Três pontos sobre…
… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia
(Imagem: @tabaspas no Twitter / The18.com)
● A maior surpresa do Mundial de 1962 foi a vitória do México sobre a Tchecoslováquia. Até então, os latino-americanos nunca haviam ganhado uma partida de Copa do Mundo, enquanto os europeus tinham um bom time e já tinham história por terem sido vice-campeões em 1934.
A Tchecoslováquia venceu o Grupo 8 das eliminatórias da UEFA, ao bater a Escócia na prorrogação do jogo desempate, em um grupo que tinha também a Irlanda.
O México precisou passar por mais fases no qualificatório para ficar com a única vaga da CONCACAF na fase final do torneio. Na primeira, passou pelos Estados Unidos. Na segunda, venceu um triangular final com apenas um ponto a mais que a Costa Rica e dois a mais que as Antilhas Holandesas. Enfrentou o Paraguai na repescagem intercontinental e empatou sem gols em Assunção após vencer por 1 x 0 na Cidade do México. Enfim, La Tri estava na Copa.
Na primeira rodada, os astecas perderam para o Brasil por 2 x 0. No segundo jogo, vendeu muito caro a derrota para a Espanha (1 x 0), que só conseguiu marcar no último minuto.
A Tchecoslováquia vinha de uma vitória sobre a Espanha por 1 x 0 e de um empate sem gols com o Brasil – partida na qual o Rei Pelé se lesionou e se despediu do Mundial.
Com a derrota da Espanha para o Brasil no dia anterior, a partida entre México e Tchecoslováquia havia perdido importância, já que os tchecos estavam classificados com três pontos e os mexicanos eliminados, sem somar pontos até então. Apesar disso, foi uma partida histórica. Até então, o México nunca havia vencido uma partida em Copas do Mundo desde sua primeira edição, em 1930. Nos treze jogos anteriores, o retrospecto era um empate (1 x 1 com o País de Gales, em 1958) e doze derrotas. E o jejum foi quebrado 32 anos depois, na 14ª partida.
Ambas equipes atuavam no esquema tático 4-2-4.
● Com sua camisa vermelho bordô, os mexicanos deram a saída. Os tchecoslovacos, de uniforme branco, roubaram a bola no meio de campo e trocaram passes até que Josef Masopust lançou o ponta esquerda Václav Mašek nas costas da defesa. Ele correu mais que Del Muro, invadiu a área e tocou cruzado, no canto esquerdo do goleiro. Eram jogados apenas 15 segundos de partida.
Este foi o gol mais rápido da história das Copas até 2002, quando o Hakan Şükür marcou para a Turquia aos 11 segundos, na partida que decidiu o 3º lugar contra a Coreia do Sul.
Parecia que seria mais um jogo daqueles para os mexicanos – igual a tantos outros –, em que a derrota era certa.
Os europeus continuaram no ataque. Adolf Scherer abriu com Jozef Štibrányi na ponta direita e ele chutou rasteiro para uma importante defesa de Carbajal.
Com muita vontade e garra, o México passou a neutralizar os ataques adversários, colocou a bola no chão e passou a jogar.
O empate veio aos 13 minutos. De cabeça erguida, Alfredo Hernández arrancou pelo meio e passou para Héctor Hernández próximo à meia-lua. Ele se livrou da marcação e tocou para Salvador Reyes, que deixou o zagueiro no chão tocou para Héctor Hernández. O camisa 9 tabelou com Alfredo del Águila na ponta direita e, ao receber de volta, chutou cruzado. Isidoro Díaz apareceu sozinho dentro da pequena área para escorar para o gol vazio.
Mesmo com mais toque de bola e tentando avançar, os europeus não conseguiam impor sua pressão, insistindo nas mesmas jogadas manjadas pelas pontas.
Aos 29′, a Tchecoslováquia errou a saída de bola. Del Águila roubou de Svatopluk Pluskal, tabelou com Alfredo Hernández, entrou na área e chutou de esquerda no canto esquerdo do goleiro Viliam Schrojf.
No segundo tempo, os astecas recuaram para segurar o resultado e os tchecos acordaram. E Carbajal foi se tornando o melhor homem em campo.
A melhor chance dos europeus foi em um chute do perigoso atacante Scherer, que o veterano goleiro defendeu em dois tempos.
Mesmo com dois jogadores mexicanos machucados (não havia substituições na época), os tchecos não conseguiram romper a defesa latina.
Mas o contragolpe mexicano estava fatal naquele dia. Na última volta do ponteiro, o lateral direito Jan Lála colocou a mão na bola dentro da área. Hector Hernández bateu no canto direito, deslocando Schroijff e fechando o placar.
