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… Allan Simonsen: o pequeno gigante dinamarquês

Três pontos sobre…
… Allan Simonsen: o pequeno gigante dinamarquês


(Imagem localizada no Google)

● Se hoje a Dinamarca é um país respeitado dentro do futebol, isso se deve a Allan Simonsen. Ele é sem sombra de dúvidas o jogador mais importante da história de seu país. Foi fundamental na formação da nova geração dinamarquesa vitoriosa nos anos 1980 e 1990, com sua atitude de humildade e dedicação, sempre colocando os objetivos da equipe acima dos seus, independentemente de seu status de um dos melhores jogadores do continente na época.

Allan Rodenkam Simonsen nasceu em Vejle, no dia 15/12/1952. Nascido na cidade de Vejle, era apenas um jovem nanico (1,65 m) quando começou a jogar no time menor de sua cidade, o Vejle FC, antes de passar para o maior em 1963, o Vejle BK, onde faria história. Aos 17 anos, participou de um torneio internacional em Dusseldorf (Alemanha), chamando a atenção de Hennes Weisweiler, então técnico do Borussia Mönchengladbach. Estreou profissionalmente em 24/03/1971, em vitória em casa contra o Karlskoga FF. Foi bicampeão da liga nacional em 1971 e 1972 e em 1972 conquistou também a Copa da Dinamarca. Depois de três gols em seis partidas com seu país nos Jogos Olímpicos de 1972, Simonsen foi defender o clube alemão Borussia Mönchengladbach.

Sofreu um bocado nas suas duas primeiras temporadas, com apenas 17 jogos e dois gols. Entretanto, fez parte da equipe que conquistou a Copa da Alemanha de 1972/73. Passou a ser titular na temporada 1974/75, disputando todos os 34 jogos da Bundesliga, marcando 18 gols e conquistando o título. Fez também 10 gols em 12 jogos na Copa da UEFA do mesmo ano, incluindo dois na final em que o Gladbach goleou o holandês FC Twente por 5 x 1. Já em 1975/76, seu time conquistou o bicampeonato nacional e ele marcou 16 gols. Na Copa da Europa, fez quatro gols em seis partidas e foi eliminado nas quartas de final pelo Real Madrid, apenas no critério do gol marcado fora de casa.

Mas seu auge foi mesmo a temporada 1976/77. Além do tricampeonato nacional, na Copa dos Campeões, Simonsen foi fundamental para que o Borussia Mönchengladbach chegasse na final contra o Liverpool. Na decisão, fez o gol de empate em 1 a 1, mas seu time acabou derrotado por 3 a 1. Mas no fim do ano, o craque acabou sendo condecorado com a Bola de Ouro da revista France Football, como o melhor jogador da Europa no ano de 1977. Foi o primeiro (e até hoje o único) atleta dinamarquês a conseguir o feito. A votação foi apertada e ele venceu o inglês Kevin Keegan por três pontos e o francês Michel Platini por quatro pontos.

Nas duas temporadas seguintes, Simonsen continuou brilhando, mas o Gladbach terminou em segundo e oitavo, respectivamente. Em sua última temporada no clube alemão, 1978/79, conquistou novamente a Copa da UEFA, anotando nove gols em nove jogos. Na final, fez o gol do título, em vitória por 2 a 1 contra o Estrela Vermelha, da Iugoslávia. No início da temporada, o Barcelona já queria Allan Simonsen, mas o Gladbach não o deixou ir. Assim, o pequeno craque deixou seu contrato chegar a fim e foi para os Blaugranas, rejeitando ofertas do Hamburgo, da Juventus e de vários times do mundo árabe.

No clube catalão, recebeu o apelido de “El pequeño gran danés” (o pequeno gigante dinamarquês). Foram três anos bem sucedidos. Na primeira temporada, foi o artilheiro de sua equipe com 10 gols em 32 jogos, mas o Barça terminou em 4º lugar na liga de 1979/80. No ano seguinte, com uma reestruturação na base, o clube conquistou a Copa do Rei e Simonsen foi o terceiro maior goleador de seu time, com 10 gols (atrás dos novatos Quini, com 20 e Bernd Schuster, com 11) e o Barça termina novamente no decepcionante 5º lugar em 1980/81. Já em 1981/82, foi o segundo artilheiro blaugrana, atrás de Quini, com 11 gols, e seu time foi vice-campeão nacional. Foi importante para seu time chegar à final da Recopa Europeia e marcou de cabeça o gol do título na vitória por 2 a 1 sobre o Standard Liège.


(Imagem: Cais da Memória)

Mas quando o Barcelona contratou Diego Armando Maradona, em 1982, a situação de Simonsen ficou mais difícil. Na época, La Liga restringia o número de jogadores estrangeiros e só dois poderiam ser titulares. Assim, ele deveria disputar essas vagas com Maradona e Bernd Schuster. Simonsen se sentiu humilhado e pediu a rescisão com o time espanhol. Forçou a barra para sair e rejeitou ofertas do Real Madrid e do Tottenham Hotspur, sendo vendido em outubro por 300 mil libras para o Charlton Athletic, que militava na 2ª divisão. O clube inglês teve dificuldade para pagar sua transferência e seu salário e Simonsen deixou o clube apenas três meses depois, com 9 gols em 16 partidas.

Com mais de 30 anos, Simonsen escolheu retornar ao seu clube de formação e de coração em 1983, o Vejle BK. Ele ficou fora de metade da temporada de 1984 devido a uma lesão sofrida na Euro84, mas o Vejle BK conseguiu conquistar o campeonato dinamarquês sem ele. Mesmo voltando ao seu país como uma estrela, infelizmente nunca mais conseguiu recuprar sua melhor forma. Se aposentou dos gramados em 1989, com 37 anos, disputando seu último jogo em novembro. Pelo Vejle BK, disputou 282 partidas, anotando 104 gols (sendo 89 gols em 208 jogos pela liga dinamarquesa).

● Allan Simonsen estreou na seleção da Dinamarca em julho de 1972, sob o comando do técnico Rudi Strittich e marcou logo dois gols, ajudando seu país a vencer a Islândia por 5 a 2. Foi convocado para os Jogos Olímpicos de 1972, marcando três gols nas três primeiras partidas. Depois, ele não manteve o nível e foi substituído no intervalo em dois dos últimos três jogos, e a Dinamarca foi eliminada na segunda fase.

Simonsen foi fundamental para a seleção sob o comando do técnico Sepp Piontek, na campanha nas eliminatórias da Euro84. A Dinamarca liderava seu grupo com um ponto de diferença sobre a Inglaterra, quando se enfrentaram em setembro de 1983, no mítico estádio Wembley. Simonsen marcou o gol mais importante da história de sua nação até então, convertendo um pênalti em cima do goleiro Peter Shilton. A vitória finalmente classificou o país para a primeira Eurocopa desde 1964. Ainda em 1983, ficou em 3º lugar na premiação da Bola de Ouro. Infelizmente Simonsen não guarda boas recordações da Euro84, pois quebrou a perna em uma dividida com o francês Yvon Le Roux logo na estreia. Mesmo sem o craque, a Dinamarca chegou às semifinais, caindo nos pênaltis para a Espanha.

Fez parte do elenco da Dinamáquina que encantou na Copa do Mundo de 1986, mas só jogou uma única partida, entrando no segundo tempo na vitória por 2 a 0 contra a Alemanha Ocidental. Naquele momento, ele percebeu que já tinha dado toda sua contribuição para seu país e estava sendo ultrapassado por outros jogadores, como, por exemplo, Michael Laudrup. Vestiu a camisa vermelha de seu país em 55 jogos, anotando 20 gols.

Após se retirar dos gramados, se tornou técnico do seu querido Vejle BK de 1991 a 1994, sendo rebaixado para a 2ª divisão nacional. Depois treinaria a seleção das Ilhas Faroe de 1994 a 2001 e de Luxemburgo de 2001 a 2004. Em 2011 se tornou diretor do FC Fredericia, de seu país. Em 08/04/2013, quando o técnico Thomas Thomasberg foi demitido, Simonsen e Steen Thychosen assumiram o comando técnico da equipe até o fim da temporada 2012/13.

É o único jogador a ter anotado gols na Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League), na Copa UEFA (atual Liga Europa) e na extinta Recopa Europeia. Desde 2008 faz parte do Hall da Fama do Futebol Dinamarquês.

Feitos e premiações de Allan Simonsen:

Pelo Vejle Boldklub:
– Campeão do Campeonato Dinamarquês em 1971, 1972 e 1984.
– Campeão da Copa da Dinamarca em 1972.

Pelo Borussia Mönchengladbach:
– Tricampeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1974/75, 1975/76 e 1976/77.
– Campeão da Copa da UEFA em 1974/75 e 1978/79.
– Campeão da Copa da Alemanha em 1972/73.

Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1980/81.
– Campeão da Recopa Europeia em 1981/82.

Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football em 1977.
– Bola de Bronze da revista France Football em 1983 (3º lugar na Bola de Ouro).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1977/78 (5 gols).
– Artilheiro da Copa da UEFA em 1978/79 (9 gols).
– Eleito melhor ponta direita da história da Bundesliga.
– Membro do Hall da Fama do futebol da Dinamarca desde 2008.

… Josef Bican: o homem de 5000 gols

Três pontos sobre…
… Josef Bican: o homem de 5000 gols


(Imagem: Alchetron)

“Quem teria acreditado em mim se eu dissesse que marquei cinco vezes mais gols que Pelé?” — Josef Bican.

● Em 29/11/1933, com apenas 20 anos e 64 dias, Bican fez sua estreia pela seleção da Áustria, em um empate com a Escócia por 2 a 2. Em 1934, a Áustria chegava como favorita destacada à Copa do Mundo. Conhecida como “Wunderteam” (time maravilha), era composta por diversos austro-tchecos: o próprio Bican, o craque e líder Matthias Sindelar (“Der Papierene”, o Homem de Papel), Franz Cisar, Anton Janda, Mathias Kaburek, Josef Smistik, Johann Urbanek e Karl Zischek. De todos os sete gols marcado pela equipe no torneio, apenas um foi de um austríaco germânico: Anton Schall. Eles levaram o país à semifinal contra a anfitriã Itália. Meses antes, em casa, os austríacos tinham vencido um amistoso entre as duas equipes. Mas dessa vez, a pressão por jogar na casa do inimigo, especialmente a pressão exercida por “Il Duce” Benito Mussolini, que usava o torneio como propaganda de seu regime fascista, a Áustria caiu de pé, por 1 a 0, com gol de Enrique Guaita em impedimento escandaloso. Momentos depois do jogo, foi revelado que o árbitro sueco Ivan Eklind jantou com “Il Duce” na noite anterior. A Áustria ainda perdeu na decisão do 3º lugar para a Alemanha. O único gol de Josef Bican em uma Copa do Mundo aconteceu em 27/05/1934, quando marcou na prorrogação contra a França nas oitavas de final, em vitória por 3 x 2.

