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… 22/06/1994 – Estados Unidos 2 x 1 Colômbia

Três pontos sobre…
… 22/06/1994 – Estados Unidos 2 x 1 Colômbia


(Imagem: Action Images)

● Os Estados Unidos não eram muito chegados ao futebol. O desdém é tamanho que eles o chamam de “soccer”, enquanto o “football” deles é outro esporte jogado predominantemente com as mãos e uma bola oval. E lá o “soccer” é historicamente um esporte de minorias, especialmente latino-americanos, negros ou mulheres. Relegado a segundo plano, o “soccer” é o quinto esporte mais popular no país, atrás do futebol americano, beisebol, basquete e hóquei no gelo.

Em pesquisas nas ruas antes do Mundial, o povo americano em geral não fazia ideia que o país sediaria a Copa do Mundo. Especialistas dizem que o futebol não é popular no país porque os norte-americanos detestam jogos em que os pontos demoram a acontecer e costumam ser poucos ao fim de cada partida (quando eles acontecem). Além disso, eles não entendem o conceito de empate. Para eles, alguém sempre tem que vencer.

Mas se tem uma coisa que os ianques são bons é em sediar e organizar grandes eventos. Além de possuir uma fantástica infraestrutura hoteleira, turística e de transportes, haviam muitos estádios de grande porte que poderiam ser facilmente adaptados para receberem o torneio.

Na época, os ianques não possuíam um campeonato organizado ou uma liga de futebol em seu país. Os jogadores eram praticamente amadores em times mais amadores ainda. A Major League Soccer só começou a ser disputada em 1996.

O Mundial de 1994 era a quarta edição disputada pelos EUA. Eles haviam participado em 1930, 1950 e 1990.

O técnico era o experiente sérvio Bora Milutinović, que havia treinado o México em 1986 e a Costa Rica em 1990. Posteriormente, ele completaria cinco Copas, treinando a Nigéria em 1998 e a China em 2002.

O time estadunidense tinha jogadores folclóricos como o goleiro Tony Meola, os zagueiros Alexi Lalas e Marcelo Balboa e o meia Cobi Jones (que depois jogaria no Vasco).


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

● A Colômbia também tinha pouca tradição em Mundiais. Era apenas a terceira vez que La Tri disputava o torneio (após 1962 e 1990). Apesar disso, os colombianos eram cotados como um dos candidatos ao título – inclusive pelo Rei Pelé.

A seleção era formada pela mais talentosa geração de jogadores já surgida no país e estava mais madura depois da Copa de 1990. Os destaque eram o goleiro Óscar Córdoba, os zagueiros Luis Carlos “Coroncoro” Perea e Andrés “El Caballero” Escobar, os meias Carlos “El Pibe” Valderrama e Freddy Rincón, além dos atacantes Faustino Asprilla (do Parma) e Adolfo “El Tren” Valencia (do Bayern de Munique).

O principal desfalque foi René Higuita, o goleiro espetáculo. Ele ficou preso por sete meses em 1993 acusado de participar de um sequestro. Ele acabaria inocentado, mas acabou ficando fora da Copa de 1994.

O técnico Francisco Maturana era um treinador à frente do seu tempo e trouxe uma disciplina tática que os colombianos não estavam acostumados. Ele havia levado o Atlético Nacional a conquistar a Copa Libertadores da América em 1989 – título inédito para o futebol colombiano. Quatro jogadores daquela equipe eram titulares na Copa de 1994: a dupla de zaga Perea e Escobar, o lateral esquerdo Luis Fernando “Chonta” Herrera e o meia Leonel Álvarez.

Nas eliminatórias, a Colômbia foi líder do Grupo A e terminou invicta, com quatro vitórias e dois empates (os dois contra o Paraguai, 0 x 0 em casa e 1 x 1 fora). Bateu o Peru por 1 x 0 em Lima e por 4 x 0 em Barranquilla. Na mesma cidade, venceu a Argentina por 2 x 1.

Mas a cereja do bolo foi mesmo o confronto direto contra a Argentina. Em pleno Monumental de Núñez, a Colômbia pôs os hermanos na roda e goleou por 5 x 0, fora o baile. Foram dois gols de Rincón, dois de Asprilla e um de Valencia. Esse resultado classificou a Colômbia para a Copa e empurrou os argentinos para a repescagem diante da Austrália.

Ao todo, foram 19 jogos de invencibilidade ao longo do ano de 1993.

Mas com certa soberba e muito salto alto, a realidade foi cruel aos cafeteros. Na primeira partida, a Colômbia não conseguiu suportar a dinâmica da Romênia, regida pelo maestro Gheorghe Hagi, e perdeu por 3 a 1.

E a situação ficou extremamente tensa nos dias que antecederam ao duelo com os Estados Unidos.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

● O irmão do defensor “Chonta” Herrera havia sido assassinado num acidente de carro suspeito. O time recebeu ameaças de morte na TV do hotel. Havia pressão externa para a escalação de certos jogadores e também ordens para outros não serem escalados.

O volante Gabriel “Barrabás” Gómez era um dos homens de confiança do técnico Francisco Maturana e titular absoluto do time. Ele era irmão do auxiliar técnico Hernán Darío Gómez. Muitos acreditavam que esse parentesco era a razão para a titularidade de “Barrabás” – até o narcotráfico colombiano. Foi por isso que antes da partida o aparelho de faz do hotel Marriott de Fullerton revelou uma ameaça de morte para o volante caso ele entrasse em campo diante dos Estados Unidos. Inicialmente, “Barrabás” pensou em ignorar o aviso, mas desistiu ao refletir que a ameaça também se estendia à sua família.

“Eu não podia colocar outra vida em perigo. Barrabás era um jogador chave, mas eles me venceram. Nós ligamos para casa, havia tiroteios, um caos completo e foi assim que entramos em campo naquele dia.” ― Francisco Maturana em entrevista ao jornal inglês Telegraph

“Ligaram para o hotel onde estávamos e nos fizeram ameaças de morte! Disseram que se Gabriel Gómez não fosse barrado, tanto ele quanto o ‘Profe’ (Francisco Maturana) seriam mortos. Sendo que Gómez era um dos jogadores fundamentais para nossa seleção. Nunca soubemos de onde vieram estas ameaças, quem fez, mas chegamos sob muita tensão na partida contra os Estados Unidos.” ― Luis Carlos Perea

Logicamente, Maturana preferiu não arriscar e escalou Hernán Gaviria no lugar de “Barrabás” Gómez.

Mas os colombianos entraram abalados em campo.


As duas equipes jogavam no sistema tático 4-4-2.

● Assim, às 16h30 daquele dia 22 de junho, 94 mil pessoas lotaram o estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia. Os donos da casa enfrentariam uma das seleções favoritas ao título.

Depois de um empate por 1 x 1 com a Suíça na primeira rodada, os Estados Unidos precisavam vencer para ficar mais próximo da classificação. Nunca um anfitrião havia caído na primeira fase e os ianques não queriam ser os primeiros. Eles corriam esse risco em um grupo muito equilibrado.

Empurrados pela empolgada torcida, os norte-americanos jogaram como nunca e partiram para o ataque dispostos a resolver logo o jogo.

Os colombianos estavam nervosos. Sentiam a pressão de terem que vencer de qualquer maneira.

No começo do jogo, Rincón cruzou da direita, Herrera tocou para o meio da área e Mike Sorber se atrapalha e mandou na própria trave. No rebote, o baixinho Antony de Ávila chutou, mas Marcelo Balboa tirou em cima da linha e Fernando Clavijo tirou de lá.

Os americanos começaram a encaixar contragolpes perigoso e criar mais chances claras de gol. Em uma delas, Balboa cabeceou para fora. Em outra, Eric Wynalda acertou a trave.

Aos 35′, Freddy Rincón perdeu uma bola que chegou até Thomas Dooley. Ele cruzou rasteiro da esquerda, Andrés Escobar tentou cortar de carrinho, mas acabou mandando contra as próprias redes, no contrapé do goleiro Óscar Córdoba, que nada pôde fazer. 1 a 0.

Escobar nunca assistiu a um replay sequer do lance.

“Depois da partida, lembro de ele estar muito triste por este gol contra. Lembro de ele me falar que nunca tinha marcado contra na sua vida, e foi acontecer justo em um Mundial.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés

Sem conseguir reagir, a Colômbia viu os EUA ampliar o marcador aos sete minutos do segundo tempo. Tab Ramos deu um passe por elevação e Earnie Stewart tocou na saída do goleiro. 2 a 0.

O placar poderia ser maior. O zagueiro roqueiro Alexi Lalas teve um gol mal anulado por impedimento e quase fez outro de cabeça, que Córdoba salvou.

No lance mais lindo da tarde, Tab Ramos cobrou escanteio da direita e o zagueiro Marcelo Balboa emendou uma bicicleta perfeita. A bola passou a poucos centímetros da trave direita do goleiro. Seria um golaço histórico.

Os cafeteros pareciam sentir o golpe. O time estava muito lento e oferecia pouco perigo. Só conseguiu marcar seu gol no minuto final, mas já era tarde demais. Rincón fez a jogada na área e chutou forte. Meola defendeu no susto, mas deu rebote. Valencia pegou a sobra e finalizou para o gol. 2 a 1.


(Imagem: Romeo Gacad / AFP / Getty Images)

● Pela primeira vez essa geração viu uma vitória dos norte-americanos em um jogo de Copa do Mundo. A última havia sido a “zebra” diante da Inglaterra em 1950.

Com a vitória por 2 x 1, os Estados Unidos festejaram a classificação para a segunda fase pela segunda vez em sua história – a primeira desde 1930.

Na última rodada, os colombianos mantinham uma remota chance de classificação. Para isso, precisaria vencer a Suíça e torcer para que os EUA vencessem a Romênia. Além disso, ainda dependiam dos resultados de outros grupos, na tentativa de ficar entre os quatro melhores terceiros colocados da fase de grupos. Apesar da ínfima possibilidade, Maturana chegou a pedir demissão, mas foi convencido a permanecer no cargo para a última rodada. Sem tanta pressão, a Colômbia venceu por 2 x 0, com gols de Hernán Gaviria (aos 44′) e John Harold Lozano (aos 90′). Mas a vitória foi insuficiente, já que a Romênia acabou vencendo os EUA por 1 x 0. Contrariando todas as previsões otimistas, a Colômbia foi eliminada na primeira fase.

Um dos maiores nomes daquela seleção era Freddy Rincón, que na época jogava no Palmeiras. Na volta a seu país, ele foi questionado pela sua esposa, Adriana, sobre o mau futebol da seleção na Copa. Freddy a agrediu com um chute na perna, o que ocasionou uma fratura na tíbia. Mas, para evitar escândalos, a mulher não levou o caso adiante e perdoou o jogador.

Nas oitavas de final, os EUA enfrentaram de igual para igual a Seleção Brasileira, mas Bebeto aproveitou ótima jogada de Romário e fez o único gol do jogo, eliminando os donos da casa.

Em 2013 foi ao ar na emissora colombiana TV Caracol uma novela sobre a geração da seleção da Colômbia na década de 1990, se tornando campeã de audiência no país. Com sessenta capítulos, os principais personagens eram os nomes mais conhecidos da seleção cafetera: Carlos Valderrama, Freddy Rincón, René Higuita e Faustino Asprilla.

Antes disso, em 2010, foi lançado o longa-metragem “The Two Escobars”, um documentário que mostra a relação estreita do narcotráfico (comandado pelo traficante Pablo Escobar) e o futebol (representado pelo jogador Andrés Escobar). Sem nenhum parentesco, apesar de terem o mesmo sobrenome, os dois foram assassinados com sete meses de diferença – Pablo no dia 02/12/1993 e Andrés em 02/07/1994.


(Imagem: AFP)

A morte de Andrés Escobar, “El Caballero”

O narcotráfico sempre manteve forte relação com o futebol, principalmente nas cidades de Medellín e Cali. O traficante Pablo Escobar era o principal responsável direto pelos bons resultados do esporte no país entre o meio dos anos 1980 e início dos anos 1990, ao financiar a contratação de estrelas com o dinheiro do crime. Andrés Escobar jogava em um dos clubes beneficiados pelo cartel, o Atlético Nacional.

O zagueiro Andrés Escobar vivia o auge de sua carreira. Havia conquistado a Copa Libertadores da América em 1989 e disputava sua segunda Copa do Mundo como titular, aos 27 anos. Segundo algumas fontes, ele estava negociando sua transferência com o Milan para depois do Mundial. Ele seria uma opção a Franco Baresi, que não demoraria a se aposentar.

Pelo seu estilo de jogo, era chamado de “El Caballero”.

“Era um extraordinário defensor que atuava pela esquerda. Muito técnico, tinha bom controle, passes curtos, sabendo jogar para seus laterais com tranquilidade. Sempre foi muito elegante para jogar. Quando davam liberdade, inclusive, ia para a área rival. Marcou 21 gols em sua carreira.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés

Mas o zagueiro foi apontado como um dos principais culpados pela queda prematura da seleção colombiana, principalmente por causa do gol contra diante dos EUA.

Depois da Copa, Andrés Escobar tinha planos de tirar umas férias com sua família na costa dos Estados Unidos. Mas ele preferiu voltar ao seu país, sair de casa e “mostrar a cara para o seu povo”, como ele disse a Maturana.

Na madrugada do dia 02 de julho, o zagueiro estava na saída do estacionamento da discoteca El Indio Bar, em Medellín, quando foi agredido verbalmente por três homens e uma mulher que protestavam por seu gol contra.

Escobar reagiu com um pedido de respeito, mas foi brutalmente assassinado com doze tiros à queima-roupa. O zagueiro morreu 45 minutos depois.

Humberto Muñoz Castro, que assumiu a autoria do crime, era guarda-costas e motorista dos irmãos Pedro e Juan Santiago Gallón Henao. Os dois, que eram traficantes de drogas, também foram suspeitos de estar no local da morte de Andrés Escobar.

Uma das versões da acusação aponta que os Gallón Henao teriam encomendado a morte de Escobar por terem perdido muito dinheiro em apostas no título da Colômbia. Já outra versão, menos romântica, diz que foi apenas uma discussão ocorrida na discoteca.

Muñoz Castro foi condenado a 43 anos de prisão, mas ganhou sua liberdade depois de 11 anos por bom comportamento.

Mas a impunidade dos irmãos Gallón Henao causou mais indignação. Os dois foram condenados inicialmente a 15 anos de prisão por acobertarem o crime, mas foram soltos de imediato mediante pagamento de fiança.

Depois da morte de Escobar, seus companheiros de seleção passaram a andar escoltados por segurança.

“Andrés estava em um lugar errado e na hora errada. Além disto, era um momento perigoso para qualquer jogador da Colômbia naquele momento estar na rua.” ― Luis Carlos Perea

“Tenho as melhores lembranças possíveis dele. Andrés foi um grande jogador e uma excelente pessoa. Nos mantínhamos na concentração, jogando cartas, e era muito divertido. Sempre gostava muito de conversar. Além disto, foi o melhor zagueiro com quem joguei. Para mim foi muito dura a morte dele. Cheguei a pensar até em me aposentar na época. Até hoje, sinto muito a falta dele.” ― Luis Fernando Herrera

“Um momento muito duro. Além da eliminação no Mundial, veio este marco, e justo com um bom amigo como o Escobar.” ― Faustino Asprilla

“Era um companheiro no qual tínhamos muita confiança. Era um cara muito legal, bastante divertido, sem contar tudo o que representava para nós na Colômbia, o “senhor” jogador que era. Um tipo de pessoa que está em extinção.” ― Freddy Rincón

“Se soubéssemos que o gol contra provocaria isso, preferiríamos ter perdido aquele jogo.” ― Thomas Dooley, volante norte-americano

Certamente essa foi uma das mais dolorosas páginas da história das Copas.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 2 x 1 COLÔMBIA

 

Data: 22/06/1994

Horário: 16h30 locais

Estádio: Rose Bowl

Público: 93.869

Cidade: Pasadena (Estados Unidos)

Árbitro: Fabio Baldas (Itália)

 

ESTADOS UNIDOS (4-4-2):

COLÔMBIA (4-4-2):

1  Tony Meola (G)(C)

1  Óscar Córdoba (G)

21 Fernando Clavijo

20 Wilson Pérez

17 Marcelo Balboa

15 Luis Carlos Perea

22 Alexi Lalas

2  Andrés Escobar

20 Paul Caligiuri

4  Luis Fernando Herrera

5  Thomas Dooley

14 Leonel Álvarez

6  John Harkes

5  Hernán Gaviria

9  Tab Ramos

10 Carlos Valderrama (C)

16 Mike Sorber

19 Freddy Rincón

11 Eric Wynalda

21 Faustino Asprilla

8  Earnie Stewart

7  Antony de Ávila

 

Técnico: Bora Milutinović

Técnico: Francisco Maturana

 

SUPLENTES:

 

 

18 Brad Friedel (G)

12 Faryd Mondragón (G)

12 Juergen Sommer (G)

22 José María Pazo (G)

2  Mike Lapper

3  Alexis Mendoza

3  Mike Burns

13 Néstor Ortiz

4  Cle Kooiman

18 Óscar Cortés

7  Hugo Pérez

17 Mauricio Serna

13 Cobi Jones

6  Gabriel “Barrabás” Gómez

19 Claudio Reyna

8  John Harold Lozano

10 Roy Wegerle

9  Iván Valenciano

14 Frank Klopas

11 Adolfo Valencia

15 Joe-Max Moore

16 Víctor Aristizábal

 

GOLS:

35′ Andrés Escobar (EUA) (gol contra)

52′ Earnie Stewart (EUA)

90′ Adolfo Valencia (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

24′ Antony de Ávila (COL)

48′ Alexi Lalas (EUA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Antony de Ávila (COL) ↓

Adolfo Valencia (COL) ↑

 

INTERVALO Faustino Asprilla (COL) ↓

Iván Valenciano (COL) ↑

 

61′ Eric Wynalda (EUA) ↓

Roy Wegerle (EUA) ↑

 

66′ Earnie Stewart (EUA) ↓

Cobi Jones (EUA) ↑

● Melhores momentos da partida:

… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● Dos treze participantes da primeira Copa do Mundo, sete eram da América do Sul. Um deles era o Paraguai, que se destacou pela sua ousada camisa listrada em vermelho e branco, em uma época que que, pela dificuldade da fabricação dos tecidos, quase todas as seleções usavam uniformes básicos, com apenas uma cor. Além dos guaranis, apenas a Argentina utilizava camiseta listrada – no caso, azul e branco. Até hoje o Paraguai faz parte de um seleto grupo de seleções que manteve o mesmo padrão da sua camisa principal com o passar dos anos, tornando seu uniforme um dos mais tradicionais e reconhecidos do futebol sul-americano e mundial.

Mas a situação financeira da federação era ruim. A seleção paraguaia ameaçou não ir ao Mundial por causa de dinheiro, mas o congresso do país resolveu esse problema. O craque do time era o capitão Luis Vargas Peña.

Ao chegar no Uruguai, a seleção norte-americana era uma verdadeira incógnita. O grupo contava com seis jogadores eram nascidos na Grã-Bretanha (Alexander Wood, George Moorhouse, Jimmy Gallagher, Andy Auld, Jim Brown e Bart McGhee) e cinco haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América. Quase todos estavam estreando na seleção e, por isso, os EUA eram considerados pela imprensa como franco-atiradores. Mas, mesmo com pouco entrosamento, o alto nível desses jogadores acabou por fazer a diferença a favor do time.

Na primeira partida do Grupo 4, os americanos venceram a Bélgica por 3 x 0, com gols de McGhee, Tom Florie e Patenaude.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Ventava muito no estádio Parque Central, durante o segundo confronto da chave, entre EUA e Paraguai. E o time norte-americano não teve nenhuma dificuldade na partida.

O placar foi aberto logo aos dez minutos de partida. Andy Auld se livrou de Lino Nessi na esquerda e tocou para Patenaude. Da marca do pênalti, ele bateu no canto direito do goleiro Modesto Denis.

Cinco minutos depois, Tom Florie dominou a bola pelo lado esquerdo da área e tocou para o meio. Patenaude chutou, a bola desviou em Aurelio González e foi para o fundo das redes. EUA 2 a 0.

Aos 5′ do segundo tempo, Auld avançou pela esquerda e cruzou para o meio. Patenaude fez o terceiro dos Estados Unidos e fechou o placar.


Bert Patenaude sobe para cabecear (Imagem: Pinterest)

● No segundo gol americano, a bola iria para fora, mas tomou o rumo do gol ao desviar no paraguaio. Originalmente o tento foi atribuído a González contra. Porém, em 1994, a US Soccer (federação norte-americana de futebol) solicitou que a autoria do gol fosse revista. A insistência tinha razão de ser. Já com os atuais critérios de gol contra, a FIFA concedeu a autoria aos estadunidenses. Mas a súmula oficial da entidade dava o gol a Tom Florie, embora os historiadores afirmasse que a finalização tenha sido feita por Patenaude. Súmulas e outros documentos foram novamente revisitados e Patenaude teve o gol creditado para si.

E, como ele havia anotado os outros dois tentos do jogo, Bertram “Bert” Albert Patenaude passou a ser considerado o primeiro atleta a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo. Esse é um feito muito valorizado em todo mundo, especialmente em países de língua inglesa. E, como se sabem, os americanos adoram recordes e marcas históricas.

Até 10/11/2006, a FIFA considerava Guillermo Stábile como o primeiro a marcar três gols em Mundiais. Mas o fato é que Stábile marcou sua “tripleta” dois dias depois do “hat trick” de Patenaude.


O goleiro americano Jimmy Douglas sobe para segurar um cruzamento (Imagem: Pinterest)

● A partida final do Grupo foi apenas para cumprir tabela. O Paraguai venceu a Bélgica pelo placar de 1 x 0, com um gol de Vargas Peña aos 40 minutos de partida, resultando no nono lugar na classificação geral do primeiro Mundial.

Com a vitória sobre os paraguaios, os EUA garantiram vaga nas semifinais da primeira Copa do Mundo. O selecionado ianque enfrentou a Argentina e perdeu por 6 x 1.

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 0 PARAGUAI

 

Data: 17/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 18.306

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: José Macías (Argentina)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

PARAGUAI (2-3-5):

Jimmy Douglas (G)

Modesto Denis (G)

Alexander Wood

Quiterio Olmedo

George Moorhouse

José Miracca

Jimmy Gallagher

Eusebio Díaz

Ralph Tracey

Lino Nessi

Andy Auld

Romildo Etcheverry

Billy Gonsalves

Diógenes Domínguez

Tom Florie (C)

Aurelio González

Bert Patenaude

Delfín Benítez Cáceres

Jim Brown

Luis Vargas Peña (C)

Bart McGhee

Francisco Aguirre

 

Técnico: Robert Millar

Técnico: José Durand Laguna

 

SUPLENTES:

 

 

Frank Vaughn

Pedro Benítez (G)

James Gentle

Eustacio Chamorro

Philip Slone

Salvador Flores

Arnie Oliver

Diego Florentín

Mike Bookie

Santiago Benítez

 

Tranquilino Garcete

 

Saguier Carreras

 

Amadeo Ortega

 

Bernabé Rivera

 

Jacinto Villalba

 

Gerardo Romero

 

GOLS:

10′ Bert Patenaude (EUA)

15′ Bert Patenaude (EUA)

50′ Bert Patenaude (EUA)

Imagens da partida:

… 29/06/1950 – Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 29/06/1950 – Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Inventores do futebol moderno, a Inglaterra protagonizou a primeira partida entre duas nações em 30/11/1872, ao empatar sem gols com a vizinha Escócia. Com tanta referência e tradição, os ingleses se negavam a disputar as Copas do Mundo, já que mantinha relações rompidas com a FIFA entre 1928 e 1946. E os ingleses se sentiam tão superiores, que não viam a necessidade de colocar a sua superioridade em questão e em disputa.

Ao se reconciliar com a entidade máxima do futebol, a federação inglesa aceitou disputar o Mundial de 1950. E viajaram para o Brasil com total convicção de que levantariam a taça. Na primeira partida, vitória sobre o Chile por 2 x 0, gols de Stan Mortensen e Wilf Mannion. Apesar do placar magro, a vitória tranquila apenas ressaltou o favoritismo inglês para as partidas seguintes.

A curiosidade sobre os ingleses era tão grande, que a delegação brasileira foi assistir à partida. Esse foi o único jogo que os donos da casa foram acompanhar in loco. Foi a primeira vez que o English Team jogou no continente americano.

Então, na segunda partida, contra os ingênuos ianques – semiamadores –, seria moleza.


(Imagem: Getty Images / Globo)

● Sério candidato a saco de pancadas, os Estados Unidos possuíam um time montado às pressas por atletas semi-amadores e recheado de imigrantes. Por exemplo, Frank Borghi foi médico na Segunda Guerra Mundial e trabalhava como motorista da funerária de seu tio na época da Copa. Walter Bahr era professor. Outros eram carteiros ou lavadores de prato. O atacante Ben McLaughlin não conseguiu a liberação do emprego e não viajou ao Brasil.

Cinco jogadores eram nascidos em em outro país: Joe Maca na Bélgica, Gino Gardassanich na região onde atualmente é a Croácia, Ed McIlvenny na Escócia, Adam Wolanin na Polônia e Joe Gaetjens no Haiti. Eles foram inscritos pouco antes da viagem da delegação. Outros sete eram de ascendência europeia: Frank Borghi, Charlie Colombo, Nicholas DiOrio e Gino Pariani eram de origem italiana; Walter Bahr era descendente de alemães; e John Souza e Ed Souza (que não tinham parentesco) eram de família portuguesa.

Curiosamente, o centromédio Charlie Colombo tinha o apelido de “Gloves” (“luvas”, em inglês) porque usava luvas para se lembrar de não colocar as mãos na bola. Depois da Copa, ele receberia o convite para jogar no futebol brasileiro, mas preferiu voltar aos EUA.


(Imagem: Getty Images / Globo)

● A Inglaterra chegou ao Brasil com um retrospecto de 23 vitórias, três empates e quatro derrotas no pós-guerra. Venceu o Campeonato Britânico de Seleções, que valia como eliminatórias e garantia uma vaga ao campeão.

Os Estados Unidos sofreram no grupo qualificatório das Américas do Norte e Central. Foram goleados duas vezes pelo México e só garantiu a vaga ao superar Cuba na última partida, após empatar a primeira. Nos sete últimos jogos desde o Mundial de 1934, haviam levado 45 gols (média de 6,5 gols sofridos por partida) e marcado apenas três. Com esse histórico, era de se esperar que passasse a maior das vergonhas, em um grupo com Inglaterra, Espanha e Chile. Apenas o vencedor de cada grupo se qualificava para o quadrangular final. Como esperado, Estados Unidos perderam para a Espanha por 3 x 1 na primeira partida.

Uma casa de apostas londrina estava pagando 500 para 1 em caso de aposta em vitória dos norte-americanos. O técnico Bill Jeffrey foi honesto à imprensa: “Não temos chance”. Ele também disse que seus jogadores eram “ovelhas prontas para serem abatidas”. O jornal inglês Daily Express esculachou: “Seria justo começar dando aos EUA três gols de vantagem”.

A Inglaterra tinha a expectativa da estreia do ponta direita Stanley Matthews, craque do time e chamado de “Feiticeiro do Drible”. Mas o presidente da federação inglesa, Arthur Drewry, pediu que o técnico Walter Winterbottom escalasse o mesmo time que havia vencido o Chile e, consequentemente, sem Matthews, poupado para o duelo diante da Espanha.


Os EUA atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.


A Inglaterra jogava no sistema WM.

● Na tarde de 29 de junho de 1950, 10.151 expectadores compareceram ao estádio Independência, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A expectativa era ver uma surra homérica da Inglaterra no time semiamador dos Estados Unidos.

Normalmente Walter Bahr era o capitão da seleção dos Estados Unidos, mas Ed McIlvenny foi escolhido para essa partida somente por ser britânico. A Inglaterra ganhou no cara ou coroa e optou por começar com a bola.

Em um minuto e meio, Stan Mortensen cruzou da esquerda, Roy Bentley chutou e o goleiro Frank Borghi espalmou.

Aos 12′, a Inglaterra já tinha finalizado seis vezes, com duas bolas na trave, uma por cima e uma defendida milagrosamente por Borghi.

Os EUA só conseguiram chegar ao ataque aos 25′, com um chute defendido pelo goleiro inglês Bert Williams.

Na sequência, o English Team respondeu com três chutes a gol em três minutos. Mortensen chutou duas vezes por cima e o chute de Tom Finney tinha o caminho do ângulo, mas foi desviado por Borghi.

Aos 38 minutos, McIlvenny bateu um lateral para Walter Bahr, que chutou de forma despretensiosa, de longe, a 23 metros do gol. Quando o Williams deu um passo para a direita para segurar, Joe Gaetjens se antecipou e mergulhou de cabeça da marca do pênalti, tocando na bola apenas o suficiente para tirá-la das mãos do goleiro inglês e mandar para o fundo da rede. A multidão explodiu de alegria.

No último lance antes do intervalo, Finney teve a chance de empatar, mas o árbitro italiano Generoso Dattilo apitou antes que ele pudesse chutar.

Ao fim do primeiro tempo, o saldo era de 30 finalizações dos ingleses e apenas duas dos norte-americanos.


(Imagem: Superesportes)

A multidão em volta do estádio aumentou quando os belo-horizontinos ouviram o gol no rádio. Alguns até pularam o muto para entrar no estádio. Em sua grande maioria, os brasileiros estavam torcendo para os americanos, aplaudindo as defesas de Borghi e os falhos ataques ingleses.

“A maioria esmagadora era de brasileiros, mas eles torceram por nós o tempo todo. Não sabíamos o motivo até depois. Eles esperavam que vencêssemos a Inglaterra para que a tirasse do caminho do Brasil nas finais.” ― Walter Bahr

Com a vantagem no placar, o técnico Bill Jeffrey ordenou que seu time se fechasse todo atrás do meio de campo. E os estadunidenses começaram o segundo tempo jogando com confiança e quase ampliaram o marcados aos 54′.

Cinco minutos depois, Mortensen cobrou falta, mas Borghi defendeu bem.

A Inglaterra começou a atacar novamente e pressionava os americanos em seu campo de defesa.

A oito minutos do fim, Charlie Colombo derrubou Mortensen na entrada da área. Os atletas do English Team queriam pênalti, mas o juiz marcou falta fora da área. Na cobrança, Alf Ramsey cruzou e Jimmy Mullen cabeceou firme. A bola ia tomando o rumo do gol, mas Frank Borghi – o melhor jogador em campo – salvou em cima da linha. Os ingleses protestaram, alegando que a bola havia cruzado a linha, mas o árbitro não os atendeu e mandou o jogo seguir.

E o ímpeto britânico se perdeu. Aos 40′, Frank Wallace driblou o goleiro Williams e chutou, mas Alf Ramsey salvou em cima da linha.

Não havia mais tempo para nada. Estava decretada a maior zebra da história das Copas do Mundo.

No fim da partida, a eufórica torcida brasileira invadiu o gramado para erguer os jogadores americanos, especialmente Joe Gaetjens, o autor do milagre.

“O jogo perfeito é vencer e jogar bem. Ganhamos, mas com certeza não fomos melhores do que a Inglaterra. Foi um daqueles jogos onde a melhor equipe não ganha. Eu estou orgulhoso disso. Tínhamos uma boa equipe. Mas, se jogássemos contra a Inglaterra dez vezes, eles teriam ganhado nove.” ― Walter Bahr


(Imagem: Sport 360)

● Reza a lenda que, ao receber o teletipo com a informação do placar “EnglandOX1USA”, um jornal de Londres publicou o resultado da partida sem medo de errar: “England 10 x 1 USA”. Seria impossível para os ingleses acreditarem que não estivesse faltando nenhum caracter ao lado do “0 x 1”. Tinha que ser um erro. Outro jornal britânico foi irônico: “A Inglaterra foi batida pelo time do Mickey Mouse e do Pato Donald”.

A imprensa internacional foi unânime: se tratava do resultado mais inesperado da história das Copas. A zebra repercutiu no mundo todo, menos nos Estados Unidos. Os ianques praticamente ignoravam o futebol e não se ligaram no feito até a década de 1970.

A partida ficou conhecida como o “Milagre de Belo Horizonte”.

Na rodada final, os Estados Unidos perderam para o Chile por 5 x 2 e a Inglaterra foi batida pela Espanha por 1 x 0. Os espanhóis foram líderes do grupo e se classificaram para a fase final.

Por causa da decepcionante queda na primeira fase e o oitavo lugar na classificação geral, a seleção inglesa nunca mais voltou a vestir as camisas e meias azuis escuras que usou nessa partida.

Como zagueiro pela direita, esteve em campo Alf Ramsey, que seria o técnico campeão do mundo com a seleção inglesa em 1966.

Em 2005 foi lançado o filme “The game of their lives” (“Duelo de campeões”), produzido pelos ianques para retratar a histórica zebra. A película mostra como foi feita a montagem do time, as relações entre o elenco e uma partida em que os jogadores teriam enfrentado uma espécie de time B inglês e aprendido com os erros desse jogo para irem à Copa do Mundo (o que, de fato, ocorreu). É lógico que tem muito do tom nacionalista que os ianques adoram, tratando os jogadores como super-heróis. Mas a única falha histórica grotesca foi ignorar completamente o primeiro jogo dos EUA na Copa (derrota para a Espanha por 3 x 1). No fim do filme, aparecem cindo jogadores do time original que ainda estavam vivos mais de meio século depois: o goleiro Frank Borghi, o médio Walter Bahr e os atacantes Frank Wallace, Gino Pariani e John Souza.

O autor do gol da partida foi o haitiano Joe Gaetjens. Ele vivia nos Estados Unidos graças a um visto de estudante para cursar contabilidade na Universidade de Columbia e trabalhava como lavador de pratos eum um restaurante no Brooklin, além de jogar futebol pelo time Brookhattan. Ele obteve um passaporte provisório para poder disputar a Copa do Mundo pelos EUA. Ele já havia representado a seleção do Haiti em 1944 e voltou a jogar em 1953, em uma partida das eliminatórias para a Copa de 1954, contra o México.

No ano seguinte, Joe Gaetjens foi jogar no Racing Club de Paris e retornou ao Haiti posteriormente. Depois, passou a trabalhar para um rival político de François “Papa Doc” Duvalier e foi preso em 1954. Passou a militar politicamente contra a ditadura de “Papa Doc” até que foi visto pela última vez em 08 de julho de 1964, sendo colocado à força em um carro da polícia secreta do ditador e levado à prisão de Fort Dimanche, conhecido como um lugar de tortura e crueldade. Gaetjens nunca mais foi visto.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 1 x 0 INGLATERRA

 

Data: 29/06/1950

Horário: 15h00 locais

Estádio: Independência

Público: 10.151

Cidade: Belo Horizonte (Brasil)

Árbitro: Generoso Dattilo (Itália)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

INGLATERRA (W-M):

1  Frank Borghi (G)

1  Bert Williams (G)

2  Harry Keough

2  Alf Ramsey

3  Joe Maca

3  John Aston

4  Ed McIlvenny (C)

4  Billy Wright

5  Charlie Colombo

5  Laurie Hughes

6  Walter Bahr

6  Jimmy Dickinson

7  Ed Souza

7  Tom Finney

8  John Souza

8  Stan Mortensen

9  Joe Gaetjens

9  Roy Bentley

10 Gino Pariani

10 Wilf Mannion

11 Frank Wallace

11 Jimmy Mullen

 

Técnico: William Jeffrey

Técnico: Walter Winterbottom

 

SUPLENTES:

 

 

Gino Gardassanich (G)

Ted Ditchburn (G)

Robert Annis

Laurie Scott

Geoff Coombes

Jim Taylor

Robert Craddock

Bill Eckersley

Nicholas DiOrio

Willie Watson

Adam Wolanin

Bill Nicholson

 

Eddie Baily

 

Henry Cockburn

 

Stanley Matthews

 

Jackie Milburn

 

GOL: 38′ Joe Gaetjens (EUA)

Algumas imagens da partida:

Reportagem sobre o jogo e entrevista com o zagueiro norte-americano Harry Keough:

… 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 26/07/1930 – Argentina 6 x 1 Estados Unidos


(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)

● Para chegar na semifinal, a Argentina terminou com 100% de aproveitamento no Grupo A (única chave com quatro seleções, já que os demais só possuíam três equipes), vencendo a França (1 x 0), México (6 x 3) e Chile (3 x 1).

Os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar no grupo D, vencendo a Bélgica e o Paraguai pelo mesmo placar de 3 a 0. O principal trunfo dos norte-americanos era contar com cinco jogadores que haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América.

Na quarta-feira, dia 23 de julho, a FIFA promoveu um sorteio para definir os adversários das semifinais. Havia 33% de chances de a sonhada decisão entre Uruguai e Argentina ocorrer nas semifinais. Era um risco enorme.

As bolinhas foram numeradas da seguinte forma: 1 para a Argentina; 2 para os Estados Unidos; 3 para o Uruguai; 4 para a Iugoslávia. Jules Rimet, que presidia a cerimônia, convidou um jornalista presente para sortear a primeira bolinha, que foi a número 1, da Argentina.

A tensão era enorme. Sob intensa expectativa, outro jornalista tirou a bolinha número 2, dos Estados Unidos. Ufa! Todos respiraram aliviados.

Esse sorteio também definiu a ordem dos jogos: Argentina x Estados Unidos seria no sábado e Uruguai x Iugoslávia, no domingo. Em caso de empate, haveria uma prorrogação de 15 minutos, dividida em dois tempos de sete minutos e meio. Se o empate persistisse, haveria uma segunda prorrogação, nos mesmos moldes. Se mesmo assim não houvesse um vencedor, haveria um jogo extra. Se esse jogo também terminasse empatado, no tempo normal e nas prorrogações, o vencedor sairia por meio de sorteio.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Os norte-americanos suportaram razoavelmente bem a pressão argentina no primeiro tempo, mas o centromédio Ralph Tracey fraturou a perna ainda aos 19 minutos de jogo e não conseguiu retornar após o intervalo.

Luisito Monti abriu o placar logo no minuto seguinte, aproveitando que não tinha mais a marcação de Tracey.

Antes dos 15 minutos do segundo tempo, foi a vez de o goleiro Jimmy Douglas se lesionar, deslocando o ombro.

Daí para frente, praticamente com dois homens a mais e com o adversário sem um goleiro em plena forma, a Argentina não teve dificuldades para atropelar e anotar mais cinco gols em sequência.

Quando os americanos perdiam por 3 a 0, o médio esquerdo Andy Auld sofreu um profundo corte no lábio inferior. O técnico Robert Millar, que também fazia as vezes de médico, pegou a maleta de medicamentos e correu para o campo. Na pressa, a maleta se abriu e vários frascos de remédio se quebraram, inclusive a garrafa de clorofórmio, que vazou no gramado. Ao inalar o líquido entorpecente, Millar acabou desmaiando e teve que ser carregado para fora do gramado por seus jogadores. O atleta americano que tinha se contundido acabou se recuperando sozinho, sem qualquer atendimento.

Nada daria certo para os americanos naquele dia.

De forma incontestável, a Argentina garantia sua vaga para a final.


(Imagem: FIFA)

● Na decisão, os argentinos fizeram um jogo duro, mas perderam para os anfitriões e arquirrivais uruguaios por 4 x 2, de virada.

Para os EUA, ter chegado tão longe já era motivo de orgulho. É até hoje a melhor classificação dos ianques na história das Copas.

A tabela original não previa a disputa do terceiro lugar, mas o Comitê Organizador sugeriu a ideia.

Porém, ainda irritados com a arbitragem considerada “excessivamente parcial” do brasileiro Gilberto de Almeida Rego, os iugoslavos se recusaram a enfrentar os Estados Unidos.

Assim, como não houve decisão do 3º lugar, a Iugoslávia dividiu essa colocação na classificação com os Estados Unidos. Na verdade, os dois países que caíram nas semifinais ficaram rigorosamente empatados em tudo, exceto que a Iugoslávia sofreu um gol a mais no geral.

Em muitas publicações esportivas, os americanos aparecem sozinhos em terceiro lugar, com base no critério não oficial de saldo de gols.

Algumas fontes, como um boletim da FIFA de 1984, afirmam que houve, sim, uma partida pelo 3º lugar, vencida por 3 x 1 pela Iugoslávia. Essa informação nunca foi oficialmente confirmada.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 26/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Centenário

Público: 72.886

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Jan Langenus (Bélgica)

 

ARGENTINA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Juan Botasso (G)

Jimmy Douglas (G)

José Della Torre

Alexander Wood

Fernando Paternoster

George Moorhouse

Juan Evaristo

Jimmy Gallagher

Luis Monti

Ralph Tracey

Rodolfo Orlandini

Andy Auld

Carlos Peucelle

Billy Gonsalves

Alejandro Scopelli

Tom Florie (C)

Guillermo Stábile

Bert Patenaude

Manuel Ferreira (C)

Jim Brown

Mario Evaristo

Bart McGhee

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: Robert Millar

 

SUPLENTES:

 

 

Ángel Bossio (G)

Frank Vaughn

Alberto Chividini

James Gentle

Ramón Muttis

Philip Slone

Pedro Suárez

Arnie Oliver

Edmundo Piaggio

Mike Bookie

Adolfo Zumelzú

Carlos Spadaro

Natalio Perinetti

Roberto Cherro

Attilio Demaría

Francisco Varallo

 

GOLS:

20′ Luis Monti (ARG)

56′ Alejandro Scopelli (ARG)

69′ Guillermo Stábile (ARG)

80′ Carlos Peucelle (ARG)

85′ Carlos Peucelle (ARG)

87′ Guillermo Stábile (ARG)

89′ Jim Brown (EUA)

Algumas imagens da partida:

… 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal

Três pontos sobre…
… 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal


Luís Figo em disputa de bola com Brian McBride (Imagem: Pinterest)

● Portugal voltava a disputar a Copa após 16 anos, com status de grande sensação. Tinha uma equipe de nível mundial, bastante qualificada. Foi semifinalista da Eurocopa dois anos antes e agora queria dar um passo além, no maior palco do mundo.

Onze anos depois de faturar pela segunda vez seguida o Mundial Sub-20, os lusos chegavam à Copa de 2002 tendo em sua constelação várias estrelas daquela geração vencedora: Luís Figo (melhor jogador do planeta em 2001), Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Abel Xavier e Nuno Capucho. Além deles, haviam outros jogadores experientes e vencedores, como: Vítor Baía, Fernando Couto, Paulo Sousa, Pauleta, Sérgio Conceição, e os jovens Jorge Andrade e Nuno Gomes. Eram atletas que tinham potencial para surpreender e até sonhar com o título mundial. Mas para muitos, seria a última Copa, devido à idade.

Os acontecimentos de 11 de setembro do ano anterior deixaram os Estados Unidos e seus cidadãos em alerta máximo. Os jogadores de futebol não eram exceção e medidas de segurança foram ainda mais intensificadas para a chegada da seleção americana à Coreia do Sul. Um pequeno exército cuidou de Bruce Arena e seus comandados durante toda sua estadia.

Após uma campanha digna em 1994, quando sediou o torneio, os Estados Unidos tinham decepcionado e terminado em último entre os 32 participantes na Copa de 1998. Agora, a missão dos americanos era fazer uma campanha digna e, com uma grande dose de sorte, passar de fase. Mas eles quase não nutriam esperanças em uma chave com o favorito Portugal, a co-anfitriã Coreia do Sul e a historicamente forte Polônia. Assim, ninguém esperava que os Estados Unidos fossem oferecer resistência.

Bruce Arena escalou os Estados Unidos em um 4-4-2, com duas linhas de quatro.


Portugal jogava também jogava em uma espécie 4-4-2 que se alternava. Quando se defendia, era um 4-1-4-1, com Petit fechando no meio e João Pinto recuando. Quando atacava, se tornava um 4-1-3-2, com Sérgio Conceição e Luís Figo avançando pelas pontas, Rui Costa armando pelo meio e João Pinto se tornando atacante.

● Os 37.306 presentes no estádio de Suwon viram um dos melhores confrontos do campeonato.

A verdade é que Portugal estreou contra os Estados Unidos pensando no primeiro lugar do grupo D. Mas enquanto os lusos pensavam, os americanos jogavam.

Quatro minutos depois que o árbitro equatoriano Byron Moreno deu o apito inicial, os Estados Unidos já anotavam o primeiro gol. O capitão Earnie Stewart cobra escanteio para a área. Brian McBride tenta de cabeça, o goleiro Vítor Baía faz boa defesa, mas dá rebote. A zaga fica parada e John O’Brien aproveita a sobra e completa para o gol.

O início desastroso dos tugas começava na incapacidade de segurar a bola, continuava nos erros de posicionamento da defesa e na falta de aproximação entre o meio campo e o atacante Pauleta. Figo e Rui Costa foram nulos durante todo o jogo.

Aos 29′, Jorge Costa faz tudo que não deveria fazer. Ele erra o passe ao sair jogando pela esquerda e dá a bola aos norte-americanos. O garoto Landon Donovan fica com ela e cruza. A bola bate na nuca do próprio Jorge Costa e entra no gol. Os Estados Unidos já tinham feito mais gols nesse jogo do que em toda a Copa passada.

Aos 36 minutos, Tony Sanneh cruza da direita e McBride mergulha e cabeceia para o gol, sem ser incomodado.


Brian McBride mergulha para fazer o segundo gol dos EUA (Imagem: Pinterest)

Para os lusos, a derrota ganhava ares de vexame. A defesa se esforçou muito em falhar e deu três gols de presente aos estadunidenses, que passaram a se fechar mais, dificultando a criação dos patrícios.

Mas apenas três minutos depois, Figo cobra o escanteio, Beto tenta de cabeça, Pablo Mastroeni afasta mal e Beto manda a sobra no ângulo do ótimo Brad Friedel.

Na sequência, Portugal teve inúmeras chances perdidas, principalmente pelo centroavante Pauleta.

Conseguiria diminuir só aos 26′ do segundo tempo. Pauleta ergue a bola na área. Jeff Agoos tenta cortar e joga a bola contra seu próprio patrimônio, mas isso não evitou o naufrágio português na estreia.

Foi a primeira (e, por enquanto, única) vez na história das Copas em que houveram dois gols contra na mesma partida, um para cada seleção.

Portugal teve mais posse de bola (57%, contra 43% dos adversários), mais chutes a gol (12 a 10) e mais oportunidades criadas. Um empate talvez deixasse o placar mais justo, mas quem joga tão mal e comete erros tão graves com os lusos fizeram no primeiro tempo, não merece um resultado melhor. A valentia dos ianques foi recompensada com a vitória.


O garoto Landon Donovan foi decisivo para a vitória de sua seleção, ao contrário do badalado Luís Figo (Imagem: EPA / Telegraph)

● “Entramos para o segundo tempo meio desanimados. Sofremos um gol logo antes do intervalo, depois de um escanteio, e ficou 3 a 1, mas achamos que a vantagem era boa, estando dois gols à frente. Eles não iam desistir facilmente.” ― Bruce Arena, técnico americano

“Foi inacreditável, uma noite confusa, nevoeiro asiático. Em 20 minutos, já estava 3 a 0 para nós. Nem parecia verdade, parecia um sonho. Só sei que vencemos por 3 a 2 e acho que isso vai nos trazer mais resultados bons nesta Copa.” ― John O’Brien.

E realmente aconteceram boas coisas para os EUA na sequência da competição. Após baterem os lusos, empataram com a Coreia do Sul por 1 x 1 e perderam para a Polônia por 3 x 1. Nas oitavas de final, venceram os arquirrivais mexicanos por 2 x 0. Nas quartas, jogaram bem e venderam caro a derrota para a Alemanha por 1 x 0, perdendo muitas chances de vencer, com um grande jogo e grandes defesas do goleiro alemão Oliver Kahn. Mas saíram de cabeça erguida, ao contrário dos portugueses.

Portugal caiu ainda na primeira fase. Após essa derrota para os EUA, goleou a Polônia por 4 a 0. Na última rodada, com a vitória dos poloneses sobre os americanos, Portugal jogava pelo empate com a co-anfitriã Coreia do Sul. Com dois jogadores a menos (João Pinto e Beto foram expulsos), os portugueses tentaram sinalizar para os sul-coreanos para que mantivessem o placar zerado, garantindo as duas equipes na próxima fase. Mas os asiáticos não entenderam ou não quiseram saber do empate, seguiram atacando e venceram por 1 a 0, eliminando os tugas e classificando os americanos.

John O’Brien aproveita a sobra e abre o placar (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 2 PORTUGAL

 

Data: 05/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Suwon World Cup Stadium

Público: 37.306

Cidade: Suwon (Coreia do Sul)

Árbitro: Byron Moreno (Equador)

 

ESTADOS UNIDOS (4-4-2):

PORTUGAL (4-4-2):

1  Brad Friedel (G)

1  Vítor Baía (G)

22 Tony Sanneh

22 Beto

23 Eddie Pope

5  Fernando Couto (C)

12 Jeff Agoos

2  Jorge Costa

2  Frankie Hejduk

23 Rui Jorge

8  Earnie Stewart (C)

20 Petit

5  John O’Brien

10 Rui Costa

4  Pablo Mastroeni

11 Sérgio Conceição

17 DaMarcus Beasley

7  Luís Figo

21 Landon Donovan

8  João Pinto

20 Brian McBride

9  Pauleta

 

Técnico: Bruce Arena

Técnico: António Oliveira

 

SUPLENTES:

 

 

18 Kasey Keller (G)

16 Ricardo (G)

19 Tony Meola (G)

15 Nélson (G)

3  Gregg Berhalter

3  Abel Xavier

6  David Regis

13 Jorge Andrade

14 Steve Cherundolo

4  Marco Caneira

16 Carlos Llamosa

18 Nuno Frechaut

10 Claudio Reyna

6  Paulo Sousa

13 Cobi Jones

17 Paulo Bento

7  Eddie Lewis

14 Pedro Barbosa

11 Clint Mathis

12 Hugo Viana

15 Josh Wolff

19 Capucho

9  Joe-Max Moore

21 Nuno Gomes

 

GOLS:

4′ John O’Brien (EUA)

29′ Jorge Costa (EUA) (gol contra)

36′ Brian McBride (EUA)

39′ Beto (POR)

71′ Jeff Agoos (POR) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Beto (POR)

52′ Petit (POR)

90’+ 2′ DaMarcus Beasley (EUA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Earnie Stewart (EUA) ↓

Cobi Jones (EUA) ↑

 

69′ Rui Jorge (POR) ↓

Paulo Bento (POR) ↑

 

74′ Jorge Costa (POR) ↓

Jorge Andrade (POR) ↑

 

75′ Landon Donovan (EUA) ↓

Joe-Max Moore (EUA) ↑

 

80′ Eddie Pope (EUA) ↓

Carlos Llamosa (EUA) ↑

 

80′ Rui Costa (POR) ↓

Nuno Gomes (POR) ↑

Gols da partida:

… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos


Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)

Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.

A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.

Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.


Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)

● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.

Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.

Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.

Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.

Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.

Final: 7 a 1 para a Itália.

Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.

“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino


Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)

Os Estados Unidos haviam vencido o rival México em uma “pré-Copa” no dia 24/05, já em Roma, por 4 a 2. Foram eliminados logo na primeira partida do Mundial, com essa goleada sofrida para os italianos.

Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.

A Itália se classificou para as quartas de final e enfrentaria a fortíssima Espanha, que tinha batido o Brasil por 3 x 1.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 7 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 25.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Giampiero Combi (G)

Julius Hjulian (G)

Virginio Rosetta (C)

Ed Czerkiewicz

Luigi Allemandi

George Moorhouse (C)

Mario Pizziolo

Peter Pietras

Luis Monti

Billy Gonsalves

Luigi Bertolini

Tom Florie

Anfilogino Guarisi

Francis Ryan

Giuseppe Meazza

Werner Nilsen

Angelo Schiavio

Aldo Donelli

Giovanni Ferrari

Walter Dick

Raimundo Orsi

Bill McLean

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: David Gould

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Al Harker

Giuseppe Cavanna (G)

Joe Martinelli

Umberto Caligaris

Herman Rapp

Eraldo Monzeglio

Bill Lehman

Armando Castellazzi

Tom Amrhein

Attilio Ferraris IV

Jimmy Gallagher

Mario Varglien I

Bill Fiedler

Pietro Arcari

Tom Lynch

Felice Borel II

 

Enrique Guaita

 

Attilio Demaría

 

 

GOLS:

18′ Angelo Schiavio (ITA)

20′ Raimundo Orsi (ITA)

29′ Angelo Schiavio (ITA)

57′ Aldo Donelli (EUA)

63′ Giovanni Ferrari (ITA)

64′ Angelo Schiavio (ITA)

69′ Raimundo Orsi (ITA)

90′ Giuseppe Meazza (ITA)

Algumas imagens da partida: