… 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça


O zagueiro chileno Raúl Sánchez pula para bloquear um chute de Charles “Kiki” Antenen, capitão da Suíça (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Depois de organizar duas Copas do Mundo seguidas na Europa, a FIFA não poderia escolher outro país europeu para sediar o evento. Por isso o torneio voltaria para a América do Sul, continente do novo campeão do mundo. Chile e Argentina disputaram o direito de sediar o Mundial. A escolha da FIFA acabou sendo o Chile.

Todos os jogos da Copa do Mundo de 1962 ocorreram às 15 horas, no horário local. Nessa quarta-feira, as ruas de Santiago estavam caóticas, com trânsito intenso.

Apesar de ter sido disputado simultaneamente com outras três partidas, este foi considerado o jogo de abertura do Mundial. Depois da marcha e desfile da banda da polícia militar, foram os políticos que roubaram a cena. Discursaram Jorge Alessandri, presidente do Chile, Juan Goñi, substituto do recém falecido Carlos Dittborn no comitê organizador, e Stanley Rous, presidente da FIFA. Só depois a bola rolou.


O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.


A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930. Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupava todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.

● Os jogadores chilenos treinaram juntos por três meses, com o objetivo de ter sucesso em sua terceira Copa do Mundo.

Mas, surpreendentemente, a foi a Suíça que abriu o placar aos sete minutos de jogo. Rolf Wüthrich recebeu fora da área, driblou um adversário e chutou no ângulo. Um verdadeiro golaço. Surpresa no estádio Nacional.

Depois, como já era esperado, os suíços se trancaram na defesa. Apesar do grande domínio, os chilenos ainda demoraram um tempo para se recuperarem do baque. A Suíça teve outras chances, mas não as aproveitou.

Um minuto antes do intervalo, após cruzamento da direita, Jorge Toro escorou de cabeça e Leonel Sánchez finalizou de dentro da pequena área. A bola ainda desviou em um adversário e morreu dentro do gol. Agora, o placar estava igual, com um tento para cada.

Os mais de 65 mil presentes empurravam a seleção anfitriã, com os sempre tradicionais gritos de “CHI-LE, CHI-LE, CHI-LE! CHI-CHI-CHI, LE-LE-LE, VIVA CHILE!”

Aos 7′ da etapa final, Jaime Ramírez avançou pela esquerda, entrou na área e chutou forte. O goleiro Karl Elsener espalmou para frente. Ramírez ficou com o rebote e tocou mansamente no canto direito. Era a virada.

Quatro minutos depois, o placar foi alterado pela última vez. Honorino Landa tabelou com Alberto Fouilloux e cruzou rasteiro. Na pequena área, Leonel Sánchez pegou o rebote da trave e escorou para as redes, dando ponto final ao placar de 3 a 1 para os locais.


(Imagem: Foto-net / FIFA)

● O austríaco Karl Rappan era o técnico da Suíça desde 1938 – exceto breves intervalos. Ele foi o criador do forte sistema tático, ultra-defensivo, que ficou conhecido como “Ferrolho Suíço”. Mas nessa Copa, o esquema não funcionou. A Suíça já não tinha mais a eficiência e o caráter de surpreender com seu ferrolho. Depois da derrota para o Chile na estreia, perdeu por 2 a 1 para a Alemanha Ocidental e por 3 a 0 para a Itália. A retranca levou oito gols, marcou apenas dois e terminou em último lugar no Mundial.

O Chile começou nervoso, mas estreou em “sua” Copa com essa vitória de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 a 0. A derrota por 2 a 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1. Na semifinal, parou no Brasil, de Garrincha, mesmo fazendo um jogo duro (derrota por 4 a 2). Ainda venceu a Iugoslávia (1 x 0) e terminou com um honroso 3º lugar, conquistado em casa.


(Imagem: Soccer Nostalgia)

FICHA TÉCNICA:

 

CHILE 2 x 0 ITÁLIA

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Nacional

Público: 65.006

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Ken Aston (Inglaterra)

 

CHILE (4-2-4):

SUÍÇA (FERROLHO SUÍÇO):

1  Misael Escuti (G)

1  Karl Elsener (G)

2  Luis Eyzaguirre

7  Heinz Schneiter

3  Raúl Sánchez

9  André Grobéty

4  Sergio Navarro (C)

5  Fritz Morf

5  Carlos Contreras

13 Hans Weber

6  Eladio Rojas

8  Ely Tacchella

7  Jaime Ramírez

17 Norbert Eschmann

8  Jorge Toro

14 Anton Allemann

9  Honorino Landa

21 Rolf Wüthrich

10 Alberto Fouilloux

18 Philippe Pottier

11 Leonel Sánchez

15 Charles Antenen (C)

 

Técnico: Fernando Riera

Técnico: Karl Rappan

 

SUPLENTES:

 

 

12 Adán Godoy (G)

2  Antonio Permunian (G)

22 Manuel Astorga (G)

3  Kurt Stettler (G)

13 Sergio Valdés

4  Willy Kernen

14 Hugo Lepe

6  Peter Rösch

15 Manuel Rodríguez

10 Fritz Kehl

16 Humberto Cruz

16 Richard Dürr

17 Mario Ortiz

11 Eugen Meier

18 Mario Moreno

12 Marcel Vonlanthen

19 Braulio Musso

19 Gilbert Rey

20 Carlos Campos Silva

22 Roberto Frigerio

21 Armando Tobar

20 Roger Vonlanthen

 

GOLS:

6′ Rolf Wüthrich (SUI)

44′ Leonel Sánchez (CHI)

51′ Jaime Ramírez (CHI)

55′ Leonel Sánchez (CHI)

Melhores momentos da partida:

… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos


Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)

Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.

A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.

Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.


Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)

● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.

Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.

Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.

Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.

Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.

Final: 7 a 1 para a Itália.

Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.

“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino


Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)

Os Estados Unidos haviam vencido o rival México em uma “pré-Copa” no dia 24/05, já em Roma, por 4 a 2. Foram eliminados logo na primeira partida do Mundial, com essa goleada sofrida para os italianos.

Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.

A Itália se classificou para as quartas de final e enfrentaria a fortíssima Espanha, que tinha batido o Brasil por 3 x 1.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 7 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 25.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Giampiero Combi (G)

Julius Hjulian (G)

Virginio Rosetta (C)

Ed Czerkiewicz

Luigi Allemandi

George Moorhouse (C)

Mario Pizziolo

Peter Pietras

Luis Monti

Billy Gonsalves

Luigi Bertolini

Tom Florie

Anfilogino Guarisi

Francis Ryan

Giuseppe Meazza

Werner Nilsen

Angelo Schiavio

Aldo Donelli

Giovanni Ferrari

Walter Dick

Raimundo Orsi

Bill McLean

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: David Gould

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Al Harker

Giuseppe Cavanna (G)

Joe Martinelli

Umberto Caligaris

Herman Rapp

Eraldo Monzeglio

Bill Lehman

Armando Castellazzi

Tom Amrhein

Attilio Ferraris IV

Jimmy Gallagher

Mario Varglien I

Bill Fiedler

Pietro Arcari

Tom Lynch

Felice Borel II

 

Enrique Guaita

 

Attilio Demaría

 

 

GOLS:

18′ Angelo Schiavio (ITA)

20′ Raimundo Orsi (ITA)

29′ Angelo Schiavio (ITA)

57′ Aldo Donelli (EUA)

63′ Giovanni Ferrari (ITA)

64′ Angelo Schiavio (ITA)

69′ Raimundo Orsi (ITA)

90′ Giuseppe Meazza (ITA)

Algumas imagens da partida:

… Real Madrid 3 x 1 Liverpool

Três pontos sobre…
… Real Madrid 3 x 1 Liverpool


(Imagem: realmadrid.com)

O Liverpool começou jogando melhor, marcando pressão nos primeiro trinta minutos e trocando passes rápidos no campo de ataque. Foram alguns lances de perigo, mas nenhuma chance clara criada. Mohamed Salah era um dos que mais tentava. Mas esse não seria seu dia.

A história da partida mudou em um lance isolado aos 24 minutos do primeiro tempo. Sergio Ramos e Salah engancharam seus braços e o braço do egípcio ficou preso ao cair. A queda foi realmente muito feia e o atacante do Liverpool infelizmente não conseguiu continuar em campo, sendo substituído cinco minutos depois. No momento, pareceu um lance acidental, uma falta comum. Quem já jogou bola sabe: em um lance tão rápido, dificilmente o defensor teria tempo para pensar em causar uma queda que tirasse o rival de campo. São milésimos de segundos para pensar e agir ao mesmo tempo. Mas se tratando de Sergio Ramos e seu histórico nada limpo, fiquemos a vontade para julgar a ação do beque – subjetividade pura.


Zidane escalou inicialmente os mesmos atletas que venceram a Juventus na final do ano passado


Jürgen Klopp apostou na mesma escalação ofensiva que levou seu time à final

Logo depois foi a vez de Dani Carvajal se lesionar depois de uma queda. Outra grande perda para o espetáculo. Mas enquanto o Madrid repôs bem, com Nacho, o Liverpool trocou o intrépido Mo Salah por um Adam Lallana sem ritmo, que estava voltando aos poucos de lesão.

Devido à falta de peças ofensivas, Jürgen Klopp teve que desmontar seu 4-3-3 e o Liverpool passou a jogar no 4-4-2.

O Liverpool morreu e o Madrid passou a jogar. Benzema teve um gol justamente anulado aos 42′, após aproveitar uma defesa sensacional do goleiro Karius em cabeçada de Cristiano Ronaldo. Mas ambos estavam impedidos, tanto o português, quanto o francês.

No início do segundo tempo, Lallana errou um corte dentro da área e a bola sobrou para Isco, livre, mas ele chutou no travessão.

Karim Benzema e Loris Karius voltaram a ser protagonistas aos cinco minutos da etapa final. Toni Kroos fez um lançamento, mas Benzema não alcançou e a bola ficou com Karius. O goleiro foi sair rapidamente com as mãos e jogou a bola bem no instante em que Benzema esticou a perna. A bola bateu no pé do francês e tomou o rumo do gol. Um gol ridículo dava a vantagem no placar ao Real Madrid.

Mas a reação do Liverpool foi rápida. O time voltou a fazer a pressão alta e conseguiu o empate aos 10′. James Milner cobrou o escanteio, Dejan Lovren subiu bem de cabeça e desviou para o meio da pequena área. Sadio Mané foi mais rápido que Keylor Navas e esticou bem a perna para desviar do goleiro. Tudo igual em Kiev.


Com Nacho no lugar de Carvajal, os laterais passaram a não avançar tanto. Bale entrou para resolver a parada


Sem opções de ataque no banco, Klopp foi obrigado a mudar o sistema de jogo, perdendo força em suas ações ofensivas

O minuto 19 nos brindou com uma verdadeira obra prima. Marcelo cruzou de pé direito para a entrada da área e Gareth Bale, que tinha acabado de entrar, emenda de bicicleta para o gol. Um gol para ficar na história das finais da competição.

Os Reds quase empataram de novo, após uma troca de passes que Mané chutou de fora da área, mas a bola acertou na trave direita de Navas. Pura sorte. Sorte de (tri)campeão? Sim, conforme foi ratificado 14 minutos depois.

Aos 38′, Bale recebeu uma bola na direita, teve tempo de ajeitar e chutar da intermediária. Seria uma bola fácil para qualquer goleiro. Se ficasse parado, talvez a bola batesse em seu rosto e não fosse gol. Mas não era qualquer um. Era Loris Karius: um dos goleiros que mais comete falhas bisonhas. E cometeu mais uma. Ele estava pronto para socar a bola, mas resolveu de última hora segurá-la e abriu as mãos. Não fez nem uma coisa e nem outra: acabou empurrando a bola para o gol. Uma das piores partidas de um goleiro na história do futebol de alto nível.

O Liverpool perdeu o restante de sua pouca força que ainda restava. O Madrid ainda teve chances de sacramentar a goleada, mas não o fez. E conquistava, de novo, a Liga dos Campeões da Europa.

Cristiano Ronaldo pouco apareceu em campo. Deixou uma mensagem enigmática na entrevista após o jogo, dizendo que “foi muito bonito jogar no Real Madrid”. Benzema fez “só” o gol; se for embora, leva a gratidão dos madridistas, mas já vai tarde. Bale afirmou que precisa jogar mais e vai decidir seu futuro junto com seu empresário. Luka Modrić está ficando velho. Keylor Navas sempre está lá para salvar o time, mas às vezes falta confiança. Talvez esse seja o fim desse esquadrão como conhecemos.

Do outro lado, o Liverpool tem muita margem para melhorar. É um time promissor. A zaga não comprometeu. Milner está velho e lento. O capitão Jordan Henderson é um jogador de pura homogeneidade: não marca, não arma, não cruza, não chuta e não lidera. Roberto Firmino “dybalou” hoje. Se não fosse por Sadio Mané, o trio de ataque mais prolífico da história da Champions teria passado em branco. Karius não é goleiro para um time de alto nível. Karius nem é goleiro.

Mo Salah tem a torcida do universo para que se recupere e continue a brilhar na Copa do Mundo. Carvajal também.