(Imagem: Pinterest)
● O triunfo foi o maior presente de aniversário possível para o goleiro Antonio Carbajal, que completava 33 anos exatamente naquele dia. Carbajal é um dos mais longevos e importantes goleiros da história do futebol mexicano e mundial. Foi eleito pela IFFHS o 15º melhor de sua posição no século XX. Com apenas 19 anos, foi o maior destaque de sua seleção nos Jogos Olímpicos de 1948 e esteve no elenco que disputou a Copa do Mundo de 1966. Foi o primeiro jogador a disputar cinco Mundiais (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Assim, conseguiu a “proeza” de sofrer gols de jogadores de gerações tão diferentes, como Ademir de Menezes e Pelé. Apesar de ter a “honra” de ser um dos goleiros que mais levaram gols em Mundiais (25 em 11 jogos), certamente a seleção mexicana teria sofrido muito mais se ele não tivesse sido o dono da camisa 1 por tantos anos. Era dotado de bom posicionamento, reflexo apurado e boa saída do gol, além da coragem e liderança que sempre o caracterizou – não a toa foi capitão em três Copas.
Viva México! A Cidade do México viu uma festa que se faz aos campeões, com os festejos indo até a madrugada. Provavelmente foi a maior comemoração que já se viu para um time eliminado na primeira fase da Copa.
Com essa vitória, pela primeira vez os mexicanos não foram lanternas de seu grupo. Graças ao critério do goal average (divisão do número de gols pró pelo número de gols contra), ficaram à frente da poderosa Espanha de Ferenc Puskás e Paco Gento no Grupo III. México e Espanha terminaram com dois pontos ganhos e o mesmo saldo de gols (1 negativo). La Tri marcou 3 e sofreu 4 (goal average de 0,75) e a Fúria fez dois gols e levou 3 (goal average de 0,66).
Para os fãs das teorias conspiratórias, a derrota da Tchecoslováquia foi… digamos… conveniente. Como já estava classificada, pôde escolher o próximo adversário. Entre Hungria e Inglaterra, preferiram perder para os mexicanos para enfrentar os húngaros na próxima fase. Se essa teoria for verdade, a escolha não foi tão inteligente. A Hungria tinha um time melhor e estava jogando mais do que a Inglaterra naquele momento.
E mesmo sofrendo muito, a Tchecoslováquia conseguiu vencer a Hungria por 1 x 0 nas quartas de final. Nas semifinais, passou pelo bom time da Iugoslávia em vitória por 3 x 1. Na decisão, enfrentou o invencível Brasil e perdeu por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Josef Masopust descontando. Foi a segunda e última vez que o país chegou à final da Copa do Mundo.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA: |
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MÉXICO 3 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA |
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Data: 07/06/1962 Horário: 15h00 locais Estádio: Sousalito Público: 10.648 Cidade: Viña del Mar (Chile) Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça) |
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MÉXICO (4-2-4): |
TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4): |
1 Antonio Carbajal (G)(C) |
1 Viliam Schrojf (G) |
2 Jesús del Muro |
2 Jan Lála |
5 Raúl Cárdenas |
5 Svatopluk Pluskal |
3 Guillermo Sepúlveda |
3 Ján Popluhár |
15 Ignacio Jáuregui |
4 Ladislav Novák (C) |
8 Salvador Reyes |
19 Andrej Kvašňák |
6 Pedro Nájera |
6 Josef Masopust |
7 Alfredo del Águila |
7 Jozef Štibrányi |
9 Héctor Hernández |
8 Adolf Scherer |
18 Alfredo Hernández |
10 Jozef Adamec |
11 Isidoro Díaz |
14 Václav Mašek |
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Técnico: Ignacio Trelles |
Técnico: Rudolf Vytlačil |
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SUPLENTES: |
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12 Jaime Gómez (G) |
22 Pavel Kouba (G) |
22 Antonio Mota (G) |
21 Jozef Bomba |
13 Arturo Chaires |
12 Jiří Tichý |
4 José Villegas |
13 František Schmucker |
14 Pedro Romero |
15 Vladimír Kos |
16 Salvador Farfán |
16 Titus Buberník |
19 Antonio Jasso |
17 Tomáš Pospíchal |
20 Mario Velarde |
18 Josef Kadraba |
10 Guillermo Ortiz |
9 Pavol Molnár |
17 Felipe Ruvalcaba |
20 Jaroslav Borovička |
21 Alberto Baeza |
11 Josef Jelínek |
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GOLS: |
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15” Václav Mašek (TCH) |
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12′ Isidoro Díaz (MEX) |
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29′ Alfredo del Águila (MEX) |
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90′ Héctor Hernández (MEX) (pen) |
Veja a partida completa no vídeo abaixo.
(Seguem os minutos das jogadas completas dos gols:
– 04:10 Mašek 0-1;
– 16:05 Díaz 1-1;
– 32:25 Del Águila 2-1; e
– 1:38:35 Hernández 3-1.)
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