… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

● Na primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo, com imagens ainda em preto e branco, o Brasil parou para assistir a mais um show do escrete canarinho. Com o primeiro lugar do Grupo 3, a delegação brasileira permaneceu em Guadalajara para o confronto das quartas de final diante do Peru.

Os peruanos tinham a simpatia da torcida mexicana por causa da tragédia que atingiu o país andino no mesmo dia da abertura da Copa, em 31 de maio. Um terremoto matou mais de 60 mil pessoas e a delegação estava muito abalada. O governo decidiu que o time deveria continuar na competição.

Pouco cotados antes do início do torneio, os peruanos eram franco-atiradores. Com a melhor geração de sua história, vizinhos sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962 (assim como seu colega Zagallo, treinador do Brasil), sendo eleito o craque da Copa na primeira conquista.

Na primeira fase, os peruanos conseguiram duas boas vitórias, vencendo a Bulgária de virada por 3 a 2 e batendo o Marrocos por 3 a 0. Depois, perderam para a Alemanha Ocidental por 3 a 1. A inédita classificação para as quartas de final tornou Didi uma celebridade no Peru.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.

● No estádio Jalisco, eram 54.233 as testemunhas de mais uma mostra de futebol arte. O meia Gérson voltou ao time após dois jogos se recuperando de lesão. Na lateral esquerda, o garoto Marco Antônio (19 anos) foi escolhido como titular por apoiar melhor que Everaldo.

Em toda a partida, o Brasil não correu mais que o necessário, mudando o ritmo da partida como lhe convinha.

No comecinho, Gérson fez um lançamento ao seu estilo. Pelé dominou no peito antes de entrar na área, driblou a marcação com o joelho e chutou na trave. O mesmo Pelé apanhou o rebote e tocou para trás de calcanhar, mas Tostão chegou chutando para fora.

Aos 11 minutos de jogo, Carlos Alberto cobrou lateral para Pelé na direita. O Rei cruzou para a área de pé esquerdo. O lateral Eloy Campos errou o domínio e deixou a bola nos pés de Tostão, que ajeitou para a meia-lua. Rivellino, em uma de suas “patadas atômicas” mandou de três dedos. A bola fez uma curva e morreu no canto esquerdo do arqueiro peruano. 1 a 0.

Quatro minutos depois, escanteio para o Brasil. Após cobrança curta, Tostão e Rivellino tabelam perto da linha de fundo. De um ângulo improvável, Tostão chuta direto para o gol. O quique da bola enganou o péssimo goleiro Luis Rubiños, que tentou encaixar e deixou a bola entrar. 2 a 0.

Pouco depois, em falta na intermediária, Pelé encheu o pé esquerdo e a bola foi no ângulo. Mas o árbitro belga Vital Loraux anulou o gol, pois tinha determinado tiro livre indireto (em dois lances).

Tostão abriu com Rivellino na esquerda. Ele usou sua habilidade, enganou o marcador e deixou com Pelé na entrada da área. O Rei tentou o gol por cobertura, mas a bola foi por cima.


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

O Brasil diminuiu o ritmo, trocando passes e procurando esfriar o jogo. Do outro lado, o Peru atacava a todo vapor. Tinha uma grande equipe e se aproveitou do primeiro descuido fatal da defesa brasileira – e é bom lembrar que a retaguarda canarinho tinha mesmo os seus problemas.

Aos 27′, o capitão Héctor Chumpitaz lançou Alberto Gallardo (ex-Palmeiras, nos anos 1960) na ponta esquerda. Ele cortou Carlos Alberto e chutou sem ângulo. Inseguro, o goleiro Félix praticamente fez um gol contra ao tentar pegar o chute cruzado do peruano e desviou para dentro. Um gol com certa semelhança ao de Tostão, pelos chutes com pouco ângulo e falhas dos goleiros.

No finzinho da etapa inicial, Jairzinho escapou pela ponta direita e tocou para Pelé no meio. O camisa 10 bateu de esquerda e Rubiños defendeu sem conseguir segurar. A bola escapou e foi na trave.

O primeiro tempo terminou em 2 a 1. Os onze comandados por Zagallo se entendiam às mil maravilhas e voltaram a campo dispostos a resolverem logo o jogo.

Aos 7′, Pelé deixou com Jairzinho, que devolveu para o Rei no costado da zaga. Ele tocou para o meio da área, a bola desviou na defesa, tirou o goleiro do lance e sobrou livre para Tostão completar para o gol vazio. Esses gols contra o Peru foram os únicos de Tostão no Mundial do México.

Mesmo com vantagem, o Brasil continuou atacando. E, com muita categoria, o Peru respondia com ferocidade nos contragolpes. Aos 24′, após uma bela jogada coletiva, Cubillas ficou com a sobra e chutou de primeira. A bola foi no meio do gol e passou por baixo de Félix. 3 a 2.

No meio do segundo tempo, Gérson foi poupado e deu lugar a Paulo Cézar. O “Canhota de Ouro” jogou 67 minutos, fez 57 passes e errou apenas um.

Com duas alterações, Didi lançou sua equipe à frente.

Antes que o Peru começasse a gostar do jogo de vez, a reação do Brasil foi quase imediata. Aos 31 minutos, Jairzinho deixou com Rivellino e arrancou. Riva devolveu com perfeição para o “Furacão da Copa”. Ele entrou na área, driblou o goleiro, foi à linha de fundo e tocou para o gol vazio antes da chegada do beque peruano. Jairzinho marcou pela quinta vez na Copa. Logo depois, esgotado, ele deu lugar a Roberto.

Com a vitória garantida, o escrete canarinho trocou muitos passes e deixou o tempo correr. Embora o placar tenha sido 4 a 2, o Brasil foi senhor do jogo o tempo todo e não sofreu em momento algum.


(Imagem: Peru.com)

● Finalmente Tostão marcou seus primeiros gols na Copa. Ele vinha merecendo. Antes do Mundial, muitos diziam que Tostão não poderia jogar ao lado de Pelé. E a crítica sempre pesa para o lado mais fraco. Nesse caso, para Tostão. Ele, que foi o artilheiro das Eliminatórias com dez gols. Ele, que fez um esforço comovente para provar que poderia voltar a jogar em alto nível após o descolamento da retina. O próprio Zagallo só não barrou Tostão porque a opinião pública o queria no time. E nos jogos anteriores, jogando como “falso 9” (quarenta anos antes de Lionel Messi), o cruzeirense abria espaços para Pelé, Jair e Rivellino, com intensa movimentação e passes geniais. Mais que ninguém, ele merecia marcar esses dois gols contra o Peru.

O Brasil estava classificado para enfrentar o arquirrival Uruguai nas semifinais. A lembrança do “Maracanazzo” de 1950 ainda pairava na lembrança dos brasileiros.

Quem ganhasse, enfrentaria o vencedor do clássico entre Itália x Alemanha Ocidental.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 PERU

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 54.233

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Vital Loraux (Bélgica)

 

BRASIL (4-3-3):

PERU (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Luis Rubiños (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Eloy Campos

2  Brito

14 José Fernández

3  Wilson Piazza

4  Héctor Chumpitaz (C)

6  Marco Antônio

5  Nicolás Fuentes

5  Clodoaldo

6  Ramón Mifflin

8  Gérson

7  Roberto Challe

7  Jairzinho

8  Julio Baylón

9  Tostão

9  Perico León

10 Pelé

10 Teófilo Cubillas

11 Rivellino

11 Alberto Gallardo

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Didi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Rubén Correa (G)

22 Leão (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

21 Zé Maria

3  Orlando de la Torre

14 Baldocchi

16 Félix Salinas

15 Fontana

13 Pedro González

17 Joel Camargo

15 Javier González

16 Everaldo

17 Luis Cruzado

18 Paulo Cézar Caju

18 José del Castillo

13 Roberto

19 Eladio Reyes

20 Dadá Maravilha

20 Hugo Sotil

19 Edu

22 Oswaldo Ramírez

 

GOLS:

11′ Rivellino (BRA)

15′ Tostão (BRA)

28′ Alberto Gallardo (PER)

52′ Tostão (BRA)

70′ Teófilo Cubillas (PER)

75′ Jairzinho (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

61′ Pedro Pablo León (PER) ↓

Eladio Reyes (PER) ↑

 

67′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

80′ Jairzinho (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑


(Imagem: Peru.com)

Melhores momentos da partida:

2 pensou em “… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru

  1. Pingback: 50 anos do Tri (Parte VII): Brasil 4 x 2 Peru - Tabela Do Brasileiro

  2. Pingback: ... 03/06/1970 - Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia - Três Pontos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *