… Ladislao Mazurkiewicz: muito mais do que um drible de Pelé

Três pontos sobre…
… Ladislao Mazurkiewicz: muito mais do que um drible de Pelé


(Imagem: O Gol)

● Era a vingança do “Maracanazo”. Brasil e Uruguai se enfrentavam no estádio Jalisco, em Guadalajara, valendo uma vaga para a final da Copa do Mundo de 1970.

A partida já entrava nos acréscimos da segunda etapa quando aconteceu um lance mágico. Um lançamento primoroso de Tostão deixou Pelé cara a cara com o goleiro. Com apenas um drible de corpo, o Rei deixou a bola passar por dentro e correu por fora, como se fosse uma meia-lua (ou um drible da vaca) sem tocar na bola. Apanhou o esférico no bico direito da pequena área e chutou cruzado. Por um pecado, a bola foi para fora. Seria discutivelmente o gol mais lindo das Copas.

Pelé estava anos luz na frente de qualquer adversário e, por isso, fazia coisas que ninguém imaginava. Ressaltemos também que o goleiro driblado nesse lance estava longe de ser qualquer um. Era o grande Ladislao Marzukiewicz.

Dotado de excelente posicionamento, segurança, agilidade, sangue frio e reflexos excepcionais, é considerado um dos melhores goleiros de seu país e um dos grandes da história do futebol.


(Imagem: Pinterest)

● Filho de pai polonês e mãe espanhola, Ladislao Mazurkiewicz Iglesias nasceu em 14/02/1945 na cidade-balneário de Piriápolis, no litoral sul do Uruguai. Começou a carreira aos treze anos de idade, no Racing Club Montevideo.

Logo em seu primeiro ano no gigante Peñarol, era reserva de seu ídolo Luis Maidana quando este se lesionou justamente no jogo-desempate da semifinal da Taça Libertadores da América de 1965, em confronto do aurinegro uruguaio contra o poderoso Santos de Pelé. O “Polaco” fechou o gol e o Peñarol bateu o Peixe por 2 a 1. Era o início de sua afirmação e consagração dentre os grandes arqueiros do futebol, com apenas 20 anos de idade.

Seu auge foi mesmo em seu início pelo Peñarol. Se todo grande time começa com um grande goleiro, o melhor Peñarol de todos os tempos tinha o “Polaco” como o seu nº 1. Os aurinegros venceram com muita autoridade a Libertadores e o Mundial de 1966, batendo River Plate e Real Madrid, respectivamente. Nessa época, era o sonho de consumo de diversos clubes pelo mundo.

Mesmo tendo sua transferência anunciada para o Ajax (Holanda), acabou vindo jogar no Brasil. Com pompa de estrela, se transferiu para o Clube Atlético Mineiro, recém consagrado Campeão Brasileiro de 1971, ao mesmo tempo em que era xingado pela torcida do seu ex-clube, acusado de ser um traidor. Após alguns impasses contratuais e doze horas de negociação, enfim, assinou com o Galo. Apesar de não conquistar nenhum título em seus anos no Brasil, se tornou ídolo da parte alvinegra de Minas Gerais. Devido ao nome estrangeiro e difícil de ser pronunciado, aqui ele se tornou “Mazurka”, apelido criado pelo narrador esportivo Hélio Câmara, que distribuía alcunhas aos craques de todas as origens.

Foi jogar no Granada, da Espanha, depois da Copa do Mundo de 1974. Após quatro anos na Europa, passou rapidamente pelo Cobreloa (Chile) em 1979 e pelo América de Cali (Colômbia) em 1980, até voltar ao seu Peñarol e encerrar a carreira como campeão uruguaio em 1981.

Vestiu a camisa da seleção uruguaia em 36 oportunidades, entre 1965 e 1974. Disputou três Copas do Mundo como titular (1966, 1970 e 1974). É mais lembrado pelo gol que não sofreu de Pelé, descrito no primeiro parágrafo deste texto. Em outro lance desta mesma partida, aos 21 minutos do segundo tempo, Mazurkiewicz cobrou mal um tiro de meta que o mesmo Pelé emendou de primeira, sem deixar a bola cair, mas o goleiro se recuperou e fez uma boa defesa.

Defendeu por duas vezes a “Seleção do Mundo”, em partidas festivas muito comuns na época. No jogo de despedida de Lev Yashin, o grande “Aranha Negra” da União Soviética, Mazurkiewcz o substituiu no segundo tempo, recebendo dele as suas luvas, passando simbolicamente ao uruguaio o título informal de melhor goleiro do mundo.

Após pendurar as chuteiras (e as luvas), foi treinador de goleiros do Peñarol entre 1988 e 1989 e depois entre 2002 e 2012. Mas infelizmente algumas doenças foram aparecendo até que, em dezembro de 2012, sua saúde piorou definitivamente e ele teve que ser colocado em coma induzido. Faleceu há exatos cinco anos, às 04h15 da madrugada do segundo dia do ano de 2013, devido a problemas respiratórios e renais. Está enterrado no Cemitério “Parque del Recuerdo”, na capital uruguaia.


(Imagem: Tenfield.com)

● Feitos e premiações de Ladislao Mazurkiewicz:

Pela seleção do Uruguai:
– 4° lugar na Copa do Mundo de 1970.
– Campeão da Copa América de 1967.
– Campeão do Campeonato Sul-Americano Sub-20 de 1964.

Pelo Peñarol:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1965, 1967, 1968 e 1981.
– Campeão da Taça Libertadores da América em 1966.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1966.
– Campeão da Recopa dos Campeões Intercontinentais de 1969.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o melhor goleiro da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito o 12° melhor goleiro do século XX pela IFFHS.
– É até hoje o goleiro que ficou mais tempo sem sofrer gols na história do Campeonato Uruguaio, com 987 minutos (11 partidas) em 1968.

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