Três pontos sobre…
… 16/07/1994 – Suécia 4 x 0 Bulgária
(Imagem: Getty Images)
● Na véspera da final da Copa do Mundo, três dias depois de perder nas semifinais, a Suécia retornou ao estádio Rose Bowl, em Pasadena, para enfrentar a Bulgária pela disputa do terceiro lugar. As duas seleções tinham se classificado para a Copa no mesmo grupo das Eliminatórias europeias, deixando a França de fora.
A Suécia empatou com Camarões na estreia por 2 a 2. Depois, venceu a Rússia por 3 a 1. Segurou o Brasil e empatou por 1 a 1. Nas oitavas de final, bateu a surpreendente Arábia Saudita por 3 a 1. Nas quartas de final, fez um jogo proibido para cardíacos, com muito equilíbrio, contra a Romênia, empatando por 1 a 1 no tempo normal, outro 1 a 1 na prorrogação, e vencendo por 5 a 4 nas penalidades máximas. Nas semifinais, parou no futuro campeão Brasil, caindo com um magro e digno 1 a 0.
A Bulgária estreou perdendo por 3 a 0 para a Nigéria. Depois, goleou a Grécia por 4 a 0 e surpreendeu vencendo a Argentina por 2 a 0. Nas oitavas, precisou dos pênaltis (3 x 1) para passar pelo México após o empate por 1 a 1. Nas quartas, eliminou a então campeã mundial, Alemanha, vencendo de virada por 2 a 1. Nas semi, vendeu caro a derrota por 2 a 1 para Itália de Roberto Baggio.
Apesar da igualdade de condições, suecos e búlgaros apresentavam ânimos diferentes para o confronto. Enquanto os nórdicos passavam a sensação de aceitação por terem perdido para a melhor equipe do torneio (Brasil), o selecionado do leste europeu parecia remoer o erro de arbitragem que resultou em sua desclassificação.
Na semifinal, quando a Itália já vencia a Bulgária por 2 a 1 e Roberto Baggio tinha sido substituído por lesão, Kostadinov pediu pênalti por um toque de mão do zagueiro Alessandro Costacurta na linha lateral da grande área. Porém, o trio de arbitragem mandou o jogo seguir. Foi um pênalti claro, que poderia ter mudado o rumo do jogo e até a história da competição. “Deus é búlgaro, mas o juiz é francês (Joël Quiniou). Estamos entre os quatro melhores do mundo, mas deixamos de jogar a final entre os dois melhores por causa do juiz”, disse Stoichkov, numa alusão à desclassificação da França diante da Bulgária nas Eliminatórias.
A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.
A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).
● Quem esperava um duelo equilibrado viu uma Bulgária apática e desmotivada.
Nesse cenário de terra devastada, a seleção do leste europeu não ofereceu nenhuma resistência e a Suécia abriu o placar aos oito minutos. Ingesson foi à linha de fundo e cruzou. Mikhailov e a defesa búlgara ficaram no meio do caminho e Tomas Brolin cabeceou para o gol aberto.
A seleção escandinava aproveitou a catarse búlgara e, vendo que os adversários não ofereciam resistência, começou a empilhar gols.
Com meia hora de jogo, Brolin sofreu falta. Ele cobrou rápido e tocou para Mild, que pegou a defesa desprevenida e tocou por cima do goleiro.
Sete minutos depois, Brolin, o melhor em campo, lançou nas costas da defesa. O rastafári Henrik Larsson ganhou de Ivanov na corrida, entrou na área, driblou o goleiro, parou a jogada deixando Ivanov no chão, e tocou para o gol vazio. Larsson teve sangue frio. Um belo gol.
Aos 40′, Schwarz ergueu a bola para a área da intermediária. Antes da marca do pênalti, o gigante Kennet Andersson ganhou no alto de Mikhailov, que saiu mal do gol. Era o quarto da Suécia, que transformava a apatia do oponente em goleada. A Bulgária já estava cansada depois de tantas batalhas.
Cada bola que os suecos lançavam para a área era sinônimo de tormento para o técnico búlgaro Dimitar Penev. Ele se irritou profundamente e queimou logo todas as substituições ainda antes do pontapé inicial do segundo tempo.
Trocou inclusive seu goleiro, tirando o capitão Borislav Mikhailov e colocando em campo o reserva Plamen Nikolov. Era a terceira vez na história das Copas que um goleiro foi substituído sem estar lesionado. A primeira foi Mwamba Kazadi, do Zaire, em 1974. No jogo contra a Iugoslávia, ele saiu aos 22 minutos, quando seu time perdia por 3 a 0. A partida terminou 9 a 0. A segunda vez foi em 1994 mesmo. O sul-coreano Choi In-young pediu pra ir embora no intervalo do confronto diante da Alemanha, quando sua equipe perdia por 3 a 0. No segundo tempo, com Lee Woon-jae no gol, os asiáticos reagiram e diminuíram para 3 a 2.
Um dos substituídos naquela partida, Trifon Ivanov, falou mais sobre isso: “Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não queria. Eu nunca vou me esquecer do gol de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.
Os suecos, que abriram 4 a 0 em 45 minutos, sabiam que a medalha de bronze dificilmente escaparia, e deixaram passar o segundo tempo. Mas continuou criando chances. Kennet Andersson fez um lançamento de 40 metros, Larsson avançou sozinho (de novo), mas dessa vez Nikolov defendeu com os pés, impedindo um placar ainda mais elástico.
A Bulgária, sem forças, só tinha um objetivo: fazer de Hristo Stoichkov o artilheiro isolado da Copa, já que até então ele tinha os mesmos seis gols do russo Oleg Salenko. Assim, todas as jogadas eram preparadas para ele finalizar. Nenhuma deu resultado efetivo. Na chance mais clara, parou em boa defesa de Ravelli.
Além disso, Balakov ainda perdeu dois gols feitos, na pequena área. Em uma delas, Ravelli não conseguiu segurar um chute de longe e soltou a bola nos pés do camisa 20 que, incrivelmente, conseguiu acertar a trave de dentro da pequena área. Foi a melhor chance búlgara no jogo.
Sem contar que o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, ainda anulou um gol de Emil Kostadinov por impedimento.
Faltando poucos minutos para o fim da partida, o goleiro sueco Thomas Ravelli fazia piruetas em campo. Enquanto sua seleção prendia a bola no campo de ataque, o arqueiro divertia a multidão com acrobacias.
(Imagem: Stephen Dunn / All Sports / Getty Images)
● Na entrevista, o técnico búlgaro Dimitar Penev resmungou: “Este jogo não deveria existir”, se referindo às decisões do terceiro e quarto lugar em uma Copa do Mundo.
Mas a Bulgária já estava no lucro por ter chegado tão longe, que nem parecia incomodada com a goleada sofrida. Estar entre os quatro melhores era muito mais do que poderiam sonhar. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Mas restou o consolo de ter realizado sua melhor campanha em um Mundial. Além disso, emplacou Krasimir Balakov e Hristo Stoichkov na seleção do torneio. Pelo lado sueco, Tomas Brolin, o “Boneco Assassino”, também esteve entre os melhores da Copa.
Foi a melhor classificação sueca na história das Copas, depois do vice-campeonato de 1958, quando foram anfitriões. A goleada, além de render o terceiro lugar, deixou os Vikings com o melhor ataque de toda a Copa, com 15 gols marcados em sete jogos (média de 2,14 por partida), mais que os finalistas Brasil (11) e Itália (8).
Mesmo perdendo feio no último jogo, os integrantes da delegação búlgara foram recebidos como heróis na volta à pátria.
Um dos destaques da seleção escandinava, Martin Dahlin anotou quatro gols na Copa, mas não foi escalado na decisão do terceiro lugar. Além dos gols e do talento, o camisa 10 se destacava também por ser o único negro em uma equipe toda composta por loiros branquíssimos. Dan Martin Nathaniel Dahlin é filho de uma sueca e de um venezuelano.
O goleiro búlgaro Mikhailov foi notícia por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele tinha prometido que, se a Bulgária superasse a Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas a Itália venceu.
Dos 22 jogadores convocados pela Bulgária, apenas seis tinham nomes que não terminavam em “ov”: Kremenliev, Houbchev, Genchev, Iliev, Georgiev e Mikhtarski.
(Imagem: Getty Images)
● FICHA TÉCNICA: |
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SUÉCIA 4 x 0 BULGÁRIA |
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Data: 16/07/1994 Horário: 12h30 locais Estádio: Rose Bowl Público: 91.500 Cidade: Pasadena (Estados Unidos) Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos) |
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SUÉCIA (4-4-2): |
BULGÁRIA (4-4-2): |
1 Thomas Ravelli (G) |
1 Borislav Mikhailov (G)(C) |
2 Roland Nilsson (C) |
16 Iliyan Kiryakov |
3 Patrik Andersson |
3 Trifon Ivanov |
4 Joachim Björklund |
5 Petar Hubchev |
14 Pontus Kåmark |
4 Tsanko Tsvetanov |
6 Stefan Schwarz |
6 Zlatko Yankov |
18 Håkan Mild |
9 Yordan Letchkov |
8 Klas Ingesson |
20 Krasimir Balakov |
11 Tomas Brolin |
10 Nasko Sirakov |
7 Henrik Larsson |
8 Hristo Stoichkov |
19 Kennet Andersson |
7 Emil Kostadinov |
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Técnico: Tommy Svensson |
Técnico: Dimitar Penev |
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SUPLENTES: |
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12 Lars Eriksson (G) |
12 Plamen Nikolov (G) |
22 Magnus Hedman (G) |
2 Emil Kremenliev |
13 Mikael Nilsson |
15 Nikolay Iliev |
5 Roger Ljung |
11 Daniel Borimirov |
15 Teddy Lučić |
14 Boncho Genchev |
20 Magnus Erlingmark |
19 Georgi Georgiev |
17 Stefan Rehn |
13 Ivaylo Yordanov |
9 Jonas Thern |
17 Petar Mihtarski |
16 Anders Limpar |
18 Petar Aleksandrov |
21 Jesper Blomqvist |
21 Velko Yotov |
10 Martin Dahlin |
22 Ivaylo Andonov |
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GOLS: |
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8′ Tomas Brolin (SUE) |
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30′ Håkan Mild (SUE) |
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37′ Henrik Larsson (SUE) |
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40′ Kennet Andersson (SUE) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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70′ Zlatko Yankov (BUL) |
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82′ Kennet Andersson (SUE) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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42′ Trifon Ivanov (BUL) ↓ |
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Emil Kremenliev (BUL) ↑ |
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INTERVALO Borislav Mikhailov (BUL) ↓ |
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Plamen Nikolov (BUL) ↑ |
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INTERVALO Nasko Sirakov (BUL) ↓ |
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Ivaylo Yordanov (BUL) ↑ |
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79′ Henrik Larsson (SUE) ↓ |
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Anders Limpar (SUE) ↑ |
Melhores momentos da partida:
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