… 25/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 União Soviética

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… 25/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 União Soviética


Lev Yashin discute com Lothar Emmerich após uma disputa desleal. (Imagem: Pinterest)

● A União Soviética chegava pela primeira (e única) vez às semifinais de uma Copa do Mundo de futebol. A Alemanha Ocidental já estava em sua quarta semifinal (1938, 1954, 1958 e 1966).

Os 38.273 expectadores presentes no estádio Goodison Park, em Liverpool, assistiram uma partida sem graça, abrilhantada por Lev Yashin, o “Aranha Negra”, maior goleiro da história do futebol em todos os tempos, que disputava sua terceira Copa do Mundo, aos 37 anos.

Em busca do bicampeonato mundial, a Alemanha domina o jogo nos primeiros minutos, mas não consegue passar por Yashin. Mesmo quando a defesa soviética não tirava a bola, o goleiro aparecia sempre no lugar certo para salvar sua equipe. Ele salvou um gol feito de Uwe Seeler, ao se jogar nos pés do ótimo centroavante alemão.


Ambas seleções atuavam no sistema 4-2-4.

● Logo nos primeiros minutos, o meia Yozhef Sabo deu um carrinho em Beckenbauer, mas acabou levando a pior. Ele se machucou e ficou mancando até o fim, sem muita condição de jogo. Mas nenhum dos lados poupou “botinadas”. Haller, Beckenbauer e Porkujan foram violentamente atingidos por seus marcadores.

Em seu primeiro Mundial, Franz Beckenbauer já era o dono do time, atuando com a classe e a força física que encantaria o mundo nos anos seguintes.

O empate sem gols persistiu até o último minuto antes do intervalo. Karl-Heinz Schnellinger avançou até a intermediária e lançou para Helmut Haller. O ponta alemão entrou na área e chutou cruzado, finalmente conseguindo superar Yashin. Vantagem merecida para os alemães, que dominaram inteiramente o primeiro tempo.

Logo depois do gol, antes do intervalo, o meia Igor Chislenko (que já estava machucado) perdeu a bola para Sigfried Held e perdeu também a paciência: deu um chute sem bola no atacante alemão e foi expulso de campo.


Lev Yashin saiu nos pés de Uwe Seeler para impedir o gol do capitão alemão. (Imagem: Getty Images)

● No segundo tempo, com dois jogadores a mais na prática, já que Sabo mal andava, os germânicos ampliaram o domínio territorial. Perderam uma ótima chance de aumentar a vantagem e garantir a vitória, quando Franz Beckenbauer abandonou suas funções defensivas e avançou, tabelou com um companheiro de equipe e chutou. A bola bateu na trave e não entrou. Mas o craque alemão ainda teria outra oportunidade de marcar.

Aos 23 minutos da etapa final, um escanteio foi cobrado. A bola sobrou para Beckenbauer, que cortou Porkuyan e o chute saiu perfeito, de esquerda, de fora da área. Yashin fez o golpe de vista errado, a bola fez uma curva e entrou em seu canto direito. Foi o quarto gol de Beckenbauer no Mundial, todos no mesmo estilo (chute forte e preciso de fora da área). Foram dois contra a Suíça, um contra o Uruguai e agora um contra a URSS. Era a descoberta de um craque genial.

Os soviéticos acordaram para o jogo apenas nos vinte minutos finais, mas o goleiro alemão Hans Tilkowski (que até então não fazia uma boa Copa) fechou o gol.

A dois minutos do apito final, a URSS diminuiu. Ponomaryov ergue a bola na área e Banishevskiy escora de cabeça. Tilkowski pega, mas tromba com Malofeyev e solta a bola nos pés de Porkujan, que manda para as redes. Os alemães pediram falta de Malofeyev no lance, mas o árbitro italiano Concetto Lo Bello confirmou o gol.

No minuto final, pressão total dos soviéticos. Uma jogada bem armada para a cabeçada de Porkujan, mas a bola foi para fora, bem pertinho do gol. Porkujan foi à loucura. Era a última chance de levar o jogo para a prorrogação.

No fim, a sempre pragmática Alemanha Ocidental venceu por 2 a 1 e voltou a uma final de Copa do Mundo doze anos depois de seu primeiro título, em 1954.


A forte União Soviética e o seu “futebol científico” chegava nas semifinais pela primeira vez. (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 2 x 1 UNIÃO SOVIÉTICA

 

Data: 25/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 38.273

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Concetto Lo Bello (Itália)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4):

1  Hans Tilkowski (G)

1  Lev Yashin (G)

14 Friedel Lutz

4  Vladimir Ponomaryov

3  Karl-Heinz Schnellinger

6  Albert Shesternyov (C)

5  Willi Schulz

12 Valery Voronin

6  Wolfgang Weber

10 Vasiliy Danilov

4  Franz Beckenbauer

8  Yozhef Sabo

12 Wolfgang Overath

11 Igor Chislenko

8  Helmut Haller

19 Eduard Malofeyev

9  Uwe Seeler (C)

18 Anatoliy Banishevskiy

10 Sigfried Held

17 Valeriy Porkujan

11 Lothar Emmerich

15 Galimzyan Khusainov

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Nikolai Petrovich Morozov

 

SUPLENTES:

 

 

22 Sepp Maier (G)

21 Anzor Kavazashvili (G)

21 Günter Bernard (G)

22 Viktor Bannikov (G)

2  HorstDieter Höttges

13 Alexey Korneyev

15 Bernd Patzke

7  Murtaz Khurtsilava

17 Wolfgang Paul

3  Leonīds Ostrovskis

18 Klaus-Dieter Sieloff

5  Valentin Afonin

7  Albert Brülls

9  Viktor Getmanov

16 Max Lorenz

14 Giorgi Sichinava

19 Werner Krämer

2  Viktor Serebryanikov

13 Heinz Hornig

16 Slava Metreveli

20 Jürgen Grabowski

20 Eduard Markarov

 

GOLS:

43′ Helmut Haller (ALE)

67′ Franz Beckenbauer (ALE)

88′ Valeriy Porkujan (URSS)

 

ADVERTÊNCIAS:

Franz Beckenbauer (ALE)

Valery Voronin (URSS)

 

EXPULSÃO:
44′ Igor Chislenko (URSS)


Lev Yashin fechou o gol enquanto conseguiu. (Imagem: DPA / Press Association Images)

Compacto da partida, com os melhores momentos:

… 23/07/1966 – Inglaterra 1 x 0 Argentina

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Geoff Hurst cabeceia bonito e marca o único gol da partida. (Imagem: Central Press / Hulton Archive / Getty Images)

● Os ingleses se vangloriavam por serem os inventores do futebol, mas eram apenas isso. Nos três primeiros mundiais, não quiseram colocar sua “supremacia” em risco, enfrentando os “reles mortais” das outras seleções. Após a Segunda Guerra Mundial, eles aceitaram disputar a Copa do Mundo, mas foram vítimas de fiascos e campanhas interrompidas precocemente entre 1950 e 1962. Em 1966, eram os anfitriões. E, como todos os donos da casa, preparavam “o seu salão de festas” (o estádio Wembley) para eles mesmos brilharem. Organizar a Copa do Mundo não bastava; era preciso conquistá-la.

Na estreia, um xoxo empate sem gols contra o retrancado Uruguai e vaias da torcida. Contra o México, os jogaram com afinco e venceram com um tranquilo 2 a 0. Com um novo 2 a 0, os “Three Lions” bateram também a mediana seleção francesa. Mesmo se classificando em primeiro lugar do grupo, era um futebol sem criatividade, que não se encaixava no 4-3-3 e se valia apenas da bola área para o centroavante Roger Hunt.

Apesar de contar com jogadores de nível mundial, como o goleiro Gordon Banks, o zagueiro e capitão Bobby Moore e o craque Bobby Charlton, além de talentos como os meia-pontas Alan Ball e Martin Peters, o queridinho da imprensa Jimmy Greaves e as “duas torres” Roger Hunt e Geoff Hurst, o destaque na primeira fase foi o “cão de guarda” Nobby Stiles. Com apenas 1,68 m, ele usava grossas lentes de contato e removia a prótese com os dentes da frente de acordo com o jogo, ficando banguela. Parecia ainda mais feroz pelo vão livre da boca sempre aberta para reclamar. Ele não deixava seus adversários jogarem, marcando-os duramente. Ao fim da fase de grupos, ele chegou a ser advertido pela FIFA pelo “jogo brusco”.

Para as quartas de final, o técnico inglês Alf Ramsey teve que mudar a equipe. Greaves cortou a perna contra a França e não poderia jogar. Ao invés de escalar outro ponta, a opção foi pelo centroavante Hurst, para fazer companhia a Hunt. Com dois centroavantes de ofício, Ramsey aboliu definitivamente o 4-3-3 e ratificou seu 4-4-2. Eram duas linhas de quatro. A segunda contava com o volante Stiles protegendo a defesa e o auxílio do “todo-campista” Bobby Charlton. Alan Ball cuidava do lado direito e Martin Peters do lado esquerdo. Ao invés de ser mais defensiva, a Inglaterra ficou mais consistente tanto na defesa quanto no ataque.

Na véspera do confronto, os argentinos quiseram ir até o estádio Wembley para reconhecer o gramado, pois não haviam jogado lá durante o Mundial. Mas isso não pôde acontecer, porque no estádio estavam ocorrendo corridas de cachorros, um evento muito comum e popular na Inglaterra.


O técnico Alf Ramsey até tentou utilizar o sistema 4-3-3, mas, com a lesão de Jimmy Greaves e as más partidas dos pontas na primeira fase, acabou optando pelo 4-4-2. Os grandes destaques eram os meias Martin Peters pela esquerda e o caçula Alan Ball na direita. Eles faziam um bom balanço defensivo e atacavam quando tinham a bola. Foi uma sacada genial de Ramsey, que antecipou uma tendência ao que se vê em muitas equipes em pleno século XXI.


A Argentina atuava no sistema 4-3-3 clássico.

● A partida contra a Argentina foi muito disputada e bastante equilibrada. A “albiceleste” também tinha um belo time, mas que gostava de bater feio. Nobby Stiles parecia um monge perto dos violentos argentinos. Nesse duelo, Stiles foi escalado para marcar individualmente o atacante Ermindo Onega e obteve sucesso. Jogando mais avançado pelo lado direito, Ball criou muitos problemas para a defesa adversária e ainda impediu os avanços do ótimo lateral esquerdo Silvio Marzolini.

A Inglaterra começou jogando melhor, mas errando demais. Com esses erros, veio o nervosismo e os jogadores passaram a disputar a bola com muita afobação e rispidez. Os portenhos nunca foram santos e também elevaram o nível nas “botinadas”. Mas o árbitro punia apenas as faltas cometidas pelos sul-americanos, causando um clima mais tenso ainda.

O excepcional goleiro Banks exibia suas qualidades, mantendo a invencibilidade de sua meta (ainda não tinha sido vazado no Mundial). Os ingleses respondiam no ataque quando Bobby Charlton fazia das dele, arrancando desde o meio e arriscando de longe.

O jogo ficou ainda mais ríspido. Aos 34 minutos, o ótimo meia argentino Antonio Rattín entrou feio em Peters. No lance seguinte, o zagueiro Roberto Perfumo (que depois seria ídolo do Cruzeiro) atingiu Hunt. O árbitro alemão Rudolf Kreitlein puxou o caderninho de capa preta, onde anotava o número dos jogadores que ele advertia formalmente. O capitão Rattín não aceitou passivamente e reclamou de forma veemente. Logo depois, o juiz anotou mais algumas coisas no livrinho. O argentino continuou discutindo até o árbitro fazer um sinal mundialmente conhecido: Rattín estava expulso da partida.

A expulsão não era muito justificável. Além do mais, o que faltou mesmo foi um entender o que o outro dizia. Rattín não falava outro idioma além do espanhol, o árbitro era alemão, um bandeirinha era suíço e outro húngaro. Assim, a falha na comunicação e a falta de comando do juiz resultou em oito minutos de bola parada. Devido a esse problema, o chefe de arbitragem da FIFA, o ex-árbitro Ken Aston, criou no ano seguinte os cartões amarelos e vermelhos, para facilitar a comunicação entre juízes e atletas.

Rattín saiu do gramado, mas perdeu a noção das coisas. Cometeu um despautério, passando alguns minutos sentado no tapete vermelho estendido para a Rainha Elizabeth II. Teve de ser retirado de lá por dois policiais, que o conduziram até o vestiário. No caminho, ele ainda devolveu alguns xingamentos e fez gestos obscenos para a torcida inglesa. Ao passar perto da linha de fundo, tocou de forma displicente e amassou a “Union Jack“, a bandeira britânica, que adornava o mastro de escanteio. Ele acabaria suspenso por quatro partidas em decisão do comitê da FIFA.


Antonio Rattín foi expulso por reclamação aos 35′ de partida. (Imagem: The Telegraph)

Rattín deu sua versão do caso:

“Nossos dirigentes me instruíram para que, no caso de qualquer complicação ou necessidade de falar com o árbitro, eu deveria recorrer ao intérprete. Foi o que fiz quando o árbitro tomou nota dos números de meus companheiros, marcando-os para uma punição maior, no decorrer da partida. Não entendia o que era aquilo, não era normal isso acontecer, e fiz sinal que gostaria de saber, com a ajuda de um intérprete. O árbitro então interpretou a minha ação a procura de alguém que pudesse me explicar o que ele estava fazendo como um insulto e me expulsou de campo. Fazia parte do que esperávamos: as arbitragens jogariam junto com o time da casa.”

“Não entendíamos o que o árbitro falava com os ingleses. A impressão era de que não estava advertindo os faltosos. O jogo violento corria solto. Fui expulso porque estaria contestando as marcações dele. Depois, sentei no tapete vermelho ao redor da tribuna da família real. Jogaram latas de cerveja em mim. E eu não gosto de cerveja inglesa”.

O árbitro perdeu o pulso da partida e o jogo descambou de vez para a violência. A Argentina se fechou em uma espécie de 4-3-2, manteve o duelo equilibrado e ainda ameaçou a meta inglesa na segunda etapa. Perdeu um gol feito aos 19′, com o ponta esquerda Oscar Más, que finalizou para fora na saída de Banks. Não se pode errar um gol feito em uma partida com tão poucas oportunidades. Foram apenas três para os ingleses e duas para os portenhos.

O gol saiu em uma jogada tipicamente inglesa. Aos 31 minutos do segundo tempo, Peters cruzou da esquerda e Hurst apareceu entre os zagueiros Perfumo e Albrecht, e se antecipou ao goleiro Roma para desviar para o gol. Foi o gol solitário da vitória inglesa. Os argentinos reclamaram de impedimento no lance, mas o gol foi legal e validado pelo árbitro alemão.


O técnico inglês Alf Ramsey impediu o lateral direito George Cohen de trocar a camiseta com o meia argentino Alberto Mario González.
(Imagem localizada no Google)

● Com a derrota, os argentinos causaram um novo tumulto e o reserva José Omar Pastoriza chegou a acertar uma bofetada no juiz.

Ao fim da partida, alguns jogadores ingleses pretendiam deixar os incidentes de lado e, amistosamente, trocar de camisa com os adversários (o que é comum em qualquer partida até hoje). Mas o técnico Alf Ramsey invadiu o gramado para impedir que seus comandados trocassem de camisa com os argentinos. Após o jogo, ele disse que a seleção inglesa “só produziria melhor quando encontrasse rivais que praticassem futebol e não atuassem como animais”. Essa frase perseguiu Ramsey pelo resto de sua vida e o tornou “persona non grata” na Argentina.

Nos dias que se seguiram, os jornais britânicos endossaram as declarações do treinador, chamando os argentinos de “animais” e criticaram duramente as atitudes de Rattín. Por sua vez, os jornais portenhos não pouparam críticas à FIFA e chamaram a entidade de “covil de ladrões“.

FICHA TÉCNICA:

 

INGLATERRA 1 x 0 ARGENTINA

 

Data: 23/07/1966

Horário: 15h00 locais

Estádio: Wembley

Público: 90.584

Cidade: Londres (Inglaterra)

Árbitro: Rudolf Kreitlein (Alemanha Ocidental)

 

INGLATERRA (4-4-2):

ARGENTINA (4-3-3):

1  Gordon Banks (G)

1  Antonio Roma (G)

2  George Cohen

8  Roberto Ferreiro

5  Jack Charlton

4  Roberto Perfumo

6  Bobby Moore (C)

12 Rafael Albrecht

3  Ray Wilson

7  Silvio Marzolini

4  Nobby Stiles

15 Jorge Solari

9  Bobby Charlton

10 Antonio Rattín (C)

7  Alan Ball

16 Alberto Mario González

10 Geoff Hurst

19 Luis Artime

21 Roger Hunt

20 Ermindo Onega

16 Martin Peters

21 Oscar Más

 

Técnico: Alf Ramsey

Técnico: Juan Carlos Lorenzo

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ron Springett (G)

2  Rolando Irusta (G)

13 Peter Bonetti (G)

3  Hugo Gatti (G)

14 Jimmy Armfield

13 Nelson López

18 Norman Hunter

9  Carmelo Simeone

15 Gerry Byrne

6  Oscar Calics

17 Ron Flowers

5  José Varacka

20 Ian Callaghan

17 Juan Carlos Sarnari

22 George Eastham

11 José Omar Pastoriza

19 Terry Paine

14 Mario Chaldú

11 John Connelly

18 Alfredo Rojas

8  Jimmy Greaves

22 Aníbal Tarabini

 

GOL: 78′ Geoff Hurst (ING)

 

EXPULSÃO: 35′ Antonio Rattín (ARG)

Expulsão de Rattín e gol de Hurst:

… 22/07/1930 – Argentina 3 x 1 Chile

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… 22/07/1930 – Argentina 3 x 1 Chile


Disputa de bola entre o centroavante chileno Eberardo Villalobos e os argentinos Ángel Bossio (goleiro) e Fernando Paternoster (zagueiro).
(Imagem localizada no Google)

● Na Copa do Mundo de 1930, o Grupo 1 era o único que tinha quatro equipes: Argentina, Chile, França e México. Os demais grupos tinham apenas três seleções cada.

Nas duas primeiras rodadas, a Argentina venceu a França por 1 a 0 e o México por 6 a 3.

Os chilenos também haviam vencido as duas primeiras partidas, contra o México (3 x 0) e a França (1 x 0).

Dias antes da partida, alegando que o critério era injusto, os chilenos pleitearam junto à FIFA a classificação de ambas as equipes (e receberam o apoio dos dirigentes portenhos), pois as duas seleções tinham vencido os dois jogos anteriores. Mas o pedido foi rechaçado de prontidão pela FIFA.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Assim, Argentina e Chile fizeram um confronto direto. Quem vencesse teria uma vaga nas semifinais.

A “Albiceleste” entrou em campo com sua tradicional camisa listrada em azul claro e branco, calção cinza e meias pretas. O Chile (que ainda não era “La Roja”, ainda não jogava de vermelho) entrou com camisa branca, calção azul escuro e meias pretas. Se fosse nos dias atuais, seria impossível distinguir os times pela televisão.

O artilheiro Guillermo Stábile abriu o placar aos 12 minutos de partida e ampliou no minuto seguinte.

Dois minutos depois, Guillermo Subiabre diminuiu para o Chile, que tentava empatar de todos os jeitos.

No fim do primeiro tempo, Subiabre, melhor jogador chileno, não resistiu às provocações do irritante centromédio Luisito Monti e saiu no tapa com o argentino, desencadeando uma briga generalizada.

Aos seis minutos da etapa final, o ponta esquerda Mario Evaristo fez o terceiro gol e classificou de vez a Argentina para a semifinal do primeiro Mundial.


Delegação chilena, no desfile de abertura da Copa do Mundo, quatro dias antes. (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)

● Dentre os que não se classificaram para as semifinais, o Chile teve a melhor campanha (5º lugar, com 66,7% de aproveitamento).

Na semifinal, quatro dias depois, a Argentina massacrou os Estados Unidos por 6 a 1, com gols de Luis Monti (20′), Alejandro Scopelli (56′), Guillermo Stábile (69′ e 87′) e Carlos Peucelle (80′ e 85′); o gol americano foi marcado por Jim Brown (89′). A final seria contra o vencedor do confronto entre Uruguai e Iugoslávia, que vamos falar no próximo 27/07.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Manuel Ferreira e Guillermo Saavedra. (Imagem: Popperfoto/Getty Images / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 1 CHILE

 

Data: 22/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Centenário

Público: 41.459

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Jan Langenus (Bélgica)

 

ARGENTINA (2-3-5):

CHILE (2-3-5):

Ángel Bossio (G)

Roberto Cortés (G)

José Della Torre

Ernesto Chaparro

Fernando Paternoster

Víctor Morales

Juan Evaristo

Arturo Torres

Luis Monti

Guillermo Saavedra (C)

Rodolfo Orlandini

Casimiro Torres

Carlos Peucelle

Guillermo Arellano

Francisco Varallo

Guillermo Subiabre

Guillermo Stábile

Eberardo Villalobos

Manuel Ferreira (C)

Carlos Vidal

Mario Evaristo

Juan Aguilera

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: György Orth

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Botasso (G)

César Espinoza (G)

Alberto Chividini

Ulises Poirier

Ramón Muttis

Guillermo Riveros

Pedro Suárez

Arturo Coddou

Edmundo Piaggio

Humberto Elgueta

Adolfo Zumelzú

Horacio Muñoz

Carlos Spadaro

Tomás Ojeda

Natalio Perinetti

Carlos Schneeberger

Roberto Cherro

 

Attilio Demaría

 

Alejandro Scopelli

 

 

GOLS:

12′ Guillermo Stábile (ARG)

13′ Guillermo Stábile (ARG)

15′ Guillermo Subiabre (CHI)

51′ Mario Evaristo (ARG)

Imagens diversas da partida:

… 21/07/1930 – Uruguai 4 x 0 Romênia

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… 21/07/1930 – Uruguai 4 x 0 Romênia


O goleiro romeno Ion Lăpuşneanu foi bastante testado na partida. (Imagem localizada no Google)

● A estreia dos uruguaios contra o Peru foi muito criticada. A imprensa local dizia que o time, bicampeão dos Jogos Olímpicos em 1924 e 1928, estava velho e pesado. “Os deuses estão cansados”, escreveu o jornal El País.

Então, para a partida contra a Romênia, o técnico Alberto Suppici fez quatro alterações na equipe. Na defesa, trocou Domingo Tejera por Ernesto Mascheroni. Na linha de frente, saíram Santos Urdinarán, Héctor “Manco” Castro e Pedro Petrone; entraram Pablo Dorado, Héctor Scarone e Peregrino Anselmo. Essas modificações garantiram maior equilíbrio a equipe.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Apesar da crítica pesada aos veteranos, foi justamente o mais velho de todos que fez a diferença a favor dos anfitriões. Com quase 32 anos, Héctor Scarone ainda tinha “lenha pra queimar”. Era conhecido como “El Mago”, pelas maravilhas que fazia em campo. Era um jogador completo, considerado o melhor jogador do mundo em seu tempo e por vezes considerado o melhor jogador da história do futebol uruguaio. Foi um dos primeiros craques sul-americanos a jogar no Barcelona, em 1926. Jogou quinze anos pela “Celeste Olímpica“, entre 1917 e 1932.

Com ele liderando o ataque, o Uruguai passeou em campo, fez quatro gols e fecharam a goleada logo no primeiro tempo.

O veloz ponta direita Pablo Dorado abriu o placar aos sete minutos de partida. O genial Scarone ampliou aos 24′. Aos 30′, o centroavante Peregrino Anselmo marcou o terceiro. O craque Pedro Cea fechou o marcador aos 35 minutos da primeira etapa.

No segundo tempo, os jogadores apenas deixaram o tempo correr e exibiram a técnica apurada, com dribles e tabelinhas.


Dorado abriu o placar para o Uruguai. (Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images)

● Curiosamente, dentre os 22 jogadores da seleção uruguaia em 1930, cinco deles haviam nascido no século XIX: Héctor Scarone (em 1898), Domingo Tejera (em 1899), e Lorenzo Fernández, Pedro Cea e Santos Urdinarán (em 1900).

Durante toda a Copa, o “entra e sai” de campo foi uma rotina. Os jogadores deixavam o gramado para tomar água ou descansar por alguns minutos, e voltavam sem pedir autorização do árbitro. Além disso, dirigentes e membros da comissão técnica cruzavam as quatro linhas quando bem entendiam. No momento em que Anselmo marcou o terceiro gol, a poucos metros do lance o massagista e um dirigente uruguaio atendiam outro atleta, que se machucara no lance anterior. O juiz brasileiro Gilberto de Almeida Rêgo não parou o jogo e nem os romenos reclamaram de nada. E tudo isso porque, três dias antes, o dirigente da FIFA Maurice Fischer tinha se reunido com os árbitros e determinado para que massagistas, fotógrafos e dirigentes não tivessem acesso livre ao campo.

A Romênia encerrou sua participação na primeira Copa do Mundo como era esperado. Venceu o Peru por 3 a 1 e perdeu para o Uruguai por 4 a 0.


Pedro Cea fez o quarto gol. (Imagem localizada no Google).

FICHA TÉCNICA:

 

URUGUAI 4 X 0 ROMÊNIA

 

Data: 21/07/1930

Horário: 14h50 locais

Estádio: Centenário

Público: 70.022

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Gilberto de Almeida Rêgo (Brasil)

 

URUGUAI (2-3-5):

ROMÊNIA (2-3-5):

Enrique Ballesteros (G)

Ion Lăpuşneanu (G)

Ernesto Mascheroni

Iosif Czako

José Nasazzi (C)

Rudolf Bürger

José Leandro Andrade

Corneliu Robe

Lorenzo Fernández

Emerich Vogl (C)

Álvaro Gestido

Alfred Eisenbeisser

Pablo Dorado

Miklós Kovács

Héctor Scarone

Adalbert Deșu

Peregrino Anselmo

Rudolf Wetzer

Pedro Cea

Ladislau Raffinsky

Santos Iriarte

Ştefan Barbu

 

Técnico: Alberto Suppici

Técnico: Constantin Rădulescu / Octav Luchide

 

SUPLENTES:

 

 

Miguel Capuccini (G)

Samuel Zauber (G)

Domingo Tejera

Adalbert Steiner

Emilio Recoba

Rudolf Steiner

Carlos Riolfo

Alexandru Borbely

Ángel Melogno

Petre Steinbach

Conduelo Píriz

Andrei Glanzmann

Zoilo Saldombide

Elemer Kocsis

Juan Carlos Calvo

Constantin Stanciu

Santos Urdinarán

Ilie Subăşeanu

Pedro Petrone

 

Héctor “Manco” Castro

 

 

GOLS:

7′ Pablo Dorado (URU)

24′ Héctor Scarone (URU)

30′ Peregrino Anselmo (URU)

35′ Pedro Cea (URU)

Imagens diversas sobre a partida:

… 20/07/1930 – Brasil 4 x 0 Bolívia

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… 20/07/1930 – Brasil 4 x 0 Bolívia


(Imagem localizada no Google)

● Era o último jogo do triangular Grupo 2. A Iugoslávia já estava classificada, pois tinha vencido anteriormente tanto brasileiros (2 x 1) quanto bolivianos (4 x 0). Era também o primeiro confronto entre Brasil e Bolívia em toda a história.

Ambos entraram em gramado com seus uniformes oficiais: o Brasil de camisas brancas, calções azuis e meias pretas; a Bolívia também de camisas brancas, calções pretos e meias pretas. Ou seja, eram praticamente idênticos. Assim, após alguns minutos, o árbitro francês Thomas Balvay determinou, após sorteio, que a Bolívia deveria trocar de camisa. Sem fardamento reserva à disposição, os jogadores pegaram emprestadas camisas azuis celestes, do anfitrião Uruguai. Mas nem isso lhes deu forças.

O técnico brasileiro Píndaro de Carvalho fez seis alterações na equipe. Manteve apenas o zagueiro Itália, toda a ótima linha média (Hermógenes, Fausto e Fernando) e o meia esquerda Preguinho. Para compensar a falta de centroavante na estreia, entrou logo com dois: Russinho e Carvalho Leite.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Em campo, o Brasil foi absolutamente superior. Abriu o placar com o ponta esquerda Moderato Wisintainer aos 37 minutos. Foi o gol solitário da primeira etapa.

Mas no segundo tempo, os brasileiros foram mais contundentes e marcaram três vezes. Preguinho anotou o segundo aos 12′.

Moderato fez seu segundo no jogo aos 28′.

E Preguinho, de novo, fechou o placar aos 38 minutos do segundo tempo, marcando seu terceiro gol na Copa.

Foi a primeira vitória do Brasil na incipiente história das Copas do Mundo de futebol.


(Imagem localizada no Google)

● Apesar da goleada, a partida foi definida pelo jornal “A Crítica” como uma “intolerável monotonia numa luta sem brilho”.

Algumas fontes registram que o goleiro Velloso foi o primeiro a defender um pênalti na história dos Mundiais. Mas, segundo os jornais da época, Velloso defendeu, de forma sensacional, uma falta perigosa, cometida pelo zagueiro Itália sobre José Bustamante, que foi cobrada quase da linha da grande área pelo médio Renato Sáinz.

O boliviano Ulises Saucedo era o técnico da seleção da Bolívia, mas também foi árbitro durante a Copa de 1930. Saucedo apitou a vitória da Argentina sobre o México por 6 a 3.

De forma polêmica, em 1966, Araken Patusca declarou ao jornal “A Gazeta Esportiva” que a Seleção chegou ao Uruguai dividida em panelinhas. Segundo ele, os atletas de Fluminense e Botafogo (equipes “aristocráticas”, na comparação com as demais no Rio de Janeiro) tiveram acomodações mais confortáveis, tanto no navio Conte Verde como na hospedagem no Grande Hotel da Cave Colón, em Montevidéu, gerando um clima ruim entre os jogadores.

A Bolívia terminou com a segunda pior campanha da competição. Perdeu os dois jogos por 4 a 0, tanto para iugoslavos, quanto para brasileiros.

A Seleção Brasileira, apesar de ter sido cabeça de chave no sorteio, cumpriu um papel razoável e terminou em 6º lugar, após perder para a Iugoslávia (2 x 1) e golear a Bolívia (4 x 0).


Preguinho, um multi-atleta. (Imagem localizada no Google)

● João Coelho Netto, o Preguinho, era filho do escritor Coelho Netto. Ele entrou para a história como o autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo e por ser o artilheiro do país no Mundial, com três gols. Além disso, era também o capitão do escrete nacional.

Entre os anos 1920 e 1940, Preguinho era quase um sinônimo de Fluminense. Foi um atleta completo. Praticou dez modalidades esportivas sendo campeão em oito (só não ganhou no hóquei sobre patins e tênis de mesa; foi vencedor no futebol, basquete, vôlei, atletismo, natação, remo, polo aquático e saltos ornamentais). Ele deu ao Tricolor das Laranjeiras 387 medalhas e 55 títulos.

Começou a praticar o futebol por influência de seu irmão Emmanuel, o Mano. Mas a paixão de Prego pela bola começou a diminuir com o advento do profissionalismo, em 1933. Ele nunca se profissionalizou, pois considerava o futebol uma paixão e um divertimento.

Participou da campanha do tricampeonato carioca de futebol em 1936/37/38. No time de basquete, foi campeão em 1924, 1925, 1926, 1927 e 1931. No vôlei, venceu em 1923. No atletismo, em 1925. Ainda em 1925, depois de nadar os 600 metros e ajudar o Tricolor a ser tricampeão estadual de natação, foi de táxi até o estádio das Laranjeiras a tempo de jogar contra o São Cristóvão e ganhar o Torneio Início.

Definitivamente, Preguinho é um baluarte do Fluminense e uma lenda do esporte nacional.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 0 BOLÍVIA

 

Data: 20/07/1930

Horário: 13h00 locais

Estádio: Centenário

Público: 25.466

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Thomas Balvay (França)

 

BRASIL (2-3-5):

BOLÍVIA (2-3-5):

Velloso (G)

Jesús Bermúdez (G)

Zé Luiz

Casiano José Chavarría

Itália

Segundo Durandal

Hermógenes

Diógenes Lara

Fausto dos Santos

Jorge Luis Valderrama

Fernando Giudicelli

Renato Sáinz

Benedicto

Eduardo Reyes Ortíz

Russinho

José Bustamante

Carvalho Leite

Mario Alborta

Preguinho (C)

Rafael Méndez (C)

Moderato Wisintainer

René Fernández

 

Técnico: Píndaro de Carvalho Rodrigues

Técnico: Ulises Saucedo

 

SUPLENTES:

 

 

Joel (G)

Miguel Murillo (G)

Brilhante

Luis Reyes Peñaranda

Oscarino

Juan Argote

Ivan Mariz

Miguel Brito

Fortes

Constantino Noya

Pamplona

Gumersindo Gómez

Benevenuto

 

Manoelzinho

 

Doca

 

Poly

 

Nilo

 

Araken Patusca

 

Teóphilo

 

 

GOLS:

37′ Moderato (BRA)

57′ Preguinho (BRA)

73′ Moderato (BRA)

83′ Preguinho (BRA)

Imagens diversas sobre a partida:

… 19/07/1966 – Coreia do Norte 1 x 0 Itália

Três pontos sobre…
… 19/07/1966 – Coreia do Norte 1 x 0 Itália


Jogadores entram em campo para uma partida que se tornaria histórica. (Imagem localizada no Google)

● Pela última rodada da primeira fase, Coreia do Norte e Itália se enfrentaram em confronto direto pelo Grupo 4, no Ayresome Park, na cidade de Middlesbrough.

Após vencer o Chile por 2 a 0 e perder para a União Soviética por 1 a 0, a Itália precisava apenas de um empate para se classificar para as quartas de final. A Coreia do Norte estava em situação mais complicada, pois tinha perdido para a URSS por 3 a 0 e empatado em 1 a 1 com o Chile. Os asiáticos tinham que vencer e torcer para os chilenos não ganharem dos soviéticos.

Quando uma seleção bicampeã do mundo enfrenta um time desconhecido, estreante em Copas, é natural que seja considerado como favorito. E era esse o caso.

Após o fiasco na Copa do Mundo de 1962, a Itália se preparou durante quatro anos para fazer uma grande campanha em 1966. A Federação Italiana teve cuidado na indicação do novo técnico e escolheu Edmondo Fabbri, que tinha passado quatro anos subindo divisões com o modesto Mantova (saiu da quarta divisão e chegou à Serie A). Fabbri tinha ideias revolucionárias que poderiam ter transformado o futebol italiano. Dentre elas, a criação do “Club Italia“, que seria uma espécie de seleção permanente, que disputaria os campeonatos nacionais. As ideias e intenções eram boas, mas a execução… nem tanto.


A Coreia do Norte jogava no 4-2-4, com muita correria e velocidade.


A Itália atuava no 4-2-4, com destaque para os meia-atacantes Sandro Mazzola e Gianni Rivera.

● Contra a Coreia do Norte, o treinador italiano fez sete alterações na equipe em relação à partida anterior. Deixou de lado a convicção defensiva e lançou seu time à frente. Formou também uma defesa mais rápida, a fim de conter a velocidade do adversário. Surpreendentemente, manteve o capitão Giacomo Bulgarelli, mesmo com o joelho em frangalhos.

As coisas começaram a ficar difíceis para a “Squadra Azzurra” aos 34 minutos de partida, quando Bulgarelli se chocou com Pak Seung-zin e caiu sobre o braço, sofrendo uma forte torção e também a definitiva ruptura dos ligamentos do joelho, o que lhe tirou da partida e deixou a equipe com um jogador a menos (as substituições ainda não eram permitidas na época).

Aos 42 minutos do primeiro tempo, Gianni Rivera perdeu uma bola na sua intermediária, Ha Jung-won ganhou de cabeça e a bola sobrou para Pak Doo-ik na entrada da grande área. Ele ganhou na corrida e chutou cruzado, no canto direito do goleiro Albertosi, marcando o único gol do jogo. Como todos os jogadores da Coreia do Norte eram amadores de verdade, Pak Doo-ik era dentista e jogava futebol nas horas vagas.

Gol de Pak Doo-ik (Imagem: AP Photo / Bippa)

Mesmo atrás no marcador, os italianos jogavam como se pudessem virar o placar quando quisessem. Mas isso não aconteceu.

No segundo tempo, aos sete minutos, Rivera driblou vários coreanos e chutou da entrada da área, mas o goleiro Lee Chang-myung fez uma segura defesa.

Aos 14′, Romano Fogli completou um escanteio de cabeça e a bola passou com perigo, rente ao travessão.

Aos 16 minutos, o maestro Rivera fez nova jogada individual, dando um chapéu em Shin Yung-kyoo, mas o goleiro Lee Chang-myung saiu bem e pulou nos pés do italiano, impedindo o gol. O goleiro norte-coreano foi o destaque da partida. Com 19 anos, é um dos goleiros mais jovens a atuar em um jogo de Copa.

Um minuto depois, Pak Doo-ik avançou com a bola pela direita em contra-ataque, com a defesa italiana toda desguarnecida, e passou dentro da área para Yang Seung-kook. O ponta adiantou demais e perdeu o ângulo para a finalização.

Rivera chutou uma bola na trave e outra no travessão, mas não conseguiu empatar.

No minuto 24, Kim Bong-hwan driblou o goleiro Albertosi e perdeu o equilíbrio na hora de chutar a gol, mandando a bola para fora.

Depois, os coreanos mantiveram o ritmo e seguraram a vitória.

Assim que o árbitro francês Pierre Schwinte apitou o fim da partida, alguns dos 75 membros da delegação norte-coreana invadiram o gramado para festejar com os jogadores a primeira vitória em sua estreia nos Mundiais.


Delegação norte-coreana comemora a surpreendente vitória. (Imagem localizada no Google)

● Mas a comemoração foi maior mesmo no dia seguinte, quando a União Soviética venceu o Chile por 2 a 1. A Itália estava eliminada na primeira fase. Os norte-coreanos avançaram às quartas de final, mas acabaram derrotados de virada pela forte seleção de Portugal por 5 a 3, após estar vencendo por 3 a 0.

Certamente, essa foi uma das maiores zebras da história do futebol. Foi a primeira vitória de uma seleção asiática em Copas do Mundo.

A eliminação da “Azzurra” deixou os jogadores em maus lençóis. Assim como em 1954, a delegação foi recebida com uma chuva de frutas e tomates podres, ainda no aeroporto de Roma. De nada adiantou o plano de tentar despistar jornalistas e torcedores.

Com ótimos jogadores como Enrico Albertosi, Giacinto Facchetti, Giacomo Bulgarelli, Sandro Mazzola e Gianni Rivera, a Itália já tinha o time-base que venceria a Eurocopa em 1968 e chegaria à final da Copa do Mundo em 1970.


Protocolos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Bulgarelli e Pak Seung-zin. (Imagem: Gazzete Live)

FICHA TÉCNICA:

 

COREIA DO NORTE 1 x 0 ITÁLIA

 

Data: 19/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Ayresome Park

Público: 17.829

Cidade: Middlesbrough (Inglaterra)

Árbitro: Pierre Schwinte (França)

 

COREIA DO NORTE (4-2-4):

ITÁLIA (4-2-4):

1  Lee Chang-myung (G)

1  Enrico Albertosi (G)

14 Ha Jung-won

11 Spartaco Landini

5  Lim Zoong-sun

8  Aristide Guarneri

13 Oh Yoon-kyung

9  Francesco Janich

3  Shin Yung-kyoo

6  Giacinto Facchetti

6  Im Seung-hwi

7  Romano Fogli

11 Han Bong-zin

4  Giacomo Bulgarelli (C)

8  Pak Seung-zin (C)

17 Marino Perani

17 Kim Bong-hwan

14 Sandro Mazzola

7  Pak Doo-ik

19 Gianni Rivera

15 Yang Seung-kook

3  Paolo Barison

 

Técnico: Myung Rye-hyun

Técnico: Edmondo Fabbri

 

SUPLENTES:

 

 

9  Lee Keun-hak (G)

2  Roberto Anzolin (G)

2  Pak Li-sup

18 Pierluigi Pizzaballa (G)

19 Kim Yung-kil

5  Tarcisio Burgnich

20 Ryoo Chang-kil

22 Sandro Salvadore

4  Kang Bong-chil

21 Roberto Rosato

18 Ke Seung-woon

13 Giovanni Lodetti

21 An Se-bok

10 Antonio Juliano

10 Kang Ryong-woon

20 Francesco Rizzo

12 Kim Seung-il

15 Gigi Meroni

16 Li Dong-woon

12 Gianfranco Leoncini

22 Li Chi-na

16 Ezio Pascutti

 

GOL: 42′ Pak Doo-ik (COR)


Comemoração norte-coreana após a partida e desolação dos italianos. (Imagem: FourFourTwo)

Gol da partida:

Contusão de Bulgarelli e gol do jogo (em cores):

… 18/07/1930 – Uruguai 1 x 0 Peru

Três pontos sobre…
… 18/07/1930 – Uruguai 1 x 0 Peru


Estádio Centenário, em vista aérea em 1930. (Imagem: CONMEBOL)

● O Uruguai estava em festa. Estava sediando a primeira Copa do Mundo de Futebol e celebrava o centenário de sua independência. Além do mais, era o bicampeão do futebol dos Jogos Olímpicos. Em 1924, encantou o mundo em Paris, fazendo o público vibrar com seu futebol talentoso; arrasou a Suíça na decisão por 3 a 0. Em 1928, em Amsterdã, enfrentou a arquirrival Argentina na final e só venceu no jogo desempate, por 2 a 1. A “Celeste Olímpica” era a maior potência do mundo entre as décadas de 1920 e 1930 e provava isso em campo.

Agora, para mostrar ao mundo mais ainda sua grandeza, construía o fabuloso e mítico Estádio Centenário, em Montevidéu. Como os preparativos para a competição começaram em cima da hora, o arquiteto Juan Antonio Scasso teve apenas oito meses para construir o estádio, que só ficou pronto cinco dias após o início do torneio (e mesmo após a Copa ainda tinha vários setores inacabados).

Mesmo já tendo cinco dias de jogos disputados, era a cerimônia oficial de abertura da primeira Copa do Mundo. Os festejos começaram às oito da manhã e prosseguiram até a hora do jogo. No centro de Montevidéu, destaque para uma linda salva de 101 tiros disparados pelos soldados da Fortaleza General Artigas. Às 14h30, houve o desfile de todas as delegações pelo gramado. Meia hora depois, o presidente uruguaio, Juan Campisteguy, desceu ao campo junto com o presidente da FIFA, Jules Rimet e deu o pontapé inicial. Aliás, o Mundial de 1930 foi o único em que houve um desfile de abertura com as seleções, pois todos os jogos foram realizados na mesma cidade. Nas demais Copas, por haver várias sedes, o desfile não foi mais viável.

Enquanto a seleção uruguaia já era consagrada, a peruana tinha apenas três anos de história. Havia jogado pela primeira vez em 1927, quando o Campeonato Sul-Americano foi sediado em Lima. Antes do Mundial, haviam disputado seis jogos, com uma vitória (3 x 2 sobre a Bolívia em 1927) e cinco derrotas (nas quais sofreu 21 gols e anotou apenas dois). Em seu primeiro jogo na Copa, o Peru havia perdido para a Romênia por 3 a 1, na partida com o menor número de expectadores na história das Copas: apenas 300 pessoas testemunharam o confronto no estádio Pocitos, quatro dias antes.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Apesar de tanta festa, a seleção uruguaia frustrou os 57.735 expectadores presentes. O goleiro peruano Jorge Pardón fez diversas defesas por mais de uma hora, mas não conseguiu segurar o empate.

A “Celeste” conseguiu apenas um gol, muito chorado, aos 15 minutos do segundo tempo. Pedro Cea cruzou para o meio da área e Manco Castro finalizou e anotou o gol do triunfo uruguaio. O goleiro Pardón segurou a bola poucos centímetros depois dela ultrapassar a linha, levando à torcida a comentar que a vitória tinha sido por “meio gol“.

Enquanto a torcida local reclamava da má apresentação de seus jogadores, os peruanos comemoraram a derrota por apenas um gol.

No dia seguinte, a exagerada imprensa uruguaia pediu “mudanças drásticas e urgentes” na seleção, considerada “pesada e envelhecida”. A base era a mesma do primeiro título olímpico, conquistado seis anos antes.


Gol uruguaio retratado pelo site Moviolagol (http://moviolagol.deviantart.com/)
Algumas fontes indicam o gol como marcado por Cea, mas a FIFA confirma o gol de Castro.

● De última hora, o goleiro titular do Uruguai foi Enrique Ballesteros. A posição seria de Andrés Mazzali, mas ele foi o primeiro jogador a ser cortado por indisciplina em uma Copa do Mundo. Ele havia participado das campanhas que trouxeram a medalha de ouro para seu país nas Olimpíadas de 1924 e 1928. Além disso, tinha sido campeão sul-americano de atletismo, na prova dos quatrocentos metros com barreiras, e era um ótimo jogador de basquete, chegando a vencer o torneio uruguaio em 1923 pelo Olimpia. Segundo a lenda, Mazzali estava selecionado para o Mundial, mas uma semana antes do início dos jogos, decidiu “escapar” da concentração uruguaia, que já durava quase dois meses. Ele disse que saiu para visitar a família, mas segundo o indiscreto capitão celeste, José Nasazzi, o goleiro tinha saído para “passar la noche con uma rubia“. Mesmo com toda a fama que tinha, Mazzali foi descartado pelo treinador Alberto Suppici.

No dia seguinte ao jogo, os jornais locais reclamaram que a Federação Uruguaia havia vendido grandes lotes de ingressos para alguns poucos e suspeitos indivíduos, que os revenderam na porta do estádio pelo triplo do preço oficial. Para piorar a situação, um número exagerado de 1,2 milhão de ingressos tinham sido impressos para toda a Copa. Como o público total não chegou nem à metade disso, para cada bilhete vendido havia outro sobrando. Apesar das denúncias de ágio e desvio, o fato se repetiu em todos os jogos do Uruguai (e se repete até hoje mundo afora…). A única coisa que mudou é a forma de chamar esses atravessadores: se em 1930 eram conhecidos como revendedores, hoje são os famosos cambistas.

Para ficar ainda mais difícil, as bilheterias do Estádio Centenário foram assaltadas no dia da inauguração e toda a renda da partida “Uruguai x Peru” foi roubada.


Disputa de bola na área peruana. (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

URUGUAI 1 x 0 PERU

 

Data: 18/07/1930

Horário: 15h30 locais

Estádio: Centenário

Público: 57.735

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Jan Langenus (Bélgica)

 

URUGUAI (2-3-5):

PERU (2-3-5):

Enrique Ballesteros (G)

Jorge Pardón (G)

Domingo Tejera

Mario de las Casas

José Nasazzi (C)

Antonio Maquilón (C)

José Leandro Andrade

Plácido Galindo

Lorenzo Fernández

Alberto Denegri

Álvaro Gestido

Eduardo Astengo

Santos Urdinarán

Julio Flores 

Héctor “Manco” Castro

Alejandro Villanueva

Pedro Petrone

José María Lavalle

Pedro Cea

Demetrio Neyra

Santos Iriarte

Luis de Souza Ferreira

 

Técnico: Alberto Suppici

Técnico: Francisco Bru

 

SUPLENTES:

 

 

Miguel Capuccini (G)

Juan Valdivieso (G)

Ernesto Mascheroni

Alberto Soria

Emilio Recoba

Arturo Fernández Meyzán

Carlos Riolfo

Domingo García

Ángel Melogno

Juan Alfonso Valle

Conduelo Píriz

Julio Gilberto Quintana

Zoilo Saldombide

Carlos Cillóniz

Juan Carlos Calvo

Jorge Góngora

Pablo Dorado

Pablo Pacheco

Peregrino Anselmo

Lizardo Rodríguez Nue

Héctor Scarone

Jorge Sarmiento

 

GOL: 60′ Héctor “Manco” Castro (URU)


Desfile de abertura. (Imagem: Pinterest)

Imagens diversas do desfile oficial de abertura da Copa do Mundo de 1930:

Imagens diversas sobre a partida:

… 17/07/1994 – Brasil 0 x 0 Itália

Três pontos sobre…
… 17/07/1994 – Brasil 0 x 0 Itália


(Imagem: IFDB)

● Não estava em jogo “apenas” o título de campeão mundial de 1994. O duelo entre Brasil e Itália definiria o primeiro tetracampeão e, de quebra, o título simbólico de “campeão do século”, já que ambos haviam conquistado a Copa três vezes cada. O Brasil, havia vencido em 1958, 1962 e 1970. A Itália ganhou o Mundial em 1934, 1938 e 1982.

Na primeira fase, o Brasil passou pela Rússia (2 x 0) e por Camarões (3 x 0). Já classificado para as oitavas de final, empatou em 1 x 1 com a Suécia. Nas oitavas de final, enfrentou o anfitrião Estados Unidos justamente no dia da independência americana. Com um homem a menos (Leonardo foi expulso), foi um jogo duríssimo, mas a Seleção venceu com um gol de Bebeto. Nas quartas de final, o melhor jogo da Copa: vitória sobre a Holanda por 3 a 2. Nas semifinais, novo encontro com os suecos, que agora foram batidos por 1 a 0, com um gol de Romário.

Na primeira fase, a Itália jogou mal e só se classificou por ter marcado um gol a mais que a Noruega. Em um grupo fraco, a “Squadra Azzurra” perdeu para a Irlanda (1 x 0), ganhou da Noruega (1 x 0) e empatou com o México (1 x 1). Depois, no mata-mata, foram três vitórias por 2 x 1: Nigéria (nas oitavas), Espanha (nas quartas) e Bulgária (nas semifinais). O genial Roberto Baggio havia despertado e feito cinco dos últimos seis gols de sua seleção, nos últimos três jogos.


O Brasil atuava no 4-4-2. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “Enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


A Itália jogava no 4-4-2. Arrigo Sacchi era adepto da marcação por pressão e da redução do campo a três quartos. Fazia isso adiantando sua linha de zagueiros e recuando os dois atacantes, dando pouco espaço entre suas linhas para que o adversário trabalhasse a bola.

● Mais de 100 mil pessoas estavam presentes no estádio Rose Bowl, em Pasadena, próximo de Los Angeles. O Brasil entrou em campo de mãos dadas. O hábito surgiu por uma ideia do zagueiro Ricardo Rocha, para mostrar a união do grupo. Tudo começou ainda nas eliminatórias, no jogo contra a Bolívia, em Recife, e virou uma marca registrada da equipe em todos os jogos.

Ambas as seleções tinham jogadores importantes que jogariam no sacrifício. Pelo lado brasileiro, o lateral direito Jorginho (o melhor de sua posição no torneio) sentia uma lesão muscular. Pela “Squadra Azzurra“, Roberto Baggio (então o melhor jogador do mundo) sentia uma contratura na coxa direita desde a semifinal contra a Bulgária. E também Franco Baresi, capitão italiano e um dos melhores zagueiros da história do futebol, que se lesionou logo na segunda partida de sua equipe. Baresi passou por uma cirurgia e incrivelmente conseguiu voltar a tempo de disputar a final. Uma recuperação espantosa.

Enquanto os heróis italianos se aguentaram até o fim, Jorginho não suportou as dores e teve que sair aos 22 minutos de partida, dando lugar a Cafu. O plano de Parreira, confidenciado à revista Placar antes da final, era de eventualmente usar a velocidade de Cafu no meio, no lugar de Mazinho no segundo tempo, quando os italianos já tivessem cansados. Mas teve que “queimar o cartucho” antes.

Em um raro ataque brasileiro no primeiro tempo, Romário perdeu uma boa chance de gol. O lance fez o técnico Arrigo Sacchi remodelar a defesa. Ele tirou o lateral Mussi e colocou Apolloni para marcar Romário individualmente, passando Benarrivo para a lateral direita e Paolo Maldini para a lateral esquerda.

Na primeira etapa, Massaro quase marcou, mas Taffarel estava bem colocado e fez ótima defesa. Depois, Branco tentou uma de suas cobranças de falta. Ele encheu o pé, Pagliuca foi lento para a bola e deu rebote. Mas Mazinho furou o cruzamento.

O panorama do jogo continuou igual depois do intervalo, com poucas chances de gol e as defesas se sobressaindo aos ataques. Roberto Baggio voltou a sentir o músculo da coxa. Baresi, mesmo com dores no joelho, mostrava que sua escalação tinha valido a pena e foi o melhor em campo pelo lado italiano.

Todos esperavam um grande jogo, mas o que se viu foi um duelo tático, uma final fraca em emoções. As duas seleções se respeitaram tanto a ponto de se temerem. Fizeram uma partida truncada, defensiva, com poucas chances de gols. O calor do meio dia nos Estados Unidos prejudicava bastante os atletas, comprometendo o espetáculo.

Mas foi mesmo do Brasil a melhor chance do jogo. Aos 30 minutos do segundo tempo, Mauro Silva chutou, o ótimo goleiro Pagliuca não segurou e ela bateu caprichosamente na trave. Pagliuca agradeceu a ajuda, dando um beijo na luva e o passando à trave. Seria realmente uma grande surpresa se Mauro Silva fizesse o gol do título, pois em toda sua carreira, com mais de 600 jogos, ele marcou apenas duas vezes. Mas foi quase. “Até hoje, quando revejo aquele lance, fico torcendo para ela entrar”, lamenta o volante.

Baggio, que tinha feito cinco gols dos últimos seis italianos, também não conseguia aproveitar as poucas chances que teve. A Itália finalizou apenas quatro vezes nos 90 minutos, contra 18 do Brasil.

Com o empate sem gols, veio a prorrogação. Taffarel trabalhou em um chute de fora da área de Roberto Baggio e Pagliuca fechou o gol em um lance de Bebeto.

Nos 15 minutos finais, o técnico Parreira trocou o meia Zinho pelo elétrico atacante Viola. O camisa nº 21 incendiou o jogo em pouco tempo, mas não conseguiu marcar.

A maior chance do Brasil foi desperdiçada por Romário. Cafu foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro para trás. A bola passou pela zaga e pelo goleiro Pagliuca, sobrando limpa para Romário. O “Baixinho” tentou finalizar de carrinho, mas apareceu a perna salvadora de Benarrivo, que conseguiu tocar na bola mesmo caído. Ela passou tocando na trave.

No último minuto, Baggio e Massaro tabelaram e o camisa 10 chutou fraco para defesa do goleiro brasileiro. No finzinho, Dunga deu uma entrada dura exatamente na coxa machucada de Roberto Baggio. Baresi e Baggio sofriam com cãibras, um péssimo sinal para quem iria enfrentar uma decisão por pênaltis.

Como o placar não se alterou, veio então a primeira decisão por pênaltis na história das Copas do Mundo.

Baresi cobrou por cima. Márcio Santos bateu no canto direito e Pagliuca pegou. Albertini, Romário, Evani e Branco converteram. Taffarel pegou a batida de Massaro. Dunga ampliou. Roberto Baggio tinha que marcar para manter as chances de sua equipe, mas o gênio italiano bateu por cima, colocando a bola em órbita. Alívio de Bebeto, que nem precisou bater.

Que injustiça Baggio ter perdido o pênalti dessa forma! Mas que injustiça maravilhosa!

A tristeza dos italianos contrastava com a alegria dos brasileiros. As ruas do país estavam em festa, com carreatas, bandeiras, gritos e abraços, de tanta alegria guardada há 24 anos. Enfim, o Brasil era tetracampeão do mundo!


Pênalti cobrado por Roberto Baggio. (Imagem: Chris Wilkins / AFP / Getty Images)


(Imagem: Getty Images)


(Imagem: Pinterest)

● Antes da entrega da taça, os campeões fizeram uma oração em campo. Depois, os jogadores estenderam uma faixa com os dizeres: “Senna, aceleramos juntos. O tetra é nosso”. Era uma das homenagens ao piloto Ayrton Senna da Silva, o maior ídolo da história do esporte brasileiro. Tricampeão de Fórmula 1, Senna morreu dois meses antes da Copa, no dia 1º de maio, durante o GP de Ímola (Itália) de Fórmula 1. Seu bateu violentamente contra o muro na curva Tamburello, o levando a óbito.

O capitão Dunga recebeu o troféu FIFA das mãos do vice-presidente americano Al Gore. Levantou a taça e esbravejou em direção à tribuna de imprensa: “Essa é para vocês, bando de traíras filhos da p…”. Dunga nunca perdoou a perseguição que sofreu desde a Copa de 1990. O fiasco do Brasil naquela competição, com um sistema tático todo retrancado, acabou ficando conhecido como “Era Dunga“. Mas agora Dunga estava eternizado, assim como Bellini (1958), Mauro (1962) e Carlos Alberto Torres (1970).

A final definiria também o melhor jogador da Copa e até o artilheiro. Romário e Roberto Baggio tinham marcado cinco gols cada, sendo fundamentais para suas respectivas equipes. Nenhum dos dois marcou gols e os artilheiros da competição, com seis gols, foram: Hristo Stoichkov, da Bulgária, e Oleg Salenko, da Rússia.

Romário havia prometido conduzir o Brasil ao título e cumpriu. Na Copa, fez cinco gols, deu passes diretos para dois gols de Bebeto (contra EUA e Holanda) e participou das jogadas de outros três (diante de Rússia, Camarões e no gol de Branco frente aos holandeses). “Essa foi a Copa do Romário. Eu disse que seria campeão e cumpri. Sou tetra e o melhor do mundo. Eu falo e faço. Disse isso para calar a boca de muitos críticos.”

Curiosamente, o avião que trouxe a delegação brasileira de volta dos Estados Unidos trazia 17 toneladas de bagagem, a maioria composta por compras que deveriam ser taxadas pela alfândega. Porém, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ameaçou cancelar o desfile da seleção caso a carga fosse vistoriada pela Receita Federal, e tudo ficou por isso mesmo. O caso ficou conhecido como a “muamba do tetra“.

O brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo tornou-se o único a vencer a Copa quatro vezes: em 1958 e 1962, como jogador; em 1970, como técnico; e em 1994, como coordenador técnico.


Em pé: Taffarel, Jorginho, Aldair, Mauro Silva, Márcio Santos e Branco;
Sentados: Mazinho, Romário, Dunga, Bebeto e Zinho. (Imagem: FIFA)

 

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 0 x 0 ITÁLIA

 

Data: 17/07/1994

Horário: 12h30 locais

Estádio: Rose Bowl

Público: 94.194

Cidade: Pasadena (Estados Unidos)

Árbitro: Sándor Puhl (Hungria)

 

BRASIL (4-4-2):

ITÁLIA (4-4-2):

1  Taffarel (G)

1  Gianluca Pagliuca (G)

2  Jorginho

8  Roberto Mussi

13 Aldair

6  Franco Baresi (C)

15 Márcio Santos

5  Paolo Maldini

6  Branco

3  Antonio Benarrivo

5  Mauro Silva

14 Nicola Berti

8  Dunga (C)

13 Dino Baggio

17 Mazinho

11 Demetrio Albertini

9  Zinho

16 Roberto Donadoni

7  Bebeto

10 Roberto Baggio

11 Romário

19 Daniele Massaro

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Arrigo Sacchi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

12 Luca Marchegiani (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

22 Luca Bucci (G)

14 Cafu

2  Luigi Apolloni

3  Ricardo Rocha

4  Alessandro Costacurta

4  Ronaldão

7  Lorenzo Minotti

16 Leonardo

9  Mauro Tassotti

10 Raí

15 Antonio Conte

18 Paulo Sérgio

17 Alberigo Evani

19 Müller

21 Gianfranco Zola

21 Viola

20 Giuseppe Signori

20 Ronaldo

18 Pierluigi Casiraghi

 

CARTÕES AMARELOS:

4′ Mazinho (BRA)

41′ Luigi Apolloni (ITA)

42′ Demetrio Albertini (ITA)

87′ Cafu (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

21′ Jorginho (BRA) ↓

Cafu (BRA) ↑

 

35′ Roberto Mussi (ITA) ↓

Luigi Apolloni (ITA) ↑

 

95′ Dino Baggio (ITA) ↓

Alberigo Evani (ITA) ↑

 

INTERVALO DA PRORROGAÇÃO Zinho (BRA) ↓

Viola (BRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

ITÁLIA 2

Márcio Santos (perdeu, à direita defendido por Pagliuca)

Franco Baresi (perdeu, por cima do travessão)

Romário (gol, à meia altura do canto direito, chegando a tocar na trave)

Demetrio Albertini (gol, no ângulo direito)

Branco (gol, forte no canto esquerdo)

Alberigo Evani (gol, alto no meio do gol)

Dunga (gol, à meia altura no canto esquerdo)

Daniele Massaro (perdeu, à esquerda defendido por Taffarel)

 

Roberto Baggio (perdeu, por cima do travessão)


Romário foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1994. (Imagem: Mike Hewitt / AllSport)

Melhores momentos da partida, com narração de Luciano do Valle:

Melhores momentos da partida, com narração de Galvão Bueno:

… 16/07/1950 – Brasil 1 x 2 Uruguai

Três pontos sobre…
… 16/07/1950 – Brasil 1 x 2 Uruguai

Maracanazo


(Imagem: FIFA)

● Após uma interrupção de doze anos, em razão da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo ressurgiu ainda mais forte e seria disputada no Brasil. Em dias de paz no mundo, era nítido o orgulho do sempre alegre e festivo povo brasileiro. O país vinha se preparando com muita dedicação não apenas para sediar a competição, mas também para vencê-la. As sementes que foram plantadas em edições anteriores começaram a dar seus frutos e agora chegava o momento de receber os convidados para a grande festa mundial.

O Brasil foi escolhido como sede em 1946 e as autoridades esportivas e governamentais procuraram apresentar as melhores condições, não medindo esforços. Os estádios passaram por reformas, as cidades ficaram limpas e bem cuidadas. Mas era preciso deixar uma imagem grandiosa do Brasil. Assim, foi erguido no Rio de Janeiro o maior e melhor estádio do mundo: o Estádio Municipal do Maracanã.

O técnico Flávio Costa era unanimidade, um verdadeiro estrategista, criador do sistema “Diagonal”, utilizado pela Seleção na Copa. A geração de craques era prolífica, se destacando o trio Zizinho, Ademir de Menezes e Jair Rosa Pinto. Além disso, por ser o dono da casa e o então campeão sul-americano (título conquistado também em casa um ano antes), a Seleção era a grande favorita. Era só uma questão de tempo para que o Brasil conquistasse o mundo pela primeira vez.

Por sua vez, a seleção uruguaia viveu momentos turbulentos antes da Copa e quase não viajou para o Brasil. Nos meses anteriores ao torneio, a Celeste obteve péssimos resultados em amistosos e estava sem técnico. Para piorar, praticamente um mês antes da competição, o capitão Obdulio Varela anunciou que não viria ao Brasil, por causa das críticas da imprensa de seu país. A muito custo, foi demovido dessa decisão. O técnico Juan López foi nomeado poucos dias antes de embarcarem. Os resultados ruins continuaram nos treinos. Para Américo Gil, presidente da comissão técnica, se fosse para ir desse jeito ao Brasil, seria melhor que o Uruguai nem fosse à Copa. Mas eles vieram e agora tinham chances de título.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Augusto e Obdulio Varela. (Imagem: FIFA)

● Na primeira fase, o Brasil se classificou em primeiro lugar do Grupo 1 com cinco pontos. Primeiro, goleou os frágeis mexicanos por 4 x 0, depois empatou com a retrancada Suíça em 2 x 2 e venceu os bons iugoslavos por 2 x 0.

Devido à desistência de última hora de Escócia e França, o Uruguai precisou jogar apenas uma partida na primeira fase. Enfrentou a Bolívia e goleou por 8 x 0.

Curiosamente, essa edição de 1950 foi a única Copa em que não haveria uma decisão de fato. As quatro melhores seleções disputariam um quadrangular e quem somasse mais pontos nessa fase se sagraria campeão. Todos os jogos finais seriam disputados no Pacaembu e no Maracanã. O Brasil jogaria apenas no Maracanã, que tinha uma capacidade de público muito maior e, por consequência, geraria mais renda. Assim, era a única seleção que não precisou se desgastar com viagens entre Rio de Janeiro e São Paulo.

Na fase final, o Brasil enfileirou duas goleadas históricas: 7 a 1 na Suécia e 6 a 1 na Espanha. Já o Uruguai sofreui muito para empatar com a Espanha em 2 x 2 e vencer a Suécia de virada por 3 x 2. Tudo parecia conspirar a favor dos donos da casa. A ordem dos jogos foi escolhida pela própria CBD, que via o Uruguai como o adversário mais conhecido do brasileiro. Como os uruguaios penaram para chegar à última rodada com chances de título, ninguém pensou que eles seriam capazes de parar o forte ataque local. E como o Brasil tinha 4 pontos e o Uruguai tinha apenas 3, a Seleção jogava pelo empate para se sagrar campeã.

Os jogadores não tiveram descanso. Em época de campanha eleitoral, toda hora tinha um candidato a deputado querendo tirar fotos com os atletas e fazerem fama em cima dos ídolos nacionais. Para facilitar essa “invasão”, depois da vitória sobre a Espanha, o governo tirou a delegação do conforto em Joá e os levou para a badalada concentração de São Januário. Além disso, no dia da final, os atletas foram obrigado a acordar de madrugada para participar de uma missa de joelhos, às seis horas da manhã.

A última rodada era em um domingo, dia 16 de julho, em uma tarde linda e ensolarada no Rio de Janeiro. A expectativa em todo o território nacional era de fé e esperança. Nos pés de nossos craques repousavam a certeza da conquista.

Inevitavelmente, o clima de “já ganhou” dominou um Maracanã lotado. Todos ignoravam que do outro lado tinha um arquirrival de camisa pesada, que merecia respeito. Dois meses antes do Mundial, as duas equipes se enfrentaram pela Copa Rio Branco, com uma vitória uruguaia (4 x 3 no Pacaembu) e duas brasileiras (3 x 2 e 1 x 0). Ou seja, o histórico recente era bastante equilibrado. Mas ninguém se lembrou disso naquela hora e só esperava nova goleada brasileira.

Um contingente de 1.700 policiais militares (70% do efetivo da corporação) foi destacado para a segurança interna e externa do Maracanã. O Exército também forneceu cerca de trezentos soldados, entre eles o recruta Mário Jorge Lobo Zagallo, futuro tetracampeão mundial pelo Brasil.


O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Era quase a origem do 4-2-4 que a Hungria consagraria quatro anos depois.


O Uruguai atuava no sistema WM.

● A partida se iniciou tensa, mas aos poucos o Brasil colocou os nervos no lugar. Logo no primeiro lance de jogo, o Uruguai foi forçado a ceder um escanteio. Depois, o goleiro Roque Máspoli teve que fazer duas boas defesas antes dos cinco minutos, em finalizações de Ademir e Jair. Máspoli estava em má fase no Peñarol e só foi chamado para a reserva de Pereyra Nattero, mas o titular se machucou e ele fechou o gol, sendo eleito o melhor arqueiro do Mundial.

Aos 18 minutos, o centroavante Óscar Míguez chutou uma bola na trave de Barbosa.

O Brasil continuou dominando, mas era uma pressão estéril. Os uruguaios conseguiram segurar o poderoso ataque brasileiro e a primeira etapa terminou sem gols.

Em toda a partida, o time brasileiro criou trinta chances de gol (17 no primeiro tempo e 13 no segundo), mas só conseguiu converter uma.

Aos dois minutos do segundo tempo, Friaça abriu a contagem a favor do Brasil. Ademir lançou a bola para a área e Friaça chegou antes de Rodríguez Andrade e chutou cruzado, do bico da área, no canto direito do goleiro Roque Máspoli. A torcida explodiu de alegria. E havia a certeza de que mais gols viriam e o título seria questão de tempo.

Mas a Seleção diminuiu o ritmo e o jogo ficou mais ríspido, com muitas divididas e entradas duras de ambos os lados. Mas os brasileiros estavam mais nervosos e cometeram quase o dobro de faltas na partida (21, contra 11 dos uruguaios). Os uruguaios, como só eles conseguem, não se perturbaram e seguiram jogando com tranquilidade, passando a forçar as jogadas pela ponta direita.


Frequentemente Bigode estava em inferioridade contra Julio Pérez e Ghiggia.

Conseguiram o empate aos 21 minutos, quando Ghiggia escapou da marcação de Bigode, foi à linha de fundo e cruzou rasteiro. No meio da área, Schiaffino finalizou de primeira, no alto do gol.

Segundo as histórias da época, o Maracanã se calou após o gol de empate. Diziam que era possível ouvir o capitão Obdulio Varela comandando os uruguaios em campo. A partir daí o Brasil começou a errar sistematicamente e o Uruguai passou a criar as melhores chances.

O empate ainda daria o título ao Brasil. Mas, na tentativa de marcar o segundo gol, o Brasil deu espaço para o contragolpe uruguaio.

O estádio emudeceu de vez aos 34 minutos do segundo tempo. Julio Pérez avançou pela direita e tocou para Ghiggia. Sem nenhum companheiro para tabelar ele resolveu tentar a jogada individual. Arrancou pela ponta direita, passou por Bigode na corrida e chutou cruzado antes da chegada de Juvenal. Barbosa pulou atrasado e a bola passou entre ele e a trave esquerda.

O mesmo time que havia goleado seus dois adversários anteriores, agora não tinha mais forças para buscar o empate que lhe daria o título. Os minutos se passaram e a derrota se tornou um fato concreto.

No último minuto, Friaça cobrou um escanteio e o árbitro apitou o fim de jogo no exato momento em que Ademir ganhava de Máspoli pelo alto. Mas não deu tempo.

Parecia impossível, mas aconteceu. O Uruguai virou o jogo e se sagrou campeão mundial pela segunda vez. Vinte anos depois, a Taça Jules Rimet estava de volta às mãos se seu primeiro campeão.


Gol de Ghiggia. (Imagem: Sportsnet)

● O presidente da FIFA, Jules Rimet, iniciou a descida das tribunas de honra do Maracanã quando o jogo ainda estava 1 a 1. Ele tinha a certeza de que iria entregar a taça de campeão do mundo a Augusto, o capitão brasileiro. Mas quando ele chegou ao campo, a surpresa foi imediata: eram os uruguaios quem festejavam. “Fiquei perdido no meio de campo, sem saber o que fazer. Acabei descobrindo Obdulio Varela (o capitão uruguaio) e, quase escondido, ofereci a Copa”, disse Rimet.

A FIFA registra que 173.850 pagantes assistiram à partida, o que a coloca como o maior público da história das Copas. Mas estima-se que mais de 200 mil pessoas estiveram no estádio, pois alguns portões foram arrombados e muita gente entrou sem comprar ingresso.

Só o Brasil, em 1950, e a Suécia, em 1958, perderam uma decisão de Copa em casa. Todos os outros anfitriões que conseguiram chegar à final foram campeões: Uruguai (1930), Itália (1934), Inglaterra (1966), Alemanha Ocidental (1974), Argentina (1978) e França (1998).


Gol de Schiaffino. (Imagem: FIFA)

No Uruguai, oito pessoas morreram de ataque cardíaco causado pela emoção do jogo (cinco durante o jogo e três após o fim). Os médicos do Maracanã informaram que durante a partida foram atendidas 169 pessoas com problemas de coração e de pressão arterial, com crises de estresse e desmaios. Seis delas foram levadas a um hospital, em estado grave.

Desolados, os brasileiros demoraram mais de meia hora para deixar o estádio. Os lenços brancos, que tremularam no gol de Friaça, agora eram usados para enxugar lágrimas de tristeza. Os confetes e serpentinas acabaram abandonados pelas arquibancadas e pelas ruas. Não havia mais festa. A torcida brasileira ficou perplexa diante daquilo que ninguém esperava. Foi um silêncio total não só entre os mais de 200 mil expectadores presentes no Maracanã, mas também entre todos os 50 milhões de brasileiros que se preparavam para uma grande festa. Em todo o país, até as pessoas mais simples postaram mesas com suas melhores toalhas, cheias de quitutes nas portas de casas, esperando a comemoração do primeiro título mundial da Seleção. Depois, o que se ouvia era o silêncio e o soluço do pranto derramado.

Os dirigentes uruguaios foram embora na véspera, com medo de passaram vergonha vendo a Celeste ser goleada pelos brasileiros. Ates de se mandarem, eles deixaram claro que uma derrota por 4 a 0 seria um bom placar. Ninguém acreditava em vitória uruguaia. Eles entraram como franco-atiradores, sem pressão nenhuma. Qualquer que fosse o placar, já seria vantajoso para eles. E assim eles conquistaram o único resultado que não foi bom para o Brasil.


Segundo gol uruguaio retratado pelo site Moviolagol. (http://www.kaisermagazine.com/moviolagol/)

Se formos analisar de forma simplista, foram apenas duas falhas defensivas que causaram os gols uruguaios e a derrota brasileira. Mas de forma sistemática, o Brasil não funcionou naquele dia. O ataque foi estéril, marcando apenas uma vez. Foi desumana a pressão que foi colocada nos pés desses jogadores, simples mortais. Parecia que todos os males brasileiros chegariam ao fim com aquele título. E agora a culpa de tudo de ruim que existia era deles.

Alguns culpam o médio esquerdo Bigode, que não conseguiu parar Ghiggia em nenhum dos lances dos dois gols. Outros culpam o zagueiro Juvenal, que não deu cobertura para Bigode, principalmente no segundo gol. Outros culpam o goleiro Barbosa, que tentou adivinhar um cruzamento e tomou o gol no contrapé.

Se formos procurar culpados, um dos primeiros responsáveis é sempre o treinador. Flávio Costa manteve o time base que havia encantado nos dois jogos anteriores, mas ele tinha muitas boas opções. Na defesa, ao invés de escalar o clássico Nena, preferiu colocar o raçudo Juvenal em todos os jogos. Outra opção defensiva que só foi considerada anos mais tarde era Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”. No sistema WM, Nilton era zagueiro de origem e poderia ser escalado tanto no lugar de Juvenal, quanto de Bigode. Mas havia uma implicância pessoal. Durante a preparação do Brasil, Nilton apresentou uma chuteira com solado flexível, lançada pela fábrica Maracanã, que parecia mais uma sapatilha do que uma botina (como eram as chuteiras convencionais). O técnico não gostou do que viu: “Jogador meu não joga com isso”. Nilton não deu ouvidos, mas também não foi escalado em nenhum jogo. Para o “Diário do Povo”, Flávio Costa foi mesmo o vilão: “A responsabilidade principal recai, pois, sobre o técnico, teimando em incluir um Friaça bisonho e sem condições de jogo, e insistindo em um Chico confuso e dispersivo, quando tinha um Rodrigues em plena forma para ser lançado”.


O goleiro Barbosa, a maior vítima do fracasso brasileiro. (Imagem: FIFA)

Depois do jogo é fácil falar que não houve raça e espírito de luta. Mas antes, o clima era de festa antecipada, como relatou o cronista Geraldo Romualdo da Silva, do jornal “O Globo”: “A euforia enchendo, enchendo, enchendo. E nesse meio tempo, antes dos discursos ditados pela superstição, eis que aparece um repórter com uma revista já pronta, a revista que sairia na terça-feira, com a biografia de cada um e a consagração de todos. De todos os campeões do mundo! Depois apareceu também um fotógrafo, disposto a mais algumas poses especiais dos campeões. Dos campeões da véspera. Dos campeões que não chegaram a ser campeões. Aquilo era um pandemônio. Era um infinito de euforismo”.

A euforia e o clima de “já ganhou” era tão grande, que no sábado, um dia antes da final, o jornal “O Mundo” pôs à venda uma edição especial com a foto do time brasileiro e o título: “Estes são os Campeões do Mundo”. Exemplares do periódico teriam sido encontrados no vestiário do Uruguai. Reza a lenda que o capitão celeste Obdulio Varela jogou tais jornais no chão e ordenou aos seus companheiros que cuspissem e urinassem naquele papel que já dava a Copa aos brasileiros.

