Arquivo da tag: Bayern de Munique

… 26/05/1999 – Manchester United 2 x 1 Bayern de Munique

Três pontos sobre…
… 26/05/1999 – Manchester United 2 x 1 Bayern de Munique


(Imagem: Getty Images)

● Essa partida é histórica e conhecida até mesmo por quem não assistiu. É um enredo que aparece em qualquer lista dos grandes épicos da história esportiva. Os três minutos finais desse jogo talvez sejam os mais fantásticos da história da UEFA Champions League.

O Bayern de Munique voltava à uma final após doze anos. Com um esquadrão liderado por Franz Beckenbauer, havia vencido o tricampeonato consecutivo em 1973/74, 1974/75 e 1975/76. Com um time mais limitado, foi vice em 1981/82 e 1987/88.

O Manchester United tinha uma história menor e um jejum muito maior no torneio. Havia conquistado a única final que disputou, em 1967/68, impulsionado pela “trindade” George Best, Bobby Charlton e Denis Law. Esse foi o primeiro título inglês e o segundo britânico na competição. Mas o incômodo jejum mancuniano já durava 31 anos. Pior ainda, os ingleses estavam ausentes da decisão desde 1984/85, quando ocorreu a “Tragédia de Heysel”.

O Bayern era comandado por Ottmar Hitzfeld, campeão pelo Borussia Dortmund em 1996/97. O United era dirigido pelo escocês Alex Ferguson, que já era e se tornaria ainda mais uma verdadeira lenda em Old Trafford.

Ambos os times atuaram desfalcados de jogadores fundamentais. O Manchester United não pôde contar com seus meio campistas centrais, Paul Scholes e o capitão Roy Keane. David Beckham atuou centralizado, ao lado de Nicky Butt. Com isso, Ryan Giggs foi deslocado para a direita e Jesper Blonqvist jogou na esquerda. O norueguês Henning Berg também foi ausência na zaga, substituído pelo seu compatriota Ronny Johnsen.

O Bayern sofreu a ausência do ótimo lateral esquerdo Bixente Lizarazu e de seu grande artilheiro, o brasileiro Giovane Élber. Foram substituídos por Michael Tarnat e Alexander Zickler, respectivamente.

Guardando as metas de ambos os times, dois dos maiores goleiros da história. Ambos capitães de seus clubes naquele dia. De um lado, o dinamarquês Peter Schmeichel. Do outro, Oliver Kahn.

Assim, dia 26 de maio de 1999, ambos se enfrentaram no estádio Camp Nou, em Barcelona.


O Manchester United de Alex Ferguson jogava no 4-4-2. Como não pôde contar com Keane e Scholes, escalou Beckham para o meio e deslocou Giggs para a direita, colocando Blomqvist na esquerda. No ataque, a dupla Yorke e Cole era infernal.


Ottmar Hitzfeld era um adepto do sistema com três zagueiros centrais, sendo um líbero. Sem Élber, preferiu a experiência de Basler e Zickler para fazerem companhia a Jancker. No meio, Effenberg era o dínamo da equipe.

● O primeiro tempo foi fraco. O placar foi inaugurado pelos alemães logo aos seis minutos. Johnsen derrubou Carsten Jancker quase na entrada da área. Mario Basler cobrou a falta e Markus Babbel fez o corta luz, para a bola que morreu rasteira, no canto esquerdo do goleiro. Um péssimo início para o Manchester, que tinha vários jogadores brilhando na Premier League, mas não conseguiam se afirmar em nível continental.

Embora até tivessem ímpeto ofensivo, os times não conseguiam criar chances de gols.

Na segunda etapa, Blomqvist se antecipou à marcação e perdeu uma clara oportunidade na pequena área, aos dez minutos. Era a chance do empate.

Mas foi o Bayern quem voltou melhor do intervalo e passou a exercer uma pressão enorme e quase anotou alguns dos maiores golaços das finais da Champions.

Basler arriscou do meio campo e quase encobriu Schmeichel, que sempre jogava adiantado. Seria um gol antológico.

Depois, Stefan Effenberg finalizou com um belo voleio, mas o goleiro dinamarquês espalmou por cima, com a ponta dos dedos.

Aos 33′, Mehmet Scholl tentou uma linda cavadinha, mas a bola bateu na trave e não entrou.

Cinco minutos depois, Carsten Jancker deu uma bicicleta, mas a bola explodiu no travessão.

O Bayern perdia chances de matar o jogo. O placar poderia estar elástico a favor dos alemães. Mas o destino tinha outros planos.


(Imagem: Getty Images)

● O Bayern tinha uma consistência defensiva muito grande, liderada pelo veterano líbero Lothar Matthäus. Já perto do fim, tentando dar fôlego para o time suportar a pressão, Hitzfeld trocou Matthäus por Thorsten Fink e Basler por Hasan Salihamidžić. O Bayern perdeu entrosamento na defesa e o Manchester soube se aproveitar dessa falta de organização.

Em busca do empate, Ferguson já tinha feito duas alterações. No meio do segundo tempo, havia trocado Blonqvist por Teddy Sheringham – um típico centroavante inglês: forte, ótimo nas jogadas aéreas (embora não fosse um gigante, com 1,83 m), experiente e goleador. Aos 36′, uma troca simples de atacantes: saiu Andy Cole e entrou o norueguês Ole Gunnar Solskjær. Ambos seriam os personagens principais do milagre.

Aos 45 minutos do segundo tempo, o United já estava no desespero. Mestre das bolas paradas, David Beckham cobrou um escanteio da esquerda ao seu estilo. O goleirão Schmeichel (que marcou 13 gols durante toda sua carreira e estava na área rival) subiu para cabecear. A defesa alemã tentou afastar, mas Ryan Giggs bateu de primeira. A bola sobrou macia para Sheringham só completar para as redes. Fatal! Dramático! Esse gol levaria a partida para a prorrogação.

Levaria. O Bayern sentia os efeitos de estar deixando escapar o título que esteve em suas mãos por quase todos os 90 minutos. E o Manchester, depois de estar nas cordas, agora estava de novo no jogo. A vitória psicológica já era dos Red Devils. Faltava o placar.

Dois minutos depois, quando todos ainda estavam sob os efeitos do gol, surgiu outro escanteio para o United. Parecia replay. Outra vez cobrado por David Beckham, de forma magistral. Sheringham desviou na primeira trave e a bola sairia. Mas Solskjær “honrou” o apelido. O “Baby-faced Assassin” (“Assassino com cara de bebê”) destruiu os sonhos dos bávaros, completando para o gol.

Nem o mais otimista dos torcedores mancunianos poderiam imaginar um final mais épico. Todos estavam incrédulos, desde os 90.245 presentes no Camp Nou, até os expectadores amantes de futebol de todo o mundo, independente de para qual time torcem.


(Imagem: UOL)

● E essa final de 1998/99 ganhou um capítulo emocionante e eternamente especial na história da UEFA Champions League.

Foi o auge do “Fergie Time”, fama que já corria há alguns anos, desde o início da Premier League, pelo fato de o Manchester United marcar constantemente muitos gols nos acréscimos.

O Manchester United é até hoje o único clube inglês a conquistar a “Tríplice Coroa”, vencendo a Champions, o Campeonato Inglês e a Copa da Inglaterra na mesma temporada.

No fim, uma bela cena foi a atitude do árbitro italiano Pierluigi Collina tentando levantar os jogadores do Bayern do gramado, derrotados no placar, física e psicologicamente. Certamente essa derrota foi importante para moldar o gigante de Munique para as temporadas seguintes, quando conquistou a Liga dos Campeões de 2000/01 ao derrotar o Valencia nos pênaltis.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

MANCHESTER UNITED 2 x 1 BAYERN DE MUNIQUE

 

Data: 26/05/1999

Horário: 20h45 locais

Estádio: Camp Nou

Público: 90.245

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Pierluigi Collina (Itália)

 

MANCHESTER UNITED (4-4-2):

