Três pontos sobre…
… 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Mauro Ramos de Oliveira e Ladislav Novák (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Assim como hoje, o segundo dia do mês de junho de 1962 era um sábado. O Brasil inteiro colou seus ouvidos nos transmissores de rádio para ouvir o jogo contra a forte Tchecoslováquia. Embora o som não fosse ainda totalmente ausente de ruídos, tinha melhorado muito se comparado à precariedade com que acompanhamos a Copa do Mundo de 1958.
A trajetória do Brasil em gramados chilenos começou no dia 30 de maio, enfrentando o México e vencendo por 2 a 0, em Viña del Mar.
A Tchecoslováquia também vinha para o jogo credenciada pela bela vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Puskas e Gento em sua estreia. Tinha jogadores respeitados em todo o mundo, como o goleiro Schrojf, os defensores Lála e Novák, além do grande meia Josef Masopust.
Aymoré Moreira mantinha o mesmo time brasileiro, com a esperança de que nessa segunda partida, o escrete canarinho mostrasse mais futebol do que na estreia.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
A Tchecoslováquia também jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust
● As duas equipes demoram um tempo para se acertar em campo. É um jogo equilibrado, com muitas faltas, muita correria e pouco futebol.
Os brasileiros dão a impressão de que perderam parte do brilho que o havia consagrado, jogando um futebol mais defensivo do que quatro anos antes. Mesmo assim, dá bastante trabalho a Schrojf.
Os tchecos também atacam, mas não chegam a incomodar a defesa brasileira.
A melhor chance do Brasil foi de Mané Garrincha. Ele arranca em diagonal, da direita para o meio e chuta da entrada da área. O ótimo goleiro Viliam Schrojf não consegue segurar e apenas desvia a bola, que ainda bate em sua trave direita.
Espera-se a qualquer momento a explosão do gênio Pelé, que é muito bem marcado por Masopust.
O lance que decide o jogo ocorre aos 27 minutos do primeiro tempo. Pelé recebe um passe de Djalma Santos, limpa a jogada e bate forte de pé esquerdo, da entrada da área. A bola passa por Schrojf e toca de leve na trave. Pelé faz careta, mas todos pensam ser apenas um lamento por não ter feito o gol. Mas, na sequência, o camisa 10 cai ao chão e coloca a mão na virilha esquerda. Todos os olhos do mundo se voltam apreensivos para o craque.
Pelé e Masopust: um duelo de respeito (Imagem: Getty Images / FIFA)
Ele é atendido fora do campo e, completamente sem condições de jogo, vai fazer número na ponta direita, já que as substituições não eram permitidas na época.
Assim, para melhor balanceamento no campo, o técnico Aymoré Moreira manda Garrincha fazer o papel de Pelé pelo meio. Mas depois de ver a equipe levar certo sufoco, Aymoré inverte: volta Garrincha para a ponta e pede para Zagallo recuar.
Pelé fica em campo, isolado. Mas em um determinado momento, passam-lhe a bola e ele domina com dificuldades. À sua frente, posta-se o severo, porém cavalheiro, Masopust. O craque tcheco fica esperando, respeitosamente, o que o Rei decidiria fazer com a bola, mas ele a tocou pela lateral. O gesto de respeito de Masopust foi elogiado no mundo inteiro.
“É muito triste se machucar no meio de uma Copa do Mundo, é uma frustração muito grande.” ― Pelé recordaria depois
Sem Pelé e com todos os jogadores preocupados com ele, a Seleção não consegue vencer a retranca dos europeus e a partida termina sem gols. De qualquer forma, um resultado mais do que justo.
Pelé se lesionou e não jogou mais na competição (Imagem: Pinterest)
● Se já não bastasse o inesperado empate, havia uma dúvida cruel: seria possível conquistar o bicampeonato mundial sem o Rei Pelé? A esperança de que ele voltasse contra a Espanha era pequena. No dia seguinte, ela foi soterrada pelo médico da delegação brasileira, o Dr. Hilton Gosling. Em meio a um batalhão de repórteres, ele deu o diagnóstico fatal: Pelé distendeu o músculo adutor da coxa esquerda. Em outras palavras: o Rei estava fora da Copa.
Incrivelmente, depois de apenas três dias de partidas no Mundial, já havia 34 jogadores machucados. No quarto dia, já eram 50. O balanço final dessa violenta Copa foi, além de incontáveis lesões musculares, três fraturas de pernas, uma de nariz e uma de quadril.
Infelizmente, essa foi a última vez em que atuaram juntos os craques da linha de frente que deram o primeiro título mundial ao Brasil, em 1958: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Para o lugar do ainda menino Pelé, seria escolhido outro jovem craque: Amarildo, atacante de 21 anos do Botafogo.
O último jogo da primeira fase seria contra a Espanha e o Brasil precisaria vencer para passar às quartas de final.
Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo: talvez o maior ataque da história (Imagem: 7M Sports)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 0 x 0 TCHECOSLOVÁQUIA |
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Data: 02/06/1962 Horário: 15h00 locais Estádio: Sousalito Público: 14.903 Cidade: Viña del Mar (Chile) Árbitro: Pierre Schwinte (França) |
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BRASIL (4-2-4): |
TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4): |
1 Gylmar (G) |
1 Viliam Schrojf (G) |
2 Djalma Santos |
2 Jan Lála |
3 Mauro (C) |
3 Ján Popluhár |
5 Zózimo |
4 Ladislav Novák (C) |
6 Nilton Santos |
5 Svatopluk Pluskal |
4 Zito |
6 Josef Masopust |
8 Didi |
7 Jozef Štibrányi |
7 Garrincha |
8 Adolf Scherer |
19 Vavá |
10 Jozef Adamec |
10 Pelé |
19 Andrej Kvašňák |
21 Zagallo |
11 Josef Jelínek |
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Técnico: Aymoré Moreira |
Técnico: Rudolf Vytlačil |
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SUPLENTES: |
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22 Castilho (G) |
22 Pavel Kouba (G) |
12 Jair Marinho |
21 Jozef Bomba |
13 Bellini |
12 Jiří Tichý |
14 Jurandir |
13 František Schmucker |
15 Altair |
15 Vladimír Kos |
16 Zequinha |
16 Titus Buberník |
17 Mengálvio |
17 Tomáš Pospíchal |
18 Jair da Costa |
18 Josef Kadraba |
9 Coutinho |
9 Pavol Molnár |
20 Amarildo |
20 Jaroslav Borovička |
11 Pepe |
14 Václav Mašek |
Garrincha tenta passar pelo meia Andrej Kvašňák (Imagem: Planet World Cup)
Lances importantes da partida:
Algumas momentos da partida:
Crônica de Nelson Rodrigues sobre a contusão de Pelé:
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