Veja mais:
… Josef Bican: o artilheiro inigualável

O Wunderteam foi desfeito de vez com a anexação austríaca pelo Terceiro Reich em 1938, no Anschluß, às vésperas da Copa do Mundo daquele ano. Bican se recusou jogar pela Alemanha nazista e pediu a nacionalidade de seus pais, a Tchecoslováquia, mas um erro de documentação o impediu de disputar a Copa de 1938. Mas começou a defender seu novo país nesse mesmo ano, marcando 12 gols em 14 jogos, de 1938 a 1949. Seu sucesso provocava inveja dos colegas, que o chamavam de “bastardo austríaco”. Durante a 2ª Guerra Mundial, quando o país foi desmembrado, jogou pela Seleção do Protetorado da Boêmia e Morávia (que era o pedaço tcheco), anotando um hat-trick contra a Alemanha nazista, em empate por 4 a 4. No total, marcou 34 gols em 45 jogos por três seleções diferentes. Sua última aparição internacional foi em uma derrota da sua Tchecoslováquia por 3 a 1 para a Bulgária, em 04/09/1949.

● De acordo com o RSSSF (Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation), foram 805 gols em 530 jogos oficiais e 663 gols em 388 partidas amistosas. A soma é absurda: 1468 gols em 918 jogos, marca superior a qualquer outro jogador. Foi laureado também pela IFFHS (International Federation of Football History & Statistics) com o prêmio “Bola de Ouro”, por ter sido o maior goleador do século XX, com 518 gols marcados em 341 jogos (média de 1,52 gols por jogo), considerando apenas jogos em primeira divisão das ligas nacionais.

Em 1969, Pelé estava se aproximando de seu milésimo gol e muitos jornalistas estavam à procura de outro jogador que tinha chegado a essa marca. O ex-jogador austríaco Franz “Bimbo” Binder (11º maior artilheiro da história, com 1006 gols no total) citou o nome de Pepi Bican. Quando os repórteres o perguntaram por que ele não era festejado pelo feito, ele simplesmente perguntou: “quem teria acreditado em mim se eu dissesse que marquei cinco vezes mais gols que Pelé?” Essa marca é muito improvável, pois para ter marcado os 5000, ele deveria ter mantido uma média de 185 gols por ano em todos os seus 27 anos (dos 15 aos 42 anos) de carreira, o que é um fato extremamente improvável de ter acontecido e passado despercebido.

Ele sempre criticava a mercantilização do futebol e os salários astronômicos recebidos por atletas medíocres. Também nunca aceitou que os atacantes atuais tivessem mais crédito do que os de antigamente:

“Eu ouvi muitas vezes que era mais fácil marcar gols na minha época. Mas as chances eram as mesmas há cem anos atrás e serão as mesmas daqui a cem anos. A situação é idêntica e todos concordariam que, de uma chance, deveria sair um gol. Se eu tivesse cinco chances, eu marcaria cinco gols — se eu tivesse sete, então seriam sete.”

Pepi Bican finalizava bem com as duas pernas e era tão veloz que, em sua época, corria 100 metros em incríveis 10,8 segundos. Não eram apenas seus números que atraíam o público ao estádio. Durante seu tempo no Slavia, as multidões iam aos treinos para se divertirem, como se estivessem indo ao circo. Centenas de torcedores e curiosos pagavam algumas korunas apenas para assistir um show a parte. Enquanto os outros jogadores faziam treinos físicos, Bican colocava garrafas vazias em cima do travessão (as traves eram quadradas, na época), na distância de cerca de 30 cm cada uma. Posicionava algumas bolas da entrada da área e derrubava as garrafas, uma por uma na distância de 20 metros. Dizem que em um dia ruim, ele erraria uma de dez.


(Imagem: Goalden Times)

Feitos e premiações de Josef Bican:

Pela seleção da Áustria:
– 4º lugar na Copa do Mundo de 1934.

Pelo Rapid Viena:
– Campeão do Campeonato Austríaco em 1934/35.

Pelo Admira Viena:
– Bicampeão do Campeonato Austríaco em 1935/36 e 1936/37.

Pelo Slavia Praga:
– Campeão da Copa Mitropa em 1938.
– Campeão do Campeonato Tchecoslovaco em 1946/47
– Tetracampeão do Campeonato do Protetorado da Boêmia e Morávia em 1939/40, 1940/41, 1941/42 e 1942/43.
– Campeão da Copa do Protetorado da Boêmia e Morávia em 1940/41, 1941/42 e 1945.
– Campeão da Copa da Boêmia em 1940/41.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Austríaco de 1933/34 (28 gols).
– Artilheiro do campeonato nacional da Tchecoslováquia de 1937/38 (22 gols), 1938/39 (29 gols), 1939/40 (50 gols), 1940/41 (38 gols), 1941/42 (45 gols), 1942/43 (39 gols), 1943/44 (57 gols), 1945/46 (31 gols), 1946/47 (43 gols), 1948 (21 gols) e 1950 (22 gols).
– Eleito o 34º melhor jogador do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 28º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o melhor jogador tchecoslovaco do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 2º melhor jogador austríaco do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Nomeado o maior goleador do Século XX pela RSSSF.
– Nomeado o 2º maior goleador do Século XX pela IFFHS.

… Josef Bican: o artilheiro inigualável

Três pontos sobre…
… Josef Bican: o artilheiro inigualável


(Imagem: UEFA)

● Há exatos quinze anos Josef Bican deixava a vida e ficava apenas na história. Reza a lenda que ele fez mais de 5.000 gols.

Josef Bican, conhecido também como “Pepi” Bican (se pronuncia “Bítsan”), nasceu em um bairro pobre de Viena, na Áustria, em 25/09/1913. Era o segundo de quatro filhos de František e Ludmila Bican. Sua mãe era vienense, dos austro-checos e seu pai era da cidade de Sedlice, na Boêmia do Sul. František também foi jogador de futebol e atuou no Hertha Viena. Era famoso na cidade e certa vez recusou a se transferir para o gigante Rapid Viena. Ele lutou na 1ª Guerra Mundial e voltou ileso, mas morreu com apenas 30 anos, em 1921, pois não quis fazer uma cirurgia renal, necessária por ter tomado uma violenta pancada em uma partida justamente contra o Rapid. Sua mãe era cozinheira em um restaurante. Sua família era tão pobre, que o menino Josef teve que aprender a jogar futebol descalço, o que acabou o ajudando a melhorar suas habilidades com a bola. Bican frequentou a Jan Amos Komenskýa, uma escola tcheca em Viena. Em 1925, quatro anos após a morte de seu pai, tinha doze anos quando começou a jogar nas divisões inferiores do Hertha Viena, o Hertha Viena II. Certa vez, quando Pepi jogava nas divisões de base, sua mãe Ludmila foi vê-lo jogar. Depois de uma falta sofrida pelo garoto, ela invadiu o campo e bateu no marcador de seu filho com um guarda-chuva.

Veja mais:
… Josef Bican: o homem de 5000 gols

Ainda jovem, atuou pelo Schustek (1927-1930) e Farbenlutz (1930-1931). Aos 18 anos, foi descoberto pelo Rapid Viena, grande clube do país na época. Sua transferência custou ao Rapid 150 schillings (valor alto pago em um garoto), mas dois anos depois 600 schillings era seu salário mensal, aos 20 anos (enquanto um bom jogador recebia cerca de 100 schillings). Estreou pelo clube em 1931, marcando um hat-trick no grande rival, o Austria Viena. Passou quatro anos liderando o clube, com 68 gols marcados em 61 jogos oficiais. Depois, passou pelo Admira Viena, com 21 tentos anotados em 31 partidas.


(Imagem: Futebol de Todos os Tempos)

● Desde 1937, Bican já atuava no Slavia Praga, na terra de seus ancestrais. Ficaria na Tchecoslováquia até o fim de sua carreira e seu melhor momento foram os onze anos passados no Slavia, onde marcou absurdos 537 gols em 274 partidas, sendo 328 gols na liga nacional, incluindo 57 gols em 24 partidas no ano de 1939/40. Por três vezes em sua carreira, marcou sete gols em um jogo. Em uma partida da liga de 1939/40, Bican fez sete gols e o Slavia goleou o Zlín por 10 a 1. Na temporada seguinte (1940/41), novamente marcou 7 vezes contra o Zlín e seu time venceu por inacreditáveis 12 a 10. Já em 1947/48, marcou sete vezes na goleada do Slavia em cima do České Budějovice por 15 x 1. Nas duas ligas nacionais que disputou, Pepi Bican foi artilheiro por 12 vezes, em uma carreira de 27 anos. Foi o maior artilheiro da Europa por cinco temporadas consecutivas, de 1939/40 a 1943/44, situação um pouco facilidada porque a maioria dos jogadores mais jovens e de bom físico foram convocados para a Guerra.

Na Europa devastada após a Guerra, vários dos grandes times desejaram ter Bican. A Juventus lhe ofereceu uma fortuna para ir jogar em Turim, mas ele se recusou por medo, devido a boato de que os comunistas iriam controlar a Itália. Ele resolveu ficar em Praga e, ironicamente, os comunistas chegaram ao poder por lá em 1948. Ele se recusou a se filiar ao Partido Comunista, da mesma forma que se recusou anteriormente a se juntar ao Partido Nazista na Áustria. Ele tentou melhorar sua relação com os “comunas” ao jogar no Železárny Vítkovice na temporada 1950/51. Na temporada seguinte, jogou no FC Hradec Králové, mas a perseguição do governo o forçou a deixar a cidade em 01/05/1953 e, consequentemente, o clube. O regime comunistra classificou o craque como “ídolo burguês” e tentou dimunuir sua popularidade em vão, pois os fãs continuaram fiéis a ele. Assim, voltou para a capital para jogar pelo seu antigo clube, o Slavia, que tinha sido renomeado para Dinamo Praga. Jogou mais dois anos e se aposentou em 1955, aos 42 anos de idade. Era o jogador mais velho do país na época e já era jogador e treinador ao mesmo tempo desde 1954.

● Depois de se retirar dos gramados, continuou sendo técnico do Dinamo até 1956. Treinou também: Slovan Liberec (1956-1959), Spartak ZJS Brno (1959-1960), Baník Příbram (1963-1964), Hradec Králové (1964), SONP Kladno (1967-1969). Em 1969, ele foi autorizado pelo governo a trabalhar como técnico de uma equipe estrangeira, o KSK Tongeren, da Bélgica, onde teve muito sucesso, levando a equipe da 4ª para 2ª divisão nacional, de 1969 a 1972. Encerrou a carreira de técnico em 1977, de volta a seu país, no SK Benešov. Depois, trabalhou como operário, motorista de ônibus e até alimentando animais ferozes no zoológico de Praga. Nos seus últimos meses de vida, Bican passou a sofrer problemas cardíacos e faleceu duas semanas antes do natal de 2001, que planejava passar com sua família. Faleceu em Praga, na República Tcheca, em 12/12/2001.

Durante o período de domínio comunista, que foi até 1989, Josef Bican teve seu legado esportivo praticamente apagado e somente agora, aos poucos, Pepi volta a surgir como um grande atleta, um dos maiores da história da Áustria e, principalmente, da Tchecoslováquia. Chegamos à conclusão que Bican não é mais conhecido porque a explosão midiática do futebol internacional ocorreu apenas no fim da década de 1950, principalmente com a concepção da Copa dos Campeões Europeus, enquanto Josef Bican é da geração anterior.

… Lucien Laurent: autor do primeiro gol em Copas do Mundo

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… Lucien Laurent: autor do primeiro gol em Copas do Mundo


(Imagem: O Gol)

● Eram jogados 19 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Aléxis Thépot jogou a bola para o meio campo. Após troca de passes, o ponta esquerda Marcel Langiller cruza para a marca do pênalti. O zagueiro Manuel Rosas fura a jogada e a bola sobra para Lucien Laurent que domina na direita da grande área. A 16 metros do gol, ele chuta forte e à meia altura, no canto direito em diagonal, sem chances para o goleiro Oscar Bonfiglio. Estava aberto o placar das Copas do Mundo.

Eram exatamente 15h19 do dia 13/07/1930, no acanhado Estádio Pocitos (antiga casa do Peñarol), em Montevidéu, onde 4.444 expectadores assistiram o feito. No fim, a França venceu o México por 4 x 1. Com esse seu gol inaugural das Copas, Laurent ficou conhecido como “Le 1er” (“o primeiro”). Essa foi a segunda partida de Laurent pela seleção francesa.

Ele se lesionou no segundo jogo contra a a Argentina (recebeu uma forte pancada de Luis Monti logo aos 2 minutos) e teve que sair de campo. Devido a essa lesão, também não atuou contra o Chile. A França perdeu esses dois jogos por 1 a 0 e foi eliminada ainda na primeira fase do torneio.

● Os primeiros jogos da Copa do Mundo de 1930 ocorreram antes mesmo da abertura do campeonato. França x México e Estados Unidos x Bélgica se enfrentavam ao mesmo tempo no dia 13, enquanto a abertura estava marcada para o dia 15, por atrasos na conclusão da obra do Estádio Centenário. Embora a FIFA (e todo o mundo, inclusive nós) considere seu gol como o pioneiro em Copas, documentos indicam o lance com o terceiro. Quando Laurent abriu o placar contra o México, os Estados Unidos já venciam a Bélgica por 2 a 0 no exato momento. Mas oficialmente, os EUA fizeram o primeiro gol aos 22 minutos de jogo. Essa confusão fez com que o feito de Laurent fosse ignorado pela FIFA por quarenta anos, mas a importância desse gol voltou à tona em 1970. A entidade reconheceu corretamente o gol como o primeiro da história das Copas, destronando o americano Bert McGhee (que abriu o placar na vitória por 3 x 0 contra os belgas em partida no Estádio Parque Central). Nem mesmo o próprio Laurent compreendia a importância de seu gol. Em uma época em que o futebol era completamente amador em todo o mundo (raras exceções), foi cumprimentado pelos companheiros timidamente e voltaram a a jogar normalmente.

VEJA MAIS:
… 13/07/1930 – França 4 x 1 México – Primeiro jogo em uma Copa do Mundo

● Lucien Laurent nasceu em Saint-Maur-des-Fossés, Val-de-Marne, perto de Paris, em 10/12/1907. Em tempos de amadorismo, Laurent trabalhava em uma gráfica quando estreou pelo Cercle Athlétique de Paris, ainda menino, em 1921. Depois, foi morar na cidade de Sochaux para trabalhar na Peugeot; atuou por dois anos na equipe do FC Sochaux, que era um time formado por empregados da montadora de automóveis. Treinava de manhã e trabalhava no turno da tarde. Em incríveis 25 anos de carreira, atuou pelos clubes: CA Paris (1921-1930 e 1933-1934), Sochaux (1930-1932 e 1935-1936)), Club Français (1932-1933), FC Mulhouse (1934-1935), Stade Rennais (1936-1937), Strasbourg (1937-1939), Toulouse (1939-1943) e Besançon (1943-1946). Era um meia esquerda baixinho (1,62 m) e discreto em campo. Era mais atuante na construção de jogadas e raramente chegava ao gol adversário. Nunca conquistou um título no futebol.

Fez sua estreia pela seleção francesa em 23/02/1930, em um amistoso com derrota para Portugal, por 2 a 0. Veio ao Uruguai para disputar a primeira Copa do Mundo, em 1930, embarcando no navio Conte Verde, junto de seus companheiros (inclusive seu irmão Jean, que era volante) e, após quatorze dias no mar, desembarcaram em Montevidéu.
Esteve entre os selecionados para a Copa do Mundo de 1934, mas não jogou devido a uma lesão no joelho. A França perdeu por 3 x 2 para a fortíssima Áustria e foi eliminada logo no primeiro jogo.

Jogou pela sua seleção até 1935 e, ao todo, marcou 2 gols em 10 jogos pelos “Les Bleus”. Seu outro gol foi em uma vitória histórica (a primeira na história) da França sobre a Inglaterra por 5 a 2, em amistoso disputado no Estádio Olímpico Yves-du-Manoir, na cidade francesa de Colombes, no dia 14/05/1931.

Parou de jogar para se integrar às forças armadas francesas durante a 2ª Guerra Mundial, onde foi capturado pelos alemães em 1942 e passou três anos como prisioneiro de guerra. Depois, foi encerrar a carreira no time do Besançon, onde se estabeleceu, na região leste da França. Quando se retirou definitivamente dos gramados, aos 39 anos, abriu um bar na cidade e a treinar jovens talentos locais até 1957.

Em 2000, foi homenageado com o Troféu Peugeot dos Campeões. Na final da Copa da França, entre Nantes e Monaco, no estádio do Sochaux, voltou a pisar nos gramados, com direito a pontapé inicial. Lucien Laurent faleceu aos 97 anos de idade, em 11/04/2005, no hospital Jean-Minjoz, em Besançon. Era o último jogador ainda vivo da seleção francesa que disputou a Copa de 1930 e o único que viu seu país se tornar campeão do mundo em 1998.

Um jovem operário da Peugeot que deixou de lado o anonimato para se transformar na primeira lenda do torneio esportivo mais importante do planeta.


(Imagem localizada no Google)

… Alberto Spencer: Senhor Libertadores

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… Alberto Spencer: Senhor Libertadores


(Imagem: Fox Sports)

● Alberto Pedro Spencer Herrera nasceu em 06/12/1937 na cidade de Ancón, no Equador. Era filho da equatoriana América Herrera e do jamaicano de origem britânica Walter Spencer (o que justifica seu sobrenome inglês). Perdeu o pai aos nove anos de idade. Deu seus primeiros passos no campo de terra do Club Los Andes, na cidade onde nasceu. Em 1954 foi levado por seu irmão, Marcos, que também era jogador (jogou também no Panamá de Guayaquil), para fazer um teste no Círculo Deportivo Everest, também de Guayaquil. No ano seguinte já estava na equipe principal do clube. Estreou profissionalmente em 29/06/1955, contra o Emelec. Anotou seu primeiro gol na semana seguinte, de cabeça, em 07/07/1955, aos 33 minutos do segundo tempo, contra o 9 de Octubre. Seu primeiro gol fora do Equador também foi de cabeça, contra o Deportes Tolima, da Colômbia.

Em janeiro de 1958, participou de um torneio amistoso com a camisa do Emelec, cedido pelo Everest, e se sagrou campeão. De volta ao seu clube, na inauguração do Estádio Modelo, de Guayaquil, em 24/07/1959, Spencer marcou duas vezes contra o time argentino Huracán. Dois dias depois, arrebentou contra o uruguaio Peñarol, chamando a atenção do técnico Hugo Bagnulo. Assim, coube a Spencer trocar o futebol equatoriano pelo Peñarol. Sua despedida foi em um amistoso entre Everest x Palmeiras, em 17/02/1960. Marcou 3 vezes logo em sua estreia pelo novo clube, em 08/03/1960, em vitória por 6 a 3 contra a equipe argentina Atlanta. Dias depois, fez dois gols contra o Tigre, também da Argentina. Em 1960, foi o principal destaque do primeiro campeão da Copa Libertadores da América. O Peñarol venceu o Olimpia na final, com um gol seu. Ele também fez o único gol do Peñarol na Copa Intercontinental, mas seu time perdeu o título para o Real Madrid. Em 1961, foi bicampeão da Libertadores (anotando um gol na final sobre o Palmeiras) e enfim conquistou o título da Copa Intercontinental. No agregado, fez dois gols sobre o Benfica, ajudando o Peñarol a conquistar o título pela primeira vez, na segunda tentativa. Em 1966, voltou a vencer a Libertadores (com três gols na final sobre o River Plate) e o Mundial de Clubes (com três gols), se vingando do Real Madrid, que o tinha vencido em 1960. Foi oito vezes campeão uruguaio pelos “Carboneros”.

A partir de 1967, nem Spencer e nem o Peñarol conseguiu manter o ritmo frenético de conquistas e “só” faturaram os campeonatos nacionais de 1967 e 1968 e a Supercopa dos Campeões Mundiais em 1969. Em 1970, Alberto Spencer voltou à sua terra natal para jogar no Barcelona de Guayaquil. Pelo clube, venceu ainda o Campeonato Equatoriano de 1971. Se aposentou no Barcelona sem partida de despedida. Fez parte da “Façanha de La Plata”, quando os canários venceram o Estudiantes. Em sua homenagem, o Estádio Modelo de Guayaquil atualmente tem o seu nome. Encerrou a carreira no ano seguinte, com um total absurdo de 528 gols marcados em sua carreira.


(Imagem: Globo Esporte)

● Era um atacante nato, rápido, matador e habilidoso com a bola nos pés. Era ambidestro e pelo seu excelente jogo aéreo, ganhou o apelido de “Cabeza Mágica” (cabeça mágica). Pelé não o incluiu na lista FIFA 100, o que causou indignação a muitos na América do Sul. Mas reconheceu sua principal qualidade:

“Um jogador que cabeceava melhor que eu era o Spencer. Eu era bom, mas Spencer era espetacular cabeceando ao gol. Ele tinha uma explosão incrível.”

É o maior artilheiro da história da Libertadores da América com 54 gols assinalados e o segundo maior goleador da Copa Intercontinental, com seis gols (atrás apenas de Pelé, com sete). É considerado o melhor jogador do futebol equatoriano de todos os tempos. É o único equatoriano que ganhou oito títulos de liga no exterior (Álex Aguinaga ganhou 3 e Édison Méndez, 2). Também é o único de seu país a disputar seis finais de Copa Libertadores e o único que ganhou três Copas Libertadores (1960, 1961 e 1966) e em todas as finais marcou gols. Também é o único equatoriano a vencer duas Copas Intercontinentais. É o jogador nascido no Equador que mais gols marcou por equipes do exterior, com 326 gols, todos pelo Peñarol.

Após se aposentar dos gramados, foi técnico da Universidad Católica de Quito, Emelec, Liga de Portoviejo, Técnico Universitario, Huracán Buceo, Liverpool de Uruguay e Guaraní. Nunca foi campeão, mas foi vice-campeão do Campeonato Equatoriano, com a Católica, em 1973. Teve sua biografia oficial escrita por um conterrâneo. Freddy Álava escreveu “Sr. Spencer”, que teve uma edição especial para o Uruguai, contando com o selo do jornal El País, de Montevidéu e prólogo do ex-presidente Julio María Sanguinetti, fanático pelo Peñarol. Em seus últimos anos de vida, Spencer trabalhou como cônsul-geral do Equador no Uruguai. Sofria de problemas cardíacos e, por isso, em outubro foi fazer uma cirurgia em Denver (EUA). Em 03/11/2006, no meio de um tratamento, um infarto fulminante o tirou a vida e o levou apenas e definitivamente para a história.

Pela seleção do Equador, marcou quatro vezes em 11 partidas: quatro pelo Campeonato Sul-Americano Extra de 1959 (atual Copa América), quatro pelas eliminatórias das Copas do Mundo (um para 1962 e três para 1966) e três jogos pela Copa Independência (que comemorava 150 anos de independência do Brasil, em 1972). Spencer nunca aceitou se naturalizar uruguaio enquanto era jogador. Quando jogava no Peñarol, lhe ofereceram essa opção, mas ele não quis. Só jogou pela seleção do Uruguai em alguns amistosos e fez um gol na Inglaterra, em Wembley. Pela Celeste, foram seis jogos e dois gols.

Feitos e premiações de Alberto Spencer:

Pelo Peñarol:
– Campeão da Copa Intercontinental (Mundial Interclubes) em 1961 e 1966.
– Campeão da Copa Libertadores da América em 1960, 1961 e 1966.
– Campeão da Supercopa dos Campeões Intercontinentais em 1969.
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968.
– Campeão do Torneio de 25º Aniversário do Estadio Monumental de Núñez, do River Plate, em 1963.
– Campeão do Troféu Cidade de Guayaquil em 1964.

Pelo Barcelona (Equador):
– Campeão do Campeonato Equatoriano em 1971.

Pelo Emelec (Equador):
– Campeão do Troféu Cervejaria Nacional em 1958, no Equador.

Distinções e premiações individuais:
– Maior artilheiro da história da Copa Libertadores da América (54 gols).
– Artilheiro da Copa Libertadores América em 1960 (3 gols) e 1962 (6 gols).
– Artilheiro do Campeonato Uruguaio em 1961 (18 gols), 1962 (17 gols), 1967 (11 gols) e 1968 (8 gols).
– Incluído pela CONMEBOL em sua seleção histórica de todos os tempos.
– 20º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador equatoriano na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 5º maior artilheiro da história da primeira divisão do Campeonato Uruguaio (113 gols em 166 jogos, média de 0,68).
– 2º maior artilheiro da história do Peñarol (326 gols).
– É o primeiro a marcar um hat-trick (três gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (19/04/1960, Peñarol 7 x 1 Jorge Wilstermann-BOL).
– É o primeiro a marcar um pôquer (quatro gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (19/04/1960, Peñarol 7 x 1 Jorge Wilstermann-BOL).
– É o primeiro a marcar um re-pôquer (cinco gols em um mesmo jogo) na história da Copa Libertadores da América, em 1960 (07/07/1963, Peñarol 9 x 1 Everest-EQU).


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… Héctor “Manco” Castro: primeiro craque aleijado

Três pontos sobre…
… Héctor “Manco” Castro: primeiro craque aleijado


(Imagem localizada no Google)

● Héctor Castro nasceu em Montevidéu em 29/11/1904 e faleceu na mesma cidade em 15/09/1960. Era filho de pais galegos e começou a jogar futebol nas ruas da capital uruguaia, como a maioria dos jogadores sul-americanos. Começou a trabalhar aos dez anos de idade. Quando tinha treze anos, ele cortou seu antebraço direito com uma serra elétrica em um acidente de trabalho, o que lhe rendeu o apelido de “El Divino Manco“.

Em condições normais, seu sonho no futebol acabaria ali. Mas o jovem não aceitou o destino e seguiu adiante. Com 1,69 m e 69 quilos, era um jogador muito útil por mostrar bom rendimento nas cinco posições do ataque, graças a força, a velocidade e habilidade que possuía. Castro se tornou famoso não só por suas façanhas futebolísticas, mas também por causa de sua deficiência. Em vez de considerar uma desvantagem, ele fazia de sua deficiência uma vantagem, usando seu braço mutilado com frequência no rosto dos rivais.

Assim, em 1921, antes de completar os 17 anos já jogava no atualmente desaparecido Club Atlético Lito e se tornava o primeiro aleijado a atuar no país. Bastaram dois anos para chamar a atenção de um grande clube. Aos 20 anos, na temporada 1923/24, iniciou sua aventura no Club Nacional de Football e foi campeão da liga logo de cara. Suas grandes atuações lhe valeram a convocação para a seleção uruguaia que venceu a Copa América de 1926. Ele passou a fazer parte de um grupo com verdadeiras lendas vivas, que haviam sido campeões olímpicos dois anos antes. Voltou a vencer o Campeonato Uruguaio em 1933 e 1934, antes de se aposentar, em 1936. Foram 145 gols em 231 jogos pelos “Bolsos”. Em 1932, foi jogar no Estudiantes de La Plata, da Argentina, mas voltou uma temporada depois ao Nacional.


(Imagem: Extracampo)

● Na estreia do país anfitrião na Copa do Mundo de 1930, contra o Peru, Castro anotou o único tento, aos 20 minutos do segundo tempo, com um chute forte a 16 metros do gol. Foi o primeiro gol marcado no mítico Estádio Centenário, de Montevidéu. Mesmo com a marca histórica, não jogou bem e foi sacado do time nas duas partidas seguintes. Mas pela influência do capitão José Nasazzi, que apostava na dedicação total de Castro no jogo, o “Manco” voltou na final, substituindo Peregrino Anselmo. No dia da final, Castro recebeu um telefonema anônimo, que dizia que se o Uruguai perdesse, ele receberia 50 mil pesos; se ganhasse, ele seria morto. Ele não se fez de rogado. Assim, foi dele o último gol do torneio. Faltava um minuto para o fim da grande final, em que o seu Uruguai vencia a Argentina por 3 a 2, quando Castro finalizou de cabeça um cruzamento do ponta Pablo Dorado. Sua seleção se tornou a primeira campeã do mundo.

Atuou pela seleção do Uruguai entre 1923 e 1935, disputando 25 partidas e anotando 18 gols (30 gols em 54 jogos, contando também partidas extra-oficiais). Além da Copa de 1930, Castro conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, quando seu país venceu a mesma Argentina por 2 a 1 na partida desempate da final. Venceu também a Copa América em duas oportunidades, em 1926 e 1935.

Em 1939, Castro foi trabalhar na comissão técnica do Nacional, conquistar o único pentacampeonato consecutivo do clube: 1939 (como auxiliar técnico), 1940, 1941, 1942 e 1943 (já como treinador). Ficou alguns anos sem trabalhar na área, mas voltou em 1952 para dar outro título ao Nacional.

Em 1959 se tornou técnico da seleção de seu país e tinha total apoio da imprensa e da torcida mas, misteriosamente, renunciou ao cargo meses depois.

Em 15/09/1960, com 55 anos de idade, um infarto do miocárdio tirou a vida de um menino de Montevidéu, que nem uma serra elétrica impediu de se tornar uma lenda do futebol.

VEJA TAMBÉM:
… 30/07/1930 – Uruguai 4 x 2 Argentina – Manco Castro anotou o gol do título

Feitos e premiações de Héctor Castro:

Como jogador, pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1928.
– Campeão da Copa América em 1926 e 1935.
– Vice-campeão da Copa América em 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1929.

Como jogador, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1924, 1933 e 1934.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.

Como técnico, pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1940, 1941, 1942, 1943 e 1952.
– Tetracampeão do Torneio de Honor em 1940, 1941, 1942 e 1943.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1940 e 1942.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 7º maior artilheiro da história da primeira divisão do Campeonato Uruguaio com 107 gols em 181 jogos.


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… Cinco anos sem Doutor Sócrates

Três pontos sobre…
… Cinco anos sem Doutor Sócrates


(Imagens localizadas no Google)

● Sócrates faleceu às 04h30 da manhã do dia 04 de dezembro de 2011 (há exatos cinco anos), com falência múltipla dos órgãos em decorrência do choque séptico, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo.

Em agosto de 2011, Sócrates foi internado na UTI do Hospital Albert Einstein devido a uma hemorragia digestiva causada por hipertensão portal (na veia porta, que drena o sangue do sistema digestivo). Após essa primeira internação, o craque admitiu que tinha problemas de alcoolismo. No mês seguinte voltou a ser internado pelos mesmos problemas. Já no início de dezembro de 2011, ele foi internado novamente devido a uma suporta intoxicação alimentar, que se transformou em um quadro grave de choque séptico em razão da condição debilitada de sua saúde, que o levou a óbito.

No mesmo dia 04/12/2011, o seu querido Corinthians se sagrou campeão brasileiro pela quinta vez. No início da partida, os jogadores e a comissão técnica do alvinegro prestaram uma homenagem a Sócrates, repetindo o gesto utilizado por ele na comemoração de seus gols (punho cerrado e mão ao ar, como na foto, o que foi prontamente repetido pela torcida. Botafogo, Corinthians e Fiorentina decretarem luto oficial. Sua morte repercutiu em redes sociais de quase todos as pessoas ligadas ao esporte e amigos do Magrão. Foi também destaque na imprensa esportiva mundial, como nos jornais espanhóis “As” e “Marca”, os britânicos “The Sun”, “BBC” e “The Economist”, os italianos “Gazzetta dello Sport”, “Guerin Sportivo” e “La repubblica”, os portugueses “A Bola” e “Record”, os argentinos “El Gráfico” e “Olé”, os americanos “CNN” e “New York Times” e os franceses “France Football” e “Le Monde.” Foi sepultado no mesmo dia, no cemitério Bom Pastor, na cidade de Ribeirão Preto. Ele tinha 57 anos e era pai de seis filhos.

● Sócrates Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém, no dia 19/02/1954. Era conhecido também como Dr. Sócrates ou Magrão. Era irmão mais velho de Raí, ídolo do São Paulo e pai de Gustavo Vieira de Oliveira, diretor de futebol que passou pelo SPFC em 2016. Ingressou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP aos 17 anos, mas já jogava pelo Botafogo. Se profissionalizou no esporte em 1973, mas sem abandonar o curso, que seguiu concomitantemente com o futebol até se formar, em 1977.

Se fez notar também pela sua militância política, especialmente nos anos 1980, quando fez parte do movimento pelas Diretas Já e liderou a chamada “Democracia Corintiana” (que não tinha nada de democracia, de acordo com o Guia Politicamente Incorreto do Futebol, de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior). Era conhecido por seu estilo altivo e elegante. Sua principal característica era sua habilidade no uso do calcanhar, que se justificava por ser muito alto e não ter o equilíbrio de um jogador mais baixo; por ter seu centro de gravidade mais alto, os toques de calcanhar foi a forma que encontrou para permanecer mais em pé. Mas seu futebol era completo. Dominava todos os fundamentos. Arrematava bem de todas as formas, incluindo gols de falta, de cabeça e de fora da área, além das várias assistências. Um dos maiores (senão o maior) ídolos do Corinthians e do Botafogo de Ribeirão Preto, é uma das lendas do futebol mundial. Em 28/07/2012, o Corinthians inaugurou um busto em homenagem a Sócrates no Parque São Jorge.

Pelo Botafogo, jogou de 1973 a 1978, com 274 tentos anotados em 269 jogos. Pelo Corinthians, entre 1978 a 1984, fez 172 gols em 298 partidas. Jogou na Fiorentina apenas na temporada 1984/85 (13 gols em 28 jogos). Jogou no Flamengo de 1986 a 1987, marcando 8 vezes em 45 partidas disputadas. Passou pelo Santos em 1988, com 7 gols nas 23 partidas em que atuou. Encerrou a carreira ainda em 1988, no mesmo Botafogo que o projetou, com sete jogos e um gol. Em 1988, em amistoso com ídolos corintianos em campo, jogou 15 minutos com a camisa do Corinthian-Casuals. Em 2004, aos 50 anos de idade, atendendo a um convite de um amigo, participou de uma partida festiva com a camisa do Garfoth Town, equipe da oitava divisão da Inglaterra.

Após deixar os gramados, foi um técnico sem sucessos no Botafogo-SP em 1990, na LDU Quito (Equador) em 1996 e na Cabofriense-RJ em 1999.

Estreou na Seleção Brasileira em 1979, em amistoso contra o Paraguai. Era líder e capitão de uma Seleção de estrelas na Copa do Mundo de 1982, mas o destino não quis laureá-lo como campeão do mundo, saindo do torneio na fase quartas de final, contra a Itália. Mas Sócrates foi destaque da competição. Teve também excelente atuação na Copa América de 1983, mas o Brasil foi vice-campeão, perdendo para o Uruguai no placar agregado das finais em ida e volta. Jogou também a Copa do Mundo de 1986, mas já estava fora de sua forma ideal e não foi tão exuberante quanto quatro anos antes. Não usava mais a faixa de capitão (era do zagueiro Edinho), mas ainda era o líder natural do time. Na decisão por pênaltis nas quartas de final contra a França, perdeu o seu. Ao todo pela Seleção Canarinho, disputou jogou 69 vezes e marcou 25 gols.

● Em fevereiro de 2015, o jornal britânico The Guardian, em seu quadro “The Joy of Six”, elegeu Sócrates como um dos seis esportistas mais inteligentes da história, sendo o único futebolista da lista. Para isso, o periódico levou em conta currículos que extrapolam a linha esportiva, com atuação preponderante em suas áreas e fora delas. Sócrates fez de tudo enquanto viveu:

– Em parceria com o jornalista Ricardo Gozzi, escreveu o livro “Democracia Corinthiana: A utopia em jogo” (2002), onde conta sua experiência de democracia interna no clube durante o período de 1982-1984.

– Gravou um disco solo, de música sertaneja, chamado “Canto de caboclo” (1980), pela gravadora RCA, em tiragem de 50.000 exemplares rapidamente vendidos.

– Participou do disco “Aquarela” de seu amigo Toquinho, em 1982.

– No teatro, produziu a peça “Perfume de Camélia” (1983), com a atriz Maria Isabel de Lisandra. A peça foi exibida no teatro Ruth Escobar.

– Participou do documentário “Ser campeão é detalhe” (2011) sobre a Democracia Corintiana, realizado pelos alunos da disciplina Projeto de Cinema do curso de Midialogia da Unicamp.

– Ao lado de Zico, fez uma participação especial na novela “Feijão Maravilha”, da Rede Globo, em 1979, contracenando com os atroes Ivon Cury, Grande Otelo e Olney Cazarré.

– Em 1992, inaugurou em Ribeirão Preto, com um investimento de US$ 300 mil, a “Medicine Sócrates Center”, uma clínica médica destinada a atender profissionais de diversas modalidades esportivas, além de pacientes comuns.

– Era comentarista esportivo no programa esportivo “Cartão Verde”, da TV Cultura, desde 2008 até sua morte.

Feitos e premiações de Sócrates:

Pelo Botafogo-SP:
– Campeão da Taça Cidade de São Paulo (1º turno do Campeonato Paulista) em 1977.

Pelo Corinthians:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1979, 1982 e 1983.
– Campeão da Taça Governador do Estado de São Paulo em 1984.
– Campeão da Copa dos Campeões SP x RJ em 1984.
– Campeão da Taça Cidade de Porto Alegre em 1983.
– Campeão da Copa da Feira de Hidalgo em 1981, no México.
– Campeão da Copa Cidade de Turim em 1983, na Itália.

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca em 1986.
– Campeão da Taça Rio em 1986.

Pela Seleção Brasileira:
– Vice-campeão do Mundialito de Montevidéu em 1980.
– Vice-campeão da Copa América de 1983.
– 3º lugar na Copa América de 1979.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1982.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1986.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1982.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1986.
– Campeão da Taça da Inglaterra em 1981.
– Campeão da Taça da França em 1981.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Paulista de 1976 (27 gols).
– Artilheiro da Taça Cidade de Porto Alegre de 1983 (7 gols).
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o melhor jogador sul-americano pelo jornal El Mundo em 1983.
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1980.
– Eleito o 5º melhor jogador do mundo pela revista World Soccer em 1982.
– Eleito o 21º melhor jogador brasileiro do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 6º melhor jogador da Copa do Mundo de 1982.
– Convocado para a Seleção da FIFA em 1982.
– Eleito para a lista dos 100 craques do Século XX pela revista World SOccer em 1999.
– Eleito para a lista dos 100 craques das Copas do Mundo pela CNN Sports em 2002.
– Craque do ano de 1982 da Revista Placar, eleito pela crítica e pelos leitores.
– Craque do ano de 1983 da Revista Placar, eleito pela crítica.
– 4º maior craque do Brasil na década de 1970 da Revista Placar, eleito pela crítica em 1979.

… Castilho: sua sorte não foi o suficiente

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… Castilho: sua sorte não foi o suficiente


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● Carlos José Castilho nasceu em 27/11/1927, no Rio de Janeiro, então capital federal. Iniciou a carreira como atacante no Tupã Futebol Clube, de Brás de Pina, subúrbio do Rio. Certa vez, o goleiro titular não apareceu para uma partida e Castilho atuou em seu lugar, mas sem se fixar na posição. Com 17 anos, em 1944, foi levado aos juvenis do Olaria por Menezes, pai de Ademir de Menezes, craque do Vasco na época. Fez seus primeiros treinos como ponta esquerda, mas pediu ao treinador para ser testado no gol. Assim ficou por dois anos, sem nunca atuar em nenhuma partida, nem entre os aspirantes.

Em 1946, quando o técnico Gentil Cardoso pediu Ademir para o Flu, seu pai, que o representava, mais uma vez levou Castilho e o apresentou a Gentil. O goleiro fez testes no tricolor carioca e foi aprovado pelo ranzinza Gentil. Com apenas 19 anos, Castilho assinou com os aspirantes do Flu, recebendo três mil cruzeiros de luvas e um salário mensal de 800 cruzeiros. Estreou em 06/10/1946, em um amistoso na cidade mineira de Pouso Alegre, contra o Fluminense local. o time carioca venceu por 4 a 0, com Castilho defendendo seu primeiro pênalti na carreira. A partir de 1947 se tornou titular da equipe principal.

Entrou para a história como um goleiro “milagreiro”, com defesas consideradas quase impossíveis. Além de bom posicionamento e reflexo, se tornou mais lendário por sua inesgotável sorte. Em um Fla x Flu que seu time venceu por 1 a 0, chegou a levar cinco bolas na trave, além de defender um pênalti. Passou a ser chamado pela imprensa carioca de “Leiteria”, que significava “homem de sorte”, na época. O apelido tinha relação não só com a infância de Castilho, quando ele foi entregador de leite, mas também à fama alcançada por um leiteiro do bairro das Laranjeiras, que por duas vezes teve seu bilhete premiado pela Loteria Federal. Então, no Rio dos anos 1950, “leiteiro” se tornou sinônimo de “sujeito de sorte”. Os torcedores do Flu o chamavam de “São Castilho”. Foi o primeiro goleiro “canonizado” pelos torcedores, devido aos milgres debaixo das traves.

Vestiu o manto tricolor de 1946 a 1965. É o recordista de atuações pelo Fluminense, com 698 partidas. Sofreu 764 gols (incrível média de 1,09) e saiu invicto em 255 partidas. Estreou contra o Fluminense de Pouso Alegre (MG) pelo time de aspirantes. Se firmou como titular em 1948. É considerado o melhor goleiro do clube em todos os tempos. Tinha 1,81 m e 75 kg, padrão baixo atualmente, mas bom para a época. Se destacava também em defesas de pênaltis (só em 1952 defendeu 6). Foi o pioneiro em se posicionar com os braços abertos no momento em que o adversário se prepara para a cobrança; ele percebeu que esse ato aumentava seu tamanho diante do cobrador.

Castilho observou também que as cores das camisas dos goleiros da época facilitavam a vida dos artilheiros, pois as cores escuras que vestiam servia de ponto de referência para os adversários: eles podiam entrar na área com a bola dominada, que com o canto do olho já sabiam onde estava o goleiro. Assim, ele passou a vestir uniformes de cores mais neutras, como cinza claro, para que se camuflasse com as cores das arquibancadas ou com as redes dos gols. Era daltônico e enxergava as cores trocadas. Da mesma forma que acreditava que era favorecido por ver como vermelhas as bolas amarelas, era prejudicado pelas bolas brancas a noite.

Na época, os goleiros jogavam sem luvas. Era comum eles quebrarem dedos após defesas, tendo que até mesmo encerrar suas carreiras devido a essas contusões. No Torneio Rio-São Paulo de 1953, fraturou o dedo mínimo da mão esquerda pela primeira vez, ficando fora do gol tricolor em várias oportunidades. Em 1955, teve que extrair os meniscos e passou a se revezar no gol com o parceiro Veludo; assim, nesse ano jogou apenas 19 vezes, sua pior marca, já que ficou mais de um ano sem jogar, voltando apenas em abril do ano seguinte. Em 1957, ficou novamente fora dos gramados por 45 dias após fraturar o mindinho esquerdo pela quinta vez. Avaliado pelo Dr. Newton Paes Barreto, descobriu que a lesão era proveniente de uma destruição óssea e que ele deveria passar por outros três meses de tratamento ou até mesmo parar de jogar. Como profissional, Castilho era um obcecado. Foi ao mesmo tempo um exemplo de estoicismo e uma mostra de sua loucura quando ele resolveu amputar a metade do dedo para retornar mais rápido aos jogos decisivos da temporada. Duas semanas depois da amputação, ele já havia voltado a jogar pelo Fluminense contra o Flamengo. Um gesto extremo de amor ao seu ofício.

“O fato concreto é que, no meu entendimento, meu dedo continuaria imóvel, e isso me roubava a autoconfiança. Foi quando pensei na amputação parcial. Só com ela eu me sentiria novamente confiante. Dr. Paes Barreto foi contrário à operação. Ficou então determinado que, para que houvesse a operação eu teria de assinar um termo de responsabilidade. Vivi um drama durante 48 horas. De um lado a minha convicção de que só a amputação resolveria o meu problema. No outro lado minha senhora e os médicos não concordavam. Telefonei para o Dr. Paes Barreto e fui franco. Se não houver operação não poderei mais continuar jogando, assim não confio mais em mim. No dia seguinte dei entrada na Casa de Saúde. Eram oito horas. Paes Barreto já me esperava. Antes da anestesia, ainda ouvi sua última frase: ‘Castilho, você é louco!’.” ¹*

Pelo Fluminense, ainda em 1952, venceu a Taça Rio, uma espécie de Campeonato Mundial Interclubes, que reunia os principais campeões do mundo. O Flu venceu grandes times, entre eles o Peñarol, que tinha a base da fortíssima seleção uruguaia.

Em 1965 ele já estava desgastado no clube e queria mudar de ares. A diretoria “pó-de-arroz” não permitiu que ele fosse para o Vasco, mas o liberou por empréstimo para o Paysandu. No clube paraense, foi campeão estadual e encerrou a carreira. Na comemoração dos 98 anos do Paysandu, Castilho foi eleito o melhor goleiro da história do clube, em eleição organizada por cem eleitores ilustres e coordenada pelo jornalista e historiador Ferreira da Costa.

“Não se deve parar de olhar a bola nem quando ela está nas mãos do gandula. Ela é nossa maior inimiga, e só vigiando-a o tempo todo que nós deixaremos de tomar o ‘frango do fotógrafo’, aquele que levamos por uma distração, por estarmos conversando.” – Castilho.

● Pela Seleção Brasileira, conquistou o primeiro título relevante fora do Brasil: o Campeonato Pan-Americano de 1952, em Santiago. A final contra o Uruguai foi conturbada, terminando com uma série de agressões e confusões. O Brasil minimizou a dor da derrota na final da Copa de 1950, já que boa parte do elenco uruguaio ainda era o mesmo. Disputou quatro Copas do Mundo: 1950 (reserva de Barbosa, foi vice-campeão em casa), 1954 (única como titular), 1958 e 1962 (bicampeão, na reserva de Gylmar). Esteve na Copa América em 1953 e 1959, além de vários torneios e partidas amistosas. Disputou 29 jogos e sofreu 30 gols.

Após parar, Castilho adiou o sonho de ser treinador após o nascimento de seu primeiro filho homem. Em 1967, começou a nova carreira no mesmo Paysandu, sendo campeão paraense em 1967 e 1969. Esteve no Vitória entre 1973 e 1974 e até setembro de 2009 era o técnico que mais tinha dirigido e vencido pelo clube na Série A do Campeonato Brasileiro (foi ultrapassado por Vágner Mancini). Passou pelo Sport Recife e foi para o Operário, do Mato Grosso, onde conquistou o tricampeonato estadual em 1976/77/78 e levou a equipe ao terceiro lugar da série A do Campeonato Brasileiro em 1977. Passou pelos rivais gaúchos Grêmio e Inter, até chegar ao Santos, onde conquistou o Campeonato Paulista de 1984. Em 1986, foi treinar a seleção da Arábia Saudita e participou da Copa Asiática de Seleções. Voltaria ao Brasil no ano de 1987 com o sonho de ser técnico do seu Fluminense.

Castilho cometeu suicídio em 02/02/1987, aos 59 anos, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele foi visitar sua ex-esposa e, inesperadamente, saiu correndo pela sala e se atirou pela janela do apartamento, que ficava no sétimo andar do prédio. Ele não deixou explicações e nem carta de despedida, mas passava por problemas particulares. Pessoas próximas a ele indicam que ele sofria de depressão pelo esquecimento do público, mas o motivo exato é desconhecido por todos, até por sua família. Uma versão é que o ex-goleiro sofria de transtorno bipolar. Outra possibilidade é alguma enfermidade incurável que pudesse ter, pois sentiu fortes dores no mês de janeiro, na Arábia Saudita, e ele não revelou o conteúdo de seu exame a ninguém. Muitos falam em crise amorosa, já que ele vivia com a segunda mulher, Evelyna, que se recusou a viajar com ele para os Emirados Árabes Unidos dias antes. Essa separação brusca pode ter ocasionado seus distúrbios emocionais.

Castilho deixou cinco netos e dois filhos, um homem (Carlos) e uma mulher (Shirley), ambos de seu primeiro casamento. Sua primeira esposa (Vilma Lopes de Castilho) está viva e reside no Rio de Janeiro. O filho de Castilho, Carlos Roberto Lopes de Castilho, é executivo da Diretoria de Empresas da Cielo, líder do setor de pagamentos eletrônicos com máquinas de cartões de crédito e débito.

Sua história foi destacada em vários livros: “Castilho – Bicampeão Mundial de Futebol”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Os goleiros do Fluminense – De Marcos de Mendonça a Fernando Henrique”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Fluminense Football Club, história, conquistas e glórias no futebol” de Antônio Carlos Napoleão (2003); “O último homem da defesa”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2005); “Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1”, de Paulo Guilherme (2006); “Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro”, de Luís Augusto Simon (2010). O vestiário do departamento de futebol profissional do Fluminense tem o seu nome. Em 2007, o Tricolor das Laranjeiras inaugurou um busto de Castilho na entrada da sede social do clube, como agradecimento pelos serviços prestados, muito acima do que se pode esperar de um jogador profissional, pelas enormes e cegas demonstrações de amor pelo clube. Será sempre o maior ídolo dos tricolores em todos os tempos. Um dos grandes goleiros brasileiros na história.

Feitos e premiações de Castilho:

Como jogador, pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962.
– Vice-campeão da Copa do Mundo em 1950.
– Campeão do Campeonato Pan-Americano em 1952.
– Campeão da Copa Roca em 1957.
– Campeão da Taça Bernardo O’Higgins em 1955.
– Campeão da Taça Oswaldo Cruz em 1950 e 1962.

Como jogador, pelo Fluminense:
– Campeão da Copa Rio em 1952 (equivalente a um Campeonato Mundial de Clubes, na época).
– Campeão do Campeonato Carioca em 1951, 1959 e 1964.
– Campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960.
– Campeão do Torneio Municipal do Rio de Janeiro em 1948.
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1954 e 1956.
– Campeão Regional Taça Brasil – Zona Sul em 1960.
– Campeão do Torneio José de Paula Júnior em 1952, em Minas Gerais.
– Campeão da Copa das Municipalidades do Paraná em 1953.
– Campeão da Taça Casa Nemo em 1949.
– Campeão da Taça Embajada de Brasil em 1950, no Peru (Sucre x Fluminense).
– Campeão da Taça Comite Nacional de Deportes em 1950, no Peru (Alianza Lima x Fluminense).
– Campeão da Taça General Manuel A. Odria em 1950, no Peru (Seleção de Arequipa x Fluminense).
– Campeão da Taça Adriano Ramos Pinto em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Cinquentenário do Fluminense em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Milone em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Ramon Cool J em 1960, na Costa Rica (Deportivo Saprissa x Fluminense).
– Campeão da Taça Canal Collor em 1960, no México (San Lorenzo-ARG x Fluminense).
– Campeão da Taça Embotelladora de Tampico SA em 1960, no México (Deportivo Tampico x Fluminense).
– Campeão da Taça Dínamo Moscou x Fluminense em 1963.
– Campeão da Taça Benemérito João Lira Filho em 1947 (inauguração do estádio do Olaria, entre Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça V.C Borba em 1947 (Atlético-PR x Fluminense).
– Campeão da Taça Folha da Tarde em 1949 (Internacional x Fluminense).
– Campeão do Troféu Prefeito Acrisio Moreira da Rocha em 1949 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Secretário da Viação de Obras Públicas da Bahia em 1951 (Bahia x Fluminense).
– Campeão da Taça Madalena Copello em 1951 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Desafio em 1954 (Fluminense x Uberaba Sport Club).
– Campeão da Taça Presidente Afonsio Dorázio em 1956 (Seleção de Araguari-MG x Fluminense).
– Campeão da Taça Vice-Presidente Adolfo Ribeiro Marques em 1957 (Combinado de Barra Mansa x Fluminense).
– Campeão da Taça Cidade do Rio de Janeiro em 1957 (Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça Movelaria Avenida em 1959 (Ceará x Fluminense).
– Campeão da Taça CSA x Fluminense em 1959.

Como jogador, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1965.

Como técnico, pelo Santos:
– Campeão do Campeonato Paulista de 1984.

Como técnico, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1967 e 1969.

Como técnico, pelo Operário:
– Tricampeão do Campeonato Mato-Grossense em 1976, 1977 e 1978.
– 3º lugar na Série A do Campeonato Brasileiro de 1977.

Distinções e premiações individuais:
– Prêmio Belfort Duarte em 1955 (premiação individual que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso de campo, tendo jogado pelo menos 200 partidas).

¹* Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006.

… Petráš e Panenka

Três pontos sobre…
… Petráš e Panenka


(Imagem: Alchetron)

● Quando Ladislav Petráš fez o sinal da cruz, o mundo ficou chocado. Como poderia um comunista repetir esse gesto cristão? Comunistas comem criancinhas! Foi o que pensaram os telespectadores em sua pueril ignorância. Esse fato ocorreu quando ele marcou o primeiro gol de sua seleção na Copa. O Brasil viraria e golearia a Tchecoslováquia por 4 x 1, com Jairzinho passando a imitar Petráš, e desde então, fazendo o sinal da cruz em cada gol seu.

Aos 11 minutos de jogo no estádio Jalisco, Petráš arrancou pela intermediária passando pelo zagueiro Brito e chutou da entrada da área, na diagonal, no canto direito de Félix. Correu junto à bandeirinha de escanteio, fez o sinal da cruz e juntou as mãos, como se fosse uma oração. Era uma comemoração raríssima, quase única, para a época. Apenas dois anos antes, seu país tinha sido lançado em forte regime comunista, com a Primavera de Praga, forçada pela União Soviética, em um comunismo que perseguia as religiões, especialmente a católica. Com o ato, Petráš não apenas expressou sua fém mas também seu descontentamento político com profundo significado. Uma pena que depois milhões de jogadores até medíocres banalizariam o mesmo sinal cristão.

Petráš tinha menos de 24 anos nesse jogo e, se era desconhecido fora de seu país, já era um ídolo na Tchecoslováquia. Dotado de talento com a bola nos pés, era de uma personalidade difícil. Sempre tinha problemas disciplinares e era expulso frequentemente pelos árbitros. Logo após a Copa de 70, quebrou sem dó nem piedade a perda do zagueiro Václav Migas, seu colega de seleção. O regime da “Cortina de Ferro” decidiu que enquanto Migas não se recuperasse de sua fratura exposta, Petráš também não jogaria. Assim, ambos ficaram 14 meses sem jogar.

Laci-Baci (como era chamado em seu país) começou a carreira aos 17 anos no FK Baník Prievidza e aos 21 se transferiu para o FK Dukla Banska Bystrica, sendo artilheiro da liga nacional com 20 gols. No ano seguinte, em 1969, foi para o FK Inter Bratislava, onde ficou até 1980, se tornando um mito para os aurinegros. Dizem que certa vez ele fugiu do hospital para disputar uma partida, retornando ao leito após o jogo. Foi artilheiro do campeonato novamente em 1974/75, também com 20 gols. Nesse mesmo torneio, fez cinco gols no mesmo jogo contra o poderoso AC Sparta Praha (a partida foi 7 x 4 para o Inter). Virou lenda quando em uma partida, Petráš marcou três gols na sequência e, após o terceiro, simplesmente saiu de campo sorrindo, como que dizendo que já tinha feito sua parte no jogo. Pela liga tchecoslovaca, fez 85 gols em 239 partidas. Ainda jogou no WAC Viena, da Áustria, até 1983. Curiosamente nunca ganhou um título nacional em campo, mas foi campeão como auxiliar técnico do campeonato eslovaco pelo seu Inter. Foi técnico da seleção eslovaca sub-21 em 2006.

Pela seleção da Tchecoslováquia, Petráš jogou apenas 19 vezes e marcou 6 gols (entre 1969 e 1977), mas entrou para a história com grandes momentos.

Ladislav Petráš nasceu na cidade de Prievidza, em 01/12/1946 e completa 70 anos hoje.


(Imagem: Alchetron)

● Antonín Panenka nasceu em Praga, em 02/12/1948 (exatamente dois anos e um dia após Petráš, seu então conterrâneo). Começou com apenas dez anos na divisão de base do Bohemians Praha, ficando até 1981, com 318 gols em 678 partidas. A legislação do regime socialista do país só permitia o êxodo de jogadores maiores de 30 anos e entre 1981 e 1985, Panenka foi atuar no austríaco SK Rapid Wien (63 tentos em 127 jogos), sendo bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1981/82 e 1982/83. Foi também tricampeão da Copa da Áustria, entre 1983 e 1985. Chegou na final da Recopa Europeia em 1984/85, mas perdeu para o Everton por 3 x 1. Ainda passaria por outros times da Áustria: VSE St. Pölten (1985-1987), SK Slovan Wien (1987-1989), ASV Hohenau (1989-1991) e Kleinwiesendorf (1991-1993), onde encerrou definitivamente a carreira, aos 45 anos de idade. Depois, voltou a seu país natal e se tornou presidente do Bohemians, cargo que ocupa atualmente.

Meia-armador talentoso, bom passador, com excelente visão de jogo, era especialista na bola parada, tanto em faltas quanto em pênaltis. É considerado o maior jogador da Tchecoslováquia entre Josef Masopust e Pavel Nedvěd. Pela seleção da Tchecoslováquia, marcou 17 vezes em 59 partidas, entre 1973 e 1982. Disputou as Eurocopas de 1976 e 1980 (3º lugar) e a Copa do Mundo de 1982, caindo na primeira fase.

● As carreiras de Petráš e Panenka se encontraram da seleção da Tchecoslováquia, especialmente na Eurocopa de 1976, na Iugoslávia. Petráš era reserva, mas Panenka era o craque do time.

Na prorrogação, os tchecos venceram o Carrossel Holandês por 3 a 1. Após passar pelo vice-campeão da última Copa do Mundo, eles enfrentaram os campeões na final. Após empate por 2 a 2 entre Tchecoslováquia e Alemanha Ocidental, essa foi a primeira final importante a ser decidida nos pênaltis. Todos os jogadores vinham convertendo as cobranças, até que o craque alemão Uli Hoeneß chutasse por cima. Coube a Antonín Panenka decidir o título, mas ele não “apenas” converteu o chute. Mesmo com a pressão de ter no gol adversário o lendário Sepp Maier, o meia tcheco cobrou tranquilamente: enquanto o goleiro caía no canto esquerdo, o camisa 7 chutou de “cavadinha” no centro do gol. Foi a primeira vez que se cobrou um pênalti assim. Até hoje na Europa o estilo é chamado de “Panenka“. Assim, Panenka inventou moda e entrou para a história da Eurocopa e do futebol por um lance simples e genial.

Antonín Panenka e Ladislav Petráš entraram na história, no plantel da Tchecoslováquia campeã da Eurocopa de 1976, único título da história do país (e dos países que viriam a se formar em 1992, Tchéquia e Eslováquia).


(Imagem: Total Pro Sports)

… Mário Sérgio

Três pontos sobre…
… Mário Sérgio


(Imagem localizada no Google)

● Falecido ontem, no fatídico vôo da Chapecoense, que vitimou 75 pessoas, Mário Sérgio Pontes de Paiva se foi aos 66 anos. Nasceu no Rio de Janeiro, em 07/09/1950.

Meu pai dizia que Mário Sérgio “andava em cima da bola” e “escondia a bola” com facilidade.

Habilidoso e rebelde, Mário Sérgio marcou seu nome na história do futebol brasileiro. Era um jogador reconhecido por sua grande habilidade e criatividade. Foi o pioneiro em olhar para um lado e tocar para o outro; por causa dessa jogada (eternizada depois por Ronaldinho Gaúcho), Mário Sérgio ganhou o apelido de “Vesgo”. Tinha uma personalidade muito forte, o que acabou por prejudicar sua carreira. Era viciado em corridas de cavalos. Enquanto defendia o Inter, ficou famosa uma escapada relâmpago ao Jóquei Clube de Porto Alegre, depois de uma partida contra o São Paulo. Certa vez disse à revista Placar que “atletas são como cavalos e precisam ser bem tratados para apresentarem os resultados desejados. Só que cavalo aceita freio e eu não.”

Conquistou por quatro vezes a Bola de Prata da Revista Placar, o que mostra sua regularidade. Seu nome aparece no livro “Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos”, de Paulo Vinícios Coelho e André Kfouri. Como jogador, atuou em 13 equipes, de 1969 a 1987.

Deu seus primeiros passos no futsal do Fluminense, pois seu pai era sócio do clube e por isso podia jogar de graça. Nessa época, estudava processamento de dados e como o futsal não lhe dava dinheiro, largou o esporte e foi trabalhar em uma empresa de computadores. Em 1969, foi levado por amigos para fazer um teste no Flamengo e foi contratado. Sua habilidade originada no futsal lhe deu a fama de fominha. No ano seguinte se tornou profissional, mas o técnico Yustrich implicava com seu cabelo grande e suas roupas coloridas, o chamando de “boneca”. “Yustrich era adepto do futebol força e tinha seus métodos rígidos e absurdos de preparação. Um dia, joguei mal e ele me tirou do time. Achei injustiça, mas continuei a treinar entre os reservas. Num coletivo, querendo me mostrar, recebi uma bola longa, me esforcei, alcancei a bola a um palmo da linha e parti para o gol; já dentro da área, quando ia marcar o gol, Yustrich apitou dizendo que a bola saiu. Ah, peguei a bola e zuei. Dei um chutão para o alto, e disse que ali não jogava mais.”

Assim, Mário foi para o Vitória em 1971. No clube de Salvador, conquistou o Campeonato Baiano de 1972 e foi eleito Bola de Prata pela Revista Placar em 1973, como ponta esquerda, e em 1974, quando mudou de posição e passou a jogar na meia esquerda. Em quatro temporadas, se tornou ídolo do Vitória e é considerado um dos melhores jogadores da história do clube. Em 25/08/1991, na reinauguração do estádio Barradão, Mário Sérgio desceu de helicóptero no centro do gramado, ovacionado pela torcida.

Em 1975 partiu para fazer parte da “Máquina Tricolor”, no Fluminense, junto com Rivelino, Paulo César Caju, Gil e Edinho. Foi campeão carioca em 1975, mas se desentendeu com o presidente do Flu, Francisco Horta.

Jogou no Botafogo entre 1976 e 1979, fazendo parte do “Time do Camburão”. O jornalista botafoguense Roberto Porto, que criou o apelido, o justifica: “um time que tinha Dé, Mário Sérgio, Renê, Paulo César, Perivaldo e Nilson Dias… todos com a chave da cadeia!” A partir de 1978 sofreu com contusões, ficando mais de um ano parado, no total. Sem ambiente, em 1979 foi jogar no Rosario Central, mas sua passagem foi rápida, pois sua mulher havia acabado de começar o curso de engenharia no Brasil e não o acompanhou à Argentina.

Voltou ao Brasil no mesmo ano, para jogar no Inter. Foi Falcão quem pediu sua contratação: “Eu lembro que eu disse que o Mário só faz confusão com as pessoas que não o tratam bem, o desrespeitam e não cumprem o que está combinado com ele. Ele veio e foi de um comportamento exemplar. Puxava fila nos treinos físicos.” Foi fundamental no título do Brasileirão, conquistado de forma invicta. Chegou à final da Libertadores de 1980 (perdida para o Nacional-URU) e se tornou o principal jogador do clube após a ida de Falcão para o Roma. No mesmo 1980, conquistou a Bola de Prata pela terceira vez. Em 1981, foi campeão gaúcho. “Mário Sérgio foi o jogador mais habilidoso que conheci.” – comentou Falcão.

Jogou no São Paulo entre agosto de 1981 e dezembro de 1982. Foi no SPFC que ganhou o apelido de “Rei do Gatilho”, após esvaziar o pente de seu 38, com tiros para o alto no Vale do Paraíba, para assustar torcedores do São José, que se manifestavam na saída do ônibus tricolor para o Estádio Martins Pereira. No jogo de volta, o placar do Morumbi anunciou “nº 11: Mário Sérgio, o Rei do Gatilho”. Aí pegou! Posteriormente, ele afirmou que as balas eram de festim e se disse arrependido. Sua melhor atuação com o “manto” foi quando mais de 30 mil pessoas viram seu show, com dois gols na goleada em cima do Palmeiras, por 6 x 2. Mesmo com boas atuações, a falta de adaptação ao esquema tático e boatos de envolvimento com drogas o fez parar na Ponte Preta. Mesmo com craques como ele, Dicá e Jorge Mendonça, o time da Macaca não deu liga.

Em 11/12/1983 fez sua única partida pelo Grêmio, o suficiente para se tornar ídolo por lá. Disputou e venceu “apenas” a Copa Intercontinental, se tornando campeão mundial. Veio a pedido do técnico Valdir Espinosa: “Ninguém queria o Mário Sérgio no Grêmio. Eu que insisti. Na primeira vez que falei, todo mundo pipocou: ‘Ah, ele é isso, aquilo, é bagunceiro…’. Mas eu conhecia ele. Joguei com ele, morei com ele. Eu reconhecia nele a sua qualidade extraordinária. Jogar contra alemão só com força não adianta. Tem que ter técnica para contrapor. Precisávamos do Mário Sérgio.” Mário ditou o ritmo da partida nos 120 minutos, com lançamentos precisos e seus dribles fantásticos. Mesmo assim, não teve o contrato prolongado. Assim, voltou para o rival Inter. Logo na abertura do ano de 1984, houve o “Gre-Nal das faixas”. Segundo ele, “na hora de trocarmos as faixas, pensei: ‘Poxa, alguém aí vai me vaiar, gremista ou colorado, não vai ter jeito’. No fim, eu, com a camisa do Inter e a faixa de campeão do mundo pelo Grêmio, acabei aplaudido pelas duas torcidas. Me emocionei barbaridade.” É difícil um jogador conquistar o coração de torcedores dos dois rivais, mas Mário Sérgio conseguiu.

Jogou no Palmeiras entre 1984 e 1985 e ficou marcado por ter sido flagrado em um exame antidoping por anfetamina, após ter tomado uma limonada oferecida por Marco Aurélio Cunha, médico do adversário São Paulo. O craque foi suspenso por 90 dias e a história ficou muito mal contada, mas ficou por isso mesmo. Em 1986 jogou pelo Botafogo, de Ribeirão Preto, e pelo Bellinzona, da Suíça. Em 1987, foi para o Bahia, mas já não conseguia jogar no mesmo ritmo dos companheiros. Na quinta rodada do Brasileirão daquele ano, era o camisa 10 contra o Goiás. Ele fez um primeiro tempo exuberante e o time saiu para o intervalo vencendo o Goiás por 1 a 0. Mário saiu antes de todo mundo e quando os colegas chegaram no vestiário, ele já estava trocado: agradeceu a todos e disse que não voltaria para o segundo tempo. Tinha encerrado a carreira.

Sua fama de indisciplinado em todos clubes onde passou o afastou da Seleção Brasileira. Fez parte de toda a preparação para a Copa do Mundo de 1982, mas foi cortado na última convocação, substituído por Éder. Mesmo não estando na lista dos 22, esteve na lista de espera registrada pela FIFA, que continha 40 nomes. No total, entre 1981 e 1985, disputou oito partidas amistosas, sem marcar gols.

(Imagem: Metrópoles)

● Como técnico, comandou 11 times, mas nunca conquistou nenhum título, embora tenha chegado perto. Começou sua carreira de técnico em 1987 no Vitória, mesmo time em que explodiu como jogador. Em 1993 treinou o Corinthians, quase levando o time para a final do Brasileirão, ficando 15 partidas sem perder. Revelou o volante Zé Elias, com apenas 16 anos. Em duas passagens pelo Timão (em 1993 e 1995), dirigiu a equipe em 31 partidas, sendo 16 vitórias, 13 empates e apenas 2 derrotas. Atritos com a diretoria o fez pedir demissão pouco antes do Paulistão de 1995 e ele se tornou comentarista pela TV Bandeirantes.

Em 1998 voltou a beira do campo, treinando o São Paulo em apenas 10 jogos (3 vitórias, 1 empate e 6 derrotas). Ficou marcado como o único técnico a não deixar Rogério Ceni cobrar faltas. Ainda em 1998, foi diretor de esportes do banco Excell Econômico, então patrocinador do Corinthians. Esteve no Atlético-PR no início da campanha que terminaria no título brasileiro de 2001. Foi diretor de futebol do Grêmio em 2005, quando o time disputou a Série B, na mítica “Batalha dos Aflitos”. Em 2007, novamente como técnico, levou o Figueirense ao vice-campeonato da Copa do Brasil. Pelo Figueira, foram 44 jogos, com 19 vitórias, 13 empares e 12 derrotas. Passou também por São Caetano, Atlético-MG, Botafogo e Portuguesa. Em 05/10/2009 se tornou técnico do Internacional, disputando 11 partidas, com 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Foi vice-campeão brasileiro, conseguindo a vaga para a Libertadores do ano seguinte (que o Inter venceria). Seu último clube foi o Ceará, em 2010, mas ficou apenas um mês. “Eles não entendem o que eu falo nos treinos, vou virar comentarista”, disse.

Foi comentarista pela primeira vez no início da década de 1990, na TV Bandeirantes e se destacou pela facilidade de se comunicar e analisar futebol. Nessa época, criou uma expressão bastante usada desde então: “o time está começando a gostar do jogo”. Além da Band, tabalhou na Record, Sportv, além das rádios Joven Pan e Band FM. Em 31/07/2012 se tornou comentarista do Fox Sports e tinha contrato até a Copa do Mundo de 2018. Era o chamado “comentarista sem papas na língua”.

Em 29/11/2016 foi uma das vítimas fatais da queda do vôo 2933 da LaMia, que transportava a equipe da Chapecoense para Medellín, onde a equipe catarinense disputaria a partida de ida da final da Copa Sul-Americana de 2016. A partida teria transmissão da Fox Sports e Mário Sérgio seria comentarista do jogo. Mário Sérgio deixa a mulher, Mara, três filhos (Bruno, Fernando e Felipe) e uma neta.


(Imagem: Fox Sports)

Feitos e premiações de Mário Sérgio:

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca de Aspirantes em 1970.
– Campeão da Taça Guanabara em 1970.
– Campeão do Troféu Marechal Mendes de Morais em 1970.
– Campeão do Troféu Ary Barroso em 1970.
– Campeão do Troféu Ponto Frio Bonzão em 1971.
– Campeão do Troféu Pedro Pedrossian em 1971.
– Campeão da Taça Presidente Mécidi em 1971.

Pelo Vitória:
– Campeão do Campeonato Baiano em 1972.

Pelo Fluminense:
– Bicampeão do Campeonato Carioca em 1975 e 1976.
– Campeão da Taça Guanabara em 1975.
– Campeão da Taça Amadeu Rodrigues Sequeira (3º Turno do Campeonato Carioca) em 1976.

Pelo Botafogo:
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1977.
– Campeão da Taça José Wander Rodrigues Mendes em 1976.

Pelo Internacional:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1979.
– Campeão do Campeonato Gaúcho em 1981 e 1984.
– Campeão da Copa Kirin em 1984.
– Campeão do Torneio Heleno Nunes em 1984.

Pelo São Paulo:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1981.

Pelo Grêmio:
– Campeão da Copa Intercontinental (Mundial de Clubes) em 1983.
– Campeão da Copa Los Angeles em 1983.
– Campeão do Troféu ‘Cell’ (ESA) em 1983.

Pela Seleção Brasileira de Masters:
– Campeão da Copa Pelé (Copa do Mundo de Masters) em 1991

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1973, 1974, 1980 e 1981.