… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão

Três pontos sobre…
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão


(Imagem: Pinterest)

● Gerhard “Gerd” Müller nasceu em 03/11/1945 em Nördlingen, na região da Baviera, Alemanha. Era o caçula de cinco filhos de Johann Heinrich Müller e sua esposa Christina Karoline Müller. Seu sonho de infância era ser tecelão, mas começou jogando futebol no time de sua cidade natal, o nanico Nördlingen 1861. Em sua primeira temporada no time principal, aos 17 anos, já mostrou seu faro de gols, marcando 51 gols em 32 jogos oficiais, conquistando o título da 7ª divisão alemã. No total, o time marcou 204 gols, sendo 180 de Müller. Sua simplória explicação para o sucesso era a salada de batatas que sua mãe fazia para lhe dar energias. Com esses números, chamou a atenção dos dois clubes de Munique, mas o representante do Bayern chegou meia horas antes do dirigente do 1860 para assinar com o garoto goleador. Assim foi para uma equipe um pouco maior que o Nördlingen 1861, mas ainda era bem pequena, disputando a 2ª divisão: o Bayern de Munique. Também conseguiu o acesso logo no primeiro ano, marcando 43 gols em 37 jogos e levou o Bayern a disputar a Bundesliga pela primeira vez.

Quando o técnico Zlatko Čajkovski viu o garoto com tronco forte e pernas curtinhas, questionou: “O que vocês querem que eu faça com um halterofilista?” Čajkovski não era muito fã de Müller e só o escalou por pressão do presidente, na 10ª partida. E ele estreou marcando logo duas vezes. Na época, o grande da cidade era o Munique 1860, vice-campeão da Recopa Europeia naquele ano e campeão da Copa da Alemanha do ano anterior (2º título). Já o Bayern tinha vencido apenas o campeonato alemão ainda em 1932 e a Copa da Alemanha de 1959, além de estar voltando da 2ª divisão. Na segunda temporada no Bayern, enfim na Bundesliga, passou a conviver com dois jovens formados na base do clube bávaro: o goleiro Sepp Maier e o volante Franz Beckenbauer. A primeira temporada na elite não foi das mais prolíficas para Müller, anotando apenas 15 vezes em 39 partidas. O Bayern ficou em 3º no campeonato e o rival Munique 1860 conquistou o título, igualando-se ao Bayern em número de ligas. Em compensação, o Bayern se igualou ao 1860 em copas, vencendo a Copa da Alemanha. A única diferença é a expressão Internacional um pouco maior dos azuis, que os vermelhos não tinham.

“Tudo que o Bayern se tornou se deve ao Gerd Müller e aos seus gols. Se não fosse por ele, ainda estaríamos em uma velha barraca de madeira.” — Franz Beckenbauer

Essa sua estreia modesta na elite não foi muito bem vista pelo técnico da seleção alemã, Helmut Schön, que não o convocou para a Copa do Mundo de 1966 (mas levou os outros garotos Beckenbauer e Maier). Schön justificava: “Müller é gordo, não é bom um jogador de futebol e faz gols por sorte”. Realmente era baixo (1,74 m), atarracado, pernas curtas e grossas. Seu apelido de infância era “Der Dick” (“o gordinho”) e o técnico Čajkovski ainda o humilhava, chamando-o de “Kleines, Dickes Müller” (“pequeno e gordo Müller”). Após a Copa de 1966, Schön mudou de ideia e o convocou. Müller deixou o primeiro apelido para trás, ganhando outro “Der Bomber” (“O Bombardeiro”), marcando 48 gols em 49 partidas oficiais. Foi artilheiro da Bundesliga pela primeira vez, marcando 28 gols. O clube seria campeão novamente da Copa da Alemanha e conquistou o que o rival Munique 1860 perdeu três anos antes: a Recopa Europeia, primeiro título internacional do clube. O título do campeonato alemão veio apenas em 1969, quebrando o jejum de 37 anos, com 30 gols de Müller. O Bayern conquistou a dobradinha, com a Copa da Alemanha, e começava a crescer no cenário nacional. Na temporada 1969/70, o título ficou com o Borussia Mönchengladbach, mas Gerd Müller marcou incríveis 38 gols, conquistou a Chuteira de Ouro da Europa, sendo eleito o melhor jogador do ano com o prêmio Bola de Ouro da revista France Football.

No ano solar de 1972, viveu seu melhor período, com 85 gols, somando clube e seleção. O recorde durou 40 anos, até 2012, quando Lionel Messi marcou inacreditáveis 91 gols. Mas enquanto Messi fez 1,33 gols por jogo, Müller teve como média 1,41. No mesmo ano de 1972, o artilheiro chegou a assinar com o Barcelona, mas voltou atrás com medo de ficar fora dos planos da seleção para a Copa seguinte. Com a intervenção até do governo alemão, Müller permaneceu no Bayern. O clube voltaria a vencer a Bundesliga, sendo tricampeão em 1972/73/74, todos com Müller como artilheiro do torneio. Logo em 1973, ele quebrou seu próprio recorde e marcou 40 gols, conquistando pela segunda vez a Chuteira de Ouro. O tricampeonato alemão foi sucedido com o tricampeonato da UEFA Champions League, em 1974/75/76. Foi a primeira vez que um time alemão conquistou o título, quando venceu o Atlético de Madrid na partida desempate da final de 1974. Mesmo sendo campeão continental, o Bayern abriu mão de disputar o torneio Intercontinental em 1974 e 1975, pelo receio do jogo violento do Independiente, campeão da Libertadores. Em 1976, decidiram jogar contra o Cruzeiro. Müller marcou nos 2 x 0 frente aos mineiros, na Alemanha, e o Bayern segurou o empate sem gols no Mineirão, conquistando o título mundial.

“Começávamos cada jogo muito confiantes, sabendo que Gerd Müller marcaria o gol decisivo. Precisando de dois ou três gols, OK, ele consegue fazer isso também. Com Gerd Müller no seu time, você não precisa de sistema tático. Tínhamos a nossa estrutura. Mas podíamos jogar com o nosso sistema perfeitamente, mas sem ele não ajudaria. Para ter sucesso, precisávamos do Gerd Müller. E nós o tínhamos.” — Paul Breitner

Após esse título, as estrelas do Bayern começaram a entrar em declínio, inclusive com o clube figurando na zona de rebaixamento na Bundesliga. Mas Müller ainda se mantinha em alto nível, fazendo 30 gols em 43 jogos em 1975, 35 gols em 35 partidas em 1976, 48 gols em 37 jogos em 1977 e marcando 37 tentos em 48 partidas em 1978. Nesse último ano, voltou a ser artilheiro da liga, com 24 gols. Já em 1979, com 34 anos, jogou apenas 21 vezes e marcou 13 gols, entrando em atrito com o técnico Pál Csernai, o que forçou sua saída do clube. Foi jogar no futebol dos Estados Unidos, onde já estava seu amigo Franz Beckenbauer, além de Pelé, George Best, Teófilo Cubillas, Johan Cruijff, Johan Neeskens, Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto Torres, Gordon Banks, Bobby Moore, dentre outros astros. Foi contratado pelo Fort Lauderdale Strikers para jogar ao lado de Best, Cubillas e, posteriormente, de Elías Figueroa. Em três anos, disputou 71 partidas e marcando 38 gols pelos Strikers. Chegou na final da NASL em 1980, mas não conquistou títulos pelo clube. Voltaria para jogar pelo eterno rival Munique 1860 em 1980, mas a negociação não foi concluída por falta de garantias exigidas pela NASL. Disputou a temporada 1981/82 pelo Smiths Brothers Lounge, com 33 gols em 42 partidas.

Deixou o futebol aos 37 anos, em 1982 e montou um bar na Flórida, mas costumava beber todo o estoque. Sofreu com o alcoolismo, perdeu a esposa e todo dinheiro que conseguiu. Em 1991, em um teste Gamma GT, enquanto um fígado saudável tem resultados entre 10 e 70, o fígado de Gerd Müller tinha 2400 unidades. Foi internado em uma clínica de reabilitação, com as despesas pagas pelo amigo Franz Beckenbauer. Ao se recuperar, Müller passou a treinar as divisões de base do Bayern e não bebe mais. No dia 06/10/2015, o presidente do Bayern de Munique, o ex-craque Karl-Heinz Rummenigge, anunciou que Gerd Müller sofre do Mal de Alzheimer. Nos últimos anos, Gerd era assistente técnico do time B do Bayern, ajudando a formar, dentre outros, craques como Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger e Thomas Müller. Em 2014 ele interrompeu suas atividades, devido aos primeiros sinais da doença.

“Gerd Müller é um dos gigantes do futebol. Sem os gols dele, o Bayern e o futebol alemão não poderiam estar onde estão hoje. Apesar de todo o sucesso, ele sempre foi um cara modesto, o que sempre me impressionou. Foi um ótimo jogador e amigo. Trouxe experiência como treinador e ajudou a criar campeões mundiais.” — Karl-Heinz Rummenigge

● Estreou na seleção alemã em 1966 no primeiro jogo do país após a perda da final da Copa do Mundo daquele ano. Em 1972, a Alemanha Ocidental disputou a Eurocopa pela primeira vez e Müller marcou 4 gols, sendo 2 nas semifinais contra a Bélgica e 2 na final, nos 3 x 0 contra a União Soviética, levando os alemães ao título do torneio. Na Copa do Mundo de 1970, ele marcou 7 gols em 3 jogos da primeira fase. Nas quartas de final, a Inglaterra começou vencendo por 2 a 0, mas os alemães empataram no fim do jogo. Na prorrogação, em uma indecisão do goleiro Peter Bonetti, Gerd Müller marcou e classificou sua equipe. Nas semifinais, a Itália vencia até os 44 minutos do segundo tempo, mas Jürgen Grabowski empatou. Na prorrogação, mesmo com 2 gols de Müller, a Itália venceu por 4 x 3. Mas com esses gols, Gerd Müller foi o artilheiro da Copa, com 10 gols.

Em 1974, a Alemanha Ocidental era favorita para a Copa do Mundo, pois jogava em casa, havia conquistado a Euro dois anos antes e tinha como base o Bayern, que tinha acabado de conquistar a primeira UEFA Champions League para um clube alemão e era tricampeão da Bundesliga. A equipe era forte e coesa, mas Müller fez apenas um gol na primeira fase. No quadrangular semifinal, marcou um na Iugoslávia e fez o único contra a Polônia, o gol que efetivamente levou a Alemanha Ocidental para a decisão. Antes mesmo da final da Copa de 1974, aos 28 anos, Müller tinha convicção que iria se aposentar da seleção após a Copa. Algumas fontes afirmam que sua decisão foi motivada pelo fato da Federação Alemã proibir a presença de sua esposa na concentração e até pela baixa premiação financeira para o título mundial. O técnico Helmut Schön convenceu Gerd a deixar para anunciar seu afastamento após a final. Na partida decisiva, contra a Holanda (“Laranja Mecânica”, “Carrossel Holandês) de Johan Cruijff, aos 43 minutos do primeiro tempo, Gerd Müller marcou o gol da virada e do título, seu último tento em sua última aparição pela seleção. Assim, a Alemanha conquistou sua segunda Copa do Mundo.

“Foi com certeza o gol mais importante de todos os que marquei. Rainer Bonhof lançou a bola para a área, eu corri acompanhado por dois holandeses e olhei para trás. A bola bateu no meu pé esquerdo, eu me virei um pouco e de repente ela entrou.” — Gerd Müller, em depoimento ao site da FIFA

Durante 32 anos foi o maior artilheiro da história das Copas com 14 gols (10 em 1970 + 4 em 1974), até ser superado pelo 15º gol de Ronaldo Fenômeno em 2006 e pelo 16º gol de seu compatriota Miroslav Klose, marcado em 2014 (no malogrado 7 a 1). Também é o 3º que mais marcou em uma única Copa, atrás do francês Just Fontaine (13 gols em 1958) e do húngaro Sandor Kocsis (11 gols em 1954).

Seu diferencial era a sua explosão e velocidade de movimentos em pequenos espaços e seu chute potente e preciso. Era chamado de “cowboy” pela imprensa alemã, por “ser rápido no gatilho e absolutamente certeiro”. Humildemente, respondia que “só tentava chutar a bola rente ao chão, pois a bola rasteira é mais difícil do que a bola alta para o goleiro defender”. Suas bruscas mudanças de direção em curtos espaços enganavam os marcadores. Em seus anos de glória, soube como ninguém utilizar seu baixo centro de gravidade de forma fantástica.

Com essas qualidades, tornou-se o maior artilheiro da seleção alemã (até então Alemanha Ocidental), com absurdos 68 gols em 62 jogos (só foi superado por Miroslav Klose, com o gol nº 69 no jogo 132), uma média quase insuperável de 1,1 gols por jogo. Só em jogos decisivos, fez doze jogos (quatro finais de UEFA Champions League – uma como partida desempate – e oito jogos de fases finais de Copas do Mundo e Eurocopas) e marcou treze gols.


(Imagem: IFFHS)

Feitos e premiações de Gerd Müller:

Pela seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo 1974.
– Campeão da Eurocopa 1972.

Pelo Bayern de Munique:
– Campeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1968/69, 1971/72, 1972/73 e 1973/74.
– Campeão da DFB-Pokal (Copa da Alemanha) em 1965/66, 1966/67, 1968/69 e 1970/71.
– Campeão da Recopa Europeia em 1966/67.
– Tricampeão da UEFA Champions League (antiga Copa dos Campeões da Europa): 1973/74, 1974/75 e 1975/76.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1976.
– Campeão da Regionalliga Süd (2ª divisão alemã) em 1964/65.

Pelo Nördlingen 1861:
– Campeão da Bezirksliga Schwaben-Nord (7ª divisão alemã) em 1963/64.

Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 1970 (foi também o 2º mais votado em 1972 e o 3º em 1969 e em 1973).
– Eleito o melhor jogador dos 40 anos da Bundesliga (1963-2003)
– Artilheiro da Copa do Mundo em 1970 (10 gols).
– Artilheiro da Eurocopa de 1972.
– Chuteira de Ouro da Europa em 1970 (38 gols) e 1972 (40 gols).
– Maior artilheiro da história da Bundesliga: 365 gols em 427 partidas.
– Artilheiro da Bundesliga em 1967 (28 gols), 1969 (30 gols), 1970 (38 gols), 1972 (40 gols), 1973 (36 gols), 1974 (30 gols) e 1978 (24 gols).
– Artilheiro da Copa da Alemanha em 1967 (9 gols), 1969 (7 gols) e 1971 (11 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1973 (12 gols), 1974 (9 gols), 1975 (5 gols) e 1977 (8 gols).
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1972.
– Eleito melhor jogador alemão do ano em 1967 e 1969.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 13º melhor jogador do mundo do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 9º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Premiado com a “Ordem de Mérito da FIFA” em 1998.
– Premiado com a “Ordem de Mérito República Federal da Alemanha” em 1977.
– Desde 2007 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Ouro no prêmio “Bravo Otto” (prêmio alemão para quem se destaca em uma determinada área) em 1973 e 1974; prata no mesmo prêmio em 1975 e bronze em 1972 e 1976.
– Premiado com o “Sport Bild Award 2013” (de um jornal esportivo alemão), pela trajetória de vida.
– Silbernes Lorbeerblatt (premiação esportiva da Alemanha) em 1967.
– Premiado com o gol do mês na Bundesliga em 03/1972, 06/1972, 11/1972, 09/1976 e em 10/1976.
– Premiado com o gol do ano na Bundesliga em 1972 e 1976.
– Eleito para a seleção da temporada alemã (prêmio semestral) no verão de 1970, no inverno de 1970/1971, no verão de 1971, no inverno de 1971/1972, no verão de 1972, no inverno 1972/1973, no verão de 1974, no verão de 1976 e no inverno de 1976/1977.
– Em julho de 2008, o estádio do Nördlingen 1861, antigo Rieser Sportpark, passou a ser ter o nome de Gerd-Müller-Stadion, em sua homenagem.
– Embaixador da cidade de Munique na Copa do Mundo de 2006.
– Em sua homenagem, o atacante brasileiro Luís Antônio Corrêa da Costa, ganhou o apelido de “Müller” (inclusive com “trema”). O Müller brasileiro também seria campeão da Copa do Mundo, em 1994 e bicampeão mundial pelo São Paulo (1992/93).

Definitivamente, a única coisa gorda de Gerd são seus números e estatísticas. Infelizmente, pode chegar o dia em que ele se esqueça das alegrias que deu a seu povo, mas com certeza o futebol nunca se esquecerá do que Gerd Müller fez por ele.


(Imagem: Esporte Interativo)

… O dia em que o Vasco usou logomarca do SBT para provocar a Globo

Três pontos sobre…
… O dia em que o Vasco usou logomarca do SBT para provocar a Globo


(Imagem: UOL Esporte)

● Antônio Soares Calçada foi um dos presidentes mais vitoriosos da história do Clube de Regatas Vasco da Gama. Era o presidente no centenário do clube, quando venceu a sonhada Taça Libertadores da América de 1998. Somando todas suas gestões, o clube conquistou, no futebol: a citada Libertadores de 1998, a Copa Mercosul de 2000, 3 campeonatos brasileiros, 7 Campeonatos Cariocas; no basquete, o Vasco venceu por 2 vezes a Liga Sul-Americana e também 2 vezes o Campeonato Sul-Americano; no remo, foi campeão tricampeão estadual. Mas desde meados da década de 70, quem manda mesmo no clube é Eurico Miranda.

● Poucos se lembram, mas Eurico Miranda foi um dos principais articuladores na “virada de mesa” que resultou na Copa João Havelange. Devido a demandas jurídicas de clubes, que atrapalhavam a configuração do Campeonato Brasileiro de 2000, a CBF entregou sua organização para o Clube dos 13, que, dentre outras barbáries, catapultou o Fluminense campeão da Série C, direto pra Série A. O campeonato teve seu formato diferente do praticado nos últimos anos e foi dividido em módulos. Os 116 clubes ficaram distribuídos em quatro módulos: azul (25 equipes, equivalente à Série A), amarelo (36 times, equivalentes à Série B), verde (28 clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste) e branco (27 equipes do Sul e do Sudeste do Brasil). Para a fase final, se classificariam os 12 melhores do turno simples do módulo azul; o campeão, vice e o 3º colocado do módulo amarelo e o campeão dos módulos verde e branco. Após os playoffs, chegaram na final o Vasco e o São Caetano (vice-campeão do módulo amarelo).

● Após empate em 1 a 1 no primeiro encontro, ocorreu no dia 30/12/2000 o segundo jogo da final da Copa João Havelange. A partida deveria ser no Maracanã, mas por influência de Eurico, foi pra São Januário. Porém, a partida foi interrompida após a queda de um alambrado, que deixou 168 torcedores feridos. Galvão Bueno, transmitindo a final e as ocorrências pela TV Globo, a todo tempo se mostrava parcial, inclusive pedindo ao vivo para que o então governador do estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, intervisse para que o jogo fosse suspenso (o que foi feito). A final foi mesmo interrompida pelo árbitro Oscar Roberto Godói e posteriormente remarcada. Com o jogo encerrado, mesmo com os feridos sendo atendidos dentro do campo, Eurico insistia que os jogadores pegassem a taça e comemorassem, já que o 0 x 0 lhes dariam o título. Mas como vingança contra a Globo, no novo jogo da final, em 18/01/2001, o Vasco entrou com a camiseta com a logomarca do SBT sem receber nada pela propaganda, mas também sem autorização da emissora (já que a Anatel proíbe anúncios de canais de TV em patrocínios esportivos). Calçada disse que era uma homenagem ao amigo Silvio Santos. Eurico justificou o uso da marca: “Tendo sido caluniado, quis o Vasco homenagear quem não o caluniou. Tendo sido vítima de uma odiosa campanha de perseguição, a partir da desinformação e até mesmo da edição de imagens, quis o Vasco homenagear quem dá à opinião pública a verdade dos fatos para que ela os julgue”. No fim, o Vasco venceu o valente São Caetano por 3 a 1, dessa vez no Maracanã, em um dos momentos mais bizarros da história recente, quando fez a Globo transmitir ao vivo por 90 minutos a logo do SBT.

(Imagem: One Football)

Sonho de aniversário

Sonhei com meu pai, em um sonho maluco em que assistíamos futebol. Ganhei meu presente de aniversário.

Nessa última noite, quando completei mais um ano de vida, com a cabeça cansada desses últimos dias difíceis, eu tive um sonho realmente biruta. Eu assistia à semifinal do Campeonato Mundial Interclubes.

No dia 29/12 eu escrevi no blog Três Pontos sobre o Steaua București, o primeiro campeão da UEFA Champions League situado no leste europeu. Como eu disse no texto, o Ministério da Defesa da Romênia quer impedir o atual dono do clube, o maluco Gigi Becali, de utilizar o nome, escudo e qualquer coisa que lembre o time, que foi fundado pelas Forças Armadas. Assim, não existirá mais o Steaua, mas ficará a história.

Incrivelmente, neste sonho, o campeão da Libertadores (que não lembro quem era) tinha perdido na semifinal para o Auckland City, da Nova Zelândia (!). O fraco time da Oceania estava na final e esperava o vencedor do outro lado da chave. O campeão da UEFA Champions League tinha desistido de participar do torneio e, assim, quem o substituiu não foi o vice, mas o campeão da Europa League (segundo torneio mais importante do Velho Continente), que foi o romeno Cluj. O Mundial foi realizado na própria Romênia e uma vaga era do campeão nacional, o Steaua.

O problema é que esse episódio envolvendo as Forças Armadas e o Steaua București impediu o clube de ter um time de futebol. Assim, uma equipe de futsal com esse nome foi criado e foi para o Mundial. Em cada jogo, o adversário deveria jogar futsal ao invés de futebol (!!! – tudo é possível nos sonhos).

Me lembro de estar assistindo a essa semifinal com o clássico romeno e pegar no sono quando o Steaua vencia por 1 a 0. Ao acordar já era o segundo tempo e o Cluj havia empatado. Virei para o lado e vi meu pai (que há mais de oito anos foi morar no céu). Ficamos conversando, já que estávamos torcendo para o Steaua, quando um brasileiro que jogava no Cluj acertou a trave em uma cobrança rápida de falta. Jogo empatado e, nos pênaltis, vitória do “nosso” time, que era praticamente campeão mundial, pois iria enfrentar um time amador na final. O último pênalti foi cobrado por um filho da lenda Gheorghe Hagi, maior craque da história do futebol da Romênia (ao acordar pesquisei e vi que ele realmente tem um filho jogador, Ianis Hagi, 18 anos, que atua na Fiorentina).

Acordei e rapidamente recordei uma conversa que tivemos certa vez: “Pai, o Hagi era realmente tão bom assim quanto dizem?”

Ele respondeu: “Mais ainda. Um dos melhores jogadores que já vi.”

Me deu ainda mais saudade do meu pai.


(Foto de 1987, eu e meu pai)

Originalmente publicado em meu perfil pessoal no Facebook.

… Marcelo Salas, “El Matador”

Três pontos sobre…
… Marcelo Salas, “El Matador”


(Imagem: Alchetron)

● José Marcelo Salas Melinao nasceu em 24/12/1974 na cidade de Temuco. Ainda criança, começou nas divisões de base do Temuco Santos FC e aos 17 anos foi mostrar seu talento na Universidad de Chile. Estreou pelo time principal em 10/04/1993, contra o Colchagua pela Copa do Chile. Em 1994, marcano 18 gols em 25 jogos da liga chilena. Jogou no clube até 1996 com um total de 50 gols em 77 partidas, se sagrando bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995. Nas semifinais da Copa Libertadores da América de 1996, não bastasse “La U” ter sido eliminada pelo River Plate, os “Millonarios” também levaram Salas, por 3,5 milhões de dólares. “El Matador” chegou após o River ter conquistado a Libertadores, para substituir Hernán Crespo. Apesar de ser uma tarefa muy difícil, mesmo com críticas no início (já que nunca um jogador chileno tinha se destacado na Argentina), Salas conquistou três campeonatos argentinos e a Supercopa da Libertadores em 1997, além de ter sido eleito o melhor jogador da América do Sul no mesmo ano. Em 53 jogos, foram 24 tentos anotados.

Após a Copa do Mundo de 1998, onde se destacou, foi ser destaque também no continente europeu. Em 13/09/1998, fez sua estreia na Lazio pela Serie A, no empate em 1 x 1 com a Piacenza. Foram três anos de intenso brilho na melhor Lazio de todos os tempos, com um Scudetto, uma Coppa Italia, duas Supercopas italianas, uma Recopa Europeia e fazendo o gol do título da Supercopa Europeia. É considerado um dos maiores ídolos do time, tendo anotado 34 gols nas 79 partidas disputadas. Em 17/08/2001 foi comprado pela poderosa Juventus. Mas em 20/10, em Bolonha, sofreu a primeira de uma série de lesões que atrapalhou sua passagem pela “Vecchia Signora”. Com uma entorse no joelho direito e lesão do ligamento cruzado anterior, ficou fora do restante da temporada, em que sua equipe se sagrou campeã italiana. Voltou a campo no ano seguinte e conquistou outro Scudetto e a Supercopa da Itália. Encerrou sua passagem na Juve com apenas dois gols em 18 jogos.

Para 2003/04, voltou por empréstimo ao River Plate, onde jogou por dois anos, fazendo apenas 32 jogos e 10 gols. Conquistou o Clausura de 2004 e chegou nas semifinais da Copa Libertadores de 2005, mas sem sucesso. No meio do ano de 2005, acertou seu retorno à Universidad de Chile. Nessa nova passagem, entre idas e vindas, incluindo seis meses parado, fez 35 gols em 74 partidas. Encerrou a carreira de vez em 25/11/2008.

● Estreou na seleção principal do Chile em 18/05/1994, no Estádio Nacional do Chile, contra a Argentina de Diego Armando Maradona, entrando no segundo tempo e marcando um gol no empate por 3 a 3.

A partir de então, formou a implacável dupla “Sa-Za”, entre ele, Salas, e Iván “Bam-Bam” Zamorano, que liderou o Chile nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Antes da Copa, em 11/02/1998, fez os gols da vitória por 2 x 0 em um amistoso com a Inglaterra, em um Wembley com 65.000 pessoas.

Salas disputou uma única Copa, a de 1998, mas não fez feio e foi o 3º maior artilheiro do torneio, com quatro gols anotados (dois na Itália, um na Áustria e um contra o Brasil).

Após um longo período de ausência da seleção e algumas partidas intermitentes, é convocado novamente pelo técnico Marcelo “El Loco” Bielsa, inclusive para as eliminatórias para a Copa de 2010, quando marcou dois gols em um empate por 2 a 2 contra o Uruguai. Não disputou a Copa porque encerrou a carreira dois anos antes. É o recordista de gols pela seleção do Chile, com 37 marcados em 70 partidas disputadas.

Marcelo Salas foi campeão por todas as equipes pelas quais passou, seja no Chile, na Argentina ou na Itália. Em 509 jogos oficiais, fez 245 gols (média de 0,48). Após pendurar as chuteiras, “El Matador” se tornou patrono, diretor esportivo e presidente do Club de Deportes Temuco, que disputa atualmente a primeira divisão do futebol chileno.

(Imagem: Calciopédia)

Feitos e premiações de Marcelo Salas:

Pela Seleção do Chile:
– Campeão da Copa Canadá em 1995.

Pela Universidad de Chile:
– Bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995.

Pelo River Plate (Argentina):
– Campeão da Supercopa da Libertadores em 1997.
– Campeão do Campeonato Argentino em 1996 (Apertura) 1997 (Apertura e Clausura) e 2004 (Clausura)

Pela Lazio:
– Campeão da Supercopa Europeia em 1999.
– Campeão da Recopa Europeia em 1998/99.
– Campeão do Campeonato Italiano em 1999/2000.
– Campeão da Coppa Italia em 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Itália em 1998 e 2000.
– Campeão da Taça de Amsterdã em 1999.

Pela Juventus:
– Bicampeão do Campeonato Italiano em 2001/02 e 2002/03.
– Bicampeão da Supercopa da Itália em 2001/02 e 2002/03.

Distinções e premiações individuais:
– Maior artilheiro da história da seleção do Chile, com 37 gols.
– Artilheiro da Copa do Chile em 1994 (12 gols).
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1996.
– Eleito o melhor jogador do futebol argentino pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito o melhor jogador do futebol sul-americano pelo jornal El País em 1997.
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1997.
– Eleito melhor esportista do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1998.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1998.
– Artilheiro da Lazio na temporada 1998/99 com 11 gols.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1999.
– Eleito o 32º melhor jogador sul-americano do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 2º melhor jogador chileno do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 7º melhor jogador sul-americano canhoto da história pela revista Bleacher Report em 2013.
– Laureado com o prêmio “Filho Ilustre de Temuco” em 2008.

… Sir Alex Ferguson: um centroavante de respeito

Três pontos sobre…
… Sir Alex Ferguson: um centroavante de respeito


(Imagem: Verminosos Por Futebol)

● O melhor técnico de futebol da história também foi um centroavante implacável.

Alexander Chapman Ferguson nasceu em Glasgow, mas cresceu na cidade de Govan, mais ao sudoeste. Iniciou sua carreira no Queen’s Park, clube de sua cidade natal. Jogando como atacante, fez sua estreia no time de cima aos 16 anos, jogando como atacante e inclusive fazendo um dos gols na vitória de sua equipe sobre o Stranraer por 2 a 1. Como o clube era amador, ele também trabalhou nos estaleiros de River Clyde, como aprendiz de ferramenteiro e depois como vendedor na loja do sindicato.

O jogo que mais o marcou pelo Queen’s Park foi a goleada sofrida para o Queen of the South por 7 a 1 fora de casa em 1959. Encerrou sua passagem pelo clube com 20 gols em 31 jogos, onde atuou de 1957 a 1960.

Se transferiu para o St. Johnstone em 1960, ficando até 1964 e, mesmo marcando gols regularmente, não conseguia manter a titularidade e teve sua transferência solicitada por várias vezes. Mesmo com o clube liberando sua saída (Fergusou cogitou até ir para o Canadá), o técnico o relacionou para uma partida contra o Rangers, na qual ele marcou um hat-trick em uma vitória surpreendente sobre o gigante.

● No verão de 1964, Ferguson se tornou jogador profissional em tempo integral, assinando com o Dunfermline. Seu novo clube lutou bravamente pelo título da Liga Escocesa da temporada 1964/65, mas ficou um ponto atrás do Kilmarnock. Na final da Copa da Escócia, perdeu pro Celtic por 3 a 2. Já na temporada seguinte, 1965/66, Ferguson terminou com 45 gols em 51 jogos, dividindo a artilharia da Liga com Joe McBride, do Celtic, com 31 gols. Deixou o Dunfermline com 66 tentos anotados em 89 partidas.

Foi contratado pelo gigante Rangers em 1967, por £ 65.000, um valor recorde para transferências entre dois clubes escoceses. Jogou no clube entre 1967 e 1969, com 41 jogos e 25 gols. Mas mesmo com esse bom número, Alex Ferguson foi um fracasso no clube de Glasgow. Foi considerado responsável pelo gol sofrido na final da Copa da Escócia de 1969, em um jogo no qual foi orientado a marcar Billy McNeill, capitão do rival Celtic. Assim, foi despromovido para jogar ao lado dos juniores até o fim de seu contrato. Mas ele afirma que não foi esse o motivo. O fato causador de discórdias teria sido seu casamento com uma católica, Cathy, em uma rivalidade religiosa que transcende o clássico entre Rangers (protestante) x Celtic (católico).

Em outubro de 1969, o Nottingham Forest de interessa pelo seu futebol, mas a esposa Kathy não estava disposta a se mudar para a Inglaterra naquele momento. Assim, assinou com o Falkirk, onde se tornou jogador-treinador em por um tempo, no ano de 1973. Assim que contrataram o novo técnico, John Prentice, Ferguson voltou a ser apenas jogador e não gostou, pedindo para ser transferido. Saiu do clube com 36 gols em 95 jogos e foi para o Ayr United (9 gols em 24 partidas, em apenas uma temporada).

● Ferguson encerrou a carreira como jogador aos 32 anos de idade e 181 gols marcados em 326 jogos. Pela seleção da Escócia, fez 9 gols em apenas 7 partidas amistosas em 1967.

Começou a prodigiosa carreira de técnico ainda em 1974, no modestíssimo East Stirlingshire (que nem goleiro tinha). A evolução do time e a já existente fama de disciplinador, fez outros clubes querer contratá-lo. Apesar de ser fiel ao East Stirlingshire, aceitou a proposta do St. Mirren após conselhos da lenda Jock Stein, ainda em 1974. Ficou no clube até 1978, inclusive promovendo o time à primeira divisão em 1977. Mas desacordos com o presidente o levaram a perder o emprego. Foi o único clube do qual saiu demitido. Depois, se tornou treinador do Aberdeen (1978-1986), seleção da Escócia (1985-1986) e Manchester United (1986-2013), se consagrando como um mito, o maior técnico de futebol de todos os tempos. Em 1999 se tornou Cavaleiro do Império Britânico, Sir Alex Ferguson.


(Imagem: Daily Mail)

… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé

Três pontos sobre…
… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé


(Imagem localizada no Google)

● Jogavam na segunda rodada da primeira fase da Copa do Mundo de 1970 os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, praticamente parando no ar e impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

“Quando o Jairzinho cruzou, eu estava voltando em direção ao meio do gol. Ao ver a trajetória da bola, tive certeza que ninguém alcançaria. Foi aí que vi Pelé, saltando de uma maneira impressionante para alcançar a bola.” — Gordon Banks.

“Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trava e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, tive de pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Achei que tinha sido gol, que tinha entrado no ângulo. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem.” — Gordon Banks .

“Banks foi o melhor goleiro da Copa de 1970 e talvez o melhor entre todos os jogadores de defesa.” — Pelé.

(Imagem: Lance!)

● Foram poucos os goleiros na história a se tornarem lendas, a ponto de serem chamados de craques, mas Banks certamente é um deles. Alto (1,88 m) e atlético, nasceu em Sheffield, no dia 30/12/1937. Começou sua carreira já tardiamente, com 19 anos, mas impressionando, sendo um dos destaques do Chesterfield, que perdeu na final da FA Youth Cup de 1956 para os “Busby Babes” do Man. Utd. Já em 1959, foi para o Leicester por £7.000. Nos “Foxes”, esperou com calma a sua chance e a agarrou quando apareceu. Em oito anos, foram 356 partidas. Em 1967, estava prestes a perder a titularidade no Leicester para o jovem Peter Shilton (outra lenda) e preferiu se transferir ao Stoke City. No Stoke, venceu apenas a Copa da Liga de 1972. Passou também por outros clubes, em empréstimos relâmpagos, mas sem maiores destaques: Cleveland Stokers (EUA, em 1967), Hellenic (África do Sul, em 1971) e St Patrick’s Athletic (Irlanda, em 1977).

