Três pontos sobre…
… Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda
(Imagem: FIFA)
● Hoje completa dez anos da morte de Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores da história do futebol. Seu nome de registro era Ferenc Purczeld Biró (Purczeld Biró Ferenc, no padrão húngaro), mas sua família alterou o nome de origem alemã em uma das muitas mudanças de “ânimos” políticos húngaros, em uma época em que o nacionalismo era extremo no país, forçando muitas famílias a adaptar o sobrenome. “Puskás”, em húngaro, significa revólver. Ou seja, Puskás era matador até no nome.
Era mais conhecido em sua terra como “Öcsi Puskás”. O apelido surgiu em um dia em que Puskás estava resfriado e de cama, enquanto seu pai foi trabalhar (jogava no Kispest) e sua mãe foi fazer compras. Ele fugiu pela janela e foi jogar bola com os amiguinhos em um terreno baldio. Quando sua mãe voltou e o viu, pegou o rolo de macarrão para lhe dar uma lição, mas os demais meninos fizeram uma barreira ao redor de Ferenc para protegê-lo, dizendo: “Não bate nele, dona Puskás, ele é nosso irmãozinho”. É que Puskás era o mais novo de todos e eles o chamavam de “Öcsi” (irmãozinho em húngaro).
Em janeiro de 1949, a Hungria se tornou um estado comunista e os clubes de futebol foram nacionalizados. O time de Puskás, Kispest FC, foi assumido pelo Ministério da Defesa e tornou-se o time do exército húngaro, chamado Honvéd (defensores da pátria, no idioma local). O técnico era Gusztáv Sebes, Vice-Ministro do Esporte húngaro, que teve a liberdade de juntar alguns dos melhores jogadores do país no mesmo time. Todos esses craques tinham suas patentes no exército nacional e Puskás era major. Aí se origina outro de seus apelidos: “Major Galopante”.
(Imagem: Lance!)
Pela seleção da Hungria, entre 1945 e 1956 disputou 85 partidas e marcou incríveis 84 gols. Ainda é o segundo maior artilheiro por uma seleção, perdendo apenas para o iraniano Ali Daei (109 gols em 150 jogos). Entre 1950 e 1956, a seleção da Hungria perdeu apenas uma partida: justamente a final da Copa do Mundo de 1954, para a Alemanha Ocidental, por 3 a 2.
No Real Madrid, fez uma parceria memorável com Alfredo Di Stéfano e conquistou três UEFA Champions League. Na final do torneio de 1959/60, os merengues venceram o Eintracht Frankfurt por 7 x 3, com 3 gols de Di Stéfano e 4 de Puskás. Na Espanha, ganhou os apelidos de “Pancho” (uma variante diminutiva em espanhol de Francisco – Ferenc em castelhano) e “Cañoncito Pum” (algo como “tiro de canhão”, em tradução livre). Esteve também na Copa do Mundo de 1962, atuando pela Espanha, que foi eliminada na primeira fase.
Como técnico, treinou equipes dos cinco continentes, mas teve raros sucessos em times pequenos. Conquistou títulos na Austrália, mas teve mais destaque com o Panathinaikos conquistando o bicampeonato grego em 1971 e 1972, além de ser vice-campeão da UEFA Champions League de 1970/71, perdendo para o forte Ajax, de Johan Cruijff e cia.
Só voltou a seu país em 1981 e em 1995 foi alçado à patente de coronel. Em 1997, em comemoração aos seus 70 anos, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antonio Samaranch, outorgou a Puskás a ordem de honra do COI, máxima condecoração olímpica. Desde o ano 2000, o craque sofria do Mal de Alzheimer e passou a ter dificuldades financeiras, no que foi prontamente amparado pelo Real Madrid. No ano seguinte, o Népstadion, de Budapeste, seria renomeado Estádio Puskás Ferenc. Faleceu há exatos dez anos, no hospital Kütvolgyi, na capital de seu país, depois de ficar internado com um pneumonia por dois meses. Desde 2009 a FIFA concede o Prêmio Puskás ao autor do gol mais bonito do ano. Homenagem justíssima a uma lenda do esporte.
(Imagem: O Gol)
● Feitos e premiações de Ferenc Puskás:
Pela Seleção da Hungria:
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1952.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1954.
Pelo Honvéd:
– Campeão do Campeonato Húngaro em 1949/50, 1950-especial, 1952, 1954 e 1955.
Pelo Real Madrid:
– Campeão da Copa dos Campeões da UEFA (atual UEFA Champions League) em 1958/59, 1959/60 e 1965/66.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1960.
– Campeão do Campeonato Espanhol em 1960/61, 1961/62, 1962/63, 1963/64 e 1964/65.
– Campeão da Copa do Generalíssimo (atual Copa do Rei) em 1961-1962.
Como Técnico, pelo Panathinaikos (Grécia):
– Vice-campeão da UEFA Champions League em 1971.
– Campeão do Campeonato Grego em 1971 e 1972.
Como técnico, pelo South Melbourne (Austrália):
– Campeão do Campeonato Australiano em 1991.
– Campeão da Copa da Austrália em 1990.
– Campeão da Copa Dockerty em 1989 e 1991.
Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Húngaro em 1947/48 (50 gols), 1949/50 (31 gols), 1950 (25 gols) e 1953 (27 gols).
– Artilheiro do Campeonato Espanhol em 1959/60 (25 gols), 1960/61 (28 gols), 1962/63 (26 gols) e 1963/64 (21 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1959/60 (12 gols) e 1963/64 (7 gols).
– Chuteira de Ouro do Mundo em 1948 (50 gols).
– Jogador Europeu do Ano em 1953.
– Bola de Ouro da Copa do Mundo de 1954.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1954.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Prêmio Jogador de Ouro da Hungria no Jubileu da UEFA em 2004.
– Membro do Hall da Fama da FIFA desde 1998.
– Jogador Europeu do Século XX pelo jornal L´Equipe.
– Maior Artilheiro do Século XX pela IFFHS.
– 7º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista World Soccer.
– 6º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 2º lugar na lista dos melhores jogadores europeus do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador húngaro do século XX pela IFFHS.
● Frases de Puskás e sobre Puskás:
“Os adversários podem jogar melhor, mas a bola é redonda para todos.” — Puskás.
“Futebol é muito simples: o time que tem a bola precisa jogar, o time que não tem a bola precisa marcar.” — Puskás, filosofando.
“Nós jogamos alegremente, eles disputaram o título.” — Puskás, sobre a derrota da Hungria para a Alemanha na final da Copa do Mundo de 1954.
“Deus disse: ao sétimo dia descansarás. Bom, homem, isso é o que deve fazer um técnico. O domingo é dos jogadores. Quando estão em campo, para que dar cambalhotas no banco ou gritar até ficar surdo, se eles são os únicos que podem virar um resultado ou ganhar uma partida? Eu, todavia, não vi ninguém que ganhou uma partida olhando.” — Puskás, em grande frase, reproduzida no segundo livro da coleção dos 90 anos da revista El Gráfico.
“O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stéfano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo.” — Puskás.
“Quando olho para trás, vejo que ao longo de minha vida uma única linha se desenvolveu – apenas o futebol. Foi uma linha simples, direta, sem ambições conflitantes. Desde aquele momento na minha infância quando ouvi o misterioso clamor da multidão no estádio Kispest, a apenas alguns metros de distância da janela da nossa cozinha, acho que já estava predestinado.” — o próprio craque, na biografia “Puskás – Uma lenda do futebol mundial.”
“Ele era um jogador especial do seu tempo, sem nenhuma dúvida. Como a Hungria não venceu a Copa do Mundo de 1954 está além da minha compreensão.” — Sir Alex Ferguson, sobre Puskás.
“De todos nós, ele era o melhor. Ele tinha um sétimo sentido para o futebol. Se havia 1000 soluções, ele pegaria a 1001ª.” — Nandor Hidegkuti, companheiro de Puskás na seleção da Hungria.
“Olhe aquele cara gordo. Vamos acabar com ele.” — Jogador inglês não identificado, antes da derrota por 6 a 3 em 1953, em pleno Wembley.
“No seu livro, Puskás disse que se eu não tivesse jogado bem eles teriam marcado 12 gols! Era um privilégio jogar contra aquele time, mesmo que tenham acabado com a gente. O Puskás não era apenas um grande jogador de futebol, mas também um homem adorável.” — Goleiro inglês Gil Merrick.
“Ferenc realmente era um jogador maravilhoso. Ele era rechonchudo, mas um maravilhoso canhoto e um finalizador brilhante. Eu colocaria Puskás em qualquer lista dos melhores de todos os tempos. Um jogador maravilhoso, uma pessoa maravilhosa e ele gostava de jogar.” Sir Tom Finney.
“Puskás era um inferno para os goleiros a 30-35 metros de distância. Ele não tinha apenas um chute poderoso, mas também muita precisão. Eu o considerava um gênio.” — Raymond Kopa, companheiro de Puskás no Real Madrid.
“O homem era um super-talento. Eu perdi um amigo e um jogador de qualidade. Era assim que Puskás era como pessoa e jogador de futebol. Ele era um dos maiores jogadores de todos os tempos. Mas a vida, meu amigo, chega ao final quando você menos espera.” — Alfredo Di Stéfano, companheiro de Puskás do Real Madrid.
“Ele se deu bem com todos e tinha um caráter muito jovial que o ajudou a jogar com uma quantidade impressionante de alegria e serenidade. Ele tinha um grande chute e ele poderia acelerar muito rapidamente, tinha qualidades diversificadas e, sobretudo, tinha explosão.” — Luis Suárez, companheiro de Puskás na seleção da Espanha.
“Não houve um húngaro que não tenha ficado tocado pela morte de Ferenc Puskás. O húngaro mais famoso do século 20 nos deixou, mas a lenda vai sempre estar entre nós.” — Ferenc Gyurcsany, ex-primeiro ministro húngaro.
“Todos nós nos apaixonamos por Puskás e pela seleção húngara nos anos 50. Ele só tinha a perna esquerda e fazia maravilhas com ela.” — Armando Nogueira, um dia após o falecimento de Puskás.
“Ferenc foi um gênio porque nasceu sabendo.” — Mauro Beting em “As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”.
“Eu estava com (Bobby) Charlton, (Denis) Law e Puskás, estávamos dando aula em uma academia de futebol na Austrália. Os jovens que estávamos treinando não o respeitavam, fazendo piadas com o seu peso e sua idade. Nós decidimos deixar os garotos desafiarem um técnico a acertar uma barra 10 vezes seguidas. Obviamente, ele escolheram o velho gordo. Law perguntou aos meninos quantas vezes em 10 o treinador velho e gordo acertaria. A maioria disse que menos de cinco. Era melhor ter dito 10. O treinador velho e gordo se adiantou e acertou nove em sequência. No décimo chute, ele levantou a bola no ar, tocou com os dois ombros e a cabeça, deixou ela cair para o calcanhar e chutou de voleio na barra. Todos ficaram em silêncio e um dos meninos perguntou quem ele era e eu respondi: ‘Pra você, o nome dele é Senhor Puskás'”. — George Best.
“É importante preservar a memória dos grandes nomes do futebol que deixaram sua marca na nossa história. Ferenc Puskás era não só um jogador com imenso talento que ganhou muitas honras, mas também um homem notável. É, portanto, um prazer para a FIFA lhe prestar homenagem e lhe dedicar este prémio à sua memória.” — Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA, sobre o prêmio “Ferenc Puskás”.
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