Obdulio não era só o capitão. Era a alma do time. Além de ser um grande jogador tecnicamente, era um capitão como nunca se viu na história do futebol. Ele tinha o poder de influenciar o humor de sua equipe. Seu apelido era “El Negro Jefe” (O Chefe Negro). Ele foi o responsável por comandar a reação uruguaia no jogo. Uma das lendas de 1950 é que Obdulio teria dado uma bofetada na cara de Bigode no primeiro tempo, o que teria feito o brasileiro se acovardar e passar a deixar espaços para Ghiggia na ponta direita. Isso não ocorreu. Tanto os uruguaios quanto os brasileiros sempre desmentiram o episódio. Na verdade, nesse lance, Varela apenas passou a mão de leve no pescoço de Bigode, pedindo calma ao brasileiro, que tinha acabado de fazer uma falta dura. Bigode reagiu e quase começou uma briga desnecessária.

Obdulio decidiu sair na noite carioca para comemorar, como narrou Eduardo Galeano em seu livro “Futebol ao sol e à sombra”. Parou em botequins cariocas e bebeu cerveja e caipirinha com brasileiros desolados, todos lamentando a derrota, culpando o chute de Ghiggia e a raça de Obdulio. “Percebi como aquele povo era bom. Como aquilo era importante para eles.” Segundo Galeano, Obdulio bebeu a noite toda com os brasileiros e foi embora quase arrependido.

“Foi uma casualidade termos roubado o título do Brasil. Coisas assim acontecem só uma vez.” – disse o capitão uruguaio ao jornal El País, em 1985.

Sobre Obdulio, certa vez o zagueiro uruguaio Diego Lugano foi claro sobre sua importância na história celeste: “Não, nunca brinquei de ser Obdulio Varela na infância, porque não se brinca de ser Deus”.


Ademir passou em branco na partida. (Imagem: FIFA)

O massagista uruguaio Ernesto Figoli, o “Matucho”, é o mais campeão de todos os uruguaios. Ele era o único remanescente das campanhas do bicampeonato olímpico (1924 e 1928) e bicampeonato mundial (1930 e 1950).

O prêmio de melhor jogador da Copa foi para o ponta direita Alcides Ghiggia. Ele estreou pela sua seleção apenas dois meses antes do Mundial. No torneio, ele fez um gol em cada um dos jogos de sua equipe e foi o grande nome da final. Ele deu um passe perfeito no gol de empate e foi o responsável pelo gol da virada.

O artilheiro da competição foi o centroavante brasileiro Ademir de Menezes, que fez nove gols em seis jogos.

Muitos dos jogadores brasileiros de 1950 ganharam cargos públicos quando encerraram a carreira. O goleiro Barbosa se tornou funcionário da antiga Administração dos Estádios da Guanabara (ADEG), que anos depois deu lugar à Superintendência dos Estádios do Rio de Janeiro (SUDERJ). Em 1969, a ADEG, que era responsável pelo estádio Maracanã, trocou as traves de madeira por traves de metal. A autarquia deu as antigas a Barbosa, como uma homenagem, mas ele não gostou. Em um churrasco com amigos, usou-as para alimentar o fogo.

Para Zizinho, o Maracanazo não significou uma injustiça: “Eles venceram porque o Uruguai era melhor do que o Brasil”.


Zizinho também não conseguiu se destacar na decisão. (Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 X 2 URUGUAI

 

Data: 16/07/1974

Horário: 15h00 locais

Estádio: Maracanã

Público Oficial: 173.850

Público Extraoficial: mais de 200.000

Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)

Árbitro: George Reader (Inglaterra)

 

BRASIL (Diagonal):

URUGUAI (WM):

1  Barbosa (G)

1  Roque Máspoli (G)

2  Augusto (C)

2  Matías González

3  Juvenal

3  Eusebio Tejera

4  Bauer

4  Schubert Gambetta

5  Danilo Alvim

5  Obdulio Varela (C)

6  Bigode

6  Víctor Rodríguez Andrade

7  Friaça

7  Alcides Ghiggia

8  Zizinho

8  Julio Pérez

9  Ademir de Menezes

9  Óscar Míguez

10 Jair Rosa Pinto

10 Juan Alberto Schiaffino

11 Chico

11 Rubén Morán

 

Técnico: Flávio Costa

Técnico: Juan López Fontana

 

SUPLENTES:

 

 

Castilho (G)

Aníbal Paz (G)

Nena

Héctor Vilches

Nilton Santos

Juan Carlos González

Ely

William Martínez

Rui

Washington Ortuño

Noronha

Rodolfo Pini

Alfredo II

Julio César Britos

Maneca

Luis Rijo

Baltazar

Ernesto Vidal

Adãozinho

Carlos Romero

Rodrigues

Juan Burgueño

 

GOLS:

47′ Friaça (BRA)

66′ Juan Alberto Schiaffino (URU)

79′ Alcides Ghiggia (URU)

Áudio da partida completa, em narração da Rádio Nacional:

Segundo gol uruguaio, narrado por Luiz Mendes, da Rádio Globo:

Gols da partida:

… 15/07/1930 – Argentina 1 x 0 França

Três pontos sobre…
… 15/07/1930 – Argentina 1 x 0 França

Protocolos iniciais da parida. (Imagem: Wikimedia Commons)

● Era o terceiro dia de competições. Enquanto a Argentina fazia sua estreia na Copa do Mundo de 1930, a França já realizaria sua segunda partida, após golear o México por 4 x 1 no primeiro jogo, disputado dois dias antes.

O Grupo 1 era o único que contava com quatro seleções (França, México, Argentina e Chile) e o calendário foi cruel com a seleção francesa, fazendo-a entrar em campo por duas vezes antes de várias equipes terem estreado.

Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Os franceses sofreram com o jogo duro dos argentinos. Logo aos dois minutos, o ótimo e violento centromédio Luisito Monti mostrou seu “cartão de visitas”. Ele deu uma entrada duríssima no autor do primeiro gol em Copas, Lucien Laurent. O francês ficou mancando em campo até o fim da partida, apenas fazendo número.

O goleiro Alexis Thépot (que já tinha se machucado e saído de campo na partida contra os mexicanos) também foi agredido aos 23 minutos. Mas mesmo assim ele fechou o gol. Só foi vencido em uma cobrança de falta de Monti, aos 36 minutos do segundo tempo.

A França mal teve tempo para reagir. O árbitro brasileiro Gilberto de Almeida Rêgo encerrou o jogo por engano apenas três minutos depois, ou seja, faltando seis minutos a serem jogados e ainda no meio de um contra-ataque francês. Evidentemente, isso resultou em protestos exaltados dos europeus.

O detalhe é que a culpa da trapalhada no tempo de jogo não foi do árbitro. Na época, o controle do tempo cabia a um cronometrista oficial, que ficava do lado de fora do campo. O erro foi percebido logo depois, mas os torcedores já haviam invadido o gramado.

Alguns jogadores até já haviam tomado banho quando, meia hora depois, com o apoio do bandeirinha romeno Costel Rădulescu e o testemunho do próprio cronometrista, os franceses convenceram o juiz brasileiro a reiniciar a partida para disputarem os minutos finais do tempo regulamentar. Mesmo com pressão francesa, não houve mais alteração no placar.

“Voltamos para o vestiário e só aí o juiz descobriu que apitou o fim do jogo 5 minutos antes da hora. Alguns jogadores já estavam se trocando quando tivemos que voltar para o campo. Ainda tive uma chance de empatar. A bola passou perto da trave. Não tivemos sorte naquele dia” – disse posteriormente o meia direita francês Edmond Delfour.

Gol argentino retratado pelo site Moviolagol (http://moviolagol.deviantart.com/)

● Não era de se esperar que os mais de vinte mil uruguaios presentes no estádio Parque Central tivessem carinho com os argentinos. Mas a torcida uruguaia provocou demais os arqui-inimigos durante todo o jogo. Tanto, que o atacante Roberto Cherro, do Boca Juniors, teve uma violenta crise emocional. Levado para o vestiário, ele desmaiou e nem voltou para disputar o final da partida.

Na saída, 500 vândalos apedrejaram o ônibus da Argentina, em um tumulto que só foi controlado pela polícia quase uma hora depois. Os portenhos ameaçaram a abandonar a competição, mas foram convencidos a continuarem devido a insistentes pedidos dos organizadores e do presidente uruguaio, Juan Campisteguy, além de garantias de segurança a todos.

O francês Delfour disse que o jogo quase acabou em briga:

“O estádio estava cheio, com todo mundo torcendo pela França, gritando ‘Francia, Francia’. O jogo estava 0 a 0. Faltando 10 minutos, uma bola caiu na entrada da área, matei ela no peito e Luis Monti veio para cima de mim. Mas o juiz deu falta contra a França. Na cobrança a Argentina fez o gol da vitória. Depois ainda houve um princípio de confusão, porque Monti também tinha agredido Laurent e Maschinot.”

Lucien Laurent também deu sua versão:

“Eu me lembro de Monti, o central da Argentina. Diziam que ele era durão, que tínhamos que provocá-lo, mas acho que era exatamente isso que ele queria que nós fizéssemos.”

A França acabou em 7º dentre as 13 seleções. Venceu os mexicanos (4 a 1), mas perdeu para argentinos e chilenos (ambos por 1 a 0).

O meia esquerda argentino Manuel Ferreira tinha muita moral na sua seleção, inclusive sendo o capitão do time. Por isso, desfrutou de um privilégio durante a Copa. Ele chegou a Montevidéu alguns dias depois do resto da delegação porque estava fazendo um curso de escrivão público. Após essa partida contra a França, ele não jogou contra o México porque teve que voltar a Buenos Aires para fazer uma prova. Foi aprovado e retornou normalmente para a seleção portenha logo depois.

Como curiosidade, em Copas do Mundo, a Argentina de 1930 foi a primeira seleção a ter dois técnicos em vez de apenas um: Francisco Olazar e Juan José Tramutola.

(Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 0 FRANÇA

 

Data: 15/07/1930

Horário: 16h00 locais

Estádio: Parque Central

Público: 23.409

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Gilberto de Almeida Rêgo (Brasil)

 

ARGENTINA (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Ángel Bossio (G)

Alexis Thépot (G)

José Della Torre

Marcel Capelle

Ramón Muttis

Étienne Mattler

Juan Evaristo

Alexandre Villaplane (C)

Luis Monti

Marcel Pinel

Pedro Suárez

Augustin Chantrel

Natalio Perinetti

Ernest Libérati

Francisco Varallo

Edmond Delfour

Roberto Cherro

André Maschinot

Manuel Ferreira (C)

Lucien Laurent

Mario Evaristo

Marcel Langiller

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: Raoul Caudron

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Botasso (G)

André Tassin (G)

Alberto Chividini

Numa Andoire

Fernando Paternoster

Célestin Delmer

Rodolfo Orlandini

Jean Laurent

Edmundo Piaggio

Émile Veinante

Adolfo Zumelzú

 

Carlos Spadaro

 

Carlos Peucelle

 

Guillermo Stábile

 

Attilio Demaría

 

Alejandro Scopelli

 

 

GOL: 81′ Luis Monti (ARG)


O capitão Manuel Ferreira, seguido pelo goleiro Ángel Bossio, na entrada dos atletas argentinos no gramado para enfrentarem a França
(Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images / FIFA)

Imagens diversas sobre a partida: