deslocou para o meio, recebeu a bola de Ernesto Mascheroni e acertou um chute fortíssimo, da intermediária, que acertou o ângulo direito de Botasso.
A Argentina pressionava, chegou a mandar uma bola na trave e o gol de empate parecia questão de tempo. Aos 40′, Andrade salvou um gol certo dos argentinos, tirando de carrinho um chute de Francisco Varallo, quase em cima da linha de gol.
Mas, a dois minutos do fim, o Uruguai foi letal. Pelo lado direito, perto do bico da área, Dorado ergueu a bola na pequena área. Manco Castro subiu nas costas de Della Torre e cabeceou. A bola foi no meio do gol, rente à trave, encobrindo o goleiro Botasso. Castro tinha 1,69 m e era 10 cm mais baixo que o adversário, mas, como havia atuado no futebol argentino, sabia que Della Torre não tinha boa impulsão. Foi o gol que fechou o placar.
Comemoração dos uruguaios, campeões da primeira Copa do Mundo de futebol. (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)
● Héctor Castro era conhecido como “Manco” por não ter a mão direita. Quando era criança, ele trabalhava como auxiliar de carpinteiro e perdeu a mão em um acidente com uma serra elétrica. Era um jogador comum. Embora fosse regular, não tinha o brilho dos atacantes da época, como os próprios craques uruguaios Héctor Scarone, Pedro Petrone, Peregrino Anselmo e Pedro Cea. Embora atuasse pela “Celeste Olímpica” desde 1924, nada fazia crer que ele seria o grande personagem da final da primeira Copa do Mundo. Mesmo na reserva, Castro participou de dois jogos e fez os dois gols mais importantes de seu país na Copa: o da vitória por 1 x 0 sobre o Peru na estreia e o último gol da final, que assegurou o título. No dia da final, ele recebeu um telefonema anônimo, que dizia que se o Uruguai perdesse, ele receberia 50 mil pesos; se ele ganhasse, não veria o pôr do sol outra vez. Ele não seria titular, mas uma lesão de Alselmo abriu espaço para que Castro não aceitasse as ameaças, brilhasse e fizesse o gol do título da primeira Copa do Mundo de futebol.
Manco Castro foi o herói na final e José Leandro Andrade era a “Maravilha Negra“. Mas, sem dúvidas, o astro da Copa e de toda aquela geração uruguaia era Héctor Scarone, “El Mago“. Ele foi o melhor jogador do mundo no seu tempo, liderando a “Celeste” nos títulos olímpicos (1924 e 1928) e mundial (1930).
A Copa do Mundo de 1930 foi a única na história que não registrou nenhum empate. Foram marcados 70 gols em 18 partidas (média de 3,9). A Argentina teve o melhor ataque, com 18 gols marcados; o Uruguai terminou com a melhor defesa, sofrendo apenas três gols.
O centroavante argentino Guillermo Stábile foi o artilheiro do Mundial com oito gols em quatro partidas. Ele se tornou o primeiro jogador a marcar gols em todas as partidas em que disputou. Estreou por sua seleção no segundo jogo da Argentina na Copa, contra o México. Acabou anotando três gols (“hat trick“) e conquistou a vaga de titular para o restante da competição. Era conhecido como “El Infiltrador“, pela facilidade com que se infiltrava nas defesas adversárias. Sua velocidade era proveniente de sua experiência no atletismo, pois fazia os 100 m rasos em cerca de 11 segundos.
Ao contrário do que se tornaria tradição a partir da Copa seguinte, a taça não foi entregue ao capitão da equipe campeã no campo de jogo. Após a partida, o presidente da FIFA, Jules Rimet, a levou ao vestiário e a entregou a Raúl Jude, presidente da Associação Uruguaia de Futebol. O dia seguinte à final foi proclamado feriado no país de apenas 2 milhões de habitantes, que comemoravam freneticamente. Cada jogador campeão ganhou uma casa do governo como prêmio. Além disso, os onze vencedores foram agraciados pela FIFA com medalhas de ouro confeccionadas por Abel Lafleu, o mesmo escultor que produziu a taça.
Jules Rimet entrega a taça a Raúl Jude, presidente da AUF. (Imagem: Popperfoto / Getty Images / FIFA)
Três pontos sobre… … 28/07/1966 – Portugal 2 x 1 União Soviética
Cumprimentos iniciais entre os capitães Mário Coluna e Lev Yashin. (Imagem: Pinterest)
● Embora tivesse uma ótima equipe, especialmente do meio para a frente, Portugal era estreante em Copas do Mundo e já tinha avançado muito além das expectativas. Agora, disputaria a decisão do 3º lugar com a União Soviética, que estava em seu terceiro Mundial e tinha chegado na sua primeira (e única) semifinal.
Na primeira fase, Portugal foi líder do Grupo 3 com seis pontos, vencendo os três jogos: 3 a 1 na Hungria, 3 a 0 na Bulgária e 3 a 1 no Brasil. Nas quartas de final, um épico: após 25 minutos de partida, os portugueses perdiam para a surpreendente Coreia do Norte por 3 a 0. Mas com quatro gols de Eusébio e um de José Augusto, a seleção lusa virou o jogo para um emocionante 5 a 3. Nas semifinais, derrota para a anfitriã Inglaterra por 2 a 1, com dois gols de Bobby Charlton e um de Eusébio, descontando.
A União Soviética também terminou a fase de grupos com 100% de aproveitamento, vencendo a Coreia do Norte (3 x 0), a Itália (1 x 0) e o Chile (2 x 1). Nas quartas, bateu a Hungria por 2 a 1. Mas nas semifinais não foi páreo para a ótima seleção da Alemanha Ocidental e perdeu por 2 a 1.
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
A URSS Itália atuava no 4-2-4. Contra Portugal, jogou toda remendada, sem cinco titulares, e mesmo assim fez uma boa partida.
● Após a partida contra os ingleses, deu a leve impressão de que, se tivesse forçado um pouco mais, Portugal poderia ter chegado à final. Porém, a disputa pelo 3º lugar não deixava de ser um bom resultado, principalmente por ser uma seleção (até então) sem história e que não tinha uma camisa pesada.
Por sua vez, a União Soviética tinha equipes muito mais fortes nas duas Copas anteriores, mas nunca tinha chegado tão longe, pois era sempre prejudicada pelas arbitragens que geralmente odiavam os comunistas.
Nessa partida, jogou toda desfigurada contra Portugal, em relação ao jogo anterior. Yozhef Sabo estava machucado e Igor Chislenko estava suspenso. Mas, em cima da hora, mais três ausências: o artilheiro Valeriy Porkujan, o atacante Galimzyan Khusainov e o zagueiro Albert Shesternyov.
Sem metade da linha de frente, os soviéticos se fecharam na defesa, à espera dos contra-ataques. Portugal, que escalou o mesmo time da semifinal, dominou o meio campo e saiu na frente.
Aos 12 minutos de partida, após uma cobrança de falta, um zagueiro soviético toca a bola com a mão na área. Eusébio cobrou o pênalti na direita, com força, e vence o grande Lev Yashin. Foi o nono gol de Eusébio na Copa, sendo o quarto de pênalti. O camisa 13 da seleção lusa foi o artilheiro do Mundial de 1966 com 9 gols.
O sonhado contragolpe soviético veio aos 43 minutos do primeiro tempo. Depois de avançar em velocidade, Anatoliy Banishevskiy chuta. José Pereira tenta segurar, mas falha e a bola sobra para Eduard Malofeyev, que marca. Tudo empatado.
A etapa final não mostrava perspectiva de que o placar seria alterado. Até que aos 44 minutos do segundo tempo, o lateral Hilário cruzou da intermediária. O gigante Torres (1,91 m) ganhou no alto de Alexey Korneyev (que media 1,73 m e era o substituto de Shesternyov) e escorou para José Augusto, que devolveu também de cabeça. Torres finalizou de primeira, sem deixar a bola cair, e mandou à direita de Yashin, que disputava sua última partida em Copas do Mundo. Um belo gol da seleção das “Quinas“.
Assim, Portugal consegue alcançar o histórico 3º lugar logo em seu primeiro Mundial e consagra uma equipe batalhadora e (muito) talentosa, que tinha como base o Benfica multi-campeão dos anos 1960.
Eusébio foi o artilheiro e um dos grandes destaques do Mundial. (Imagem: Pinterest)
● Embora a expectativa antes da Copa estivesse toda em cima de Pelé, foi outro negro que se destacou. Eusébio é considerado o maior jogador da história do futebol português. Ele nasceu em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo), em 25 de janeiro de 1942. O país africano foi descoberto em 1498 pelo velejador Vasco da Gama e foi colônia portuguesa até 1974, quando conseguiu sua independência. O craque era parte de uma leva de africanos que invadiu Portugal nos anos 1960. Na seleção de 1966, outro exemplo era o capitão Mário Coluna, também moçambicano.
Em Portugal, Eusébio fez história no Benfica, onde foi campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) em 1961/62, desbancando o poderoso Real Madrid. Pela seleção portuguesa, marcou 41 gols em 64 partidas.
Com 1,75 e 73 kg, ele aliava inteligência, força física, chutes potentes, velocidade e técnica nos dribles. Fazia muitos gols, mas não só isso. Também recuava para armar o jogo e batia todos os escanteios. Uma verdadeira lenda do futebol.
Eusébio dava trabalho para qualquer defesa do mundo entre os anos 1960 e 1970. (Imagem: Globo Esporte)
● FICHA TÉCNICA:
PORTUGAL 2 x 1 UNIÃO SOVIÉTICA
Data: 28/07/1966
Horário: 19h30 locais
Estádio: Wembley
Público: 87.696
Cidade: Londres (Inglaterra)
Árbitro: Ken Dagnall (Inglaterra)
PORTUGAL (4-2-4):
UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4):
3José Pereira (G)
1Lev Yashin (G) (C)
22 Alberto Festa
4 Vladimir Ponomaryov
20 Alexandre Baptista
13 AlexeyKorneyev
21 José Carlos
7MurtazKhurtsilava
9Hilário
10 Vasiliy Danilov
16 Jaime Graça
12 Valery Voronin
10 MárioColuna (C)
14 Giorgi Sichinava
12 José Augusto
19 Eduard Malofeyev
13 Eusébio
18 AnatoliyBanishevskiy
18 José Torres
2ViktorSerebryanikov
11 AntónioSimões
16 SlavaMetreveli
Técnico: Otto Glória
Técnico: Nikolai PetrovichMorozov
SUPLENTES:
1Américo (G)
21 AnzorKavazashvili (G)
2Joaquim Carvalho (G)
22 Viktor Bannikov (G)
17 João Morais
6AlbertShesternyov
4Vicente
3LeonīdsOstrovskis
5Germano
5ValentinAfonin
14 Fernando Cruz
9ViktorGetmanov
19 Custódio Pinto
8YozhefSabo
6Fernando Peres
11 Igor Chislenko
7Ernesto Figueiredo
17 ValeriyPorkujan
8João Lourenço
15 GalimzyanKhusainov
15 Manuel Duarte
20 Eduard Markarov
GOLS:
12′ Eusébio (POR) (pen)
43′ Eduard Malofeyev (URSS)
89′ José Torres (POR)
Seleções entrando em campo. (Imagem localizada no Google)
Melhores momentos da partida:
Gols da partida e entrevista com jogadores da seleção portuguesa de 1966:
Na quarta-feira, dia 23 de julho, a FIFA promoveu um sorteio para definir os adversários das semifinais. Havia 33% de chances de a sonhada decisão entre Uruguai e Argentina ocorrer nas semifinais. Era um risco enorme.
As bolinhas foram numeradas da seguinte forma: 1 para a Argentina; 2 para os Estados Unidos; 3 para o Uruguai; 4 para a Iugoslávia. Jules Rimet, que presidia a cerimônia, convidou um jornalista presente para sortear a primeira bolinha, que foi a número 1, da Argentina.
A tensão era enorme. Sob intensa expectativa, outro jornalista tirou a bolinha número 2, dos Estados Unidos. Ufa! Todos respiraram aliviados.
Esse sorteio também definiu a ordem dos jogos: Argentina x Estados Unidos seria no sábado e Uruguai x Iugoslávia, no domingo. Em caso de empate, haveria uma prorrogação de 15 minutos, dividida em dois tempos de sete minutos e meio. Se o empate persistisse, haveria uma segunda prorrogação, nos mesmos moldes. Se mesmo assim não houvesse um vencedor, haveria um jogo extra. Se esse jogo também terminasse empatado, no tempo normal e nas prorrogações, o vencedor sairia por meio de sorteio.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Eram 79.867 expectadores no estádio Centenário, em Montevidéu. Foi o maior público da Copa do Mundo de 1930.
O Uruguai era amplo favorito. Além de jogar em casa, tinha uma equipe experiente, que já havia conquistado as medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928.
Mas a Iugoslávia começou jogando melhor. Com apenas quatro minutos jogados, Đorđe Vujadinović já havia aberto o placar para os europeus.
Aos 9 minutos, outro gol marcado pelos visitantes. Seria o 2 a 0, mas o gol foi anulado pelo árbitro brasileiro Gilberto de Almeida Rêgo.
A partir dali, os uruguaios tomaram as rédeas da partida, exploraram muito bem as jogadas pelas pontas e foram emplacando gols.
Pedro Cea marcou aos 18′. Peregrino Anselmo fez dois, um aos 20′ e outro aos 31′. Os iugoslavos reclamaram que Anselmo estava impedido ao anotar o terceiro gol da “celeste“.
No segundo tempo, Santos Iriarte marcou o quarto aos 16. Nova reclamação dos adversários, afirmando que a bola havia passado totalmente a linha de fundo antes do cruzamento que resultou no gol. O árbitro brasileiro se justificaria depois, dizendo que teve sua visão obstruída por um policial uruguaio, que estava postado sobre a linha.
Pedro Cea completou o seu “hat trick” com gols aos 22′ e aos 27′.
Com um placar maiúsculo de 6 a 1, o Uruguai estava na final da primeira Copa do Mundo e enfrentaria a arquirrival Argentina, no jogo mais aguardado da competição. No dia anterior, os “albicelestes” tinham goleado os Estados Unidos também por 6 a 1.
O ponta esquerda uruguaio Santos Iriarte disputa uma bola com o goleiro iugoslavo Milovan Jakšić. (Imagem: FIFA)
● A tabela original da Copa não previa a disputa do terceiro lugar, mas o Comitê Organizador sugeriu a ideia.
Porém, ainda irritados, os iugoslavos se recusaram a enfrentar os Estados Unidos, por protesto contra a atuação do árbitro brasileiro, que eles consideraram “excessivamente parcial”.
Assim, como não houve decisão do 3º lugar, a Iugoslávia dividiu essa colocação na classificação com os Estados Unidos. Na verdade, os dois países que caíram nas semifinais ficaram rigorosamente empatados em tudo, exceto que a Iugoslávia sofreu um gol a mais no geral.
Em muitas publicações esportivas, os americanos aparecem sozinhos em terceiro lugar, com base no critério não oficial de saldo de gols.
Algumas fontes, como um boletim da FIFA de 1984, afirmam que houve, sim, uma partida pelo 3º lugar, vencida por 3 x 1 pela Iugoslávia. Essa informação nunca foi oficialmente confirmada.
Terceiro gol de Pedro Cea na partida. (Imagem: Pinterest)