… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”

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… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”


(Imagem: paixaocanarinha.com.br)

● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)

● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.

● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.

– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.

– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.

– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.

– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.

– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.

P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.

… Garrincha e o restaurante francês

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… Garrincha e o restaurante francês

(Imagem: UOL)

Durante uma excursão à Europa, a Seleção precisou fazer escala em Paris. E, entre um voo e outro, os jogadores acabaram almoçando no próprio restaurante do aeroporto. Dentista da equipe, Mário Trigo foi ajudar os jogadores com o cardápio em francês. Mas Garrincha recusou qualquer intervenção:

– Doutor, deixa que eu mesmo peço.

– Como é que você vai pedir, se não conhece a língua?

– Deixa, doutor. É simples. Só preciso apontar o dedo para o prato que quiser.

Enquanto todos almoçavam, Garrincha esperava. E o impaciente Mané reclamou da demora da comida ao doutor, que foi verificar com os garçons o que tinha acontecido. Desfez-se o mistério. O que ele tinha pedido?

– Não o servimos porque ele indicou que quer comer o dono do restaurante, Monsieur Jean Paul.

… Mané Garrincha: “Alegria do Povo”

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… Mané Garrincha: “Alegria do Povo”


(Imagem: Globo Esporte)

● Nascido Manoel dos Santos em 28/10/1933, sua irmã Rosa lhe deu o apelido de Garrincha aos quatro anos, por ser pequeno como um pássaro muito comum na região em que nasceu, Pau Grande, distrito da cidade de Magé (RJ). Quando adolescente, como quase todos na cidade, trabalhou na tecelagem América Fabril. Lá, começou a assinar “Manuel Francisco dos Santos” depois que o chefe da seção da fábrica acrescentou o “Francisco” (nome de seu pai) em sua ficha para evitar confusões com outros “Manuéis”. Ele trabalhava na fábrica quando foi convidado para treinar no Botafogo, em 1952, mas só apareceu um ano depois para fazer o teste. Justificou: “Sabe como é?! Quem trabalha em fábrica não pode sair a qualquer hora, não. O patrão manda a gente embora”. Sua perna direita era seis centímetros mais curta que a esquerda e ambas as pernas eram arqueadas para o lado esquerdo. Na biografia escrita pelo jornalista Ruy Castro, “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, de 1995, ele afirma que o menino já nasceu com essa deficiência. Em outras versões, as pernas tortas seriam resultado de uma poliomielite. Já era um milagre que andasse; jogar futebol, ainda mais com a mágica nos pés, era mais milagre ainda.

Se casou com a namorada de infância, Nair, e teve oito filhas. Se separou da primeira esposa e se casou com a cantora Elza Soares, atraindo a fúria do povo carioca, que ofendia a artista e atirava ovos e tomates em sua casa; era acusada de ter acabado com o casamento de Garrincha. Os amigos de Mané nunca aceitaram Elza. Ficaram juntos de 1968 a 1977. Antes, com uma amante chamada Iraci, Garrincha teve uma filha e um filho que também se tornou jogador de futebol, chamado Neném, que faleceu em Portugal aos 28 anos, em acidente automobilístico. Da mesma forma também morreu seu filho com Elza, Garrinchinha. O único filho homem vivo, foi concebido em 1959, em uma excursão do Botafogo à cidade sueca de Umeå. Ulf Lindberg não conheceu o pai e sofre de uma grave doença óssea, que o impede de praticar atividades físicas. Hoje, vive em Halmstad (Suécia). Também teve uma menina com a última mulher, Vanderleia (viúva do ponta vascaíno Jorginho Carvoeiro).

● Aos 14 anos já era amador, jogando no EC Pau Grande. Aos 19 passou rapidamente pela base do Serrano FC. Antes do início da carreira, foi levado para fazer um teste no Vasco, mas não o deixaram treinar porque não tinha levado as chuteiras. Portariormente, foi descoberto pelo ex-zagueiro Araty e levado para fazer um teste no Borafogo. No momento em que faria o primeiro teste no Botafogo, ainda no vestiário, o técnico Gentil Cardoso disse: “Neste time aparece de tudo. Até aleijado”. No segundo treino foi enfrentar a fera Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”. Após meia dúzia de dribles desconcertantes, Nilton apelou e pediu que o contratassem, pois nunca mais queria enfrentá-lo. Jogou no Botafogo de 1953 a 1965, em 614 partidas e 245 gols. Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1962 e 1964; da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo em 1961; do Campeonato Carioca em 1957, 1961 e 1962; do Torneio Início do Carioca 1961, 1962 e 1963; além de outros nove torneios amistosos internacionais. Já em fim de carreira, fez um amistoso pelo Vasco, contra a Seleção de Cordeiro, e foi jogar no Corinthians em 1966, sem o mesmo sucesso. Venceu apenas o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (empatado com outros três clubes) e torneio amistoso da Copa Cidade de Turim do mesmo ano. Passou pela Portuguesa (RJ, em 1967), Fortaleza (1968), Atlético Júnior (de Barranquilha, Colômbia, em 1968), Flamengo (1968-1969), Red Star Paris (França, 1971-1972) e encerrou a carreira profissional no Olaria, em 1972. Emtre 1969 e 1971, cumpriu pena em liberdade, considerado culpado por homocídio culposo pela morte da mãe de Elza Soares, em um acidente com o automóvel que ele dirigia. Garrincha participou também de diversos amistosos pelo Brasil e pelo exterior, pelo time do Milionários (formado por veteranos com carreiras já encerradas), o time da AGAP-RJ (Associação de Garantia ao Atleta Profissional do Estado do Rio de Janeiro) e diversas equipes amadoras da Itália e clubes de menor expressão do interior do Brasil.

Pela Seleção Carioca, jogou 9 vezes entre 1955 e 1962 e fez 7 gols. Fez parte da seleção brasileira entre 1957 a 1966, jogando 60 partidas (52 vitórias e sete empates) e marcando 17 gols (oficiais: 50 jogos e 12 gols). Disputou três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1966) e fez cinco gols pela competição. Foi fundamental títulos de 1958 e 1962. Pelo escrete nacional, possui também os seguintes títulos: Copa Roca: 1960; Taça Bernardo O’Higgins em 1955, 1959 e 1961; e Taça Oswaldo Cruz em 1958, 1961 e 1962. Em 19/12/1973, no Maracanã com 131 mil expectadores, fez sua despedida do futebol em um amistoso entre a Seleção Brasileira e a Seleção da FIFA (composta majoritariamente por argentinos e uruguaios). Foi eleito para a seleção das Copas do Mundo de 1958 e 1962, sendo o melhor jogador em 1962. Em 1998, em votação de 250 jornalistas do mundo todo, Garrincha foi escalado pela FIFA na seleção de todos os tempos. Em qualquer lista que se faça dos melhores, seu nome sempre está. Ficou na história o seu estilo de jogo arrojado, com dribles bastante abusados, alta velocidade, cruzamentos e chutes certeiros. Fez quatro gols olímpicos na carreira.

● Na capital Brasília, o Anjo das Pernas Tortas dá nome ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Em 2010, o artista plástico Edgar Duviver produziu uma estátua de Garrincha, medindo quatro metros e meio e 300 kg, com o custo de R$ 56.000,00, custeados entre torcedores do Botafogo. Esse monumento está colocado em frente ao Estádio Olímpico Nilton Santos (também chamado João Havelange, mais conhecido como Engenhão), onde o Glorioso manda seus jogos. Foi homenageado por diversos artistas, como Vinícius de Moraes com o poema “O Anjo de Pernas Tortas” e com a música “Balada Número 7”, composta por Alberto Luiz e gravada por Moacyr Franco. Foi tema dos filmes: “Garrincha, Alegria do Povo” (1962, documentário de Joaquim Pedro de Andrade); Mané Garrincha (1978, documentário curta-metragem de Fábio Barreto); “Pelé e Garrincha, Deuses do Brasil” (2002, documentário da BBC); “Garrincha – Estrela Solitária” (2003, baseado no livro de Ruy Castro “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, em que foi vivido por Rodrigo Santoro e teve Taís Araújo como Elza Soares). Garrincha participou como ator convidado do filme “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1980). Faleceu aos 49 anos, em 20/01/1983, vítima de cirrose hepática, por ter ingerido bastante bebida alcoólica por toda a vida, assim como seu pai. Quem pagou por seu enterro foi o cantor Agnaldo Timóteo. Em seu velório, em cima do caixão, pairava a bandeira do seu Botafogo. Em sua lápide está escrito: “Aqui jaz em paz aquele que foi a Alegria do Povo – Mané Garrincha.”

… 153 anos das regras do futebol

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… 153 anos das regras do futebol


(Imagem localizada no Google)

● Era uma noite de segunda-feira, dia 26/10/1863, na Freemason’s Tavern (algo como “Bar dos Maçons”, em tradução livre), na Rua Great Queen, no centro de Londres, capital inglesa. Até então, cada escola ou clube jogava o “seu futebol”. Uns só com pés, outros também com mãos e até bastões. Campos sem tamanho padronizado, quantidade de jogadores indefinida, sem tempo de duração estipulado e muito violento. Quando jogavam duas turmas do mesmo clube, tudo bem. Sem problemas. Mas quando escolas diferentes se enfrentavam, cada uma queria jogar nas suas regras. Assim, há exatos 153 anos, o procurador de justiça Ebenezer Cobb Morley se reuniu com representantes de doze clubes para chegarem a um acordo definitivo sobre qual seria o padrão a ser utilizado. Eram os clubes: Barnes Rugby FC (1862, migrou para o rugby); Blackheath FC (1858, foi para o rugby); Blackheath Proprietary School (fundada em 1830 e encerrou as atividades em 1907); Charterhouse School (1859, hoje é amador); Civil Service FC (1863, é a única equipe fundadora da Football Association ainda na ativa); Crusaders FC (não é o time de mesmo nome situado em Balfast, Irlanda do Norte); Crystal Palace (não confundir com o time que joga atualmente a Premier League); Forest of Leytonstone (de 1859, depois mudou o nome para Wanderers FC e conquistou 5 títulos da FA Cup: 1872, 1873, 1876, 1877 e 1878; encerrou as atividades em 1887); Kensington Proprietary Grammar School (fundada como escola em 1830, fechou em 1896); NN Club (abreviação de No Name, pela falta de criatividade de seus fundadores); Perceval House (assim como o Blackheath, discordou das regras estabelecidas para o futebol e não chegou a comparecer à sexta reunião da Football Association); e Surbiton FC (criado em 1863, não se sabe o que sucedeu com o clube). O Sheffield FC atuou apenas como observador das reuniões.

● Com um representante de cada clube, foram ao todo seis reuniões. Dentre outras regras, existiam três que se sobressaíam: a da Escola de Rugby (de 1845, que deu origem ao esporte de mesmo nome, após romper com a Football Association na quinta reunião), as Regras de Cambridge (criadas em 1848) e as Regras de Sheffield (nascidas em 1857). As leis do jogo acabaram se baseando nas muito teóricas Regras de Cambridge (por exemplo, o número de jogadores por time, 11, era a quantidade de alunos por sala na universidade), com algumas adaptações bastante práticas de Sheffield (introdução do travessão, do intervalo, cobranças de falta, proibição da bola nas mãos e conceito de arbitragem). Cambridge disseminou um jogo mais fluido, envolto em dribles e passes.

● As regras foram se adaptando e evoluindo e em Manchester, no dia 06/12/1883 foi fundada a International Football Association Board (IFAB), mais conhecida como International Board (comumente imaginada como velhinhos rígidos, que não aceitam modernizar o futebol). A entidade foi criada tendo um representante de cada nação britânica: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda (atualmente apenas Irlanda do Norte). Em 1913 a FIFA foi aceita e, desde então possui quatro votos. Para uma alteração ser aceita, deve ter seis votos, dos oito possíveis. Hoje, as 17 regras vigentes referem-se a:

1. o campo de jogo;
2. a bola;
3. o número de jogadores;
4. o equipamento dos jogadores;
5. o árbitro;
6. os árbitros assistentes;
7. a duração da partida;
8. o início e reinício do jogo;
9. a bola em jogo ou fora de jogo;
10. o gol marcado;
11. o impedimento;
12. faltas e conduta antiesportiva;
13. os tiros livres;
14. o pênalti;
15. o arremesso lateral;
16. o tiro de meta; e
17. o escanteio.

Muito provavelmente em breve teremos uma 18ª regra, fazendo menção ao uso de tecnologia no auxílio da arbitragem. Mas no início eram apenas 14 regras e a mais importante era a do impedimento. Criada em 1866, ela permitiu o passe para frente, desde que três adversários estivessem entre o jogador que recebe a bola e a linha de fundo. Em 1925, seu texto foi alterado para dois adversários, ao invés de três. Essa lei levou à necessidade de criação das variantes táticas, que são motivo para outro texto em um futuro próximo.

… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão

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… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão


(Imagem localizada no Google)

“Não adianta o senhor me bater. Eu quero ser jogador de futebol.” – disse para o pai após apanhar por só querer saber de jogar bola

● Aos 18 anos já era titular do Fluminense, mas adiou a assinatura de seu primeiro contrato para poder jogar como amador e ganhar a medalha de ouro no Pan-Americano de 1963, em São Paulo. Se tornou profissional em 1964 no Fluminense e foi campeão carioca com apenas 19 anos. No ano seguinte, foi completar a constelação do Santos e, aos 22 anos de idade, o garoto se tornou capitão do time que tinha Pelé e os bicampeões mundiais de 1962/63. Nessa primeira passagem pelo alvinegro praiano, venceu o Campeonato Paulista em 1965, 1967, 1968 e 1969; o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (dividido com outros três clubes); o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968 (o Brasileirão da época), a Recopa Sul-Americana de 1968 e a Recopa Mundial de 1968. Em 1971 teve uma rápida passagem pelo seu clube de coração, o Botafogo (3 meses e 22 jogos) e no mesmo ano voltou ao Santos, para ser novamente campeão paulista em 1973 (título dividido com a Portuguesa, por erro na contagem de pênaltis pelo árbitro Armando Marques na decisão). Em 1974 voltou ao Fluminense para ajudar a “Máquina Tricolor” a conquistar bicampeonato carioca de 1975/76. Após passagem relâmpago pelo Flamengo, foi para o New York Cosmos, jogar com Pelé e Franz Beckenbauer. Jogou por um ano no California Surf e voltou ao Cosmos, onde encerrou a carreira em 1982. Pelo Cosmos, venceu a liga NASL em 1977, 1978, 1980 e 1982 e o Trans-Atlantic Cup Championships em 1980.

● Estreou pela Seleção Brasileira principal em um amistoso no dia 30/05/1964, quando o Brasil venceu a Inglaterra no Maracanã por 5 a 1. A maior decepção de sua carreira foi a não convocação para a Copa de 1966, quando o universo ficou surpreso pela sua ausência na lista de jogadores. Na época, o técnico Vicente Feola fez uma completa bagunça, convocando 45 jogadores para treinamentos antes do torneio, dentre eles Carlos Alberto, mas também alguns campeões de 1958 e 1962 que não estavam em boa forma física e técnica. Mas era impossível que ele não fosse para a Copa de 1970. Não era só unanimidade no país, mas no mundo do futebol. Passou incólume pelas eliminatórias e chegou na Copa liderando um esquadrão de gênios. Após 1966, passou a ser titular da seleção e se tornou capitão em 1968 e só deixou de ser por um brevíssimo período de dois jogos no início do ano de 1970, em que o então técnico João Saldanha preferiu dar a braçadeira a Wilson Piazza. Mas logo voltou a capitanear a amarelinha.

Já na Copa, na segunda rodada da fase de grupos, enfrentavam-se os dois últimos campeões mundiais: Brasil x Inglaterra. No jogo, os ingleses estavam apelando para a violência para tentar intimidar os brasileiros. Após diversas pancadas de toda a equipe e duas entradas criminosas do atacante Francis Lee, sendo uma em Everaldo e outra em uma dividida com o goleiro Félix, Carlos Alberto mostrou a Lee que brasileiro também sabe dar pancada e os ingleses murcharam a partir desse momento e o futebol espetáculo pôde demonstrar toda sua classe, vencendo por 1 a 0.

Era dia 21/06/1970, com 107 mil pagantes no hoje mítico Estádio Azteca, na Cidade do México. A final da Copa entre Brasil e Itália era chamada de “O Jogo do Século”. Naquela partida, a ordem do técnico Zagallo foi para Jairzinho circular bastante em campo, afastando o lateral esquerdo italiano Giacinto Facchetti de sua posição, abrindo espaços para as subidas de Carlos Alberto. Aos 41 minutos do segundo tempo, Tostão rouba a bola, toca para Gérson, que passa para Clodoaldo, que se redime de falha no gol italiano e dribla quatro marcadores, tocando para a esquerda em Rivelino, que lança mais na ponta para Jairzinho. o Furacão passa por um italiano e enxerga Pelé solto na entrada da área. o Rei recebe, para e vê a aproximação de Carlos Alberto pelo corredor direito justamente aberto por Jair. Pelé olha para a esquerda e rola mansamente na direita, onde o Capita enche o pé, encerrando uma obra prima e decretando o placar final: Brasil 4 x 1 Itália. Com o terceiro título mundial, o Brasil se tornou dono definitivo da Taça Jules Rimet e coube ao Capitão Carlos Alberto levantá-la pela última vez. Era o capitão mais jovem da história das Copas. Para a Copa de 1974, não conseguiu se recuperar de uma lesão no joelho a tempo de ser convocado. No total, fez 53 jogos oficiais pela seleção (42 vitórias, 4 empates e 7 derrotas), marcando 8 gols.

● Carlos Alberto foi o maior lateral direito que o mundo já viu. Também jogou em alguns momentos como zagueiro. Era habilidoso, clássico e possuía uma força física invejável, além de uma personalidade forte e grande espírito de liderança. Ficou eternizado como “Capitão do Tri” (ou Capita, abreviação carinhosa dos colegas), ao levantar a Taça Jules Rimet. Jogou uma única Copa e ficou marcado como o maior capitão da história do futebol. Faz parte do Hall da Fama do “Soccer” americano desde 2003. Em março de 2004, foi nomeado por Pelé um dos 125 melhores jogadores vivos do mundo. Foi um dos escolhidos para a seleção dos melhores jogadores da Copa do Mundo de 1970. Em enquete com cronistas esportivos de todo o mundo, foi escolhido para a seleção sul-americana de todos os tempos e para a seleção mundial do século XX. Ao encerrar a carreira, tornou-se vereador no Rio de Janeiro entre 1989 e 1993, pelo PDT. Depois, se tornou técnico de raros sucessos, sendo campeão brasileiro com o Flamengo em 1983, campeão carioca pelo Fluminense em 1984 e campeão da Copa Conmebol pelo seu Botafogo em 1993 (único título internacional do clube). Ultimamente era comentarista do canal SporTV, sendo presença constante principalmente no programa “Troca de Passes” (inclusive no último domingo, dois dias antes de morrer). Ontem, 25/10/2016, no Rio de Janeiro, Carlos Alberto fazia palavras cruzadas quando sofreu um infarto fulminante e não resistiu, falecendo exatamente um mês depois de seu irmão gêmeo, Carlos Roberto.

Aos 72 anos, o Capita foi convocado para jogar na seleção do céu.

… Rei Pelé: ministro, ator e sua saúde

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… Rei Pelé: ministro, ator e sua saúde


(Imagem: Veja – Editora Abril)

● Em 1995, quando assumiu a Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso criou o Ministério Extraordinário do Esporte, separando-o de outras áreas, como cultura e turismo. O segundo passo foi convidar para ministro desta pasta o Sr. Edson Arantes do Nascimento. Tomou posse em 03/01/1995 e deixou como legado uma lei que tem seu nome (nº 9.615/98), mas nos seus artigos não restaram quase nada do pensamento inicial. Aprovou o fim da lei do passe, o que foi marcante na história do futebol brasileiro. O principal intuito era a profissionalização dos clubes. Mas, no fim, o jogador deixou de ser escravo do clube para ser escravo de empresários. Essa nunca foi a intenção do trabalho do ministro e de sua equipe. Pelé deixou o cargo em maio de 1998. Com sua saída, o Presidente FHC extinguiu a pasta, novamente juntando com o turismo. O esporte só voltou a ter pasta separada com a expansão ministerial no início do mandato do Presidente Lula.

● Pelé também se tornou estrela da sétima arte. Atuou no cinema nos documentários “Isto é Pelé” (1974) e “Pelé Eterno” (2004). Esteve ao lado dos inesquecíveis Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, no filme “Os Trapalhões e o Rei do Futebol” (1986). Fez parte também da produção “Os Trombadinhas” (“Pelé contra o crime”) (1979), com os saudosos Raul Cortez e Paulo Goulart. No “Pedro Mico” (1985) foi dublado por Milton Gonçalves, pois o som original ficou inaudível. Esteve também em “O Barão Otelo no Barato dos Bilhões” (1971). Mas foi em 1981 que Pelé se tornou estrela de Hollywood, protagonizando o filme Fuga para a Vitória. O elenco contava com Sylvester Stallone e Michael Caine, além dos craques Bobby Moore, Osvaldo Ardiles e Kazimierz Deyna. Curiosamente, neste filme Pelé interpretou o personagem futebolista de Trinidad e Tobago “Luis Fernandez”, cuja posição era a verdadeira obsessão do Rei: goleiro. Apareceu também nos créditos dos filmes “Solidão. Uma linda hitória de amor” (1989), “Hotshot” (1987), “A vitória do mais fraco” (1983), “A Marcha” (1972). Além do cinema, também teve participações em séries televisivas, dentre outras, “Sai de Baixo”, “A Família Trapo” e foi protagonista da novela “Os Estranhos” (1969), na TV Excelsior, contracenando com astros como Rosamaria Murtinho, Regina Duarte, Gianfrancesco Guarnieri, Carlos Zara e Stênio Garcia.

● Em 2014, quando Pelé contraiu uma infecção urinária, os médicos descobriram que ele não tinha um dos rins. Edson guardou esse segredo por quase 40 anos, mas confessou que precisou extrair o órgão nos Estados Unidos. Essa necessidade se originou de uma pancada tomada quando ainda jogava pelo Santos. Em uma das vezes que o Rei ficou internado, ele brincou: “Nunca tive medo de morrer. Sou um homem de três corações”, fazendo claro trocadilho com o nome da cidade onde nasceu. Pelé era o mais cotado para acender a pira olímpica na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, mas infelizmente teve que recusar o convite por problemas de saúde. Ele está com dificuldade dese locomover sem uma bengala, por dores crônicas no quadril, em um corpo que durante décadas foi atlético, mas também foi surrado e maltratado diversas pancadas e lesões.

P.S.: Nesta série sobre Pelé, preferimos não mencionar em momento algum as polêmicas, como o namoro de sete anos com a Xuxa, a filha Sandra que ele não reconheceu e que faleceu de câncer sem nenhuma ajuda do pai e o envolvimento com drogas de seu filho Edinho. Apesar de ser temas relevantes, é motivo apenas de vergonha não só para Pelé, mas também para todos os fãs.

… Rei Pelé e algumas curiosidades

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… Rei Pelé e algumas curiosidades


(Imagem: Placar)

● Desde pequenininho brincava de bola, por influência do pai, Seu Dondinho, que era jogador de futebol profissional. Mas foi exatamente em 16/07/1950, aos nove anos de idade, na final da Copa do Mundo perdida pelos brasileiros em casa para o Uruguai por 2 x 1, que o menino, ao ver o choro do pai pela derrota, afirmou: “Não chore, papai. Vou ganhar uma Copa para o senhor”. Aí é que Dondinho chorou mesmo! E o menino venceu três Mundiais.

● Ganhou dinheiro com futebol pela primeira vez aos 10 anos, quando recebeu 4.500 réis para jogar pelo Ipiranguinha, um time amador de Bauru. Com a mesma idade, ainda em Bauru, criou um time, o Sete de Setembro. Para comprar uniforme e outros itens, Pelé e os coleguinhas roubavam amendoim nos trens e vendiam na praça da cidade.

● Aos 16 anos, atuou com a camisa cruzmaltina em um combinado Santos-Vasco. Na zaga de seu time estava Augusto, capitão brasileiro na Copa de 1950 e que, segundo histórias, acabou com a carreira de Dondinho.

● Em 1958 se tornou artilheiro do Campeonato Paulista com incríveis 58 gols, recorde praticamente inalcançável.

● Em jogo treino da seleção brasileira em 1958, preparatório para a Copa, Pelé levou uma pancada de Ari Clemente e lesionou o joelho, mas foi mantido na delegação após uma reunião de cinco horas. O psicólogo João Carvalhaes afirmava que Pelé era imaturo e mesmo com todas as dificuldades, foi bancado pela comissão técnica e estreou no terceiro jogo, contra a União Soviética. Se tornou e é até hoje o campeão mais jovem da história das Copas, aos 17 anos.

● Já famoso e campeão do mundo, ele serviu ao exército por seis meses, em 1959, no 6º grupo de artilharia de costa motorizado, na cidade litorânea Praia Grande.

● No segundo jogo da Copa de 1962, no 0 x 0 contra a Tchecoslováquia, teve um raro estiramento aos 28 minutos do primeiro tempo e ficou o jogo todo apenas fazendo número. No fim do torneio se tornou bicampeão, mas não conseguiu comemorar dentro do campo. Em 1966 foi literalmente caçado em campo e viu o Brasil cair ainda na primeira fase. Em 1970, no auge de sua forma, liderou o Brasil ao terceiro título.

● Depois de consagrado mundialmente, apenas em uma vez em toda a carreira Pelé foi reserva. Foi na preparação para a Copa do Mundo de 1970, no Morumbi, em amistoso sem gols contra a Bulgária. Pelé substituiu Tostão no segundo tempo e vestiu o número 13. A camisa 10 não foi usada por ninguém nesse dia.

● Pelé é chamado de Rei desde a Copa de 1958. Mas se tornou também Cavaleiro da Rainha em 03/12/1997, sendo condecorado pela rainha britânica Elizabeth II e se tornou “Sir”. Por não ser britânico, ele não pode usar o título de forma fixa, sendo apenas Cavaleiro Honorário. Antes, em 1994, recebeu a mais alta insígnia da Hungria, a Cruz da Ordem do Mérito da República da Hungria.

● Pelé perdeu apenas 14 pênaltis na carreira, sendo todos pelo Santos. Desses, a metade chutou para fora, um na trave e apenas seis foram defendidos pelo goleiro adversário.

● Foi expulso em 13 partidas, todas pelo Santos. O árbitro que mais o pôs para fora foi Armando Marques, em quatro jogos. No campeonato paulista de 1957, o Corinthians precisava vencer o Santos para ser campeão. O Peixe venceu por 1 a 0 e o São Paulo foi campeão. Pelé apanhou o jogo todo e foi expulso quando revidou. Inconformado, ao fim do jogo afirmou: “esse time não vai ganhar campeonato nenhum”. A maldição durou até 1977, exatos doze dias após o Rei se retirar definitivamente do esporte.

● Em janeiro de 1969, o Santos foi para mais uma excursão na África, em que previa amistosos no Congo-Kinshasa (ex-Zaire e atual República Democrática do Congo) e no Congo-Brazzaville (atual Congo). O único senão era a guerra que há meses era travada naquele momento entre os dois países. Mas a trégua foi forçada para ver Pelé. O barco que levou o time do Peixe pelo Rio Congo foi escoltado pelos soldados de Brazzaville até o encontro com o exército de Kinshasa. Nos dois países, foram cinco jogos em nove dias, em que Pelé marcou sete gols. Na segunda partida, contra uma seleção do Congo-Brazzaville, o Santos perdia por 2 a 0 e a arbitragem era absurdamente tolerante com as pancadas africanas. Pelé, revoltado, resolveu protestar e pensou em sair de campo. Mas sabia que a sua vida e a de seus colegas de time poderiam estar em risco se os africanos se enfurecessem. Assim, os santistas simplesmente sentaram no gramado. No mesmo instante, o árbitro da partida recebeu um bilhete misterioso e convenceu os jogadores santistas a voltarem ao jogo e passou a apitar corretamente. O Santos virou por 3 x 2, com dois gols de Pelé. Apenas nos vestiários é que souberam o teor do bilhete: “O Santos, time de Pelé, está aqui para dar um espetáculo. Eu estou aqui para assistir a esse espetáculo. Se você não apitar segundo as regras do jogo, vai sair preso do estádio.” Quem assinou foi o comandante Marien Ngobi, chefe de estado do Congo-Brazzaville. Por causa de Pelé nesta visita, o então presidente de Congo-Kinshasa, Joseph Mobuto, oficializou no país o dia 23 de janeiro como o Dia Nacional do Esporte.

● Na mesma excursão, em 04/02/1969, o Santos esteve na Biafra (atual Nigéria), onde a guerra civil já durava dois anos. O jogo, na cidade de Benin, não estava programado e só foi realizado após as autoridades garantirem a segurança de todos. Foi um breve momento de paz na cidade e o tenente coronel Samuel Ogbemudia decretou feriado na parte da tarde e liberou a ponte que ligava as cidades de Benin e Sapele, autorizando a passagem de todos que quisessem ver Pelé. Assim que o Santos subiu no avião, as hostilidades recomeçaram e a guerra só teve fim em janeiro de 1970. Ou seja, em apenas uma viagem, Rei Pelé parou duas guerras.

● Ainda no histórico ano de 1969 (em que também sairia o gol 1.000), em uma excursão pela Colômbia, no estádio El Campín, foi expulso pelo árbitro local Guillermo Velásquez. O público ficou irritadíssimo, pois foram ao estádio para ver o Rei. O juiz teve que ser trocado e Pelé continuou fazendo a festa do povo.

● Em 1959 a usina Chiabrando & Amandola, da cidade paulista de Piracicaba, ofereceu a Seu Dondinho uma proposta para a criação da “Caninha Pelé”. O rótulo tinha a foto de Pelé com o terno usado na volta da Suécia na Copa do Mundo de 1958. O garoto ainda era menor de idade e coube a seu pai receber a oferta. Mesmo assim, aconselhado por Zito, o Rei disse ao pai: “isso não é bom pra mim. Propaganda de pinga não pega bem.” As raras amostras de testes do produto se tornara artigo de colecionador e custam atualmente na faixa de R$ 17 mil. No fim, Pelé nunca aceitou associar seu nome à bebidas alcoólicas e ao tabaco.

● Pelé sempre tocou violão, é compositor e já gravou um CD produzido pelo respeitadíssimo Sérgio Mendes. Fez diversas publicidades bem diferentes, como sobre a alfabetização (“abc, abc, toda criança tem que ler e escrever…”) e a de um jogo de Atari chamado Championship Soccer, que ficou conhecido nos EUA com o nome de Pelé’s Soccer. Mas uma das mais marcantes foi a propaganda do Viagra em 2002, em que dizia: “consulte seu médico. Eu faria isso”. Entre 1977 e 1982, Maurício de Souza publicou histórias em quadrinhos com o personagem Pelezinho. Já o “Café Pelé” foi criado em 1970 após assinatura de contrato entre a empresa Cacique e o Rei. Atualmente, Edson Arantes do Nascimento não é proprietário da marca “Pelé”, pois vendeu os direitos sobre o nome em 2010 para a empresa americana Legends 10.

● Certa vez, o cantor Jair Rodrigues e Pelé se encontraram em um aeroporto e Jair brincou com o Rei: “Tu tá rico, hein,Negão? Uma mala bonitona dessas eu nunca vou ter”. Ao chegar em casa, dias depois, Jair encontrou uma mala de couro igualzinha a de Pelé. Ao questionar a empregada, ela respondeu: “Foi um negão que trouxe e disse que era o Pelé. Vê se pode, Seu Jair?! Mas não se preocupa que eu nem deixei o homem entrar.”

● Pelé cursou faculdade e se formou na década de 70 na Faculdade de Educação Física de Santos (atual Universidade Metropolitana de Santos).

● O armário número 6 do vestiário principal da Vila Belmiro, que Pelé usava, está trancado desde sua despedida do clube em 1974. Só ele tem a chave e o clube o aposentou em respeito ao ídolo. Ninguém nunca o viu aberto e não se sabe o que tem dentro. Nem o Rei fala. Especula-se que ele tenha deixado dois pares dede chuteiras, um chapéu de couro e um colete.

● Foi o primeiro entrevistado de Maradona no programa “La Noche del Diez”, programa semanal argentino que era apresentado por Diego Armando Maradona. Além de ambos trocarem passes de cabeça em embaixadinhas, Maradona chamou Pelé de Rei. Pelé, por sua vez, cantou a música de sua composição “Quem sou eu, quem é você?”. Veja a entrevista completa neste vídeo:

… Rei Pelé: famoso também pelos gols não feitos

Três pontos sobre…
… Rei Pelé: famoso também pelos gols não feitos

● Comumente os jogadores de futebol são conhecidos e reconhecidos na história pelos dribles, passes, defesas, mas principalmente pelos gols que fazem. Mas o Rei Pelé também se tornou imortal pelos gols que não fez na Copa do Mundo de 1970, no México. Aos 29 anos, provou que estava em seu auge físico, técnico e emocional. Logo na estreia, contra a Tchecoslováquia, que o Brasil venceu por 4 x 1, aos 41 minutos do primeiro tempo, quando o jogo ainda estava empatado por 1 x 1, Pelé observou que o goleiro Ivo Viktor não estava muito bem posicionado no gol e chutou de trás da linha do meio-campo. A bola incrivelmente e infelizmente passou raspando a trave esquerda. Segundo o jornal inglês Daily Mirror, “havia 70 mil pessoas no estádio, mas só Pelé viu Viktor adiantado”.

● O segundo lance é considerado a maior defesa de todos os tempos, mas todo o lance é genial. Jogaram na segunda rodada da primeira fase os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

Nas semifinais diante do rival Uruguai, vencido por 3 x 1, aconteceram dois “quase-gols” incríveis. E quem sofreu foi o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (que depois viria a jogar no Clube Atlético Mineiro, entre 1972 e 1974). Em uma reposição de bola mal feita por “Marzuka”, Pelé chutou de primeira da intermediária, obrigando-o a fazer grande defesa, quase no contrapé. Depois viria a cereja do bolo. Em um magistral lançamento de Tostão pela esquerda, Mazurkiewicz saiu para interceptação e, sem tocar na bola, Pelé lhe deu um fantástico drible de corpo, enganando-o apenas na corrida em direção ao gol. Só com a força do passe de Tostão, Pelé deixou a bola passar pelo lado esquerdo do goleiro, enquanto correu pelo direito, chutando cruzado rapidamente e quase sem ângulo no contrapé do zagueiro Atilio Ancheta (ídolo do Grêmio entre 1971 e 1979). Infelizmente a bola passou rente a trave uruguaia e foi para fora. Certamente é o drible mais lindo da história do futebol.

P.S.: Hoje o Rei completa 76 anos. Parabéns!

… Pelé: o melhor goleiro da história do futebol

Três pontos sobre…
… Pelé: o melhor goleiro da história do futebol

● Até 1970, as substituições de jogadores não eram permitidas. Assim, se o goleiro se lesionasse ou fosse expulso, um jogador da linha teria que ir pro gol. Adivinham quem era o “goleiro reserva”, dentro de campo, do Santos e até mesmo da Seleção Brasileira? Ele mesmo! o Rei Pelé! Em jogos registrados, o Rei Pelé, nunca foi escalado como goleiro, mas por quatro vezes substituiu o arqueiro durante a partida e nunca sofreu gols:

– 04/11/1959, na Vila Belmiro – Santos 4 x 2 Comercial (da capital, time hoje extinto), pelo Campeonato Paulista. Foi para o gol aos 19 minutos do 2º tempo e fechou o gol (já tinha feito um no jogo). Substituiu o goleiro Lalá, que tomou um chute na cabeça e teve concussão cerebral.

– 19/01/1964, no Pacaembu – Santos 4 x 3 Grêmio, pelas semifinais da Taça Brasil de 1963. Certamente foi o jogo mais difícil. Na primeira partida, o Santos venceu o Grêmio em Porto Alegre por 3 x 1. Na volta, no Pacaembu, Pepe abriu o placar e o Grêmio virou pra 3 x 1. Pelé marcou 3 gols e o jogo estava 4 x 3, quando aos 41 minutos do segundo tempo, o goleiro Gylmar se irritou com uma marcação do árbitro argentino Teodoro Nitti e foi expulso. A lenda também diz que o árbitro marcou um pênalti, que Pelé defendeu. O fato é que ele fechou o gol com defesas difíceis, até o fim do jogo, não sofreu gols e levou o Peixe para a final.

– 14/11/1969, em João Pessoa – Santos 3 x 0 Botafogo/PB. Manoel Maria fez dois gols e sofreu um pênalti, cobrado por Pelé. Era o gol 999. Em seguida o goleiro Jair Estevão passou mal e o Rei foi novamente fechar o gol. Segundo a lenda, o técnico Antoninho pediu para o goleiro simular uma contusão para o Rei ir para o gol, a fim de deixar o gol 1.000 para o jogo seguinte, contra o Vasco da Gama, no Maracanã (o que realmente ocorreu).

– 19/06/1973, nos Estados Unidos – Santos 4 x 0 Baltimore Boys (EUA). Substituiu o goleiro Cláudio.

● Em entrevista à ESPN em 2014, o craque-coringa Lima, parceiro do Rei no Santos, disse que Pelé vestiu a camisa número 1 em cerca de 12 jogos, segundo sua conta. Afirmou que em várias excursões de amistosos, principalmente na África, os patrocinadores pediam pra ter Pelé em seu gol, jogando como adversário do Santos. Falou ainda que nas excursões, quando terminava o treino, Pelé gritava: “Bora! Agora vamos pro nosso jogo: branco contra crioulo!” E Ele era sempre o goleiro. Se tentassem tirar as luvas dele, ele não aceitava. Lima contou também que Pelé pulava, caía e fazia os movimentos corretos; e pedia aos goleiros principais para que o corrigissem se fizesse algo errado. Na mesma entrevista, segundo o ponta direita Manoel Maria, era difícil enfrentar a fera no gol nos treinos. Pelé só jogava no gol. Inclusive antes de se adoentar, há cerca de dois anos, Pelé ainda brincava em casa e em fins de ano na praia, sempre como goleiro. Ainda à ESPN, o ex-goleiro Lalá disse que se Pelé fosse apenas goleiro, certamente chegaria à seleção e seria titular absoluto. Era maravilhoso entre as três traves. Pepe diz que o Rei era muito bom, elástico, ágil e voava na bola.

● Ele sempre queria estar perto do gol. Adorava o gol. Se não marcando os tentos, era defendendo-os. Sempre que tinha uma chance, corria para voltar a ser o “Bilé” de sua infância, seu ídolo. O Rei tinha verdadeira obsessão pelo gol. Tanto, que curiosamente, mesmo por linhas tortas, Edson Cholbi Nascimento passou pelo Peixe nos anos 90. Edinho, filho do Rei, se tornou um bom goleiro, longe de ser ótimo, mas atuando com regularidade no gol do Santos entre 1994 e 1998, inclusive sendo um dos destaques do time vice-campeão brasileiro de 1995. Mas impossível chegar aos pés do pai. Pelé nunca precisou ser goleiro para ser o número 1.


(Imagens localizadas no Google)

… Rei Pelé e seus nomes

Três pontos sobre…
… Rei Pelé e seus nomes


(Imagem: “Globo.com”)

● Talvez seja o nome mais famoso do mundo. Certamente é uma marca reconhecida em qualquer canto do planeta. Mas tudo começou quando Seu Dondinho e Dona Celeste resolveram batizar o filho mais velho como “Edison Arantes do Nascimento”, em homenagem a “Thomas Alva Edison”, grande inventor americano (e, segundo histórias, ladrão de patentes – possui mais de 1.000 patentes), justamente porque em 1940 a luz elétrica tinha acabado de chegar à cidade mineira de Três Corações (terra natal do Rei). A ideia de Seu Dondinho era dar o nome de “Edson” para o menino, mas o escrivão grafou por conta própria “Edison”, com “i” no meio. Apesar de ter nascido em 23/10/1940, a certidão está com data de nascimento dois dias antes, 21/10/1940. O mais interessante é que o pai registrou o filho no dia 19/11/1940, exatos 29 anos antes de Pelé fazer o gol nº 1.000.

● Para sua família, sempre foi “Dico”, uma forma de abreviação carinhosa de Edson, Edinho, Edico. Foi assim até sua adolescência. Aos 15 anos chegou ao Santos e foi chamado de outro nome. Devido ao forte racismo que infelizmente ainda acompanha o futebol, o garoto vindo de Bauru era chamado pelos colegas de “Gasolina”, por ser sua pele tão negra como o petróleo, que dá origem ao combustível. Outra versão mais velada deste apelido é que Gasolina era devido sua velocidade.

● A origem do apelido mais famoso é, de certa forma, peculiar. Quando Seu Dondinho era jogador, Edison costumava acompanhar o pai nas partidas. No mesmo clube, o Vasco, de São Lourenço, jogava um goleiro chamado “Bilé”, que era o segundo maior ídolo do menino (o maior era o próprio pai). Seu sonho era ser um arqueiro tão bom quanto Bilé e sempre ficava brincando que era goleiro e, quando fingia que defendia alguma bola, gritava: “Defendeu Bilé!” Só que ele ainda era muito pequeno e a pronúncia acabava destorcida, como “Pilé”. Quando se mudou para Bauru, por causa do forte sotaque mineiro, os colegas entenderam que na brincadeira ele se auto-intitulava “Pelé”. Ele não gostava da alcunha e certa vez chegou a acertar um soco em um colega de escola. Foi suspenso da escola por dois dias e apanhou do pai. Quando não se gosta do apelido, aí é que pega mesmo.

“Meu nome verdadeiro é Edson. Eu não inventei Pelé. Eu não queria esse nome. Pelé soa infantil em português. Edson é mais como Thomas Edison, o homem que inventou a lâmpada.” – Pelé em entrevista ao jornal alemão “Bild”, em 2006

Edison, Édson, Dico, Gasolina, Pelé, Rei, Atleta do Século. Incrível ter tantos nomes quem nem precisaria de um para ser tão singular na história.


(Imagem: “www.pinterest.com”)