Sergio Ramos é o eterno vilão. Há quatro anos, impediu o título do Atlético de Madrid aos 48 minutos do segundo tempo ao empatar o jogo. Hoje, “tirou” de campo o melhor jogador do mundo. Atualmente, é o cara mais odiado do mundo da bola. Mas tem o amor e o apoio da torcida do Real Madrid. Provavelmente, o torcedor madridista deve considerá-lo “meu malvado favorito”.


(Imagem: UOL)

Falando em malvado, quão malvado é esse Real Madrid?! Só nos últimos anos, tirou o título do coitadinho do Atlético, por duas vezes! Impediu Gianluigi Buffon de conquistar a Champions e se consagrar ainda mais! E agora tirou a chance de título do queridinho Mo Salah e desse lindo Liverpool! É o time a ser batido. É o mais odiado do mundo. Menos, claro, pelos que o ama – que são muitos.

Madrid Champions League. É uma dinastia. Assim como foi a dinastia do mesmo Real Madrid pentacampeão entre 1956 e 1960, o Ajax tricampeão (1971 a 1973) e o Bayern de Munique (1974 a 1976). Desde a fase moderna da UEFA Champions League, nenhum time tinha conseguido dois títulos consecutivos. Agora já são três. E contando…

Pra terminar: se CR7 fosse um clube, já seria o terceiro maior vencedor do torneio. Com cinco títulos, ele igualou Bayern, Liverpool e Barcelona.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

REAL MADRID 3 x 1 LIVERPOOL

 

Data: 26/05/2018

Horário: 21h45 locais

Estádio: Olímpico

Público: 61.561

Cidade: Kiev (Ucrânia)

Árbitro: Milorad Mažić (Sérvia)

 

REAL MADRID (4-3-1-2):

LIVERPOOL (4-3-3):

1  Keylor Navas (G)

1  Loris Karius (G)

2  Daniel Carvajal

66 Trent Alexander-Arnold

5  Raphaël Varane

6  Dejan Lovren

4  Sergio Ramos (C)

4  Virgil van Dijk

12 Marcelo

26 Andrew Robertson

14 Casemiro

5  Georginio Wijnaldum

8  Toni Kroos

14 Jordan Henderson (C)

10 Luka Modrić

7  James Milner

22 Isco

11 Mohamed Salah

9  Karim Benzema

9  Roberto Firmino

7  Cristiano Ronaldo

19 Sadio Mané

 

Técnico: Zinédine Zidane

Técnico: Jürgen Klopp

 

SUPLENTES:

 

 

13 Kiko Casilla (G)

22 Simon Mignolet (G)

6  Nacho

17 Ragnar Klavan

15 Theo Hernández

2  Nathaniel Clyne

23 Mateo Kovačić

18 Alberto Moreno

17 Lucas Vázquez

23 Emre Can

20 Marco Asensio

20 Adam Lallana

11 Gareth Bale

29 Dominic Solanke

 

GOLS:

51′ Karim Benzema (MAD)

55′ Sadio Mané (LIV)

64′ Gareth Bale (MAD)

83′ Gareth Bale (MAD)

 

CARTÃO AMARELO: 82′ Sadio Mané (LIV)

 

SUBSTITUIÇÕES:

30′ Mohamed Salah (LIV) ↓

Adam Lallana (LIV) ↑

 

37′ Daniel Carvajal (MAD) ↓

Nacho (MAD) ↑

 

61′ Isco (MAD) ↓

Gareth Bale (MAD) ↑

 

83′ James Milner (LIV) ↓

Emre Can (LIV) ↑

 

89′ Karim Benzema (MAD) ↓

Marco Asensio (MAD) ↑

… 24/05/1934 – Estados Unidos 4 x 2 México

Três pontos sobre…
… 24/05/1934 – Estados Unidos 4 x 2 México


(Imagem: AP / The Guardian)

● Como já dissemos aqui, a Copa do Mundo de 1930 foi disputada por treze nações convidadas. Dentre elas, as incipientes seleções de Estados Unidos e México.

Devido ao sucesso da edição inicial, dos 45 países filiados à FIFA na época, 32 se inscreveram para a disputa do Mundial de 1934. Mas segundo o regulamento firmado em 1931, seriam apenas 16 vagas. Assim, coube à entidade promover uma competição qualificatória, em que os inscritos foram divididos em 12 grupos, definidos por critérios geográficos, conforme abaixo:

GRUPO

CLASSIFICADO(S)

ELIMINADO(S)

Grupo 1

Suécia

Lituânia e Estônia

Grupo 2

Espanha

Portugal

Grupo 3

Itália

Grécia

Grupo 4

Hungria e Áustria

Bulgária

Grupo 5

Tchecoslováquia

Polônia

Grupo 6

Suíça e Romênia

Iugoslávia

Grupo 7

Holanda e Bélgica

Irlanda

Grupo 8

Alemanha e França

Luxemburgo

Grupo 9

Brasil

Peru

Grupo 10

Argentina

Chile

Grupo 11

México

Cuba e Haiti

Grupo 12

Egito

Palestina e Turquia

Mas o nosso foco mesmo é no Grupo 11, que foi dividido em três fases. Na primeira, Cuba passou pelo Haiti com duas vitórias (3 x 1 e 6 x 0) e um empate (1 x 1). Na segunda etapa, o México venceu Cuba por três vezes (3 x 2, 5 x 0 e 4 x 1). Com isso, o México havia conseguido sua vaga para o Mundial. Mas…


Delegação norte-americana embarcando para a Itália (Imagem: U.S. Soccer)

● No início da década de 1930, a Depressão ainda assolava os EUA e tinha reflexo até mesmo no futebol. Devido à situação financeira incerta, a USFA (antiga Federação de Futebol dos Estados Unidos) se atrasou em apresentar sua inscrição para disputar as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1934, que aconteceria na Itália. Porém, os semifinalistas da Copa anterior acabaram voltando atrás quando faltavam menos de quatro meses para a competição.

Para evitar um eventual incidente diplomático, devido a importância política dos EUA, a FIFA decidiu agradá-los. As partidas do Grupo ainda estavam em andamento e daria prazo de uma reinscrição, mas os cartolas se renderam aos norte-americanos e agendaram uma partida apenas três dias antes da abertura da Copa, entre os EUA e o vencedor do Grupo 11, que foi o México.

Esse confronto direto foi chamado de “Pré-Copa” e nunca mais se repetiria. O México, que havia assegurado a classificação no campo, seguindo todas as regras das eliminatórias, teve que dar o braço a torcer e enfrentar seu vizinho rico do norte.

Em um cenário que não ousaria ser repetido nos dias atuais, a partida final das eliminatórias foi realizada apenas três dias antes da Copa do Mundo, já em pleno solo italiano, no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. Quem perdesse, nem participaria efetivamente da Copa do Mundo. A derrota significaria ter atravessado o Oceano Atlântico em vão. Vale lembrar que naquela época, a viagem entre América e Europa duravam cerca de 15 dias de navio.


Tom Florie, Aldo Donelli e Joe Martinelli (Imagem: U.S. Soccer)

● Essa foi a primeira partida de futebol na história disputada entre os dois vizinhos, Estados Unidos e México. Foi o princípio de uma das maiores rivalidades do mundo.

Ambos ainda eram muito inexperientes em nível internacional. Era apenas a nona partida da seleção mexicana e a 15ª da norte-americana (que não jogou nenhuma vez entre 1931 e 1933).

Quem vencesse teria o direito de enfrentar a anfitriã Itália (o sorteio havia sido realizado dia 03/05/1934) três dias depois, pela primeira fase, equivalente às oitavas de final. Era um verdadeiro “presente de grego”.

Os Estados Unidos tinham sido semifinalistas quatro anos antes e convocaram quatro atletas da equipe de 1930: os zagueiros Jimmy Gallagher e George Moorhouse, o meio campista Billy Gonsalves e o atacante Tom Florie. No entanto, outro jogador seria o destaque da seleção e dessa partida.

O novato Aldo “Buff” Donelli era treinador de futebol americano da Duquesne University e jogador de “soccer” apenas nas horas vagas. Mesmo assim, suas qualidades com a bola no pé foram reconhecidas. Ele foi convidado para se juntar à seleção nacional um mês antes do Mundial e se tornou titular graças à insistência do tarimbado e respeitado meio campista Billy Gonsalves.

“Havia uma ‘panelinha’ entre os jogadores de New England e de St. Louis e eles me queriam fora do time. Só mais tarde me disseram que Billy Gonsalves falou ao dirigente Elmer Schroeder: ‘Se Donelli não jogar, eu também não jogo'”. ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino

Deu tudo certo e Donelli foi o destaque. Antes que a seleção americana tivesse história, ele fez história.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Depois de participarem em uma audiência especial com o Papa Pio XI um dia antes, os atletas estadunidenses entraram em campo dispostos a conseguirem a vaga para o Mundial. Eram 10.000 expectadores no Estádio PNF, incluindo o ditador italiano Benito Mussolini e o embaixador americano Breckinridge Long.

O México abriu o placar aos 23 minutos da etapa inicial, com o atacante Manuel Alonso.

Aos 28, começou o show particular de Donelli. O zagueiro direito Ed Czerkiewicz interceptou a bola e deu um passe longo para centroavante. Ele driblou um adversário e deixou outro no chão, antes de chutar sem defesa para o goleiro Rafael Navarro.

Quatro minutos depois, o ponta esquerda Bill McLean passou a bola para Donelli, que chutou rasteiro para virar o jogo.

Aos 7′ do segundo tempo, o zagueiro mexicano Antonio Azpiri foi expulso ao segurar o infernal Donelli quando este corria em direção ao gol. Com um homem a mais, os Estados Unidos aproveitaram a vantagem e mantiveram o controle do jogo.

Aos 29′, Werner Nilsen abriu na direita para Donelli, que passou por dois zagueiros e disparou para o gol, sem chances para o goleiro mexicano. Era o “hat trick”.

Os mexicanos ainda tentaram voltar para o jogo ao marcar o segundo gol no minuto seguinte, com o centroavante Dionisio Mejía.

Mas Donelli (sempre ele!) estava impossível e imparável. A três minutos do fim, fez seu quarto gol e fechou o placar. Ele recebeu de Tom Florie e chutou entre dois adversários, enganando o goleiro.

Incrivelmente, ele poderia ter chegado aos cinco gols, mas teve um pênalti defendido pelo goleiro Navarro aos 21 minutos do segundo tempo.

“O México tinha uma equipe do mesmo nível que a nossa. Mas eles não eram rápidos. Eles tinham um estilo de jogo bem definido. Não havia muita criatividade; era um ataque previsível. E se você fizesse alguma coisa diferente, se você se movimentasse um pouco, isso os desiquilibrava. Eu era capaz de passar pelos meus marcadores com muita facilidade.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino

O jornal “The New York Times” resumiu muito bem: “Os jogadores mexicanos pareciam ser tecnicamente superiores aos americanos, mas eles eram todos muito mais fracos fisicamente e não conseguiram superar o estilo de jogo mais vigoroso de seus oponentes, que eram mais fortes”.


Aldo Donelli (Imagem: U.S. Soccer)

● Com essa vitória, os Estados Unidos ganharam o direito de enfrentar a Itália na primeira fase da Copa do Mundo de 1934. Donelli, em sua segunda e última partida pela seleção, marcaria o único gol dos EUA.

É impossível falar nessa partida sem protagonizar Aldo “Buff” Donelli. Tony Cirino, em seu livro “U.S. Soccer vs The World”, descreve as características do jogador: “Normalmente ele se movimentava em toda a linha de ataque, se mexendo para a direita e para a esquerda e também voltando para o meio. Seu estilo era incomum para um centroavante, que, de acordo o que preconizava o sistema tático da época, o 2-3-5, deveria se posicionar permanentemente na grande área”.

Apesar de várias ofertas da Itália após o torneio, Donelli deixou o “soccer” e voltou a ser assistente técnico de futebol americano, na Duquesne University. Depois, ainda foi treinador principal dos Pittsburgh Steelers, Cleveland Rams, Boston University e Columbia University. Foi o único a treinar um time da NFL (liga profissional) e da NCAA (liga universitária) simultaneamente, em 1941. Mas ele admitiria posteriormente que o “soccer” era sua verdadeira paixão. Ele continuou jogando em ligas amadoras nos anos 1930.

Apenas outros três jogadores marcaram quatro gols por jogo vestindo a camisa da seleção masculina dos Estados Unidos. Além de Donelli, o lendário Archie Stark já havia realizado a façanha em uma vitória sobre o Canadá por 6 x 1 em 1925. Depois, somente Joe-Max Moore (7 x 0 sobre El Salvador, em 1993) e Landon Donovan (5 x 0 sobre Cuba, em 2003) conseguiram o feito.

E essa seria a única vitória dos EUA sobre o México nos próximos 46 anos. “La Tri” ficou invicta contra seus vizinhos por 26 partidas, até 23/11/1980, quando perdeu por 2 x 1, em jogo válido pelas eliminatórias para a Copa de 1982.

Por causa do início dessa série histórica, o México tem melhor retrospecto contra os rivais, com 37 vitórias, 14 empates e 19 derrotas. Porém, os EUA passaram a escrever um novo capítulo no século XXI, invertendo a freguesia, com 11 vitórias, 6 empates e 7 derrotas.


