Três pontos sobre…
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile
(Imagem: Lance!)
● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.
O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.
O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).
Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.
(Imagem: AFP / Globo Esporte)
● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.
Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.
Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.
O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.
O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.
O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.
● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).
O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.
A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.
Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.
Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.
Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.
(Imagem: Partidos de la Roja)
O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.
O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.
Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.
Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.
Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.
Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.
Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.
Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.
(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)
● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).
Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.
Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.
(Imagem: CONMEBOL)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 4 x 1 CHILE |
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Data: 27/06/1998 Horário: 21h00 locais Estádio: Parc de Princes Público: 45.500 Cidade: Paris (França) Árbitro: Marc Batta (França) |
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BRASIL (4-4-2): |
CHILE (3-5-2): |
1 Taffarel (G) |
1 Nelson Tapia (G) |
2 Cafu |
6 Pedro Reyes |
4 Júnior Baiano |
3 Ronald Fuentes |
3 Aldair |
5 Javier Margas |
6 Roberto Carlos |
19 Fernando Cornejo |
5 César Sampaio |
16 Mauricio Aros |
8 Dunga (C) |
8 Clarence Acuña |
18 Leonardo |
14 Miguel Ramírez |
10 Rivaldo |
10 José Luis Sierra |
20 Bebeto |
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9 Ronaldo |
9 Iván Zamorano (C) |
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Técnico: Zagallo |
Técnico: Nelson Acosta |
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12 Carlos Germano (G) |
12 Marcelo Ramírez (G) |
22 Dida (G) |
22 Carlos Tejas (G) |
13 Zé Carlos |
2 Cristián Castañeda |
14 Gonçalves |
18 Luis Musrri |
15 André Cruz |
15 Moisés Villarroel |
16 Zé Roberto |
4 Francisco Rojas |
17 Doriva |
7 Nelson Parraguez |
11 Emerson |
17 Marcelo Veja |
7 Giovanni |
20 Fabián Estay |
19 Denílson |
21 Rodrigo Barrera |
21 Edmundo |
13 Manuel Neira |
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GOLS: |
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11′ César Sampaio (BRA) |
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26′ César Sampaio (BRA) |
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45+3′ Ronaldo (BRA) (pen) |
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70′ Marcelo Salas (CHI) |
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72′ Ronaldo (BRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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34′ Ronald Fuentes (CHI) |
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45′ Nelson Tapia (CHI) |
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45′ Leonardo (BRA) |
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90+1′ Cafu (BRA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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INTERVALO José Luis Sierra (CHI) ↓ |
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Fabián Estay (CHI) ↑ |
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INTERVALO Miguel Ramírez (CHI) ↓ |
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Marcelo Vega (CHI) ↑ |
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65′ Bebeto (BRA) ↓ |
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Denílson (BRA) ↑ |
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78′ Aldair (BRA) ↓ |
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Gonçalves (BRA) ↑ |
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80′ Clarence Acuña (CHI) ↓ |
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Luis Musrri (CHI) ↑ |
Melhores momentos da partida: