Três pontos sobre…
… 11/06/1958 – Brasil 0 x 0 Inglaterra
(Imagem: DPA / FourFourTwo)
● Em partida válida pela segunda rodada do Grupo 4, mais de quarenta mil pessoas estiveram presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, para assistir ao primeiro jogo oficial entre Brasil e Inglaterra.
Após a vitória de 3 a 0 sobre a Áustria, o Brasil liderava seu grupo com dois pontos. Na primeira rodada, Inglaterra e União Soviética haviam empatado por 2 a 2.
O futebol inglês ainda vivia o luto causado pelo desastre aéreo ocorrido no aeroporto de Munique no dia 06/02, que causou a morte de 23 dos 38 tripulantes, sendo oito jogadores do Manchester United. Entre os mortos, três atletas que certamente seriam titulares do English Team na Copa da Suécia: Roger Byrne (28 anos), capitão do Man Utd, que havia jogado o Mundial de 1954; Tommy Taylor (26 anos), grande artilheiro dos Red Devils e também veterano da Copa de 1954; e Duncan Edwards (21 anos), um jogador polivalente, adorado pelos ingleses e que – segundo a imprensa europeia – tinha potencial para ser o melhor do mundo. Os três foram perdas muito sentidas para o time formado pelo técnico Walter Winterbottom. Entre os sobreviventes, um garoto de 20 anos, Bobby Charlton, que esteva no elenco em 1958 e que lideraria a seleção campeã do mundo em 1966 (disputaria quatro Copas, entre 1958 e 1970).
(Imagem: Central Press / Hulton Archive / Getty Images)
● Como já contamos detalhadamente nesse outro texto (clique aqui para ler) a pacata cidade de Hindås foi o local escolhido para concentração da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958. A cerca de 300 metros estava hospedada também a delegação da União Soviética.
Na véspera do jogo contra a Inglaterra, o goleiro Gymar dos Santos Neves recebeu a visita do colega Lev Yashin. O arqueiro soviético falava um pouquinho de espanhol e alertou o brasileiro sobre o centroavante inglês Derek Kevan, que costumava entrar dando cotoveladas para quebrar os goleiros rivais. O “Aranha Negra” descobriu isso da pior maneira na partida anterior e sofreu com o jogo sujo do inglês – que também era acostumado a cuspir nos adversários.
Gylmar entrou em campo prevenido. Na partida, saía do gol com o joelho levantado para acertar os oponentes antes de ser acertado. Isso ajudou a manter o ataque inglês longe de sua área. Na época o futebol britânico era pouco criativo e tinha praticamente uma única jogada de ataque: os cruzamentos para a área adversária. Foi um jogo duro, muito sofrido. Kevan jogava sujo, mas era um grande jogador e deu muito trabalho à defesa brasileira.
Antes da partida, Feola recebeu informações sobre o forte sistema defensivo inglês e resolveu reforçar o ataque, com dois atacantes de ofício. Dida sentia dores no pé e não conseguia sequer chutar uma bola. Foi substituído por Vavá. Além disso, Pelé havia sido barrado pelo médico, o Dr. Hilton Gosling, por ainda estar com o joelho em tratamento.
O treinador brasileiro pretendia escalar uma equipe mais ofensiva do que na estreia e queria que Garrincha jogasse no lugar de Joel. Mas, outra vez, foi convencido do contrário pelo observador Ernesto Santos, que alertou que o lateral esquerdo Bill Slater era um jogador muito violento e que poderia atingir Garrincha e tirá-lo do restante da Copa. Segundo Ernesto, Slater era o “jogador mais perverso que já vira atuar”. A jogada desleal do inglês consistia em “pisar com força o calcanhar do adversário na corrida, prender-lhe o pé e embolar-se com ele na queda”. E, enquanto o juiz nem marcava falta, o ponta passava o resto do jogo fazendo número ou saía de campo para não mais voltar.
Joel foi escalado e orientado a buscar mais o jogo no meio ao invés de abrir pela ponta, evitando o confronto direto com Slater. Seguiu o posicionamento à risca na primeira etapa e quase marcou um gol – salvo em cima da linha por Billy Wright. Porém, no segundo tempo, o brasileiro se empolgou, deu uma sequência de dribles no inglês, recebeu uma pancada e saiu de campo com muitas dores.
Influenciado pelo técnico húngaro Béla Guttmann, de quem foi auxiliar no São Paulo FC, Vicente Feola escalou seu time no revolucionário sistema 4-2-4. Com o recuo voluntário de Zagallo, o esquema se transformava em um 4-3-3 sem a bola.
A Inglaterra ainda utilizada o velho sistema W-M, criado por Herbert Chapman em 1925.
● O Brasil deu o pontapé inicial. Mas logo nos primeiros segundos, quem atacou foi a Inglaterra. O ponta esquerda Alan A’Court avançou e tabelou com Johnny Haynes. O capitão Bellini cortou e Dino Sani aliviou o perigo.
No fim do primeiro tempo, Zagallo cruzou para a área e a bola sobrou para Joel, que chutou forte para boa defesa de McDonald. Eddie Clamp pegou a sobra e bateu para cima.
A Inglaterra partiu para o ataque. Johnny Haynes, tabelou com Kevan e chutou bem. Gylmar defendeu em dois tempos. Foi o lance mais perigoso dos ingleses nos 90 minutos.
O English Team soube fechar os espaços para Didi, evitando que a criação de jogadas passasse pelo astro brasileiro. Com isso, o Brasil não conseguiu criar muito e não faz gols.
O goleiro inglês Colin McDonald esteve em uma noite inspirada e fechou o gol. Ele fez várias defesas à queima roupa, especialmente de Mazzola, e viu o Brasil acertar a trave com Vavá.
Já no finzinho, foi Mazzola quem desperdiçou a melhor oportunidade do jogo, ao perder um gol embaixo da trave, finalizando por cima.
(Imagem: Pinterest)
● Essa partida ficou marcada por ter sido a primeira a terminar sem gols em toda a história das Copas, após 116 jogos. Como era uma situação inédita, alguns jogadores ficaram meio perdidos em campo, chegando a pensar que o árbitro alemão Albert Dusch daria uma prorrogação.
O placar soou como um alerta para a comissão técnica denunciou algumas deficiências no ataque brasileiro que não tinham sido percebidas na estreia. O terceiro jogo seria de “vida ou morte” e seria justamente contra os temidos soviéticos.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 0 x 0 INGLATERRA |
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Data: 11/06/1958 Horário: 19h00 locais Estádio: Nya Ullevi Público: 40.895 Cidade: Gotemburgo (Suécia) Árbitro: Albert Dusch (Alemanha Ocidental) |
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BRASIL (4-2-4): |
INGLATERRA (WM): |
3 Gylmar (G) |
1 Colin McDonald (G) |
14 De Sordi |
2 Don Howe |
2 Bellini (C) |
5 Billy Wright (C) |
15 Orlando |
3 Tommy Banks |
12 Nilton Santos |
4 Eddie Clamp |
5 Dino Sani |
6 Bill Slater |
6 Didi |
7 Bryan Douglas |
17 Joel |
8 Bobby Robson |
18 Mazzola |
9 Derek Kevan |
20 Vavá |
10 Johnny Haynes |
7 Zagallo |
21 Alan A’Court |
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Técnico: Vicente Feola |
Técnico: Walter Winterbottom |
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SUPLENTES: |
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1 Castilho (G) |
12 Eddie Hopkinson (G) |
4 Djalma Santos |
13 Alan Hodgkinson (G) |
16 Mauro |
14 Peter Sillett |
9 Zózimo |
16 Maurice Norman |
8 Oreco |
15 Ronnie Clayton |
19 Zito |
18 Peter Broadbent |
13 Moacir |
22 Maurice Setters |
11 Garrincha |
20 Bobby Charlton |
21 Dida |
17 Peter Brabrook |
10 Pelé |
19 Bobby Smith |
22 Pepe |
11 Tom Finney |
Lances da partida:
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