Três pontos sobre…
… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria
(Imagem: World Cup Archive)
● A Hungria é detentora de feitos históricos no futebol, tendo como maior destaque os vice-campeonatos nas Copas do Mundo de 1938 e 1954. É a maior vencedora da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas de ouro (1952, 1964 e 1968), uma de prata (1972) e uma de bronze (1960). Aplicou as duas maiores goleadas da história das Copas do Mundo: 10 x 1 sobre El Salvador em 1982 e 9 x 0 sobre a Coreia do Sul em 1954.
Mas esse histórico não tem a força que tinha antes e a Hungria não disputa uma Copa do Mundo desde 1986. O Mundial do México, inclusive, foi palco de um dos maiores vexames dos magiares nos gramados. Principalmente a estreia, que foi mesmo para ser esquecida.
(Imagem: Futebol Comunista)
● A Hungria havia sido eliminada na primeira fase em 1978 e 1982. Sofria com o dilema sobre como adaptar seu tradicional estilo refinado de jogo a um futebol cada vez mais físico, com mais estatura e velocidade. E em 1983, György Mezey assumiu o comando técnico da seleção. Os resultados melhoraram de imediato. E, aos poucos, o treinador foi renovando quase toda a equipe.
O grande destaque era o jovem meia Lajos Détári. Preciso nos passes e lançamentos longos, era apelidado de “Platini húngaro”. Era o principal responsável por municiar o veloz ponta direita József Kiprich e o centroavante Márton Esterházy, que se movimentava por todo o setor.
Nas eliminatórias, passou com tranquilidade em um grupo difícil: Holanda (de Gullit, Van Basten, Rijkaard e Ronald Koeman), a eterna rival Áustria e o fraco Chipre. Depois, mostrou sua força também nos jogos amistosos, nas vitórias sobre Alemanha Ocidental (1 x 0 em Hamburgo), País de Gales (3 x 0 em Cardiff) e Brasil (3 x 0 em Budapeste). A Hungria tinha um time encaixado e jogava bonito como não se via desde 1954. Por tudo isso, chegou ao México cotada como surpresa da Copa, com potencial para chegar longe.
A URSS chegava ao México com uma mudança importante no comando técnico. Eduard Malofeyev (que fez história levando o Dinamo Minsk ao título soviético) o deu lugar a Valeriy Lobanovs’kyi. O novo técnico apostou na base do Dínamo de Kiev, time que treinava e havia se sagrado campeão da Recopa Europeia naquela temporada recém finalizada. Dos 22 atletas convocados, 11 pertenciam ao clube ucraniano. Curiosamente, Kiev fica a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que havia sofrido um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do início da Copa de 1986. Era um time coeso, mas sem muito brilho individual.
A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.
A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.
● Desde o início, os soviéticos atropelaram. Logo no segundo minuto, Aleksandr Zavarov cobrou falta, a defesa se atrapalhou com a bola e Pavel Yakovenko chutou no canto. Placar aberto: 1 a 0 para a URSS.
Dois minutos depois, Sergey Aleynikov tabelou com Igor Belanov, que fez o pivô e devolveu para Aleynikov disparar no ângulo, sem chances para o goleiro.
Aos 24′, Zavarov avançou e sofreu pênalti. O craque Belanov cobrou forte e alto, no meio do gol.
O marcador foi ampliado aos 21 minutos do segundo tempo. Yakovenko avançou pelo meio e lançou Ivan Yaremchuk na área. O meia driblou o goleiro Péter Disztl e tocou para as redes. Não perca a conta: 4 a 0.
Aos 30, Yaremchuk fez o segundo. Ele tabelou com Belanov e chutou prensado com um zagueiro. A bola saiu do alcance do goleiro e tocou na trave antes de entrar.
O placar de 6 a 0 foi fechado aos 35′. Aleynikov avançou sem marcação e Disztl saiu para dividir a jogada. A bola sobrou para Rodionov tocar para dentro.
Durante todo o tempo, a URSS demonstrou uma excepcional organização tática e surpreendente resistência física. Os soviéticos desperdiçaram inúmeras oportunidades claras.
Os húngaros estavam tão perdidos em campo, que só não sofreram mais gols porque Belanov cobrou um pênalti por cima quando o jogo já estava 5 a 0. Foram falhas individuais gritantes, especialmente no setor defensivo. O zagueiro Antal Róth, inclusive, foi substituído antes dos 15 minutos. O time sentiu muito a falta de seu capitão, o experiente meia Tibor Nyilasi, que teve que se submeter a uma cirurgia na coluna, em março e ficou fora do Mundial.
Em noventa minutos, a Hungria despencou de candidata a surpresa para maior decepção da Copa.
(Imagem: Pinterest)
● Essa partida foi fonte de várias piadas prontas, como “clássico comunista”, “goleada atômica” e até os dizeres que os soviéticos estavam “dopados com radiação”.
Essa foi a maior goleada do torneio. E foi bastante dolorosa, pois não foi para um adversário qualquer. Foi justamente para a União Soviética, líder do bloco comunista, conhecido como “Cortina de Ferro”. O regime cairia no país do leste europeu no dia 23 de outubro de 1989. Mas, naquele ano de 1986, completavam-se três décadas da invasão soviética que sufocou o levante político húngaro de 1956, com consequências eternas em âmbitos político, social, econômico e esportivo.
A União Soviética terminou a primeira fase como líder do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Os soviéticos eram favoritos nas oitavas de final, mas perderam para a Bélgica por 4 x 3 na prorrogação – na qual foram claramente prejudicados pela arbitragem em dois lances cruciais.
Após a derrota para os soviéticos, mesmo jogando de forma displicente, a Hungria venceu o Canadá por 2 x 0 e perdeu para a França por 3 x 0. Com dois pontos, ficou em terceiro lugar no Grupo. Foi eliminada na primeira fase. Perdeu a vaga nas oitavas de final no saldo de gols, bastante prejudicado pela goleada sofrida na estreia.
Esse foi o fiasco húngaro em sua última participação em Copas do Mundo. Com o passar do tempo, o futebol do país foi se enfraquecendo e perdendo a força e o respeito que tinha em todo o mundo. Ficam as histórias, que parecem cada vez mais pertencer a um passado muito distante.
(Imagem: YouTube)
● FICHA TÉCNICA: |
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UNIÃO SOVIÉTICA 6 X 0 HUNGRIA |
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Data: 02/06/1986 Horário: 12h00 locais Estádio: Irapuato (atual Estadio Sergio León Chávez) Público: 16.500 Cidade: Irapuato (México) Árbitro: Luigi Agnolin (Itália) |
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UNIÃO SOVIÉTICA (4-5-1): |
HUNGRIA (4-4-2): |
1 Rinat Dasayev (G) |
1 Péter Disztl (G) |
2 Vladimir Bessonov |
2 Sándor Sallai |
10 Oleg Kuznetsov |
3 Antal Róth |
15 Nikolay Larionov |
6 Imre Garaba |
5 Anatoliy Dem’yanenko (C) |
14 Zoltán Péter |
21 Vasiliy Rats |
5 József Kardos |
20 Sergey Aleynikov |
8 Antal Nagy (C) |
7 Ivan Yaremchuk |
10 Lajos Détári |
8 Pavel Yakovenko |
19 György Bognár |
9 Aleksandr Zavarov |
7 József Kiprich |
19 Igor Belanov |
11 Márton Esterházy |
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Técnico: Valeriy Lobanovs’kyi |
Técnico: György Mezey |
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SUPLENTES: |
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16 Viktor Chanov (G) |
18 József Szendrei (G) |
22 Sergey Krakovs’kyi (G) |
22 József Andrusch (G) |
3 Aleksandr Chivadze |
4 József Varga |
4 Gennady Morozov |
12 József Csuhay |
6 Aleksandr Bubnov |
13 László Disztl |
12 Andriy Bal‘ |
9 László Dajka |
13 Gennadiy Litovchenko |
15 Péter Hannich |
17 Vadim Yevtushenko |
16 József Nagy |
14 Sergey Rodionov |
17 Győző Burcsa |
18 Oleg Protasov |
21 Gyula Hajszán |
11 Oleg Blokhin |
20 Kálmán Kovács |
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GOLS: |
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2′ Pavel Yakovenko (URSS) |
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4′ Sergey Aleynikov (URSS) |
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24′ Igor Belanov (URSS) (pen) |
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66′ Ivan Yaremchuk (URSS) |
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73′ László Dajka (URSS) (gol contra) |
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80′ Sergey Rodionov (URSS) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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13′ Antal Róth (HUN) ↓ |
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Győző Burcsa (HUN) ↑ |
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62′ Zoltán Péter (HUN) ↓ |
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László Dajka (HUN) ↑ |
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72′ Pavel Yakovenko (URSS) ↓ |
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Vadim Yevtushenko (URSS) ↑ |
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69′ Igor Belanov (URSS) ↓ |
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Sergey Rodionov (URSS) ↑ |
Melhores momentos:
Partida completa:
Apos a Segunda Guerra Mundial a URSS emerge como superpotencia mundial e controla um poderoso bloco socialista (ver: Imperio Sovietico ). Durante a Guerra Fria as relacoes entre Estados Unidos e Uniao Sovietica se deterioram e somente a partir de 1985 e que comecam as iniciativas eficazes de paz entre as duas superpotencias. As relacoes entre a URSS e os seus paises satelites na maioria das vezes foram de paz, mas houve paises socialistas que acabaram saindo da area de influencia de Moscou como China e Iugoslavia (ver: ruptura Tito-Stalin ). A Uniao Sovietica era membro permanente do Conselho de Seguranca da ONU, o pais lider do Pacto de Varsovia (alianca militar do bloco socialista) e membro do COMECON. Alem de desempenhar um papel decisivo nas relacoes internacionais nos tempos da Guerra Fria.
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