Seleção dos EUA que enfrentou o México em 1934 (Imagem: U.S. Soccer History)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 4 x 2 MÉXICO

 

Data: 24/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 10.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Yossouf Mohammed (Egito)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

MÉXICO (2-3-5):

Julius Hjulian (G)

Rafael Navarro (G)

Ed Czerkiewicz

Antonio Azpiri

George Moorhouse (C)

Lorenzo Camarena

Bill Lehman

Guillermo Ortega (C)

Billy Gonsalves

Ignácio Ávila

Peter Pietras

Felipe Rosas

Jimmy Gallagher

Vicente García

Werner Nilsen

Manuel Alonso

Aldo Donelli

Dionisio Mejía

Tom Florie

Juan Carreño

Bill McLean

José Rubalcaba

 

Técnico: David Gould

Técnico: Rafael Garza Gutiérrez

 

SUPLENTES:

 

 

Al Harker

Alfonso Riestra (G)

Joe Martinelli

Rafael Garzón

Herman Rapp

Manuel Rosas

Tom Amrhein

Carlos Laviada

Bill Fiedler

Marcial Ortiz

Tom Lynch

Guillermo Rosas

Francis Ryan

Luis de la Fuente

Walter Dick

Félix Gómez

 

Pedro González

 

Fernando Marcos

 

José Rosas

 

Jorge Sota

 

GOLS:

23′ Manuel Alonso (MEX)

28′ Aldo Donelli (EUA)

32′ Aldo Donelli (EUA)

74′ Aldo Donelli (EUA)

75′ Dionisio Mejía (MEX)

87′ Aldo Donelli (EUA)

 

EXPULSÃO:
52′ Antonio Azpiri (MEX)


(Imagem: U.S. Soccer)

… Convocação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2018

Três pontos sobre…
… Convocação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2018


(Imagem: Chuteira FC)

Esses são os 23 guerreiros que lutarão pelo Santo Graal da Copa do Mundo de 2018:

Goleiros:
Alisson (Roma)
Ederson (Manchester City)
Cássio (Corinthians)

Laterais:
Danilo (Manchester City)
Fágner (Corinthians)
Marcelo (Real Madrid)
Filipe Luís (Atlético de Madrid)

Zagueiros:
Miranda (Inter de Milão)
Thiago Silva (Paris Saint-Germain)
Marquinhos (Paris Saint-Germain)
Pedro Geromel (Grêmio)

Meias:
Casemiro (Real Madrid)
Paulinho (Barcelona)
Fernandinho (Manchester City)
Fred (Shakhtar Donetsk)
Renato Augusto (Beijing Guoan)
Philippe Coutinho (Barcelona)
Willian (Chelsea)

Atacantes:
Neymar (Paris Saint-Germain)
Gabriel Jesus (Manchester City)
Roberto Firmino (Liverpool)
Douglas Costa (Juventus)
Taison (Shakhtar Donetsk)

… Barcelona 2 x 2 Real Madrid

Três pontos sobre…
… Barcelona 2 x 2 Real Madrid


Jordi Alba não toca na bola, apenas em Marcelo em lance dentro da área blaugrana. Pênalti ignorado pelo péssimo árbitro Hernández Hernández
(Imagem: realmadrid.com)

Mesmo que pouco valha para o campeonato, o Superclássico é um jogo a parte.

Para o Barcelona, valia pela possibilidade de permanecer invicto e ver Don Andrés Iniesta se despedir com uma vitória sobre o rival.

Para o Madrid, era importante se vingar da derrota por 3 x 0 no Santiago Bernabéu, carimbar a faixa de campeão do Barça e se manter em alto nível para a a final da Champions.

Pensando assim, o time catalão deve ter ficado mais feliz com o resultado.

Um ótimo contra-ataque puxado por Sergi Roberto e um lindo voleio de Luis Suárez abriram o placar aos 10 minutos de jogo, quando os culés eram melhores.

Os merengues empataram em bela trama entre Cristiano Ronaldo, Toni Kroos e Karim Benzema, que o português acabou completando para as redes.

Depois, o Real perdeu pelo menos três chances claras de gol, principalmente com CR7.

Sergio Ramos e Suárez trocaram os tradicionais sopapos e ambos receberam cartão amarelo. Gareth Bale fez um “carinho” com a sola da chuteira na panturrilha de Samuel Umtiti, mas o juiz nem aplicou cartão (erradamente).

Sergi Roberto foi expulso por se desentender com Marcelo pouco antes do intervalo. Ernesto Valverde recompôs a defesa colocando Nélson Semedo no lugar do nulo Philippe Coutinho.

Os blaugranas jogariam toda a segunda etapa com um homem a menos. Mas o Real perdeu sua referência ofensiva ao substituir CR7, que sentiu dores no tornozelo, pelo pisão casual que levou de Piqué no lance do gol.

Os 45 minutos finais deveriam ser de um Madrid ofensivo, com toque de bola que envolvesse o adversário.

Mas logo aos 7′, Raphaël Varane toma a frente em uma jogada, mas leva uma rasteira de Suárez. Mas o árbitro Alejandro José Hernández Hernández só poderia estar cego ao não ver a falta. Na sequência desse lance, Lionel Messi fez a especialidade da casa e o segundo gol.

Seis minutos depois, veio a emoção da despedida de Iniesta, substituído por Paulinho – que passou a errar quase tudo que tentou.

O Real atacava sem saber o que fazer com a bola e o Barça teve chance de ampliar. Mas não fez e não faria até o apito final.

Aos 27 minutos, em bela troca de passes, Marco Asensio acha Gareth Bale no meio. O galês chuta de primeira da entrada da área e acerta o canto do ótimo goleiro Ter Stegen.

Aos 31′, Marcelo fez boa jogada e foi derrubado na área por Jordi Alba. Pênalti claríssimo, ignorado pela pior arbitragem dos últimos tempos.

Luis Suárez e Gareth Bale fizeram hora extra em campo e deveriam ter sido expulsos.

Barcelona conseguiu o resultado que queria, principalmente porque tem Lionel Messi e isso faria a diferença para qualquer equipe do mundo.

O apito foi mais prejudicial aos merengues, principalmente em dois lances capitais. Mas não sabemos o que aconteceria se o árbitro tivesse sido mais rigoroso com Bale, marcado a falta em Varane e até o pênalti em Marcelo. O Madrid poderia ter vencido. O Barcelona poderia ter vencido. Ou o jogo poderia ter terminado empatado.

Mas eu tenho um sonho. Sonho que um dia a arbitragem não interfira no Superclássico e que o melhor em campo vença. Faz muito tempo que isso não acontece…

… Roma 4 x 2 Liverpool

Três pontos sobre…
… Roma 4 x 2 Liverpool


(Imagem: Globo Esporte)

No dia 30 de maio de 1984, a Roma teve seus sonhos frustrados pelo Liverpool na final da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League). E, agora, quase 34 anos depois, os Reds voltaram a ser os algozes dos Giallorossi, dessa vez nas semifinais.

