Três pontos sobre…
… Sissi: a melhor jogadora de futebol do Brasil pré-Marta ¹*
(Imagens localizadas no Google)
● Na década de 1990, se nas brincadeiras todos os meninos queriam ser “Romário” ou “Ronaldo”, todas as meninas que chutavam uma bola queriam ser “Sissi”. Ela era o nome que inspirava as garotas a jogarem futebol pelo país.
Em tempos anteriores à “Rainha Marta”, a camisa 10 da Seleção Brasileira de futebol feminina esteve muito bem servida. Sissi foi o principal nome da geração pioneira, que desbravou o futebol feminino no país, enfrentando muitas barreiras e preconceitos, mas abrindo as portas do esporte para as gerações seguintes. Ela era unanimidade e ocupará para sempre lugar de destaque no esporte nacional.
Baixinha (com 1,65 m), impressionava com lances de técnica e inteligência. Dotada de habilidade e grande visão de jogo, ela era uma meia clássica, que fazia jus à camisa 10 que ostentava nas suas costas. Era uma jogadora completa, fazendo o estilo do “falso lento”. Afinal, quem tem que correr é a bola.
Era a maior craque de um país em um esporte incipiente, mas com destaques como as goleiras Meg, Maravilha e Andréia, as volantes Márcia Taffarel e Formiga, além das atacantes Pretinha, Kátia Cilene, Roseli e Michael Jackson.
● Sisleide do Amor Lima nasceu em 02/06/1967, na cidade de Esplanada, no litoral norte da Bahia. Logo aos seis anos, a menina já brincava de chutar qualquer objeto esférico na sua frente. Essa paixão pela bola nasceu no quintal de casa, vendo seu pai e irmão jogando. Escolhia suas bonecas de acordo com o formato e tamanho de suas cabeças, afinal, era com elas que praticava seu esporte preferido. “Para jogar eu usei as cabeças das minhas bonecas, tampinhas de garrafa, bolas de meias, papel higiênico etc… Acho que já estava no sangue”, afirmou certa vez em uma entrevista. Ainda criança, começou jogando no futebol de rua, no meio dos garotos, onde desenvolveu sua técnica.
Aos 14 anos, já jogava por times menores, como Campo Formoso e Senhor do Bonfim. Com 16 anos saiu de casa para jogar pelo Flamengo de Feira de Santana e morou em um alojamento com outras dez garotas que viviam o mesmo sonho. Sob a orientação de seu primeiro treinador, Sissi estudava pela manhã, treinava à tarde e participava frequentemente de torneios. Aos 18 anos, chegou na capital, para defender o Bahia. No Tricolor de Aço ela jogou futebol de salão e de campo. Já nos anos 1990, foi atuar em São Paulo, onde defendeu o Corinthians no futsal e nos gramados.
A partir de 1997, aos 30 anos, Sissi passou a viver o auge da carreira. Jogando no São Paulo, deu um show e liderou a equipe na conquista do 1º Campeonato Paulista (chamado popularmente de “Paulistana”). Além do destaque natural, os torcedores tricolores gritavam nas arquibancadas: “Sissi melhor do que Valdir”, comparando-a com o atacante Valdir Bigode, que atuava no SPFC na época. Outro canto ouvido na torcida era: “Muricy, coloca a Sissi”, pedindo ao técnico Muricy Ramalho para escalá-la em seu time. No tempo em que Sissi esteve no São Paulo, o clube conquistou todos os títulos possíveis nos torneios femininos.
“Não sei se encontrarei palavras para descrever o que senti, foi arrepiante e um momento que nunca irei esquecer. O São Paulo sempre terá um lugar especial no meu coração”, diz a craque.
Sissi defendeu, entre outros clubes, o Radar (1988-?), Euroexport (?), Saad (1995-1996 e 2005), São Paulo (1997-1998), Palmeiras (1999), Vasco da Gama (2000), San Jose CyberRays (2001-2003), California Storm (2004-2014), FC Gold Pride (2009).
Em 2001, se mudou para os Estados Unidos, onde é venerada pela torcida local. Jogou por três temporadas no San Jose CyberRays, na primeira liga profissional feminina (WUSA – Women’s United Soccer Association). Com o fim da liga, foi jogar no amador California Storms, da cidade de Sacramento, onde joga até hoje. Nos EUA, foi técnica e auxiliar dos times: FC Gold Pride, Las Positas College, Solamo Community College, Diablo Valley Soccer Club, Clayton Valley Charter High School e Walnut Creek Soccer Club, onde trabalha com jovens entre 13 e 17 anos.
● Jogou pela seleção entre 1988 e 2000. Com pouco mais de 20 anos, recebeu a primeira convocação para a seleção brasileira, estreando em 1988, em uma competição não oficial organizado pela FIFA, semelhante a um Mundial. Nesse torneio disputado na China, o Brasil ficou em 3º lugar. Mesmo com 24 anos, Sissi não foi nem cotada para defender o Brasil na primeira Copa do Mundo feminina, onde a base da seleção foram o times do Radar-RJ e Saad-SP. Já em 1995, a seleção foi convocada com base em um seletiva realizada pela CBF e Sissi tomou de vez para si a famosa camisa 10 canarinho.
Em 1996, na primeira participação do futebol feminino nos Jogos Olímpicos, o Brasil ficou com o 4º lugar. Sob a batuta da “maestra”, o Brasil foi 3º lugar na Copa do Mundo de 1999, quando ela foi a artilheira do torneio com sete gols (empatada com Sun Wen, da China) e eleita a segunda melhor jogadora da competição. Era realmente seu auge técnico. Nas Olimpíadas de 2000, novamente o Brasil perdeu na decisão do 3º lugar.
Pena que ela nunca tenha conquistado uma grande competição com a camisa da Seleção. Seu grande momento, além do Mundial de 1999, foi no dia 14/01/1995, quando ela comandou o Brasil em uma goleada história sobre a Argentina, por 8 x 0.
Infelizmente para o esporte, Sissi e Marta nunca atuaram lado a lado. É impossível comparar as duas, pois são de épocas diferentes e estilos diferentes. Apesar de ambas serem “camisa 10” e canhotas, Sissi era o “arco” e Marta é a “flecha”. Quando Marta começou ainda adolescente, no Vasco, Sissi era a craque do time: “Naquela época eu vi que ela era especial e tinha um futuro brilhante pela frente”.
¹* Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Parabéns Mulheres!!!