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… Santos, de Diego e Robinho, Campeão Brasileiro de 2002

Três pontos sobre…
… Santos, de Diego e Robinho, Campeão Brasileiro de 2002


(Imagem: Lance!)

● Na década de 1960, o Santos foi o time a ser batido, com um esquadrão que está na ponta da língua dos amantes do futebol: Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Após essa fase, o clube viveu um terrível ostracismo, tendo apenas lampejos, como na era dos “Meninos da Vila” (Juary, Pita, Aílton Lira e João Paulo) ou com o vice-campeonato brasileiro de 1995, com o “Messias” Giovanni. Foi nesse cenário que o alvinegro praiano chegou no século XXI: com um jejum de mais de trinta anos sem levantar uma taça importante.

O Santos até tentou montar um time forte entre 2000 e 2001, mas não conseguiu seus objetivos. Assim, com alguns medalhões como Fábio Costa, Robert e Fabiano Souza, começou o Campeonato Brasileiro de 2002 desacreditado, com uma campanha toda irregular. O time só engrenou após o técnico Émerson Leão estruturar o jogo coletivo, dando mais liberdade para brilhar os talentos individuais, especialmente de Robinho (18 anos) e Diego (17). Ainda assim o time se classificou na “bacia das almas”. Perdeu as duas últimas partidas da primeira fase e terminou empatado com o Cruzeiro, ambos com 39 pontos. O saldo de gols maior foi o critério que classificou o Peixe para a fase seguinte.

Por ter passado em 8º, teve que enfrentar nas quartas de final o poderoso São Paulo, que foi o líder na classificação geral, terminando a fase com dez vitórias consecutivas. O Tricolor estava voando, com craques como Rogério Ceni, Ricardinho, Kaká e Luis Fabiano. Todos esperavam uma classificação tranquila do São Paulo. Mas os “moleques” da Vila trataram de jogar como gente grande e venceu o adversário por 3 a 1 na Vila Belmiro e por 2 a 1, dentro do Morumbi, com Diego dançando em cima do escudo do SPFC, iniciando uma confusão geral. O torcedor santista começou a acreditar, mesmo reticente por estar acostumado a se decepcionar recentemente.

Nas semifinais, enfrentou o Grêmio, que havia eliminado o rival Juventude. Na Vila, um chocolate e 3 a 0 na bagagem. No antigo Olímpico, uma derrota por 1 a 0 não impediu a classificação santista.


(Imagem: Folha UOL)

● A final seria contra um fortíssimo time do Corinthians, que havia sido campeão do Torneio Rio-São Paulo e da Copa do Brasil naquele mesmo ano. O Timão vinha sedento pela tríplice coroa, comandado pelo técnico Parreira. Foram dois jogos no Morumbi. No primeiro, o Santos venceu por 2 a 0, com gols de Alberto e Renato, mas perdeu o meia Diego, contundido.

Na finalíssima, Diego insistiu em jogar, mas durou apenas dois minutos em campo. Sem seu camisa 10, a torcida estava apreensiva. Mas Robinho se tornou o super-herói do Peixe e jogou por ele e pelo parceiro Diego. No fim do primeiro tempo, aos 37 minutos, partiu pra cima do lateral Rogério, com inúmeras “pedaladas”, enquanto o marcador se afastava. Quando Robinho entrou na área, partiu para o drible e foi chutado por Rogério, que chegou atrasado no lance. Pênalti bem cobrado pelo próprio Robinho.

Precisando de três gols, o Timão partiu pra cima e virou o jogo no final, com Deivid (aos 30) e Anderson (aos 39 minutos do segundo tempo). O Corinthians precisava de apenas mais um gol. Será que o Peixe iria morrer na praia de novo? Absolutamente não! Robinho inicia jogada pela direita e cruza para Elano empatar a dois minutos do fim. Nos acréscimos, ainda daria tempo para (de novo) Robinho colocar Vampeta pra dançar e rolar pra trás para o lateral Léo fuzilar. Gol do título.

Foi a coroação de um excepcional trabalho nas divisões de base, que renderia frutos também para a próxima década. Uma talentosa geração que entrou para a história não só do clube de Pelé, mas também do futebol brasileiro.

FICHA TÉCNICA
Corinthians 2 x 3 Santos
CORINTHIANS (4-3-3)
Doni; Rogério, Fábio Luciano, Anderson e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato Abreu (Marcinho); Deivid, Guilherme (Leandro) e Gil. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
SANTOS (4-4-2)
Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, Michel); Robinho e William (Alexandre). Técnico: Émerson Leão.
Data: 15/12/2002
Local: Estádio Morumbi
Público: 74.592
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Gols:
37′ Robinho (SAN) (pen)
75′ Deivid (COR)
84′ Anderson (COR)
88′ Elano (SAN)
90’+ 2′ Léo (SAN)

Além dos titulares no jogo final, compunham o elenco santista, dentre outros:

Júlio Sérgio (goleiro), Michel (lateral direito), Preto (zagueiro), Pereira (zagueiro), Robert (meia), Alexandre (meia), Canindé (meia), Adiel (atacante), Douglas (atacante), Fabiano Souza (atacante) Bruno Moraes (atacante) e Alberto (atacante, que era titular do time, mas estava suspenso para a segunda partida da final).

… São Paulo campeão mundial de 1992

Três pontos sobre…
… São Paulo campeão mundial de 1992


(Imagem: saopaulofc.net)

● O São Paulo já era um clube com bom histórico regional e até nacional. O time tinha sido vice-campeão brasileiro em 1989 e 1990 e, enfim, foi campeão em 1991 (tinha vencido antes, em 1977). Com uma base forte e vários jogadores que vestiram ou vestiriam a camisa da Seleção Brasileira, o Tricolor do Morumbi venceu uma difícil Copa Libertadores, batendo o argentino Newell’s Old Boys nos pênaltis, com um Zetti decisivo. Com poucas alterações no time (a mais importante foi a saída do zagueiro Antonio Carlos), partiu para o Japão.

O Barcelona era o chamado “Dream Team“, montado pelo gênio Johan Cruijff, expoente em pessoa do “Futebol Total”. Eram muitos craques mundiais em um só time, completado por outros bons jogadores, todos de alto nível. O time estava no meio do único tetracampeonato espanhol de sua história. Na final da UEFA Champions League de 1991/92, venceu na prorrogação o fortíssimo time da Sampdoria. Todos apostavam em uma vitória categórica do Barça sobre o São Paulo. Só faltou combinar antes.

(Imagem: Orlando Kissner / AE)

● O Barça aproveitou o início nervoso do adversário e começou mostrando a que veio, aos 12 minutos, com um golaço do craque búlgaro Stoichkov, em chute da intermediária, surpreendendo e encobrindo o goleiro Zetti. Todos tinham certeza que era o início de uma goleada. Mas estavam enganados. Aos 27 minutos, em um contra-ataque, Palhinha lançou na esquerda para Müller, que fez jogada individual e cruzou para a área. Raí se antecipou à defesa espanhola e completou de barriga para o gol de Zubizarreta. Raí começava a escrever a sua história a parte.

O Mestre Telê Santana tinha fama de pé frio, por não conseguir vencer a Copa do Mundo com duas ótimas Seleções Brasileiras, em 1982 e 1986. Ele era sempre ranzinza, como um avô velho. Sempre gritava muito na beira do gramado e se estressava com tudo. Mas especialmente nesse dia, Telê foi sereno todo o tempo, com consciência de todo o potencial de sua equipe.

Os dois times tiveram chances de marcar, mas não saía o gol. O lateral-esquerdo (anjo da guarda) Ronaldo Luís salvou em cima da linha uma bola chutada por Txiki Begiristain. No segundo tempo a partida continuava em extremo equilíbrio, com os dois times jogando em busca do gol, mas o placar não era alterado, mesmo com o time brasileiro já sendo muito superior na partida. Até os 34 minutos da etapa complementar, quando Palhinha sofreu falta no lado esquerdo da intermediária ofensiva. Em situações normais e para jogadores normais, seria um excelente e perigoso cruzamento para a área.

Então apareceu ele de novo, o capitão, o craque da camisa nº 10 (que ganharia o carro da Toyota ao ser eleito o melhor da partida). Em cobrança de falta ensaiada (que nunca dava certo nos treinamentos), Raí rolou para Cafu, que apenas escorou e assistiu ao meia colocar a bola no ângulo direito, como se fosse colocada com as mãos, um míssil teleguiado. Uma verdadeira obra prima feita por um artista.

Com pouco tempo para se recuperar, o Barça viu o São Paulo administrar a vantagem e se tornar campeão do mundo.

(Imagem: Lance!)

● Após o jogo, o técnico Johan Cruijff disse: “se é para ser atropelado, que seja uma Ferrari”. Além do placar, essa declaração era a prova definitiva da superioridade do novo campeão mundial.

Não tem como negar: esse foi o maior e melhor jogo da história do São Paulo Futebol Clube. É claro que os títulos de 1993 e 2005 são inesquecíveis, mas o de 1992 foi diferente. Além de ter sido o primeiro Mundial do clube, foi em cima de um time considerado imbatível, além de ser o único título mundial conquistado com (e por causa de) Raí.

FICHA TÉCNICA
São Paulo 2 x 1 Barcelona
SÃO PAULO (4-4-2)
Zetti; Vítor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Pintado, Toninho Cerezo (Dinho), Raí e Cafu; Müller e Palhinha. Técnico: Telê Santana.
BARCELONA (3-5-2)
Andoni Zubizarreta; Albert Ferrer, Ronald Koeman e Eusébio Sacristán; José Mari Bakero (Ion Andoni Goikoetxea), Pep Guardiola, Guillermo Amor, Michael Laudrup e Richard Witschge; Txiki Begiristain (Miguel Ángel Nadal) e Hristo Stoichkov. Técnico: Johan Cruijff.
Data: 13/12/1992
Local: Estádio Nacional (Tóquio, Japão)
Público: 60.000
Árbitro: Juan Carlos Loustau (Argentina)
Gols:
12′ Hristo Stoichkov (BAR)
27′ Raí (SPFC)
79′ Raí (SPFC)

… Íbis: o pior time do mundo

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… Íbis: o pior time do mundo


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● O Íbis Sport Clube foi fundado em 15/11/1938 na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife, pela Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP), tendo a frente Amaro Silva, Onildo Ramos e Alex Codiceira, além do proprietário da fábrica, João Pessoa de Queiroz. O clube foi criado pela necessidade de lazer, como forma de entretenimento para os operários da empresa. No início apenas funcionários da empresa jogavam algumas partidas amistosas. Depois, o clube cresceu e se profissionalizou, tornando inclusive um dos fundadores da Federação Pernambucana de Futebol. Com o passar do tempo e o falecimento do proprietário da TSAP, seus herdeiros não tiveram interesse pela agremiação, o time foi abandonado pela empresa o gerente Onildo Ramos assumiu o clube. Desde então, o nome da Família Ramos sempre esteve ligado ao Íbis.

Fundado em um bairro boêmio, vendo as manhãs de sol, a origem do nome vem do Egito. Íbis é uma ave negra, pernalta e adorada pelos egípcios. Reza a lenda que a ave transmite azar. Desde sua fundação, as cores sempre foram vermelha e preta, em referência ao escudo da TSAP. Foi durante muito tempo chamado pela imprensa pernambucana de o “rubro-negro das Salinas”, por causa do padroeiro do bairro de Santo Amaro das Salinas.

O primeiro jogo do Íbis (incrivelmente) foi uma vitória contra um time chamado Vasco Football Clube, por 1 x 0, em 15/11/1938. Mas as dificuldades do clube se originam de longa data. No campeonato estadual de 1950, em um dos jogos, só apareceram seis jogadores. O limite mínimo da partida era (como ainda é) de sete atletas. Para completar o time, o ex-presidente Ozir Ramos calçou as chuteiras e entrou em campo.

Venceu o Torneio Início do Campeonato Pernambucano em 1948 e 1950, além do bicampeonato do Torneio Incentivo de 1975/76. Em divisões de base, foi campeão estadual sub-20 em 1948 e 1995 e sub-17 em 1995. Disputou a primeira divisão pernambucana em 1946-1950, 1952-1960, 1962-1970, 1972-1976, 1978-1987, 1989, 1991-1993 e 2000.

● Mas em 78 anos de existência, a principal conquista do Íbis é o registro no Livro Guinness dos Recordes. O motivo é o título (nada) honorário de “Pior Time do Mundo”.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o Íbis ganhou fama mundial por sua péssima qualidade nos gramados. Com nove derrotas consecutivas e uma sequência de 23 jogos sem vitórias, conquistou fama nacional e, posteriormente, mundial. Foram três anos e onze meses sem conquistar uma única vitória. A fama de “pior time do mundo” veio com uma brincadeira de jornalistas da época, mas pegou. A sucessão de derrotas chegou a ser citada em uma edição do “New York Times”, um dos jornais mais importantes do mundo.

A notoriedade começou no Campeonato Pernambucano de 1979, cujo balanço do Íbis foi o seguinte: doze jogos, doze derrotas, 51 gols contra e um a favor (marcado contra pelo zagueiro Cícero, do Sport, na goleada de 8×1). O clube estava a dezenove jogos sem vencer, entre 1978 e 1979 e bateu o Ferroviário por 1 x 0 em 20/07/1980, valendo pelo campeonato estadual de 1980. Depois disso, só voltaria a vencer em 17/06/1984, ganhando do Santo Amaro por 3 x 1.

Mesmo após passar anos sem ganhar um único jogo e levando goleadas “estrondosas”, o clube só foi rebaixado para a segunda divisão em 1995. Em 1999, foi vice-campeão pernambucano da segunda divisão, disputando a elite em 2000, mas caiu novamente no mesmo ano. Afinal como, lembra Ozir Ramos, para o Íbis, mais que competir o “importante é existir”.

Porém, não só de derrotas vive o Pássaro Preto. O time também já bateu no trio de ferro pernambucano:

28/08/1947 – Íbis 5 x 4 Sport (Aflitos)
29/01/1948 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)
01/08/1948 – Íbis 5 x 3 Náutico (Aflitos)
30/11/1952 – Íbis 2 x 0 Sport (Ilha do Retiro)
16/06/1961 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)
18/07/1965 – Íbis 1 x 0 Santa Cruz (Aflitos)
10/05/1970 – Íbis 1 x 0 Sport (Arruda)
25/03/2000 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)

O departamento de marketing do clube é muito bom, pois utiliza a “fama” do Íbis para aparecer principalmente nas redes sociais. Só nesse ano, sugeriu um novo torneio entre os grandes eliminados em fases anteriores dos estaduais, a “Eliminados League”, com: Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Avaí, Treze, Náutico e o próprio Íbis. Também publicou “propostas” e até sugestões de contratos para o técnico José Mourinho, Zlatan Ibrahimovic e para o lateral-direito Douglas (ex- São Paulo e cujos direitos pertencem ao Barcelona).

Apareceu na mídia também ao aplicar uma sonora goleada por 8 x 2 no Timbaúba, pela Série A-2 do Campeonato Pernambucano.

● Se o time principal é famoso por vexames, as divisões de base foram prolíficas, ao revelarem principalmente o centroavante Vavá, bicampeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962, que deu seus primeiros passos com a bola como meia do Pássaro Preto. Outros dois ex-jogadores de seleção que usaram a camisa rubro-negra foram o lateral esquerdo santista Rildo, em 1959, e o meia direita Bodinho, sensação do Internacional de Porto Alegre, na década de 50.


(Imagem: Resenha Esportiva)

Mas com certeza o maior ídolo da história do Íbis é o camisa 10 Mauro Shampoo. Ele jogou no Íbis por dez anos, entre 1980 e 1990, atuou em 55 partidas e marcou um gol, na derrota para o Ferroviário do Recife por implacáveis 8 x 1. Logo após marcar o gol, Shampoo declarou ter realizado a obra de sua vida e concretizado seu maior sonho. “Só fiz um gol na carreira, e mesmo assim dizem que foi contra. O goleiro deu rebote e a bola caiu na marca do pênalti. Fiz o gol e corri o estádio todinho. O estádio estava lotado… Lotado de espaço vazio. Perdemos de 8 a 1, mas eu fiz um golaço. Não tem registro, por isso dizem que foi contra. Dói no coração. É o gol da minha vida.” Após pendurar as chuteiras, Shampoo virou cabeleireiro e construiu um salão de beleza na Praia da Boa Viagem, que é um dos principais pontos turísticos da capital. O folclórico camisa 10 atende o telefone de seu salão dessa forma: “Jogador do Íbis, cabeleireiro e homem. O único no Brasil. Mauro Shampoo às suas ordens.” Tentou a vida política, sem sucesso.

Se tornou tema de um curta-metragem (25 min), chamado “Mauro Shampoo – Jogador, Cabeleireiro e Homem”, dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e Leonardo Cunha Lima em 2006, que conta a história do “craque”, que, mesmo tendo feito apenas um gol em toda a sua carreira, se tornou famoso como um símbolo do Íbis Sport Club que entrou para Guinness. O filme ganhou diversas premiações. Compõe a trilha sonora uma canção de Oswaldo Montenegro, chamada “A Incrível História de Mauro Shampoo”.

… Estrela Vermelha, campeão do mundo em 1991

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… Estrela Vermelha, campeão do mundo em 1991


(Imagem localizada no Google)

● Hoje o título mundial do Estrela Vermelha, da antiga Iugoslávia, completa mais um aniversário. O único título da Copa Intercontinental conquistado pelo Leste Europeu.

Na verdade, Estrela Vermelha e Colo Colo eram duas zebras. Na América do Sul, o mais forte naquele ano era o Boca Juniors, que sucumbiu nas semifinais ao poder do “Cacique” (apelido do Colo Colo). O então campeão Olimpia também não foi páreo e o Colo Colo de 1991 se tornou o primeiro (e até hoje único) time chileno a vencer a Copa Libertadores da América.

Já o Estrela Vermelha (Crvena Zvezda, no idioma local) era uma equipe excelente, mas jamais seria a favorita para vencer a Copa dos Clubes Campeões Europeus (atual UEFA Champions League). No Velho Continente, quem mandava era o Milan (último bicampeão do torneio 1989/90 e 1990/91). O Napoli (de Maradona), o Real Madrid e o Spartak Moscou eram muito fortes. Mas tudo estava preparado para o primeiro título europeu do Olympique de Marseille. O time francês vinha atropelando todos os adversários (bateu até o temido Milan). O Estrela Vermelha tinha uma campanha mais modesta, mas sem maiores sustos.

Na decisão, o Estrela enfrentaria seu maior ídolo, que tinha se mudado nesta temporada para o próprio Marseille: Dragan Stojković. O meia saiu do banco já na prorrogação, mas nada pôde (ou não quis) fazer. Na decisão, um empate sem gols levou a decisão para os pênaltis. Dizem as más línguas que Stojković se recusou a bater. Logo na primeira cobrança do OM, o excelente Manuel Amoros perdeu. Ninguém mais errou e o time iugoslavo se tornou campeão da Copa dos Campeões de 1991. Destaque para o zagueiro romeno Miodrag Belodedici, que converteu um dos pênaltis. Ele se tornou o primeiro jogador a vencer o maior torneio da Europa por dois clubes diferentes. Mas o caso de Belodedici é muito mais especial, pois ele venceu a competição também pelo Steaua Bucareste em 1986, ou seja, ainda é o único a vencer por dois clubes do Leste Europeu – curiosamente, ambas conquistas na decisão por pênaltis (marca que dificilmente será batida em um futuro próximo).


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Assim, dia 08/12/1991, se enfrentaram no Estádio Nacional, de Tóquio, Estrela Vermelha x Colo Colo. O clube sul-americano era curiosamente treinado por um Iugoslavo: Mirko Jozić. Aos 19 minutos de jogo, o craque Vladimir Jugović tirou o zero do marcador. No fim do primeiro tempo, Dejan Savićević é expulso. Mesmo com um a menos, o time europeu continuou a dominar o jogo, se materializando em gols com o mesmo Jugović no 13º minuto da etapa complementar e com o centro-avante Darko Pančev no minuto 27.

Com o 3 a 0, o mundo era vermelho. O Estrela Vermelha era campeão europeu e mundial, eternizando no Olimpo do futebol o clube e craques como Stevan Stojanović, Miodrag Belodedici, Siniša Mihajlović, Vladimir Jugović, Robert Prosinečki, Dejan Savićević e Darko Pančev.

● No ano seguinte, a Iugoslávia começou a se esfacelar em múltiplas nações e o próprio sucesso de seu maior clube fez com que aumentasse o êxodo dessas figuras históricas. Nunca mais nenhum clube da Europa Oriental chegou à decisão da UEFA Champions League. Mas fica a história de uma equipe espetacular, que dominou o ano de 1991.

… São Paulo de 2008: inédito e único tricampeão brasileiro

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… São Paulo de 2008: inédito e único tricampeão brasileiro


(Imagem: Globo Esporte)

● Hoje completa exatos oito anos do último título brasileiro do São Paulo Futebol Clube.

O Tricolor venceu o Campeonato Brasileiro de 1991, as Copas Libertadores de 1992 e 1993 e as Copas Intercontinentais também de 1992 e 1993. Exceto alguns torneios regionais, o tricolor só voltou a se destacar em níveis maiores com o título da Libertadores e Mundial de 2005. Logo depois emendou um inédito tricampeonato Brasileiro, entre 2006 e 2008.

O SPFC foi dos primeiros a tirar vantagem da Lei Pelé, contratando excelentes jogadores no fim de seus contratos. Vários ídolos recentes do clube chegaram com passe livre ou vieram com preço relativamente barato. Assim, o time montou um verdadeiro esquadrão em nível continental, com um elenco de vastas opções e era candidato a tudo que disputava. Uma gestão exemplar e um time forte, que disputava sempre para ganhar, era uma motivação extra para novos contratados. Era um círculo virtuoso.

No primeiro título da sequência, a base do time ainda era a campeã mundial um ano antes (e vice da Libertadores de 2006), com: Rogério Ceni; Fabão, André Dias (Edcarlos) e Miranda (Alex Silva); Ilsinho (Souza), Mineiro, Josué (Richarlyson), Danilo (Lenílson) e Júnior; Leandro (Thiago Ribeiro) e Aluísio Chulapa (Alex Dias). Era um time que sofria poucos gols, com meio campo marcador e criativo, com um ataque que aproveitava as chances criadas. Armando tudo isso estava um técnico histórico: Muricy Ramalho. Era o quarto título do Campeonato Brasileiro.

● Em 2007, as projeções para o clube não eram muito boas, pois perdeu, dentre outros, o lateral direito Ilsinho e a dupla Mineiro-Josué (siameses do meio campo, como os blaugranas Xavi-Iniesta, guardadas as devidas proporções, claro). Mas incrivelmente a diretoria conseguiu repor as peças e até ampliar o portfólio disponível para o Professor Muricy: os atacantes Dagoberto e Borges, Hernanes (de volta de empréstimo), o meia-ala Jorge Wágner e o zagueiro Breno, promissor e revelado nas divisões de base do clube, de apenas 17 anos. Com um time compacto e oportunista, foi constante em todo o campeonato. Entre a 17ª e a 25ª rodada, o time sequer levou gols. Como resultado, tem o menor número de gols sofridos da história do torneio, com 19 em 38 partidas (média de 0,5). o time base era: Rogério Ceni; Breno, André Dias e Miranda; Souza, Hernanes, Richarlyson, Leandro e Jorge Wágner; Dagoberto e Borges (Aloísio Chulapa).

(Imagem: SPFC.net)

● Já em 2008, a reestruturação foi maior. Adriano Imperador voltou ao Brasil para jogar a Libertadores no primeiro semestre e logo foi embora. Também chegaram: o lateral Joílson, o atacante Éder Luís e o zagueiro Rodrigo. Mas saíram destaques como Leandro, Souza, Aloísio e Breno. Na Copa Libertadores, a terceira eliminação consecutiva para um time brasileiro (Inter em 2006, Grêmio em 2007 e Fluminense, nas quartas de final de 2008). No Paulista, queda na semifinal para o futuro campeão, Palmeiras.

Sem confiança alguma, o SPFC começou o Brasileirão ainda nocauteado, perdendo do Grêmio em casa por 1 a 0 e empatando com Atlético-PR e Coritiba por 1 a 1. Diferentemente dos anos anteriores, o Tricolor do Morumbi demorou a engrenar e não se aproximou da liderança no primeiro turno. Depois de quatro jogos sem vitória, o time goleou o Galo por 5 x 1 em casa e bateu o Flamengo por 4 a 0 no Maracanã. Ao fim de um primeiro turno irregular, estava atrás de Grêmio, Cruzeiro e Palmeiras.

Logo na primeira rodada do returno, perdeu novamente para o Grêmio (dessa vez fora de casa) por 1 a 0. Com isso, os gaúchos abriram 11 pontos na dianteira e eram os favoritos destacados a quebrarem um jejum de 12 anos. Depois dessa derrota, o São Paulo ganhou um ritmo heroico, ultrapassou o Grêmio na 33ª rodada e não perdeu mais. Foram 11 vitórias e 6 empates até a penúltima rodada. O Tricolor precisava apenas vencer em casa e, diante de 66.888 pagantes no Morumbi, apenas empatou com o Fluminense. O Grêmio goleou o fraco Ipatinga e manteve chances de título.

Na rodada final (07/12/2008), bastaria ao um empate com o Goiás, enquanto o Grêmio precisava vencer o Galo em casa e torcer por derrota do São Paulo. Houve diversos boatos de suborno de arbitragem e polêmicas extra-campo que atrapalharam um pouco o andamento do jogo. Aos 22 minutos de jogo, Borges marcou em posição de impedimento, mas o árbitro validou o gol. Este seria o gol do título, do único time a vencer por três vezes consecutiva o Campeonato Brasileiro desde sua concepção como tal, em 1971. O time base de 2008 foi: Rogério Ceni; Rodrigo, André Dias e Miranda; Joílson, Zé Luís (Richarlyson), Hernanes, Hugo e Jorge Wágner; Dagoberto e Borges.

O Brasil teve esquadrões formidáveis desde 1971, mas só um clube se tornou tricampeão consecutivo. O maior mérito do time no período, foi perceber que a vitória (tanto em casa, quanto fora) na 1ª, na 17ª ou na última rodada, valia a mesma coisa: 3 valiosíssimos pontos. Muricy soube se reinventar, tomou consciência das fraquezas do time e otimizou suas forças, como a bola parada (a principal). Não existe gol feio; feio é não fazer e, pior ainda, sofrer gol.

Agora, esperamos que o São Paulo saia logo dessa atual estagnação e resignação, olhando para o futuro. Para um clube dessa grandeza, é inadmissível que seja apenas como o hino, onde “as tuas glórias vêm do passado”.

… Edmundo 4 x 1 Flamengo, em 1997

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… Edmundo 4 x 1 Flamengo, em 1997


(Imagem: Mantos do Futebol)

● Em 03/12/1997, uma quarta-feira, em jogo válido pela 5ª rodada do Grupo A da fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1997, Flamengo e Vasco se enfrentavam em um Maracanã lotado. Naquele ano, a fase semifinal foi disputada em dois grupos com quatro times. O líder Vasco tinha 10 pontos, enquanto o Flamengo tinha 7 e, se vencesse, iria a 10 e ambos ainda teriam uma partida por jogar. Ou seja, se o rubro-negro vencesse, ainda teria chances; se o cruzmaltino empatasse um dos dois jogos (o outro seria contra o Juventude), estaria matematicamente classificado.

Logo aos 16 minutos, Edmundo (o melhor jogador do campeonato disparado) passou pelo goleiro Clemer e abriu o placar. O Vasco ficaria com um a menos ainda na etapa inicial, aos 35, com a expulsão do volante Nelson “Patola”.

Mas o camisa 10 vascaíno estava infernal e ampliou aos 9 do segundo tempo, quando recebeu lançamento de Juninho e contou com a sorte quando a bola bateu em suas costas, tirando Júnior Baiano e Clemer da jogada.

Já no fim, aos 39, Júnior Baiano diminuiu cobrando pênalti para o Flamengo e deu esperanças à torcida.

Mas por pouco tempo. Aos 44, Edmundo recebeu a bola na área e colocou a defesa adversária para dançar: driblou logo dois em um único corte! Sensacional! E, de perna esquerda, fez seu “hat-trick”, batendo o recorde de artilharia em uma mesma edição do Brasileirão, com 29 gols marcados (superando Reinaldo, do Atlético-MG, que anotou 28 em 1977).

Como último prego no caixão do rival, ainda deu tempo para o lateral Maricá fechar a goleada nos acréscimos. Final: 4 x 1, Vasco.

● Foi um dos maiores shows individuais de um jogador na história recente do Brasileirão.

Foi uma verdadeira noite de gala, que nunca sairá da memória de todos os torcedores do Vasco da Gama e dos amantes do futebol em geral.

O Vasco jogou tanto contra o Flamengo, que nem precisou marcar gols na final. Com dois empates por 0 x 0 com o Palmeiras, por ter melhor campanha, o Vasco se tornou campeão brasileiro de 1997.

FICHA TÉCNICA

Flamengo 1 x 4 Vasco
FLAMENGO
Clemer; Leandro Silva, Júnior Baiano, Juan e Gilberto; Jamir, Bruno Quadros (Renato Gaúcho), Iranildo (Lê) e Athirson; Lúcio e Sávio. Técnico: Paulo Autuori.
VASCO
Carlos Germano; Filipe Alvim (Maricá), Alex Pinho, Mauro Galvão e César Prates; Nasa, Nelson, Juninho Pernambucano (Moisés) e Ramon; Edmundo e Evair (Fabrício Carvalho). Técnico: Antônio Lopes.
Data: 03/12/1997
Local: Estádio Maracanã
Público: 75.493
Árbitro: Paulo César de Oliveira
Gols:
16′ Edmundo (VAS)
54′ Edmundo (VAS)
84′ Júnior Baiano (FLA)
89′ Edmundo (VAS)
90’+ 1′ Maricá (VAS)
Cartão Vermelho: Nelson (VAS)

… Milésimo gol de Pelé

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… Milésimo gol de Pelé


(Imagem: R7)

● No dia 14/11/1969, Edson Arantes do Nascimento marcava seu gol nº 999. Em vitória por 3 x 0 contra o Botafogo/PB, no estádio Governador José Américo de Almeida, em João Pessoa, aos 13 minutos do segundo tempo, Manoel Maria sofreu pênalti, convertido por Pelé. Aos 28 da etapa complementar, o goleiro Jair Estevão trombou com um adversário dentro da área e passou mal. Segundo a lenda, o técnico Antoninho escalou apenas um goleiro para a partida e pediu para ele simular uma contusão para o Rei ir para o gol, a fim de deixar o gol 1.000 para palcos mais famosos (Fonte Nova ou Maracanã).

No jogo seguinte, dia 16/11, Santos e Bahia empataram por 1 x 1, em uma Fonte Nova com 100 mil expectadores. Pelé ia marcando o milésimo, quando Pelé driblou o goleiro Jurandir e chutou. O zagueiro tricolor Nildo tirou a bola em cima da linha e foi substancialmente vaiado pela própria torcida. No fim do jogo, o Rei ainda acertaria uma bola no travessão. “Nunca tinha visto algo desse tipo. O beque do Bahia tirou a bola em cima da linha e foi vaiado pelo estádio inteiro”, contou Pelé.

● Era um dia 19/11/1969, quarta-feira, em um Maracanã com 65.157 pagantes, em um jogo sem grande importância na classificação do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O Santos empatava com o Vasco por 1 a 1. No segundo tempo, Clodoaldo lançou rasteiro para Pelé, que entrou na área e foi tocado pelo zagueiro Fernando. Os jogadores do Vasco cercaram o árbitro e reclamaram acintosamente. O lateral Fidélis pisou na marca do pênalti, tentando deixá-la irregular para dificultar a batida. Pelé se prepara para cobrar a penalidade máxima. O mundo inteiro aguardava com ansiedade. Um verdadeiro batalhão de fotógrafos e cinegrafistas se aglomera atrás do gol.

Aos 33 minutos do segundo tempo, exatamente às 23h23, Pelé estava com a mão na cintura, esperando a autorização do árbitro Manoel Amaro de Lima e levou o ombro ao rosto para secar o suor. Ficou de costas para a meta vascaína e, da meia-lua, olhou os jogadores do Santos perfilados no centro do gramado.

“Havia muita cobrança naquela época. Desde quando me aproximei do milésimo gol, a imprensa do mundo todo começou a seguir o Santos”, explicou Pelé ao Estadão quarenta anos depois. “Foi um momento muito especial. Quando olhei para trás, na hora de bater o pênalti, vi todos os jogadores do Santos abraçados no meio-campo. Putz, pensei… Se eu errar não vai ter ninguém para pegar o rebote… O Maracanã todo gritava ‘Pelé, Pelé’… Minhas pernas tremeram. Eu não podia perder aquele gol…”

O Rei correu para a bola, fez a contumaz paradinha e o resto é história. Bateu com o pé direito a meia altura, no canto esquerdo do goleiro Edgardo Norberto Andrada, que rezou para defender a cobrança e ainda tocou na bola, segundo ele próprio. Em vão. Pelé marca seu gol nº 1000 em treze anos de carreira. Ocorreu o que Andrada mais temia: foi esquecido como bom goleiro (que realmente era) chorou de tristeza por entrar para a história como o goleiro que levou o histórico gol de Pelé. “Ele não queria levar o milésimo gol de forma alguma”, lembra Pelé. No vestiário, por rádio, o argentino conversou com o Rei e lamentou o gol sofrido: “Você merece muito mais de mil gols, Pelé. Mas lamento que tenha sido eu o goleiro mil. Confesso que não queria de jeito algum que você fizesse esse gol em mim”. Em seguida, Pelé se relativizou: “Uma das coisas que gostei foi que você fez tudo para evitar o milésimo gol, o que o valorizou”.

Mas enquanto Andrada ficou socando o gramado de raiva, o Camisa 10 santista correu no fundo do gol, rodeado pelos repórteres que invadiram o campo, pegou a bola e a guardou, dizendo para a posteridade: “Pensem no Natal. Pensem nas
criancinhas.” “Pelo amor de Deus, minha gente! Agora que todos estão ouvindo, faço um apelo especial a todos: ajudem as crianças pobres, ajudem os desamparados. É o único apelo nesta hora muito especial para mim.”

Depois de ser carregado pelo goleiro santista Agnaldo e cumprimentado pelos outros colegas, Pelé vestiu uma camisa do Vasco com o número 1000 e deu a volta olímpica no estádio, com a torcida aplaudindo de pé, apesar de seu gol ter sido o da derrota do time da casa por 2 a 1. No vestiário, voltou a lembrar das crianças carentes: “Ajudemos às crianças desafortunadas, que precisam do pouco de quem tem muito”.

● Assim foi escrito um dos mais belos e importantes capítulos da história do futebol mundial.

Vasco 1 x 2 Santos
Data: 19/11/1969
Estádio: Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Público: 65.157
Cidade: Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Manoel Amaro de Lima

Vasco: Andrada; Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Bougleaux, Renê, Acelino (Raimundinho) e Adílson; Benetti e Danilo Menezes (Silvinho). Técnico: Célio de Souza.

Santos: Aguinaldo; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo, Lima, Manoel Maria e Edu; Pelé (Jair Bala) e Abel. Técnico: Antoninho.

Gols: Benetti, aos 17 minutos do primeiro tempo; Renê (contra), aos 10; e Pelé (pênalti), aos 32 minutos do segundo tempo.

… 15 de novembro: data de fundação de 27 clubes

Três pontos sobre…
… 15 de novembro: data de fundação de 27 clubes

O feriado brasileiro de 15 de novembro é uma data comemorada como aniversário do fim da Monarquia e o início da República. Esse feriado acabou se tornando dia para muitas reuniões que resultaram na criação de diversos clubes de futebol nos últimos 127 anos. Conseguimos localizar 26 equipes constituídas em 15/11, uma que utilizou a data como nome (mesmo tendo sido criada em março) e outra que adotou a data como sua fundação (Flamengo, clube de maior torcida no Brasil). O dia da Proclamação da República é o segundo em número de times fundados, atrás apenas do dia 1º de janeiro (37 clubes).

 ● 15/11/1899: Clube Internacional de Cricket (BA)
Fundado para a prática do críquete em Salvador, foi o primeiro campeão baiano da história, em 1905. No entanto, entrou em decadência no início do século XX e se extinguiu. Estaria completando 114 anos.

 ● 15/11/1908: Barra Mansa Futebol Clube (RJ)
O clube se profissionalizou em 1911, chegando a conquistar o antigo Campeonato Fluminense em 1953 – o torneio teve duas edições no mesmo ano, e os barra-mansenses levaram ambas. Ainda em atividade aos 105 anos, disputa a Série B do Campeonato Carioca.

 ● 15/11/1911: Clube 15 de Novembro (RS)
Mais conhecido como 15 de Campo Bom, o time foi a sensação do interior gaúcho na primeira metade da última década, conquistando três vezes o vice-campeonato gaúcho (2002, 2003 e 2005), além de alcançar as semifinais da Copa do Brasil (2004) – período na qual se destacou o técnico Mano Menezes. Depois de se afastar do profissionalismo em 2009, retornou em 2013 à Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho, mas decidiu encerrar novamente as atividades em 2015. Poderia ter tido mais sucesso se, em seus melhores momentos, não decidisse sempre renunciar a sua vaga na Série C por questões financeiras. Seu único título é a Copa Emídio Perondi 2006.

 ● 15/11/1913: Esporte Clube XV de Novembro (SP)
Mais conhecido como XV de Piracicaba, é o clube mais conhecido a trazer a data da Proclamação da República em seu nome. O Nhô Quim completou cem anos em 2013 com motivo para comemorar. Depois de alguns anos patinando na Série A3 do Campeonato Paulista, conseguiu o acesso à Série A2 em 2010 e para a Série A1 no ano seguinte. Foi campeão da Série C do Campeonato Brasileiro de 1995 e campeão paulista da Série A2 por cinco vezes (1947, 1948, 1967, 1983 e 2011). Foi vice-campeão paulista da Séria A1 de 1976. Foi rebaixado no Paulistão de 2016 e disputará a Série A2 em 2017.

 ● 15/11/1914: Jabaquara Atlético Clube (SP)
Fundado como Hespanha Foot Ball Club, se tornou Jabaquara no início da década de 1940 e na década de 50 revelou jogadores como o goleiro Gylmar dos Santos Neves. Atualmente está esquecido na quarta divisão do Campeonato Paulista – muito pouco para um dos clubes que fundaram a Federação Paulista de Futebol.

 ● 15/11/1924: Esporte Clube XV de Novembro (SP)
Mais conhecido como XV de Jaú, era frequentador assíduo da primeira divisão de São Paulo entre as décadas de 1970 e 1990, época em que revelou vários jogadores de talento (como Nilson, Sonny Anderson, Edmílson e França). Depois de esboçar um resgate histórico, o time foi rebaixado da Série A2 do Campeonato Paulista em 2008. Hoje, a torcida que frequenta o Estádio Zezinho Magalhães acompanha apenas as partidas Série B do Campeonato Paulista. O Galo da Comarca completa 92 anos na última divisão paulista, depois de se licenciar em 2015 e quase subir para a Série A3 em 2016. Foi campeão paulista da Série A2 em 1951 e 1976.

 ● 15/11/1934: Esporte Clube XV de Novembro (SP)
O XV de Caraguatatuba militou em divisões menores de São Paulo. Chegou a conseguir dois acessos, subindo da sexta para a quarta divisão. Em 1997, conquistou a promoção para a Série A3, mas não foi aceito na Terceirona por falta de um estádio com 10 mil lugares. Se licenciou em 2006.

 ● 15/11/1938: Íbis Sport Club (PE)
Sim, até os piores do mundo têm motivos para comemorar. Dono de campanhas históricas nos Campeonatos Pernambucanos da década de 80 (entre 1981 e 1983, foram 24 jogos, contabilizando um empate e 23 derrotas no período). o Íbis disputa atualmente a Série A2 do Campeonato Pernambucano. Falaremos especialmente deste clube amanhã.

 ● 15/11/1945: Esporte Clube Metropol (SC)
O clube de Criciúma dominou o futebol de Santa Catarina na década de 60, conquistando o título em cinco ocasiões (1960, 1961, 1962, 1967 e 1969) antes de fechar o departamento de futebol profissional em 1969. Hoje, aos 68 anos, o time joga apenas competições amadoras, embora seu retorno aos torneios oficiais seja especulado com frequência.

 ● 15/11/1954: Santa Cruz Futebol Clube do Carpina (PE)
Fundado na cidade de Carpina há 62 anos, o Santa Cruz Futebol Clube jamais disputou a primeira divisão do Campeonato Pernambucano. O Tricolor Carpinense chegou a se licenciar do futebol, mas retornou em 2005 – antes de se afastar novamente. Nos últimos anos, a cidade teve apenas representantes na Série A2 de PE, como Carpina, Atlético Pernambucano e Carpinense.

 ● 15/11/1954: Zumbi Esporte Clube (AL)
Situado na cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas e batizado em homenagem a Zumbi dos Palmares, principal líder quilombola do Brasil Colônia, o Zumbi Esporte Clube foi vice-campeão da segunda divisão do Campeonato Alagoano em 1995, disputando a elite local no ano seguinte. Foi rebaixado, mas esteve de novo na primeira divisão em 1998 e 1999. Hoje, aos 62 anos, está licenciado.

 ● 15/11/1954: XV de Araruama Futebol e Regatas (RJ)
O XV de Araruama nunca fez nada muito digno de nota. Disputou a terceira divisão do Estadual do Rio algumas vezes, chegou a interromper atividade e voltou com o atual nome (antes era Associação Esportiva XV de Novembro).

 ● 15/11/1955: Clube de Regatas Flamengo (RO)
Esse Flamengo, de Porto Velho, foi uma potência do Campeonato Rondoniense até a profissionalização do torneio, em 1991 – ao todo, o clube rubro-negro conquistou dez títulos estaduais como amador (1956, 1960, 1961, 1962, 1965, 1966, 1967, 1982, 1983 e 1985). Licenciado desde então, o time de Porto Velho, que completa 61 anos nesta terça-feira, ainda é o segundo mais vitorioso de RO, atrás apenas do também licenciado Ferroviário (17).

 ● 15/11/1956: Grêmio Esportivo Glória (RS)
O Glória de Vacaria chegou a conquistar posições de destaque no Campeonato Gaúcho da última década, mas perdeu espaço. Após ser campeão estadual da 2ª divisão em 2015, foi o útimo colocado no Gauchão 2016, voltando para a Divisão de Acesso 2017.

 ● 15/11/1961: Fernandópolis Futebol Clube (SP)
Fundado há 55 anos como Associação Bancária de Esportes, o Fernandópolis – ou Fefecê para os íntimos – é figura frequente na quarta divisão do Campeonato Paulista. Em 2016, disputou a Série A3, mas foi novamente rebaixada para a Série B.

 ● 15/11/1964: União Bandeirante Futebol Clube (PR)
O time de Bandeirantes, conhecido como o Caçula Milionário, ficou com o vice-campeonato no Paraná em cinco ocasiões: 1966, 1969, 1971, 1989 e 1992. Foi extinto em 04/08/2006 e não tem quaisquer perspectivas de retornar à atividade.

● 15/11/1969: Clube Atlético Cristal (AP)
Campeão amapaense de 2008, está afastado dos gramados desde 2010. No currículo, o time tem ainda dois títulos da segunda divisão do Amapá (1988 e 2005). Completa 47 anos.

 ● 15/11/1975: Sociedade Esportiva do Gama (DF)
Poucos clubes conheceram tão profundamente a “gangorra” do futebol brasileiro ao longo da história quanto o Gama. Em seus 41 anos, o clube do DF viveu a quase falência nos anos 80, foi Campeão Brasileiro da Série B em 1998 e um dos responsáveis pela bagunça chamada Copa João Havelange de 2000 (mas essa é uma história a parte). Foi campeão brasiliense em 2015 e 4º colocado em 2016.

 ● 15/11/1978: Americano Futebol Clube (MA)
Em seus 38 anos, o clube de Bacabal teve como principal momento título da segunda divisão do Campeonato Maranhense de 2016 e disputará a principal divisão estadual em 2017.

 ● 15/11/1981: Sport Club Genus de Porto Velho (RO)
Mesmo sendo um dos principais clubes do futebol do Rondônia, o Genus aguardou 34 anos por seu primeiro título como profissional. Em 2015, a equipe de Porto Velho chegou ao título do Campeonato Rondoniense. Em 2016, foi vice, perdendo para o novato Rondoniense Social Clube.

 ● 15/11/1984: Sport Boa Vista (PE)
Atualmente licenciado, o clube de Santa Maria da Boa Vista completa 32 anos nesta terça-feira. O Boa Vista atende pelo simpático apelido de Jumento e foi figura constante na segunda divisão do Campeonato Pernambucano na última década. Licenciou-se em 2006.

● 15/11/1994: Deportivo La Coruña Brasil Futebol Clube (RJ)
Fundado em homenagem ao time homônimo da Galícia, o La Coruña carioca só estreou entre os profissionais em 2003. O clube da Pavuna está atualmente licenciado. É um das poucas equipes do Brasil presididos por uma mulher – no caso, Maria Geralda dos Santos.

● 15/11/1995: Clube Atlético Aliança (AP)
O clube amapaense completa 21 anos em 2016. A equipe da cidade de Santana viveu seus melhores dias no fim da década de 90, com um título estadual (1998) e um vice (1999). Atualmente, porém, encontra-se licenciado.

 ● 15/11/2003: Sociedade Esportiva Queimadense (PB)
A equipe da cidade de Queimadas completa 13 anos de fundação, embora só tenha se profissionalizado em 2007. No mesmo ano, conquistou seu único título: o da segunda divisão do Campeonato Paraibano. Disputou a primeira divisão da PB entre 2008 e 2010, e depois do afastamento em 2011 e 2012, voltou à segunda divisão em 2013, terminando em terceiro lugar. Se licenciou novamente pouco depois.

● 15/11/2004: Barras Futebol Club (PI)
Situado na cidade de Barras, o clube é relativamente novo para os padrões brasileiros. No entanto, surpreendeu em 2007 ao chegar à última fase da Série C do Campeonato Brasileiro, ficando então com a sétima posição da competição. Campeão piauiense de 2008, chegou a ficar fora das competições – retornou em 2013, mas foi apenas o penúltimo dentre os oito times do torneio estadual. Desde então não disputou competições.

 ● 15/11/2014: Doze Futebol Clube (ES)
O caçula da lista é sediado na capital vitória, mas manda seus jogos em Cachoeiro de Itapemirim. Em 2005, foi vice-campeão estadual da Série B, subindo de divisão. Na Série A do Campeonato Capixaba de 2016, o Doze não foi bem e chegou a disputar o quadrangular do rebaixamento, mas se salvou.

 ● 15/03/1979: Esporte Clube XV de Novembro (PR)
Está em nossa lista apenas pelo nome, mas foi fundado em 15 de março. Curiosamente, “XV de Novembro” se deve ao nome de um grupo de jovens dos quais fazia parte alguns dos fundadores do clube. No caso, a referência era à Rua XV de Novembro, uma das principais do centro de Curitiba. Situado na cidade de Colombo, é um clube de muito sucesso no futebol amador do Paraná. Fez uma temporada como profissional, em 1995. Permanece no amadorismo.

 ● 17/11/1895: Clube de Regatas do Flamengo (RJ)
Embora a ata de fundação do “Mais Querido do Brasil” tenha sido assinada em 17 de novembro de 1895, os fundadores decidiram que o dia 15 de novembro seria a data oficial, justamente em virtude da comemoração da Proclamação da República.

(Informações e imagens do Google)

… Guarani de 1994

Três pontos sobre…
… Guarani de 1994


(Imagem: Gazeta Press)

● Quando comecei a acompanhar futebol, nas proximidades da Copa do Mundo de 1994, um dos times que mais encantavam e que me prendia a atenção era o Guarani. O time de Campinas jogava um futebol vistoso, com jogadores bastante leves e habilidosos do meio pra frente, especialmente Djalminha, Amoroso e Luizão que (aniversariante de hoje, que no álbum de figurinhas da Panini ainda era chamado de “Luisão”, com “s”).

Com certeza o melhor time formado pelo time verde de Campinas foi o campeão brasileiro em 1978, com craques como Zé Carlos, Zenon e Careca. Merece destaque também o onze o vice-campeão nacional em 1986, com Ricardo Rocha, Marco Antonio Boiadeiro, João Paulo e Evair. Mas, apesar de não ter chegado na final, o time de 1994 marcou época, protagonizando um dos ataques mais poderosos do torneio terminando a Série A em 3º lugar.

O Bugre começou a se destacar no ano anterior, em 1993, quando terminou o campeonato nacional em 6º, com Luizão (apenas 18 anos) e Djalminha, meia eleito pela revista Placar com o prêmio Bola de Prata. O time de Campinas começou o ano de 1994 muito bem, sendo campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, com destaques para o goleiro Pitarelli e o próprio atacante Luizão.

● Em anos anteriores a 2003, a cada ano o Brasileirão tinha um formato diferente e foi assim também em 1994. O regulamento daquele ano previa que os 24 clubes da Série A seriam divididos em quatro grupos com seis clubes em cada, com jogos entre times de cada chave em turno e returno, com os quatro primeiros de cada grupo se classificando para a segunda fase. O Bugre Campineiro foi o líder no Grupo C, inclusive goleando o Santos na 5ª rodada, por 4 x 0, em Campinas, com dois gols de Amoroso e dois de Luizão (o detalhe é que o Peixe ainda não havia sofrido gols no campeonato). O trio de ataque bugrino se tornou um dos mais letais da década. Djalminha pouco atuou no Brasileirão, pois foi jogar no Shimizu S-Pulse, do Japão, mas antes do fim do ano estava de volta ao Bugre.

Na fase seguinte, o Guarani manteve a excelente campanha, com nove vitórias, cinco empates e apenas uma derrota. Se classificou entre os 16 times e avançou às quartas de final. O time chegou a ter uma sequência de 17 jogos de invencibilidade, entre 04/09 e 26/11, inclusive tendo até então a melhor campanha no geral. Valendo vaga na semifinal, o Bugre enfrentou o poderoso São Paulo do Mestre Telê Santana, bicampeão mundial e da Libertadores. O tricolor venceu no Morumbi por 1 x 0, com um gol de Palhinha. No Brinco de Ouro, o Guarani se vingou com um show de Luizão, Sandoval e companhia, vencendo o SPFC por 4 a 2 e se classificou. A grande baixa foi o craque Amoroso, que lesionou o joelho gravemente e não jogou mais no campeonato.

Nas semifinais, enfrentou um esquadrão de seu tempo: o Palmeiras da Parmalat e do “profexô” Vanderlei Luxemburgo (na época seu nome era escrito “Wanderley”). O Verdão era uma verdadeira seleção, com: Veloso (Sérgio); Cláudio, Antônio Carlos, Cléber (Tonhão) e Roberto Carlos (Wágner); Amaral (Flávio Conceição), César Sampaio, Zinho e Rivaldo; Edmundo e Evair. Se já era difícil vencer com o time completo, Amoroso fez muita falta e o Bugre perdeu por 3 x 1 no Pacaembu e por 2 x 1 no Brinco de Ouro. No fim, o Palmeiras seria campeão em final com o rival Corinthians.

● O time base do Bugre era: Narciso; Marcinho, Cláudio, Jorge Luís e Guilherme; Fernando, Fábio Augusto e Edu Lima; Djalminha (Júlio César), Amoroso (Sandoval) e Luizão. Técnico: Carlos Alberto Silva.

O Guarani terminou em 3º no campeonato, com a segunda melhor pontuação (40 pontos – campeão Palmeiras fez 46 e o vice Corinthians teve 33), o segundo time com mais vitórias (17, em 29 jogos) e menos derrotas (6), o segundo melhor ataque (45 gols marcados) e a quarta melhor defesa (26 gols sofridos). Teve três jogadores na Bola de Prata da Revista Placar (atualmente na ESPN): o zagueiro Jorge Luís, Luizão e Amoroso – que foi também o Bola de Ouro (melhor jogador do campeonato) e o artilheiro, com 19 gols, empatado com Túlio Maravilha (Botafogo).

O garoto Márcio Amoroso começou na própria base bugrina, se profissionalizou aos 18 anos no Verdy Kawasaki, do Japão, sendo campeão da J-League. Voltou ao Guarani no fim do empréstimo. Com 20 anos recém completados, o garoto passou em branco em seus primeiros dois jogos no torneio, mas marcou na vitória por 2 x 0 sobre o Bahia, em plena Fonte Nova. Na sexta rodada, contra o Santos, fez dois gols na goleada bugrina por 4 a 0. No jogo seguinte, contra o Remo, em Belém, fez mais dois. Em Campinas, contra o Vasco e no Mineirão, contra o Cruzeiro, fez um gol em cada. Terminou a primeira fase com sete gols. Na segunda fase, Amoroso novamente marcou na terceira rodada, com o gol da virada por 2 a 1 sobre o Corinthians. Depois, marcou contra Fluminense, Grêmio (duas vezes), Paysandu, Vasco e Palmeiras. Não fez gol no Bahia, mas fez um “hat-trick” contra o Paraná. Deixou sua marca também no Sport e no São Paulo. Nas quartas de final, também contra o Tricolor Paulista, sofreu grave lesão no joelho no Morumbi. Tentou jogar no jogo da volta, no Brinco de Ouro, mas teve que ser substituído aos 16 minutos de jogo. Mas já estava na história como ídolo do Guarani.

… Igreja Maradoniana: o culto onde Maradona é deus

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… Igreja Maradoniana: o culto onde Maradona é deus


(Imagem: Globo Esporte)

● A Igreja Maradoniana foi fundada no dia 30/10/1998, na cidade argentina de Rosário.

Tudo começou em um encontro do jornalista Hernán Amez e seu amigo Héctor Campomar, quando um olhou para o outro e disse: “Feliz Natal”, em alusão ao aniversário de Maradona. Convidaram outro amigo, Alejandro Verón (compadre de Amez), e juntos resolveram fundar a Igreja Maradoniana.

A cronologia da associação começa com o nascimento de Diego Armando Maradona, em 30/10/1960. Para eles, desde então, o calendário passou a ser dividido em a.D. e d.D., ou seja, antes e depois de Diego. Sendo assim, no último dia 30 começou o ano 56.

Na casa de Amez, na Rua Garay, nº 197, há uma pequena capela com um altar ao seu ídolo, onde há uma bola “ensanguentada”, com uma coroa de espinhos. Apesar da capela, a entidade deve parte da popularidade à Internet e não conta com uma sede física, nem fixa. Os encontros são sempre em Buenos Aires, capital da Argentina, num local alugado pela organização – uma espécie de “culto”, onde, no final de cada cerimônia, cantam o nome de Tota em formato gregoriano, como se a mãe de Diego, dona Tota, fosse uma espécie de “mãe de deus”.

Maradona nunca participou do culto, até por questão de segurança – a sua presença poderia tornar impossível o controle dos seguidores. “Meu sonho é conseguir construir uma igreja física para nosso deus”, diz Hernán Amez. A associação não cobra dízimo e colabora com o Hospital Infantil de Rosário, com alguns valores arrecadados em doações.

● A data de nascimento de Diego Armando Maradona é considerada o Natal. A Páscoa é comemorada em 22 de junho, dia em que a Argentina venceu a Inglaterra na Copa de 1986, com dois gols do “Pibe de Oro” (um com a mão e outro driblando meio time adversário). A bíblia é o livro “Yo Soy El Diego De La Gente”, biografia escrita pelo jornalista Daniel Arcucci, secretário de redação do jornal argentino La Nación.

O ritual de batismo consiste em uma repetição teatral do famoso gol de mão contra os ingleses na Copa de 1986, em que o candidato deve correr em direção a alguém que faz as vezes de goleiro e desviar a bola para o gol com a mão esquerda (não pode ser a direita). O candidato também deve comungar pela primeira vez um pedaço de pizza napolitana com a água benta dos cardeais, colocar a mão na bíblia maradoniana e proferir os “Dez Mandamentos” da religião (leia mais abaixo).

Dentre as regras da igreja está que o nome do primogênito do fiel deverá ser Diego. Aqueles que fazem parte da religião que cultua a imagem de “El Diez” podem até mesmo casar sob as suas regras. Mas nem sempre ficam sabendo com antecedência que estão prestes a dizer “sim”. Algumas vezes, o matrimônio é realizado de surpresa. Os noivos devem prometer respeitar os Dez Mandamentos da Igreja Maradoniana e juram amor eterno ao futebol.

Embora com propósitos distintos, os fanáticos pelo ex-jogador possuem as suas versões para as orações “Pai Nosso” (“Diego Nuestro”), “Ave Maria” (“Dios te Salve”) e “Credo” (“Creo em Dios”); todas adaptações feitas sobre o futebol.

Os colegas de equipe de Diego na conquista da Copa de 1986 são considerado apóstolos, pois estavam presentes no milagre. O maior pecado do fiel é não amar o futebol. Eles consideram como o próprio diabo o brasileiro João Havelange, ex-presidente da FIFA e falecido recentemente.

Para Hernán Amez, “Pelé é o verdadeiro rei do futebol e merece esse título. E Maradona é o deus. Nosso deus.” “El Diez” está ligado a um momento emocional dos argentinos, a um período de felicidade, depois de tanto sofrimento com a ditadura e a Guerra das Malvinas. A missão da igreja é que siga vivo o espírito do deus do futebol e que todos possam recordar sua magia e arte. “O Maradona é um deus terrenal. Há um costume muito tradicional nas religiões de olhar para Deus somente para pedir. No nosso caso, apenas agradecemos”, disse. E completa: “Não há proibição alguma de que nossos seguidores tenham outra religião. Eu já fui católico. A maioria de nós, argentinos, somos batizados católicos, mas a verdade é que não a seguimos. Por exemplo: aqui em Rosário, aos domingos, a missa reúne cerca de 5 mil pessoas. Já uma partida de futebol reúne 30 mil. A partir daí sabemos em que as pessoas acreditam mais.”

● A religião tem o tetragrama sagrado “D10S”, que mistura a palavra em espanhol para Deus (Dios) com o “D” de Diego e o “10” de sua camisa. Hoje, conta com mais de 250 mil seguidores em cerca de 80 países, sendo na faixa de 15% de brasileiros, dentre eles famosos como Ronaldinho Gaúcho, Deco e Careca. Esse, seu grande amigo e parceiro da época do Napoli, disse certa vez: “Ele é mesmo um deus. É a maneira do povo retribuir tudo o que ele já fez pela Argentina, e mostrar sua admiração. Sou um desses admiradores também”.

Se Maradona é deus, os fundadores da religião prometeram “elevar” Lionel Messi a status de “Jesus Cristo”, caso ele conquistasse o título da Copa do Mundo de 2014, o que não aconteceu, após derrota para a Alemanha na prorrogação. Amez, de forma quase bíblica, disse: “Se Messi ganha a Copa do Mundo, estará sentado à direita de D10S Diego, no olimpo Maradoniano e será o Messias. Nós já lemos o Antigo Testamento, escrito pelo Diego, e agora estamos vendo o Messi escrever o Novo Testamento. Ele é o Messias e está escrevendo o Novo Testamento para a Igreja Maradoniana.”


Veja os 10 mandamentos da Igreja Maradoniana:

1. Amar o futebol acima de todas as coisas.

2. Declarar amor incondicional a Diego e ao futebol.

3. Espalhar os milagres de Diego em todo o universo.

4. Não proclamar Diego em nome de um só clube.

5. A bola não será manchada (sobre problemas extra campo).

6. Defender a camisa argentina e respeitar as pessoas.

7. Honrar os templos onde jogou e seus mantos sagrados.

8. Predicar os princípios da Igreja Maradoniana.

9. Levar Diego como segundo nome e colocar no filho.

10. Não ser cabeça de garrafa térmica e que a tartaruga não fuja (frases dele).

Oração “Creo en Dios”:

“Eu acredito em Diego
Futebolista Todo Poderoso,
Criador de magia e paixão.
Eu acredito em penugem, nosso D10s, nosso Senhor.
Que foi concebido por obra e graça de Tota e Don Diego.
Nascido em Villa Fiorito.
Ele sofreu sob o poder de Havelange.
Foi crucificado, morto e mal tratado.
Suspenso das quadras.
Cortaram-lhe as pernas.
Mas ele voltou e ressuscitou seu feitiço.
Estará dentro de nossos corações.
para sempre e na eternidade.
Eu acredito em espírito de futebol.
A Santa Igreja Maradoniana,
O golo para os ingleses,
A canhota mágica,
A eterna gambetta diablada,
E em um Diego eterno.
Diego.”