Disputou seu primeiro jogo pela seleção inglesa em 1963, contra a Escócia. Foi o goleiro titular da Inglaterra campeã em casa na Copa do Mundo de 1966, com um time contestado, mas muito bom. No torneio, só foi sofrer o primeiro gol na quinta partida, na semifinal contra Portugal, em um pênalti convertido pelo craque Eusébio (442 minutos sem ser vazado). Na final, na vitória por 4 x 2 na prorrogação, não teve culpa em nenhum dos gols da Alemanha Ocidental. Na Copa seguinte, em 1970, mesmo contestado e em má fase, foi o titular de sua seleção, inclusive fazendo a “defesa do século” na cabeçada de Pelé. Mas estranhamente foi acometido pelo “Mal de Montezuma”, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Mesmo com os ingleses levando quilos de comidas e até água para consumo no México, o goleiro não conseguiu entrar em campo nas quartas de final contra a rival Alemanha Ocidental, por causa de uma diarreia. Sem ele, os ingleses perderam por 3 a 2 de virada e foram eliminados. Pelo English Team, entre 1963 e 1972, foram 73 partidas disputadas, com apenas nove derrotas e sofrendo apenas 57 gols (em 35 jogos não foi vazado). Virou algo comum na Inglaterra o apelido “Banks of England quando alguém se referia ao goleiro. A segurança do camisa 1 era comparada aos bancos do país.

Mas em outubro de 1972, Banks dirigia seu Ford Granada e tentou fazer uma curva acentuada, quando bateu de frente com um Austin A60. Acordou no hospital com mais de 200 pontos no rosto e sem a visão do olho direito, que não resistiu à gravidade do choque. Sem a visão de um olho, seus movimentos e reflexos se foram, assim como sua posição na seleção e em seu clube. Não houve outro jeito a não ser anunciar a aposentadoria em 1973, aos 35 anos.

Tempos depois, em 1977, aceitou o desafio de jogar nos Estados Unidos, no Fort Lauderdale Strikers, mas suas dificuldades na visão foram aumentando. Mesmo com um olho só, foi o melhor goleiro do campeonato. Decidiu pendurar as chuteiras e as luvas em 1978, sem ter defendido nenhuma grande equipe do futebol inglês e com raros títulos no currículo. Ironicamente, Peter Shilton sucedeu Gordon Banks no gol do Leicester City (1967), do Stoke City (1974) e da seleção inglesa (1972), mas não nos corações dos amantes do futebol.

Feitos e premiações de Gordon Banks:

Pela seleção da Inglaterra:
– Campeão da Copa do Mundo de 1966.
– 3º lugar na Eurocopa de 1968.
– Campeão do Campeonato Britânico de Seleções (British Home Championship) em 1964 (título dividido com Escócia e Irlanda do Norte), 1965, 1966, 1968, 1969, 1970 (título dividido com Escócia e País de Gales), 1971 e 1972.

Pelo Chesterfield:
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra de Juniores (FA Youth Cup) em 1955/56.

Pelo Leicester City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1963/64.
– Vice-campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1964/65.
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra (FA Cup) em 1960/61 e 1962/63.

Pelo Stoke City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1971/72.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o goleiro do ano pela FIFA em 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1966.
– Eleito o esportista do ano pelo jornal Daily Express em 1971 e 1972.
– Eleito o jogador do ano na Inglaterra pelos jornalistas em 1972.
– Eleito para o All-Star Team da NASL em 1977.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Eleito o 21º maior jogador do século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 2º maior goleiro do século XX pela IFFHS.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 14º maior jogador da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– Eleito para a seleção do século (1907-1976) pelos jogadores ingleses em 2007.
– Eleito para a lista dos 100 + do futebol inglês (Football League 100 Legends) em 1973.
– Membro do Hall da Fama do futebol inglês desde 2002.
– Membro da Ordem do Império Britânico (OBE – Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico) desde 1970.

(Imagem: PA Images / Getty Images)

Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006. p. 160.

Esse também foi o título de sua primeira autobiografia, publicada em 1980.

… Steaua București: o campeão europeu de 1986 que pode deixar de existir

Três pontos sobre…
… Steaua București: o campeão europeu de 1986 que pode deixar de existir


(Imagem: Imortais do Futebol)

● A temporada 1985/86 da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) contou com 31 clubes, um a menos em relação ao normal, pois a Inglaterra estava punida pelo desastre de Heysel, no ano anterior. Assim, o Everton, campeão inglês, não pode disputar a competição devido à proibição da UEFA.

Enquanto gigantes como Juventus, Bayern de Munique, Barcelona e Porto se degladiavam entre si, o Steua (estrela, no idioma romeno) teve muita sorte nos sorteios dos chaveamentos. Passou pela primeira fase com um placar agregado de 5 a 2 sobre o Vejle, da Dinamarca. Nas oitavas de final, apesar do susto e derrota por 1 a 0 no primeiro jogo, goleou o Budapest Honvéd por 4 a 1 em casa e passou de fase. Nas quartas, foram jogos duríssimos, com um empate sem gols e uma vitória fora de casa por 1 a 0 contra o Kuusysi (atual FC Lahti) da Finlândia. Nas semifinais, a derrota por 1 a 0 e goleada por 3 a 0 sobre o forte Anderlecht, da Bélgica, do craque Enzo Scifo, credenciaram o campeão romeno para uma inédita final.

07/05/1985 era o dia mais importante da história da Romênia (talvez até extrapolando o futebol). O Steaua București enfrentou o todo poderoso Barcelona (que, na verdade, tinha um time horrível) na decisão, no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, em Sevilha. Mesmo jogando em seu país, com mais de 50 mil catalães nas arquibancadas, o Barcelona ficou nas mãos do goleiro adversário. Helmuth Ducadam parou o Barça tanto no tempo normal, quanto na prorrogação e especialmente nos pênaltis, quando defendeu quatro pênaltis, de: José Ramón Alexanko, Ángel Pedraza, Pichi Alonso e Marcos Alonso. Os romenos também não cobraram bem, perdendo os dois primeiros com Majaru e Bölöni, mas convertendo com Lăcătuş e Balint. Foi preciso 120 minutos de jogo e 5 pênaltis até que a rede balançasse nesta final. Foi o primeiro título da maior competição continental conquistada por um clube do Leste Europeu. Duckadam se tornou o “Herói de Sevilla”.

Na grande final, o time campeão formou com:
Helmuth Duckadam; Ştefan Iovan (C), Adrian Bumbescu, Miodrag Belodedici e Ilie Bărbulescu; Mihail Majearu, Lucian Bălan (Anghel Iordănescu), László Bölöni e Gavril Balint; Marius Lăcătuş e Victor Piţurcă (Marin Radu). Técnico: Emerich Jenei.

(Imagem: Imortais do Futebol)

● Dentre nomes de peso na história do futebol local (como Iordănescu, Bölöni, Lăcătuş e Piţurcă), merece destaque o zagueiro Belodedici, que em 1991 se tornaria o primeiro jogador a vencer o maior torneio da Europa por dois clubes diferentes e o único a vencer por dois clubes do Leste Europeu (marca que dificilmente será batida em um futuro próximo).

Mas o grande herói do título foi mesmo o goleiro Duckadam, que defendeu os quatro pênaltis na final. Oitavo lugar no prêmio Bola de Ouro da revista France Football em 1986, infelizmente ele teria que encerrar a carreira com apenas 27 anos, nas semanas seguintes ao título. A versão oficial é que o jogador havia sofrido graves problemas circulatórios (alguns falam em trombose, outros em aneurisma), paralisando temporariamente o lado direito do seu corpo. Mas sempre circularam comentários que o motivo de seus problemas físicos seria outro. Pela sua façanha em campo, impedindo o primeiro título europeu do Barcelona, o presidente do Real Madrid, Ramón Mendoza, teria presenteado o goleiro com um automóvel Mercedes-Benz. Ao retornar à Romênia, foi intimado por Valentin Ceausescu (filho do ditador Nicolae Ceaucescu) a lhe dar o carro. O goleiro teria se recusado e, pela sua negativa, teria sido baleado no braço pela Securitatea (polícia comunista romena), perdendo parte dos movimentos. Posteriormente e já aposentado, Duckadam afirmava que o problema teria sido causado por um acidente doméstico, mas ainda hoje sempre se contradiz com versões diferentes para seu problema físico.

(Imagem: Getty Images / UEFA)

● Mas a equipe que já era boa, se tornou imbatível com a chegada do gênio Gheorghe Hagi. Esse mesmo time base conseguiu outros feitos: campeão da Supercopa da Europa em 1986, tetracampeão romeno (1985/86, 1986/87, 1987/88 e 1988/89, sendo os três últimos títulos invictos), tricampeão invicto da Copa da Romênia (entre 1987 e 1989), além de estabelecer o recorde de partidas invictas em seu país, com 119, entre junho de 1986 a setembro de 1989. Na temporada 1987/88 o Steaua quase chegou a outra final, perdendo nas semifinais para o Benfica (que, por sua vez, perderia para o PSV na decisão). Já na temporada seguinte, o time conseguiu esse feito, mas foi impiedosamente goleada pelo excepcional Milan por 4 a 0.

Com a Revolução Romena pelo fim do regime comunista de Nicolae Ceausescu, com mais de mil mortos, a abertura do mercado também no futebol impediu ao Steaua que mantivesse seus jogadores e, com a evasão em massa, nunca mais conseguiu reunir tantos bons nomes em uma só equipe local.

Mesmo assim, o clube continuou dominante em seu país, mas sem expandir novamente suas glórias para o continente. Em 2001, o Ministério da Defesa da Romênia entrou com uma ação para impedir Gigi Becali, o (maluco) presidente e proprietário atual do clube de continuar utilizando qualquer referência ao clube criado pelas Forças Armadas. Depois de derrotas judiciais nas duas primeiras instâncias, Gigi Becali deve recorrer à Suprema Corte do país. Mesmo que o clube desapareça, jamais serão esquecidas as façanhas do grande Steaua București.

… Berti Vogts: o homem-carrapato

Três pontos sobre…
… Berti Vogts: o homem-carrapato


(Imagem: World Football)

● Final da Copa do Mundo de 1974, em Berlim. A anfitriã Alemanha Ocidental enfrentava a Holanda, que estava surpreendendo e encantando o mundo com o seu jogo dinâmico. Assim que foi dada a saída de jogo, o “Carrossel Holandês” começou a girar e tocou na bola ininterruptamente 36 vezes, com 17 troca de passes entre os jogadores. Todos estavam acima da linha do meio do campo, onde Johan Cruijff recebeu a bola. O maestro arrancou, passou pelo seu marcador e por outros três jogadores até sofrer o pênalti, bem convertido por Johan Neeskens. A Alemanha Ocidental nem tinha tocado na bola e já perdia a final em casa por 1 a 0, com um minuto e 20 segundos de jogo. Foi o início mais extraordinário de uma final de Copa. Os alemães estavam em choque, tanto a torcida quanto os jogadores. Aos 4 minutos de jogo, Cruijff arranca novamente e é derrubado pelo seu marcador, que leva o cartão amarelo e tem que jogar o resto da final pendurado.

Só que esse não era qualquer marcador. Berti Vogts, o “Tigre Loiro”, tinha um papel fundamental. O técnico Helmut Schön desprezou a marcação por zona e escalou o lateral direito, nº 2, Vogts, como um cão de guarda permanente em cima de Cruijff. Ele desempenhou esse papel muito bem, isolando o holandês da zona de perigo.

No fim do primeiro tempo, em um rápido contra-ataque, Bernd Hölzenbein lança Vogts sozinho na cara do gol, mas o excêntrico goleiro Jan Jongbloed salvou de forma brilhante. A Alemanha empataria com Paul Breitner cobrando pênalti e viraria com Gerd Müller. Mas Vogts foi o melhor em campo e quase também fez o gol do título. O foco da batalha seguia entre ele e o camisa 14 laranja. Ele já tinha marcado Crujff outras vezes e o gênio holandês foi ficando muito irritado com a marcação individual do “Buldogue Alemão”, reclamando muito com a arbitragem, a tal ponto de ter levado o cartão amarelo no intervalo e quase sendo expulso depois por divididas desleais. Dizem as más línguas, que Vogts seguiu Cruijff para o vestiário adversário, como gêmeos siameses.

● Mas ele não era só isso. Hans-Hubert Vogts nasceu em Büttgen, na Alemanha, em 30/12/1946. O baixinho (1,68 m) fez história nos tempos áureos do Borussia Mönchengladbach, onde atuou por toda a carreira, de 1965 a 1979, em 419 partidas (é quem mais jogou com a camisa dos “Potros”, apelido do Gladbach), anotando 32 gols. Era um incansável lateral direito, que sabia apoiar o ataque com qualidade, mas seu forte mesmo era a marcação. Talvez tenha sido o maior marcador que o futebol já tenha visto. Era um dos destaques do Gladbach quando o time conquistou a Bundesliga por cinco vezes e a Copa da UEFA por duas vezes. Chegou à final da UEFA Champions League de 1977, mas sua equipe foi incapaz de vencer o Liverpool.

Jogou 96 partidas e marcou um gol pela Alemanha Ocidental. Era um dos favoritos da torcida pela dedicação, sempre lutando pela bola como se fosse seus últimos instantes de vida. Como falamos no início do texto, “colocou Cruijff no bolso” na final da Copa de 74, quando foi campeão. Também conquistou a Euro 72. Após Franz Beckenbauer se retirar da seleção, Vogts se tornou o capitão por 20 jogos, inclusive na Copa de 78.

Após encerrar a carreira, se tornou técnico da seleção sub-21 da Alemanha Ocidental, onde ficou até 1990. A partir de 1986, se tornou auxiliar técnico de Franz Beckenbauer na seleção principal. A partir de 1990, ele assumiu como treinador, levando seu país a ser vice-campeão da Eurocopa de 1992 e campeão da Euro 96. Não teve sucesso nas Copas do Mundo de 1994 e 1998, quando caiu nas quartas de final em ambas. Deixou a seleção em setembro de 1998.

Passou pelo Bayer Leverkusen entre novembro de 2000 e maio de 2001, mas foi demitido. Em agosto de 2001 assinou como técnico do Kuwait, onde ficou apenas seis meses e saiu para assumir a seleção da Escócia, durando até 2006. Treinou a seleção da Nigéria entre 2007 e 2008 e a seleção do Azerbaijão entre 2008 e 2014, também sem nenhum sucesso. Foi auxiliar técnico de Jürgen Klinsmann na seleção dos Estados Unidos de março de 2015 até novembro de 2016.

Feitos e premiações de Berti Vogts:

Como jogador, pela Seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo de 1974.
– Campeão da Eurocopa de 1972.
– Vice-campeão da Eurocopa de 1976.
– 3º lugar na Copa do Mundo de 1970.

Como jogador, pelo Borussia Mönchengladbach:
– Campeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1969/70, 1970/71, 1974/75, 1975/76 e 1976/77.
– Campeão da Copa da UEFA em 1974/75 e 1978/79.
– Campeão da Copa da Alemanha em 1972/73.

Como auxiliar técnico, pela Seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo de 1990.

Como técnico, pela Seleção da Alemanha:
– Campeão da Eurocopa de 1996.
– Vice-campeão da Eurocopa de 1992.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o jogador alemão do ano em 1971 e 1979.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1974 e 1978.
– Eleito para a Seleção do Campeonato Alemão por 11 vezes entre 1968 e 1978.
– Eleito melhor técnico do mundo pela revista World Soccer em 1996.
– Eleito o homem do ano no futebol alemão em 1995.
– Premiado com o “Bundesverdienstkreuz 1. Klasse” (algo como “Ordem do Mérito de 1ª Classe”, em tradução livre) em 1996, máxima homenagem concedida pelo governo alemão.
– Premiado com o “Silbernes Lorbeerblatt” (algo como “Prêmio da Folha Prateada”, em tradução livre) em 1994, máximo prêmio esportivo conferido pelo governo alemão.

… “Futebol Contra a Fome” 2016, em Uberlândia

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… “Futebol Contra a Fome” 2016, em Uberlândia

● Acho muito divertidos esses “jogos das estrelas” em que se misturam artistas da bola, do palco e até anônimos, com o intuito de se divertirem no fim do ano, divertir o público, mas, principalmente, pelo foco social. Nesta segunda-feira, 26/12/2016, no Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia, foram 32 mil torcedores, arrecadando 70 toneladas de alimentos não perecíveis, que serão doadas a 80 instituições beneficentes da região.

● Em uma festa linda do futebol, realizei sonhos. Mesmo sendo brincadeira, todos jogando sem qualquer responsabilidade, apenas por prazer, vi em campo ídolos mundiais: Roberto Carlos, Neymar Jr., Denílson, Nenê, Junior Baiano, Edílson, Amaral, Edmílson, Elano, Emerson Sheik, Ascelino Popó, Gabriel Medina, dentre outros. O placar mesmo deu a entender que tudo era zoeira: 14 x 13. Amaral, ex-volante (e cheio de histórias pra contar), defendia sozinho no time branco. Mesmo com o time branco (de Alexandre Pires) sendo mais forte, com Neymar e Denílson, no início do segundo tempo o time vermelho (de Fernando Pires), com Nenê, chegou a estar vencendo por 10 a 5. Mas Neymar Jr. e Emerson Sheik não gostam de perder nem em peladas e viraram o jogo. No fim, uma festa total.

● Mas o momento mais inesquecível foi a entrada em campo de Zico, mesmo sem jogar. A galera gritando “Zico! Zico! Zico!” me fez imaginar dentro da torcida do Flamengo, 35 anos atrás, quando ele liderava o rubro-negro ao título mundial. Mesmo de longe, com uma visão até ruim, é um sonho, uma honra inenarrável estar a poucos metros de Zico. Mesmo com quase 64 anos e mesmo que ele não jogue mais em alto nível há quase trinta anos, é um ídolo mundial, não só do futebol. É uma celebridade única, querido e amado até pelos vascaínos, botafoguenses e tricolores, a quem ele tanto castigava. Era e é impossível odiar Zico. Ele que fazia o brasileiro sonhar, agradecer a Deus por ser brasileiro. Em 90 minutos, Zico fazia o povo esquecer das misérias, do desemprego, da ditadura militar e sua repressão, dos planos econômicos falhos… Ídolo único, fantástico, o melhor jogador brasileiro desde Pelé. Como dizia o sábio Armando Nogueira: “Se Zico não venceu a Copa, azar da Copa.” Ele não precisou jogar com muitas camisas para ser ídolo de todas.

… FC Santa Claus: o time de futebol do Papai Noel

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… FC Santa Claus: o time de futebol do Papai Noel


(Imagem: http://www.fcsantaclaus.fi/)

● Papai Noel existe? Claro que sim. E tem até um time. A lenda do Papai Noel é baseada em São Nicolau, que viveu no século IV. Seu auxílio aos necessitados deu origem à história do velhinho que presenteava crianças. No século XIX, um poema americano dava conta de que Nicolau vivia no Polo Norte e vestia roupa vermelha. A Finlândia então abraçou a tradição e construiu um parque em Rovaniemi, onde mora o velhinho que dá vida ao personagem. É para lá onde vão milhões de cartas enviadas aos correios de todo o mundo. O local tem renas, elfos e um correio para receber as cartas com pedidos de presente de Natal. Por ano, são 500 mil visitantes. Por marketing, o FC Santa Claus adotou o nome com o qual Papai Noel é conhecido nos Estados Unidos, ao invés da versão finlandesa, Joulupukki. Por vezes o próprio velhinho é um dos torcedores na arquibancada.

● O FC Santa Claus Arctic Circle é um clube de futebol situado na cidade de Rovaniemi (65 mil habitantes), capital da Lapônia, na Finlândia. Foi fundado em 1993 pela fusão de dois clubes: Rovaniemen Reipas e Rovaniemen Lappi. É mais conhecido como time do Papai Noel (Santa Claus). A equipe manda suas partidas em dois estádios: no “Saarenkylän tekonurmi” e no “Susivoudin kenttä”, ambos em Rovaniemi, com capacidade para 2.000 e 4.000 torcedores, respectivamente. O uniforme principal é totalmente vermelho, enquanto o reserva é totalmente branco. O maior foco do FC Santa Claus é formar jogadores para o RoPS, time maior da cidade, que disputa a primeira divisão do país. Por isso, os atletas do “Santa” têm na sua maioria entre 16 e 24 anos, mantendo sempre uma média de idade baixíssima (a da última temporada foi 22,3).

(Imagem: http://www.fcsantaclaus.fi/)

● Uma curiosidade recente e trágica para o clube foi a derrota vexaminosa por 16 a 0 para o Kajaani na 21º rodada da terceira divisão do campeonato finlandês de 2016. O “Santa” era o vice-lanterna e enfrentaria o terceiro colocado e, do plantel de 24 jogadores, apenas 11 estavam disponíveis para formar o time, sendo que três deles eram goleiros. Assim, Juhani Kangas jogou no gol, enquanto Joonas Haapasaari e Harri Nykänen jogaram na linha. Foi um vexame para um time que já estava rebaixado.

Em toda sua história, disputou 12 temporadas na terceira divisão (Kakkonen) e 10 na quarta (Kolmonen). Agora, o clube se reestrutura novamente na quarta. É importante frisar que a divisão principal do Campeonato Finlandês é amadora, ou seja, a maioria dos atletas não vivem apenas da prática do esporte, tendo outro emprego que os sustente, imaginem a quarta divisão?! O Santa Claus até tem uma certa facilidade para conseguir parceiros comerciais, mesmo atuando em nível futebolístico pífio. Pela inusitada associação com o “Bom Velhinho”, o clube tem um alcance enorme em comparação até com times médios de outros centros do continente. Tanto, que em 2015 teve a EA Sports (produtora dos games FIFA) como patrocinadora e a Puma como fornecedora de materiais esportivos. Em 2016, o patrocínio foi da empresa chinesa BeWin Sports e os materiais fornecidos pela Nike. Todos esperamos dias melhoras para o FC Santa Claus, e o lema do clube reflete tudo: “Não deixem de acreditar”.