Três pontos sobre…
… 23/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Hungria
(Imagem: Magyarfutball.hu)
● Era um duelo entre duas seleções muito fortes. Ambas constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. E a Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.
A União Soviética estava na melhor fase de sua história. Em um espaço de dez anos, havia conseguido quase todos os títulos de sua sala de troféus, além de campanhas de destaque. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne. Se sagrou vencedora da primeira edição da Eurocopa, em 1960, além de ter sido vice-campeã da Euro de 1964. Um nome se destacava dentre os demais e permaneceu como unanimidade durante todo esse período: Lev Yashin, o Aranha Negra, único goleiro a ter sido eleito o Bola de Ouro da revista France Football como o melhor jogador da Europa, em 1963. Nas eliminatórias, a URSS foi a líder do Grupo 7 da UEFA, com cinco vitórias e uma única derrota (para o País de Gales, quando já estava classificada), deixando para trás, além dos galeses, a Grécia e a Dinamarca.
Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o volante Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.
Em sua estreia, a União Soviética venceu a Coreia do Norte por 3 x 0. Depois, venceu a Itália por 1 x 0. Terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento ao vencer o Chile por 2 x 1.
A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida. Depois, venceu por 2 x 1 a Seleção Brasileira, então bicampeã do mundo. Encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1.
Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.
● Os dois goleiros acabariam por ser os dois principais destaques da partida. Enquanto Lev Yashin salvou a URSS, o goleiro húngaro fez o contrário. József Gelei era o terceiro goleiro de sua seleção. Ele tinha 28 anos e jogava FC Tatabánya, um time médio de seu país – o mesmo clube que havia revelado Gyula Grosics, maior arqueiro da história da Hungria, que disputou as Copas de 1954, 1958 e 1962. O titular era Antal Szentmihályi, do Újpest LK, mas ele não fez uma boa partida na estreia diante de Portugal e foi sacado pelo técnico Lajos Baróti. O reserva imediato era István Géczi, do Ferencváros TC, que estava lesionado. Assim, coube a Gelei defender a meta contra o Brasil. Fez um bom papel e foi mantido como titular para a sequência da competição. Mas, contra os soviéticos, ele falhou logo na primeira vez em que precisou mostrar serviço.
Logo aos cinco minutos, antes que o jogo esquentasse, aconteceu um lance curioso. O soviético Anatoliy Banishevskiy avançou pela ponta esquerda e, em disputa de bola, jogou o zagueiro húngaro Sándor Mátrai para cima dos repórteres. Ele demorou um pouco a se recuperar, mas voltou inteiro para o jogo. O árbitro espanhol Juan Gardeazábal Garay deu apenas escanteio.
Valeriy Porkujan cobrou escanteio curto, recebeu de volta e chutou fraco e rasteiro da ponta esquerda. Era uma bola fácil, mas Gelei deixou a bola passar por baixo de seu corpo. Igor Chislenko estava ligado no lance e chegou de carrinho para empurrar a bola que estava quase em cima da linha de gol, antes que o goleiro tivesse tempo para recuperar a bola.
(Imagem: Pinterest)
No restante do primeiro tempo, os húngaros tentaram recobrar o controle dos nervos, mas não conseguiram. O técnico Nikolai Morozov deu uma mostra de humildade rara entre os soviéticos e decidiu escalar Valery Voronin com a única e exclusiva obrigação de acompanhar Florián Albert por todo o campo – principal articulador das jogadas de ataque da seleção húngara.
No primeiro minuto do segundo tempo, Vasiliy Danilov deu um chutão para frente e foi prensado por Benő Káposzta. Em um lance bastante inusitado, a bola furou e caiu já murcha fora de campo. Uma cena muito rara na história das Copas.
Logo aos 2′, Gelei falhou novamente. Galimzyan Khusainov cobrou uma falta da direita, levantando a bola na pequena área da Hungria. O goleiro ficou parado e Porkujan cabeceou. A bola tocou na trave esquerda e entrou no gol.