Se não tem mais a dança das pernas de espaguete do goleiro Bruce Grobbelaar, o time inglês tem o trio de ataque mais letal do mundo no momento: Mohamed Salah, Sadio Mané e Roberto Firmino, que já bateram o recorde de trio mais goleador da história do torneio, somando 29 gols (e contando…).

Para a Roma, seria uma verdadeira sequência de milagres, se vencesse por três gols de diferença e se classificasse, como foi contra o todo-poderoso Barcelona.

E faltou pouco. Por pouco o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar. Mais um gol marcado e a partida iria para a prorrogação.

Mas a Roma foi muito além do que se previa na competição.

Merecia sorte melhor? Melhor é não depender da sorte.

Na decisão, Real Madrid talvez tenha um ligeiro favoritismo por ser o atual bicampeão e por contar com craques mais renomados.

O Liverpool está em uma fase melhor que a do gigante espanhol e conta com o trio SMF “on fire”.

Mas agora, são duas camisas pesadíssimas. Dois multicampeões. Sem favorito.

… Real Madrid 2 x 2 Bayern de Munique

Três pontos sobre…
… Real Madrid 2 x 2 Bayern de Munique


(Imagem: realmadrid.com)

E a pergunta que fizemos semana passada se repete: “Como vencer esse Real Madrid na UEFA Champions League?”

O Bayern de Munique, de novo, criou diversas chances, mas parou na inoperância de seu ataque e nas defesas do goleiro Keylor Navas.

Os bávaros possuem ótimos jogadores, muito bem treinados pela lenda Jupp Heynckes, foram melhores nas duas partidas, mas…
… não aproveitou as chances claras de gol;
… não finalizou muito, sempre tentando achar um companheiro mais bem colocado e acabou errando demais no último passe;
… deu espaços na marcação;
… brincou na saída de bola, onde nunca se deve fazer;
… faltou alma vencedora.

Essa última questão é um pouco polêmica. Mas desde a aposentadoria de Philipp Lahm e a saída de Bastian Schweinsteiger falta uma grande liderança para esse Bayern. É inegável a qualidade de Jérôme Boateng, Mats Hummels, Franck Ribéry, Arjen Robben, Robert Lewandowski e Thomas Müller, mas temos a impressão que falta um líder. Poderia ser Manuel Neuer, lesionado durante toda a temporada. Mas um clube desse tamanho que dá a braçadeira de capitão a um jogador que (quase sempre) se omite nos momentos decisivos, é como o navio “Pérola Negra” tendo Jack Sparrow como capitão.

Mas nada disso estaria sendo dito se o Bayern tivesse avançado. E, de novo, faltou muito pouco para isso. Faltou o árbitro turco Cüneyt Çakır marcar pênalti em bola na mão de Marcelo dentro da área. Faltou finalização. Faltou Sven Ulreich ser mais “Neuer” com a bola nos pés, após um recuo tolo de Tolisso.

Do outro lado, faltou jogar. Uma hora a camisa deixa de pesar e o Madrid deixa de vencer. Faltaram Dani Carvajal e Isco, lesionados. Faltou mais Cristiano Ronaldo e Luka Modrić. Mas sobrou Keylor Navas, que sempre aparece para salvar os merengues em momentos decisivos.

Ou seja, foi uma partida decidida pelos dois goleiros: pelas defesas do madridista e pela falha do bávaro.

Não importa quem venha do outro lado, Liverpool ou Roma. Esse Real Madrid vai ter que jogar muito mais para entrar na história dos tricampeões da Champions.

… Bayern de Munique 1 x 2 Real Madrid

Três pontos sobre…
… Bayern de Munique 1 x 2 Real Madrid


(Imagem: Globo Esporte)

Como vencer esse Real Madrid na UEFA Champions League?

Mesmo jogando mal e sendo dominado, o time consegue vencer adversários do quilate de PSG, Juventus e Bayern fora de casa.

O Bayern cansou de criar chances, com dez (!) oportunidades claríssimas criadas e desperdiçadas.

Mas começou bem, com Joshua Kimmich aproveitando o maior ponto fraco dos merengues: os contra-ataques nas costas de Marcelo. Mas Keylor Navas caiu antes, o que pode ter ajudado no gol.

Depois, Franck Ribéry perdeu gol feito, daqueles que não se pode perder, ao adiantar demais a bola. Mas como criticar o camisa 7, a estrela que mais brilhou no Bayern nos últimos onze anos?!

Mats Hummels também perdeu uma chance clara. Ou seja, poderia estar 3 a 0 para os bávaros, tranquilamente. Mas o ditado é velho: “Quem não faz…”

O mesmo Marcelo que deu espaços na defesa, é um monstro no ataque. Fez um belo gol, chutando forte e rasteiro da entrada da área. Foi seu sétimo gol em mata-matas, o defensor que mais fez gols nessa fase da UCL.

Rafinha erra passe pelo meio, Marco Asensio tabela com Lucas Vázquez e vira o jogo. O mesmo Asensio que diria depois do jogo: “Real Madrid sabe sofrer er aproveitar as oportunidades”. E como sabe sofrer! E como sofreu!

Zidane teve seus méritos na vitória. Seu time estava acuado e Ribéry jogando muito. Com a lesão do lateral direito Dani Carvajal, ao invés dele colocar um defensor em seu lugar, inventou ao colocar Karim Benzema no ataque e recuar o meia atacante Vázquez para fazer a lateral. Mais rápido e mais jovem, ele diminuiu o ímpeto de Ribéry.

Cristiano Ronaldo teve uma única chance de marcar, mas dominou a bola no braço antes de chutar cruzado. Gol bem anulado. Agora o gajo está em um raro jejum na Champions: um jogo sem marcar, que não acontecia há um ano.

O Real Madrid tem que ficar esperto. Esse foi o placar nas quartas de final do ano passado e o time perdeu a partida de volta em casa pelo mesmo placar, só passando na prorrogação com uma ligeira ajudinha da arbitragem. Também deve se lembrar da última eliminatória contra a Juventus, quando venceu fora de casa por 3 x 0 e estava perdendo pelo mesmo placar até o último lance do jogo.

E o Bayern tem qualidade e camisa para reverter a vantagem.

… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958

Três pontos sobre…
… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958


(Imagem: Baú do Futebol)

● As cinco primeiras Copas do Mundo ofereceram uma experiência extraordinária para a Seleção Brasileira. Assim, para a Copa de 1958, na Suécia, a CBD organizou melhor a seleção dentro e fora de campo. Pela primeira vez, a delegação contava com supervisor (Carlos Nascimento, do Bangu), preparador físico (Paulo Amaral, do Botafogo), médico (Hilton Gosling, do Bangu), dentista (Mário Trigo de Loureiro, fundamental também por descontrair qualquer ambiente com suas piadas), massagista (Mário Américo) e até um psicólogo (João Carvalhaes).

O processo de escolha do técnico foi o resultado de um consenso entre João Havelange, presidente da CBD desde o início do ano, e Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Copa (e fundador da Rede Record). Vários nomes foram cogitados, como o paraguaio Fleitas Solich (técnico do Flamengo), Flávio Costa (técnico da Copa de 1950) e Zezé Moreira (técnico da Copa de 1954). Mas escolheram Vicente Feola, que era auxiliar técnico de Béla Guttmann no São Paulo, quando o húngaro implementou um inédito esquema tático com quatro zagueiros no clube paulista, semelhante à grande seleção da Hungria de 1954. Feola utilizaria também este sistema na Seleção.

Dr. Paulo encomendou um plano de preparação bem detalhado para a Copa, elaborado por três jornalistas da TV Record: Paulo Planet Buarque, Flávio Iazzetti e Ary Silva. Nele, foi traçado todo o roteiro de treinamento, dia a dia, desde a manhã da apresentação, no dia 07/04, o embarque para a Europa, no dia 24/05 e até a realização dos jogos amistosos.

A preparação toda foi cercada de muitos cuidados. A delegação levou carne e um cozinheiro para a concentração no Turist Hotel, na pacata cidade de Hindås, à beira de um belo lago. Para não correr nenhum risco, a comissão técnica escolheu o local um ano antes e conseguiu convencer a direção do hotel a substituir, naquele mês, 28 funcionárias mulheres (cozinheiras, garçonetes e arrumadeiras) por homens.

Para se ter uma noção da dificuldade de comunicação entre Brasil e Suécia na época (e também do rigor da concentração da Seleção), havia um dia específico marcado para cada um telefonar ao Brasil. Essa ligação poderia ocorrer só uma vez por semana e não deveria ultrapassar três minutos.

Os brasileiros introduziram uma novidade nos modelos esportivos usados na época: os calções curtos e camisas com modelos mais adequados para a prática do futebol. Em seu estágio primitivo, os calções chegavam aos joelhos e as camisas tinham até bolso.

Tudo foi planejado de forma inédita, da melhor maneira possível. Uma preparação de campeão. Essa enorme equipe técnica só falhou em um pequeno detalhe: esqueceu de informar à FIFA os números das camisas dos jogadores. Reza a lenda que, assim, coube ao uruguaio Lorenzo Villizio, integrante do comitê organizador da Copa, definir os números com base no que conhecia dos jogadores. E ele cometeu erros grosseiros, como dar a camisa 3 para o goleiro Gylmar e a 9 ao zagueiro reserva Zózimo. Por uma grande e feliz coincidência, a camisa 10 ficou com Pelé.


Pelé chora de emoção, amparado pelo grande goleiro Gylmar (Imagem: O Globo)

● O brasileiro sofria de “complexo de vira-lata”. Essa expressão foi criada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (irmão de Mário Filho, também jornalista, que dá nome ao estádio Maracanã). Ela refletia o sentimento que tomou conta do país depois da derrota na Copa de 1950. Mesmo quando a Seleção demonstrava um bom futebol, esse complexo fazia a torcida duvidar. Sempre tinha um “pé atrás”. Didi era um craque de reconhecido nível mundial, mas no Brasil era criticado por ser preguiçoso nos treinamentos. Essa “síndrome” só terminaria quando viesse uma grande conquista.

Desde a Copa de 1938, o jogador brasileiro sempre chamou a atenção por sua habilidade e irreverência. Mas a falta de um título mundial colocava nosso futebol em xeque. Para a maioria, faltava seriedade aos craques e técnica aos mais sérios. Sempre enxergamos isso mais como um problema do que como uma solução. Mas a Seleção de 1958 veio para mudar esse estigma, com o irreverente Garrincha e o carrancudo Didi.

O Brasil chegou à Suécia sem despertar maiores interesses da imprensa e do público de modo geral. Embora tivesse vários jogadores de qualidade reconhecida, era apenas mais uma boa equipe dentre tantas outras. A equipe passou pelas eliminatórias empatando com o Peru, em Lima (1 x 1) e vencendo o jogo de volta por 1 a 0, no Maracanã, com um gol de Didi cobrando falta, com sua famosa “folha-seca”. Mesmo com dificuldades, o Brasil estava pronto para disputar de verdade o título mundial.

De todos os 33 convocados da lista inicial, a ausência mais sentida foi do craque veterano Zizinho, que ainda jogava em altíssimo nível, mesmo aos 37 anos. Mas havia uma geração de craques a serviço do escrete canarinho. Formado por 12 atletas do Rio de Janeiro e 10 de São Paulo, era uma equipe equilibrada, que podia apostar também no vigor físico de seus atletas. Dos jogadores que entraram em campo, apenas Nílton Santos tinha mais que 30 anos. Os caçulas eram Pelé, com 17, e Mazzola, com 19. A média de idade era de 25 anos.

O elenco se apresentou no dia 07/04 e iniciou os treinamentos nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá. Para fazer os cortes necessários e fechar a lista nos 22 atletas, a Seleção fez alguns jogos preparatórios. Pelo torneio amistoso “Taça Oswaldo Cruz”, foram duas partidas contra o Paraguai: goleada por 5 x 1 e empate por 0 x 0. Depois, em dois amistosos contra a Bulgária, foram duas vitórias: 4 x 0 e 3 x 1.

Tiveram ainda dois jogos treino, com derrota por 1 x 0 para o Flamengo e vitória por 5 x 0 contra o Corinthians, a três dias da viagem para a Europa. Nessa última partida, veio o drama: Pelé sofreu uma entrada violenta do lateral corintiano Ari Clemente e teve torção de tornozelo. Se ele fosse cortado, Almir Pernambuquinho entraria em seu lugar. Mas a comissão técnica resolveu levar Pelé mesmo assim, pois acreditavam que ele estaria apto a entrar na terceira partida do Mundial. Pelé era o caçula da equipe. Por causa das dores no joelho que surgiram durante a preparação, ele pediu diversas vezes para ser mandado de volta para o Brasil. Mas Dr. Paulo se recusava: “Calma, garoto, você vai jogar nessa Copa e vai fazer muitos gols”. Um dia Pelé não aguentou a carga de exercícios e pediu novamente para ser desligado. Foi aí que o massagista Mário Américo provocou o moleque: “Você só não joga essa Copa se não for homem. Você é homem?” Pelé gritou que era muito macho e todos riram. E nesse momento, quando viu mexerem com seus “brios”, o menino começou a ganhar confiança.


(Imagem: Pinterest)

● A Seleção fez ainda mais dois amistosos em solo europeu: uma foi em 29/05, na partida de despedida de Julinho da Fiorentina, e outra contra a Internazionale de Milão, no dia 01/06. Em ambas, o Brasil goleou por 4 a 0.

Julinho é um caso a parte nessa história. Ele havia se firmado como titular indiscutível da ponta direita da Seleção, após as excelentes partidas na Copa de 1954. No ano seguinte, ele foi jogar na Fiorentina, da Itália. Mas na época, não era comum a convocação de jogadores que atuavam no exterior. Devido ao grande moral que tinha e sua enorme qualidade, uma exceção seria aberta para ele. Então, no início de 1958, João Havelange escreveu uma carta a Julinho perguntando quando terminaria seu contrato e se ele estaria disposto a defender o Brasil na Copa. Ele respondeu que seu contrato terminaria dia 30/05, às vésperas do Mundial, e que gostaria muito de representar a Seleção, pois estava em plena condição física. No entanto, com muito pesar, ele disse que recusaria a convocação em consideração aos colegas que haviam atuado na posição com a camisa da Seleção nos últimos anos. Um gesto de hombridade de um jogador deste tamanho. Possivelmente, Joel seria o reserva, caso Julinho tivesse ido para a Copa. Dessa forma, Garrincha ficaria de fora.

Garrincha também merece um parágrafo só para ele neste texto. Feola tinha uma dúvida na posição: Joel ou Garrincha. O Mané tinha desagradado à comissão técnica por uma molecagem no amistoso contra a Fiorentina. No lance do quarto gol brasileiro, ele driblou o goleiro e ficou esperando, pouco antes da risca; quando o zagueiro veio em sua direção, Garrincha o driblou e tocou de calcanhar para o gol. Agradou à torcida, mas não ao supervisor Carlos Nascimento e ao psicólogo João Carvalhaes. Eles disseram que o ponta tinha mentalidade de criança e poderia comprometer a Seleção. Uma grande irresponsabilidade, que poderia por tudo a perder em uma partida oficial. Feola teria escalado Garrincha mesmo assim, mas, segundo Ruy Castro, essa difícil decisão contou com a participação do observador Ernesto Santos.

Ernesto expôs à comissão técnica sobre a qualidade dos quatro meio campistas do WM austríaco e sugeriu que o Brasil reforçasse o setor para equilibrar as ações. Portanto, seria necessário que o ponta direita auxiliasse na recomposição, como Zagallo fazia com maestria pelo lado esquerdo. Feola argumentou que eles poderiam pedir a Garrincha para executar esse papel. Mas o preparador físico Paulo Amaral, que conhecia bem o ponta do Botafogo, foi taxativo ao afirmar que ele não conseguiria cumprir função tática nenhuma e que não seguiria o pedido de marcar pelo meio. Assim, Joel, ótimo ponta direita e mais disciplinado, foi o escolhido para a primeira partida do Mundial.

Nílton Santos era o jogador mais experiente do grupo, com 33 anos e iria para seu terceiro Mundial. Ele era o titular da lateral esquerda nos anos anteriores, mas havia uma pressão da imprensa paulista a favor de Oreco, que atuava no Corinthians. De acordo com Ruy Castro, Nílton estava definido como titular desde os amistosos na Itália, mas Péris Ribeiro (autor do livro “Didi – o gênio da folha-seca”) garante que Oreco é quem começaria o primeiro jogo de estreia. Mas, na véspera, o lateral do time paulista sofreu um afundamento de malar.

Na preparação para a Copa, notícias diziam que Moacir, do Flamengo, estava treinando melhor que Didi, que não se esforçava nos treinos. A imprensa logo pediu a troca no time titular. A responsa de Didi ficou na história: “Treino é treino, jogo é jogo”.


Garrincha passa por marcador soviético (Imagem: R7)

● Na primeira partida do Grupo 4, o Brasil bateu a forte Áustria por 3 a 0. Essa vitória contundente deixou a torcida brasileira esperançosa. Mas no jogo seguinte, o bom futebol não se repetiu e o Brasil empatou em 0 a 0 com a Inglaterra, com uma grande atuação do goleiro inglês Colin McDonald. Essa foi a primeira partida sem gols da história das Copas, depois de 116 jogos.

O resultado e o nível apresentado desagradaram Feola, que promoveu três alterações para a partida seguinte: saíram da equipe Dino Sani, Joel e Mazzola, e entraram Zito, Garrincha e Pelé. Zito entrou no time porque Dino Sani sentia dores. O menino Pelé se recuperou da contusão, como esperado, e tinha seu lugar no time titular. Joel sentiu dores e Garrincha foi escalado. Há também a lenda que diz sobre uma reunião sobre a escalação entre Feola, Nilton Santos e dois jornalistas, mas de qualquer forma Garrincha entraria.

Assim, com essas mudanças, o Brasil começou o jogo com tudo contra a União Soviética. O jornalista francês Gabriel Hanot (criador da UEFA Champions League) afirmou que aqueles foram os “três minutos mais incríveis da história do futebol”. Garrincha mostrou a que veio e o Brasil venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá.

Nas quartas de final, a Seleção Brasileira passou por País de Gales, que tinha uma equipe modesta, mas muito bem armada. A vitória foi por 1 a 0, com um gol espetacular de Pelé, seu primeiro em Copas do Mundo. Ele iniciava ali o seu longo reinado.

O adversário na semifinal foi a fortíssima seleção francesa, que vinha de resultados expressivos e tinha ótimos jogadores, como Robert Jonquet, Roger Piantoni, Raymond Kopa e Just Fontaine (o artilheiro do Mundial, com incríveis 13 gols em seis jogos). Mas a Seleção venceu por 5 a 2, com um gol de Vavá, um de Didi e três de Pelé (“hat trick”).

Na decisão, o Brasil bateu os donos da casa, de virada, por 5 a 2, com dois gols de Vavá, dois de Pelé e um de Zagallo. Vitória maiúscula na final! Brasil campeão do mundo!

Pela primeira vez a taça não ficou no continente que a promoveu. O Brasil foi o primeiro país a vencer uma Copa do Mundo fora de seu continente, e repetiu a façanha em 2002, ao ganhar a Copa da Coreia do Sul e do Japão. Esse feito foi repetido pela Espanha em 2010, com o título na África do Sul, e pela Alemanha, vencendo no Brasil em 2014.


Bellini foi escolhido pelo técnico Feola depois da recusa de Didi e Nilton Santos. Mal sabiam que o zagueiro ficaria eternizado na história do futebol por isso… (Imagem: Baú do Futebol)

Todos os gols da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958: