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… 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda

Três pontos sobre…
… 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda

“A Batalha de Nuremberg”


(Imagem: Jan Pitman / Bongarts / Getty Images)

● Se várias partidas entraram para a história por causa do futebol ofensivo e vistoso, não é o caso dessa. O confronto entre Portugal e Holanda nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006 é o que se pode chamar de duelo, peleja, luta, batalha… a “Batalha de Nuremberg”. Não deveria ter havido súmula, mas “boletim de ocorrência”, devido ao alto número de jogadas violentas, cartões amarelos e expulsões.

Assistimos de tudo: empurrões, cabeçadas, cotoveladas, toques de mão, trombadas, discussões, cera, carrinhos e nenhum fair play. Poderiam até tirar a logo do Mundial e colocar o da Taça Libertadores da América, pois pareceu a Libertadores raiz, das antigas, quando tudo era permitido.

Se o árbitro russo Valentin Ivanov tivesse sido um pouco mais rigoroso, essa partida poderia ter terminado por número insuficiente de jogadores de ambos os lados.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● A seleção portuguesa tinha sua melhor safra de craques desde 1966. Bem treinada pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, foi vice-campeã da Eurocopa de 2004 (passando justamente pela Holanda nas semifinais). Na primeira fase da Copa de 2006, pelo Grupo D, venceu suas três partidas: 1 a 0 sobre a ex-colônia Angola, 2 x 0 contra o Irã e 2 x 1 sobre o bom time do México.

A Holanda vinha renovada após ficar fora do Mundial de 2002. O técnico era o ex-craque Marco van Basten, que apostou na renovação e deixou de fora vários medalhões, como Clarence Seedorf, Edgar Davids, Frank de Boer, Patrick Kluivert e Roy Makaay. Pelo Grupo C da Copa, o “grupo da morte”, venceu Sérvia e Montenegro por 1 x 0 e Costa do Marfim por 2 x 1. Na partida que valia a liderança, empatou sem gols com a Argentina e ficou em segundo lugar da chave no critério de saldo de gols.

Tinha tudo para ser uma bela partida. As duas seleções possuem um histórico de futebol ofensivo e vistoso. Tinham em campo craques como Cristiano Ronaldo, Luís Figo e Deco de um lado, Arjen Robben, Wesley Sneijder e Robin van Persie do outro. Mas virou mesmo uma batalha campal.


Luiz Felipe Scolari escalou Portugal no sistema 4-2-3-1.


Marco van Basten armou seu time no tradicional 4-3-3 holandês.

● Logo no segundo minuto da partida, Mark van Bommel acertou Cristiano Ronaldo por trás e recebeu o primeiro de muitos cartões amarelos.

Mas o clima ficou tenso mesmo aos seis minutos de jogo, quando Khalid Boulahrouz mostrou seu cartão de visitas, deixando as travas de suas chuteiras na coxa de CR7. O holandês deveria ter sido expulso, mas o árbitro Valentin Ivanov foi muito conivente no lance e mostrou apenas amarelo. A partir daí, os ânimos continuaram exaltados até o apito final.

Felipão ficou ensandecido à beira do gramado e incitou seus jogadores a pagarem na mesma moeda – o que acabou se tornando um ciclo vicioso e um show de horrores.

Aos 19′, Maniche deu uma rasteira em Van Bommel e ganhou o primeiro amarelo dos lusos.

Após a solada de Boulahrouz, Cristiano precisou ser atendido três vezes fora do gramado e acabaria substituído por Simão Sabrosa aos 33′ do primeiro tempo. Os holandeses conseguiram tirar o jovem CR7 do jogo.

Aos 36′, Costinha acertou um violento carrinho em Phillip Cocu e também foi amarelado.

Seis minutos depois, Nuno Valente deu uma voadora em Arjen Robben em lance que deveria ter resultado em pênalti e expulsão, mas o juiz russo mandou seguir.

Costinha era um dos mais violentos em campo, mas sua expulsão veio nos acréscimos da etapa inicial após ele interceptar a bola com a mão e ganhar a segunda advertência.

Para recompor o time na cabeça de área, Scolari sacrificou Pauleta para a entrada de Petit.


(Imagem: The Daily Telegraph)

E o segundo tempo se tornou de vez um festival de deslealdade e agressões. Não tinha nenhum inocente em campo, claro.

Aos cinco minutos, Petit foi amarelado por derrubar Robin van Persie.

A partida seguiu nervosa e oito minutos depois, Figo se desentendeu com Van Bommel e acertou uma cabeçada no holandês. O juiz não viu e só deu o amarelo após ser alertado.

Nos bancos, os treinadores eram os extremos: enquanto o elegante Van Basten mantinha a postura calma e com as mãos no bolso, Scolari gritava, xingava e batia no banco.

Aos 14′ Giovanni van Bronckhorst acertou Deco e ganhou amarelo.

Três minutos depois, Figo avançou pela direita e, ao perceber que Boulahrouz colocou os braços para se desvencilhar dele, valorizou como se tivesse tomado uma cotovelada. O árbitro expulsou Boulahrouz com 53 minutos de atraso, mas esse não era um lance para isso.

Boulahrouz não se conformou, se desentendeu com Simão e tentou a todo custo levar alguém de Portugal com ele. A turma dos dois bancos de reservas entraram em campo e o jogo definitivamente ficou sem controle.

Aos 25′, o goleiro Ricardo foi ao chão e a Holanda não teve fair play. John Heitinga não jogou a bola para a lateral e puxava contra-ataque. Transtornado, Deco lhe deu uma tesoura que era para vermelho, mas o árbitro pipocou de novo e deu apenas amarelo. A confusão recomeçou. Wesley Sneijder empurrou Petit e ganhou amarelo, junto com Rafael van der Vaart.

Ricardo levou amarelo aos 31 min por reclamação. Logo depois, Nuno Valente ganhou o seu ao chutar Van Persie.


(Imagem: Imortais do Futebol)

Deco continuou pilhado. Aos 33′, ele se recusou a devolver a bola aos holandeses. Phillip Cocu queria jogo e empurrou o luso-brasileiro. O juiz deu a segunda advertência a Deco por fazer cena e o expulsou.

Aos 42′, Simão deixou o pé no rosto de Edwin van der Sar em uma dividida, mas o bananão do árbitro nada marcou.

Aos 50 do segundo tempo, Giovanni van Bronckhorst deu uma rasteira em Tiago e também ganhou o vermelho.

Aos sair, o holandês se sentou ao lado de Deco, seu companheiro de Barcelona (campeão da UEFA Champions League daquela temporada) e ficaram se bate papo como se nada tivesse acontecido.

A partida termina com nove homens em cada lado. Foi um dos jogos mais tensos da história das Copas.


(Imagem: Sportskeeda)

● O árbitro russo Valentin Ivanov foi o centro das atenções. No total, foram 16 cartões amarelos e quatro vermelhos (todos decorrentes de dupla advertência). O recorde em uma partida de Copa do Mundo.

Foi um número relativamente normal de faltas, 25 ao todo, sendo 10 cometidas pelos portugueses e 15 pelos holandeses. Mas a intensidade dessas faltas foi algo super anormal.

Após a partida, Joseph Blatter, então presidente da FIFA, afirmou que “o juiz mereceu um cartão amarelo por sua atuação e não esteve à altura da partida”.

Ao fim dessa partida, o técnico Luiz Felipe Scolari completou onze vitórias consecutivas em Copas do Mundo, sendo sete pela Seleção Brasileira em 2002 e quatro pela seleção das Quinas em 2006.

O treinador brasileiro teve méritos ao não deixar que Portugal se perdesse em campo nas duas vezes em que ficou com um jogador a menos (10 contra 11 e depois 9 contra 10). No total, a Holanda teve superioridade numérica por 33 minutos, mas o técnico Marco van Basten (genial dentro de campo e mediano na beira do gramado) não conseguiu fazer seu time traduzir isso em gols. O melhor que os holandeses conseguiram foi uma bola no travessão de Phillip Cocu, aos três minutos do segundo tempo.


(Imagem: FIFA)

Ah, já estava me esquecendo! Houve um gol! E que belo gol! Aos 23 minutos de jogo, Miguel cobrou lateral na direita para Deco, que deixou de primeira com Cristiano Ronaldo. Ele segurou a bola, se livrou de dois marcadores e devolveu para Deco na ponta direita. O luso-brasileiro cruzou rasteiro para a área. Pauleta fez o pivô para Maniche passar por André Ooijer e Mark van Bommel e chutar forte no canto direito de Edwin van der Sar.

Nas quartas de final, os portugueses enfrentaram a Inglaterra, eliminada por eles na Eurocopa de 2004. E os lusos venceram de novo nos pênaltis (3 x 1) após empate sem gols durante o tempo normal e a prorrogação. Na semifinal, vendeu caro a derrota para a França de Zinédine Zidane por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, perdeu para a anfitriã Alemanha por 3 x 1, terminando em uma honrosa quarta colocação.


(Imagem: Patrik Stollarz / AFP Photo)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 1 x 0 HOLANDA

 

Data: 25/06/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: Frankenstadion (atual Max-MorlockStadion)

Público: 41.000

Cidade: Nuremberg (Alemanha)

Árbitro: Valentin Ivanov (Rússia)

 

PORTUGAL (4-2-3-1):

HOLANDA (4-3-3):

1  Ricardo (G)

1  Edwin van der Sar (G)(C)

13 Miguel

3  Khalid Boulahrouz

5  Fernando Meira

13 André Ooijer

16 Ricardo Carvalho

4  Joris Mathijsen

14 Nuno Valente

5  Giovanni van Bronckhorst

6  Costinha

18 Mark van Bommel

18 Maniche

20 Wesley Sneijder

7  Luís Figo (C)

8  Phillip Cocu

20 Deco

17 Robin van Persie

17 Cristiano Ronaldo

7  Dirk Kuyt

9  Pauleta

11 Arjen Robben

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Marco van Basten

 

SUPLENTES:

 

 

12 Quim (G)

23 Maarten Stekelenburg (G)

22 Paulo Santos (G)

22 Henk Timmer (G)

2  Paulo Ferreira

12 Jan Kromkamp

3  Marco Caneira

14 John Heitinga

4  Ricardo Costa

2  Kew Jaliens

8  Petit

15 Tim de Cler

19 Tiago Mendes

16 Hedwiges Maduro

10 Hugo Viana

6  Denny Landzaat

11 Simão Sabrosa

10 Rafael van der Vaart

15 Luís Boa Morte

21 Ryan Babel

23 Hélder Postiga

19 Jan Vennegoor of Hesselink

21 Nuno Gomes

9  Ruud van Nistelrooy

 

GOL: 23′ Maniche (POR)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Mark van Bommel (HOL)

7′ Khalid Boulahrouz (HOL)

20′ Maniche (POR)

31′ Costinha (POR)

50′ Petit (POR)

59′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

60′ Luís Figo  (POR)

73′ Deco (POR)

73′ Wesley Sneijder (HOL)

74′ Rafael van der Vaart (HOL)

76′ Ricardo (POR)

76′ Nuno Valente (POR)

 

CARTÕES VERMELHOS:

45+1′ Costinha (POR)

63′ Khalid Boulahrouz (HOL)

78′ Deco (POR)

90+5′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

33′ Cristiano Ronaldo (POR) ↓

Simão Sabrosa (POR) ↑

 

INTERVALO Pauleta (POR) ↓

Petit (POR) ↑

 

56′ Joris Mathijsen (HOL) ↓

Rafael van der Vaart (HOL) ↑

 

67′ Mark van Bommel (HOL) ↓

John Heitinga (HOL) ↑

 

84′ Phillip Cocu (HOL) ↓

Jan Vennegoor of Hesselink (HOL) ↑

 

84′ Luís Figo (POR) ↓

Tiago Mendes (POR) ↑

(Imagem: CNN)

Todos os lances violentos com cartões:

Gol da partida:

… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… Holanda 3 x 0 Alemanha

Três pontos sobre…
… Holanda 3 x 0 Alemanha


(Imagem: Emmanuel Dunand / STF)

A Holanda goleou a (ex-?) poderosa Alemanha por 3 a 0, com gols de Virgil van Dijk (30′), Memphis Depay (86′) e Georginio Wijnaldum (90+3′).

Com esse resultado, a Alemanha é a lanterna de seu grupo na Liga das Nações da UEFA.

A última vitória da Oranje sobre a Nationalelf havia sido em 2002.

Melhores momentos da partida:

… 12/07/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda

Três pontos sobre…
… 12/07/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda


(Imagem: Zimbio)

● A decisão do 3º e 4º lugar é uma partida em que ninguém quer disputar. Embora faça parte do calendário, você tem que perder para jogá-la. Mas, já que tem que ser jogada, é importante reerguer a cabeça e vencê-la. E foi isso que os holandeses fizeram muito bem em 2014.

A Holanda chegou bastante contestada para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Tinha caído na primeira fase da Eurocopa de 2012 e o técnico Louis van Gaal assumiu a Oranje logo depois. Na parte final da preparação para o Mundial, o treinador passou a testar uma variação do sistema 5-3-2, quase um 5-4-1. Uma heresia, se comparado ao tradicional e enraizado 4-3-3 holandês. Mas, na prática, além de fortalecer o sistema defensivo, o esquema passou a distribuir melhor os jogadores dentro de campo, de forma que ocupassem o máximo de espaços possíveis.

Na Copa, deu certo. Estreou enfiando uma goleada acachapante por 5 x 1 de virada na Espanha, que havia lhe tirado o título na final quatro anos antes. Depois, teve trabalho para bater a Austrália por 3 x 2, mas venceu o Chile por 2 x 0 e garantiu o primeiro lugar do Grupo B. Nas oitavas de final, vitória controversa sobre o México por 2 x 1, com um gol de pênalti (inexistente) nos últimos minutos. Nas quartas de final, parou no paredão da Costa Rica e venceu nos pênaltis. Nas semifinais, após novo empate sem gols, perdeu nas penalidades para a Argentina.

Agora queria sair do torneio em alta, enfrentando a Seleção Brasileira, de terra arrasada quatro dias antes pela goleada histórica sofrida diante da Alemanha, o famoso “7 a 1”.


O Brasil atuou no sistema 4-2-3-1. O técnico Luiz Felipe Scolari fez várias alterações em relação à equipe que perdeu para a Alemanha. Thiago Silva voltou de suspensão no lugar de Dante; Maxwell ocupou a lateral esquerda ao invés de Marcelo; Paulinho jogou no lugar de Fernandinho, no meio; Ramires e Willian ocuparam as pontas, que antes tinham Bernard e Hulk; no ataque, Fred foi sacado para a entrada de Jô.


Wesley Sneijder se lesionou no aquecimento e Van Gaal foi obrigado a escalar Jordy Clasie. O sistema tático continuou o mesmo, o 5-3-2, com liberdade total a Robben e Van Persie.

● A Holanda começou o jogo com mais ímpeto. Logo no primeiro minuto, Van Persie ganha de Thiago Silva em disputa pelo alto e toca para a ultrapassagem em velocidade de Arjen Robben. Thiago Silva segura o holandês e impede o gol. Equivocadamente, o árbitro Djamel Haimoudi marcou pênalti. A falta foi fora da área e passível de expulsão, mas ele aplicou apenas o cartão amarelo. O juiz argelino errou duas vezes no mesmo lance.

Robin van Persie cobrou forte, no ângulo esquerdo do goleiro Júlio César, que até foi na bola, mas não conseguiu pegar. Cobrança perfeita do capitão holandês para abrir o placar.

O segundo gol holandês saiu aos 17′. Robben avança e abre na ponta direita com De Guzmán, que cruza alta de primeira. David Luiz afasta mal, para o meio da área. Daley Blind domina de pé esquerdo e finaliza da pé direito no alto. Júlio César, desesperado, saltou tentando fechar o ângulo, enquanto tinham três defensores dentro do gol. Esse lance reflete o mesmo desespero de quatro dias antes, no vexame diante dos alemães. O detalhe é que no nomento do passe de Robben, De Guzmán estava ligeiramente impedido, mas a arbitragem viu o lance como legal. Era um lance morto, mas David Luiz deu o gol ao holandês.

Oscar avançou pelo meio, passou por dois marcadores e chutou fraco e rasteiro, para uma defesa tranquila do goleiro Jasper Cillessen.

Oscar cobra falta do lado direito, mas David Luiz cabeceia mal.

Robben encontra De Guzmán na entrada da área, mas ele chuta por cima, sem perigo.

Oscar cobra nova falta da direita, mas a bola passa por todo mundo e sai pela linha de fundo. Talvez a melhor oportunidade brasileira no jogo. Faltou um mísero toque na bola, que passou por Luiz Gustavo, Paulinho e David Luiz, sem que ninguém tocasse.

Van Persie chuta de fora da área. A bola quica e Júlio César a agarra.


(Imagem: The Telegraph)

● No segundo tempo, Robben chuta da esquerda, mas é travado por Thiago Silva. A bola sobe e quase é aproveitada por Wijnaldum antes de sair.

Oscar deixa com Ramires na entrada da área, que abre e bate cruzado para fora.

David Luiz bateu falta de longe, mas Cillessen defendeu em dois tempos.

Nos acréscimos, Robben abre na direita com Janmaat, que cruza rasteiro de primeira para a pequena área. Wijnaldum completa no cantinho esquerdo do goleiro Júlio César. Virou goleada! 3 a 0!

E ainda quase deu tempo de sair o quarto! Robben é lançado na esquerda, passa por David Luiz e cruza, mas Fernandinho evita o gol com o bico da chuteira, tirando as chances de Van Persie e Janmaat.


(Imagem: The New York Times)

● No apito final, vaias incessantes dos 68.034 presentes no Estádio Nacional Mané Garrincha. O sonho de disputar uma Copa do Mundo em casa, acabou sendo um grande pesadelo para a Seleção Brasileira.

O terceiro lugar na Copa era mais do que esperavam os holandeses no início do torneio. Mas aquele time tinha potencial para mais. Talvez tivesse feito uma partida melhor do que fez a Argentina na final contra os alemães. Arjen Robben estava “voando” durante a competição e mereceu ter sido eleito o “Bola de Ouro da Copa”, mas a honraria ficou (injustamente) com Lionel Messi.

A entrada em campo do goleiro Michel Vorm, nos acréscimos, entrou para a história. Essa Holanda é a primeira a ter utilizado todos os 23 jogadores em uma Copa do Mundo. Antes de 2002, eram 22 atletas na delegação. A França de 1978 e a Grécia de 1994 já haviam usado seus 22 convocados. Mas colocar 23 jogadores diferentes em campo em uma Copa do Mundo é um novo recorde.


(Imagem: Zimbio)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 0 x 3 HOLANDA

 

Data: 12/07/2014

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nacional Mané Garrincha

Público: 68.034

Cidade: Brasília (Brasil)

Árbitro: Djamel Haimoudi (Argélia)

 

BRASIL (4-2-3-1):

HOLANDA (5-3-2):

12 Júlio César (G)

1  Jasper Cillessen (G)

23 Maicon

15 Dirk Kuyt

3  Thiago Silva (C)

2  Ron Vlaar

4  David Luiz

3  Stefan de Vrij

14 Maxwell

4  Bruno Martins Indi

17 Luiz Gustavo

5  Daley Blind

8  Paulinho

16 Jordy Clasie

16 Ramires

8  Jonathan de Guzmán

11 Oscar

20 Georginio Wijnaldum

19 Willian

11 Arjen Robben

21 Jô

9  Robin van Persie (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Louis van Gaal

 

SUPLENTES:

 

 

1  Jefferson (G)

23 Tim Krul (G)

22 Victor (G)

22 Michel Vorm (G)

2  Daniel Alves

12 Paul Verhaegh

15 Henrique

13 Joël Veltman

13 Dante

14 Terence Kongolo

6  Marcelo

7  Daryl Janmaat

5  Fernandinho

6  Nigel de Jong

18 Hernanes

18 Leroy Fer

7  Hulk

10 Wesley Sneijder

20 Bernard

17 Jeremain Lens

10 Neymar Jr

21 Memphis Depay

9  Fred

19 Klaas-Jan Huntelaar

 

GOLS:

3′ Robin van Persie (HOL) (pen)

17′ Daley Blind (HOL)

90+1′ Georginio Wijnaldum (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Thiago Silva (BRA)

9′ Arjen Robben (HOL)

36′ Jonathan de Guzmán (HOL)

54′ Fernandinho (BRA)

68′ Oscar (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Luiz Gustavo (BRA) ↓

Fernandinho (BRA) ↑

 

57′ Paulinho (BRA) ↓

Hernanes (BRA) ↑

 

73′ Ramires (BRA) ↓

Hulk (BRA) ↑

 

70′ Daley Blind (HOL) ↓

Daryl Janmaat (HOL) ↑

 

90′ Jordy Clasie (HOL) ↓

Joël Veltman (HOL) ↑

 

90+3′ Jasper Cillessen (HOL) ↓

Michel Vorm (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Três pontos sobre…
… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Deu Branco: o “gol cala-boca”


(Imagem: FIFA.com)

● Programar uma partida para as duas e meia da tarde no calor infernal de Dallas foi realmente um desrespeito da FIFA aos atletas. Por isso, nos dias que antecederam à partida, só se falavam em dois assuntos na concentração da Seleção Brasileira: o calor e o substituto de Leonardo, fora da Copa do Mundo por ter sido suspenso pela FIFA por quatro partidas por conta de uma cotovelada em Tab Ramos, na dura vitória por 1 x 0 nas oitavas de final sobre os Estados Unidos, donos da casa.

Com um elenco versátil, a comissão técnica tinha várias possibilidades para a lateral esquerda. Uma delas era trazer Mazinho do meio e devolver Raí ao time titular. Outra seria deslocar Cafu para a esquerda. Uma opção mais defensiva seria improvisar o zagueiro Ronaldão. Mas o técnico Parreira fez o mais sensato e óbvio: escalou Branco, especialista da posição. O camisa 6 estava completamente recuperado de uma lesão crônica nas costas, mas ainda sentia falta de ritmo de jogo. Mas quando o preparador físico Moraci Sant’anna atestou sua condição para atuar os 90 minutos, era claro que seria titular. Além disso, Branco ainda teria uma das missões mais inglórias da Copa: marcar o veloz ponta direita holandês Marc Overmars, um dos destaques da competição até então. Mas o capitão Dunga já sabia por antecipação o antídoto contra o ponteiro holandês: “Não vamos deixar que ele seja lançado em velocidade e o Branco tem a experiência para correr atrás dele usando os atalhos.”

A boa notícia que chegava à concentração brasileira em Los Gatos era o nascimento de Mattheus, terceiro filho de Bebeto. Sua mulher, Denise, deu à luz o bebê às 14h20 do dia 07 de julho na Clínica São Vicente no Rio de Janeiro. O nome do rebento, escolhido pelo pai, era uma clara homenagem ao craque alemão Lothar Matthäus. Hoje com 24 anos, Mattheus de Andrade Gama de Oliveira é meia atacante e disputou a última temporada pelo Vitória de Guimarães, emprestado pelo Sporting, depois de ter sido revelado pelo Flamengo.

A Holanda nem de longe lembrava seus melhores momentos. Jogadores com espírito vencedor, como Ronald Koeman, Jan Wouters e Frank Rijkaard já haviam passado pela suas melhores fases. Marco van Basten e Ruud Gullit não estavam no elenco. Van Basten, pela recorrente lesão nos tornozelos. Gullit, por desavenças com o técnico Dick Advocaat.

Mesmo assim, os holandeses terminaram no primeiro lugar do Grupo F da primeira fase. Estreou vencendo com dificuldades a Arábia Saudita por 2 a 1. Depois, perdeu o clássico para a rival Bélgica por 1 a 0. Na terceira rodada, nova vitória por 2 a 1, desta vez sobre Marrocos. Nas oitavas de final, passou pela forte defesa da Irlanda venceu por 2 a 0.

O Brasil foi líder do Grupo B com sete pontos: derrotou a Rússia por 2 a 0, engoliu Camarões por 3 a 0 e empatou com a Suécia por 1 a 1. Nas oitavas de final, uma vitória duríssima (1 x 0) contra os anfitriões Estados Unidos, justamente no dia 04 de julho, data da independência do país. Mas agora brasileiros e holandeses se enfrentariam nas quartas de final.


O Brasil atuava no 4-4-2. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “Enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


Pela Orange, o técnico Dick Advocaat optou por retornar ao 4-3-3, com: Ed de Goey; Aron Winter, Stan Valcks, Ronald Koeman e Rob Witschge; Jan Wouters, Frank Rijkaard e Wim Jonk; Marc Overmars, Dennis Bergkamp e Peter Van Vossen.

● Como já era marca registrada, o Brasil entrou em campo de mãos dadas no estádio Cotton Bowl, em Dallas. Naquele momento, a temperatura era surpreendentemente amena para os padrões do verão no Texas. Os brasileiros eram maioria dos 63.500 expectadores.

Curiosamente, tanto a Seleção Canarinho quanto a Laranja Mecânica atuaram com seus respectivos uniformes reservas por determinação da FIFA. A entidade observava o fato de que mais da metade dos televisores do planeta ainda tinham imagem em preto e branco. Assim, para dar maior contraste, o Brasil vestiu camisa azul com golas e punhos brancos, calção branco e meiões azuis. A Holanda usou camisa branca, calção laranja e meias brancas.

E a bola rolou. Foi só isso que ela fez naquele insosso primeiro tempo. Seria um jogo de paciência e os dois lados sabiam disso.

A Holanda começou o jogo com o ataque marcando a saída de bola brasileira. Apesar da pressão, o escrete brasileiro conseguia encontrar espaços e seu futebol começou a fluir como ainda não tinha sido visto no torneio.

Branco e Koeman eram artilharia pesada no que dizia respeito a cobranças de falta. Antes dos dez minutos de partida, Branco assustou De Goeij com um tiro que passou perto do ângulo e Koeman mandou um torpedo que nocauteou Jorginho na barreira.

Mas além de levar perigo nas bolas paradas, Ronald Koeman era muito mais que um zagueiro. Era o verdadeiro líbero, cumprindo muito bem a função de armar sua equipe vindo de trás, acionando diretamente o trio de ataque com seus lançamentos. Quando ele avançava e saía para o jogo, Wouters era o responsável por recuar para compor a defesa com Valckx. Na prática, em diversos momentos a Holanda se esquematizava em um 3-4-3, sistema que não funcionou bem na primeira fase.

Enquanto isso, Branco conseguir marcar bem o impetuoso Overmars, contando com a cobertura impecável de Márcio Santos e Mauro Silva. O volante do Deportivo La Coruña se multiplicava em campo, cobrindo os dois lados da defesa e ratificando sua qualidade como o maior ladrão de bolas da Seleção. Com Mauro Silva, Dunga e Mazinho, o meio campo brasileiro marcava muito. Por outro lado, Zinho novamente era burocrático.

A marcação holandesa era toda encaixada: Wouters em Bebeto, Valckx em Romário e Koeman na sobra. Winter cercava Zinho e Witschge vigiava Mazinho; Rijkaard e Jonk colavam em Dunga e Mauro Silva. Até os pontas Overmars e Van Vossen acompanhavam as subidas dos laterais Branco e Jorginho. Com isso, eventuais avanços de Mauro Silva ou de um dos zagueiros brasileiros sempre pegavam a defesa holandesa desprevenida.

O zagueiro Stan Valckx foi o melhor amigo que Romário fez no período em que jogou no PSV, a ponto de o holandês vir visitar o Rio de Janeiro a convite do Baixinho. Agora no Barcelona, Romário dividia o vestiário com Ronald Koeman. Mas o brasileiro não tinha papas na língua e deixava claro seus pensamentos: “Dentro de campo não tenho amigos”.

Mas em um primeiro tempo em que a Holanda teve 52% de posse de bola, as melhores chances foram brasileiras. Na melhor delas, Romário, Zinho e Aldair tabelaram na entrada da área rival, mas o zagueiro chutou muito mal à esquerda do gol de De Goeij. Se alguém tivesse que estar vencendo, seriam os sul-americanos.


(Imagem: Getty Images)

● O segundo tempo seria alucinante e dramático. Começou com o Brasil sendo mais incisivo no ataque, buscando abrir o placar. Zinho acordou nos primeiros minutos, participou de uma jogada de contra-ataque e quase fez o gol.

Logo em seguida, aos oito minutos, Frank Rijkaard começou o contragolpe holandês e fez o passe longo. Aldair se antecipou e interceptou. Com a bola dominada, o camisa 13 fez um lançamento perfeito para Bebeto em velocidade na ponta esquerda. Ele dominou e cruzou para o meio da área, onde onde Romário chegava em disparada. O cruzamento foi um pouco mais alto do que o ideal, mas o Baixinho era o mestre das finalizações. De sem pulo, com os dois pés no alto, como se fosse um bailarino, ele finalizou de primeira e inaugurou o marcador. Era o quarto gol de Romário na Copa.

A vantagem fez a Seleção Brasileira recuar naturalmente, para tentar explorar os avanços do aversário, que atacava e abusava da tática do impedimento, com sua defesa muito alta.

Lesionado, Van Vossen deu lugar a Bryan Roy. Mas nada inibia Jorginho, que criava boas oportunidades. Em uma delas, ele tabelou com Mazinho e deu um passe vertical pela direita para Bebeto. Dentro da área, o camisa 7 chuta cruzado e a bola chega a tocar de leve na trave.

Mas aos 18 minutos, o goleiro De Goeij repôs a bola em jogo com um chutão, Branco escorou de cabeça e devolveu a bola para a intermediária ofensiva. Percebendo que estava em impedimento, Romário abandonou a jogada e passou a andar calmamente rumo ao seu próprio campo, no claro objetivo de mostrar que não participava do lance. O assistente Yousif Abdulla Al Ghattan, do Bahrein, percebeu o impedimento passivo do camisa 11 e não levantou a bandeira. A defesa holandesa se distraiu e Bebeto veio de trás, em posição legal, acelerando em direção à bola. O zagueiro Valckx se atira tentando parar o brasileiro a qualquer custo, mas Bebeto saiu livre, driblou De Goeij e tocou para o fundo do gol.

Os holandeses choram o gol impedido até hoje e afirmam que Romário participou da jogada, prendendo a atenção da defesa.

Na comemoração, Bebeto correu à linha lateral, posicionou os braços como quem carrega uma criança e passou a embalá-los para os lados. Romário e Mazinho o acompanharam na coreografia. Bebeto, assim, homenageava o filho recém-nascodo Mattheus. Estava criada a comemoração “nana-neném”, até hoje copiada mundo afora.

A Seleção Brasileira, enfim, começou a jogar um futebol rápido e envolvente e, pela primeira vez nessa Copa, empolgou sua torcida. Bebeto e Romário, a “Dupla BR”, colocava o Brasil em boa vantagem.

A torcida holandesa, também em bom número no Cotton Bowl, já estava desanimando, mas a resposta tardou apenas um minuto. O Brasil já comemorava, mas ninguém contava com a genialidade e esperteza de Dennis Bergkamp. Witschge cobrou o lateral e Aldair deixou Bargkamp entrar na área com a bola. O craque holandês ganhou a dividida com Márcio Santos e, na pequena área, deu um toque de bico sutil, tirando o alcance de Taffarel. Uma enorme falta de atenção do sistema defensivo brasileiro.

A Holanda se animou depois do primeiro gol. Faltava muito tempo ainda para se jogar. Para dar mais criatividade ao seu meio campo, o técnico Dick Advocaat tirou o apagado Rijkaard e colocou Ronald de Boer como centroavante, recuando Bergkamp. Essa mudança acuou o Brasil e a Holanda passou a mandar mais ainda no jogo.

Winter chutou rasteiro, mas Taffarel espalmou para o lado. A pressão holandesa era terrível.

Na cobrança de escanteio, Overmars levantou para a área e o próprio Winter se antecipou à defesa, desviando de cabeça para o gol. Estava tudo igual no placar. A Holanda retomava o sonho de ser semifinalista pela primeira vez desde 1978, quando foi vice-campeã. Mesmo sentindo falta de Gullit e Van Basten, aquele time tinha suas qualidades.

“Foram duas falhas incríveis da defesa. Todo mundo falhou, inclusive o Taffarel. Tomamos um gol que começou um lateral, uma coisa inacreditável para a categoria e a consistência daquele time. Aí conseguimos marcar o terceiro naquela falta cobrada pelo Branco, recuperamos o domínio do jogo e fomos em frente.” — Carlos Alberto Parreira

“Aquela seleção só tomou três gols. E dois naquele jogo. Ali, por algums minutos, ficou a sensação de que todo esse esforço, todo o sacrifício daquele grupo seria em vão.” — Mauro Silva

O empate fez a Seleção voltar a jogar.

O jogo fica dramático e Branco se agiganta. A dez minutos do fim, ele partiu para o campo de ataque acossado por Overmars e lhe deu um safanão no rosto, mas o juiz mandou o jogo seguir. O lateral brasileiro avançou pelo meio e foi “ensanduichado” por Jonk e Winter e, depois de caído, foi chutado sem bola por Koeman. Houve um princípio de confusão, com os holandeses reclamando do tapa recebido por Overmars e os brasileiros se queixando da agressão de Koeman.

Branco ajeitou a bola com carinho e cobrou com muito efeito. A curva colocada foi incrível, saindo da barreira. Atento, Romário se contorceu para desviar da bola, que passou raspando em suas costas. Provavelmente a presença de Romário interferiu na visão de De Goeij, mas é fato que o goleiro holandês poderia ter chegado melhor à bola. Ela chegou a tocar no pé da trave antes de entrar. Os holandeses até hoje lamentam a falha do goleiro De Goeij no chute de Branco.

Branco, às lágrimas, correu em direção ao banco de reservas e apontou para o Dr. Lídio Toledo, médico responsável por bancar sua permanência entre os convocados, e o massagista Nocaute Jack, que o acompanhou durante toda sua recuperação.

Com certeza aquele foi o gol mais importante da carreira de Branco, que o fez protagonista da melhor partida da Copa do Mundo.

Logo na saída, Raí entrou no lugar de Mazinho, dando fôlego novo ao meio campo.

Mais perto do fim, Parreira trocou o exausto Branco por Cafu.

Até o fim, o Brasil catimbou muito e deixou o tempo correr. Mauro Silva valorizou bastante uma falta recebida de Bergkamp e chegou a ficar quase três minutos no campo até sair para receber atendimento. Branco, antes de deixar o campo, quis cumprimentar todos jogadores que via pela frente.

O árbitro costarriquenho Rodrigo Badilla foi firme e deu cinco minutos de acréscimo.

A Seleção Brasileira suportou a pressão holandesa até os 50 minutos e depois comemorou a classificação às semifinais.


(Imagem: Pinterest)

● Pela primeira vez desde 1978, o Brasil estava entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo de futebol.

Zagallo deu seu depoimento mais marcante naquele Mundial: “Só faltam dois! Só faltam dois! Só faltam dois jogos! E nós vamos ser tetra!”

Ainda no gramado, o herói Branco foi à forra: “Mas e aí? Cadê o tal ponta da Holanda? Fiz o gol cala-boca! Foi o mais importante da minha carreira e serviu para calar a boca de quem achava que eu estava acabado. Mostrei a todos que vale a pena acreditar, mesmo nos momentos mais difíceis”.

O sempre crítico Romário dessa vez estava confiante: “Quem não gosta de espetáculo? Acredito que começamos a mostrar nesta grande vitória sobre a Holanda o futebol-arte. Enfim, mostramos um futebol digno de campeão do mundo”.

A comemoração “nana-neném”, feita por Bebeto (ao marcar um gol contra Camarões em homenagem a Lucas – filho de Leonardo, que nasceu dia 21/06 – e depois contra a Holanda, em homenagem ao próprio filho) ficou famosa, mas não foi uma invenção sua. Em 1971, Rivellino fez a mesma comemoração no jogo Corinthians 1 x 1 Santos, pela ocasião do nascimento de sua filha Roberta.

Na semifinal, novamente a Suécia fez uma partida imensa, mas a Seleção Brasileira venceu por 1 a 0, com um gol de cabeça do baixinho Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentaria justamente a Itália, assim como em 1970.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 2 HOLANDA

 

Data: 09/07/1994

Horário: 14h30 locais

Estádio: Cotton Bowl

Público: 63.500

Cidade: Dallas (Estados Unidos)

Árbitro: Rodrigo Badilla (Costa Rica)

 

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-3-3):

1  Taffarel (G)

1  Ed de Goeij (G)

2  Jorginho

20 Aron Winter

13 Aldair

18 Stan Valckx

15 Márcio Santos

4  Ronald Koeman (C)

6  Branco

5  Rob Witschge

5  Mauro Silva

6  Jan Wouters

8  Dunga (C)

3  Frank Rijkaard

17 Mazinho

8  Wim Jonk

9  Zinho

7  Marc Overmars

7  Bebeto

10 Dennis Bergkamp

11 Romário

19 Peter van Vossen

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Dick Advocaat

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

13 Edwin van der Sar (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

22 Theo Snelders (G)

14 Cafu

15 Danny Blind

3  Ricardo Rocha

14 Ulrich van Gobbel

4  Ronaldão

21 John de Wolf

16 Leonardo

16 Arthur Numan

10 Raí

2  Frank de Boer

18 Paulo Sérgio

9  Ronald de Boer

19 Müller

17 Gaston Taument

21 Viola

11 Bryan Roy

20 Ronaldo

12 John Bosman

 

GOLS:

53′ Romário (BRA)

63′ Bebeto (BRA)

64′ Dennis Bergkamp (HOL)

76′ Aron Winter (HOL)

81′ Branco (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

40′ Aron Winter (HOL)

74′ Dunga (BRA)

89′ Jan Wouters (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Peter van Vossen (HOL) ↓

Bryan Roy (HOL) ↑

 

65′ Frank Rijkaard (HOL) ↓

Ronald de Boer (HOL) ↑

 

81′ Mazinho (BRA) ↓

Raí (BRA) ↑

 

90′ Branco (BRA) ↓

Cafu (BRA) ↑

Gols da partida:

Reportagem da TV Globo sobre o jogo:

… 13/06/2014 – Holanda 5 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 13/06/2014 – Holanda 5 x 1 Espanha


Arjen Robben liderou a Oranje até as semifinais. Discutivelmente, foi o melhor jogador da Copa de 2014 (Imagem: UOL)

● Quis o destino que a terceira partida da Copa do Mundo de 2014 fosse a reedição da final de 2010. Era o jogo mais esperado da primeira fase. Espanha e Holanda não haviam se enfrentado desde então. Mas as situações das duas seleções estavam muito diferentes de quatro anos antes.

Após o título de 2010, a Espanha entrou para o grupo das grandes seleções do planeta, conquistando o respeito que tanto buscou ao longo das décadas. E continuou dominando o continente ao vencer a Eurocopa de 2012 (goleando a Itália na final por 4 x 0). Aliás, o futebol nunca tinha visto antes uma supremacia tão grande, com a Roja vencendo a Euro 2008, o Mundial de 2010 e a Euro 2012. Desde a Copa de 2010, a Espanha havia jogado 52 vezes, com 38 vitórias, 8 empates e 6 derrotas.

O técnico Vicente Del Bosque se manteve agarrado aos seus medalhões e seguiu leal àqueles que levaram a Fúria às glórias, mesmo com a evidente queda de nível. O estilo de jogo manjado permanecia, mas sem a mesma objetividade de antes. Ainda assim, era difícil de ser batido. Mesmo com uma geração envelhecida, era novamente uma das favoritas para continuar com a taça de campeã do mundo. A equipe jogava por música, com o tiki-taka regido pelos maestros Xavi e Iniesta.

Era um time experiente. Contava com seu capitão Iker Casillas, que havia conquistado a UEFA Champions League pelo Real Madrid vinte dias antes, assim como Sergio Ramos e Xabi Alonso. O time base ainda era o Barcelona, de Xavi, Andrés Iniesta, Gerard Piqué, Sergio Busquets, Jordi Alba e Pedro. O Atlético de Madrid também estava em alta, cedendo Juanfran, Koke, David Villa e Diego Costa.

Eram poucas as diferenças entre os titulares 2010 e 2014. Sérgio Ramos passou para a zaga, no lugar do lesionado Carles Puyol, abrindo vaga para César Azpilicueta na lateral direita. Jordi Alba ocupou a lateral esquerda, no lugar do veterano Joan Capdevila. No ataque, David Villa perdeu a vaga para Diego Costa.

Mas Del Bosque mudou completamente as características do time titular ao inserir Diego Costa no ataque. O brasileiro estava em excelente fase e é um jogador de muita qualidade, mas com virtudes diferentes do restante da equipe. Era (e ainda é) um atacante de força para concluir as jogadas criadas pelo meio campo altamente técnico. Ou daria muito certo, ou daria tudo errado.


A Espanha ainda era considerada a melhor seleção do mundo. Era a favorita destacada, juntamente com o Brasil, dono da casa (Imagem: UOL)

● Por sua vez, a seleção holandesa não vivia uma fase tão boa e raramente era citada no noticiário internacional. Desde a final de 2010, disputou 46 partidas, vencendo 27, empatando 11 e perdendo 8.

O técnico Bert van Marwijk tinha sido demitido após a equipe cair na primeira fase, perder os três jogos e ficar em penúltimo lugar na Euro 2012 (a frente apenas da Irlanda no saldo de gols). Louis van Gaal foi chamado para liderar a Oranje nas eliminatórias para a Copa de 2014, o que conseguiu com sucesso. Sua missão era renovar o elenco e fazer a Laranja voltar a praticar um futebol vistoso.

A renovação foi feita. Eram apenas quatro remanescentes de 2010: Nigel de Jong, Wesley Sneijder, Arjen Robben e Robin van Persie – que era o capitão e, nesse ciclo, se tornou o maior goleador da história de sua seleção.

A linha de frente consagrada seguia a mesma, mas continuava faltando talento nas demais posições. A Oranje estava sob desconfiança. Para atrapalhar ainda mais, dois jogadores importantes no meio campo foram cortados por lesão: Kevin Strootman e o experiente Rafael Van der Vaart.

Na parte final da preparação para a competição, Van Gaal passou a testar uma variação do sistema 5-3-2, quase um 5-4-1. Uma heresia, se comparado ao tradicional e enraizado 4-3-3 holandês. Mas, na prática, além de fortalecer o sistema defensivo, o esquema passou a distribuir melhor os jogadores dentro de campo, de forma que ocupassem o máximo de espaços possíveis.


A Espanha entrou em campo com seu 4-3-3 tradicional, com Iniesta e David Silva nas pontas e Diego Costa se movimentando muito para tentar fazer o pivô.


Van Gaal escalou a Holanda em um inóspito 5-3-2, que havia sido ensaiado desde a lesão de Strootman. Com isso, deu liberdade total a Robben e Van Persie.

● Assim, “Espanha x Holanda” se tornou o primeiro de vários grandes jogos que veríamos na Arena Fonte Nova, em Salvador, pela Copa do Mundo de 2014.

A Espanha entrou em campo pensando em uma vitória protocolar. A Holanda entrou com sangue nos olhos.

No primeiro tempo, a Espanha manteve seu estilo de jogo. O toque de bola envolvente era o mesmo, mas faltava a aproximação do gol adversário. Com a bola nos pés, a Holanda parecia realmente não ser uma adversária à altura. Mas marcava forte, tentando encurtar os espaços no meio e fechando as laterais.

De ambos os lados, as chances apareciam em chutes da intermediária e em bolas cruzadas na área, sem causar maiores ameaças. Mas, no sétimo minuto, a Holanda assustou. Robben deu um passe perfeito, mas Sneijder finalizou em cima de Casillas.

Aos 27 minutos, o eterno maestro Xavi fez um lançamento da intermediária para Diego Costa. O brasileiro dominou dentro da área e deixou o pé para ser tocado pelo carrinho de De Vrij. Costa foi um belo ator e o árbitro italiano Nicola Rizzoli assinalou o pênalti. Na cobrança, Xabi Alonso bateu no canto. Cillessen acertou o lado, mas não conseguiu alcançar a bola. Era o início perfeito para que a hegemonia espanhola se perpetuasse.


Diego Costa cai na área e o árbitro marca pênalti inexistente (Imagem: AP Photo / Wong Maye-E / UOL)

O jogo seguiu e a Holanda não encontrava brechas para tentar o empate. Pelo contrário, corria chances de levar mais. Aos 43′, a Espanha teve uma grande chance para ampliar. O sempre genial Iniesta deu um passe primoroso para David Silva ficar cara do gol, mas ele tentou encobrir Cillessen e o goleiro salvou com a ponta dos dedos.

Como diz um velho ditado: “Quem não faz, leva”. E a Espanha levaria.

No minuto seguinte, Blind recebeu pela esquerda, viu Casillas adiantado e Van Persie se projetando para a área no costado da zaga. O camisa 5 fez um lançamento justo e perfeito para o centroavante, que voou ao encontro da bola, mergulhando em pleno relvado da Arena Fonte Nova, deixando pasmos os 48.173 expectadores. A bola encobriu o goleiro espanhol e morreu no fundo das redes. Uma verdadeira obra de arte.

Um dos gols mais bonitos de todos os Mundiais, que derrubou a invencibilidade de 476 minutos de Casillas sem tomar gols em Copas do Mundo. O último gol que o capitão espanhol havia sofrido tinha sido contra o Chile (2 x 1) ainda na primeira fase da Copa de 2010. Se ele tivesse se mantido sem sofrer gols, bateria o recorde histórico do italiano Walter Zenga, que ficou 517 minutos invicto em 1990.


Robin van Persie e seu lindo mergulho para empatar a partida (Imagem: Giffer.com)

● Esse golaço deu um novo ânimo à Oranje. A Espanha mostrou não ser imbatível. Mas poucos esperavam o que se seguiria depois do intervalo. A Holanda cresceu, se postando mais firme na defesa, pressionando a saída de bola, trocando passes com precisão e aproveitando a velocidade do ataque.

Aos oito minutos, a redenção do craque. Sneijder dominou no meio do campo e abriu para Blind na esquerda. Um novo lançamento perfeito, dessa vez para Arjen Robben. Dentro da área, mesmo cercado, ele faz uma das suas jogadas características. Dominou com a perna esquerda cortando para o meio, passou com facilidade por Piqué e chutou forte para virar o placar e exorcizar o fantasma que lhe assombrou desde o gol feito que errou na final do Mundial quatro anos antes.

A Espanha sentiu o golpe. E a Holanda ainda estava sedenta por gols e vingança. Não bastava vencer. Nessa partida, a Holanda pareceu recordar levemente a “Laranja Mecânica”, aquela de 40 anos antes, que esmagava seus adversários sem dar qualquer chance.

Aos 15′, um contra-ataque de manual iniciado por Janmaat, que passou para Sneijder e partiu para o ataque. Sneijder deixou com Robben, que avançou em velocidade e devolveu para Janmaat, na entrada da área. O lateral ajeitou bonito e Van Persie chutou forte de perna direita. A bomba acertou o travessão e foi para fora.

Aos 19′, Sneijder cobrou falta da ponta esquerda, cruzando para a área. Casillas saiu mal do gol, se chocando com Van Persie e pedindo, em vão, a falta que não existiu. No segundo pau, De Vrij aproveitou a sobra e cabeceou para anotar o terceiro gol.

Pensando em um novo gás no ataque e em tentar voltar para o jogo, Del Bosque colocou Pedro e Fernando Torres no ataque. Mas o que já era uma dolorida derrota, ficaria ainda pior. Os ibéricos tentaram sair com tudo para o ataque e ofereceram o contra-golpe aos holandeses – seu maior ponto forte. Com um espaço enorme entre o meio campo e a defesa adversária, Robben e Van Persie deitaram e rolaram.


Arjen Robben deixa Casillas no chão antes de marcar o último gol do jogo (Imagem: Folha / UOL)

No minuto 27, Janmaat cobrou um arremesso lateral, Sérgio Ramos recuperou a bola e a recuou para Casillas. O goleiro dominou errado e perdeu a dividida com Van Persie. O capitão holandês só empurrou para o gol vazio, marcando o quarto.

Enquanto a Espanha torcia pelo final da partida, a Holanda queria ainda mais. E ainda faltavam longos 18 minutos. Três gols atrás, a Fúria atacava desordenadamente e deixava espaços na marcação.

Aos 35, Arjen Robben (sempre ele) bateria o último dos cinco pregos no caixão do campeão do mundo. Após um roubo de bola no meio campo, Sneijder fez um lançamento em profundidade para Robben. O camisa 11 ganhou em velocidade de Sergio Ramos, dominou já deixando Casillas no chão, cortou de volta para o meio e bateu de esquerda. Nessa arrancada, Robben bateu o recorde de velocidade de um jogador em Copas do Mundo, com 37 km/h. A marca anterior era de Theo Walcott, com 35,7 km/h. Mas não bastava apenas marcar o gol. Antes, era preciso humilhar Casillas, com uma sequência de dribles em cima do capitão espanhol, que ficou estatelado no chão. Era a vingança pessoal de Robben contra o mesmo Casillas que lhe negou o gol do título quatro anos antes.

Mas o placar só não foi mais amplo, porque no final da partida, os holandeses preferiram lances de efeito ao invés de qualquer nova tentativa de gol. Ainda assim, Casillas fez duas ótimas defesas impedindo um vexame ainda maior.


O consagrado Iker Casillas dessa vez não se deu muito bem contra a Espanha (Imagem: UOL)

● A Bahia é a terra da alegria, que dessa vez foi holandesa. Aos espanhóis, apenas a perplexidade de não saber nem o que estava acontecendo. Foi emblemático o momento em que Del Bosque passou a mão sobre a cabeça de todos os seus reservas, incrédulos, com lágrimas nos olhos.

A vitória esmagadora sobre a campeã do mundo fez a seleção holandesa recuperar a confiança. A equipe que era cotada para sofrer um vexame, dava ela própria uma surra em um grande rival. Difícil falar em vingança de 2010, já que não valeu o título mundial. Mas valeu a desforra.

A humilhação estava completa. Em toda a história, essa foi a maior derrota sofrida por uma seleção que ostentava o título de campeã mundial. E a derrota por 5 a 1 ficou até barata. Poderiam ter sido pelo menos 7 a 1 – placar que viríamos mais tarde entre duas outras favoritas.

A Espanha perdeu toda sua motivação e a aura de invencível. Na sequência, foi derrotada pelo bravo Chile por 2 a 0. Já eliminada, venceu a Austrália por 3 x 0. Voltar para casa mais cedo não estava nos planos dos espanhóis, mas serviu para trazê-los de volta à realidade.

O bom resultado embalou a Oranje na competição. Teve trabalho para bater a Austrália por 3 x 2, mas venceu o Chile por 2 x 0 e garantiu o primeiro lugar do Grupo B. Nas oitavas de final, vitória controversa sobre o México por 2 x 1, com um gol de pênalti (inexistente) nos últimos minutos. Nas quartas de final, parou no paredão da Costa Rica e venceu nos pênaltis. Nas semifinais, após novo empate sem gols, perdeu nas penalidades para a Argentina. Mas saiu do torneio em alta, após terminar em 3º lugar, ao derrotar o anfitrião Brasil por 3 x 0. Era mais do que esperavam no início do Mundial, mas menos do que seu potencial demonstrou na competição.


Louis van Gaal conseguiu “espremer a laranja” e tirou o melhor de sua equipe na partida (Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ESPANHA

 

Data: 13/06/2014

Horário: 16h00 locais

Estádio: Arena Fonte Nova

Público: 48.173

Cidade: Salvador (Brasil)

Árbitro: Nicola Rizzoli (Itália)

 

HOLANDA (5-3-2):

ESPANHA (4-2-3-1):

1  Jasper Cillessen (G)

1  Iker Casillas (G)(C)

7  Daryl Janmaat

22 César Azpilicueta

2  Ron Vlaar

3  Gerard Piqué

3  Stefan de Vrij

15 Sergio Ramos

4  Bruno Martins Indi

18 Jordi Alba

5  Daley Blind

16 Sergio Busquets

6  Nigel de Jong

14 Xabi Alonso

8  Jonathan de Guzmán

8  Xavi

10 Wesley Sneijder

6  Andrés Iniesta

11 Arjen Robben

21 David Silva

9  Robin van Persie (C)

19 Diego Costa

 

Técnico: Louis van Gaal

Técnico: Vicente del Bosque

 

SUPLENTES:

 

 

23 Tim Krul (G)

12 David de Gea (G)

22 Michel Vorm (G)

23 Pepe Reina (G)

12 Paul Verhaegh

2  Raúl Albiol

13 Joël Veltman

5  Juanfran

14 Terence Kongolo

4  Javi Martínez

16 Jordy Clasie

17 Koke

18 Leroy Fer

10 Cesc Fàbregas

20 Georginio Wijnaldum

20 Santi Cazorla

17 Jeremain Lens

13 Juan Mata

15 Dirk Kuyt

11 Pedro

21 Memphis Depay

7  David Villa

19 Klaas-Jan Huntelaar

9  Fernando Torres

 

GOLS:

27′ Xabi Alonso (ESP) (pen)

44′ Robin van Persie (HOL)

53′ Arjen Robben (HOL)

64′ Stefan de Vrij (HOL)

72′ Robin van Persie (HOL)

80′ Arjen Robben (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Jonathan de Guzmán (HOL)

41′ Stefan de Vrij (HOL)

65′ Iker Casillas (ESP)

66′ Robin van Persie (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

62′ Diego Costa (ESP) ↓

Fernando Torres (ESP) ↑

 

62′ Xabi Alonso (ESP) ↓

Pedro (ESP) ↑

 

62′ Jonathan de Guzmán (HOL) ↓

Georginio Wijnaldum (HOL) ↑

 

77′ Stefan de Vrij (HOL) ↓

Joël Veltman (HOL) ↑

 

78′ David Silva (ESP) ↓

Cesc Fàbregas (ESP) ↑

 

79′ Robin van Persie (HOL) ↓

Jeremain Lens (HOL) ↑


As manchetes dos principais jornais espanhóis foram tão cruéis quanto a goleada sofrida (Imagem: El Universo)

Gols da partida:

… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

● A Argentina era um país em seu período mais crítico da ditadura militar, sob o comando do general Jorge Rafael Videla. Era um país sem confiança e baixa autoestima. Ainda bem que existe o futebol, para dar alguma alegria ao povo.

Sem o gênio Johan Cruijff (que não viajou para a Copa de 78), a Holanda fez uma primeira fase bastante irregular. Estreou bem, vencendo o Irã por 3 a 0, mas na sequência empatou com o Peru por 0 a 0 e perdeu por 3 a 2 para a Escócia. Na fase seguinte mostrou sua força ao golear a Áustria por 5 a 1, empatar com a Alemanha por 2 a 2 e vencer a Itália por 2 a 1.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1) e perdendo para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, se classificando para a final.

A polêmica em torno da goleada de 6 x 0 sobre o Peru continuou sendo o assunto principal até o dia da final. Os jogadores argentinos passaram três dias explicando, como se fosse necessária alguma explicação por ter vencido. O goleiro Fillol resumiu bem: “O Brasil fez 3 a 0 no Peru e teve chances de fazer mais; acontece que nós aproveitamos todas as chances”.

Mas essa controvérsia foi útil para o Ente Autárquico Mundial (EAM, uma entidade criada pela ditadura argentina para organizar a Copa do Mundo de 1978). Com o foco das atenções voltado para o jogo anterior, a entidade agiu na surdina e “escolheu” o árbitro da final. Foi vetado o israelense Abraham Klein (que apitou a única derrota argentina no torneio, 1 a 0 contra a Itália) e indicou o italiano Sergio Gonella, mais suscetível a pressões.

A polêmica começou antes mesmo do jogo começar. Os argentinos fizeram de tudo para catimbar a partida, entrando em campo com dez minutos de atraso. Depois, o capitão Daniel Passarella reclamou com o juiz sobre o gesso que René van de Kerkhof usava no braço. O árbitro ordenou que o holandês molhasse o braço para que o gesso ficasse mais mole. Já se foram mais cinco minutos passados.

Antes do apito inicial, a torcida argentina já tinha transformado o estádio Monumental de Núñez em um caldeirão, com uma chuva infindável de papel picado.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A Holanda também no 4-3-3, mas com Krol como líbero, com liberdade para avançar e inicar as jogadas.

● Com a bola rolando, a Argentina estava acuada, como se tivesse com medo tanto de perder quanto de vencer. A Holanda dominou o jogo, sendo a responsável pelas jogadas mais agudas. Gonella amarrou o jogo no meio campo, invertendo faltas e punindo apenas a Holanda. Só durante os primeiros 90 minutos, foram mais de 50 faltas apitadas contra os holandeses. Sem contar em duas vezes que o ataque dos europeus foi parado diante do gol por impedimentos bastante duvidosos.

Mesmo assim, a “Laranja” (que não era mais a “Mecânica, mas ainda assim era ótima) criava as jogadas mais perigosas. Na melhor delas, Johnny Rep chutou da marca do pênalti, à queima roupa, mas Fillol defendeu bem, mandando para escanteio.

Os argentinos eram só catimba e provocação, mas aos poucos foram se acalmando e cresceram na partida.

Aos 38 minutos da etapa inicial, o placar foi aberto. O centroavante Luque recebeu de Ardiles e tocou para Kempes, na entrada da área. Ele dominou, passou rapidamente entre Krol e Haan e, mesmo caindo, chutou por baixo, na saída do veterano goleiro Jongbloed.

Na etapa final, a Holanda era melhor. Foi premiada com o empate aos 37 minutos, quando Arie Haan lançou René van de Kerkhof pela direita e o camisa 10 cruzou para a área de primeira. Dick Nanninga apareceu nas costas de Galván e Olguín e cabeceou firme, a direita de Fillol.

Nos últimos segundos do tempo normal, a Holanda perdeu a chance de se sagrar campeã mundial. Ruud Krol levantou a bola para a área, Neeskens ganhou pelo alto de Passarella e Rensenbrink, cara a cara com Fillol, chutou na trave e a bola voltou para dentro de campo.

Pela terceira vez o título da Copa do Mundo seria decidido na prorrogação. A Holanda continuou buscando mais o jogo. Mas foi ali que o misto de raça e qualidade da Argentina se sobressaiu.

No último minuto do primeiro tempo, Mario Kempes dominou a bola na intermediária, deu uma arrancada de 20 metros, escapou dos carrinhos e Haan e Krol ao entrar na área, dividiu com o goleiro no chão e teve sorte, pois a bola sobrou livre para ele concluir a gol antes da chegada de Suurbier e Poortvliet. Kempes contou com a sorte nas divididas, mas foi um lindo gol, digno de um camisa 10 argentino.

Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Kempes arrancou de novo e tabelou com Bertoni. A bola bateu no braço de Kempes, mas Bertoni chuta cruzado antes da chegada de Jongbloed, marcando o gol do título. Os holandeses reclamaram toque de mão, mas o árbitro italiano validou o gol.

Mesmo com suspeita de favorecimentos nessa e em outras partidas, os albicelestes tinham seus méritos e foram campeões. Festa da torcida em casa, que via a Argentina conquistar uma Copa do Mundo após 48 anos de sonhos frustrados.


O craque Mario Kempes comemora o segundo gol argentino (Imagem: Getty Images)

● A Holanda conquistou um feito inglório: foi a primeira seleção com dois vice-campeonatos mundiais consecutivos. (Seria vice novamente em 2010, como veremos no dia 11/07.)

Ao fim da partida, o holandês Johnny Rep foi ácido em sua declaração: “Não sentimos falta de Cruijff. E o senhor Rensenbrink comportou-se como uma galinha medrosa. Nenhum time é campeão do mundo com covardes”.

Já o técnico campeão César Luis Menotti alfinetou o brasileiro Cláudio Coutinho: “Eu felicito meu colega Coutinho por seu campeonato moral e desejaria, também, que ele me felicitasse por meu campeonato real”.

Por sua vez o técnico austríaco Ernst Happel, da Holanda, nem teve chances de participar da conferência de imprensa depois da final. Ele tentou entrar no salão, mas o militar que vigiava a porta não o conhecia e retrucava: “Esta é uma conferência de imprensa e só passam Menotti, o treinador da Holanda, e os jornalistas”. Happel nada pôde fazer, a não ser ir embora. A conferência ocorreu sem ele.

Mario Kempes se tornou artilheiro da Copa marcando apenas gols decisivos. Depois de passar em branco na primeira fase, raspou o bigode e parece que essa “mandinga” funcionou. Ele anotou dois gols sobre a Polônia, dois no Peru e mais dois na final contra a Holanda. Assim, passou o ponta holandês Rob Rensenbrink, que tinha cinco gols (sendo quatro de pênalti). Foi a primeira vez que o artilheiro do torneio pertenceu à seleção campeã. Kempes também foi eleito o melhor jogador do Mundial.

Curiosamente, o dia da polêmica goleada da Argentina sobre o Peru coincidiu com a data de estreia nos teatros de Londres do musical “Evita” (“Don’t cry for me Argentina…”), de produzido pelo britânico Andrew Lloyd-Weber.


Passarella levanta a primeira Copa do Mundo conquistada pela Argentina (Imagem: Daily Mail)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 1 HOLANDA

 

Data: 25/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.483

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Sergio Gonella (Itália)

 

ARGENTINA (4-3-3):

HOLANDA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

8  Jan Jongbloed (G)

15 Jorge Olguín

6  Wim Jansen

7  Luis Galván

22 Ernie Brandts

19 Daniel Passarella (C)

2  Jan Poortvliet

20 Alberto Tarantini

5  Ruud Krol (C)

2  Osvaldo Ardiles

9  Arie Haan

6  Américo Gallego

13 Johan Neeskens

10 Mario Kempes

11 Willy van de Kerkhof

4  Daniel Bertoni

10 René van de Kerkhof

14 Leopoldo Luque

16 Johnny Rep

16 Oscar Alberto Ortiz

12 Rob Rensenbrink

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Ernst Happel

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

19 Pim Doesburg (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

1  Piet Schrijvers (G)

18 Rubén Pagnanini

17 Wim Rijsbergen

11 Daniel Killer

4  Adrie van Kraaij

8  Rubén Galván

20 Wim Suurbier

12 Omar Larrosa

7  Piet Wildschut

17 Miguel Oviedo

15 Hugo Hovenkamp

21 José Daniel Valencia

3  Dick Schoenaker

1  Norberto Alonso

14 Johan Boskamp

22 Ricardo Villa

18 Dick Nanninga

9  René Houseman

21 Harry Lubse

 

GOLS:

38′ Mario Kempes (ARG)

82′ Dick Nanninga (HOL)

105′ Mario Kempes (ARG)

115′ Daniel Bertoni (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

15′ Ruud Krol (HOL)

40′ Osvaldo Ardiles (ARG)

93′ Omar Larrosa (ARG)

94′ Wim Suurbier (HOL)

96′ Jan Poortvliet (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

58′ Johnny Rep (HOL) ↓

Dick Nanninga (HOL) ↑

 

66′ Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Omar Larrosa (ARG)

 

75′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

René Houseman (ARG)

 

75′ Wim Jansen (HOL) ↓

Wim Suurbier (HOL)


Os capitães Ruud Krol e Daniel Passarella disputam uma jogada (Imagem: Globo Esporte)