(Imagem: Magyarfutball.hu)
Mas, em uma estratégia arriscada, os soviéticos recuaram diante do bom time húngaro.
Na base da força de vontade e superação os magiares saíram em busca do empate e chegaram a colocar os dez jogadores no campo de ataque. Era o volante Kálmán Mészöly quem liderava o time na técnica e no grito. A pressão foi tanta que o goleiro Lev Yashin precisou fazer pelo menos quatro defesas de grande envergadura. Mas só resultou em um único e insuficiente gol.
Mészöly se lançou de vez para o ataque. Aos 12′ , ele abriu na direita para Ferenc Bene tocar cruzado por cima de Yashin, que saía no lance.
A Hungria continuava atacando em busca do empate.
Gyula Rákosi cruzou da esquerda para a área. Mészöly dominou no peito e bateu de primeira, de esquerda, mas Porkujan fechou o espaço e impediu o empate. A defesa da URSS não conseguiu tirar de vez, a bola viajou e Rákosi chutou da entrada da área, mas a bola saiu à direita do gol de Lev Yashin.
Mais para o fim do jogo, Ferenc Bene deu uma bicicleta da entrada da grande área e a bola passou muito perto do travessão, chegando a tocar no suporte da rede e assustar Yashin.
Mas já era tarde demais para os húngaros. A URSS estava classificada para a única semifinal de sua história nas Copas do Mundo.
Nas semifinais, a URSS perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 1. Terminou a competição em 4º lugar, após perder para Portugal por 2 x 1 na decisão do 3º lugar.
(Imagem: Magyarfutball.hu)
● FICHA TÉCNICA: |
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UNIÃO SOVIÉTICA 2 x 1 HUNGRIA |
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Data: 23/07/1966 Horário: 15h00 locais Estádio: Roker Park Público: 26.844 Cidade: Sunderland (Inglaterra) Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha) |
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UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4): |
HUNGRIA (4-2-4): |
1 Lev Yashin (G) |
21 József Gelei (G) |
4 Vladimir Ponomaryov |
2 Benő Káposzta |
6 Albert Shesternyov (C) |
17 Gusztáv Szepesi |
12 Valery Voronin |
6 Ferenc Sipos (C) |
10 Vasiliy Danilov |
3 Sándor Mátrai |
8 Yozhef Sabo |
5 Kálmán Mészöly |
15 Galimzyan Khusainov |
14 István Nagy |
11 Igor Chislenko |
7 Ferenc Bene |
18 Anatoliy Banishevskiy |
9 Flórián Albert |
19 Eduard Malofeyev |
10 János Farkas |
17 Valeriy Porkujan |
11 Gyula Rákosi |
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Técnico: Nikolai Petrovich Morozov |
Técnico: Lajos Baróti |
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SUPLENTES: |
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21 Anzor Kavazashvili (G) |
1 Antal Szentmihályi (G) |
22 Viktor Bannikov (G) |
22 István Géczi (G) |
13 Alexey Korneyev |
4 Kálmán Sóvári |
7 Murtaz Khurtsilava |
18 Kálmán Ihász |
3 Leonīds Ostrovskis |
13 Imre Mathesz |
5 Valentin Afonin |
8 Zoltán Varga |
9 Viktor Getmanov |
20 Antal Nagy |
14 Giorgi Sichinava |
12 Máté Fenyvesi |
2 Viktor Serebryanikov |
15 Dezső Molnár |
16 Slava Metreveli |
19 Lajos Puskás |
20 Eduard Markarov |
16 Lajos Tichy |
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GOLS: |
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5′ Igor Chislenko (URSS) |
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46′ Valeriy Porkujan (URSS) |
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57′ Ferenc Bene (HUN) |
(Imagem: Magyarfutball.hu)
Melhores momentos da partida:
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