BAYERN DE MUNIQUE (5-3-2):

1  Peter Schmeichel (G)(C)

1  Oliver Kahn (G)(C)

2  Gary Neville

2  Markus Babbel

5  Ronny Johnsen

25 Thomas Linke

6  Jaap Stam

10 Lothar Matthäus

3  Denis Irwin

4  Samuel Kuffour

8  Nicky Butt

18 Michael Tarnat

15 Jesper Blomqvist

11 Stefan Effenberg

7  David Beckham

16 Jens Jeremies

11 Ryan Giggs

14 Mario Basler

19 Dwight Yorke

19 Carsten Jancker

9  Andy Cole

21 Alexander Zickler

 

Técnico: Sir Alex Ferguson

Técnico: Ottmar Hitzfeld

 

SUPLENTES:

 

 

17 Raimond van der Gouw (G)

22 Bernd Dreher (G)

4  David May

5  Thomas Helmer

12 Phil Neville

17 Thorsten Fink

30 Wes Brown

20 Hasan Salihamidžić

34 Jonathan Greening

7  Mehmet Scholl

10 Teddy Sheringham

8  Thomas Strunz

20 Ole Gunnar Solskjær

24 Ali Daei

 

GOLS:

6′ Mario Basler (BAY)

90+1′ Teddy Sheringham (MAN)

90+3′ Ole Gunnar Solskjær (MAN)

 

CARTÃO AMARELO: 60′ Stefan Effenberg (BAY)

 

SUBSTITUIÇÕES:

67′ Jesper Blomqvist (MAN) ↓

Teddy Sheringham (MAN) ↑

 

71′ Alexander Zickler (BAY) ↓

Mehmet Scholl (BAY) ↑

 

80′ Lothar Matthäus (BAY) ↓

Thorsten Fink (BAY) ↑

 

81′ Andy Cole (MAN) ↓

Ole Gunnar Solskjær (MAN) ↑

 

87′ Mario Basler (BAY) ↓

Hasan Salihamidžić (BAY) ↑

Melhores momentos da partida:

Últimos três minutos do jogo, filmados da beira do gramado:

Peter Schmeichel e Oliver Kahn assistiram à partida e cornetaram Ottmar Hitzfeld (em inglês):

… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão

Três pontos sobre…
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão


(Imagem: Pinterest)

● Gerhard “Gerd” Müller nasceu em 03/11/1945 em Nördlingen, na região da Baviera, Alemanha. Era o caçula de cinco filhos de Johann Heinrich Müller e sua esposa Christina Karoline Müller. Seu sonho de infância era ser tecelão, mas começou jogando futebol no time de sua cidade natal, o nanico Nördlingen 1861. Em sua primeira temporada no time principal, aos 17 anos, já mostrou seu faro de gols, marcando 51 gols em 32 jogos oficiais, conquistando o título da 7ª divisão alemã. No total, o time marcou 204 gols, sendo 180 de Müller. Sua simplória explicação para o sucesso era a salada de batatas que sua mãe fazia para lhe dar energias. Com esses números, chamou a atenção dos dois clubes de Munique, mas o representante do Bayern chegou meia horas antes do dirigente do 1860 para assinar com o garoto goleador. Assim foi para uma equipe um pouco maior que o Nördlingen 1861, mas ainda era bem pequena, disputando a 2ª divisão: o Bayern de Munique. Também conseguiu o acesso logo no primeiro ano, marcando 43 gols em 37 jogos e levou o Bayern a disputar a Bundesliga pela primeira vez.

Quando o técnico Zlatko Čajkovski viu o garoto com tronco forte e pernas curtinhas, questionou: “O que vocês querem que eu faça com um halterofilista?” Čajkovski não era muito fã de Müller e só o escalou por pressão do presidente, na 10ª partida. E ele estreou marcando logo duas vezes. Na época, o grande da cidade era o Munique 1860, vice-campeão da Recopa Europeia naquele ano e campeão da Copa da Alemanha do ano anterior (2º título). Já o Bayern tinha vencido apenas o campeonato alemão ainda em 1932 e a Copa da Alemanha de 1959, além de estar voltando da 2ª divisão. Na segunda temporada no Bayern, enfim na Bundesliga, passou a conviver com dois jovens formados na base do clube bávaro: o goleiro Sepp Maier e o volante Franz Beckenbauer. A primeira temporada na elite não foi das mais prolíficas para Müller, anotando apenas 15 vezes em 39 partidas. O Bayern ficou em 3º no campeonato e o rival Munique 1860 conquistou o título, igualando-se ao Bayern em número de ligas. Em compensação, o Bayern se igualou ao 1860 em copas, vencendo a Copa da Alemanha. A única diferença é a expressão Internacional um pouco maior dos azuis, que os vermelhos não tinham.

“Tudo que o Bayern se tornou se deve ao Gerd Müller e aos seus gols. Se não fosse por ele, ainda estaríamos em uma velha barraca de madeira.” — Franz Beckenbauer

Essa sua estreia modesta na elite não foi muito bem vista pelo técnico da seleção alemã, Helmut Schön, que não o convocou para a Copa do Mundo de 1966 (mas levou os outros garotos Beckenbauer e Maier). Schön justificava: “Müller é gordo, não é bom um jogador de futebol e faz gols por sorte”. Realmente era baixo (1,74 m), atarracado, pernas curtas e grossas. Seu apelido de infância era “Der Dick” (“o gordinho”) e o técnico Čajkovski ainda o humilhava, chamando-o de “Kleines, Dickes Müller” (“pequeno e gordo Müller”). Após a Copa de 1966, Schön mudou de ideia e o convocou. Müller deixou o primeiro apelido para trás, ganhando outro “Der Bomber” (“O Bombardeiro”), marcando 48 gols em 49 partidas oficiais. Foi artilheiro da Bundesliga pela primeira vez, marcando 28 gols. O clube seria campeão novamente da Copa da Alemanha e conquistou o que o rival Munique 1860 perdeu três anos antes: a Recopa Europeia, primeiro título internacional do clube. O título do campeonato alemão veio apenas em 1969, quebrando o jejum de 37 anos, com 30 gols de Müller. O Bayern conquistou a dobradinha, com a Copa da Alemanha, e começava a crescer no cenário nacional. Na temporada 1969/70, o título ficou com o Borussia Mönchengladbach, mas Gerd Müller marcou incríveis 38 gols, conquistou a Chuteira de Ouro da Europa, sendo eleito o melhor jogador do ano com o prêmio Bola de Ouro da revista France Football.

No ano solar de 1972, viveu seu melhor período, com 85 gols, somando clube e seleção. O recorde durou 40 anos, até 2012, quando Lionel Messi marcou inacreditáveis 91 gols. Mas enquanto Messi fez 1,33 gols por jogo, Müller teve como média 1,41. No mesmo ano de 1972, o artilheiro chegou a assinar com o Barcelona, mas voltou atrás com medo de ficar fora dos planos da seleção para a Copa seguinte. Com a intervenção até do governo alemão, Müller permaneceu no Bayern. O clube voltaria a vencer a Bundesliga, sendo tricampeão em 1972/73/74, todos com Müller como artilheiro do torneio. Logo em 1973, ele quebrou seu próprio recorde e marcou 40 gols, conquistando pela segunda vez a Chuteira de Ouro. O tricampeonato alemão foi sucedido com o tricampeonato da UEFA Champions League, em 1974/75/76. Foi a primeira vez que um time alemão conquistou o título, quando venceu o Atlético de Madrid na partida desempate da final de 1974. Mesmo sendo campeão continental, o Bayern abriu mão de disputar o torneio Intercontinental em 1974 e 1975, pelo receio do jogo violento do Independiente, campeão da Libertadores. Em 1976, decidiram jogar contra o Cruzeiro. Müller marcou nos 2 x 0 frente aos mineiros, na Alemanha, e o Bayern segurou o empate sem gols no Mineirão, conquistando o título mundial.

“Começávamos cada jogo muito confiantes, sabendo que Gerd Müller marcaria o gol decisivo. Precisando de dois ou três gols, OK, ele consegue fazer isso também. Com Gerd Müller no seu time, você não precisa de sistema tático. Tínhamos a nossa estrutura. Mas podíamos jogar com o nosso sistema perfeitamente, mas sem ele não ajudaria. Para ter sucesso, precisávamos do Gerd Müller. E nós o tínhamos.” — Paul Breitner

Após esse título, as estrelas do Bayern começaram a entrar em declínio, inclusive com o clube figurando na zona de rebaixamento na Bundesliga. Mas Müller ainda se mantinha em alto nível, fazendo 30 gols em 43 jogos em 1975, 35 gols em 35 partidas em 1976, 48 gols em 37 jogos em 1977 e marcando 37 tentos em 48 partidas em 1978. Nesse último ano, voltou a ser artilheiro da liga, com 24 gols. Já em 1979, com 34 anos, jogou apenas 21 vezes e marcou 13 gols, entrando em atrito com o técnico Pál Csernai, o que forçou sua saída do clube. Foi jogar no futebol dos Estados Unidos, onde já estava seu amigo Franz Beckenbauer, além de Pelé, George Best, Teófilo Cubillas, Johan Cruijff, Johan Neeskens, Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto Torres, Gordon Banks, Bobby Moore, dentre outros astros. Foi contratado pelo Fort Lauderdale Strikers para jogar ao lado de Best, Cubillas e, posteriormente, de Elías Figueroa. Em três anos, disputou 71 partidas e marcando 38 gols pelos Strikers. Chegou na final da NASL em 1980, mas não conquistou títulos pelo clube. Voltaria para jogar pelo eterno rival Munique 1860 em 1980, mas a negociação não foi concluída por falta de garantias exigidas pela NASL. Disputou a temporada 1981/82 pelo Smiths Brothers Lounge, com 33 gols em 42 partidas.

Deixou o futebol aos 37 anos, em 1982 e montou um bar na Flórida, mas costumava beber todo o estoque. Sofreu com o alcoolismo, perdeu a esposa e todo dinheiro que conseguiu. Em 1991, em um teste Gamma GT, enquanto um fígado saudável tem resultados entre 10 e 70, o fígado de Gerd Müller tinha 2400 unidades. Foi internado em uma clínica de reabilitação, com as despesas pagas pelo amigo Franz Beckenbauer. Ao se recuperar, Müller passou a treinar as divisões de base do Bayern e não bebe mais. No dia 06/10/2015, o presidente do Bayern de Munique, o ex-craque Karl-Heinz Rummenigge, anunciou que Gerd Müller sofre do Mal de Alzheimer. Nos últimos anos, Gerd era assistente técnico do time B do Bayern, ajudando a formar, dentre outros, craques como Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger e Thomas Müller. Em 2014 ele interrompeu suas atividades, devido aos primeiros sinais da doença.

“Gerd Müller é um dos gigantes do futebol. Sem os gols dele, o Bayern e o futebol alemão não poderiam estar onde estão hoje. Apesar de todo o sucesso, ele sempre foi um cara modesto, o que sempre me impressionou. Foi um ótimo jogador e amigo. Trouxe experiência como treinador e ajudou a criar campeões mundiais.” — Karl-Heinz Rummenigge

● Estreou na seleção alemã em 1966 no primeiro jogo do país após a perda da final da Copa do Mundo daquele ano. Em 1972, a Alemanha Ocidental disputou a Eurocopa pela primeira vez e Müller marcou 4 gols, sendo 2 nas semifinais contra a Bélgica e 2 na final, nos 3 x 0 contra a União Soviética, levando os alemães ao título do torneio. Na Copa do Mundo de 1970, ele marcou 7 gols em 3 jogos da primeira fase. Nas quartas de final, a Inglaterra começou vencendo por 2 a 0, mas os alemães empataram no fim do jogo. Na prorrogação, em uma indecisão do goleiro Peter Bonetti, Gerd Müller marcou e classificou sua equipe. Nas semifinais, a Itália vencia até os 44 minutos do segundo tempo, mas Jürgen Grabowski empatou. Na prorrogação, mesmo com 2 gols de Müller, a Itália venceu por 4 x 3. Mas com esses gols, Gerd Müller foi o artilheiro da Copa, com 10 gols.

Em 1974, a Alemanha Ocidental era favorita para a Copa do Mundo, pois jogava em casa, havia conquistado a Euro dois anos antes e tinha como base o Bayern, que tinha acabado de conquistar a primeira UEFA Champions League para um clube alemão e era tricampeão da Bundesliga. A equipe era forte e coesa, mas Müller fez apenas um gol na primeira fase. No quadrangular semifinal, marcou um na Iugoslávia e fez o único contra a Polônia, o gol que efetivamente levou a Alemanha Ocidental para a decisão. Antes mesmo da final da Copa de 1974, aos 28 anos, Müller tinha convicção que iria se aposentar da seleção após a Copa. Algumas fontes afirmam que sua decisão foi motivada pelo fato da Federação Alemã proibir a presença de sua esposa na concentração e até pela baixa premiação financeira para o título mundial. O técnico Helmut Schön convenceu Gerd a deixar para anunciar seu afastamento após a final. Na partida decisiva, contra a Holanda (“Laranja Mecânica”, “Carrossel Holandês) de Johan Cruijff, aos 43 minutos do primeiro tempo, Gerd Müller marcou o gol da virada e do título, seu último tento em sua última aparição pela seleção. Assim, a Alemanha conquistou sua segunda Copa do Mundo.

“Foi com certeza o gol mais importante de todos os que marquei. Rainer Bonhof lançou a bola para a área, eu corri acompanhado por dois holandeses e olhei para trás. A bola bateu no meu pé esquerdo, eu me virei um pouco e de repente ela entrou.” — Gerd Müller, em depoimento ao site da FIFA

Durante 32 anos foi o maior artilheiro da história das Copas com 14 gols (10 em 1970 + 4 em 1974), até ser superado pelo 15º gol de Ronaldo Fenômeno em 2006 e pelo 16º gol de seu compatriota Miroslav Klose, marcado em 2014 (no malogrado 7 a 1). Também é o 3º que mais marcou em uma única Copa, atrás do francês Just Fontaine (13 gols em 1958) e do húngaro Sandor Kocsis (11 gols em 1954).

Seu diferencial era a sua explosão e velocidade de movimentos em pequenos espaços e seu chute potente e preciso. Era chamado de “cowboy” pela imprensa alemã, por “ser rápido no gatilho e absolutamente certeiro”. Humildemente, respondia que “só tentava chutar a bola rente ao chão, pois a bola rasteira é mais difícil do que a bola alta para o goleiro defender”. Suas bruscas mudanças de direção em curtos espaços enganavam os marcadores. Em seus anos de glória, soube como ninguém utilizar seu baixo centro de gravidade de forma fantástica.

Com essas qualidades, tornou-se o maior artilheiro da seleção alemã (até então Alemanha Ocidental), com absurdos 68 gols em 62 jogos (só foi superado por Miroslav Klose, com o gol nº 69 no jogo 132), uma média quase insuperável de 1,1 gols por jogo. Só em jogos decisivos, fez doze jogos (quatro finais de UEFA Champions League – uma como partida desempate – e oito jogos de fases finais de Copas do Mundo e Eurocopas) e marcou treze gols.


(Imagem: IFFHS)

Feitos e premiações de Gerd Müller:

Pela seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo 1974.
– Campeão da Eurocopa 1972.

Pelo Bayern de Munique:
– Campeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1968/69, 1971/72, 1972/73 e 1973/74.
– Campeão da DFB-Pokal (Copa da Alemanha) em 1965/66, 1966/67, 1968/69 e 1970/71.
– Campeão da Recopa Europeia em 1966/67.
– Tricampeão da UEFA Champions League (antiga Copa dos Campeões da Europa): 1973/74, 1974/75 e 1975/76.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1976.
– Campeão da Regionalliga Süd (2ª divisão alemã) em 1964/65.

Pelo Nördlingen 1861:
– Campeão da Bezirksliga Schwaben-Nord (7ª divisão alemã) em 1963/64.

Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 1970 (foi também o 2º mais votado em 1972 e o 3º em 1969 e em 1973).
– Eleito o melhor jogador dos 40 anos da Bundesliga (1963-2003)
– Artilheiro da Copa do Mundo em 1970 (10 gols).
– Artilheiro da Eurocopa de 1972.
– Chuteira de Ouro da Europa em 1970 (38 gols) e 1972 (40 gols).
– Maior artilheiro da história da Bundesliga: 365 gols em 427 partidas.
– Artilheiro da Bundesliga em 1967 (28 gols), 1969 (30 gols), 1970 (38 gols), 1972 (40 gols), 1973 (36 gols), 1974 (30 gols) e 1978 (24 gols).
– Artilheiro da Copa da Alemanha em 1967 (9 gols), 1969 (7 gols) e 1971 (11 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1973 (12 gols), 1974 (9 gols), 1975 (5 gols) e 1977 (8 gols).
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1972.
– Eleito melhor jogador alemão do ano em 1967 e 1969.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 13º melhor jogador do mundo do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 9º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Premiado com a “Ordem de Mérito da FIFA” em 1998.
– Premiado com a “Ordem de Mérito República Federal da Alemanha” em 1977.
– Desde 2007 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Ouro no prêmio “Bravo Otto” (prêmio alemão para quem se destaca em uma determinada área) em 1973 e 1974; prata no mesmo prêmio em 1975 e bronze em 1972 e 1976.
– Premiado com o “Sport Bild Award 2013” (de um jornal esportivo alemão), pela trajetória de vida.
– Silbernes Lorbeerblatt (premiação esportiva da Alemanha) em 1967.
– Premiado com o gol do mês na Bundesliga em 03/1972, 06/1972, 11/1972, 09/1976 e em 10/1976.
– Premiado com o gol do ano na Bundesliga em 1972 e 1976.
– Eleito para a seleção da temporada alemã (prêmio semestral) no verão de 1970, no inverno de 1970/1971, no verão de 1971, no inverno de 1971/1972, no verão de 1972, no inverno 1972/1973, no verão de 1974, no verão de 1976 e no inverno de 1976/1977.
– Em julho de 2008, o estádio do Nördlingen 1861, antigo Rieser Sportpark, passou a ser ter o nome de Gerd-Müller-Stadion, em sua homenagem.
– Embaixador da cidade de Munique na Copa do Mundo de 2006.
– Em sua homenagem, o atacante brasileiro Luís Antônio Corrêa da Costa, ganhou o apelido de “Müller” (inclusive com “trema”). O Müller brasileiro também seria campeão da Copa do Mundo, em 1994 e bicampeão mundial pelo São Paulo (1992/93).

Definitivamente, a única coisa gorda de Gerd são seus números e estatísticas. Infelizmente, pode chegar o dia em que ele se esqueça das alegrias que deu a seu povo, mas com certeza o futebol nunca se esquecerá do que Gerd Müller fez por ele.


(Imagem: Esporte Interativo)

… Times “fracos” na final do Campeonato Mundial de Clubes

Três pontos sobre…
… Times “fracos” na final do Campeonato Mundial de Clubes


(Imagem: goleiro do TP Mazembe em 2010, Robert Kidiaba, do Goal.com)

O jogo de hoje entre Kashima Antlers (JAP) x Real Madrid mostrou algo comum no futebol: vencendo ou não, um time considerado inferior, sem grandes nomes individuais, mas organizado taticamente e com uma boa proposta de jogo pode suportar a pressão de jogar contra um time cheio de craques.

Embora uma equipe nessas circunstâncias nunca tenha vencido um clube de camisa mais “pesada”, algumas finais de Campeonato Mundial (incluindo a Copa Intercontinental) tiveram uma partida equilibrada.

2016 – Real Madrid 4 x 2 Kashima Antlers
Foi a terceira vez que o time da casa chega à final e a primeira vez de um asiático. Com uma boa estrutura tática, mesmo dependendo de poucos jogadores razoáveis, o time japonês soube segurar o Real Madrid e foi campeão mundial por oito minutos. Mas a “camisa branca que enverga varal” e a precisão das conclusões de Cristiano Ronaldo deram o título aos merengues. Mas fica aquela pontinha de injustiça. A arbitragem (de novo) interferiu diretamente na partida, ao não apresentar o segundo cartão amarelo e, consequentemente o vermelho, ao capitão blanco Sergio Ramos. O Antlers estiveram melhor na maior parte do tempo e poderiam ser o primeiro campeão mundial do continente, mas deixa na história a excelente forma que se apresentou no campeonato, inclusive batendo por 3 a 0 nas semifinais o Atlético Nacional de Medellín.

2013 – Bayern de Munique 2 x 0 Raja Casablanca
O Raja surpreendeu a todos como o primeiro time anfitrião a chegar na final (o primeiro foi o Corinthians em 2000), inclusive vencendo o Atlético Mineiro por 3 a 1 (o que se torna motivo de chacotas contra os torcedores do Galo, especialmente dos cruzeirenses). Tá certo que o Bayern tirou o pé na final, mas não podemos tirar os méritos do clube marroquino pelo placar relativamente magro.

2010 – Internazionale 3 x 0 TP Mazembe
Essa foi a primeira final de um clube fora do eixo Europa / América do Sul. E não foi por acaso. O time congolês, cheio de jogadores rápidos do meio pra frente, venceu o bom time do Pachuca nas quartas de final e o Internacional de Porto Alegre na semifinal. Contra a Inter de Milão, não teve chances. Mas Mazembe é piada eterna dos gremistas contra os colorados.

2008 – Manchester United 1 x 0 LDU Quito
Mesmo sendo o time mais forte da história do Equador e tendo vencido a Libertadores, a LDU era uma equipe fraca e estava sem seu principal aliado (a altitude de 2.800 metros de Quito). Ainda assim, não passou vergonha ao vencer o mexicano Pachuca na semifinal. Na decisão, suportou a pressão do United até 28 minutos do segundo tempo, quando Wayne Rooney fez o gol do título.

2004 – Porto 0(8) x 0(7) Once Caldas
Uma final com duas zebras. Dois times que, se não eram ruins, estavam longe de ser bons. Uma final xoxa, em que o placar zerado refletia bem a nota dos dois times. Nenhum merecia ser campeão, mas a história do Porto obrigava o time a vencer o (até pouco tempo antes) inexpressivo clube colombiano, o que ocorreu apenas nos pênaltis.

1989 – Milan 1 x 0 Atlético Nacional
O querido time de Medellín venceu a Libertadores pela primeira vez em 1989 e era um grande esquadrão colombiano. Entra nessa lista por ter enfrentado o excepcional Milan, uma das melhores equipes da história (a última bicampeã europeia, inclusive). Aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação, quando todos já confiavam nos pênaltis e no folclórico goleiro René Higuita, o meia Alberigo Evani fez o único gol.

1986 – River Plate 1 x 0 Steaua Bucareste
Caso raro de o sul-americano ser mais forte que o europeu. O Steaua tinha seus méritos e um time muito organizado e bom, mas o River sempre foi um gigante do continente e do mundo. Com obrigação de vencer pela sua história, o time argentino não deu chances à zebra.

1985 – Juventus 2(4) x 2(2) Argentinos Juniors
O Argentinos Juniors tinha o melhor time de sua história e era muito bom. Mas enfrentou a Juventus de Platini, Michael Laudrup e recheada de italianos campeões da Copa do Mundo de 1982. Mesmo muito mais cotada para ser campeã, a Juve precisou dos pênaltis para conquistar o primeiro título mundial.