Arquivo da tag: Turquia

… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia

Três pontos sobre…
… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia


Seleção alemã que entrou em campo para o jogo extra diante da Turquia. Da esquerda para a direita: Fritz Walter, Turek, Eckel, Laband, Posipal, Ottmar Walter, Klodt, Mai, Schäfer, Bauer e Morlock. (Imagem: Impromptuinc)

● A seleção alemã de futebol foi usada como uma importante arma de divulgação do governo de Adolf Hitler. Com a queda do nazismo e a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, em 1947 o país foi dividido em Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Sarre e Áustria (que voltou a ser uma nação independente). As seleções de futebol, com exceção da invadida Áustria, ficaram impedidas de disputar qualquer competição internacional até 1950. Depois do fim dessa suspensão, a Alemanha Ocidental – que herdou o histórico esportivo da Alemanha unificada – tratou de reorganizar o futebol local e voltou a disputar jogos oficiais. Mas enquanto os alemães passearam nas eliminatórias, se qualificando facilmente no Grupo 1 e deixando para trás as fracas seleções de Sarre e Noruega, a vida dos turcos foi muito mais difícil.

O Grupo 6 tinha apenas Turquia e Espanha. A Fúria era amplamente favorita, contando com veteranos que ficaram em 4º lugar no Mundial de 1950 (Agustín Gaínza, Antonio Puchades e Mariano Gonzalvo), além do craque húngaro naturalizado László Kubala.

Em Madri, os espanhóis fizeram valer o favoritismo e venceram fácil por 4 x 1. Na volta, em Istambul, a Turquia venceu por 1 x 0. Como não havia o critério de saldo de gols, foi necessária uma partida extra, que foi jogada em Roma. Houve empate por 2 x 2 no tempo normal e na prorrogação. E, como previa o regulamento na época, o vencedor foi decidido por sorteio! De olhos vendados, um menino italiano de 14 anos cujo pai trabalhava no estádio, Luigi Franco Gemma, foi o responsável por sortear o nome da Turquia. É isso mesmo: a Turquia disputou sua primeira Copa do Mundo porque teve seu nome sorteado num pote. Mas nada disso mais importava. No Mundial, todos começavam “do zero”.

O regulamento da Copa de 1954 era mesmo muito estranho. Na primeira fase, em grupos compostos por quatro seleções, haviam dois cabeças de chave que não se enfrentavam. Eles enfrentariam diretamente apenas as duas seleções teoricamente mais fracas do grupo – que também não se enfrentariam. Dessa forma, cada seleção faria apenas dois jogos. Se os duelos da primeira fase terminassem empatados, seria jogada uma prorrogação; mas, caso essa prorrogação terminasse empatada, o resultado de empate seria mantido. Caso duas equipes terminassem empatadas em pontos no segundo lugar do grupo, a vaga seria decidida em um jogo extra entre ambos. E foi o que aconteceu: Alemanha Ocidental e Turquia terminaram iguais, com dois pontos (uma vitória e uma derrota).


Seleção turca que foi a campo na partida desempate contra a Alemanha Ocidental. (Imagem: Impromptuinc)

● Seis dias antes, essas mesmas seleções haviam jogado para 39 mil pessoas no estádio Wankdorf, em Berna. A Alemanha Ocidental venceu com propriedade por 4 a 1, com gols de Schäfer, Klodt, Ottmar Walter e Morlock.

Mesmo com a boa vitória na estreia, o técnico alemão Sepp Herberger seguia criticado pela imprensa alemã. E a reprovação foi ainda maior quando seu time perdeu por 8 x 3 para a poderosa Hungria. O que quase ninguém sabia é que a derrota fazia parte dos planos de Herberger – uma verdadeira raposa. Ele havia entendido muito bem o regulamento.

Prevendo uma derrota para os magiares [na verdade, todos previam], ele poupou seis titulares para o jogo desempate, novamente contra a Turquia. E, pior, deixou os húngaros sem saber como realmente jogava o time principal da Nationalelf. Melhor que isso, só a terrível lesão que Liebrich causou no húngaro Ferenc Puskás, praticamente tirando o craque do restante da Copa.


(Imagem: Impromptuinc)

● Em sua segunda partida, a Turquia encarou com seriedade os amadores da Coreia do Sul e venceu por 7 x 0.

Para o jogo desempate diante dos alemães, os dirigentes turcos convidaram o garoto talismã – Luigi Franco Gemma – para ir a Zurique. Mas dessa vez ele não conseguiu trazer a sorte necessária.

Em uma tentativa de surpreender os alemães, o técnico italiano Sandro Puppo fez várias alterações na equipe da Turquia, principalmente no ataque. O trio de frente (Suat, Feridun e Burhan) havia atuado bem nas eliminatórias e no jogo diante da Coreia do Sul, mas, embora tivessem mais técnica, tinha menos força física para encarar os gigantes zagueiros alemães – como o primeiro jogo entre ambos já havia mostrado.

Suat e Burhan eram os artilheiros da equipe na Copa com três gols cada. Sem poder de fogo, “Ay-Yıldızlılar” (“Estrelas da Lua”, em turco – apelido da seleção) foi presa fácil para os alemães.

Outra das principais alterações foi a troca dos goleiros. Saiu Turgay para a entrada de Şükrü.


As duas equipes jogavam no sistema tático W-M.

● Por ter vencido o primeiro duelo entre as duas seleções, Die Mannschaft era amplamente favorita. Vários titulares, que haviam ficado de fora contra os húngaros, estavam de volta ao time. Em compensação, foram poupados os zagueiros Werner Liebrich e Werner Kohlmeyer, além do ponta direita Helmut Rahn.

Mas o jogo foi mais fácil que o previsto. A Alemanha Ocidental começou a partida de forma avassaladora, pressionando muito a inexperiente seleção turca. E foi enfileirando gols com relativa facilidade.

O placar foi aberto logo aos sete minutos do primeiro tempo. Em uma transição rápida desde o círculo central, Horst Eckel passou na meia esquerda para Karl Mai, que abriu na esquerda para Hans Schäfer. O ponta foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro. Ottmar Walter veio de frente, finalizou da marca do pênalti e mandou a bola para o fundo da rede.

Cinco minutos depois, Schäfer avançou pela esquerda sem marcação, invadiu a área e bateu para o gol, fazendo 2 a 0 para os alemães.

A Turquia manteve a esperança aos 17′. Após cruzamento de Coşkun da esquerda, Mustafa subiu sozinho e cabeceou no canto esquerdo do goleiro Toni Turek. Ele chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol.

A Alemanha nem se incomodou e seguiu atacando. Eckel apareceu quase na pequena área e chutou. Şükrü defendeu bem e Rıdvan chutou para longe para afastar o perigo.

A situação dos turcos ficou muito mais complicada com a lesão no ombro do goleiro Şükrü, quando o placar estava em 2 x 1 para a Alemanha. Como não eram permitidas substituições na época, teve que continuar jogando.

E o 3 a 1 veio aos 31 minutos. Max Morlock aproveitou falha de Rober e finalizou de dentro da área, na saída do goleiro.


(Imagem: Impromptuinc)

No segundo tempo, a Alemanha não se deu por satisfeita. O instinto sanguinário fazia a “Die Adler” (“As Águias”, em alemão) querer trucidar o adversário.

Sem correr riscos na defesa e sem sofrer resistência no ataque, os alemães marcaram novamente aos 15′, quando Morlock anotou seu segundo tento na partida. Depois de um cruzamento rasteiro de Schäfer na esquerda, ele deu um carrinho quase em cima da linha e mandou para o gol. 4 a 1. Esse foi o gol de número 400 da história das Copas.

O quinto saiu segundos depois. Ottmar Walter rolou da esquerda e seu irmão Fritz Walter bateu da entrada da área no cantinho direito, sem chances para o combalido Şükrü.

Max Morlock chegou ao “hat trick” aos 32. Bernhard Klodt protegeu na área e rolou para trás. Morlock dominou e bateu da meia lua, no ângulo direito do goleiro turco.

O sétimo gol alemão foi marcado por Schäfer apenas dois minutos depois, completando um cruzamento de Fritz Walter.

A Turquia teve uma pequena alegria ao marcar o segundo, a seis minutos do fim. Após cruzamento da esquerda, Lefter dominou e bateu por baixo de Turek.

Final: Alemanha Ocidental 7, Turquia 2.


(Imagem: Impromptuinc)

● O presidente honorário da FIFA, Jules Rimet (que já dava nome à taça de campeão do mundo), foi assistir a essa partida. Na sua chegada, ele não teve entrada autorizada no estádio Hardturm, pois não estava portando seus documentos. Com paciência, ele explicou que seus documentos haviam ficado no hotel. Ele só teve sua entrada permitida quando um diretor da organização local o reconheceu e liberou seu ingresso.

Curiosamente, a Copa do Mundo de 1954 foi a primeira em que os jogadores atuaram com numeração fixa. Cada atleta tinha seu próprio número para ser usado na camisa durante todo o torneio, de 1 a 22.

No fim, a estratégia de Herberger acabou dando certo. Com a nova vitória diante dos turcos, a Alemanha se classificou para as quartas de final, onde venceu a Iugoslávia por 2 x 0. Nas semifinais, goleou a vizinha Áustria por 6 x 1. Na decisão, enfim Herberger escalou seu melhor time e venceu a Hungria de virada por 3 x 2, com a Alemanha conquistando o primeiro dos seus quatro títulos em Copas do Mundo. E esse primeiro troféu muito se deve à astúcia do técnico Sepp Herberger.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 7 X 2 TURQUIA

 

Data: 23/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Hardturm

Público: 17.000

Cidade: Zurique (Suíça)

Árbitro: Raymond Vincenti (França)

 

ALEMANHA (WM):

TURQUIA (WM):

1  Toni Turek (G)

12 Şükrü Ersoy (G)

2  Fritz Laband

2  Rıdvan Bolatlı

7  Josef Posipal

3  Basri Dirimlili

4  Hans Bauer

17 Naci Erdem

6  Horst Eckel

5  Çetin Zeybek

8  Karl Mai

6  Rober Eryol

14 Bernhard Klodt

7  Erol Keskin

13 Max Morlock

4  Mustafa Ertan

15 Ottmar Walter

d 20 Necmi Onarıcı

16 Fritz Walter (C)

11 Lefter Küçükandonyadis (C)

20 Hans Schäfer

22 Coşkun Taş

 

Técnico: Sepp Herberger

Técnico: Sandro Puppo

 

SUPLENTES:

 

 

22 Heinz Kwiatkowski (G)

1  Turgay Şeren (G)

21 Heinz Kubsch (G)

13 Bülent Eken

10 Werner Liebrich

14 Ali Beratlıgil

3  Werner Kohlmeyer

16 Nedim Günar

5  Herbert Erhardt

18 Akgün Kaçmaz

11 Karl-Heinz Metzner

19 Ahmet Berman

19 Alfred Pfaff

15 Mehmet Dinçer

12 Helmut Rahn

1 Kadri Aytaç

17 Richard Herrmann

8  Suat Mamat

18 Ulrich Biesinger

9  Feridun Buğeker

9  Paul Mebus

10 Burhan Sargun

 

GOLS:

7′ Ottmar Walter (ALE)

12′ Hans Schäfer (ALE)

17′ Mustafa Ertan (TUR)

31′ Max Morlock (ALE)

60′ Max Morlock (ALE)

62′ Fritz Walter (ALE)

77′ Max Morlock (ALE)

79′ Hans Schäfer (ALE)

84′ Lefter Küçükandonyadis (TUR)

 Gols da partida:

… 11/06/2021 – Itália 3 x 0 Turquia

Três pontos sobre…
… Itália 3 x 0 Turquia


(Imagem: UEFA)

● Treinada por Şenol Güneş, a Turquia chegou à Euro2020 (disputada em 2021 devido à pandemia Covid-19) com a melhor defesa das eliminatórias, jogando no 4-1-4-1. Só havia perdido um dos últimos 13 jogos.

Mas, jogando em casa, a Itália mostrou todas suas qualidades. Depois de ficar fora da última Copa do Mundo, Roberto Mancini deu jeito na Squadra Azzurra.

Jogando no 4-3-3, com uma defesa intransponível, um meio campo criativo liderado por Nicolò Barella e um ataque de muita movimentação, a Itália nem deu chances ao rival.

O primeiro tempo foi de morno pra frio. Mas os gols saíram na etapa final, com Merih Demiral marcando contra em jogada de Domenico Berardi (aos 53′), Ciro Immobile aproveitando um rebote (aos 66′) e Lorenzo Insigne (aos 79′).

A Itália chegou a nove vitórias consecutivas sem sofrer gols, tendo marcado 28 gols nesse período. Ao todo, a Azzurra não perde desde setembro de 2018. São 28 jogos de invencibilidade (o recorde é 30, da década de 1930).

A Itália, que é sempre uma incógnita, parece que vem forte.


(Imagem: UEFA)


(Imagem: UEFA)

… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia

Três pontos sobre…
… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia


O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)

Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.

Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.

E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.

Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.

Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.

No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.


Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)

● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.

Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.

Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.

Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.

Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.

Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.

Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.

Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.

Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.


Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)

● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.

O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.

Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.

Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.

A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.

Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.

Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.


Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)

“Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo

“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos

Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.

Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.

Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).

Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.


Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

 

Data: 03/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 33.842

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Kim Young-joo (Coreia do Sul)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

5  Alpay Özalan

5  Edmílson

16 Ümit Özat

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

4  Fatih Akyel

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

19 Juninho Paulista

20 Hakan Ünsal

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

11 Ronaldinho Gaúcho

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

22 Ümit Davala

16 Júnior

18 Ergün Penbe

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

15 Kléberson

13 Muzzy Izzet

7  Ricardinho

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

20 Edílson

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOLS:

45+2′ Hasan Şaş (TUR)

50′ Ronaldo (BRA)

87′ Rivaldo (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Fatih Akyel (TUR)

24′ Hakan Ünsal (TUR)

44′ Alpay Özalan (TUR)

73′ Denílson (BRA)

 

CARTÕES VERMELHOS:

86′ Alpay Özalan (TUR)

90+4′ Hakan Ünsal (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Bülent Korkmaz (TUR) ↓

Ümit Davala (TUR) ↑

 

66′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

67′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

72′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Vampeta (BRA) ↑

 

73′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

88′ Tugay Kerimoğlu (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

(Imagem: Getty Images)

Reportagem sobre a partida (SporTV):

Melhores momentos da partida:

Partida completa:

… Hasan Şaş: o “carequinha” turco

Três pontos sobre…
… Hasan Şaş: o “carequinha” turco


(Imagem: Adwhit.com)

● Toda estreia em Copas do Mundo se torna um jogo complicado emocionalmente. Mas em 03/06/2002, a Seleção Brasileira era franca favorita contra a Turquia. Era uma partida equilibrada e o Brasil jogava ligeiramente melhor. Até que, aos 46 minutos do primeiro tempo, Yıldıray Baştürk fez um lançamento primoroso na esquerda. Mesmo sem muito ângulo, o número 11, um carequinha, encheu o pé e estufou as redes de Marcos. No segundo tempo, o Brasil viraria o jogo com Ronaldo e Rivaldo, iniciando com pé direito a caminhada rumo ao pentacampeonato mundial.

E esse careca que fez o gol turco? Quem era ele?

Hasan Şaş tinha suas qualidades, mas aquele foi um verão realmente inesquecível para o turco. Ele estava no ápice, no máximo de seu potencial. Jogava nas laterais do campo como meia ou como ponta, especialmente pelo lado esquerdo. Tinha uma rara velocidade com e sem a bola, boa técnica e um chute preciso de média distância.


(Imagem: Nextews.com)

● Hasan Gökhan Şaş nasceu no dia 01/08/1976, na cidade de Karataş, no sul da Turquia, na costa do Mar Mediterrêneo. Como vários de nós, fugia da escola para jogar bola. Começou como amador no juvenil do Akdeniz Karataşspor’. Se profissionalizou em 1993 no Adana Demirspor, clube da capital da província onde nasceu. Após ter pouquíssimas oportunidades, se transferiu ao Ankaragücü em 1995, onde se destacou. Os grandes clubes do país já estavam de olho no atleta, mas o Galatasaray foi mais competente e o contratou em 1998.

Em fevereiro de 1999, seu exame antidoping testou positivo para o uso de efedrina. Descobriu-se que Şaş tomou o medicamento A-Ferin para combater uma gripe. Com isso, ele recebeu da Federação Turca uma suspensão de seis meses sem jogar. Mas nada que o atrapalhasse em sua crescente carreira.

Fez parte do elenco quando Galatasaray conseguiu suas maiores glórias esportivas, especialmente ao conquistar a Copa da UEFA 1999/2000 e a Supercopa da Europa em 2000, ao vencer o poderoso Real Madrid. Atuou ao lado de ídolos do Gala como Taffarel, Gheorghe Popescu, Bülent Korkmaz, Okan Buruk, Emre Belözoğlu, Ümit Davala, Gheorghe Hagi, Mário Jardel e Hakan Şükür.

Após o Mundial de 2002, Hasan Şaş recebeu várias ofertas do exterior (especialmente de Milan e Arsenal), mas rejeitou todas e reiterou seu compromisso com o Galatasaray. Ele jogaria nos “Aslanlar” (“Os Leões”, em turco) até o fim de sua carreira. É um dos jogadores mais simbólicos na história do clube.

Şaş teve uma grave lesão e atuou poucas vezes em 2008/09. Ao fim da temporada, a diretoria do Galatasaray resolveu não renovar o vínculo do jogador e ele optou por findar sua carreira profissional, mesmo tendo boas propostas do futebol do Qatar e da Arábia Saudita.


(Imagem: Getty Images)

● Fez parte da seleção Sub-21 da Turquia entre 1996 e 1997. Estreou pela seleção principal em 02/04/1997, em uma vitória por 1 x 0 sobre a Holanda, em partida válida pelas eliminatórias da Copa de 1998. Encerrou sua trajetória representando seu país em 07/09/2005, quando venceu a Ucrânia por 1 x 0.

Hasan Şaş anotou dois gols em 40 partidas com a camisa da seleção de seu país. Um deles foi o já citado, contra o Brasil. O outro foi na vitória de 3 x 0 sobre a China, também no Mundial de 2002.

Şaş foi um dos grandes destaques (senão o maior) da grande Turquia que conquistou o 3º lugar naquela Copa. Ele dividia o ataque com seu ex-parceiro de clube Hakan Şükür, mas acabou eclipsando o colega no torneio. Além dos gols, deu duas assistências contra a China e participou do gol contra a Costa Rica.

Ele se destacou bastante, jogando em alto nível. Tanto, que foi eleito para a seleção dos melhores da Copa, compondo o ataque com o brasileiro Ronaldo, o alemão Miroslav Klose e o senegalês El Hadji Diouf.

Após se aposentar, trabalhou como comentarista para a CNN da Turquia e foi auxiliar técnico de Fatih Terim (juntamente com Ümit Davala) no Galatasaray, entre 2011 e 2013. Voltou ao cargo em 2018.

Como homenagem, existe uma rua com seu nome na sua cidade natal, Karataş.

Curiosamente, o gol de Hasan Şaş sobre o Brasil em 2002 apareceu no início do clipe da música “Waka Waka (This Time for Africa)”, interpretada por Shakira para ser tema da Copa do Mundo de 2010.

● Feitos e premiações de Hasan Şaş:

Pela seleção da Turquia:
– 3º lugar na Copa do Mundo de 2002.

Pelo Galatasaray:
– Campeão da Copa da UEFA (atual UEFA Europa League) em 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Europa em 2000.
– Campeão do Campeonato Turco (Süper Lig) em 1998/99, 1999/2000, 2001/02, 2005/06 e 2007/08.
– Campeão da Copa da Turquia (Türkiye Kupası) em 1998/99, 1999/2000 e 2004/05.
– Bicampeão da TSYD Kupası (campeonato de pré-temporada) em 1998/99 e 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Turquia (Turkcell Süper Kupa) em 2009.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito pela FIFA para a seleção da Copa do Mundo de 2002.
– Eleito pela FIFA o 6º melhor jogador da Copa do Mundo de 2002.
– 11º lugar na premiação Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 2002 com 10 pontos.


(Imagem: Pinterest)