Três pontos sobre…
… 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda
“A Batalha de Nuremberg”
(Imagem: Jan Pitman / Bongarts / Getty Images)
● Se várias partidas entraram para a história por causa do futebol ofensivo e vistoso, não é o caso dessa. O confronto entre Portugal e Holanda nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006 é o que se pode chamar de duelo, peleja, luta, batalha… a “Batalha de Nuremberg”. Não deveria ter havido súmula, mas “boletim de ocorrência”, devido ao alto número de jogadas violentas, cartões amarelos e expulsões.
Assistimos de tudo: empurrões, cabeçadas, cotoveladas, toques de mão, trombadas, discussões, cera, carrinhos e nenhum fair play. Poderiam até tirar a logo do Mundial e colocar o da Taça Libertadores da América, pois pareceu a Libertadores raiz, das antigas, quando tudo era permitido.
Se o árbitro russo Valentin Ivanov tivesse sido um pouco mais rigoroso, essa partida poderia ter terminado por número insuficiente de jogadores de ambos os lados.
(Imagem: Imortais do Futebol)
● A seleção portuguesa tinha sua melhor safra de craques desde 1966. Bem treinada pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, foi vice-campeã da Eurocopa de 2004 (passando justamente pela Holanda nas semifinais). Na primeira fase da Copa de 2006, pelo Grupo D, venceu suas três partidas: 1 a 0 sobre a ex-colônia Angola, 2 x 0 contra o Irã e 2 x 1 sobre o bom time do México.
A Holanda vinha renovada após ficar fora do Mundial de 2002. O técnico era o ex-craque Marco van Basten, que apostou na renovação e deixou de fora vários medalhões, como Clarence Seedorf, Edgar Davids, Frank de Boer, Patrick Kluivert e Roy Makaay. Pelo Grupo C da Copa, o “grupo da morte”, venceu Sérvia e Montenegro por 1 x 0 e Costa do Marfim por 2 x 1. Na partida que valia a liderança, empatou sem gols com a Argentina e ficou em segundo lugar da chave no critério de saldo de gols.
Tinha tudo para ser uma bela partida. As duas seleções possuem um histórico de futebol ofensivo e vistoso. Tinham em campo craques como Cristiano Ronaldo, Luís Figo e Deco de um lado, Arjen Robben, Wesley Sneijder e Robin van Persie do outro. Mas virou mesmo uma batalha campal.
Luiz Felipe Scolari escalou Portugal no sistema 4-2-3-1.
Marco van Basten armou seu time no tradicional 4-3-3 holandês.
● Logo no segundo minuto da partida, Mark van Bommel acertou Cristiano Ronaldo por trás e recebeu o primeiro de muitos cartões amarelos.
Mas o clima ficou tenso mesmo aos seis minutos de jogo, quando Khalid Boulahrouz mostrou seu cartão de visitas, deixando as travas de suas chuteiras na coxa de CR7. O holandês deveria ter sido expulso, mas o árbitro Valentin Ivanov foi muito conivente no lance e mostrou apenas amarelo. A partir daí, os ânimos continuaram exaltados até o apito final.
Felipão ficou ensandecido à beira do gramado e incitou seus jogadores a pagarem na mesma moeda – o que acabou se tornando um ciclo vicioso e um show de horrores.
Aos 19′, Maniche deu uma rasteira em Van Bommel e ganhou o primeiro amarelo dos lusos.
Após a solada de Boulahrouz, Cristiano precisou ser atendido três vezes fora do gramado e acabaria substituído por Simão Sabrosa aos 33′ do primeiro tempo. Os holandeses conseguiram tirar o jovem CR7 do jogo.
Aos 36′, Costinha acertou um violento carrinho em Phillip Cocu e também foi amarelado.
Seis minutos depois, Nuno Valente deu uma voadora em Arjen Robben em lance que deveria ter resultado em pênalti e expulsão, mas o juiz russo mandou seguir.
Costinha era um dos mais violentos em campo, mas sua expulsão veio nos acréscimos da etapa inicial após ele interceptar a bola com a mão e ganhar a segunda advertência.
Para recompor o time na cabeça de área, Scolari sacrificou Pauleta para a entrada de Petit.
(Imagem: The Daily Telegraph)
E o segundo tempo se tornou de vez um festival de deslealdade e agressões. Não tinha nenhum inocente em campo, claro.
Aos cinco minutos, Petit foi amarelado por derrubar Robin van Persie.
A partida seguiu nervosa e oito minutos depois, Figo se desentendeu com Van Bommel e acertou uma cabeçada no holandês. O juiz não viu e só deu o amarelo após ser alertado.
Nos bancos, os treinadores eram os extremos: enquanto o elegante Van Basten mantinha a postura calma e com as mãos no bolso, Scolari gritava, xingava e batia no banco.
Aos 14′ Giovanni van Bronckhorst acertou Deco e ganhou amarelo.
Três minutos depois, Figo avançou pela direita e, ao perceber que Boulahrouz colocou os braços para se desvencilhar dele, valorizou como se tivesse tomado uma cotovelada. O árbitro expulsou Boulahrouz com 53 minutos de atraso, mas esse não era um lance para isso.
Boulahrouz não se conformou, se desentendeu com Simão e tentou a todo custo levar alguém de Portugal com ele. A turma dos dois bancos de reservas entraram em campo e o jogo definitivamente ficou sem controle.
Aos 25′, o goleiro Ricardo foi ao chão e a Holanda não teve fair play. John Heitinga não jogou a bola para a lateral e puxava contra-ataque. Transtornado, Deco lhe deu uma tesoura que era para vermelho, mas o árbitro pipocou de novo e deu apenas amarelo. A confusão recomeçou. Wesley Sneijder empurrou Petit e ganhou amarelo, junto com Rafael van der Vaart.
Ricardo levou amarelo aos 31 min por reclamação. Logo depois, Nuno Valente ganhou o seu ao chutar Van Persie.
(Imagem: Imortais do Futebol)
Deco continuou pilhado. Aos 33′, ele se recusou a devolver a bola aos holandeses. Phillip Cocu queria jogo e empurrou o luso-brasileiro. O juiz deu a segunda advertência a Deco por fazer cena e o expulsou.
Aos 42′, Simão deixou o pé no rosto de Edwin van der Sar em uma dividida, mas o bananão do árbitro nada marcou.
Aos 50 do segundo tempo, Giovanni van Bronckhorst deu uma rasteira em Tiago e também ganhou o vermelho.
Aos sair, o holandês se sentou ao lado de Deco, seu companheiro de Barcelona (campeão da UEFA Champions League daquela temporada) e ficaram se bate papo como se nada tivesse acontecido.
A partida termina com nove homens em cada lado. Foi um dos jogos mais tensos da história das Copas.
(Imagem: Sportskeeda)
● O árbitro russo Valentin Ivanov foi o centro das atenções. No total, foram 16 cartões amarelos e quatro vermelhos (todos decorrentes de dupla advertência). O recorde em uma partida de Copa do Mundo.
Foi um número relativamente normal de faltas, 25 ao todo, sendo 10 cometidas pelos portugueses e 15 pelos holandeses. Mas a intensidade dessas faltas foi algo super anormal.
Após a partida, Joseph Blatter, então presidente da FIFA, afirmou que “o juiz mereceu um cartão amarelo por sua atuação e não esteve à altura da partida”.
Ao fim dessa partida, o técnico Luiz Felipe Scolari completou onze vitórias consecutivas em Copas do Mundo, sendo sete pela Seleção Brasileira em 2002 e quatro pela seleção das Quinas em 2006.
O treinador brasileiro teve méritos ao não deixar que Portugal se perdesse em campo nas duas vezes em que ficou com um jogador a menos (10 contra 11 e depois 9 contra 10). No total, a Holanda teve superioridade numérica por 33 minutos, mas o técnico Marco van Basten (genial dentro de campo e mediano na beira do gramado) não conseguiu fazer seu time traduzir isso em gols. O melhor que os holandeses conseguiram foi uma bola no travessão de Phillip Cocu, aos três minutos do segundo tempo.
(Imagem: FIFA)
Ah, já estava me esquecendo! Houve um gol! E que belo gol! Aos 23 minutos de jogo, Miguel cobrou lateral na direita para Deco, que deixou de primeira com Cristiano Ronaldo. Ele segurou a bola, se livrou de dois marcadores e devolveu para Deco na ponta direita. O luso-brasileiro cruzou rasteiro para a área. Pauleta fez o pivô para Maniche passar por André Ooijer e Mark van Bommel e chutar forte no canto direito de Edwin van der Sar.
Nas quartas de final, os portugueses enfrentaram a Inglaterra, eliminada por eles na Eurocopa de 2004. E os lusos venceram de novo nos pênaltis (3 x 1) após empate sem gols durante o tempo normal e a prorrogação. Na semifinal, vendeu caro a derrota para a França de Zinédine Zidane por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, perdeu para a anfitriã Alemanha por 3 x 1, terminando em uma honrosa quarta colocação.
(Imagem: Patrik Stollarz / AFP Photo)
● FICHA TÉCNICA: |
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PORTUGAL 1 x 0 HOLANDA |
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Data: 25/06/2006 Horário: 21h00 locais Estádio: Frankenstadion (atual Max-Morlock–Stadion) Público: 41.000 Cidade: Nuremberg (Alemanha) Árbitro: Valentin Ivanov (Rússia) |
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PORTUGAL (4-2-3-1): |
HOLANDA (4-3-3): |
1 Ricardo (G) |
1 Edwin van der Sar (G)(C) |
13 Miguel |
3 Khalid Boulahrouz |
5 Fernando Meira |
13 André Ooijer |
16 Ricardo Carvalho |
4 Joris Mathijsen |
14 Nuno Valente |
5 Giovanni van Bronckhorst |
6 Costinha |
18 Mark van Bommel |
18 Maniche |
20 Wesley Sneijder |
7 Luís Figo (C) |
8 Phillip Cocu |
20 Deco |
17 Robin van Persie |
17 Cristiano Ronaldo |
7 Dirk Kuyt |
9 Pauleta |
11 Arjen Robben |
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Técnico: Luiz Felipe Scolari |
Técnico: Marco van Basten |
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SUPLENTES: |
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12 Quim (G) |
23 Maarten Stekelenburg (G) |
22 Paulo Santos (G) |
22 Henk Timmer (G) |
2 Paulo Ferreira |
12 Jan Kromkamp |
3 Marco Caneira |
14 John Heitinga |
4 Ricardo Costa |
2 Kew Jaliens |
8 Petit |
15 Tim de Cler |
19 Tiago Mendes |
16 Hedwiges Maduro |
10 Hugo Viana |
6 Denny Landzaat |
11 Simão Sabrosa |
10 Rafael van der Vaart |
15 Luís Boa Morte |
21 Ryan Babel |
23 Hélder Postiga |
19 Jan Vennegoor of Hesselink |
21 Nuno Gomes |
9 Ruud van Nistelrooy |
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GOL: 23′ Maniche (POR) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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2′ Mark van Bommel (HOL) |
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7′ Khalid Boulahrouz (HOL) |
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20′ Maniche (POR) |
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31′ Costinha (POR) |
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50′ Petit (POR) |
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59′ Giovanni van Bronckhorst (HOL) |
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60′ Luís Figo (POR) |
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73′ Deco (POR) |
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73′ Wesley Sneijder (HOL) |
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74′ Rafael van der Vaart (HOL) |
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76′ Ricardo (POR) |
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76′ Nuno Valente (POR) |
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CARTÕES VERMELHOS: |
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45+1′ Costinha (POR) |
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63′ Khalid Boulahrouz (HOL) |
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78′ Deco (POR) |
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90+5′ Giovanni van Bronckhorst (HOL) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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33′ Cristiano Ronaldo (POR) ↓ |
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Simão Sabrosa (POR) ↑ |
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INTERVALO Pauleta (POR) ↓ |
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Petit (POR) ↑ |
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56′ Joris Mathijsen (HOL) ↓ |
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Rafael van der Vaart (HOL) ↑ |
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67′ Mark van Bommel (HOL) ↓ |
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John Heitinga (HOL) ↑ |
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84′ Phillip Cocu (HOL) ↓ |
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Jan Vennegoor of Hesselink (HOL) ↑ |
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84′ Luís Figo (POR) ↓ |
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Tiago Mendes (POR) ↑ |
(Imagem: CNN)
Todos os lances violentos com cartões:
Gol da partida: